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RAPHAELA FARIA Características semiológicas da dor articular Dor (artralgia):Devem-se investigar todas as características semiológicas de uma dor articular, porque este sintoma constitui a queixa principal na quase totalidade das afecções das articulações. Por meio de arcos reflexos visceromotores, a dor articular pode determinar espasmo da musculatura circunvizinha ou atrofia. Neste caso, acredita-se que sejam envolvidas outras vias responsáveis pelos reflexos viscerotróficos. Distúrbios vasomotores periféricos também podem ser causados por alterações articulares, como por distrofia reflexo-simpática (síndrome ombro-mão). A dor articular pode ser aguda (gota, bursite, artrite séptica) ou crônica (artrite reumatoide, artrose), em peso (artrose) ou cruciante (gota, artrite séptica). Por vezes, a dor vem acompanhada de outros sintomas, como parestesias (formigamentos) decorrentes da compressão de raízes nervosas na coluna cervical ou lombar. A localização das parestesias torna possível diagnosticar o nível da compressão na coluna. Nestes casos, sempre se suspeita de hérnia de disco intervertebral. Início e cronologia Um ponto importante é a duração do processo inflamatório. Toda articulação inflamada somente apresenta melhora, inclusive com o uso de medicação antiinflamatória, após 24 horas, e somente desaparece após 48 a 72 horas. Essa informação é importante, pois é comum o paciente relatar que a articulação estava inflamada ontem à tarde, mas, agora, ela não está mais. Refere que a articulação inflama em um dia e, no outro, desaparece. Essa não é a história natural de um processo articular inflamatório. Número de articulações envolvidas Vale ressaltar a contagem das articulações envolvidas, que é feita levando em consideração os grupos articulares e não a articulação em si. Exemplificando, se o paciente apresentar artrite nos joelhos esquerdo e direito, serão contados dois grupos articulares e caracterizados como oligoartrite simétrica. Por outro lado, se ele constatar a presença de artrite na IFP do segundo, terceiro e quarto quirodáctilos esquerdos e artrite na IFP do quarto e quinto quirodáctilos direitos, serão contados dois grupos articulares (IFP esquerda e direita) e não cinco, bem como o envolvimento será definido como simétrico. Desta forma, a caracterização correta será de oligoartrite simétrica e não de poliartrite assimétrica. Os grupos articulares são contados da seguinte forma: • Monoartrite: um grupo articular envolvido. • Oligoartrite: dois a quatro grupos articulares envolvidos • Poliartrite: cinco ou mais grupos articulares envolvidos No exame físico dos ossos, utilizam-se os dados de inspeção e palpação, sempre complementados pelo estudo da mobilidade de cada segmento. Este exame inclui, obrigatoriamente, a avaliação das articulações e dos músculos. A avaliação clínica deve ser feita com o paciente nas posições de pé, sentado e deitado, com boa iluminação e as áreas a serem examinadas descobertas. É importante o exame de segmentos homólogos para efeito de comparação. A marcha do paciente pode estar alterada quando há deformidades, como varismo ou valgismo dos joelhos, lesões dos tornozelos ou desvio lateral da coluna vertebral. Às vezes, na inspeção, detecta-se o aumento de um segmento ósseo, como o alargamento da caixa craniana na doença de Paget, em algumas neoplasias - principalmente nos maxilares - ou em infecções, como a paracoccidioidomicose, em que há aumento de volume isolado da mandíbula. A palpação, que deve incluir os tecidos adjacentes ao osso, complementa os dados obtidos na inspeção. O aumento de volume deve ser definido na palpação, quanto às suas características de consistência, formato, localização, tamanho e relação com os tecidos moles. Sinais flogísticos (edema, calor, rubor) na área correspondente ao osso afetado podem sugerir osteomielite. A ocorrência de fístulas no segmento afetado indica um processo RAPHAELA FARIA infeccioso crônico, como tuberculose, sífilis ou micose. Aumento de volume de consistência dura, semelhante à dos próprios ossos, ocorre em cistos ósseos, neoplasias tipo células gigantes, osteossarcomas, osteocondromas. A presença de crepitação é sugestiva de fratura, podendo ser traumática ou patológica, mas quando a crepitação é encontrada na palpação do osso subcondral, no nível de uma articulação, é característica de osteoartrose. Em algumas ocasiões, a palpação de um osso é tão dolorosa que o paciente não possibilita o exame de maneira detalhada, principalmente em crianças. Este fato é comum nas osteomielites, neoplasias malignas de expansão rápida e nas fraturas. Cumpre ressaltar, por fim, que um exame físico normal não exclui a possibilidade de uma doença óssea. Como de costume, a avaliação diagnóstica deve levar em conta a anamnese e, quando necessário, os exames complementares. Em alguns casos, até a ausência de dados ao exame físico pode contribuir na decisão final do médico. O exame físico da coluna vertebral, à semelhança do que ocorre com o exame de outras estruturas do aparelho locomotor, é realizado pela inspeção e pela palpação, tanto em repouso como em movimento. Para o exame físico da coluna vertebral, o paciente deve estar com roupa adequada. Para os pacientes do sexo masculino, um calção de banho ou a própria cueca; pacientes do sexo feminino devem usar um avental que deixe o dorso descoberto. O exame pode ser feito também com a paciente de sutiã e calcinha ou com um maiô de duas peças. A abordagem da coluna deve ser feita em três planos: frontal (anterior e posterior) e sagital. Na frontal, seja anterior ou posterior, deve-se observar a simetria das cinturas escapular e pélvica, o ângulo toracolombar (talhe), o alinhamento dos membros inferiores, a orientação das patelas e, finalmente, o posicionamento dos pés. O desnivelamento das escápulas pode sugerir desvios de lateralidade (escoliose); o desnivelamento da cintura pélvica sugere uma discrepância no comprimento dos membros inferiores; as patelas, quando têm orientação interna ("olham para dentro"), sugerem alteração na anteroversão do colo femoral; os pés devem ser observados quanto ao alinhamento dos calcâneos (visão frontal posterior) e quanto à presença ou não dos arcos plantares. No plano sagital, ou de perfil, deve-se observar o grau das lordoses lombar e cervical, assim como a cifose torácica. Nesse plano, o uso do fio de prumo é importante para que se possa observar a linha de gravidade. Além de observar as curvas, verifica-se também o posicionamento da pelve em relação à linha de gravidade, se há retroprojeção ou anteroprojeção da pelve. Nesse plano também deve ser observado, nos membros inferiores, a presença ou não do genu recurvatum, tão importante nos desvios posturais. Finalmente, os movimentos deverão ser observados também nos três planos. O primeiro elemento a ser investigado é a atitude ou posição do paciente. Na hérnia discal, por exemplo, é comum o paciente adotar uma posição antálgica, na tentativa de obter alívio da dor. Em estágio avançado da espondilite anquilosante, o paciente pode assumir gradativamente a posição de esquiador, caracterizada por aumento da lordose cervical, por cifose dorsal, por lordose lombossacra e por flexão dos joelhos. A inspeção deve ser feita com luz natural, procurando-se detectar a presença de curvaturas anormais ( cifose, escoliose ou sua combinação, ou seja, cifoescoliose), de acentuação da lordose, de modificações da cor da pele, como manchas parecidas com café com leite que aparecem na neurofibromatose. A perda da lordose fisiológica, com a retificação da coluna cervical ou lombar, também tem grande importância para o diagnóstico das doenças da coluna. A palpação deve ser realizada com delicadeza, podendo despertar dor intensa, como nos casos de hérnia discai. Devem ser palpadas as massas musculares, principalmente as da goteira vertebral,procurando hipertrofias e retificação da coluna. A palpação das apófises espinhosas e dos espaços intervertebrais é também fundamental nas afecções inflamatórias e compressivas, pois acarreta dor. O exame neurológico é indispensável nos pacientes com dor irradiada para os membros ( cervicobraquialgias e lombociatalgias), obedecendo-se ao seguinte roteiro: RAPHAELA FARIA • Reflexos Nos casos de compressão radicular, como ocorre nas hérnias discais, podem estar diminuídos ou abolidos os seguintes reflexos: • Bicipital: integridade de CS • Braquirradial: integridade de C6 • Tricipital: integridade de C7 • Patelar: integridade de IA • Patelar e aquileu: integridade de LS e SI. • Testes de compressão A dor pode ser agravada basicamente por três mecanismos: estreitamento do forame de conjugação, alteração sensório-motora e pressão sobre as superfícies articulares. Estreitamento do foram e de conjugação. No teste de Valsalva, o paciente prende a respiração e faz força como se quisesse evacuar. O teste acarreta aumento da pressão intratecal. Se houver afecção expansiva ou compressiva (neoplasias, hérnia discai), o paciente relata dor ao fazer a manobra. O sinal de Lasegue consiste na elevação do membro inferior estendido sobre a bacia, o que acarreta estiramento do nervo ciático. Se houver compressão, ocorre dor no trajeto do referido nervo. O sinal de Lasegue é positivo quando surge dor até 60° (ângulo formado pelo membro elevado e pela mesa de exame). Bloqueio e dor até 30° sugerem hérnia discai. Outra manobra para confirmar o sinal de Lasegue consiste na dorsiflexão do pé quando o membro estiver elevado, provocando exacerbação da dor (sinal de Bragard). A elevação do membro sadio pode também produzir dor no membro oposto afetado, sugerindo compressão mais central. É necessário caracterizar se a dor provocada pela elevação do membro ocorre devido à real compressão do ciático ou à contratura dos músculos posteriores da coxa. A dor muscular ocorre somente na parte posterior da coxa, enquanto a ciatalgia pode acometer todo o membro. Alteração sensório-motora. As afecções da coluna vertebral, tanto medular como na cauda equina, repercutem clinicamente nos membros superiores e inferiores, podendo levar a alterações da sensibilidade, da força muscular e dos reflexos. A pesquisa de alterações da sensibilidade pode indicar a localização da compressão, da mesma maneira que a perda da força muscular. A perda de força do bíceps pode traduzir compressão no nível da raiz de CS, enquanto a perda de potência dos dorsiflexores dos dedos e pés pode significar compressão no nível das raízes de LS e SI. ... Pressão sobre as superfíáes artirulares. Para sua avaliação, deve-se pressionar para baixo a cabeça do paciente, que deve, de preferência, permanecer sentado. ... Movimentos da coluna vertebral. A movimentação da coluna vertebral (ver Figura 165.6) possibilita verificar suas limitações funcionais e, para isso, é necessário conhecer os movimentos de cada segmento (cervical, torácico e lombossacral) • Coluna cervical o Flexão, quando a cabeça é projetada para frente, o mento tocando a fúrcula estemal - Extensão, quando a cabeça é projetada para trás o Rotação ou torção: deve ser avaliada com o paciente sentado o Lateralidade direita e esquerda também com o paciente sentado o Circundação é a soma dos movimentos anteriores • Coluna torácica e lombossacral: existe reduzida mobilidade da coluna torácica. Esse fato, somado à inserção costopélvica dos músculos do tronco, faz com que os movimentos desses dois segmentos se associem o Flexão, quando o tronco é projetado para frente o Extensão, quando o tronco é projetado RAPHAELA FARIA para trás o Rotação ou torção direita e esquerda: devem ser avaliadas com o paciente na posição sentada o Lateralidade, quando o tronco se aproxima da bacia no plano frontal. O exame físico da coluna deve ser complementado pelo exame da bacia (articulações sacroilíacas e coxofemorais), porque os sintomas das doenças dessas articulações são muito semelhantes aos das enfermidades da coluna vertebral. O exame de uma articulação compreende os seguintes parâmetros: formato e volume, posição das estruturas, alterações das massas musculares, presença de sinais inflamatórios, modificações das estruturas circunjacentes, crepitação, estalidos e movimentação. Formato e volume. É necessário pesquisar irregularidades do contorno e modificações do tamanho das juntas. É conveniente medir a circunferência da articulação com fita métrica ou com o artrocitômetro, quando se trata de pequenas articulações, como as interfalangeanas (proximais e distais). O aumento de volume de uma articulação pode ser devido a várias causas, como edema de partes moles, excesso de líquido sinovial (derrames intra-articulares), espessamento da membrana sinovial e da cápsula articular, crescimento ósseo localizado (osteófitos, exostoses, periostite), depósitos de uratos (tofos) ou calcificações . Posição das estruturas. A posição das estruturas que compõem a articulação é um dado importante, podendo o desalinhamento articular ser causa ou consequência de artropatia degenerativa, como acontece nos casos de genu valgum, ou de comprometimento articular, como na artrite reumatoide . Massas musculares. As massas musculares próximas das juntas devem ser avaliadas cuidadosamente. Pode haver atrofia dos interósseos das mãos e dos pés nos casos de artrite reumatoide, atrofia dos quadríceps na artrite dos joelhos, e assim por diante. É correto dizer que a atrofia muscular é característica inerente dos processos articulares periféricos em que exista bloqueio articular por tempo prolongado. Sinais inflamatórios. A ocorrência de sinais inflamatórios, edema, calor, rubor e impotência funcional indica a existência de artrite, sendo este achado de grande importância no diagnóstico das afecções reumáticas, pois, conforme foi assinalado, a presença de artrite tem mais valor diagnóstico que a artralgia . Estruturas circunjacentes. A modificação das estruturas circunjacentes pode depender de neoplasias, irregularidades e de fístulas, e seu estudo foi abordado no exame físico dos ossos. Crepitação. A crepitação articular indica processo articular degenerativo, no qual há comprometimento da cartilagem hialina, enquanto a crepitação óssea denuncia a presença de fratura. Movimentação. A avaliação dos movimentos das articulações torna possível a verificação de dor e do grau de impotência funcional. Para isso, é fundamental conhecer os movimentos normais de cada articulação para maior facilidade em detectar e avaliar a amplitude dos movimentos ou evidenciar movimentos anormais (Figuras 162.1 a 162.10). O estudo dos movimentos articulares deve obedecer aos seguintes postulados: • A movimentação da articulação deve ser feita com máxima delicadeza • É necessário pesquisar os movimentos ativo e passivo, comparando articulações homólogas • O médico deve estar atento às reações do paciente, em especial à demonstração de dor RAPHAELA FARIA • Sempre que possível, a amplitude dos movimentos precisa ser medida em graus, partindo-se de uma posição neutra que seria o ponto zero • Não sendo possível medir em graus, pode-se falar em limitação total, quando a articulação está impossibilitada de fazer a mínima movimentação, ou em limitação parcial, que pode ser mínima, moderada ou intensa (quase total). A seguir, estão relacionadas as articulações com seus movimentos (Figuras 162.1 a 162.10). Articulações temporomandibulares • Abertura e fechamento da boca • Protrusão e retrocesso da mandíbula • Movimentos de lateralidade . Coluna vertebral (Figuras 161.1 e 161.1) • Cervical (pescoço) - Flexão (o mento deve tocar a fúrcula esternal). A separação entre ambos deve ser medida com fita métrica - Extensão (o mento deve afastar-se emtorno de 18 em da fúrcula esternal) - Rotação esquerda e direita (60°) - Lateralidade esquerda e direita (30°) • Torácica - Rotação direita e esquerda (75°) - Flexão e extensão RAPHAELA FARIA - Lateralidade esquerda e direita • Lombar o Flexão (meça a distância das polpas digitais-solo) -Extensão (30°) - Rotação esquerda e direita (90°) - Lateralidade esquerda e direita (35°). Ombros (Figura 162.3) • Abdução ( 110° a 120°) • Flexão ou elevação anterior (180°) • Extensão ou movimentação para trás ( 60°) • Rotação externa (90°) • Rotação interna posterior (180°). Cotovelos (Figura 162.4) • Extensão (0° ou 180°) • Flexão (45° ou 150° a 160°) • Pronação (90°) • Supinação (90°) • Pronossupinação (90° a 180° para cada movimento). RAPHAELA FARIA Punhos (Figura 162.5) • Flexão palmar ( 90°) • Extensão dorsal ou dorsiflexão (70°) • Desvio mediai ou radial ou adução (20°) • Desvio cubital ou lateral ou abdução (30°). Articulações metacarpofalangeanas e interfalangeanas (proximais e distais) (Figura 162.6) • Metacarpofalangeanas- flexão (90°), extensão (30°) • Interfalangeana proximal- flexão (90°) • Interfalangeana- flexão (80°) • Metacarpofalangeana do polegar- flexão (90°) • Interfalangeana do polegar- flexão (90°) • Abdução do polegar (110°) (Figura 162.7) • Oposição do polegar (45°) (Figura 162.7). Articulação do quadril (paciente em decúbito dorsal) (Figura 162.8) • Posição neutra (180°) • Flexão (110° a 120°) • Rotação interna em extensão (90°) • Rotação externa em extensão (90°) • Rotação interna em flexão ( 45°) • Rotação externa em flexão (45°) • Abdução ( 45°) RAPHAELA FARIA • Adução (30°) • Hiperextensão em decúbito ventral (30°). Articulações dos joelhos (Figura 162 .9) • Flexão (30°) • Extensão (180°). Articulações dos tornozelos (Figura 162.1 O) • Dorsiflexão ou flexão dorsal (20°) • Flexão plantar (50°) • Inversão • Eversão. Articulações metatarsofalangeanas • Flexão • Extensão. RAPHAELA FARIA
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