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UFRJ – UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO LIZ JUNGER MOURÃO FISIOLOGIA Sistema Reprodutor Feminino A mulher passa por diferentes fases ao longo da vida: Fase Fetal, Fase infantil, Puberdade, Fase Adulta, Climatério e Menopausa. - Fase Fetal: Diferenciação e desenvolvimento do sistema reprodutor; - Fase infantil: o eixo hipotálamo-hipófise-gonadal permanece quiescente/desligado. Todavia, tal eixo é ativado na puberdade. - Puberdade: Marcada por alterações estruturais e funcionais para estabelecer a capacidade reprodutiva. Iniciando essa fase acontece a menarca. - Fase adulta: A mulher passa por ciclos periódicos que preparam o organismo para a reprodução, até que ela alcance +/- 55 anos de vida. - Climatério: Fase transitória entre o período reprodutivo e não reprodutivo. Marcado por fogachos, ondas de calor que acontecem ao longo de 24 horas e ciclos menstruais esporádicos. Quando a mulher deixa de menstruar ao longo de 12 meses consecutivos, reconhece-se então a menopausa. - Menopausa: Exaustão da capacidade folicular e encerramento da vida reprodutiva da mulher. Anatomia Feminina O sistema reprodutor feminino é composto por várias estruturas, dentre elas: ovários, onde acontece a produção de gametas e a síntese hormonal de estradiol, progesterona e inibina. Eixo Hipotálamo-Hipófise-Gonadal • Com relação ao eixo Hipotálamo-hipófise- Gonadal: No Hipotálamo acontece a produção do GnRH (hormônio liberador de gonadotrofinas). Esse por sua vez atua na adeno-hipófise, estimulando a produção de FSH e LH. • O FSH e LH se ligam aos seus receptores específicos nas células da Teca e nas células da granulosa, nos ovários. Estimulam, então, a produção de estradiol e inibina; estradiol e progesterona; respectivamente. Foliculogênese Sabe-se que os folículos primordiais crescem, se desenvolvem em primários e secundários. Neste momento, esse crescimento é independente das gonadotrofinas LH e FSH. Todavia, a partir dali é necessário a presença desses hormônios para que eles continuem a crescer. • Até que mediante o pico de LH acontece o fenômeno da ovulação. Ressalta-se que a medida que a mulher ovula, ela também perde folículos. Esses folículos vão sofrendo atresia, sendo depletados e no período da menopausa reconhece-se a exaustão desses folículos. Ciclo ovariano • Nessa figura, observa-se um ovário seccionado e a presença de folículos em diferentes fases de desenvolvimento: É mediante a ação do LH e FSH que os folículos ovarianos são capazes de produzir estradiol e progesterona. • Mediante um pico de LH é que acontece o fenômeno da ovulação, que é a liberação do oócito, que rapidamente se transforma em ovócito. Esse fenômeno marca o final da fase folicular, que é uma fase variável, podendo durar de 10 a 18 dias. • Em seguida, acontece a fase luteínica, que é uma fase constante, de 14 dias, marcada pela presença do corpo lúteo, uma estrutura amarelada e rica em lipídeos, capaz de produzir estradiol e progesterona. • Não havendo gravidez dentre os 14 dias, aparece então o corpo albicans e encerra o ciclo. Percebemos, no gráfico 1, a liberação de FSH e LH é variável. É mediante o pico de LH que acontece o evento de ovulação. No gráfico 2, percebemos que a produção de estradiol e progesterona, nos ovários, também são variáveis. A produção de estradiol é mais intensa durante a fase folicular. Durante a fase luteínica essa produção ocorre, porém é mais discreta. Com relação à produção de progesterona, tem um discreto aumento no final da fase folicular, sendo que uma produção mais intensa ocorre durante a fase luteínica. Ação do FSH e LH A partir desse esquema, podemos notar a interação desses hormônios com seus receptores específicos presentes na membrana plasmática das células da Teca e da granulosa. • Quando o LH se liga ao seu receptor específico, ele ativa enzimas esteridogênicas que são capazes de metabolizar o colesterol em androstenediona. Essa, por sua vez, segue para a célula da granulosa. • Sob a ação da CYP19, a Androstenediona pode ser convertida em estrona e em testosterona. Essas podem ser convertidas em estradiol. Esse hormônio tem ação local e age em diversos tecidos do corpo. • Ressalta-se que o FSH, quando ligado ao seu receptor específico presente na membrana plasmática da granulosa, estimula a expressão da CYP19, que participa na conversão da androstenediona a estrona, e depois de testosterona a estradiol. Funções do estradiol • No útero, ele estimula a proliferação celular e crescimento endometrial, adição de vasos sanguíneos e desenvolvimento de glândulas endometriais. • Nas mamas, estimula o crescimento do tecido mamário e confere aparência característica da mama adulta. • Na pele, faz com ela desenvolva textura macia e normalmente lisa. Além disso, faz com que se torne mais vascularizada. • Nos ossos inibem a atividade osteoclástica e portanto, estimulam o crescimento ósseo. Na puberdade o crescimento em altura torna-se rápido até o fechamento das epífises com a haste dos ossos longos. • Estimula a libido, desejo sexual. Ciclo uterino Ele ocorre em três fases e são concomitantes a eventos que acontecem no ovário. • A Fase Menstrual é marcada pela descamação da mucosa uterina com hemorragia, devido à redução brusca dos níveis de Estradiol e Progesterona. • Fase Proliferativa é marcada pela proliferação celular e crescimento endometrial, além da adição de vasos sanguíneos e desenvolvimento de glândulas endometriais, devido à ação do estradiol. Essa fase ocorre concomitante ao aparecimento dos folículos secundários de Graaf, os quais secretam estradiol. • A fase secretora é a fase em que o endométrio atinge sua espessura máxima, tornando-se capaz de suportar um blastocisto maduro. Há intensa atividade secretora das glândulas endometriais com produção de secreções uterinas. Há influência do estradiol e predominantemente da progesterona. Ocorre paralelamente à fase luteínica. Menopausa • A mulher ao longo da vida apresenta uma diminuição da quantidade dos folículos ovarianos. - Na vida intrauterina: 8 a 6 milhões; - No nascimento: 2 milhões; - Menarca: 400 mil; Vão entrando em atresia ao longo da vida adulta. - Pré-Menopausa: Algumas centenas - Menopausa: Falência folicular e o encerramento da vida reprodutiva da mulher. O reconhecimento da menopausa ocorre 12 meses após a última menstruação espontânea. • Ao longo desses 12 meses a mulher passa pelo climatério. O climatério são alterações somáticas e psíquicas que ocorrem na transição da vida reprodutiva da mulher para a vida não reprodutiva. Tipos de menopausa • Menopausa espontânea (até os 50 anos); • Menopausa precoce (antes dos 40 anos); • Menopausa tardia. Alterações hormonais características • Diminuição do estradiol em cerca de 80% e aumento do FSH de 10 a 15 vezes; • É comum a ocorrência de ciclos mais logos ou mais curtos e ciclos anovulatórios. Manifestações clínicas A curto prazo: - Fogachos • Também chamados de afrontamentos, são as famosas ondas de calor. É o sintoma mais comum da menopausa, ocorrendo em mais de 80% das mulheres. A frequência varia muito, desde apenas 1 ou 2 episódios por dia até 10 episódios ao longo das 24 horas. As ondas de calor são particularmente comuns à noite, causando distúrbios do sono e agravando os sintomas de cansaço e irritação. - Palpitações • Tornam-se comuns. Causam desequilíbrio e tonturas. Episódios súbitos de tonturas e perda do equilíbrio costumam ser mais frequentes. - Sintomas neuropsíquicos • Depressão; Ansiedade; Labilidade no humor; Irritabilidade; Redução da libido; Dificuldade de concentração; Redução da memória. A médio prazo: - Alterações na pele, cabelo e mucosas • Ressecamento, perda de elasticidade, cabelos secos e quebradiços, boca seca e aparecimento de rugas mais profundas. - Mamas • Flácidas, formato pendular. - Vagina • Secura vaginal, podendo ocorrer grande desconforto durante o coito. - Bexiga • Aumento do número de micções com redução do volume da urina (Polaciúria). Nesse período são comuns infecções urinárias, devido à modificação da flora vaginal • Outros fatoresassociados às infecções urinárias são modificações do pH vaginal e alteração da mucosa da uretra. Além disso, problemas, tais como: escape fecal e incompetência no esvaziamento da bexiga também contribuem para a ocorrência de infecções urinárias. A longo prazo: - Osteoporose • Doença esquelética sistêmica caracterizada por redução da massa óssea, conduzindo à fragilidade do osso e aumentando o risco de fraturas. Outros fatores de risco associados seriam a não exposição ao sol, o consumo inadequado de cálcio e falta de exercício físico regular. Gravidez e lactação • Segundo Fábio Bessa, um dos objetivos do sistema reprodutor é o de possibilitar a geração de um novo ser semelhante. Observamos algumas estruturas relacionadas com o aparelho reprodutor feminino, tais como: colo uterino, miométrio, tubas uterinas e ovários. Facilitação do encontro de gametas para a fecundação • Durante o coito, o gameta masculino é ejaculado no colo uterino com o auxílio das prostaglandinas, que são lipídeos reproduzidos em vários tecidos do corpo como a próstata, por isso são encontradas no sêmen. • A ocitona é liberada em virtude da fricção do pênis com a mucosa vaginal, o que auxilia nesse encontro. Lembrando que a ocitocina é um hormônio produzido no hipotálamo, secretado pela neurohipófise, associado à contração muscular. Nesta situação, a citocina aumenta a motilidade miometrial. • Esse aumento da motilidade miometrial é reforçado pela prostaglandina e o útero passa a realizar movimentos de contração e relaxamento rítmicos, 3 ciclos por minuto, mediante os quais o sêmen é sugado para dentro da cavidade uterina. Este movimento é tão eficaz que cerca de 5 min após a ejaculação, já se detecta um espermatozoide no início da tuba uterina. • Essa presença do SPTZ seria impossível sem essa motilidade. Uma vez que o SPTZ alcançou a tuba uterina, ele se move em direção ao óvulo. • Se ocorre o encontro dos gametas e a fecundação, há a formação do zigoto e sucessivos eventos celulares, dando origem à mórula, blastocisto inicial, blastocisto maduro, que pode se implantar no útero e iniciar uma gestação. Endocrinologia da gravidez • A mulher tem a fase folicular, na qual ocorre o desenvolvimento dos folículos ovarianos, há a produção hormonal, até que ocorre a ovulação. • Após a ovulação há a fase lútea e o aparecimento do corpo lúteo, que por sua vez é capaz de produzir e secretar progesterona além dos estrógenos. • A progesterona estimulará o desenvolvimento pleno do endométrio, tornando-o apto para a implantação do blastocisto maduro. O endométrio estará no ápice do seu desenvolvimento por volta do 7mo a 8vo dia após a ovulação. • Ocorrida a implantação, rapidamente inicia-se a formação da placenta, que após 3 ou 4 dias produz e secreta hormônios, tais como: gonadotrofina coriônica humana (hCG). Essa gonadotrofina garante a funcionalidade do corpo lúteo por mais alguns meses (em torno de 3 meses), até o amadurecimento da placenta. Uma vez madura, a placenta assume a produção dos hormônios hCG, lactogênio placentário, estrógenos e progesterona. • Até o final do primeiro trimestre da gestação, o corpo lúteo permanece, mantêm sua produção hormonal, liberando estradiol, o qual estimulará a secreção de ocitocina. • A ocitocina é importante para o estabelecimento do vínculo afetivo, para transformar experiências estressantes no entendimento de oportunidade para crescimento e amadurecimento. Além disso, evita depressão e hemorragia pós-parto. Nesse último, estimula a acomodação do útero na cavidade pélvica. Gonadotrofina coriônica humana (hCG) É um hormônio glicoprotéico; Secretado pela placenta; Pertence à família do LH e FSH; Possui duas cadeias protéicas, uma alfa e uma beta, sendo que a beta possui atividade biológica. • Seu pico de secreção ocorre na décima, até a décima segunda semana gestacional, pico que coincide com o período de maior atividade endócrina do corpo lúteo. Após esse período, sua produção declina e estabiliza até o final da gestação. Nesse momento, o corpo lúteo cessa sua produção de esteróides e a produção de progesterona e estrógenos passa a ser comandada pela placenta ao longo da gestação. Produção de progesterona e de estrógenos pela placenta Os estrógenos: - Estimulam a proliferação da musculatura uterina; - Crescimento vascular para o útero; - Dilatação do orifício vaginal; - Crescimento rápido das mamas: ductos aumentados, aumento do tecido glandular e deposição adicional de gordura (1/2 kg em cada mama); Lembrando que os estrógenos correspondem a um grupo de hormônios: estradiol, estriol e estrona. A progesterona: - Promove o relaxamento da musculatura uterina durante toda a gravidez; - Completa os efeitos do estrógeno sobre as mamas. Nos gráficos podemos observar que ao longo da gestação, tanto estrógenos quanto progesterona aumentam sua produção e secreção. Hormônio lactogênio placentário (hPL) É um hormônio protéico pertencente à família do GH; Seu pico acontece por volta da trigésima segunda semana gestacional. • Sua maior contribuição está relacionada à diminuição da utilização de glicose pela mãe, ao mesmo tempo que promove maior mobilização de ácidos graxos do tecido adiposo da mãe, para usá-los como fonte de energia; • Além disso, esse hormônio também é capaz de aumentar a utilização de glicose pelo feto. Repercussões fisiológicas da gravidez Ocorrem essas modificações para que o organismo da mulher suporte o feto em desenvolvimento. • Sistema urinário: ocorrem micções mais frequentes, propício ao aparecimento de candidíase de repetição. Por isso mulheres que já possuem problemas relacionados a essa natureza é importante que haja um cuidado maior na saúde geral. Podendo utilizar o recurso de vacinas, para que o organismo fique mais forte no controle da cândida, e não venha a ter a candidíase de repetição no período da gravidez. • Pele: escurecimento dos mamilos e da linha alba. • Olfato: mais aguçado (facilidade em identificar alimentos azedos, vazamento de gás, etc) com o intuito de proteger a prole. • Sistema digestório: digestão mais lenta, êmese (vômito). • Centros de fome e de saciedade: alterações do apetite (aumento da fome ou aumento da saciedade). É importante que haja um equilíbrio no consumo alimentar, para que o ganho de peso ao longo da gestação, seja um ganho de peso que proporcione saúde a mãe e ao bebê. E que não esteja associado a outros transtornos e perturbações. E quanto à saciedade deve ter o cuidado alimentar para que essa mulher consiga ingerir as quantidades mínimas necessárias de nutrientes para que haja a formação de um bebê saudável e sem comprometimento da saúde da mãe. Obs: pode acontecer o desejo de consumir itens não alimentares, o que seria um transtorno alimentar correlacionado à deficiência de um micronutriente. • Sistema circulatório: aumento do fluxo sanguíneo, aumento do débito cardíaco (quantidade de sangue bombeada pelo coração), aumento da frequência cardíaca. Tudo isso permitindo uma maior vascularização da placenta, do útero, sem comprometer o organismo da gestante. Há hipervolemia e hemodiluição -pseudoanemia-; Desvio do coração (frente/esquerda); alteração do eixo elétrico, que por sua vez altera o eletrocardiograma; compressão uterina sobre as veias ilíacas: prejuízo no retorno venoso, proporcionando o aparecimento de varizes e hemorroidas. Parto • Durante a gestação, ocorrem contrações miometriais esporádicas, devido à ação de miócitos modificados, que têm a capacidade de se despolarizar espontaneamente e gerar potenciais de ação que se propagam de célula a célula. Desse modo, atingem toda a musculatura miometrial, levando a uma contração global de toda a parede uterina. • Todavia, devido ao equilíbrio na produção de progesterona e estrógenos, os estrógenos estimulam a contração e a progesterona a inibe. Como há um equilíbrio, há pouca ação contrátil do miométrio no início da gestação (é o que se espera). • Com a aproximação do parto, a produção de progesterona diminui, com predomínio da ação estrogênica. Além disso, há o aumento dos receptoresde ocitocina no endométrio, aumentando a sensibilidade à ocitocina, que por sua vez aumenta a contração uterina. • Também entra neste cenário a prostaglandina F2-alfa, que é um potente ocitótico, estimulando a contração uterina, principalmente no momento próximo ao período do parto. Pós-parto Há variação na secreção de estrogênios, progesterona e prolactina. • No período que antecede o parto, a gestação, há de modo geral o aumento da produção de estrógenos, progesterona e prolactina. Aproximando-se o parto há uma queda discreta da progesterona. • Após o parto, há uma queda abrupta de estrogênios e progesterona. E a prolactina passa a ter uma secreção intermitente durante a amamentação. Lactação É um preparo das glândulas mamárias para a amamentação durante a gestação. A lactogênese é a produção de leite. - Durante a gestação • Os estrógenos e a progesterona estimulam o crescimento alveolar e ductal, a síntese de receptores de prolactina. - Após o parto • A prolactina aumenta a síntese de lactose, caseína, albumina, triacilglicerois (TAG). Aumenta a captação de ácidos graxos pelos tecidos maternos, para produzir o leite. A ocitocina estimula a ejeção do leite. Nessas ilustrações observamos vários lóbulos mamários e um alvéolo maximizado. • As células produtoras e secretoras de leite possuem receptores para prolactina e as células mioepiteliais possuem receptores para ocitocina. Mecanismo de ação da prolactina (PRL) Observamos na figura uma célula produtora de leite. Na sua membrana plasmática, um receptor para a prolactina. • Uma vez que a prolactina se liga ao seu receptor específico, há uma modificação conformacional nesse receptor e sua ativação. • Ocorre o recrutamento de proteínas da via de sinalização JAK e STAT. • A STAT forma um dímero que migra para o núcleo e atua num segmento do DNA (num elemento responsivo), estimulando a transcrição de proteínas relacionadas à síntese de caseína, lactoalbumina, lactose e triglicerídeos. • A ação da ocitocina e seu mecanismo de ação pode ser encontrado nas primeiras aulas.
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