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Resumo Contos novos-Mario de Andrade

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1
 Contos novos
Mário de AndrAde
OBRA
LiteráriA
Mário de AndrAde 
(1893-1945)
Mário de Andrade é uma das vozes mais importantes do 
cenário literário e político brasileiro. Ativo participante dos 
eventos que marcam o Modernismo nacional, é um grande 
nome quando se pensa a literatura nacional. Tendo empre-
gado um projeto de valorização e construção de um Brasil 
desvinculado do projeto colonial, o escritor foi pessoa sig-
nificativa não apenas na área dos estudos literários, mas 
também na área da cultura.
Recentemente, descobertas em arquivos pessoais, bem 
como a oficialização da sua obra como domínio público, 
o alçaram outra vez à luz de uma série de estudos. Esses 
estudos passaram a revisitá-lo não somente pelo caráter 
impressionante de sua obra, mas por uma homossexuali-
dade/bissexualidade que nunca havia sido revelada publi-
camente em vida. Importante pauta da contemporaneida-
de, não se trata de modificar as pretensões e a genialidade 
da obra, mas de, àquele que se dedica a estudar o autor, 
perceber que questões de apurado senso crítico contempo-
râneo podem permear, pois sempre permearam, a história 
do nosso tempo.
Contos novos
Contos novos é uma antologia de contos publicada dois 
anos após a morte de Mário de Andrade. Trata-se de uma 
produção em que se reúne uma espécie de síntese das 
principais características do autor. Ao mesmo tempo, por-
tanto, que a obra se mostra recheada por um frescor mo-
dernista típico da primeira geração, podemos já perceber 
um tom de maturidade, no que tange a própria crítica a 
esse projeto que ali será encontrada.
Mário de Andrade foi autor de diversos gêneros textuais 
(crônicas, romances, ensaios, cartas, contos). Os resultados 
alcançados, dessa forma, na elaboração dos Contos novos, 
a que muitos atribuem um período de crise pessoal, são 
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dignos de serem comparados a contistas de renome, como 
Machado de Assis.
A revisitação, dessa forma, que Mário empreende à sua 
própria trajetória e, consequentemente, à trajetória moder-
nista, pode ser dada como um ponto-chave para o início da 
leitura. O leitor que adentrar os Contos novos, dessa forma, 
precisa saber situá-lo não apenas em meio ao percurso de 
um movimento literário-artístico que marcou o País, mas 
também no que tange o movimento de um homem de 
grande importância histórica para a nação brasileira.
Estrutura e temáticas
Os nove textos que compõem os Contos novos podem ser 
divididos a partir do seu foco narrativo. De tal modo, temos 
quatro contos narrados em primeira pessoa, que trazem 
um narrador comum: Juca é personagem, portanto, a que 
vale debruçar-se para uma maior análise. Afinal, ele é o fio 
condutor de metade das histórias lidas, carregando con-
sigo uma personalidade marcada por uma opressão, na 
figura da rejeição, e pela luta contra a repressão.
Nos contos narrados por Juca, a temática da libertação em 
oposição à opressão não é sempre marcada por um final 
feliz. Pelo contrário, muitas vezes o que fica implícito é a 
força das amarras sociais e psicológicas agindo sobre o 
narrador-personagem.
Em outra instância, contudo, temos cinco contos narrados 
em terceira pessoa. Neles, uma dimensão coletiva aparece 
com um pouco mais de evidência, expondo para os leitores 
dois outros temas: solidão e solidariedade. É possível res-
gatar nesses contos, ainda, relações com o clima de ditadu-
ra que havia se instaurado no País.
Contos em 1ª pessoa Contos em 3ª pessoa
Vestida de preto O ladrão
O peru de Natal Primeiro de Maio
Frederico Paciência Atrás da catedral de Ruão
Tempo de camisolinha O poço
Nelson
Resumo dos contos
Vestida de preto
Juca, o narrador, relembra no conto Vestida de preto uma 
aventura de amor que tivera com a prima, Maria, durante 
a infância. Porém, no período da adolescência, ocorre um 
afastamento entre os dois. Juca se torna um mau aluno e 
isso afasta a menina. A história se desenvolve até o pon-
to de um reencontro, que devolve aos dois personagens 
antigas sensações, no entanto, o conto finaliza em uma 
limitada conversa rápida e uma despedida seca.
O ladrão
Narra a história da perseguição de um ladrão. O conto exi-
be uma sequência de episódio envolvendo a situação. O 
final termina com a dispersão dos grupos envolvidos nos 
episódios, restando apenas algumas pessoas reunidas no 
ponto do bonde.
Primeiro de Maio
O cenário é São Paulo. No conto, uma personagem intitu-
lada carregador de malas 35, que trabalha na Estação da 
Luz, decide que vai faltar ao trabalho no Dia do Trabalho. 
Arruma-se, veste uma roupa bonita, faz a barba e sai de 
casa. Sem se dar conta, acaba indo no caminho do traba-
lho. A cidade está cheia de policiais. Depois de passar o dia 
observando as comemorações de Primeiro de Maio (Dia 
do Trabalhador), o 35 retorna à Estação da Luz e ajuda um 
companheiro a trabalhar.
Atrás da catedral de Ruão
Quarentona e virgem, Mademoiselle serve como dama de 
companhia para algumas mocinhas ricas, cujos pais se se-
pararam. Um dia, ouve de uma das meninas de que cuida 
uma história sobre um homem suspeito atrás da catedral 
de Ruão. A partir daí, todos os dias, entre medo e desejo, 
passa a fazer esse caminho. Em uma breve jornada epifâ-
nica, um dia, vê dois homens indo na direção dela, perto 
da catedral, e começa a imaginar que eles a atacam e a 
abusam. Sente medo. Sente prazer. No fundo, nada acon-
tece, os dois homens apenas faziam o mesmo caminho, 
ainda sim, ela entrega uma moeda de agradecimento 
aos homens.
O poço
Em uma fazenda pertencente a um fazendeiro chamado 
Joaquim Prestes, alguns homens trabalham na chuva. En-
quanto examina o trabalho, Joaquim deixa cair uma caneta 
no poço e ordena que os funcionários a busquem. É arris-
cada a missão, pois a terra é mole e o frio é forte. O homem 
chamado Albino decide obedecer. Seu irmão José, porém, 
fica preocupado com um possível desmoronamento de ter-
ra na boca do poço e o impede até que o tempo melhore. 
O dono da fazenda fica revoltado e vai embora.
Dois dias depois, a caneta reaparece. Ela é limpa e entre-
gue ao fazendeiro. Porém, Joaquim Prestes repara em al-
guns riscos, de modo que solta um palavrão, joga no lixo 
e retira outra caneta de uma coleção, onde é possível ver 
algumas canetas de ouro.
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O peru de Natal
Juca, o narrador, mora com a mãe viúva, uma irmã e a tia. 
O cenário é o primeiro Natal que afamília passará sem o 
pai, que sempre fora contrário às festas e, pela primeira 
vez, Juca conseguiria fazer uma celebração. Na hora do 
jantar, Juca prepara o prato das mulheres antes do seu, 
contrariando a tradição. O gesto faz com que elas chorem 
e todos se recordam do ausente. Há um embate entre o 
peru de Natal e a memória do pai. No final, ele mente para 
confortá-las, dizendo que, com certeza, o pai preferiria a 
alegria. Por fim, ele vai embora, dizendo que irá a uma fes-
ta de amigos, mas pisca para a mãe, que sabe que ele irá 
encontrar a namorada Rose.
Frederico Paciência
Nesse conto narrado por Juca, ele relata um episódio de 
sua adolescência, envolvendo o melhor amigo, Frederico 
Paciência. Ambos eram muito próximos e faziam tudo jun-
tos. Frederico tem origem em família rica e Juca sente certa 
vergonha diante da pobreza de sua família. A amizade es-
treita, no entanto, desperta comentários homofóbicos en-
tre os colegas. Passam, então, a deixar certos gestos, como 
beijo no rosto, para momentos discretos.
Como a história perpassa o desenvolvimento de Juca, che-
gam juntos à adolescência, quando ambos descobrem o 
sexo e o interesse pelas mulheres. Juca passa a namorar 
Rose. O pai de Frederico morre e a mãe resolve mudar-
-se para o Rio de Janeiro. Assim, os amigos se separam, 
continuam a trocar cartas que, pouco a pouco, tornam-se 
raras. No fim, Juca fica um pouco feliz de não poder ir vi-
sitar o amigo no Rio, pois conclui que não sabia lidar com 
aquela amizade.
Nelson
É uma história dentro de outra história. No bar, alguns 
amigos estão conversando quando, de repente, um sujeito 
estranho adentra o estabelecimento. Um dos amigos, Al-
fredo, diz que conhece a história do homem, passando a 
narrá-la. Cada um dos amigos começa a compor a história 
do homem. Assim, ao perceber que estão falando dele, o 
homem vira seu último copo e vai embora.
Tempo da camisolinha
Aqui, Juca, o narrador, rememora um episódio da infância. 
Quando foi cortar os cabelos e perdeu os cachos. Em uma 
foto antiga, ele aparece vestindo uma camisolinha, roupa 
infantil com a qual a mãe o vestia até os quatro anos de 
idade. Trata da relação da criança com um operário, uma 
relação de solidariedade, referente ao tempo em que famí-
lia passava as férias na praia.
AplicAndo 
pArA Aprender
 1. (PUC-RJ)
Texto 1: O peru de Natal
O nosso primeiro Natal de família, depois 
da morte de meu pai acontecida cinco meses 
antes, foi de consequências decisivas para a 
felicidade familiar. Nós sempre fôramos fa-
miliarmente felizes, nesse sentido muito 
abstrato da felicidade: gente honesta, sem 
crimes, lar sem brigas internas nem graves 
dificuldades econômicas. Mas, devido prin-
cipalmente à natureza cinzenta de meu pai, 
ser desprovido de qualquer lirismo, de uma 
exemplaridade incapaz, acolchoado no me-
díocre, sempre nos faltara aquele aproveita-
mento da vida, aquele gosto pelas felicidades 
materiais, um vinho bom, uma estação de 
águas, aquisição de geladeira, coisas assim. 
Meu pai fora de um bom errado, quase dra-
mático, o puro-sangue dos desmancha pra-
zeres. Morreu meu pai, sentimos muito, etc. 
Quando chegamos nas proximidades do Natal, 
eu já estava que não podia mais pra afastar 
aquela memória obstruente do morto, que 
parecia ter sistematizado pra sempre a obri-
gação de uma lembrança dolorosa em cada al-
moço, em cada gesto mínimo da família. Uma 
vez que eu sugerira à mamãe a ideia dela ir 
ver uma fita no cinema, o que resultou foram 
lágrimas. Onde se viu ir ao cinema, de luto 
pesado! A dor já estava sendo cultivada pelas 
aparências, e eu, que sempre gostara apenas 
regularmente de meu pai, mais por instinto 
de filho que por espontaneidade de amor, 
me via a ponto de aborrecer o bom do morto. 
Foi decerto por isto que me nasceu, esta sim, 
espontaneamente, a ideia de fazer uma das 
minhas chamadas “loucuras”. Essa fora ali-
ás, e desde muito cedo, a minha esplêndida 
conquista contra o ambiente familiar. Des-
de cedinho, desde os tempos de ginásio, em 
que arranjava regularmente uma reprovação 
todos os anos; desde o beijo às escondidas, 
numa prima, aos dez anos, descoberto por 
Tia Velha, uma detestável de tia; e princi-
palmente desde as lições que dei ou recebi, 
não sei, de uma criada de parentes: eu con-
segui, no reformatório do lar e na vasta pa-
rentagem, a fama conciliatória de “louco”. “É 
doido, coitado!” falavam. Meus pais falavam 
com certa tristeza condescendente, o resto da 
parentagem buscando exemplo para os filhos 
e provavelmente com aquele prazer dos que 
se convencem de alguma superioridade. Não 
tinham doidos entre os filhos. Pois foi o que 
me salvou, essa fama. Fiz tudo o que a vida 
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me apresentou e o meu ser exigia para se re-
alizar com integridade. E me deixaram fazer 
tudo, porque eu era doido, coitado. Resultou 
disso uma existência sem complexos, de que 
não posso me queixar um nada. 
ANDRADE, Mário de. Contos novos. 
Belo Horizonte: Villa Rica, 1993, p. 75-76.
Texto 2: Família
Três meninos e duas meninas, sendo uma 
ainda de colo. A cozinheira preta, a copeira 
mulata, o papagaio, o gato, o cachorro, as ga-
linhas gordas no palmo de horta e a mulher 
que trata de tudo. A espreguiçadeira, a cama, 
a gangorra, o cigarro, o trabalho, a reza, a 
goiabada na sobremesa de domingo, o pali-
to nos dentes contentes, o gramofone rouco 
toda noite e a mulher que trata de tudo. O 
agiota, o leiteiro, o turco, o médico uma vez 
por mês, o bilhete todas as semanas branco! 
mas a esperança sempre verde. A mulher que 
trata de tudo e a felicidade. 
ANDRADE, Carlos Drummond de. Sentimento do mundo. 
Rio de Janeiro: Record, 1999, p. 58.
a) O poema de Carlos Drummond de Andrade, 
publicado em seu livro de estreia, em 1930, 
apresenta aspectos que ainda mantêm uma 
relação direta com a primeira fase do Moder-
nismo. Cite duas características do texto que 
reafirmam valores e procedimentos do projeto 
modernista brasileiro.
b) A vida familiar, tema dos Textos 3 e 4, é tra-
tada pelos autores, apesar de alguns pontos 
em comum, de maneira diversa, principal-
mente em relação aos papéis masculino e 
feminino. Determine as diferenças entre am-
bos, tomando como referência as figuras do 
pai e da mãe.
 2 (Espcex (Aman)) Leia o trecho do conto 
O peru de Natal e responda.
O nosso primeiro Natal em família, depois 
da morte de meu pai, acontecida cinco me-
ses antes, foi de consequências decisivas para 
a felicidade familiar. Nós sempre fôramos 
familiarmente felizes, nesse sentido muito 
abstrato da felicidade: gente honesta, sem 
crimes, lar sem brigas internas nem graves 
dificuldades econômicas. Mas, devido princi-
palmente à natureza cinzenta de meu pai, ser 
desprovido de qualquer lirismo, duma exem-
plaridade incapaz, acolchoado no medíocre, 
sempre nos faltara aquele aproveitamento 
da vida, aquele gosto pelas felicidades mate-
riais, um vinho bom, uma estação de águas, 
aquisição de geladeira, coisas assim. Meu pai 
fora de um bom errado, quase dramático, o 
puro-sangue dos desmancha-prazeres.
Morreu meu pai sentimos muito, etc. Quando 
chegamos nas proximidades do Natal, eu já 
estava que não podia mais pra afastar aque-
la memóriaobstruente do morto, que parecia 
ter sistematizado pra sempre a obrigação de 
uma lembrança dolorosa em cada almoço, em 
cada gesto da família... A dor já estava sendo 
cultivada pelas aparências, e eu, que sempre 
gostara apenas regularmente de meu pai, 
mais por instinto de filho que por esponta-
neidade de amor, me via a ponto de aborrecer 
o bom do morto.
Foi decerto por isso que me nasceu, esta sim, 
espontaneamente, a ideia de fazer uma das 
minhas chamadas “loucuras”. Essa fora, ali-
ás, e desde muito cedo, a minha esplêndida 
conquista contra o ambiente familiar. Des-
de cedinho, desde os tempos de ginásio, em 
que arranjava regularmente uma reprovação 
todos os anos; desde o beijo às escondidas, 
numa prima, aos dez anos…eu consegui no 
reformatório do lar e vasta parentagem, a 
fama conciliatória de “louco”. “É doido coi-
tado!” (…)
Foi lembrando isso que arrebentei com uma 
das minhas “loucuras”:
— Bom, no Natal, quero comer peru.
Houve um desses espantos que ninguém não 
imagina.
Nesse fragmento, o universo ficcional cons-
titui
a) o ponto de vista externo do narrador, que va-
loriza a célula dramática das novelas român-
ticas.
b) característica da primeira geração modernis-
ta, que repudiava o conservadorismo.
c) a temática da prosa de costumes, enaltecen-
do a primeira geração romântica.
d) uma temática nacionalista ao exaltar o con-
servadorismo.
e) a valorização do sistema patriarcal.
 3. (Unicamp) O trecho a seguir foi extraído do 
conto FREDERICO PACIÊNCIA, do livro Contos 
novos, de Mário de Andrade.
(...) a mãe de Frederico Paciência morrera. 
(...) É indizível o alvoroço em que estourei, 
foi um deslumbramento, explodiu em mim 
uma esperança fantástica, fiquei tão atordoa-
do que saí andando solto pela rua. (...) A mãe 
de Rico, que me importava a mãe de Frederico 
Paciência! E o que é mais terrível de imagi-
nar: mas nem a ele o sofrimento inegável lhe 
importava: a morte lhe impusera o desejo de 
mim. Nós nos amávamos sobre cadáveres.
a) A que passagem do conto refere-se Juca 
quando afirma: “Nós nos amávamos sobre ca-
dáveres”?
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b) Qual a importância da passagem citada, e da-
quela que você identificou ao responder ao 
item a, acima, para compreender o desenvol-
vimento da amizade entre Juca e Frederico 
Paciência?
 4. (Fuvest) Tinha piedade, tinha amor, tinha 
fraternidade, e era só. Era uma sarça ardente 
mas era sentimento só. Um sentimento pro-
fundíssimo, queimando, maravilhoso, mas 
desamparado, mas desamparado.
(Mário de Andrade, CONTOS NOVOS)
No fragmento acima, do conto “Primeiro de 
Maio”, o narrador refere-se à personagem 
principal, o “35” e aos sentimentos deste.
a) Identifique e explique sucintamente o recur-
so de estilo que predomina na composição do 
fragmento.
b) Contextualize esse fragmento, explicando 
brevemente a relação que existe entre os sen-
timentos da personagem, aí referidos, e a ex-
periência que ela vive no conto.
 5. (UFPR) Sobre “Contos novos”, de Mário de 
Andrade, é correto afirmar:
[01] O personagem Juca, narrando em mais 
de um conto diferentes acontecimentos e fa-
ses de sua vida, permite que o leitor testemu-
nhe a construção de uma personalidade, dos 
devaneios infantis às amizades e amores.
[02] A presença de um mesmo personagem em 
mais de um conto do livro de Mário de Andra-
de tem a mesma função que tem a recorrência 
de personagens nos contos de “Em busca de 
Curitiba perdida”, de Dalton Trevisan.
[04] Um traço comum entre os textos de “Con-
tos novos” é a revelação de aspectos mais de-
licados da vida, sentimentos normalmente 
solapados pela rotina ou por certa hostilidade 
ou formalidade presentes nas relações sociais.
[08] Em alguns dos contos do livro, como “O 
poço” e “Primeiro de Maio”, as relações de 
trabalho são representadas de forma a colocar 
em evidência as desigualdades e as injustiças 
impostas pelo poder.
[16] A linguagem convencional na qual são 
escritos estes contos da maturidade de Mário 
de Andrade indica que ele se afastara bastan-
te das propostas do Modernismo e assumira 
a preferência por uma literatura clássica, a 
mesma que anos antes ele havia combatido 
com tanto entusiasmo.
[32] Em “Tempo da camisolinha”, o narra-
dor adulto lembra-se de si mesmo quando 
criança, criando uma convivência das vo-
zes do menino e do adulto que amplifica a 
compreensão das diferenças sociais e indivi-
duais e mostra que a sensibilidade infantil 
também pode perceber “o infinito dos sofri-
mentos humanos”.
 6. (Unemat) Sobre Contos novos, de Mário de 
Andrade, assinale a alternativa incorreta.
a) São narrativas de linguagem complexa, pri-
mando pela norma culta da língua: sintaxe e 
estrutura formal rígidas.
b) Os procedimentos narrativos concentram a 
experimentação linguística, bem ao gosto dos 
modernistas.
c) Os contos de 1ª pessoa estão centrados na 
personagem Juca e exploram a temática so-
cial e familiar.
d) As personagens das nove narrativas expres-
sam a relação conflituosa entre o homem e o 
seu mundo.
e) A denúncia das crises sociais alia-se à análise 
da problemática existencial das personagens.
 7. (Unemat) Os contos de Mário de Andrade li-
gam-se ao tom coloquial da primeira fase do 
Modernismo brasileiro. Nesse aspecto, assi-
nale a alternativa correta quanto à composi-
ção narrativa.
a) A ausência dos nomes das personagens em 
Primeiro de Maio e Atrás da catedral indica a 
alienação do homem na sociedade.
b) A linguagem coloquial, próxima da oralidade, 
caracteriza a necessidade de manter o estilo 
parnasiano.
c) A exploração das novas técnicas de lingua-
gem garante a densidade da composição e o 
apagamento da emoção.
d) A narrativa linear não permite a digressão e o 
flash back.
e) A manutenção do espírito conservador e con-
formista estabiliza os conflitos das persona-
gens.
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Gabarito
 1.
a) Algumas características do poema de 
Drummond que reafirmam valores e pro-
cedimentos típicos da primeira fase do 
Modernismo são: o uso da linguagem co-
loquial; a opção pelo tom prosaico na po-
esia; a liberdade formal, utilizando versos 
livres e brancos; a ironia e a crítica aos 
valores tradicionais burgueses.
b) Em ambos os textos percebe-se um tom 
de crítica aos valores e à constituição da 
família tradicional. No conto de Mário 
de Andrade, a preponderância da figura 
do pai como causa de dor e infelicidade 
é visível (“Mas, devidoprincipalmente à 
natureza cinzenta de meu pai, ser despro-
vido de qualquer lirismo, de uma exempla-
ridade incapaz, acolchoado no medíocre, 
sempre nos faltara aquele aproveitamen-
to da vida, aquele gosto pelas felicidades 
materiais, um vinho bom, uma estação de 
águas, aquisição de geladeira, coisas as-
sim”). No poema de Drummond, o papel 
feminino, representado pela figura sem-
pre presente da mãe, aparece explicitada 
no final de todas as estrofes (“e a mulher 
que trata de tudo”).
2. B
 3.
a) À passagem da morte do pai de Frederico. 
b) A amizade entre os dois surge e se fortale-
ce diante da necessidade de consolo gera-
da pelas mortes.
 4.
a) Há repetições que inicia três orações pelo 
verbo TER, conhecidas por ANÁFORA. Ou 
elementos finais como SÓ, que marca a 
EPÍSTROFE.
b) O personagem “35” tem a esperança de 
que no Dia do Trabalho haja uma confra-
ternização proletária; por outro lado, há 
o Estado Novo oprimindo qualquer movi-
mento, menos a que acontecia no Palácio 
das Indústrias.
5. 01 + 04 + 08 + 32 = 45 6. A 7. A
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