Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ED U C A Ç Ã O P R ES EN C IA L E A D IS TÂ N C IA : D ES A FI O S E R EF LE X Õ ES WELINGTON JUNIOR JORGE (Organizador) EDUCAÇÃO PRESENCIAL E A DISTÂNCIA: DESAFIOS E REFLEXÕES Maringá – Paraná 2020 2020 Uniedusul Editora Copyright da Uniedusul Editora Editor Chefe: Profº Me. Welington Junior Jorge Diagramação e Edição de Arte: André Oliveira Vaz Revisão: Os autores Conselho Editorial Adriana Mello Alexandre António Timbane Aline Rodrigues Alves Rocha Angelo Ferreira Monteiro Carlos Antonio dos Santos Cecilio Argolo Junior Cleverson Gonçalves dos Santos Delton Aparecido Felipe Fábio Oliveira Vaz Gilmara Belmiro da Silva Izaque Pereira de Souza José Antonio Kelly Jackelini Jorge Lucas Araujo Chagas Marcio Antonio Jorge da Silva Ricardo Jorge Silveira Gomes Sandra Cristiane Rigatto Thiago Coelho Silveira Wilton Flávio Camoleze Augusto Yohans De Oliveira Esteves O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores. Permitido fazer download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. www.uniedusul.com.br APRESENTAÇÃO O presente livro intitulado EDUCAÇÃO PRESENCIAL E A DISTÂNCIA: DESAFIOS E REFLEXÕES, surgiu através de pesquisa de vários profissionais da educação, que tinham como missão analisar os desafios da educação contemporânea, sendo ela na esfera presencial e a distância. Sabemos que refletir sobre educação é algo muito comple- xo, já que fatores sociais, políticos, econômicos e culturais estão pre- sentes, fazendo com que os olhares se tornam multifacetados, criando barreiras e ao mesmo tempo, possibilitando novos desafios. Dentre essas concepções que cercam a educação podemos nos deparar com os problemas e desafios que a educação do século XXI enfrenta, já que a medida que vamos adentrando ao novo milênio novas necessidades vão surgindo e com isso o papel da escola vai se tornando cada vez mais fundamental nas relações sociais. A escola do século XXI deve ser tratada de maneira diferente em relação ao século XX, o perfil do aluno, a tecnologia, toda estrutural organizacional se transformou. Desta forma, o sujeito detentor do conhecimento na sociedade da in- formação, já está ultrapassado todos os desafios que são estabelecidos, a geração atual está imersa a outro mundo e realidade, o professor não detêm a informação, pelo contrário, ela está a um clique, lápis e papel já não são ferramentas obrigatórias para se alfabetizar e isso faz com que a escola não corresponda aos anseios dos alunos. Partindo deste entendimento, o presente cenário não pode ser vivido com olhos do século passado, o momento histórico e a estrutura social tiveram transformações significativas. A sociedade não é algo es- tático, rígido ou algo fixo, pelo contrário, as coisas vão se moldando de acordo com as necessidades presentes no dia-a-dia e é necessário enten- der que as barreiras em todas as áreas foram rompidas com a ascensão da tecnologia de informação e comunicação e esse conceito também se reflete na escola, e isso precisa ser compreendido e problematizados por todos que trabalham diariamente por uma educação cada vez melhor. WELINGTON JUNIOR JORGE Licenciado em Ciências Sociais, Pedagogia e História. Mestre em Educação. Professor Universitário. SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ........................................................................................ 3 CAPÍTULO 1 ................................................................................................ 7 A EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA NO ENSINO A DISTÂNCIA: O CASO DE UMA UNIVERSIDADE PRIVADA PARANAENSE VIVIEN MARIANE MASSANEIRO KANIAK CAPÍTULO 2 .............................................................................................. 23 CONSIDERAÇÕES SOBRE A CIBERCULTURA E A APLICAÇÃO DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NOS PROCESSOS EDUCATIVOS MARCOS VINICIUS MENDONÇA ANDRADE CAPÍTULO 3 .............................................................................................. 53 DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR E A EJA GABRIEL CALEFE PEREIRA DA SILVA CAPÍTULO 4 .............................................................................................. 73 EDUCAÇÃO INTEGRAL NO BRASIL: UM HISTÓRICO DE FRA- CASSO?! ROSANGELA FORTUNATO PRIETO ELISABETH DOS SANTOS TAVARES MICHEL DA COSTA CAPÍTULO 5 .............................................................................................. 87 EDUCAÇÃO ONLINE COLABORATIVA: A MEDIAÇÃO COMO MECANISMO DE DIALOGICIDADE BRUNO JOSÉ BETTI GALASSO CAPÍTULO 6 ............................................................................................ 103 REFLEXÕES SOBRE O USO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA DA REDE PÚ- BLICA DE ENSINO RACKEL PERALVA MENEZES VASCONCELLOS CRISTIANA BARCELOS DA SILVA CARLOS HENRIQUE MEDEIROS DE SOUZA POLIANA CAMPOS CÔRTES LUNA PRISCILA CRISTINA DA SILVA MACIEL CAPÍTULO 7 ............................................................................................ 117 (RE)PENSANDO NOVAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS FRENTE ÀS TRANSFORMAÇÕES SOB O OLHAR DO DISCENTE DIANA RAQUEL SCHNEIDER GOTTSCHALCK DANIELA TAVARES CAPÍTULO 8 ............................................................................................ 137 UM ESPAÇO-TEMPO INTERDISCIPLINAR VIRTUAL: EXPAN- DINDO O UNIVERSO DA APRENDIZAGEM EM GEOCIÊNCIAS VLANDER VERDADE SIGNORETTI LUIS ANTONIO TAVARES GABRIELA BELINATO 7 CAPÍTULO 1 A EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA NO ENSINO A DISTÂNCIA: O CASO DE UMA UNIVERSIDADE PRIVADA PARANAENSE VIVIEN MARIANE MASSANEIRO KANIAK RESUMO: O crescimento de cursos ofertados na modalidade a distân- cia tem sido expressivo nos últimos anos. Destaca-se que esse formato de ensino possibilita aos alunos o estudo de forma autônoma e no seu ritmo, além de propiciar maior alcance de pessoas superando limitações geográficas ou temporais. Já a educação empreendedora também vem crescendo no Brasil, o que aumenta a importância da busca de mo- delos de ensino inovadores, que permitam transcender conhecimentos estritamente teóricos e preparem os alunos para o ambiente real dos negócios. Assim, esta pesquisa teve o objetivo de identificar como o empreendedorismo vem sendo ensinado na educação a distância e quais possíveis estratégias os professores-tutores têm utilizado para superar um modelo excessivamente teórico de ensino. Por meio de uma meto- dologia qualitativa e utilizando-se a estratégia de pesquisa de estudo de caso, foi encontrado como resultado que na instituição de ensino pesquisada a disciplina de empreendedorismo é conduzida com base numa estrutura própria e padronizada. Os professores-tutores a fim de transcender o modelo excessivamente teórico utilizam-se de estratégias de ensino baseadas em vídeos, casos reais e fóruns de discussão para aproximar teoria e prática. O estudo contribui para a área de educação empreendedora ao propiciar o debate sobre o tema e apresentar um caso empírico de um curso de educação a distância que oferta a disciplina de empreendedorismo. 1. INTRODUÇÃO No contexto educacional atual, marcado pela transição para era do conhecimento e da informação, surge com destaque a Educação a 8 Distância (EAD) que permite a transmissão e a troca de conhecimentos entre professores-tutores e alunos de forma mais autônoma e respeitan- do os diferentes ritmos de aprendizagem. Além disso a EAD permite a redução de distâncias e a atenuação de isolamentos econômicos e cul- turais de modo a possibilitar um acesso mais democrático a educação (MARTINS et al., 2002). Por esta razão o ensino a distância no Brasil tem tido um papel preponderante no avanço do ensino superior, princi- palmente privado, no que diz respeito ao aumento do número de alunos e acessibilidade de custos (GOMES, 2013). No que se refere ao ensino do empreendedorismo nas univer-sidades brasileiras observa-se que, esse também se disseminou rapi- damente desde a década de 80, data em que a FGV e a USP criaram as primeiras disciplinas presenciais dedicadas ao tema (SILVA; MAN- CEBO; MARIANO, 2017; FILHO; RADOS; BASTOS, 2007). Mais tarde, após a regulamentação para a educação a distância no Brasil por meio do Decreto n° 5.622/2005 é que houve uma expansão de cursos na modalidade online (GOMES, 2013). Desde então, o ensino do empreendedorismo tem sido visto na literatura como problemático no âmbito da educação a distância, uma vez que, pesquisas apontam para maior eficácia de uma abordagem pe- dagógica prática em sua execução (FAYOLLE, 2010; RUSKO, 2017). Entretanto, em muitos cursos a distância de nível superior predominam ainda as formas tradicionais de ensino (SILVA, R. A.; GARCIA; AMA- RAL, 2016) baseadas na teoria e carentes de inovações metodológicas. Dentro deste contexto emerge a pergunta de base para este estu- do: Como o empreendedorismo, disciplina de abordagem essencial- mente prática, vem sendo ensinado na educação a distância e que estratégias os professores-tutores têm desenvolvido para superar o modelo pedagógico clássico baseado na teoria? As contribuições teóricas deste estudo estão relacionadas ao fa- vorecimento de um debate sobre a educação empreendedora em uma 9 área que possui lacunas em termos de estudos empíricos voltados prin- cipalmente para os cursos de educação a distância. As contribuições práticas se voltam às instituições de educação superior que possuem a disciplina no formato EAD, para que possam repensar seus modelos a fim de alcançar melhorias e maiores resultados. Em relação aos profes- sores-tutores, este estudo oferece direcionamentos e estratégias práticas para a superação do modelo tradicional que dá muita ênfase a teoria e pouca ênfase a prática do empreendedorismo. O estudo será apresentado da seguinte maneira: primeiro será apresentada a revisão de literatura sobre o tema, a seguir a metodologia utilizada para a pesquisa, seguida da análise e discussão de dados e por fim serão apresentadas as considerações finais. 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1 A Educação Empreendedora nas Universidades A definição do termo educação empreendedora na literatura ain- da não alcançou consenso entre os pesquisadores (HENRY; LEWIS, 2018; JONES; ENGLISH, 2004; LAURIKAINEN et al., 2018). Alguns autores se referem tanto à educação empreendedora quanto à educa- ção empresarial e frequentemente os termos tendem a ser usados de forma intercambiável. De toda a forma, existe entendimento geral de que o termo se refere ao desenvolvimento de habilidades gerais cria- tivas e empreendedoras, para melhorar a empregabilidade dos alunos ou começar um negócio próprio (HENRY; LEWIS, 2018). É a partir deste conceito que o presente estudo estará pautado, pois, entende-se que, ainda que no futuro o estudante não siga carreira empreendedora, a educação empreendedora é de suma importância para desenvolver competências como senso de auto eficácia, comunicação, habilidades de negociação e persuasão e planejamento de negócios (LIMA et al., 10 2015; NISTOREANU; GHEORGHE, 2014; ULVENBLAD; BERG- GREN; WINBORG, 2013). O interesse na implantação do ensino de empreendedorismo nas universidades pode ser evidenciado pelo número crescente de módu- los de empreendedorismo na educação superior nas últimas décadas, bem como no crescente número de publicações sobre o tema (HENRY; LEWIS, 2018). Para Jones e English (2004), a educação empreendedo- ra enfatiza a imaginação, a criatividade e a tomada de riscos ao promo- ver o aluno com a habilidade de reconhecer oportunidades de negócio. Para Bechard e Toulouse (1998) a educação empreendedora consiste em um modo de ensino formal, que informa, treina e educa qualquer pessoa interessada em criação de negócios. Em relação ao conteúdo a ser ensinado, os autores apresentam variados enfoques. Kourilsky (1995) foi um dos pioneiros, ao propor que o currículo empreendedor fosse estruturado em três fatores: reco- nhecimento de oportunidades de negócios, comprometimento com re- cursos e criação e organização de um negócio. Entretanto autores mais recentes postulam que a educação para o empreendedorismo deve ser vista de forma mais abrangente, incluindo conhecimentos de economia, política, sociedade, bem como competências como proatividade e to- mada de riscos (LAURIKAINEN et al., 2018). No que tange ao contexto brasileiro, Lima et al. (2015) demons- traram que a maioria dos estudantes no país se sente motivada a fre- quentar cursos e atividades de empreendedorismo ainda que em detri- mento dos baixos investimentos para formação de professores na área. 2.2 O Ensino do Empreendedorismo a Distância O número de alunos interessados em educação online vem au- mentando em função da possibilidade de eliminação de barreiras como tempo e lugar, o que faz com que os cursos superiores EAD se tornem 11 cada vez mais estratégicos em instituições de ensino superior (BUR- NETTE, 2015). De acordo com Markovic et al. (2017) a introdução do ambiente virtual na educação superior traz mudanças positivas na experiência de aprendizado especialmente na área do empreendedoris- mo já que aumenta as competências dos indivíduos e fortalece a cultura empreendedora em escala mais ampla. O próprio ambiente de negócios, que se mostra mais dinâmi- co a cada dia, exige maiores conhecimentos por parte dos estudantes que se tornarão futuros administradores e ou indivíduos de negócios, implicando em aprimoramento e evolução do processo educacional (AL-ATABI; DEBOER, 2014; VOLKMANN; AUDRETSCH, 2017). Gomes-Filho; Rados e Bastos (2007) apontam ainda para o risco da obsolescência das práticas educacionais de ensino tradicionais frente a velocidade do desenvolvimento tecnológico das últimas décadas. De acordo com o autor o grande desafio das instituições de ensino é o de se adaptar e transformar sua prática docente a tempo de responder adequa- damente à tecnologia de seu tempo. No que tange a disciplina de empreendedorismo, os desafios en- volvem uma quebra de paradigmas didáticos, já que a disciplina aborda as questões do saber frente a atributos do ser, isto é, envolve elementos como atitudes, comportamentos e motivações (MARTINS et al., 2002). Para autores como West; Gatewood e Shaver (2009), para que haja de fato a aprendizagem empreendedora, é preciso inovação no modelo de aula, de modo a incentivar o aluno a pensar em soluções de problemas de forma criativa. Isso pode levá-los a gerir sua própria carreira de for- ma empreendedora. Por esta razão é de suma importância pesquisar como disciplinas baseadas na prática, como o empreendedorismo, vem sendo ensinadas na educação a distância e quais estratégias os profes- sores-tutores têm desenvolvido para superar o modelo pedagógico clás- sico baseado apenas na teoria (RUSKO, 2017). 12 3. METODOLOGIA Levando em consideração a problemática deste trabalho, a abor- dagem utilizada foi a pesquisa qualitativa, por meio da estratégia de estudo de caso. Stake (2010) caracteriza a abordagem qualitativa en- quanto interpretativa, baseada na experiência, configurando como situ- acional e personalista, e, por essa razão, nesta abordagem existe o re- conhecimento de que os significados são subjetivos e capazes de serem observados através de divergentes visões. Ainda, Miles, Huberman e Saldaña (2014) argumentam que os dados qualitativos podem ser capa- zes de relevar a complexidade, à medida que permite o pesquisador en- fatizar as experiências vividas pelas pessoas. A estratégia de estudo de caso foi selecionada pois permite responder a perguntas do tipo “como” ou “ por que” além de ser adequada quando o pesquisador vai a campo analisar um contexto da vida real (YIN, 2009). Considerando que o objetivo do artigo que é compreender como o empreendedorismo vem sendo ensinado na educação a distância e que estratégias os professores-tutores têm desenvolvidopara superar o mo- delo pedagógico clássico baseado na teoria, foi escolhida para a coleta de dados professores de uma instituição de ensino privada em Curiti- ba-PR. Os professores-tutores atuam no ensino à distância e já foram responsáveis pela disciplina de empreendedorismo na EAD. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas. Foram realizadas cinco entrevistas com duração média de 15 a 20 minutos. No que diz respeito ao perfil dos professores-tutores, quatro são bacharéis em administração, e um deles apresenta graduação em comunicação so- cial. Quatro possuem mestrado em Administração e um é mestrando na área. Foram entrevistados três professores-tutores do gênero masculino e duas professoras-tutoras do gênero feminino. Para a análise de dados, foi realizada a análise de conteúdo que, que segundo Saldaña (2011), é pautada na revisão sistemática de textos, 13 imagens ou vídeos. Na análise, o pesquisador interpretativamente rea- liza um esforço para visualizar os significados e conteúdos presente ou latente do que foi coletado. Além disso, a análise de conteúdo foi reali- zada a partir do método de codificação holístico (Holistic Coding), pro- posto por Saldaña (2016, p.166). O autor argumenta que a codificação holística se figura na tentativa de “compreender os temas ou questões básicas nos dados, absorvendo-os como um todo ao invés de analisa-los linha por linha”. Em outras palavras a codificação holística direciona-se a análise de conteúdo temática, sendo que esse tipo de análise é adequa- do para quando os pesquisadores já possuem uma ideia geral a respeito do que deve ser investigado nos dados (Saldaña, 2016). 4. ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÃO Considerando a problemática de pesquisa, foram observados al- guns pontos essenciais para análise, os quais se relacionam à estrutura do curso em EAD, divergências percebidas pelos professores-tutores em relação ao ensino do empreendedorismo presencial e via EAD, a atuação dos docentes na disciplina de empreendedorismo e como esses procuram ir para além do aspecto teórico circunscrito à disciplina. Nesse contexto, os resultados demonstram que a EAD geral- mente apresenta estruturação própria, definida institucionalmente pela IES, e por essa razão, a atuação do professor-tutor no ensino à distân- cia costuma ficar condicionada ao sistema e estruturação previamente definida. Entretanto autores defendem que a educação empreendedora possui componentes estáticos e também dinâmicos de modo que a flexi- bilidade da universidade é primordial para o sucesso do ensino empre- endedor (TODOROVIC, 2004; VOLKMANN; AUDRETSCH, 2017). Desta forma a estrutura do curso da universidade estudada torna a atu- ação do professor-tutor de certa maneira limitada. 14 Na referida instituição de ensino é utilizada a plataforma Bla- ckboard e dispõem-se de recursos de aprendizagem baseado na leitura de livros online, de mapas mentais de cada capítulo da apostila, expli- cações em vídeo curtas (no máximo cinco minutos) e exercícios abertos ou de múltipla escolha. Além disso são cobradas a entrega de trabalhos e participação em fóruns de discussão. Portanto, a estrutura pré-definida do ambiente online e dos ma- teriais que compõem a disciplina inflexibiliza até um certo ponto a atua- ção do professor-tutor. Nesse sentido, o docente não tem a possibilidade de escolher os exercícios avaliativos, por exemplo, o que poderia possi- bilitar que conteúdos mais práticos de empreendedorismo fossem traba- lhados. Esse fato pode ser evidenciado através da fala da entrevistada 3: “A gente não consegue trazer muito uma prática né, den- tro dessa estrutura, por exemplo o fórum é uma discussão em relação a um tema, que é tirado do material que ele estudou durante aquela semana de aula...mas não pede por exemplo, pro aluno criar um plano de marketing, não tem isso, essa prática de construção não existe”. (E3). A atuação do professor-tutor na disciplina de empreendedoris- mo da universidade estudada é baseada na construção e envio de avisos, contextualizando conteúdos presentes nos materiais da disciplina. Além disso é ele que responde e esclarece as dúvidas dos alunos, faz corre- ções nas atividades de entrega e media fóruns de discussão e envia ma- teriais complementares. Neste âmbito, constatou-se que outro ponto de dificuldade para os professores-tutores é a falta de tempo hábil para que eles possam repensar aspectos da disciplina e propor mudanças. Em relação a comparação do ensino de empreendedorismo EAD com o ensino presencial, os professores-tutores entrevistados demons- traram divergências quanto as percepções. Alguns enfatizaram que no presencial existe a importante proximidade entre professor e aluno e a possibilidade de trabalho em grupo, enquanto o trabalho em grupo é 15 inexistente no curso a distância pesquisado. Por outro lado, os entrevis- tados destacaram que, no ensino a distância, o aluno é mais privilegiado em termos de quantidade de materiais para leitura e consequentemente existe maior aprofundamento dos conteúdos teóricos da disciplina. Essa visão foi apontada por alguns entrevistados: “No presencial, como o professor já tem experiência e conhece o assunto, na ânsia de querer facilitar ele acaba levando muito mastigado para o aluno. No EAD o aluno tem que ter uma quantidade de leitura maior, o que aca- ba sofrendo um pouco mais, então ele vai se aprofundar muito mais na temática ele vai ter materiais complemen- tares, ele vai ser responsável pelo estudo dele. Não estou falando que isso é bom ou ruim, mas na prática isso acaba acontecendo”. (E1). “No presencial você tem a relação interpessoal entre os alunos, e alunos e professores, permitindo explanação de ideias, trabalho em grupo, habilidade de negociação, o que no EAD não tem”. (E3). A fala do entrevistado 1 apresenta uma questão que caracteri- za bem o ensino à distância quando diz: “ele vai ser responsável pelo estudo dele”. A modalidade EAD requer maior engajamento do aluno, sendo necessário a adoção de uma postura autodidata, tornando o aluno capaz de gerir seu aprendizado e respeitar seu ritmo e estilo de aprendi- zagem (MARTINS et al., 2002). Entretanto para que esse conhecimen- to se consolide é necessário que os professores-tutores se preocupem em trazer a prática circunscrita para a disciplina. Essa preocupação fica evidente na fala do entrevistado 3 que destaca a inexistência de traba- lhos em grupo e dinâmicas entre alunos e professores. Desta forma, observa-se que ensinar empreendedorismo através da experiência, con- forme sugerem alguns autores (KOLB, 1984; KRAKAUER; SERRA; ALMEIDA, 2017) não vem se efetivando no caso estudado. 16 Em relação a ligação entre o que é estudado no curso e a realida- de do mercado, os professores-tutores entrevistados também manifesta- ram suas preocupações: “O que é que dá bastante trabalho, o grande desafio dos tutores, é que o aluno consiga levar aquilo ali para a prá- tica”. (E2). “Na estrutura pronta a atividade prática não é promovi- da, ele vai entender o aspecto conceitual. O prático vai depender do tutor de pensar em oferecer a possibilidade para o aluno, se ele tem a possibilidade de empreender, como dicas, ferramentas, por meio de materiais comple- mentares”. (E4). Ficou clara a inquietação dos entrevistados de que, o aluno, uma vez inserido no mercado de trabalho, possa fazer a ponte entre os conte- údos estudados e a prática real laboral. Para o entrevistado 4 a estrutura pré-definida do curso dificulta o trabalho dos docentes, no sentido da promoção de atividades que façam a ligação entre o teórico e o prático. Quando questionados sobre suas estratégias para superar tal di- ficuldade os entrevistados descrevem as seguintes: 1) Atividades de fórum - onde são promovidas discussões, nas quais os alunos respondem a atividade e interagem com os colegas. A sugestão é motivar os alunos a trazerem exem- plos de empreendedores reais (que tiveramsucesso ou até mesmo insucesso) em suas áreas de atuação a fim de fomen- tar as discussões baseadas em casos reais. 2) A publicação de materiais complementares pelo professor- -tutor como artigos, estudos de caso e vídeos que retratam o atual quadro do mercado brasileiro, procurando mostrar oportunidades ainda não exploradas. 3) Criação de aula virtual interativa em que o professor-tutor possa interagir em tempo real com os estudantes mediando uma conversa com um empreendedor. 17 4) Disponibilizar aos alunos entrevistas gravadas com empre- endedores. 5) Demais formas de divulgação de histórias reais de empre- endedores apontando suas facilidades e dificuldades para empreender. As seguintes falas exemplificam como os professores-tutores entrevistados têm lidado com esse desafio: “O professor-tutor precisa trazer os aspectos mais práti- cos, trazendo reportagens, estudos de caso, que é o que é possível trabalhar com os alunos”. (E3). “Eu implementei algumas medidas, para alguns cursos, para gerar discussões com os alunos, fui atrás de empre- endedores na área de estética, montei um material, fil- mei eles comentando sobre os desafios naquele ramo, e vários takes relacionados ao conteúdo. E criei fórum de discussão não avaliativos, perguntando o que eles pensa- vam sobre aquilo, para instigar o aluno a pensar sobre as dificuldades práticas”. (E5). Observa-se na fala do entrevistado 5 a preocupação em não vin- cular as discussões sobre a reflexão da prática de empreendedores reais com as avaliações formais do curso. A atitude do professor-tutor vem de encontro ao proposto por autores como Jones e English (2004) e Krakauer, Serra e Almeida (2017) que acreditam que estimular a ima- ginação e criatividade dos alunos, fazendo com que se sintam confortá- veis no curso, facilita a transferência de informação. Todorovic (2004) também vai nesse sentido quando postula que a exposição ao ambiente real empreendedor provê uma melhor preparação de base para futuros empreendedores capacitando-os para funções efetivas. 18 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados do presente estudo evidenciam os desafios rela- cionados a formação de futuros empreendedores para um mercado de trabalho que se mostra cada vez mais dinâmico e competitivo. Os cur- sos em formato EAD, ao mesmo tempo que possibilitam revigorar a cultura empreendedora no ensino superior e alcançar maiores números de alunos em regiões geográficas diversas, apresentam inúmeros desa- fios ligados à transcendência das práticas educacionais tradicionais para práticas mais efetivas e alinhadas com a realidade de nosso tempo. O objetivo desta pesquisa foi alcançado, uma vez que foi de- monstrado através de dados empíricos como os professores-tutores vem trabalhando a disciplina de empreendedorismo EAD e quais as estraté- gias que utilizam para superar as dificuldades inerentes ao modelo tra- dicional baseado na teoria. Observou-se que o maior obstáculo enfren- tado é a constituição de uma estrutura estática de curso, que privilegia a teoria e dificulta ao professor-tutor a inserção de conteúdos e atividades voltadas para a realidade prática do mercado. A fim de superar essa barreira os professores-tutores utilizam-se de estratégias diversas que buscam conectar o aluno com o universo de empreendedores reais a fim de fomentar neles atitudes e comportamentos empreendedores. As limitações deste estudo estão relacionadas ao fato de ter se ba- seado em uma única instituição de ensino superior, que de modo algum permite generalizações em relação a realidade do panorama dos cursos de empreendedorismo oferecidos no formato EAD do país. Sugere-se que futuros estudos façam um levantamento com um maior número de instituições de ensino e professores-tutores, a fim de compreender os desafios apresentados bem como a efetividade destes programas para a prática empreendedora futura dos alunos. 19 REFERÊNCIAS AL-ATABI, M.; DEBOER, J. Teaching entrepreneurship using Massive Open Online Course (MOOC). Technovation, v. 34, n. 4, p. 261–264, 1 abr. 2014. Disponível em: <https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/ S0166497214000078>. Acesso em: 2 maio 2019. BECHARD, J. P.; TOULOUSE, J. M. Validation of a didactic model for the analysis of training objectives in entrepreneurship. Journal of Business Ven- turing, v. 13, n. 4, p. 317–32, 1998. BURNETTE, D. M. Negotiating the Mine Field - Strategies for Effective On- line Education Administrative Leadership in Higher Education Institutions. The Quarterly Review of Distance Education, v. 16, n. 3, p. 13–25, 2015. FAYOLLE, A. Handbook of Research in Entrepreneurship Education - vol- ume 3. [S.l.]: Edward Elgar, 2010. v. 3. GIBB, A. A. Enterprise culture – its meaning and implications for education and training. Journal of European Industrial Training, v. 11, n. 2, p. 3–39, 1987. GOMES- FILHO, A. C.; RADOS, G. J.; BASTOS, R. C. Tecnologias De In- formação E Comunicação No Apoio Ao Ensino De Empreendedorismo E Pro- jetos. Revista Gestão Industrial, v. 3, n. 4, p. 51–68, 2007. GOMES, L. F. EAD no Brasil: perspectivas e desafios. Avaliação, v. 18, n. 1, p. 13–22, 2013. HENRY, C.; LEWIS, K. A review of entrepreneurship education research. Education + Training, v. 60, n. 3, p. 263–286, 12 mar. 2018. Disponível em: <http://www.emeraldinsight.com/doi/10.1108/ET-12-2017-0189>. Acesso em: 21 out. 2018. JONES, C.; ENGLISH, J. A contemporary approach to entrepreneurship edu- cation. Education + Training, v. 46, n. May, p. 416–423, 2004. KOLB, D. A. Experiential learning: experience as the source of learning and development. New Jersey: Prentice Hall, 1984. KOURILSKY, M. L. Entrepreneurship Education: Opportunity in Search of Curriculum, Center for Entrepreneurial Leadership. Kansas City: Ewing Marion Kauffman Foundation, 1995. 20 KRAKAUER, P. V. C.; SERRA, F. A. R.; ALMEIDA, M. I. R. Using expe- riential learning to teach entrepreneurship: a study with Brazilian undergrad- uate students. International Journal of Educational Management, v. 15, p. 18–31, 2017. LAURIKAINEN, M. et al. Entrepreneurship Education: what can we learn from the Brazilian and the Finnish examples? Revista Ibero-Americana de Es- tudos em Educação, v. 13, n. esp1, p. 337–358, 30 abr. 2018. Disponível em: <https://periodicos.fclar.unesp.br/iberoamericana/article/view/11414/7282>. Acesso em: 21 out. 2018. LIMA, E. et al. Opportunities to Improve Entrepreneurship Education: Con- tributions Considering Brazilian Challenges. Journal of Small Business Man- agement, v. 53, n. 4, p. 1033–1051, 2015. MARKOVIC, M. R. et al. E-Learning as a Tool for Empowering Entrepre- neurship. Journal of Women’s Entrepreneurship and Education, v. 13, n. 3–4, p. 65–72, 2017. MARTINS, A. A. M. M. et al. Um Enfoque Empreendedor Para a Educação a Distância: Led / Ufsc Um Enfoque Empreendedor Para a Educação a Distân- cia : Led / Ufsc. Revista Produção Online, v. 2, n. 1, p. 2–15, 2002. NISTOREANU, B. G.; GHEORGHE, G. The perception of the academics and students regarding the entrepreneurial education in economic education. Amfi- teatru Economic, v. 16, n. 37, p. 811–826, 2014. Disponível em: <http://www. amfiteatrueconomic.ro/temp/Article_1316.pdf>. Acesso em: 15 maio 2018. RUSKO, R. Interactive Online Learning: Solution to Learn Entrepreneurship in Sparsely Populated Areas? International Journal of Online Pedagogy and Course Design, p. 1–16, 2017. SILVA, F. C.; MANCEBO, R. C.; MARIANO, S. R. H. Educação Empreen- dedora como Método: O Caso do Minor em Empreendedorismo Inovação da UFF. Revista de Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas, v. 6, n. 1, p. 196–216, 2017. SILVA, R. A.; GARCIA, A. O.; AMARAL, S. F. Metodologia Híbrida como alternativa à metodologia educacional tradicional. ARTEFACTUM - Revista de estudos em Linguagens e Tecnologia, v. 13, n. 2, 2 set. 2016. Disponí- vel em: <http://www.artefactum.rafrom.com.br/index.php/artefactum/article/ view/1123>. Acesso em: 3 maio2019. 21 TODOROVIC, Z. W. The Framework of Static and Dynamic Components: An Examination of Entrepreneurial Orientation and University Ability to Teach Entrepreneurship. Alain Fayolle (Org): Handbook of research in entrepre- neurship education. A general perspective. [S.l: s.n.], 2004. v. 1. p. 127–138. ULVENBLAD, P.; BERGGREN, E.; WINBORG, J. The role of entrepre- neurship education and start‐up experience for handling communication and liability of newness. International Journal of Entrepreneurial Behavior & Re- search, v. 19, n. 2, p. 187–209, 10 mar. 2013. Disponível em: <http://www. emeraldinsight.com/doi/10.1108/13552551311310374>. Acesso em: 15 maio 2018. VOLKMANN, C. K.; AUDRETSCH, D. B. Entrepreneurship Education at Universities. [S.l: s.n.], 2017. v. 37. Disponível em: <http://link.springer. com/10.1007/978-3-319-55547-8>. WEST, G. P.; GATEWOOD, E.; SHAVER, K. Handbook of University-wide Entrepreneurship Education. Northampton, USA: Edward Elgar Publishing Limited, 2009. YIN, R. K. Case Study Research: Design and Methods. Thousand Oaks, Ca- lifornia: Sage, 2009. “O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoa- mento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financia- mento 001 23 CAPÍTULO 2 CONSIDERAÇÕES SOBRE A CIBERCULTURA E A APLICAÇÃO DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NOS PROCESSOS EDUCATIVOS MARCOS VINICIUS MENDONÇA ANDRADE Universidade Federal Fluminense http://lattes.cnpq.br/0735082959494528 RESUMO: Aborda, a partir de pesquisa bibliográfica, o contexto his- tórico sobre a aplicação das tecnologias da informação e comunicação nos processos educativos, enfatizando a evolução das plataformas web a partir dos trabalhos de Okada (2011, 2013); Anderson (2007, 2011); García Canclini (2003). Evidencia os principais conceitos atrelados ao contexto da cibercultura a partir dos estudos de Castells (1999; 2013), Levy (1999; 2000; 2010) e Lemos (2003; 2010). Pretende-se ainda de- monstrar a evolução das plataformas Web como elemento para con- solidação da Cibercultura. Contextualiza os pilares do movimento da Educação Aberta até o advento dos Cursos Online Abertos e Massi- vos (MOOC) destacando os estudos de Butcher (2012), Yuan; Powell (2013); Bastos; Biagiotti (2014); Anderson(2013), dentre outros. PALAVRAS-CHAVE: Cibercultura; Plataformas Web; Educação Aberta; MOOC, Cursos Online Abertos e Massivos ABSTRACT: This chapter is about bibliographic research that aims to demonstrate the historical context on the application of information and communication technologies in educational processes, emphasizing the evolution of web platforms based on the works of Okada (2011, 2013); Anderson (2007, 2011); García Canclini (2003). It highlights the main concepts linked to the context of cyberculture from the studies of Castells (1999; 2013), Levy (1999; 2000; 2010) and Lemos (2003; 2010). It is also intended to demonstrate the evolution of Web platfor- ms as an element for consolidating Cyberculture. Contextualizes the pillars of the Open Education movement until the advent of Massive and Open Online Courses (MOOC) highlighting the studies by But- 24 cher (2012), Yuan; Powell (2013); Bastos; Biagiotti (2014); Anderson (2013), among others. KEYWORDS: Cyberculture; Web platforms; Open Education; MOOC; Massive Open Online Course 1. INTRODUÇÃO As Tecnologias da Informação e Comunicação revestem-se de importância em função da influência em praticamente todos os contex- tos das atividades cotidianas, desde formas e práticas de organização social até o modo de compreender o mundo, de organizar essa compre- ensão e de transmiti-la para outras pessoas. A rápida aceitação e capi- larização social destas tecnologias marcam a expansão e consolidação da Cibercultura. Este capítulo é parte integrante da Tese de Doutorado intitulada Aplicação dos Cursos Online Abertos e Massivos – MOOC – em pro- cessos de formação continuada para docentes de cursos de Licenciatu- ra em Matemática1 e pretende destacar, a partir da pesquisa bibliográfi- ca, os principais conceitos atrelados ao contexto da cibercultura a partir dos estudos de Castells (1999; 2013), Levy (1999; 2000; 2010) e Lemos (2003; 2010). Pretende-se ainda demonstrar a evolução das plataformas Web como elemento para consolidação da Cibercultura. Os pilares do movimento da Educação Aberta até a caracterização dos Cursos Online Abertos e Massivos (MOOC) são demonstrados a partir dos trabalhos de Butcher (2012), Yuan; Powell (2013); Bastos; Biagiotti (2014), den- tre outros. 1 ANDRADE, Marcos Vinícius Mendonça. Aplicação dos Cursos Online Abertos e Massivos – MOOC – em processos de formação continuada para do- centes de cursos de Licenciatura em Matemática. 2018. 211 f. Tese (Doutorado em Ensino de Ciências e Matemática) - Universidade Cruzeiro do Sul, São Paulo, 2018. 25 Para Castells o período em 1950 e 1960 marcou o início da cha- mada “Era da Informação” em larga escala. Várias iniciativas de cará- ter acadêmico e militar fomentaram o desenvolvimento de tecnologias digitais e das redes de computadores. O termo sociedade da informação passa a ser utilizado para definir “uma revolução, uma forma específica de organização social em que a geração, o processamento e a transmis- são da informação tornam-se as fontes fundamentais de produtividade e poder” (1999, p. 65). O autor considera que nos fundamentos da eco- nomia dessa sociedade, as atividades produtivas, o consumo e a circu- lação de bens e serviços passam a se organizar em escala global através da interação que ocorre entre as diversas redes. As tecnologias da in- formação, neste contexto, têm função preponderante para agir sobre a informação, a fim de promover o seu processamento, transformação e difusão. Essa revolução tem como paradigmas: • a penetrabilidade - as novas tecnologias passam a permear nas todas as atividades humanas e são diretamente influen- ciadas por elas; • a flexibilidade – novas combinações, novos arranjos nos processos, nas instituições e relações do cotidiano podem ser modificadas ou reorganizadas, e • a convergência – as tecnologias específicas passam a ser pen- sadas e integradas num só sistema. A lógica de redes pode ser aplicada em qualquer sistema ou conjunto de relações. Castells (2013) ainda demonstra que: [...] as tecnologias da informação não são simplesmente ferramentas a serem aplicadas, mas processos a serem desenvolvidos. Usuários e criadores podem tornar-se a mesma coisa. Dessa forma, os usuários podem assumir o controle da tecnologia, como no caso da Internet. (p. 51) Nesse sentido, denomina “sociedade em rede” que se traduz como um novo momento no qual a base das relações da sociedade mo- 26 derna se estabelece através da informação e da sua capacidade de pro- cessamento e de geração de conhecimentos. As redes unem indivíduos, ideias e recursos em torno de valores e interesses compartilhados. Muito embora, siga caminhos distintos de Castells, numa abor- dagem antropológica, Lévy em 1999 caracterizou a “cibercultura” como um conjunto de elementos que envolvem técnicas, práticas, atitudes, formas de pensamento e valores que foram arranjadas para o ciberespa- ço; que ora emergia a partir do crescimento da infraestrutura de redes e sua interconexão em caráter global. Neste espaço virtual tornam-se possíveis o acesso e o compartilhamento de recursos, os arquivos digi- tais de diversos tipos, comunicação em tempo real, efetuar transações de comércio eletrônico. Nessa perspectiva, Levy assume que o desenvolvimento tecno- lógico que é vivenciado pela sociedade atual não está restrito apenas ao uso de novos equipamentos, produtos e serviços. A cibercultura envol- ve mudança de comportamento, das relações interpessoais e do mundo do trabalho. Nos estudos de Lemos (2003, p 16) a gênese da cibercultura teria ocorrido na década de 1950 com o desenvolvimento dos conheci- mentos relacionados à Informática e Cibernética.A partir da década de 1970 com a popularização dos microcomputadores e das tecnologias subsequentes pode-se notar o avanço da cibercultura e mais nas décadas seguinte, percebe-se a consolidação da cultura digital. Tal fato atribuído à expansão das estruturas e interconexão de redes e o advento da web no final dos anos 1990. A cibercultura então passa a ser constituir em novas formas de comunicação, pelo surgimento de novos produtos e serviços. Lemos (op. cit) ressalta que [...]podemos entender a cibercultura como a forma so- ciocultural que emerge da relação simbiótica entre a sociedade, a cultura e as Tecnologias da Informação e Comunicação que surgiram com a convergência das te- 27 lecomunicações com a informática, sobretudo a partir de 1970 (p. 13). Lévy e Lemos (2010) destacam que a cibercultura evolui rapi- damente e se sustenta em três pilares básicos. O primeiro deles, a in- terconexão generalizada que se refere ao uso massivo dos dispositivos digitais conectados que aliada à convergência, conduz a uma nova per- cepção do tempo e espaço propiciando novas formas de comunicação e interação. O segundo pilar, as comunidades virtuais que se constituem em torno de interesses e afinidades comuns caracterizando em um pro- cesso de cooperação, troca e aprendizado, independente da localização geográfica e, a inteligência coletiva que se tem como foco não o con- sumo de informações ou produtos e serviços interativos, mas privilegia o processo de construção do conhecimento mais colaborativo, plural e aberto. Desde suas origens, percebe-se uma dinâmica de mudanças e transformação expressas pela virtualização2 acelerada das diversas organizações em todas as esferas da sociedade. Como consequência, pensar a educação nesse contexto, há que se considerar a compreensão e a construção conhecimento, dos novos modelos de suportes educa- cionais, uma vez que passamos por uma grande ruptura com processo ensino/aprendizagem em função das novas tecnologias. Na Educação, é particularmente relevante a compreensão so- bre a natureza das tecnologias digitais e seus potenciais, mas também sobre suas limitações. Por si só, estas tecnologias não são suficientes para produzir a mudanças educacionais significativas, ou para produzir 2 O conceito proposto para virtualização, segundo Levy perpassa a informati- zação pura e simples dos processos, muito embora o ciberespaço dependa da informa- tização e digitalização que, inclusive, agregam grande relevância nas transformações do mundo contemporâneo. Bonilla (2005) acrescenta que a virtualização constitui um movimento em que o conhecimento possa ser (re)construído, agregando sentido e significados que vão sendo elaborados e reelaborados constantemente. 28 conhecimento que conduza a aprendizagens significativas3. Nesse con- texto, é importante ressaltar que a apresentação do conteúdo mediado por recursos tecnológicos por si só não é o bastante para que ocorra o aprendizado. O foco mais apropriado deve estar relacionado ao desenvolvimento de estratégias pedagógicas inovadoras que favoreçam a formação de pessoas capacitadas a selecionar de forma crítica, as informações que serão relevantes para a construção dos seus saberes. 2. A INTERNET E A EVOLUÇÃO DAS PLATAFORMAS WEB Para Castells (2013): [...] a Internet é um meio multimodal de comunicação se diferenciando das mídias tradicionais ao estimular a inte- ratividade e a colaboração entre usuários [...] representa e agrega uma nova configuração social e comunicacional e, atualmente, é a principal mídia de comunicação e fonte de informação. (p. 16) Em sua primeira versão a internet foi definida como um grande repositório de informações. Um espaço de acesso e leitura de conteúdos estáticos, mediado por um software navegador (ou browser) que torna- vam esse acesso amigável. Esses conteúdos foram ligados por “hyper- links” potencializando a inter-relação entre vários textos e outras mídias permitindo que fossem acessados de maneira intuitiva pelos usuários, funcionando como uma plataforma para difusão de conteúdos. Uma característica relevante desta primeira fase da web é o fato como acontecia a interação com os conteúdos e com as informações 3 Aprendizagem significativa é um dos conceitos centrais da teoria de Ausu- bel (1982), sendo considerado um processo através do qual uma nova informação se relaciona de maneira não arbitrária e não literal a um aspecto relevante da estrutura cognitiva do aluno permite ampliar as suas concepções sobre seus conhecimentos pré- vios e que estes possam perceber que diversos saberes podem caminhar juntos, sendo assim, aplicáveis nos contextos que lhes for conveniente, facilitando a sua compreen- são de mundo e consequentemente a sua melhoria da qualidade de vida. 29 que eram selecionados, preparados e organizados pelas equipes técni- cas mantidas pelos provedores de acesso à rede. Em um segundo momento, batizado de “Web 2.0”, as possibili- dades de recursos e interação com os conteúdos, a facilidade da expres- são em múltiplos formatos estabelecidos e comunicação no ciberespa- ço, são funcionalidades expressando uma evolução sem precedentes na configuração do espaço virtual e também em suas formas de utilização. Acrescenta ainda O’Reilly (2007) ao demonstrar que a Web 2.0 [...] é a mudança da web como plataforma, e um entendi- mento das regras para obter sucesso nesta nova platafor- ma. Entre outras, a regra mais importante é desenvolver aplicativos que aproveitem os efeitos de rede para se tor- narem melhores quanto mais são usados pelas pessoas, aproveitando a inteligência coletiva4. O conceito Web 2.0 apresentado por Tim O’reilly descreve as mudanças que foram possibilitadas pelo uso de tecnologias digitais ba- seadas na internet. Entre essas, destacamos a interação, facilidade para a produção e disponibilização de conteúdo (individual e coletiva). O enfoque passa a ser o conteúdo e não mais no domínio de ferramentas e técnicas para a criação desse conteúdo. Além do acesso às informações, há a possibilidade de produção de pessoal e colaborativa de conteúdos. Okada (2011) complementa ao enfatizar que [...] fundamental é considerar a web2.0 como um grande espaço aberto de inteligência coletiva na qual usuários, sejam estes formadores, docentes ou discentes, são co- autores criativos, coaprendizes críticos e coprodutores colaboradores em suas redes sociais de ensino-aprendi- zagem. (p.3) 4 A respeito do conceito de Inteligência Coletiva, optou-se por Levy (2007) ao destacar que é uma inteligência distribuída em toda parte, incessantemente valori- zada, coordenada em tempo real, que resulta em uma mobilização efetiva das compe- tências. 30 Os serviços agregados à Web 2.0 permitem de forma contínua e coletiva interferir, produzir e estender diversos conteúdos, materiais recursos, dentre outros, incentivando o exercício da autoria e interven- ção dos usuários, denotando uma fusão entre produção e consumo de conteúdos, conforme ilustrado na figura a seguir. Figura 1 – Web 2.0: Recursos e ferramentas. Adaptado de Anderson (2007) Nesse sentido, evidencia-se um novo status dos indivíduos nas ações no ciberespaço, ampliando a definição para os tipos de aplicações e usabilidade5 introduzidas pela Web 2.0. No contexto da cibercultura, agrega-se o potencial, concentrando-se a virtualização e reconfiguração do conhecimento humano (a própria web é um exemplo desta reconfi- 5 Andrade; Vianna (2015) demonstram que a usabilidade de uma interface en- volve questionamentos que levem a entender porque e como as pessoas utilizam os computadores e demais recursos tecnológicos, qual o grau de dificuldade do acesso que possuem ou sua facilidade para isso, projetar produtos com base na linguagem do usuário, trabalhar com processos mentais humanos – processos cognitivos e preocu- pação em desenvolver produtos com tecnologias compatíveis e acessíveis com quem vai utilizá-los. 31 guração). Esta dinâmica confereplasticidade para a sistematização e produção de conhecimentos, por formas mais flexíveis de representação e construção de uma rede colaborativa. Ainda em relação à evolução das plataformas Web, a primeira geração –a web 1.0 – retratava um ambiente no qual a informação po- deria ser publicada de forma estática, acrescida de textos e imagens sem interação entre informação e usuários. A web 2.0 traz uma mudança de paradigma ao agregar a possibilidade de interação e colaboração entre usuários, organizações, provedores de produtos e serviço, fato que enri- queceu o conteúdo distribuído entre as partes integrantes da rede. E, dentro desse processo evolutivo, a web 3.0 agrega às ferra- mentas de colaboração presentes na versão anterior (wikis, blogs, re- des sociais dentre outras) o conceito de “web semântica”. Este conceito preconiza a estruturação do acesso à informação e potencializa a capa- cidade da web para entender e catalogar dados produzidos nesse con- texto. Qualquer formato de dados pode ser compartilhado e entendido por qualquer dispositivo ligado à rede. Figura 2 – Gerações Web –. Adaptado de Rudman; Bruwer (2016) 32 Como destacam Rudman; Bruwer (2016) a evolução da Web poderá agregar novas oportunidades e desafios que surgem a partir da integração e estruturação dos dados e serviços que aumentam as capa- cidades pré-existentes dos serviços disponíveis na Web, bem como a criação de novas funcionalidades. Tão importante quanto saber acessar e selecionar as diversas informações disponibilizadas na rede, colaboração e a socialização para a atualização e expansão dessa rede são prementes. Mobilizar os diver- sos repositórios digitais e ferramentas disponíveis, conforme ilustração abaixo, produzindo junto com os outros participantes dessa rede e com- partilhar seus saberes. Novas possibilidades de interação professor – aluno – conteúdo podem impactar diretamente no processo ensino-aprendizagem, alte- rando a compreensão de tempo e espaço que a sala de aula tradicional tem oferecido. Como exemplo, as variadas possibilidades tecnologias móveis podem agregar, conforme Higuchi (2011 apud ARAÚJO JR et al, 2012): [...]as possibilidades que as tecnologias móveis propor- cionam, como mobilidade (tempo/espaço/contexto), por- tabilidade, acesso às informações, flexibilidade, troca, entre outras, remete-nos a questionamentos, de como a sociedade se apropria desses novos recursos, por exem- plo, ou como isso afetará as relações sociopolíticas, eco- nômicas e, principalmente, a aprendizagem. Os disposi- tivos móveis provocam mudanças em inúmeros segmen- tos da sociedade. Inseridos no cotidiano social, mudam a maneira como as pessoas se comunicam, relacionam-se, trabalham, consomem e se divertem. Criam-se combinações, desde as mais comuns até as mais exó- ticas que vão sendo testadas no âmbito do cibercultura (aliás, um dos pilares é a convergência). Muitas delas acabam se misturando e, como afirma Garcia Canclini (2003), se constituindo em produtos “híbridos”. 33 Produtos estes que podem gerar novas práticas ou novos produtos cul- turais. Como García Canclini (2003) demonstra: [...] o conceito de hibridismo pode ser entendido como processo sociocultural no qual as estruturas ou práticas discretas, que antes existiam de forma separada, se com- binam para gerar novas estruturas, objetos e práticas. Es- ses processos, nem sempre planejados, são resultantes da criatividade individual ou coletiva na vida cotidiana, no intercâmbio econômico ou comunicacional ou tecnoló- gico (p. 48) Convém ressaltar que a polarização dos discursos contra ou a fa- vor da utilização das Tecnologias, seus recursos e aparatos nas Institui- ções de Ensino Superior não corresponde a questão fundamental neste projeto. O foco mais adequado são as discussões que conduzam para uma crítica capaz de demonstrar as possíveis apropriações pedagógicas por parte das IES e do Corpo Docente mais adequadas desses recursos e suas possíveis aplicações e combinações. Faz-se importante destacar o conceito de mídia-educação6, que, está ligado ao desenvolvimento do trabalho educativo pelo estudo e análise dos conteúdos presentes nos diferentes meios e suas lingua- gens, utilizando-os como ferramentas de apoio às atividades didáticas e produzindo conteúdo curricular, e com meios, tanto para sala de aula como, também, para o ensino a distância. Considerando ainda o proces- so de abertura que os diversos ambientes e recursos disponibilizados através da web podem conduzir a novas formas de aprendizagem, tanto formal quanto informal. 6 BÉVORT; BELLONI (2009) demonstram que mídia-educação é um campo relativamente novo, com dificuldades para se consolidar, entre as quais a mais impor- tante é, sem dúvida, sua pouca importância na formação inicial e continuada de pro- fissionais da educação. Estuda a integração destes dispositivos técnicos aos processos educacionais e comunicacionais. 34 3. A EDUCAÇÃO ABERTA Nesse cenário de expansão e consolidação dos recursos Web 2.0 agregados à que propiciam ambientes colaborativos e induzem maior autonomia no desenvolvimento de conteúdos, destaca-se o movimento da Educação Aberta, que se baseia em função da liberdade de acesso às ferramentas, serviços conteúdos que promovam oportunidades de aprendizado, criatividade e inovação. A Educação Aberta pode ser entendida e analisada sob várias perspectivas. Entretanto, Amiel (2012) enfatiza que este movimento tem como premissa: Fomentar (ou ter à disposição) por meio de práticas, recursos e ambientes abertos, variadas configura- ções de ensino e aprendizagem, mesmo quando es- sas aparentam redundância, reconhecendo a plurali- dade de contextos e as possibilidades educacionais para o aprendizado ao longo da vida [...] Embora “abertura” não é necessariamente dependente de desenvolvimentos tecnológicos, e antecede a popu- larização de dispositivos digitais, da internet e da web, mas pode ser fortalecida por novas mídias. (p. 18-19) Os princípios de abertura defendidos pelo Movimento englo- bam a eliminação de barreiras, como as listadas a seguir: • geográficas – a liberdade de estudar, independentemente da localização física; • ritmo de aprendizagem – a possibilidade aprender de for- ma compatível com o ritmo individual; • financeira – isenção de taxas, mensalidades e outros custos; • certificações prévias – a isenção de vestibulares, concursos exames e outra e da necessidade de apresentar qualificações 35 prévias, que poderiam constituir uma barreira de acesso à educação formal; • acessibilidade – a tecnológica propriamente dita, como acesso para portadores de alguma limitação física. Tal característica de abertura pode assegurar a livre circulação de informações e conteúdos disponibilizados na Internet, por exemplo, e fomentar a cultura de construção do conhecimento coletivamente. En- tretanto, importante destacar que esse movimento focado na “abertura” pode não ser uniforme como demonstra o trabalho de Silveira (2016) ao enfatizar que: [...] a Educação Aberta traz um desafio a ser enfrenta- do pela comunidade acadêmica em geral, pois algumas questões surgem sobre como alcançar os benefícios te- oricamente divulgados pela Educação Aberta, mantendo os princípios básicos de abertura. Mais especificamente, pode-se perguntar como desenvolver e manter recursos educacionais que estão “realmente” abertos, o que po- tencialmente pode ser apoiador de cursos que sejam real- mente abertos. (p. 210, tradução nossa) Além das características relativas à abertura, outros aspectos podem ser considerados no contexto da Educação Aberta. A esse res- peito, Santos (2012) acrescenta que práticas pedagógicas focadas no aluno, a utilização de materiais criados pela comunidade acadêmica, o acesso irrestrito aos repositórios científicos e a utilização de softwares livre, podem ser agregados à filosofia da Educação Aberta. Santos (op. cit.) destaca ainda que o termo educação abertaé utilizado comumente no contexto dos chamados Recursos Educacio- nais Abertos (REA), podendo agregar uma série de novas práticas de ensino-aprendizagem que se popularizaram com o advento das tecno- logias educacionais, objetivando remover – ou pelo menos minimizar – as barreiras de acesso permitindo o livre acesso a oportunidades de aprendizagem. 36 Considerados como um dos principais instrumentos para fo- mentar os pressupostos da educação aberta, os Recursos Educacionais Abertos podem incrementar o processo de ensino e aprendizagem em qualquer modalidade, mesmo que, usualmente, inúmeros projetos este- jam vinculados ao Ensino à Distância. Sobre os REA, definição mais recente adotada pela UNESCO (2015) demonstra que: [...] os REA são materiais de ensino, aprendizado e pes- quisa, em qualquer suporte ou mídia, que estão sob do- mínio público, ou estão licenciados de maneira aberta, permitindo que sejam utilizados ou adaptados por tercei- ros. O uso de formatos técnicos abertos facilita o acesso e reuso potencial dos recursos publicados digitalmente. Recursos educacionais abertos podem incluir cursos completos, partes de cursos, módulos, livros didáticos, artigos de pesquisa, vídeos, testes, software, e qualquer outra ferramenta, material ou técnica que possa apoiar o acesso ao conhecimento. Eles podem oportunizar ações inovadoras no campo da educa- ção e que se tornaram possíveis com a aplicação das Tecnologias da Informação e Comunicação, em particular os recursos disponíveis na Web 2.0 por permitirem a produção e compartilhamento de informa- ções, bem como oferecem oportunidades de aprendizagem adaptadas e adequadas às diversas necessidades individuais. Nos estudos de Amiel (2012), ficam evidentes que estes recursos devem necessariamente contemplar três elementos básicos: Conteúdo de aprendizagem – cursos completos, cursos, módulos de conteúdo, objetos de aprendizagem, coleções e revistas; Ferramentas – software para apoiar o desenvolvimento, uso, reutilização e entrega de conteúdo de aprendizagem, incluindo busca e organização de conteúdo, sistemas de gerenciamento de conteúdo e aprendizagem, ferramentas de desen- volvimento de conteúdo e comunidades de aprendizado on-line; e, Re- cursos de implementação - licenças de propriedade intelectual para promover a publicação aberta de materiais, princípios de design de me- 37 lhores práticas e localização de conteúdo. Na ilustração abaixo, pode-se perceber o contexto dos REA e a relação entre seus elementos básicos: Figura 3: Elementos básicos de um REA – Adaptado de Amiel (2012) A filosofia de apoio aos Recursos Educacionais Abertos é a mes- ma de outros movimentos que visam o acesso livre a recursos e o seu compartilhamento, adaptação e reutilização sem as restrições habituais de direitos autorais, como é o caso do Movimento de Software Livre7 e para ser considerado um REA, conforme Wiley (2014), o recurso pre- cisa permitir cinco princípios (ou liberdades mínimas), chamadas de “5s”, são eles: • Reusar – liberdade de uso em contextos de aprendizagem variados; 7 O Movimento “Software Livre” refere-se à liberdade para uso, execução, cópia, distribuição, estudos, modificações e aperfeiçoamentos em software. Especi- ficamente, o Movimento se refere às quatro liberdades que devem ser garantidas aos usuários do software: liberdade de executar, liberdade de estudar e adaptá-lo; liberda- de de distribuir cópias; liberdade de aperfeiçoamento do software. 38 • Revisar – liberdade para adaptar e aprimorar o REA de acordo com as necessidades; • Remixar – liberdade para produzir novos materiais ou no- vos REA a partir de combinações, acréscimos ou melhorias com outros REA; e • Redistribuir – liberdade para fazer cópias, distribuir e com- partilhar o REA original ou versões derivadas; e, • Reter – a liberdade para fazer, possuir e controlar cópias do conteúdo. A proposta dos “5 R” trazida por Wiley (op. cit) diz respeito às liberdades dos REA referente às discussões estabelecidas desde os anos 2000 sobre os objetos de aprendizagem8 as quais abordam a problemáti- ca da utilização sem restrições dos recursos educacionais em diferentes contextos de aprendizagem, sejam eles formais ou informais. A iniciativa de REA já é mundialmente difundida e existem re- positórios amplamente conhecidos. No Brasil, alguns repositórios de REA com acesso amplo e irrestrito aos materiais e objetos de aprendi- zagem disponibilizados. No quadro abaixo são listados alguns destes repositórios que contem interfaces de busca ou são catalogados e cate- gorizados para que haja recuperação eficiente dos objetos. 8 De acordo com Tarouco et al. (2003) Um Objeto de Aprendizagem se cons- titui como qualquer recurso, complementar ao processo de ensino-aprendizagem, que pode ser reusado para apoiar a aprendizagem, termo geralmente aplicado a ma- teriais educacionais projetados e construídos em pequenos conjuntos com a intenção de potencializar o processo de aquisição de conhecimento onde o recurso possa ser efetivamente contextualizado. 39 Quadro 1 – Exemplos de Repositórios REA Brasileiros Repositório Localização Escopo Banco Inter- nacional de Objetos Educa- cionais objetoseducacionais2. mec.gov.br Sob gestão no MEC, possui ob- jetos educacionais de acesso pú- blico, em vários formatos e para todos os níveis de ensino. Pos- sui 19.842(*) objetos catalogados e publicados. Conteúdos Di- gitais para o ensino e apren- dizagem de Ma- temática e Esta- tística – UFF www.uff.br/cdme/ Repositório mantido pela Uni- versidade Federal Fluminense destinado ao ensino e aprendi- zagem de matemática e estatísti- ca. Contém softwares educacio- nais, experimentos educacionais e-Unicamp - Conteúdo Di- gital www.ggte.unicamp. br/e-unicamp/public/ Disponibiliza de vídeos, anima- ções, simulações, ilustrações e aulas, materiais criados pelos docentes da Unicamp e de aces- so livre ao público. Conta com 1054 itens(*) catalogados. Projeto Embrião - Unicamp www.embriao.ib.uni- camp.br Possui conteúdos educacionais digitais multimídia e multipla- taforma, que podem auxiliar as práticas pedagógicas no Ensino Médio. Conta com 190 (*) itens catalogados. Escola Digital escoladigital.org.br Plataforma de busca de recursos digitais de aprendizagem que congrega e categoriza conteú- dos da internet. Com livre aces- so, possui aproximadamente 18 mil(*) itens entre jogos, vídeos, infográficos, animações e simu- ladores. (*) Informações atualizadas em 01 ago. 2019 Os usuários além de utilizar os recursos disponíveis também podem submeter, compartilhar e catalogar seus recursos livremente, a exemplo do Banco Internacional de Objetos Educacionais – iniciativa, aliás, compatível com a proposta do Movimento REA, em especial com a política de licenciamento aberto. 40 Este processo pode estimular uso irrestrito de conteúdos e ob- jetos para aprendizagem baseados construção e aprimoramento coleti- vos e distribuição compartilhada. Como enfatizam Gimenez; Barroca; Feltrim (2012), os REA podem incrementar o estudo individualizado, que, juntamente com redes sociais e aprendizagem colaborativa, criam oportunidades para a inovação pedagógica. Importante enfatizar que mesmo com o crescimento dos repo- sitórios e dos projetos atrelados aos Recursos Educacionais Abertos, vários aspectos ainda carecem de reflexão. Mesmo não sendo objeto desta pesquisa, podem ser destacadas questões como: • Garantir de maneira perene fontes de financiamento dos pro- jetos de REA tanto em relação à produção, desenvolvimento de repositórios e compartilhamento de recursos? • Quais são as possibilidades de implementar o conceito de reuso de maneira plena? • Que estratégias podem ser aplicadas para superação das barreiras linguísticas e tecnológicas, e formação continuada para adaptações pedagógicas destes recursos? Evidentemente que e rápida expansão de projetos sobre Recursos Educacionais Abertos (REAs) tem despertadoa atenção de diversas or- ganizações e comunidades acadêmicas para indução de pesquisas e no- vas formas de pensar a educação. A partir dos pressupostos da Educação Aberta e dos ideais do Movimento REA surgem iniciativas e tendências, das quais se desta- cam os Cursos On-line Abertos e Massivos ou (MOOC) que permitem o acesso a conteúdos sobre os mais variados temas para um grande nú- mero de alunos. Butcher (2014), por exemplo, aponta que o MOOC se constitui como elemento para alavancar mudanças no Ensino Superior. 41 3.1 Conceituando os Massive Open Online Courses – MOOC9 No que se refere à Educação Aberta, destacam-se os MOOC10, acrônimo de Massive Open Online Course(Cursos On-line Abertos e Massivos), que são capazes de levar conteúdos e aulas de nível universi- tário com qualidade a qualquer lugar, além de fomentar uma aprendiza- gem em rede com o foco em processos colaborativos de aprendizagem. Os Cursos On-line Abertos e Massivos, do inglês, são conside- rados um tipo de curso aberto ofertado por meio de Ambientes Virtuais de Aprendizagem, ferramentas da Web 2.0 ou redes sociais que visam oferecer para um grande número de alunos a oportunidade de ampliar seus conhecimentos dentro de um processo colaborativo. O termo MOOC foi utilizado pela primeira vez em 2008 por Dave Cormier e Bryan Alexander para definir o curso on-line aberto “Conectivismo e Conhecimento Conjuntivo”, desenvolvido na Univer- sidade de Manitoba (Canadá) por George Siemens e Stephen Downes. Yuan; Powell (2013) destacam que: A essência dos MOOCs é o espírito da colaboração: além de utilizar conteúdo já disponível gratuitamente na web, boa parte é produzida, remixada e compartilhada por seus participantes durante o próprio curso, em posts em blogs ou fóruns de discussão, recursos visuais, áudios e vídeos, dentre outros formatos. (p. 5) 9 São identificados na literatura termos como “MOOCs”, “Cursos massivos”, “Massive Open Online Course”, “Cursos on-line abertos e massivos”, tratados, na maioria das vezes, como sinônimos. Para este estudo, adota-se o termo MOOC (ou MOOCs para denotar plural) como uma expressão equivalente às demais para fins de padronização terminológica. 10 O conteúdo apresentado nesta seção é baseado no conteúdo das seguintes pu- blicações: ANDRADE, M. V. M.; SILVEIRA, I. F. Panorama da Aplicação de Massi- ve Open Online Course (MOOC) no Ensino Superior: desafios e possibilidades. EAD em Foco, v. 6, p. 101, 2016. Disponivel em: http://dx.doi.org/10.18264/eadf.v6i3.392 ANDRADE, M. V. M.; SILVEIRA, I. F. Tendências, abordagens e contextos do uso dos Cursos On-Line Abertos Massivos – MOOC – no Ensino Superior. In: Jaime Sánchez. (Org.). Nuevas Ideas en Informática Educativa. Santiago: Universidad de Chile, Facultad de Ciencias Físicas y Matemáticas, 2016, v. 12, p. 477-482. Disponí- vel em: http://www.tise.cl/volumen12/TISE2016/477-482.pdf. 42 O objetivo original desta modalidade de curso era proporcionar o acesso gratuito à educação de nível universitário para tantos alunos quanto possível. Eles podem ser percebidos como uma extensão de abordagens de aprendizagem online existentes e oferecem uma oportu- nidade para (re)pensar sobre novos modelos de negócios que incluem elementos de educação aberta. Em contraste com cursos on-line tradicionais os MOOC têm duas características principais, segundo Butcher (2012): • Acesso aberto - qualquer um pode participar de um curso on-line. Devem ser gratuitos e abertos para todos os interes- sados; e • Escalabilidade - Refere-se à capacidade de expansão do curso para um grande número de alunos. Os cursos devem ser projetados para suportar um número indefinido de par- ticipantes. Em relação às características acima, apesar de ser aberto não exigindo pré-requisitos específicos para a participação dos interessa- dos, é fundamental que os participantes tenham, pelo menos, fluência tecnológica para participar de um MOOC e tenham acesso a um com- putador ou dispositivo móvel conectados à internet. E no que se refere à escalabilidade tal como é proposta, as plataformas que comportam MOOC devem ser projetadas para atender ao aumento exponencial alu- nos, podendo chegar a centenas de milhares em cada oferta de curso, Anderson (2013) considera ainda seis princípios atrelados ao conceito de abertura que deveriam ser observados na concepção dos MOOCs, conforme esquema a seguir: 43 Figura 4 – Princípios e características dos MOOC. Adaptado de Anderson (2013) Desta maneira, entende-se que os MOOCs podem incentivar a abertura em termos de custo, de uso de material didático e abertura em relação à construção coletiva do conhecimento. O foco da aprendiza- gem passa ser o contexto e não apenas o conteúdo. Por outro lado, em relação à premissa da abertura, Silveira (2016) expressa uma preocupação ao afirmar que: [...] falta de abertura reduz significativamente o potencial do MOOC para reutilização e adaptabilidade para apli- cações em situações de aprendizagem individualizadas [...] eles poderiam ter um enorme potencial para apoiar o aprendizado adaptativo e personalizado se, e apenas se, seguissem os princípios de abertura, uma vez que existe uma ampla gama de variáveis que envolvem a in- dividualização de processos educacionais, como estilos de aprendizagem individuais, idiomas ou pré-requisitos conceituais. (p. 215, tradução nossa) 44 Wiley; Hilton (2009) demonstram que essas características po- dem ser interpretadas de maneira ambígua, variando, inclusive, entre as instituições que ofertam estes cursos. Alguns podem ser massivos, mas não abertos, por exemplo. Isto suscita discussões em torno do licen- ciamento e das permissões de uso e reuso defendidos pelo movimen- to REA. Um MOOC não seja o mesmo que um Recurso Educacional Aberto este pode conter elementos abertos. 3.1.1 MOOCs e as Abordagens Pedagógicas As áreas de pesquisa e experimentação sobre os MOOCs evo- luem paralelamente à evolução das ferramentas da Web 2.0 oferecendo novas oportunidades de aprendizagem indivíduos. A aprendizagem co- laborativa e a alta interatividade entre os participantes podem agregar um grande potencial para o desenvolvimento de aplicações para estes cursos, fomentando, inclusive, a criação novos métodos e modelos de ensino e aprendizagem. Na literatura, percebem-se várias formas de categorização dos MOOC. A mais conhecida parte do conceito de “abordagens pedagógi- cas” pode ser observada no quadro 3.2, a seguir: Quadro 2 – Tipos de MOOC segundo a abordagem pedagógica Categoria Características cMOOC (MOOC Conexio- nista) Baseados no Conectivismo e interação entre os parti- cipantes, acumulam conhecimentos através fazendo uso das conexões e links que constroem, dentro da esfera de interação social. xMOOC (MOOC estendido) Com fundamento instrucionista, estes tendem a em- pregar um modelo de transmissão do conhecimento, através de gravações de vídeo de palestras, aulas e demais produções audiovisuais, podem incluir exer- cícios focados na memorização e reprodução. Fonte: Adaptado de Hayes, 2015 45 Muito embora os dois tipos de MOOC compartilhem caracterís- ticas comuns, eles diferem claramente no que diz respeito às teorias de aprendizagem e, em particular, aos modelos pedagógicos. Há também diferenças na maneira em que a interação “aluno-professor-conteúdo” acontece durante os cursos. Enquanto os cMOOC são fundamentados no Conectivismo11 tendo como foco a promoção de oportunidades de aprendizagem co- laborativa e traz uma proposta pedagógica centrada nos alunos, os xMOOC seguem um modelo de aprendizagem baseado em transmis- são de conteúdos fundamentados em abordagens instrucionistas “enri- quecidas” com tecnologias. O conceito de abertura também tem conotações diferentes, a au- tonomia do aluno na construção do seu processo de aprendizagem, o uso de redes sociais e interação com os demais alunos são enfatizadas pelos cMOOCs, ao passo que os xMOOCs são baseadosem um modelo de tutorias que estabelece uma relação de “um-para-muitos” para se chegar ao conceito de “massividade”. Ainda em relação aos xMOOCs, ser “aberto” pode significar “sem custo” – com opção de pagamento pela certificação – não estando, portanto, relacionado com o acesso aberto e irrestrito ao conteúdo. 3.1.2 Desenvolvimento e evolução dos MOOCs Como ilustrado na figura 5, percebe-se um desenvolvimento e evolução constantes do movimento de Educação Aberta e o surgimento do primeiro MOOC em 2008. A partir de então, várias plataformas de aprendizagem foram criadas por instituições de Ensino Superior. O Massachusetts Institute 11 O Conectivismo (Siemens, 2004) tem o propósito de responder às novas re- alidades advindas dos avanços tecnológicos, a web 2.0 e as transformações econômi- cas, sociais e culturais, onde os papéis mudam e o aluno deverá ser capaz de encontrar e aplicar o conhecimento quando e onde for necessário. 46 of Technology criou o OpenCourseWare em 2002 e a Open University com aOpenLearns em 2006, são exemplos do interesse e do desenvol- vimento contínuo dessas plataformas. Nota-se que os MOOCs têm atraido atenção de diversas ins- tituições de ensino, inclusive no Brasil, fomentando investimentos e estudos sobre a viabilidade da aprendizagem on-line. Scortegagna; Da Silveira (2014) demonstram que no Brasil, uma das primeiras iniciativas de oferta de MOOC aconteceu em 2012, por meio da Universidade Estadual Paulista ao lançar o Portal UNESP Aberta (http://www.unesp.br/unespaberta). No ano seguinte, o portal brasileiro Veduca lançou o MBA “Engenharia e Inovação” em parceria com o UniSEB. Sendo considerado o primeiro curso de especialização aberto online do mundo, disponibilizando conteúdo em videoaulas, po- dendo ser acessado gratuitamente por qualquer interessado. Figura 5 – MOOC: a linha do tempo. Adaptado de Yuan; Powell (2013) Dentre as várias possibilidades, os MOOCs podem servir de apoio e complemento às aulas tradicionais, nivelamento acadêmico, educação corporativa e processos de formação continuada e de desen- volvimento institucionais. 47 Algumas iniciativas também estão voltadas para a formação continuada de professores. Borba; Silva; Gadanidis (2015, p. 97), por exemplo, relatam o desenvolvimento do MOOC “Tendências em Edu- cação Matemática” em 2013, utilizando o Facebook como plataforma. A intenção inicial era promover a interação entre os participantes do GPIMEM (Grupo de Pesquisa em Informática, outras Mídias e Educa- ção Matemática). Ao final do curso, avaliaram que o modelo adotado poderia ser considerado como: um caminho intermediário, entre um curso, seja online ou presencial e um estudo “autodidata”. Seria uma alter- nativa online, no qual o que importa é a autoavaliação e a possibilidade de ter companhia para discutir determinado tema (p. 97) Embora não exista um padrão ou um conjunto de ferramentas voltadas para o armazenamento, gerenciamento e oferta de MOOC, o exemplo acima demanda uma discussão mais ampla sobre o uso e o impacto destes cursos, tanto nos ambientes formais quanto informais de fomento à aprendizagem. Iniciativas como essa tem ensejado o de- senvolvimento de diferentes plataformas e provedores que suportem os modelos de educação atrelada aos diferentes tipos de MOOC. Confor- me Fassbinder; Fassbinder; Barbosa (2016) uma plataforma de MOOC pode ser instalada e utilizada por pessoas ou organizações que tenham o interesse em ofertar MOOC. Em relação aos provedores, estes podem ser considerados como ambientes virtuais que podem ser utilizados ins- tituições ou profissionais interessados em oferecer essa modalidade de curso. Bastos; Biagiotti (2014) enfatizam as plataformas que mais se destacam na oferta de MOOC são EDX (www.edx.org), Udacity (www. udacity.com) e Coursera (pt.coursera.org). Ressaltam ainda que [...] apesar de a maioria dos cursos exigirem proficiência em inglês, os pa- íses emergentes correspondem a 40% da audiência dos MOOC [...] O 48 Brasil já corresponde a 5% dos usuários do Coursera, atrás apenas dos EUA (27%) e da Índia (9%). Sob outra perspectiva, há que se destacar os argumentos que consideram os MOOC como um “adendo” ao ensino presencial, levan- tando inclusive questionamentos em relação ao seu uso no contexto do Ensino Superior a sua coerência intrínseca como um processo de ensino. Knox (2013) é mais contundente ao demonstrar que há uma tônica excessiva na quantidade e não na qualidade dos processos atre- lados aos Cursos Abertos, associando um discurso fortemente ancorado no marketing educativo, por parte das instituições que promovem os MOOC. Poy (2015) pondera e traz algumas críticas no que se refere ao êxito dos MOOCs. Destaca estudos sobre as abordagens e aplicações pedagógicas precisam de estudos mais detalhados. Ressalta que os cMOOCs necessitam agregar elementos que motivem os alunos afim de incrementar a participação, a interação e a colaboração além de se reduzir a evasão. Enquanto que para os xMOOCs, a interação entre os participantes é incipiente e o foco dos cursos fica no apenas no conteú- do com avaliação, na maioria das vezes, “tradicional”. Ainda em relação à evasão, Silva (2014) por sua vez, destaca que apesar dos MOOC apresentarem alta taxa de matrículas, alto tam- bém é índice de evasão. Na Universidade de Duke, por exemplo, menos de 3% dos 180.000 inscritos completaram o curso de Lógica e Argu- mentação oferecido entre 2012 e 2013. O advento dos MOOC parece conduzir e fomentar discussões dentro de um contexto mais amplo, complexo e de implicações que ainda não estão claramente entendidas. É justamente a complexidade deste contexto que desperta uma grande necessidade por pesquisas que venham testar a efetividade dos processos de aprendizagem, as estraté- gias, metodologias e possibilidades pedagógicas atreladas a essa moda- lidade de curso. 49 7. REFERÊNCIAS AMIEL, T. Educação aberta: configurando ambientes, práticas e recursos edu- cacionais. In: SANTANA; B.; ROSSINI, C.; PRETTO, N. (Org.). Recursos Educacionais Abertos: práticas colaborativas políticas públicas. Salvador: Edufba; São Paulo: Casa da Cultura Digital, 2012. Disponível em: http:// www.livrorea.net.br/livro/home.html. Acesso em: 08 out. 2016. ANDERSON, T. MOOCs and open and distance learning. Disponível em: www.ethicalforum.be/sites/default/files/MOOCsPromisePeril.pdf. Acesso em: 30 nov. 2015. ANDRADE, M. V. M. ARAÚJO JR.; SILVEIRA, I. F. Estabelecimento de critérios de qualidade para aplicativos educacionais no contexto dos disposi- tivos móveis (M-Learning). EaD em FOCO, v. 7, n. 2, set. 2017. Disponível em: http://dx.doi.org/10.18264/eadf.v7i2.466 ANDRADE, M. V. M., SILVEIRA, I. F. Panorama da aplicação de Massive Open Online Course (MOOC) no Ensino Superior: desafios e possibilidades. EaD em FOCO, Rio de Janeiro, v. 6, n. 3, set./dez. 2016. Disponível em: dx.doi.org/10.18264/eadf.v6i3.392 ANDRADE, M. V. M.; VIANNA, A. A. Ambiente de educação a distância di- recionado à formação continuada de professores universitários: um estudo de caso. In: Nuevas Ideas en Informática Educativa. TISE, 2016. Disponível em: http://tise.cl/2015/img/TISE2015.pdf. Acesso em 02 dez. 2015. ARAUJO JR., C. F. SILVEIRA, I. F.; CERRI, M. S. A. A Os tablets no Ensino Fundamental e Médio: estudos e análises na direção de novas metodologias e estratégias de ensino e aprendizagem. In: ARAUJO JR., C. F.; SILVEIRA, I. F. (Org.). Tablets no Ensino Fundamental e Médio: princípios e aplicações. São Paulo: Terracota, 2012. AUSUBEL, D. P. A aprendizagem significativa: a teoria de David Ausubel. são Paulo: Moraes, 1982. BASTOS, R. C.; BIAGIOTTI, B. MOOCs: uma alternativa para a democrati- zação do ensino. In: Renote, v. 12, n. 1, jul. 2014. Disponível em: seer.ufrgs. br/index.php/renote/article/view/50333/31417. Acesso em: 27 out. 2015. BÉVORT, E.; BELLONI, M. L. Mídia-educação: conceitos, história e pers- pectivas. Educ. Soc., Campinas, v. 30, n. 109,
Compartilhar