Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Classificação taxonômica: • Filo: Nematoda – vermes cilíndricos, com tubo digestivo completo e ciclo monoxênico; dioicos – dois indivíduos necessários = (macho e fêmea) • Classe: Secermentea • Ordem: Strongylida • Família: Ancylostomidae – vermes hematófagos obrigatórios na fase adulta • Espécies: Necator americanus; Ancylostoma duodenale Ancilostomíase: ➢ Importância • Ocorre em quase todos os países (principalmente os de clima tropical e subtropical) - geohelminto (ciclo que envolve passagem obrigatória pelo solo, logo, tem geotropismo) • Frequência depende das condições climáticas, ambientais (tipo do solo, aeração do solo, presença ou não de matéria orgânica no solo) e desenvolvimento da população (ausência de sanitização amplia a possibilidade de ocorrência da ancilostomíase) • A ancilostomíase é mais prevalente nas regiões rurais • Aproximadamente 900 milhões de pessoas estão infectadas (300 milhões graves) e cerca de 60 mil morrem anualmente • Distribuição geográfica: o A. duodenale: “Ancilostoma do velho mundo” – países da Europa o N. americanus: “Ancilostoma do novo mundo” – presente nas Américas, e tem origem nas Américas ➢ Morfologia • Família: Ancylostomidae (boca curva, que lembra um gancho, e nessa boca hipertrofiada podem existir dentes ou placas cortantes) o O formato da boca e os dentes estão intimamente relacionados a capacidade de fixação dos vermes a parede do intestino delgado humano; o Também são hematófogos obrigatórios na fase adulta, logo, a partir da anatomia bucal são capazes de romper os vasos sanguíneos de forma a conseguir se alimentar de sangue; logo, a boca fica mergulhada na mucosa intestinal dando acesso ao sangue • Sub-família: Ancylostominae – dentes na margem da boca. Gênero Ancylostoma o Espécies: Ancylostoma duodenale, A. brazilense e A. caninum. o Esses dentes produzem ação traumática no epitélio intestinal e conjuntivo; esse traumatismo multiplicado por várias bocas de verme pode predispor ulcerações o Lembra dentes caninos • Sub-família: Bunostominae o Espécie: Necator americanus – lâminas cortantes circundando a boca. o Lembram dentes incisivos • Ambos os agentes etiológicos Ancylostoma duodenale e Necator americanos são capazes de produzir ancilostomíase para os seres humanos As espécies parasitas: • Os ancilostomídeos que parasitam o homem habitual ou ocasionalmente podem ser distinguidos pela morfologia da cápsula bucal e pela da bolsa copuladora. • As figuras ao lado mostram as diferenças entre as principais espécies, pela cápsula bucal (A): • Ancylostoma duodenale (B), com dois pares de dentes na cápsula bucal; • Necator americanus (C), com 4 lâminas cortantes na cápsula; 2 superiores e 2 inferiores • A. braziliensis (D), com um par de dentes grandes e um pequeno; parasito típico de gatos; produz LMC no ser humano • A. Caninum (E), com 3 pares de dentes; parasito típico de cães, mas pode produzir LMC em humanos • Obs.: a visualização dos vermes a olho nu é possível desde que sejam eliminados pelo organismo do hospedeiro • • • A. duodenale – dentes pontiagudos • N. americanys – placas cortantes que lembram dentes incisivos ➢ A. duodenale • Dois pares de dentes; • 8 a 11 mm de comprimento (Macho); • 10 a 18 mm de comprimento (Fêmea); 20 a 30 mil ovos por dia eliminados, com dimensões entre 56 e 60 µm. – grande capacidade reprodutiva, e ovos são visíveis no exame parasitológico de fezes • Vermes são pequenos pois são hematófagos – não podem ter grande tamanho, caso contrário debilitariam extremamente o organismo do hospedeiro ➢ N. americanus • Machos: 5 a 9 mm; • Fêmeas: 9 a 11 mm - 6 a 11 mil ovos por dia, medindo entre 64 e 76 µm • • Macho é menor; nas duas espécies, o macho possui dilatação na região posterior do corpo, chamada bolsa copulatória, estrutura que tem íntima relação com a possibilidade de cópula entre machos e fêmeas – então o macho se fixa a fêmea usando essa bolsa • A eliminação de vermes adultos pelas fezes humanas dirige para diagnóstico de vermes da família Ancylostomidae • A fêmea apresenta região posterior do corpo alongada • Tanto macho quanto a fêmea possuem a boca em forma de gancho • Os ovos das duas espécies são eliminados embrionados nas fezes; são transparentes e possuem casca lisa e fina, bastante ovalados, o que dirige para o diagnóstico no exame parasitológico de fezes • Dentro do ovo, em cerca de 10-12 dias desenvolvem- se larvas, que são inicialmente rabditóides (imaturas), e quando ela estiver pronta dentro do ovo, ela eclode do ovo (passa por estágios L1, L2 se alimentando de matéria orgânica do solo) e passa um período de cerca de 1 semana no solo; • Quando ela atinge L2 ela cessa sua alimentação e se transforma em L3 (larva infectante), que permanecerá no solo com longevidade de algumas semanas até 6/7 meses, e ela só consegue completar seu ciclo se encontrar o hospedeiro humano para invadir • A invasão pode ser ativa ou passiva: ativa – pela pele ou mucosas do ser humano; passiva – engolida junto com alimentos/objetos levados a boca, e elas podem penetrar pelas mucosas ou seguir seu desenvolvimento via intestino • ➢ Ciclo biológico: • • A. duodenale: após a chegada da larva ao organismo do ser humano, seu ciclo dura entre 35 e 60 dias (fim com formação dos adultos) • N. americanos: leva entre 42 e 60 dias para completar seu desenvolvimento depois de ter acesso como larva infectante ao organismo do ser humano • Ovos das duas espécies são indistinguíveis no exame parasitológico de fezes, apenas haverá direcionamento diagnóstico para ancilostomíase, sem se saber qual espécie produz o quadro clínico • L2 ainda se alimenta • L1 e L2 são incapazes de invadir o organismo humano – elas se alimentam de microrganismos e matéria orgânica no solo • As larvas são atraídas para o corpo humano pela TE corporal e pela química hormonal (gás carbônico e feromônios liberados) – termotropismo e quimiotropismo positivo pelo ser humano • Larva como L3 na superfície do solo fica em posição reta e movimentando-se para frente e para trás, na tentativa de localizar as fontes de estímulos; ao encontrar, se verticaliza de vez e penetra = tigmotropismo positivo • Penetração ativa pela pele, conjuntiva ou mucosas é a via mais comum para os dois parasitos • L3 faz ciclo migratório pelos vasos sanguíneos, e chegam no coração direito, indo para os pulmões • Nos pulmões, L3 evolui para L4, e as L4 escalam as vias aéreas do hospedeiro e chegarão até a traqueia e faringe • A L4 será deglutida pelo ser humano infectado pelo verme; chegando no intestino delgado, ela se fixa a sua parede, se alimenta de sangue na mucosa do duodeno e evolui para L5, que retorna ao lúmen do intestino, e tem condições de evoluir para vermes adultos • A duração do ciclo desde a penetração pela pele ou mucosas até a chegada da larva madura pronta para dar origem aos vermes adultos no intestino é de 35- 60 (A. duodenale) e 42-60 (N. americanos) • Via exclusiva de A. duodenale: L3 evolui para L4 no duodeno, L4 se fixa na mucosa intestinal, atingindo a altura das células de Lierberkuhn, e ela fará sua alimentação a nível de sangue, evoluindo para L5, e a L5 retorna ao lúmen do intestino e origina os adultos; só essa espécie faz o ciclo passivo • N. americanus é incapaz de sobreviver como L3 ao suco gástrico • Andar calçado é a principal medida profilática • • Primeira pergunta feita ao paciente com suspeita de ancilostomose: você anda descalço? • A larva infectante possui bainha/capa ao seu redor – pode durar por até 7 meses no solo; larva não infectante não tem bainha ➢ Ovo de ancilostomídeo: • • No solo o ovo embrionado evolui para um ovo larvado • Larva rabditóide eclodedo ovo larvado, que passa por L1 e L2, e evolui para larva filarioide (infectante) • • • ➢ Patogenia: Etiologia primária (fase aguda) e secundária (fase crônica) • 1ª → Migração e instalação dos parasitas no hospedeiro. • 2ª → Permanência dos parasitas (vermes adultos) no hospedeiro – fenômenos bioquímicos e hematológicos 1) ETIOLOGIA PRIMÁRIA - Intensidade das lesões: depende do número de larvas e sensibilidade do hospedeiro o Penetração Pela Pele: Lesões traumáticas (por invasão da epiderme usando dentes e enzimas que permitem que larva chegue a derme) e fenômenos vasculares (relacionados a ruptura dos vasos sanguíneos por parte das larvas infectantes), dermatite urticariforme (pontos vermelhos na pele – sinal de porta de entrada; encontrados nas peles mais finas dos pés, nas regiões interdigitais), edema (nas áreas de penetração da larva), “sensação de picada” e coceira. Pode ocorrer infecção secundária (podem haver purulências por invasão de bactérias oriundas do solo) ▪ Pés descalços são principal fonte para infecção pelo Ancylostoma e Necator o Alterações pulmonares – por conta do ciclo de Loss (passagem das larvas pelos pulmões); tosse e febrícula. Pode haver síndrome de Loeffler (caracterizada por febre, tosse e eosinofilia sanguínea) (não tão poderosa e nem tão frequente quanto a produzida por Ascaris lumbricoides); pode haver sinais discretos de bronquite, vai haver pnenumonite o o Boca funciona como uma bomba a vácuo, sugando t.c. e sangue, exercendo ação traumática (pois destruiu epitélio intestinal); o Realiza ação espoliativa por se apropriar do sangue – possibilidade de desenvolvimento de anemia o Ação enzimática – para manter sangue fluindo para cavidade oral é necessário que despeje enzimas anticoagulantes, não havendo reparação dos vasos sanguíneos lesados, e o sangue flui para a cavidade oral; essas enzimas podem trazer alterações de comportamento – ação tóxica o A toxicidade também se dá pelos resíduos metabólicos dos vermes o Processos inflamatórios – geram edema na área afetada do intestino; o Carga parasitária pode ser muito alta, podendo ter várias lesões próximas entre si o A redução de fluxo de sangue para os epitélios pode provocar anóxia das células epiteliais e aumento do diâmetro das lesões produzidas pela boca dos vermes – isso pode resultar em necrose e ruptura de alças intestinais o OBS.: o verme constantemente muda de posição na parede do intestino, deixando vários pontos hemorrágicos para trás, e a lesão é difícil de ser reparada, então o indivíduo continua perdendo sangue pelas lesões, daí a possibilidade das fezes serem muco-sanguinolentas 2) ETIOLOGIA SECUNDÁRIA - Intensidade dos sintomas: depende do número de parasitos o Faixa etária é variável, podendo ter doença grave em crianças e adultos o Em certas regiões há maior prevalência em indivíduos com 40-50 anos por conta da sua constante presença em zona rural e do contato dos pés com o solo o Sintomas Abdominais: ▪ Dor epigástrica – típica de parasitismo de i. delgado; ▪ Diminuição de apetite; ▪ Indigestão; ▪ Cólica; ▪ Indisposição – enxergada quando o indivíduo tem déficit de hemoglobina por conta da anemia imposta pelo verme – falta de aptidão para o trabalho, cansaço frequente, dificuldade de aprendizagem/raciocínio ▪ Náuseas; ▪ Vômitos; ➢ Sintomatologia da fase crônica: • Hipotensão (por conta dos fenômenos hematológicos, o despejo das enzimas que desempenham efeito tóxico sobre organismo do hospedeiro), com aumento da diferença entre a pressão máxima e a mínima. • Ocorrem, tonturas, vertigens, zumbidos nos ouvidos e manchas no campo visual – ligado a ação tóxica do parasito e ao quadro de anemia • Dores musculares, sobretudo nas pernas, ao caminhar, cefaléia e dores precordiais. – relacionados a baixa de hemoglobina e a realização pelo músculo de metabolismo anaeróbico, e produção de lactatos que levam as dores e falta de aptidão física • Amenorréia, redução da libido e impotência sexual em homens • Por fim, aparecem palpitações, sopros cardíacos, falta de ar aos esforços e insuficiência cardíaca congestiva. – pacientes graves com carga parasitária muito alta • Mesmo nos adultos, a anemia traz mudanças na personalidade, como foi descrito por Monteiro Lobato na figura de “Jeca Tatu”. • Amarelão – pele fica amarelada (por conta da anemia) e lisa • "17 milhões são caricaturas derreadas no físico e no moral pela ancilostomíase; a inteligência do amarelado atrofia-se e a triste criatura vive em soturno urupê humano, incapaz de ação, incapaz de vontade, incapaz de progresso; os escravos dos vermes; em consequência da escravização do homem ao verme, fez o país em andrajosa miséria econômica, resultado natural da miséria fisiológica." Estes clamores do escritor Monteiro Lobato ficaram expressos na sua célebre frase: "O Jeca não é assim - está assim." ➢ Patologia: • Do sangue evacuado pelos helmintos, 30 a 40% do Fe do sangue são reabsorvidos pelos intestinos, e isso faz com que a anemia seja tardia, podendo não estar presente no início do quadro clínico o O helminto não aproveita integralmente da hemoglobina da qual se alimenta, onde parte do sangue é jogado fora intacto • O resto deve provir da dieta do paciente. Senão, as reservas hepáticas de Fe (900 mg) vão diminuindo até se esgotarem; e a produção de hemoglobina cai. • Por exemplo, se em função da ingestão de Fe e da espoliação feita por 700 Necator, houver um déficit diário de 4 mg de Fe, serão necessários 900/4 = 225 dias para que a anemia comece a manifestar-se (seta). • Mas a medida que a anemia pro-gredir haverá hemodiluição e perda menor de Fe, se a espoliação per-manecer de volume constante. • Até que a quantidade de Fe perdido se iguale a ingerida, estabilizando o grau de anemia do paciente. • Quando a carga parasitária for de 100 a 1.000 Necator, a perda estará entre 10 e 30 ml/dia, ou seja 5 a 15 mg de Fe perdidos. Mas poderá chegar a 100 ou 250 ml/dia se os vermes forem em número de 1.000 a 3.500. • • Sintomas Abdominais: • Anemia → hematofagismo – N. americanus (0,01 a 0,04 ml/verme/dia). o A. duodenale → maior hematofagismo (0,05 a 0,3 ml/dia). • Diarréias sanguinolentas – quadros diarreicos dos que tem carga parasitária alta - fezes lembram borra de café e são fétidas, pastosas • Diminuição do apetite e apetite depravado (geofagia) – apetite depravado se relaciona com a redução da taxa de cálcio e taxa de hemoglobina (ferro), e o indivíduo é levado de ingerir terra (vontade irresistível) (muito característico em crianças) • Em casos fatais observou-se jejuno-ileíte (além do duodeno, jejuno e íleo são afetados), ulcerações, hemorragias, supuração, necrose, gangrena (das alças intestinais) e peritonite • Fase Aguda – penetração das larvas e fixação no intestino. • Fase Crônica – presença dos vermes no intestino. o Sintomas: o a) primários – diretamente ligados à atividade dos parasitas; trata-se com anti- parasitários o b) secundários – decorrentes da anemia e hipoproteinemia. São os mais frequentes na ancilostomose; só se resolve com dieta – rica em cálcio, ferro, entre outros nutrientes o OBS.: Primários (cessam com o tratamento) e Secundários (dieta) • ➢ Fatores que favorecem o desenvolvimento de larvas: • Solo arenoso, poroso, úmido, rico em matéria orgânica e sombreado. • Clima (ou microclima) com umidade e temperaturas favoráveis à vida das larvas; entre 23ºC e 30ºC para Ancylostoma e 30º a 35ºC para Necator. • Ancylostoma mais prevalente no sudeste para baixo, e Necator mais prevalente do sudeste para cima (em destaque para MG) ➢ Diminuição da contaminação do solo: • Cultivo de capim cidreira, margaridas, arruda e hortelã e capim vetver –não é necessário tomar chá disso; diminui-se a contaminação do solo pois esses vegetais eliminam substancias, que matam as larvas de Ancylostoma e Necator, o que garante menor sobrevida ou menor quantidade de larvas dos vermes no ambiente peridomiciliar ou domiciliar dos indivíduos que vivem em áreas de risco ➢ Profilaxia: • Andar calçado; • Lavar bem frutas, verduras e legumes – Ancylostoma e Necator podem penetrar mucosa oral ou ingestão no caso do A. duodenale • Tratamento dos doentes; • Criação de redes de esgoto • Utilizar luvas ao manusear terra • Não despejar fezes no solo ➢ Diagnóstico: • Anamnese, associação de sintomas cutâneos, pulmonares e intestinais e anemia • Exame parasitológico de fezes: Métodos qualitativos e quantitativos • Coprocultura – consiste em manter as fezes em laboratório, em TE e umidade adequada, no escuro, e larvas eclodirão dos ovos chegando a superfície do bolo fecal, sendo obervadas – ve-se larvas em grumos • O diagnóstico da ancilostomíase não oferece dificuldades, pois os ovos são típicos e em geral abundantes nas fezes dos pacientes. • O exame coproscópico de um simples esfregaço feito com fezes e solução fisiológica, em lâmina de microscopia, é suficiente. • Para estimar-se a carga parasitária, fazer uma contagem de ovos pelo método de Stoll. • Cada 35-40 ovos por grama de fezes correspondem a uma fêmea, sendo que as fêmeas representam 50% da população helmíntica. • Uma infecção com menos de 50 vermes é considerada leve; entre 50 e 200 já tem significação clínica, podendo causar anemia; entre 200 e 1.000 é intensa e, acima de 1.000 vermes, muito intensa., podendo levar ao óbito • ➢ Tratamento: • Mebendazol - cura cerca de 100% dos casos. • Albendazol (400 mg) assim como levamisol. Cura acima de 95% dos casos. • Pamoato de pirantel - cura mais de 80% dos casos. • Nitazoxanida- cura entre 70% e 100 % dos casos. • Ferroterapia - A administração de sulfato ferroso aos pacientes com anemia é importante para uma recuperação rápida.
Compartilhar