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Andressa Marques – medicina UFR TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR (TAB) →Transtorno psiquiátrico crônico caracterizado por períodos recorrentes de alterações patológicas no humor (polo maníaco – eufórico; polo depressivo); →Cada período em que o humor está polarizado é denominado fase ou episódio; EPIDEMIOLOGIA →Apresenta altas taxas de morbimortalidade e perdas funcionais. →Grupos de pacientes de acordo com suas características patológicas: Tipo I: pelo menos 1 episódio de mania ao longo da vida; prevalência de 0,6% ao longo da vida; não tem diferença entre os sexos; Tipo II: pelo menos 1 episódio de hipomania e 1 de depressão ao longo da vida, sem nunca ter apresentado episódio maníaco; prevalência de 0,4% ao longo da vida; mais frequente em mulheres; Ciclotimia (transtorno ciclotímico): flutuações patológicas de humor, tanto para o polo depressivo quanto para o polo maníaco; prevalência de 1,4% ao longo da vida. →A prevalência total do espectro bipolar é de 2,4% (considerando todos os tipos); ETIOLOGIA E NEUROBIOLOGIA →Sua etiologia envolve elementos biológicos, psicológicos e sociais. →Possui relação gene-ambiente relevante tanto para o risco de desenvolvimento de TAB quando para a idade de início e a gravidade dos sintomas; →Fatores associados a aumento de risco, idade precoce de início e gravidade do quadro: Eventos traumáticos na infância Negligência parenteral Uso de maconha na adolescência →Baixa autoestima, elevado neuroticismo e impulsividade são associados ao diagnóstico (sem explicação exata sobre essa associação ainda); →Ainda não é tão bem explicado o exato “mecanismo genético”, mas, o TAB é o transtorno psiquiátrico com maior componente genético e cuja herdabilidade pode chegar a 68%. →A maioria dos genes descritos como associados ao TAB são genes relacionados a funções globais do organismo, como modulação imunológica, respiração celular e segundos-mensageiros intracelulares; →Do ponto de vista neuroanatômico, pode ser entendido como uma desregulação de circuitos relacionados ao controle e ao processamento de emoções (alterações bilaterais das vias que ligam o córtex pré-frontal, hipocampo e amígdala); Há também evidências de aumento de atividade dos circuitos de recompensa associado ao estriado, córtex ventrolateral e orbitofrontal – o que pode explicar a maior sensibilidade a recompensa em pacientes com TAB; →Do ponto de vista bioquímico, há evidências de alterações de vias de sinalização intracelular (relacionadas ao Inositol e proteínas quinases como a GSK3-beta); outro processo possivelmente alterado é a respiração intracelular, no que se refere aos sistemas de proteção contra radicais livres de oxigênio; Andressa Marques – medicina UFR →Os pacientes apresentam também níveis elevados de cortisol, ACTH e citocinas inflamatórias; (os episódios de mania cursam com níveis mais elevados de atividade inflamatória se comparados com os de depressão). QUADRO CLÍNICO →Os sintomas podem incluir alterações de humor, cognição, psicomotricidade, funções neurovegetativas, atenção, impulsividade e autoestima. EPISÓDIOS DEPRESSIVOS →Humor polarizado para tristeza e melancolia; →Paciente cursa com pensamentos pessimistas, niilistas (céticos), de culpa excessiva, de ruína, de baixa autoestima, suicídio. →A psicomotricidade torna-se reduzida e lentificada, gerando dificuldade para realizar tarefas ou mover-se (sensação de peso nas pernas – “paralisia de chumbo”), em alguns casos mais raros pode cursar até mesmo com apresentação catatônica em que praticamente há abolição completa dos movimentos. →Há também agitação psicomotora com sensação de inquietude e desconforto generalizado com intensa ansiedade; →Alterações cognitivas + presentes: baixa capacidade de concentração, raciocínio lento e memória falha. →O autocuidado também é prejudicado (paciente com má higiene); →Sono e apetite podem aumentar; libido, geralmente, encontra-se diminuída ou inexistente. DEPRESSÃO UNIPOLAR vs. BIPOLAR Andressa Marques – medicina UFR EPISÓDIOS MANÍACOS →Euforia ou irritabilidade; aumento significativo das atividades; redução da necessidade de dormir; impulsividade e envolvimento excessivo em projetos; otimismo extremo; padrão de relacionamento sexual fora do habitual do paciente; tomada de decisões sem avaliação dos riscos ou consequências; gastos financeiros além das possibilidades reais; autoestima inflada (chegando a proporções delirantes, em que o indivíduo pode designar-se da realeza, profeta ou mesmo divindades); atenção voluntária geralmente está diminuída →O pensamento encontra-se acelerado, o que pode ser vivenciado pelo paciente como estar maisi “criativo” ou “produtivo”, com muitas ideias surgindo ao mesmo tempo. →Critérios diagnósticos de um episódio maníaco: Andressa Marques – medicina UFR EPISÓDIOS HIPOMANÍACOS →Similar aos episódios maníacos, mas, a intensidade dos sintomas é menor e não há sintomas graves de desestruturação psíquica. →Em casos leves pode até mesmo nem ser percebido pela família; →Critérios diagnósticos de episódios hipomaníacos: Andressa Marques – medicina UFR ESTADO MISTO →Quando os pacientes apresentam simultaneamente os polos depressivo e maníaco; →Não há consenso sobre os critérios diagnósticos; CICLOTIMIA →Configura-se por flutuações rápidas entre os polos maníaco e depressivo, sem que existam sintomas graves ou intensos o suficiente para caracterização de um episódio depressivo ou maníaco; →O transtorno ciclotímico é um transtorno crônico – o paciente tem raros períodos de eutimia e vivencia prejuízos funcionais associados às flutuações de humor. EXAMES GERAIS E DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS →A consolidação diagnóstica se dá somente depois de se afastar todas as possíveis condições clínicas gerais e relacionadas a substâncias que possam causar alterações comportamentais semelhantes à do transtorno de suspeita; Andressa Marques – medicina UFR Andressa Marques – medicina UFR COMORBIDADES PSIQUIÁTRICAS →São muito frequentes nos pacientes com TAB, principalmente transtornos de ansiedade, transtornos relacionados ao uso de substâncias e transtornos de personalidade; →Cerca de 65% apresenta pelo menos uma comorbidade psiquiátrica; Andressa Marques – medicina UFR TRATAMENTO →Vai depender da fase em que o paciente se encontra; →Paciente em episódio de humor – busca-se o controle dos sintomas o mais rápido possível; →Paciente eutímico – o objetivo passa a ser a prevenção de novas fases e a melhora no funcionamento psicossocial; →A terapêutica baseia-se no uso de medicações estabilizadoras do humor, com destaque para o lítio, anticonvulsivantes e antipsicóticos atípicos. Andressa Marques – medicina UFR Andressa Marques – medicina UFR CASO CLÍNICO J.S., 22 anos, solteiro, auxiliar administrativo. Paciente foi trazido por familiares para avaliação em pronto-socorro (PS). Contam que paciente saiu de casa para uma festa, mas só foi encontrado por amigos 3 dias depois peregrinando pela rua. Estava bastante agitado, falava alto e rápido. Dizia que passou os últimos dias migrando de uma festa para outra e fez uso de diversas substâncias. Família notou que o paciente estourou o limite de seu cartão de crédito. J. diz não entender a razão de ter sido trazido ao PS, pois está muito bem, inclusive uma Andressa Marques – medicina UFR evidência de sua boa saúde seria o fato de não dormir há 3 dias e ainda se sentir com muita energia. Vangloria-se inclusive de ter tido diversas parceiras sexuais nas referidas festas. Tem histórico de internação psiquiátrica aos 18 anos por depressão grave, há cerca de 1 ano interrompeu tratamento com psiquiatra por conta própria. Pai tem diagnóstico de transtorno afetivo bipolar. 1. Qual a principalhipótese diagnóstica para o caso? 2. Quais exames complementares são indispensáveis nesta primeira avaliação? 3. Qual a terapêutica mais adequada para o caso? QUESTÕES 1.Sobre o diagnóstico de transtorno bipolar, assinale a alternativa correta: a. Para o diagnóstico de TAB tipo I, é necessário pelo menos um episódio de hipomania ao longo da vida. b. A presença de um episódio maníaco em paciente com diagnóstico prévio de TAB tipo II leva a mudança diagnóstica para TAB tipo I. c. O estabelecimento do diagnóstico de TAB inviabiliza qualquer diagnóstico de transtorno de ansiedade. d. A presença de antecedente familiar de TAB associado a episódio depressivo atual é suficiente para diagnóstico de TAB. 2. Sobre o episódio maníaco puro, assinale a alternativa que contém o sintoma menos característico: a. Aumento de energia. b. Impulsividade. c. Culpa patológica. d. Aceleração de pensamento. 3 A respeito da diferenciação entre depressão unipolar e depressão bipolar, assinale a alternativa que não indica uma característica sugestiva de depressão bipolar: a. Múltiplos episódios depressivos prévios. b. Primeiro episódio depressivo após os 30 anos. c. História familiar de TAB. d. Sintomas mistos. 4. Em relação às comorbidades e ao TAB, assinale a alternativa incorreta: a. A frequência de comorbidades psiquiátricas em pacientes com TAB é elevada. b. Entre as comorbidades mais prevalentes encontram-se os transtornos ansiosos e os transtornos relacionados ao uso de substâncias. c. O diagnóstico de TAB exclui a possibilidade de diagnóstico de transtornos de personalidade. d. O correto diagnóstico e o manejo das comorbidades psiquiátricas são indispensáveis para o bom manejo do paciente com TAB. 5. Sobre o tratamento farmacológico do TAB, assinale a alternativa correta: Andressa Marques – medicina UFR a. O uso de antidepressivos é proscrito em qualquer situação, em razão do risco absoluto de indução de flutuação de humor. b. Lítio deve ser sempre a primeira opção terapêutica, independentemente do perfil do paciente. c. A associação entre lítio e divalproato deve ser evitada, já que as duas medicações são estabilizadores de humor. d. O tratamento medicamentoso deve ser orientado de acordo com a fase em que o paciente se encontra, a eficácia da medicação, o perfil de efeitos colaterais e o perfil do paciente. 6. Sobre o tratamento dos pacientes com TAB, assinale a alternativa incorreta: a. Apesar da prioridade para monoterapia medicamentosa, por vezes a associação de medicações é necessária na condução de casos mais complexos. b. Exercício físico, controle dietético e dos ritmos circadianos são ações importantes no tratamento de pacientes com TAB. c. Orientar o paciente sobre as características da doença e os desencadeadores de fase de humor é das principais tarefas do profissional que acompanha o paciente com TAB. d. A escolha das medicações independe da polaridade atual do humor do paciente. 7. Sobre os episódios (hipo)maníacos, assinale a alternativa incorreta: a. É sempre importante diferenciar se o achado de aceleração de pensamento não é um reflexo de transtorno de ansiedade subjacente. B. Ainda que, por vezes, o paciente se sinta mais produtivo, em geral há perda da capacidade de foco atencional. c. O aumento da impulsividade pode levar o paciente a comportamentos de risco de sexo desprotegido, brigas e uso de substâncias. d. A presença de sintomas do polo depressivo, como culpa patológica, exclui o diagnóstico de um episódio (hipo)maníaco. 8. Paciente do sexo masculino, 28 anos, com diagnóstico prévio de TAB I, interrompeu uso de lítio há cerca de 4 semanas sem alertar seu psiquiatra. Dá entrada no pronto-socorro trazido por familiares que contam que, há 1 semana, ele não dorme e perambula pela casa falando alto. Nos últimos dias, disse a família que precisa fazer uma viagem de autoconhecimento, pois descobriu ser o novo messias. Ao exame psíquico, apresenta-se com discurso acelerado, fuga de ideias, conteúdo delirante dos pensamentos e aumento da atenção espontânea. Assinale a alternativa que representa o correto diagnóstico e a melhor alternativa medicamentosa para o caso: a. Episódio maníaco com sintomas psicóticos; introdução de lítio e associação com antipsicótico. b. Episódio hipomaníaco com sintomas mistos; reintrodução de lítio. c. Episódio maníaco; introdução de antidepressivo. d. Episódio depressivo com sintomas psicóticos: introdução de quetiapina. 9. Paciente do sexo feminino, 25 anos, procura ambulatório de psiquiatria por queixas de hipersonia (dorme 12 horas/dia contra as habituais 8 horas), humor deprimido, pensamentos niilistas, “peso no corpo”, ganho de peso, diminuição de libido e ideação suicida sem planejamento. Diz que já tratou “depressão” pelo menos 6 vezes nos últimos 10 anos, sempre com resposta pobre aos antidepressivos. Durante a investigação, revela pelo menos 3 episódios em que se sentiu “muito bem”, com aumento da energia, dormindo 3 horas por noite, mas com Andressa Marques – medicina UFR energia ao longo do dia. Nesses períodos, ficou mais sociável, envolveu-se em diversos encontros sexuais dos quais se arrepende e fez uso abusivo de álcool, substância que raramente ingere. Assinale a alternativa que representa a hipótese diagnóstica mais provável e a melhor terapêutica medicamentosa: a. Transtorno depressivo recorrente; sertralina. b. Distimia; venlafaxina. c. TAB I em episódio depressivo psicótico; fluoxetina. d. TAB II em episódio depressivo; quetiapina. Gabarito: 1-b; 2-c; 3-b; 4-c; 5-d; 6-d; 7-d, 8-a, 9-d
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