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1 Marcela Oliveira – Medicina 2021 Módulo Dor PROBLEMA 01 – TA QUENTE 1. Definir dor, classificá-la quanto à sua origem e seus fatores desencadeantes. A dor constitui um instrumento de proteção que permite a detecção de estímulos físicos e químicos nocivos, além de sensibilizar sistemas que protegem o individuo contra futuras lesões. A dor foi definida pela Associação Internacional para Estudo da Dor como “uma experiência sensorial e emocional desagradável descrita em termos de lesão tecidual”. CLASSIFICAÇÃO DA DOR Quanto ao tempo de duração: Dor aguda: funciona como um alerta, e é o resultado da estimulação nociceptiva (inflamação) ou de lesões diretas (lesões mecânicas). Na maioria das vezes é causado por ferimento e dura somente enquanto persistir a lesão do tecido. A dor aguda é uma dor fisiológica. Dor crônica: não tem a função biológica de alerta. Esse termo crônico vai se referir À dor que se mantem além do tempo normal de cura. A dor crônica é patológica, causada por lesão do tecido nervoso (periférico, medular ou central). Quanto à origem: Dor nociceptiva: ela ocorre por estimulo e sensibilização persistente dos nociceptores (que são os receptores sensíveis a um estimulo nocivo). Ela pode ser ainda somática ou visceral: Somática: quando afeta tecidos cutâneos e profundos. Visceral: quando afeta vísceras torácicas, abdominais pélvicas, podendo se manifestar distante do local onde há lesão anatômica. É uma manifestação mais difusa, de localização imprecisa. Dor neuropática: decorre de lesões das vias sensitivas dos sistemas nervoso central e periférico, que podem ser ocasionas por irritação das fibras C ou deaferentação (que é a dor fantasma – causada por injuria do plexo braquial ou lombossacral). Ou seja, na pratica é quando você tem uma compressão ou lesão do nervo fazendo com que se tenha uma dor de característica especifica. Ela acontece em varias situações clinicas como, por exemplo: pós-avc, Diabéticos (neuropatia periférica diabética), Infecção por Herpeszoster (neuropatia pós-herpética). Algumas sensações são consideradas anormais na dor neuropática, como: o Distesia: sensação anormal espontânea. 2 Marcela Oliveira – Medicina 2021 o Hiperestesia: sensibilidade exagerada à estimulação; o Alodínea: dor causada por estimulo que normalmente não é doloroso. Dor psicogênica: tipo de dor sem causa aparente. Pode ser observado em distúrbios psicológicos, como na depressão e na ansiedade generalizada. Isso porque as vias noradrenérgica e serotoninérgicas estão envolvidas no mecanismo de ansiedade e depressão, bem como no controle central da dor. Quanto ao padrão: 1. Continua. 2. Episódica: episódios intermitentes de dor moderada a intensa, de inicio súbito e de curta duração em doentes com dor crônica já controlada. Há 3 tipos: o Dor incidental: está relacionada com atividades especificas como tossir, levantar ou caminhar. o Dor espontânea: ocorre de maneira imprevisível. o Dor episódica; associada ao horário de intervalo da medicação. Quanto à intensidade: Pode ser classificada como leve, moderada e intensa. 2. Compreender a neurofisiologia da dor (reflexos, neurotransmissores, nociceptores e o limiar da dor). Os nociceptores são terminações nervosas livres, ramificadas, não mielinizadas que sinalizam quando o tecido corporal esta sendo lesado ou em risco de sofrer lesão. Por isso, é importante a gente diferenciar dor que é uma sensação ou percepção de sensações diversas como irritação, inflamação, fisgada, ardência. Da nocicepção que é o processo sensorial que fornece os sinais que desencadeiam a experiência da dor. NOCICEPTORES E A TRANSDUÇÃO DOS ESTIMULOS DOLOROSOS Os nociceptores são ativados por estímulos que tem o potencial de causar lesões nos tecidos. Esses danos aos tecidos podem resultar de uma estimulação mecânica forte, temperaturas altas, privação de oxigênio e exposição a certos tipos de agentes químicos. Nesse sentido, as membranas dos nociceptores contem canais iônicos que são ativados por esses tipos de estímulos. Às vezes, o simples estiramento ou dobramento da membrana do nociceptor ativa os canais iônicos, que levam a despolarização da célula e ao disparo de potenciais de ação. Além disso, as células danificadas no local da lesão podem liberar varias substancias que abrem o canal iônico dos nociceptores. Como por exemplo, as proteases (que são enzimas que degradam as proteínas), ATP e ions K+. Dessa forma, as proteases degradam o cininogênio, que é um peptídeo extracelular formando a bradicinina, que irá se ligar a uma molécula receptora aumentando a condutância iônica de alguns nociceptores. Da mesma forma, o ATP causa uma despolarização de canais iônicos de nociceptores. E também, o aumento de K+ despolariza diretamente as membranas neuronais. Um exemplo pratico é o caso dos corredores de maratonas, quando o nível de oxigênio tecidual diminui, utiliza-se a respiração anaeróbica que gera como produto o acido láctico. O acumulo desse acido leva a um excesso de H+, nos quais ativam os canais iônicos dos nociceptores, sendo responsável pela dor associada ao exercício físico muito intenso. 3 Marcela Oliveira – Medicina 2021 Outra situação também é quando somos picados por uma abelha, e ai o nosso sistema imune ativa os mastócitos que promovem a liberação da histamina, que irá se ligar aos receptores, causando uma despolarização da membrana, além de aumentar a permeabilidade dos capilares, levando ao edema e a vermelhidão. TIPOS DE NOCICEPTORES A transdução dos estímulos dolorosos ocorre nas terminações nervosas livres das fibras do tipo: Fibras C: axônios de pequeno diâmetro, amielinizadas e com velocidade de condução inferior a 2m/s, ou seja, lentas. Respondem a estímulos mecânicos, térmicos e químicos. É caracterizada pela dor lenta. Fibras Adelta: fibras de médio diâmetro, intensamente mielinizadas e com elevada velocidade de condução. Respondem a estímulos térmicos e mecânicos. É caracterizada pela dor rápida. A maioria dos nociceptores responde aos estímulos mecânicos, térmicos e químicos e são chamados de nociceptores polimodais. No entanto, muitos nociceptores mostram certa seletividade em suas respostas aos diferentes estímulos. Assim sendo, existem nociceptores mecânicos que respondem seletivamente a pressões intensas; nociceptores térmicos, que mostram respostas seletivas ao calor ou ao frio extremo e nociceptores químicos, responsivos à histamina e outros agentes químicos. Os nociceptores estão presentes na maioria dos tecidos do corpo, incluindo a pele, os ossos, os músculos, vasos sanguíneos, coração. HIPERALGESIA Os nociceptores normalmente respondem quando os estímulos são suficientemente intensos para lesionar o tecido. A 4 Marcela Oliveira – Medicina 2021 Hiperalgesia é a capacidade corporal de autocontrole da dor. A hiperalgesia primaria ocorre na área do tecido lesado, enquanto que a hiperalgesia secundária envolve a região da lesão que se torna supersensível. Algumas substâncias que são liberadas no momento em que a pele é lesada tem a capacidade de excitar os nociceptores. Dentre eles temos a Bradicinina, no qual ira estimular mudanças intracelulares de longa duração, deixando mais sensíveis os canais iônicos ativados por calor, como comentamos anteriormente. Já as Prostaglandinas são substancias que aumentam a sensibilidade dos nociceptores a outros estímulos. E a substancia P é um peptídeo sintetizado pelos próprios nociceptores, que causa a vasodilatação e a liberação de histamina pelos mastócitos. Ela também é capaz de sensibilizar a área vizinhada lesão, causando a hiperalgesia secundaria. AFERENTES PRIMÁRIOS E MECANISMOS ESPINHAIS As fibras Adelta e C levam informações ao SNC com velocidades diferentes devido à presença ou não da mielina. Consequentemente, a ativação dos nociceptores na pele produz uma dor primaria (rápida e aguda) causada pelas fibras Adelta e uma dor secundária (lenta e contínua) causada pelas fibras C. Essas fibras possuem seus corpos celulares nos gânglios da raiz dorsal (1º neurônio) e entram no corno dorsal da medula (2º neurônio), se ramificando em uma região chamada Tracto de Lissauer, fazendo depois sinapses na substancia gelatinosa (área III) e na Lâmina marginal (área I e II) do corno dorsal. Acredita-se que o neurotransmissor dos aferentes nociceptivos seja o glutamato, além da substancia P localizada nas terminações axonais, podendo ser liberadas por potenciais de ação de alta frequência. É interessante observar que os nociceptores viscerais entram na medula espinhal pelo mesmo trajeto dos nociceptores cutâneos. Na medula espinal ocorre uma mistura de informações dessas duas fontes de aferências. Isso irá originar o fenômeno de dor referida, no qual a ativação do nociceptor visceral é percebida como uma sensação cutânea. Um exemplo disso é a dor associada à apendicite, que é referida na parede abdominal perto do umbigo. VIA DA DOR ESPINOTALÂMICA A informação sobre a dor é conduzida da medula ao encéfalo pela via espinotalâmica. Nessa via, os axônios dos neurônios de segunda ordem decussam imediatamente e ascendem através do tracto espinotalâmico por meio de duas vias. Como vimos os neurônios de segunda ordem dessa via decussam imediatamente através da comissura anterior presente na medula e seguem para os tratos ascendentes. Esse fato traz algumas características especiais, pois as lesões que ocorrer em um lado da medula irá gerar déficit de sensibilidade à dor e a temperatura no lado oposto ao da lesão espinhal. 1. TRATO NEOESPINOTALÂMICO As fibras do tipo rápido (Adelta) elas terminam em sua maioria na lâmina I (lamina marginal) dos cornos dorsais e excitam os 5 Marcela Oliveira – Medicina 2021 neurônios de segunda ordem do trato neoespinotalãmico. Esses neurônios dão origem às fibras longas que cruzam imediatamente para o lado oposto da medula e depois ascendem para o encéfalo nas colunas anterolaterais. Essas fibras seguem diretamente para o tálamo quase sem interferência, tendo como ponto de chegada o núcleo ventral posterior ou complexo ventrobasal. Dessas áreas talâmicas a informação é enviada para o córtex somatossensorial (giro pós-central). E por isso, a capacidade de localizar uma dor pontual é maior do que uma dor crônica, e isso se deve ao fato da proximidade do caminho da informação tátil e dolorosa ao chegar no lemnisco medial. O neurotransmissor envolvido nesse processo é o glutamato. 2. VIA PALEOESPINOTALÂMICA Essa via é responsável pela transmissão da dor lenta ou crônica sendo que suas fibras recebem aferencia da parte gelatinosa (lamina II e III) na medula e seguem a mesma via que a via rápida faz, que é a via anterolateral. O neurotransmissor envolvido nesse processo de transmissão do impulso das fibras do tipo C é a substancia P da qual é liberada gradativamente, aumentando assim sua concentração à medida que o estimulo é desencadeado. Essa via termina de modo difuso no tronco cerebral em 3 principais áreas: Núcleos reticulares do bulbo, ponte e mesencéfalo; na área tectal do mesencéfalo e na região cinzenta periarquedutal. Do tronco encefálico saem fibras curtas que chegam aos núcleos laminares e ventrobasal do tálamo, bem como regiões do encéfalo e hipotálamo. Como já comentamos na parte de dor referida, a dor crônica apresenta uma imprecisão espacial devido à interação dessa via com outras. Estudos experimentais concluíram que a retirada do córtex somatossensorial não impede com que o indivíduo apresente a percepção da dor. Desse modo, concluiu que a formação reticular bem como regiões inferiores do encéfalo como o hipotálamo é importante para percepção consciente da dor. Logo, o córtex é fundamental para a interpretação dessa percepção, enquanto as regiões basais e formação reticular processam a informação. Quando o indivíduo apresenta um estímulo para dor crônica ele pode ativar núcleos reticulares e interlaminares do tálamo os quais traz um efeito de alerta para todo o córtex. Isso porque a formação reticular apresenta um sistema de alerta (sono e vigília) que pode ser ativado em casos de dores crônicas, portanto um indivíduo que apresenta dor crônica tem uma incapacidade de dormir. 3. Elucidar como a percepção de um estímulo doloroso pode interferir em outro (modulação da dor). REGULAÇÃO DA DOR (modulação) Uma dor causada pela atividade de nociceptores pode ser diminuída pela atividade simultânea em mecanoreceptores de baixo limiar (fibras Abeta). Isso explica a sensação agradável que é sentida após se massagear a canela depois de uma contusão. Ou então, como um tratamento elétrico alivia alguns tipos de dor crônica. 6 Marcela Oliveira – Medicina 2021 A teoria que explica isso é chamada de Teoria do Portão da Dor. Ela estabelece que na região dorsal da medula, na substancia gelatinosa pode chegar fibras nociceptivas e fibras mecanorreceptoras. Essas fibras irão fazer sinapses com interneuronios que fazem a modulação da dor. No momento que essas fibras são excitadas, as fibras Abeta por serem mais calibrosas e de maior diâmetro fazem sinapses mais rápido com os interneuronios inibitórios que irá fechar a via dos nociceptores. Na verdade, esse sinal não é totalmente inibido, mas irá reduzir a dor. Além disso, existe outra teoria que complementa essa, que é chamada de Teoria do Contrairritante. Ela diz que quando se estimula um mecanorreceptor e ele faz sinapse com um interneurônio, ele libera um neurotransmissor chamado encefalina. Na teoria, essa encefalina ela inibe a substancia P, que causa hiperalgesia, responsável pelos sinais inflamatórios. Se a substancia P é hiperalgica, e temos um inibidor dela não vamos ter tanto sinal de dor. REGULAÇÃO DESCENDENTE Já escutamos varias historias de atletas, soldados e vitimas de tortura que sofreram graves ferimentos, mas aparentemente não sentiram dor. Isso porque emoções fortes, estresse ou atitudes heroicas podem suprimir as sensações dolorosas. Varias regiões estão envolvidas na supressão da dor. Mas a primeira coisa que deve acontecer é a dor, ou seja, o cérebro precisa sentir essa dor. Nesse momento, o cérebro leva o estimulo ao mesencéfalo na substancia cinzenta periaquedutal (PAG) – essa região recebe aferências de estruturas relacionadas com o contexto emocional, e vai fazer com que seja liberado nessa região a Encefalina que é um tipo de endorfina (substancia analgésica). À medida que essa substância vai sendo liberada, vamos ter a liberação também no tronco encefálico, nos núcleos da rafe (núcleo magno) de serotonina. Esses dois neurotransmissores juntos vão conseguir descer ate a medula espinhal e vão alcançar as fibras aferentes que estão levando a informação da dor, inibindo-as. Guyton; Beer; Manual da dor. 7 Marcela Oliveira – Medicina 2021 4. Discutir os perigos da automedicação e as consequências do uso exacerbado dos analgésicos. ANALGÉSICOS Os analgésicos bloqueiam as substâncias (receptores sensoriais) do corpo que enviam a mensagem ao cérebro dizendo que há um foco de inflamação ou algum outro problema. Quando o cérebro deixa de receber esse aviso, a dor cessa. Os analgésicos comuns, desses comprados em comprimidos na farmácia, são chamados de periféricos, porque depois de ingeridos vão por todoo organismo pela circulação sanguínea. "O medicamento não detecta onde está a dor. Como ele está espalhado pelo sangue, o local que tem a dor absorve o remédio". Outro tipo de analgésico é o chamado central, utilizado em casos de dor intensa e contínua, em casos mais graves como infarto e câncer, por exemplo. Entre os analgésicos desse tipo está a morfina, que atua diretamente no sistema nervoso central (cérebro e medula espinhal), alterando a percepção de dor para o corpo todo. ANALGÉSICOS OPIÓIDES Os agonistas opioides produzem analgesia por meio de sua ligação a receptores específicos acoplados a proteína G, que se localizam no cérebro e em regiões da medula envolvidas na transmissão e na modulação da dor. Os opioides aos se ligarem a proteína G promove o fechamento de canais de Ca+ regulados por voltagem e com isso reduz a liberação de transmissores. Além disso, ele também inibe os neurônios pós-sinápticos por meio da abertura dos canais de K+. Na maioria das circunstancias, os opiodes são administrados sistemicamente, e desse modo, atuam ao mesmo tempo em múltiplos locais. Esses locais incluem não apenas as vias ascendentes da dor, iniciando nas terminações sensitivas periféricas, como também nas vias descendentes. Tolerância e dependência: com a administração frequente e repetida de doses de morfina, verifica-se uma perda gradual da eficiência, que é denominada tolerância. Ou seja, para reproduzir a resposta original, é necessária a administração de uma dose mais alta e isso gera a dependência ou síndrome de abstinência. Os efeitos tóxicos diretos dos analgésicos opioides consistem em depressão respiratória, náuseas, vômitos e constipação intestinal. AUTOMEDICAÇÃO Os medicamentos são a principal causa de intoxicação no Brasil. Boa parte desses acidentes ocorre devido à automedicação, que é a utilização de medicamentos por conta própria. É por isso que, ainda de acordo com a Anvisa, os analgésicos, os antitérmicos e os anti-inflamatórios representam as classes de medicamentos que mais intoxicam. O uso de remédios de forma incorreta pode agravar a doença ao esconder determinados sintomas. Se o remédio for antibiótico, o uso abusivo pode gerar o aumento da resistência de microrganismos, o que compromete a eficácia dos tratamentos. Outra preocupação em relação ao uso do remédio se refere à combinação inadequada - o uso de um medicamento pode anular ou potencializar o efeito do outro. O uso de remédios de maneira incorreta ou irracional pode causar, ainda, reações alérgicas, dependência e até a morte. Os analgésicos, especificamente o paracetamol, são responsáveis por elevado número de registro de ocorrências da má administração de medicamentos. 8 Marcela Oliveira – Medicina 2021 A superdosagem (acima de 4g por dia) desse fármaco pode provocar lesões hepáticas irreversíveis, podendo levar inclusive ao óbito. Além disso, a utilização prolongada de paracetamol tem sido associada à insuficiência renal. 5. Explicar a ineficácia do paracetamol no caso em questão. Analgésicos não-opioides – ácido acetilsalicílico, dipirona, ibuprofeno e paracetamol modificam mecanismos periféricos e centrais envolvidos no desenvolvimento de dor. São indicados por tempo curto, particularmente para dores leves e moderadas. Exibem propriedades analgésica e antitérmica. Paracetamol e dipirona são fracos anti-inflamatórios nas doses terapêuticas. Esses fármacos inibem cicloxigenases (COX- 1 e COX-2), enzimas envolvidas na síntese de prostaglandinas, evitando assim sensibilização (hiperalgesia primária) de receptores periféricos de dor e produzindo antialgesia. Também apresentam ação antinociceptiva central, pois há cicloxigenases na medula espinhal, as quais têm sido implicadas em sensibilização central, com mudança de limiar de excitabilidade de neurônios do corno dorsal da medula espinhal. Nesse fenômeno, a aplicação de estímulo semelhante ao inicial desencadeia resposta amplificada e de duração mais longa. 6. Classificar os graus de queimadura associando-os à conduta terapêutica adequada. A queimadura pode se apresentar de múltiplas formas, desde lesões superficiais na epiderme até o comprometimento de tecidos profundos como músculos e ossos. O tratamento tem diferentes abordagens e é indicado individualmente de acordo com o grau da lesão; Queimadura superficial ou de 1º grau: Acomete apenas a epiderme. É a clássica queimadura solar, se apresentando com hiperemia e dor local (ardência). O risco de infecção é baixo. Terapia de suporte (hidratação, analgesia e reposição volêmica VO são suficientes). A regeneração sem sequelas ocorre em ate uma semana. Queimadura parcial superficial ou de 2º grau Atinge a epiderme e a derme superficialmente (papilas). Bolhas são comuns e a lesão é muito dolorosa por causa da exposição das terminações nervosas. O aspecto é de área hiperemiada com exsudato sanguíneo a manipulação. O tratamento deve ser iniciado com analgesia para remoção de bolhas, limpeza da lesão e curativo oclusivo estéril. A reepitalização ocorre em dias semanas e a velocidade de regeneração depende da densidade de anexos dérmicos encontrados na superfície acometida. Queimadura superficial profunda ou de 2º grau Atinge a epiderme e a derme profunda (reticular). Há um deslocamento espesso da pele, expondo áreas pouco pálidas (róseas), mas com alguma sensibilidade presente. A dor é do tipo moderada, pois já houve destruição de terminações nervosas. Com tratamento intensivo com curativos que impeçam o ressecamento e a infecção local a restauração deve ocorrer. Esta, entretanto é lenta e esta associada a graus variados de contração; Queimaduras de espessura total ou 3º grau. Todas as camadas de pele estão acometidas (epiderme + derme + hipoderme). A lesão apresenta aspecto rosado amarelado e indolor. A cicatrização ocorre a partir das bordas da lesão e esta 9 Marcela Oliveira – Medicina 2021 associada a contratilidade intensa quando não tratada cirurgicamente. Quanto à extensão: A extensão de uma queimadura é representada em percentagem da área corporal queimada. Regra dos NOVE de Wallace: Leves (ou "pequeno queimado"): atingem menos de 10% da superfície corporal; Médias (ou "médio queimado"): atingem de 10% a 20% da superfície corporal; Graves (ou "grande queimado"): atingem mais de 20% da área corporal; Regra dos nove: é atribuído, a cada segmento corporal, o valor nove (ou múltiplo dele): cabeça - 9% tronco frente - 18% tronco costas - 18% membros superiores - 9% cada membros inferiores - 18% cada genitais - 1% Se for só uma face do membro é a metade. Regra da palma da mão: geralmente a palma da mão de um indivíduo representa 1% de sua superfície corporal. Assim pode ser estimada a extensão de uma queimadura, calculando-se o “número de palmas”. TRATAMENTO INICIAL DA QUEIMADURA 1. Tratamento imediato de emergência: Interrompa o processo de queimadura. Remova roupas, joias, anéis, piercings e próteses. Cubra as lesões com tecido limpo. 2. Tratamento na sala de emergência: a. Vias aéreas (avaliação): Avalie a presença de corpos estranhos, verifique e retire qualquer tipo de obstrução. b. Respiração: Aspire as vias aéreas superiores, se necessário. Administre oxigênio a 100% (máscara umidificada) e, na suspeita de intoxicação por monóxido de carbono, mantenha a oxigenação por três horas. Suspeita de lesão inalatória: queimadura em ambiente fechado com acometimento da face, presença de rouquidão, estridor, escarro carbonáceo, dispneia, queimadura das vibrissas, insuficiência respiratória. Mantenha a cabeceiraelevada (30°). Indique intubação orotraqueal quando: A escala de coma Glasgow for menor do que 8; A PaO2 for menor do que 60; A PaCO2 for maior do que 55 na gasometria; A dessaturação for menor do que 90 na oximetria; Houver edema importante de face e orofaringe. c. Avalie se há queimaduras circulares no tórax, nos membros superiores e inferiores e verifique a perfusão distal e o aspecto circulatório (oximetria de pulso). 10 Marcela Oliveira – Medicina 2021 d. Avalie traumas associados, doenças prévias ou outras incapacidades e adote providências imediatas. e. Exponha a área queimada. f. Acesso venoso: Obtenha preferencialmente acesso venoso periférico e calibroso, mesmo em área queimada, e somente na impossibilidade desta utilize acesso venoso central. g. Instale sonda vesical de demora para o controle da diurese nas queimaduras em área corporal superior a 20% em adultos e 10% em crianças. Medidas gerais imediatas e tratamento da ferida: Limpe a ferida com água e clorexidina desgermante a 2%. Na falta desta, use água e sabão neutro. Administre toxoide tetânico para profilaxia/ reforço antitétano. Administre bloqueador receptor de H2 para profilaxia da úlcera de estresse. Administre heparina subcutânea para profilaxia do tromboembolismo. Administre sulfadiazina de prata a 1% como antimicrobiano tópico. Curativo exposto na face e no períneo. Restrinja o uso de antibiótico sistêmico profilático apenas às queimaduras potencialmente colonizadas e com sinais de infecção local ou sistêmica. Evite o uso indiscriminado de corticosteroides por qualquer via. As queimaduras circunferenciais em tórax podem necessitar de escarotomia para melhorar a expansão da caixa torácica. A reposição volêmica hospitalar utiliza-se a fórmula de Parkland: 1-Primeiras 24 horas: Ringer Lactato: 4ml x peso(kg) x %S.CQ. ½ administrada em 8 horas. 2 – “Segundas” 24 horas Soro glicosado e albumina. A conduta a ser adotada – cirúrgica ou expectante (tratamento com curativos) depende do grau da queimadura. Os curativos devem ser trocados diariamente nas queimaduras de maior profundidade. Queimaduras superficiais não contaminadas podem ser mantidas ocluídas por dois dias ou mais. Medicina de emergência – USP CARTILHA PARA TRATAMENTO DE EMERGÊNCIA DAS QUEIMADURAS - 2012
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