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Semiologia da Dor 
 
A dor é o sintoma mais comum da prática médica. Por definição da Associação Internacional para 
Estudos da Dor (AIED), “dor é uma desagradável experiência sensorial e emocional associada a uma 
lesão tecidual já existente ou potencial, ou relatada como se uma lesão existisse”. 
 
Um médico que não domina a dor é um profissional incompleto. Se a patologia causadora não for 
tratável, deve-se realizar o manejo da dor com cuidados paliativos. Esses cuidados vão além da 
analgesia, englobando a qualidade de vida do paciente e sua capacidade de conviver com seus 
familiares e com as outras pessoas. 
 
A dor é um mecanismo de defesa do organismo, pois ela alerta para uma lesão tissular. Porém, em 
portadores de dor crônica, não há uma lesão aparente referida ao local dolorido, estando o problema 
nos nervos periféricos ou no SNC. Então a dor passa a ser uma ameaça ao bem-estar do paciente. 
 
O princípio básico para se tratar a dor é acreditar no relato do paciente. Deve-se entendê-la como um 
fenômeno subjetivo, cuja resposta e comunicação são influenciados por vários fatores. Alguns pacientes 
têm dificuldade em interpretar e comunicar sua dor e sentimentos, embora tenham vontade de 
expressá-los. Já outros, intencionalmente ou não, reduzem ou aumentam a quantidade ou qualidade da 
dor sentida. 
 
Considera-se, então, que a dor possui dois componentes: um discriminativo ou nociceptivo, que permite 
ao paciente perceber a localização, a intensidade e o tipo de dor; e um componente afetivo, que é a 
resposta comportamental de proteção e escape ao estímulo. 
 
Os estímulos dolorosos, que podem ser elétricos, mecânicos (pressão), térmicos (< 18ºC ou > 43ºC) ou 
químicos (bradicinina, 5-HT, PGs, ATP), devem ser capazes de excitar os nociceptores (terminações 
nervosas livres). Os impulsos decorrentes da despolarização dos nociceptores propagam-se por fibras 
amielínicas C (qualquer estímulo) e mielinizadas A (estímulos mecânicos). As fibras C conduzem 
estímulos de dor difusa, de início lento e duração longa, sendo marcante o componente emocional. Já 
as fibras A conduzem estímulos de dor aguda, localizada e de curta duração. O componente 
emocional é fraco. 
 
A queixa de dor que leva o paciente a procurar o médico é uma experiência única para ele e a diferença 
de percepção e tolerância entre os dois pode dificultar a avaliação. O limiar de dor e a tolerância podem 
ser alterados por vários fatores como idade, sexo, nível sócio-cultural, ciclo circadiano e fadiga. Na 
anamnese deve-se tentar a caracterizar a dor relatada, considerando: localização, caráter ou tipo, 
intensidade, duração, evolução, relação com funções orgânicas, irradiação, fatores desencadeantes ou 
agravantes, fatores que aliviam e manifestações associadas. 
 
Localização: Onde dói? 
 
O local é importante, pois está relacionado à patologia: 
- Dor somática superficial: bem localizada (pele) 
- Dor somática profunda: é mais aguda que a dor visceral. Ocorre no peritônio parietal, dor à 
palpação local. Ocorre também nos tendões, articulações e fáscias. 
- Dor visceral: desencadeada por isquemia, distensão ou estiramento e contração excessiva do 
músculo liso. É vaga, difusa e mal localizada. O tipo de dor varia com a víscera acometida. Ex.: 
no coração é sentida como “aperto” na região retroesternal (posição embriológica), na pleura, 
como “fincada”. 
- Dor irradiada: é sentida à distância de sua origem, podendo ser devida a compressão de raiz 
nervosa. Exemplo típico é a dor ciática, comum na hérnia de disco. A dor é percebida no 
território inervado pela raiz nervosa comprimida. 
- Dor referida: dor visceral (ou somática) percebida em áreas cutâneas distantes de sua origem. 
Isso ocorre porque há confluência neuronal das vias aferentes cutâneas e profundas em um 
mesmo segmento. Por exemplo, a dor do infarto do miocárdio pode ser sentida na face interna 
do braço e antebraço esquerdo, até a face medial do dedo mínimo. 
- 
Caráter ou tipo: Como dói? 
 
- Pungitiva ou em pontada: lembra sensação desencadeada por objeto pontiagudo (dor pleurítica) 
- Em queimação: lembra sensação decorrente de estimulação por calor intenso (úlcera péptica) 
- Pulsátil: que pulsa, como as enxaquecas. 
- Dor em cólica: acompanha sensação de torcedura. Tem início súbito. (cólica intestinal) 
- Dor surda: contínua, com sensações imprecisas (dor lombar). 
- Constritiva: sensação de “aperto”, opressão (angina do peito). 
- Lancinante: como uma incisão (dissecção do aneurisma da aorta) 
- 
Intensidade: Quanto dói? 
É uma tentativa de mensuração, visto que é muito variável para cada pessoa. Quatro escalas são as 
mais usadas: 
- Escala adjetiva ou de descrição verbal: o paciente escolhe uma palavra que melhor descreve 
sua dor (nenhuma dor, dor leve, dor moderada, dor intensa, a pior dor que poderia existir) 
- Escala numérica: O paciente é solicitado a escolher, entre 0 e 100, um número que melhor 
represente a intensidade da sua dor. 
- Escala visual analógica (EVA): O paciente é solicitado a indicar com o dedo, numa régua 
milimetrada, a intensidade da dor. Não funciona com idosos, crianças, cegos e pacientes 
sedados. 
- Escala de faces: muito usada na pediatria. O paciente escolhe dentre as faces a que melhor 
caracterize seu sintoma. 
- 
Evolução: A freqüência aumentou? 
É a sua relação com o tempo. Se a dor é cíclica ou contínua, qual a freqüência, se apresenta episódios 
de exacerbação e acalmia. 
 
Duração: Quando aconteceu a primeira vez? Quanto tempo dura? 
 
Tempo decorrido entre o início da dor até a consulta. Importa, nas dores cíclicas, a duração dos 
episódios e o intervalo de tempo entre eles. Duração maior que seis meses caracteriza dor crônica. 
 
Relação com funções orgânicas: relação da dor com estruturas próximas. Por exemplo, dor torácica  
investiga-se movimentos respiratórios ou tosse. 
 
Irradiação: investiga-se a localização de origem 
 
Fatores desencadeantes e agravantes: fatores como esforço físico, ingestão de alimentos ou 
medicamentos, emoções, bem como as funções orgânicas podem precipitar ou intensificar a dor. 
 
Fatores que aliviam: O que fez para melhorar? 
Pesquisa-se posições ou manobras que o paciente assume para obter alívio, uso de analgésico e a 
tentativa de provocar vômitos. 
 
Manifestações associadas: pesquisa-se a ocorrência de vômitos, sudorese, palidez, hematúria... 
 
Referências bibliográficas: 
CRAVEIRO M, TÓFANI GP. Dor. In: LÓPEZ M, LAURENTYS J. Semiologia Médica. 4. ed. Rio de 
Janeiro, Revinter.2001. 
PORTO CC. Exame Clínico. 3. ed. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan. 1996.

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