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1 Estatística Vital e Sistemas de Informação em Saúde Unidade II Profa. Dra. Milena Baptista Bueno 2 6. SISTEMAS DE INFORMAÇÃO EM SAÚDE (SIS) A tomada de decisão para a definição de políticas de saúde gera consequências não somente nas condições de saúde de uma população, mas podem afetar outras áreas como economia, trabalho, habitação, transporte, cultura, lazer, educação e assistência social. Desta maneira, há necessidade de que as mudanças sejam baseadas em uma analise critica da realidade, com dados fidedignos, contemplando a magnitude que uma decisão pode acarretar para toda a população em diversos aspectos. A coleta sistemática de dados vitais no Brasil iniciou em 1976, por iniciativa do Ministério da Saúde. Neste mesmo ano, adotou-se um modelo único de declaração de óbito em todo território nacional a fim de padronizar a coleta deste dado para posterior analise. Este documento abastece o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), o sistema mais antigo ainda existente no país. Sistemas de Informação em Saúde (SIS) constituem-se em um conjunto integrado de componentes para a coleta, processamento, análise e divulgação da informação. Os sistemas de informação em saúde são instrumentos padronizados de monitoramento e coleta de dados que têm como objetivo o fornecimentos de informações para análise e melhor compreensão de importantes problemas de saúde da população, subsidiando a tomada de decisões nos níveis municipal, estadual e federal (MINAS GERAIS, 2020). A figura 1 sintetiza as finalidades dos sistemas avaliativos em saúde. Figura 1- Finalidades da avaliação de programas e condições de saúde. Fonte: Próprio autor Os sistemas são informatizados, facilitando o acesso e tornando o processo mais ágil. O avanço tecnológico nos últimos anos propiciou o aperfeiçoamento destes sistemas, pois a internet possui alto poder de conexão entre instituições Aprimoramento do Sistema Único de Saúde Apoiar a tomada de decisão Divulgação dos dados para a sociedade Produzir conhecimento 3 geograficamente distantes. A partir de 1990, os diversos SIS passaram a ser mais integrados. Os profissionais de saúde utilizam parte do seu tempo diário para a comunicação interpessoal, seja escrita ou oral, a fim de trocar informações e experiências que subsidiam decisões. Estima-se que os médicos usam cerca de 38% e o enfermeiros 50% do seu tempo escrevendo. Ainda, 35% e 39% dos custos de um hospital são devido a comunicação entre os profissionais e destes com pacientes. No total, 12 a 45% do custo em saúde é atribuído aos custos associados com o manejo da informação [...] Informação é a essência da profissão. Os profissionais de saúde precisam de informação para poder exercer o processo de cuidado, de gerenciamento e de avaliação (MARIN, 2010, p.22). A capacitação dos profissionais de saúde para os padrões de registro, documentação e processamento dos dados é imprescindível para a obtenção de resultados confiáveis. Agentes comunitários, médicos e equipes de enfermagem que, em geral, são os responsáveis pela coleta de dados para posterior inserção nos sistemas informatizados, devem estar conscientizados sobre a importância de todo o processo envolvido nos SIS. Dados inseridos nos SIS que não correspondem à realidade terão resultados que subsidiarão decisões que não serão eficientes. Informações coletadas que são desprezadas durante o processo de compilação e analise de dados (devido à implausibilidade do dado) também trazem prejuízos ao sistema pelo tempo e recursos dispensados que não serão aproveitados para a finalidade proposta. [...] o uso de computadores e sistemas computacionais deve ser empregado de forma a diminuir as chances de ocorrência de erros. Assim, deve-se poder contar com sistemas de informação que façam que sejam mais fácil realizar as ações de forma correta [...] Sendo as máquinas dependentes e passíveis de controle e predição, é de se esperar que sistemas desenvolvidos com esta finalidade, sejam uma grande valia para o aumento da qualidade no desempenho das atividades humanas [...] (MARIN, 2010, p.23). A Politica Nacional de Informação e Informática (PNIIS), estabelecido pelo Ministério da Saúde, tem o propósito de: [...] promover o uso inovador, criativo e transformador da tecnologia da informação a fim de melhorar os processos de trabalho em saúde e, assim, resultar em um Sistema Nacional de Informação em Saúde (SNIS) articulado e que produza informações para os cidadãos, a gestão, a prática profissional, a geração de conhecimento e o controle social, garantindo ganhos de eficiência e qualidade mensuráveis através da ampliação de acesso, equidade, integralidade e humanização dos serviços de saúde, contribuindo, dessa forma, para a melhoria da situação de saúde da população (BRASIL, 2016, p.11). A PNIIS foi estabelecida devido à falta de padronização de procedimentos para obtenção e tratamento dos dados em saúde, a heterogeneidade de sistemas não integrados, a insuficiência de recursos para estabelecimento e manutenção dos 4 SIS, falta de qualificação profissional nesta área e alinhamento às ações e estratégias internacionais em tecnologia da informação e informática em saúde. O acesso gratuito a informação de saúde não é restrita ao gestor, tem este direito também usuários do sistema de saúde, profissionais de saúde, pesquisadores, prestadores de serviços em saúde e toda sociedade. Atualmente, no país, há diversos SIS já implantados que contemplam os níveis primário, secundário e terciário de atenção a saúde. É possível dividir os SIS em: Sistemas de Informações Epidemiológicas: Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM); Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC); Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). Sistemas de Informações Assistenciais (produção de serviços): Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS); Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS (SIA/SUS); Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica (SISAB). Sistemas de Informações para monitoramento de condições e programas em saúde específicos: Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunização (SI-PNI); Sistema de Informações em Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN); Sistema do Programa Nacional de Controle de Dengue (SISPNCD); Sistema de acompanhamento do programa de humanização no pré natal e nascimento (SISPRENATAL); Sistema de Informações do Câncer (SISCAN); Sistema de Monitoramento do Programa Academia da Saúde. No Brasil, desde 1991, o Departamento de Informática do SUS (DataSus) é responsável por desenvolver, pesquisar e incorporar tecnologias aos SIS. Também tem como responsabilidade regulamentar e avaliar as ações de informatização do SUS, provendo o suporte em informática necessário para o processo de planejamento, operação e controle. Os SIS se modificam ao longo do tempo devido a evolução tecnológica, avanço do conhecimento, aperfeiçoamento do gerenciamento e demandas epidemiológicas de uma sociedade. Além disso, o condicionamento do repasse financeiro federal destinado à área da saúde para outras esferas de governo aumentou a adesão dos estados e municípios para a coleta e consolidação de dados epidemiológicos e operacionais dos diversos SIS existentes. Assim, seguindo a diretriz de descentralização do Sistema Único de Saúde, as responsabilidades para a gestão e operacionalização dos SIS são compartilhadas entre as três esferas de governo. 6.1- Dados, informações e geração de conhecimento Ter acesso a dados pertinentes e confiáveis não representa que as decisões sempre serão corretas. Dados são a base para a obtenção da informação, no entanto a interpretação dos valores obtidos depende de sentimentos, intuições, pressupostos, conhecimentos prévios entre outros fatores do pesquisador,gestor ou profissional de saúde que analisa tais valores. A combinação de dados produz informações, ou seja, são acrescidos de significados contextualizados ao momento. O conjunto de informações contribui para o processo de reflexão e analise crítica e, se utilizado de forma correta, produzirá conhecimentos e benefícios para a população (Figura 2). 5 Figura 2 – Relação entre dados, informação e conhecimento. Fonte: SEMIDIÃO (2013). Sem dados processados não há informação e sem informação não há a construção de novos conhecimentos. O dado deverá ser válido (capaz de mensurar o que se pretende), confiável, ter sensibilidade para mensurar as alterações do fenômeno e especificidade para medir apenas o fenômeno de interesse. Um instrumento de coleta de dados simples, rápido e de fácil compreensão diminuirá o risco de erros durante a coleta e processamento do dado. A organização da produção de conhecimento pode ser sistematizada da seguinte maneira: - Coleta de dados: geração e registro dos dados; - Processamento de dados: codificação, padronização, digitação, analise de erros e inconsistências (validação), armazenamento e recuperação de dados. - Produção e disseminação da informação: analise estatística dos dados, cálculo de indicadores e divulgação dos resultados por diversos meio de comunicação para toda a sociedade. A retroalimentação consiste na apresentação das informações às fontes produtoras, valorizando a sua contribuição no processo estabelecido para obtenção dos dados. Para a definição dos dados a serem coletados, deve-se considerar as seguintes questões: - Qual a relevância dos dados coletados para a sociedade? - Quais órgãos, entidades ou áreas envolvidas no processo de geração de conhecimento e quais suas responsabilidades? - Qual será o fluxo e periodicidade da coleta de dados? - É necessário um sistema de informações com coleta de dados permanente ou a coleta pode ser feita por um estudo pontual? Conhecimento Informação Dados 6 1ª via (branca) • Secretaria de Vigilância em Saúde*. 2ª via (amarela) • Cedida para o representante da família do falecido que a utilizará para a obtenção da certidão de óbito. • Via arquivada no Cartório de Registro Civil. 3ª via (rosa) • Arquivada no prontuário médico da unidade notificadora (Estabelecimento de saúde, Instituto Médico Legal (IML) ou Seviço de Verificação de óbitos (SVO))*. 7. SISTEMAS DE INFORMAÇÕES EPIDEMIOLÓGICAS 7.1. Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) A declaração de óbito (DO) é o documento padrão para a coleta de informações sobre mortalidade, sendo a origem dos registros que contemplam o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM). A certidão de óbito é outro documento obtido nos Cartórios de Registro Civil, elaborado a partir de dados da DO. No início do século XX, a Organização Mundial de Saúde recomendou um modelo padrão de declaração de óbito a ser utilizado nos diversos países. No Brasil, desde 1976 há um modelo único de DO utilizado em todo o território nacional. A Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) nas três esferas de governo (federal, estadual e municipal) é o órgão responsável pela gestão do SIM. A DO é distribuída pelo órgão federal às secretarias estaduais e municipais de saúde, que devem distribuir este documento para os estabelecimentos de saúde, Institutos Médicos Legais, Serviço de Verificação de Óbito e outras instituições que o utilizam. A digitação e consolidação de dados da DO no SIM é de responsabilidade da SVS municipal ou estadual. Todo óbito por causa natural, acidental ou violenta ocorrido em qualquer estabelecimento de saúde, domicílios ou outros locais deve ter DO preenchido. O médico tem a responsabilidade legal e ética do correto preenchimento da DO, com exceção de regiões que não tenha este profissional. Também deverá ser emitida a DO em óbitos fetais com gestação igual ou superior a 20 semanas ou feto com peso igual ou superior a 500 g e/ou estatura igual ou superior a 25 cm. Se a criança nascer com sinais vitais e morrer logo após o nascimento, independente da idade gestacional e tempo que tenha permanecido viva, deverá ser elaborada a DO. A DO tem sequência numérica única impressa no cabeçalho, controlada pela SVS do Ministério da Saúde, preenchida em três vias, sendo que cada via tem finalidade e fluxo diferenciado, como apresentado na figura 3. Figura 3- Destino de cada via da declaração de óbito. * Em localidades sem médico, esta via fica arquivada no Cartório de Registro Civil para posterior coleta por órgãos municipais ou estaduais. Fonte: BRASIL, 2011a. 7 Causa imediata e terminal Causa(s) intermediária(s) Causa básica Outros estados patológicos que contribuíram para a morte, não estando relacionados com o estado patológico que a causou Óbitos de causas naturais ocorridos fora dos estabelecimentos de saúde, mas com a assistência médica, o médico deverá entregar a primeira e terceira vias para a secretaria municipal de saúde. No caso de óbitos por causas naturais em locais sem assistência médica prestada por estabelecimentos de saúde, mas que tenham o Serviço de Verificação de Óbitos (SVO), o médico deste órgão será o responsável pela emissão da DO. Em locais onde não haja médicos, o declarante que assistiu ou verificou o óbito por causas naturais, acompanhado de duas testemunhas, deverá comparecer ao Cartório de Registro Civil para preenchimento da DO. Óbitos por causas acidentais ou violentas terão DO emitida pelo Instituto Médico Legal (IML) ou, caso não tenha este instituto, pelo perito designado para esta função. A criação do Serviço de Verificação de Óbitos (SVO) é uma estratégia para diminuir a ocorrência de óbitos por causas naturais notificadas na DO como causa mal definida, pois buscam esclarecer o diagnóstico que ocasionou a morte após autópsia realizada por médico legista. A DO é dividida em nove blocos com preenchimento obrigatório (Anexo 1), como mostra a figura 4. Figura 4- Blocos de informações presentes na DO. I. Identificação do falecido II. Residência do falecido III. Ocorrência do óbito IV. Específico para óbitos fetais e de menores de um ano V. Condições e causas do óbito VI. Dados do médico que assinou a DO VII. Causas externas VIII. Dados do cartório IX. A ser utilizado em localidade onde não exista médico Fonte: BRASIL, 2011a. O bloco V deve ser preenchido para qualquer tipo de óbito, fetal ou não fetal. Há um campo especifico para a identificação de óbito materno (durante a gestação, parto ou pós parto), que deve ser preenchido para o óbito de todas as mulheres em idade fértil (10 a 49 anos). A correta identificação da causa de morte (Figura 5) esta diretamente associada à qualidade da informação gerada pelo Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM). Figura 5- Anotação das condições e causas do óbito na DO. Fonte: BRASIL, 2011a. 8 A causa básica de morte é definida como “doença ou lesão que iniciou a cadeia de acontecimentos patológicos que conduziram diretamente a morte ou as circunstâncias do acidente ou violência que produziram a lesão fatal” (BRASIL, 2011, p. 30). Também é necessário anotar na DO o tempo aproximado entre o início da doença e a morte e o número do CID (Classificação Internacional de Doenças e Problemas relacionados à Saúde). Por ser um sistema universal baseado em um documento padronizado, os dados obtidos na DO tem confiabilidade relativamente boa e permite a elaboração de indicadores de saúde sobre mortalidade para a comparação entre localidades e tendência temporal. No entanto, há limitações referentes ao sub registro, preenchimento inadequado da DO e acentuado número de óbitos por causas mal definidas. Em 2015, estima-se que o sub registro de óbitos no Brasil foi de 5,7%, sendo maior em estados das regiões norte e nordeste (OLIVEIRA,2018). Ressalta- se que a qualidade deste dado melhorou ao longo do tempo, portanto dados atuais são mais precisos do que os coletados no passado. 7.2. Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (SINASC) O Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (SINASC) foi implantado gradativamente no país a partir de 1990, sendo gerenciado pela Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde, com a participação das secretarias estaduais e municipais de saúde. É de responsabilidade dos municípios a distribuição da declaração de nascidos vivos (DNV) nos estabelecimentos de saúde e Cartórios de Registro Civil. Profissionais de saúde que realizam parto domiciliar, como parteiras, enfermeiros e médicos, poderão ter acesso a DNV desde que cadastrados pela Secretaria Municipal de Saúde. A DNV é preenchida em três vias pré numeradas sequencialmente. Toda criança nascida, por imposição legal, deve ter a DNV que fundamentará a emissão da certidão de nascimento, documento de identificação obrigatório emitido gratuitamente e de forma universal pelo Cartório de Registro Civil. Todo nascimento que ocorrer no território nacional deverá ser registrado no cartório até quinze dias após o parto. Este prazo amplia-se para três meses pós parto em nascimentos que ocorreram em locais com mais de trinta quilômetros de distância do cartório. Nascido vivo é definido como: A expulsão ou extração completa do corpo da mãe, independente da duração da gestação, de um produto de concepção que, depois da separação, respire e dê qualquer outro sinal de vida, tais como batimentos do coração, pulsações do cordão umbilical ou movimentos efetivos dos músculos de contração voluntária, estando ou não desprendida a placenta. Cada produto de um nascimento que reúna essas condições se considera como uma criança viva (BRASIL, 2011b, p.25). Em caso de gestação múltipla, deverá ser preenchida uma DNV para cada produto da gestação. Para nascidos mortos, independente do tempo gestacional, deve ser preenchida apenas a declaração de óbito. O fluxo das três vias da DNV para partos que ocorrem nos hospitais esta demonstrado na figura 6. 9 1ª via (branca) • Mantida no estabelecimento de saúde até ser coletada pelos orgãos estaduais ou municipais responsáveis pelo SINASC. 2ª via (amarela) • Cedida para pais/responsáveis pela criança que utilizará esta via para a obtenção da certidão de nascimento. • Via arquivada no Cartório de Registro Civil. 3ª via (rosa) • Arquivada no prontuário médico do estabelecimento de saúde. Figura 6- Fluxo de cada via da declaração de nascidos vivos em partos hospitalares. Fonte: BRASIL, 2011b. Em partos domiciliares, a terceira via será retida no cartório caso seja lá registrado o nascimento ou mantida no estabelecimento de saúde em que houve o registro desta ocorrência. Nas Secretarias Municipais de Saúde (SMS), as DNV são digitadas, processadas, criticadas e consolidadas no sistema. Estes dados são repassados para o sistema estadual, que agrega os diversos dados municipais e os envia para o sistema federal. A DNV é dividida em sete blocos (Anexo 2), como mostra figura 7. Figura 7- Blocos de informações contidos na DNV. I. Informações do cartório II. Local do parto III. Dados maternos IV. Dados da gestação e do parto V. Dados do recém nascido VI. Impressão digital da mãe e do recém nascido VII. Dados do responsável pelo preenchimento da DNV Há sub registros de nascidos vivos, principalmente em áreas rurais e mais isoladas do país. Em alguns casos, as famílias buscam este documento tardiamente, como por exemplo, no momento da matrícula escolar em que é obrigatória a apresentação. O sub registro de nascidos vivos, assim como de óbitos, esta relacionado a pobreza, exclusão social e distância das residências dos Cartórios de Registro Civil. Desde 1997, a primeira via de certidões de nascimento e óbito é gratuita, fato que auxiliou na diminuição do sub registros. A instalação de unidades especificas para emissão de certidões de nascimento nas maternidades também esta associada ao aumento da emissão deste documento. Estima-se que a notificação de nascidos vivos no país foi de 63,8% em 1991 (sendo menor nas regiões norte e nordeste) e 96,6% em 2015 (OLIVEIRA, 2018). Com os dados disponíveis no SINASC é possível calcular indicadores de saúde, como taxa de natalidade e fecundidade, que subsidiarão a definição de politicas relacionadas à saúde da mulher e da criança. 10 7.3. Sistema Nacional de Agravos de Notificação (SINAN) Desde o inicio do século XX, já existia a necessidade de profissionais de saúde informarem às autoridades sanitárias a existência de doenças que representem ameaça para a saúde pública, a fim de que ações de controle e prevenção pudessem ser implementadas. O Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica, instituído em 1975 pelo Ministério da Saúde, estabeleceu a obrigatoriedade da notificação de algumas doenças. No entanto, apenas em 1990 foi criando o Sistema Nacional de Agravos de Notificação (SINAN), implantado gradativamente a partir de 1993. Segundo a portaria de consolidação 14/2017 do Ministério da Saúde, define- se por notificação compulsória: [...] comunicação obrigatória à autoridade de saúde, realizada pelos médicos, profissionais de saúde ou responsáveis pelos estabelecimentos de saúde, públicos ou privados, sobre a ocorrência de suspeita ou confirmação de doença, agravo ou evento de saúde pública, descritos no anexo, podendo ser imediata ou semanal (BRASIL, 2017, Seção I, Art. 2º, Item VI). Desta maneira, deve-se notificar o caso mesmo que ainda seja suspeita da doença ou evento. A notificação é sigilosa, devendo ser divulgada fora do âmbito clínico-sanitário se for considerada risco para a comunidade, respeitando o direito de anonimato do paciente. Historicamente, as doenças com notificação obrigatória eram as transmissíveis. Atualmente, outras doenças e agravos à saúde foram inclusas na listagem nacional, tais como intoxicação, acidentes de trabalho, acidente por animal peçonhento e casos de violência doméstica ou sexual. A listagem de doenças e agravos a saúde com notificação compulsória mais recente foi publicada pela portaria de consolidação 04/2017 do Ministério da Saúde (BRASIL, 2017), com 48 doenças ou agravos (Anexo 3). A Ficha de Identificação de Notificação é padronizada para cada doença ou agravo à saúde e deve ser preenchida pelo profissional de saúde para cada caso confirmado, suspeita ou notificação negativa. Periodicamente, o Ministério da Saúde atualiza a listagem nacional de doenças e agravos à saúde com notificação compulsória aos órgãos governamentais responsáveis. Municípios e estados podem incluir outros eventos relacionados a saúde, de acordo com as necessidades locais. A figura 8 mostra o fluxo de informações do SINAN. 11 Figura 8 – Fluxo de informações de doenças ou agravos à saúde com notificação compulsória. * Caso o município não disponha de infra estrutura e outros recursos necessários, os dados são encaminhados para regionais de saúde. Fonte: BRASIL (2009) Há situações de notificação semanal ou imediata (realizada em até 24h) a partir do atendimento da ocorrência. Caso não seja identificado nenhum evento listado no Anexo 3, o responsável pelo estabelecimento de saúde deve realizar a notificação compulsória negativa à autoridade de saúde. Os critérios utilizados para a seleção dos eventos relacionados à saúde que deverão ser inseridos ou mantidos na listagem nacional de notificação compulsória estão mostrados na figura 9. Neste processo de seleção, não há a necessidade da doença ou agravo á saúde atender a todos estes critérios. Figura 9- Critérios para seleção de doenças e agravos a saúde inseridas (ou mantidas) na listagem de notificação compulsória. Critério Definição MagnitudeElevada frequência (incidência, prevalência, mortalidade, anos perdidos de vida) Potencial de disseminação Referente a transmissibilidade da doença. Transcendência Conjunto de fatores: severidade (letalidade, hospitalização e sequelas); relevância social (estigmatização dos doentes, medo) e econômica (absenteísmo, custos de tratamentos, entre outros). Vulnerabilidade Doenças para as quais existem instrumentos específicos de prevenção e controle. Compromissos internacionais Acordos entre países. Epidemias, surtos e agravos inusitados Referente a situações emergenciais, independente do tipo de agente etiológico. Fonte: BRASIL (2009). Hopitais Unidades ambulatoriais Secretaria municipal de saúde* Secretaria estadual de saúde Ministério da saúde Outras unidades notificadoras 12 O conjunto de dados sobre morbidades e agravos notificados, embora com limitações referentes à cobertura e à qualidade, possibilita o conhecimento da situação epidemiológica de uma região e medidas coletivas poderão ser implantadas, se necessário. Ressalta-se que a analise destes dados deve ser cautelosa devido a subnotificação existente. O desafio para a obtenção de dados com maior validade e confiabilidade depende de recursos, capacitação e sensibilização de profissionais de saúde, além de estratégias operacionais nos serviços de saúde para que a notificação não interfira no fluxo de ações assistenciais. 8. SISTEMAS DE INFORMAÇÕES ASSISTENCIAIS Os sistemas de informações assistências coletam e processam dados referentes a descrição de cada caso, gerando informações para a análise da situação epidemiológica em determinada área e população, assim como dados operacionais, relevantes para a o gerenciamento e repasse de recursos financeiros às diversas instituições de saúde. Entre os sistemas de informações assistenciais destacam-se o Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS); Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS (SIA/SUS); Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica (SISAB). Em 1981, a implantação do Sistema de Assistência Médico-Hospitalar da Previdência Social (SAMHPS) teve como propósito auxiliar o gerenciamento de repasse de recursos financeiros às unidades hospitalares privadas contratadas. Posteriormente, em 1987, foi ampliada a abrangência para hospitais filantrópicos, universitários e públicos (municipais, estaduais e federais). Em 1991, com a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS), o sistema foi renomeado para Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS) (SANTOS, 2009). O instrumento de coleta de dados do SIH/SUS é a AIH (Autorização de Internação Hospitalar), emitida pela secretaria estadual de saúde, com série numérica única. Mensalmente, os estabelecimentos hospitalares que fazem parte do SUS devem enviar os registros de AIH aos órgãos públicos responsáveis (secretaria municipal ou estadual) para obterem o ressarcimento das despesas médicas geradas pelos pacientes internados. Semelhante ao SIH/SUS, o SIA/SUS foi estabelecido em 1992 com o objetivo de ressarcir despesas médicas advindas de atendimentos ambulatoriais realizadas em estabelecimentos credenciados ao SUS. Os dados cadastrados no SIH/SUS e SIA/SUS também possibilitam estudos sobre o perfil de morbi-mortalidade de pacientes atendidos. Em 1993, o Sistema de Informação do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (SIPACS) foi criado a fim de monitorar o Programa de Agentes Comunitários. Em 1998, foi renomeado para Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB) devido à implantação do Programa Saúde da Família. Desde 2013, é denominado como Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica (SISAB) e tem o objetivo de avaliar ações desenvolvidas por programas e estratégias previstas na Política Nacional de Atenção Básica, com ênfase na Estratégia Saúde da Família (ESF). Para isso, o SISAB contempla informações sobre as famílias cadastradas nos programas e estratégias (dados demográficos, condições de saúde, habitação e saneamento) além da composição das equipes de saúde e ações realizadas. O 13 SISAB é o sistema vigente utilizado para gerenciamento de repasses financeiros do Ministério da Saúde para o órgão público municipal. Criado em 2000, o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) integra informações de unidades de saúde em todo território nacional, independente de estarem cadastradas ao SUS, sobre recursos físicos e humanos existentes, auxiliando o planejamento em saúde. O CNES está integrado á outros SIS, tais como o Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS) e Sistemas de Informações Ambulatoriais do SUS (SIA/SUS). 9- SISTEMAS DE INFORMAÇÕES PARA MONITORAMENTO DE PROGRAMAS E CONDIÇÕES DE SAÚDE ESPECÍFICAS. A avaliação sistemática dos resultados de programas públicos é parte essencial do processo, a fim de aumentar a efetividade e a eficiência dos recursos investidos, principalmente em situações de crise fiscal em que é necessário decidir como serão direcionados os recursos financeiros. Ressalta-se que bons resultados de um programa não dependem somente de investimentos suficientes, mas também da capacidade de gerenciamento. Desta maneira, dados coletados sistematicamente sobre participantes de programas públicos e condições especificas de saúde da população são essenciais para avaliação e planejamento das ações. No entanto, o maior desafio é manter de forma atualizada e válida o cadastro dos dados, uma vez que a diversidade de sistemas não integrados promove uma maior necessidade de mão de obra qualificada e logística adequada para a coleta, crítica, digitação e analise dos dados. Atualmente, um dos principais programas de saúde com sistema específico de monitoramento e avaliação é o Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunização (SI-PNI), composto por subsistemas que contemplam dados de identificação dos usuários do programa, incluindo casos de reações adversas pós- vacinação, além de informações sobre estoque e distribuição de imunobiológicos. A figura 10 apresenta outros sistemas de informações de programas e condições de saúde especificas. Figura 10- Sistemas de informações de programas e condições de saúde específicas. Sistema Objetivos Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) Monitoramento do estado nutricional da população. Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade de Água (SISAGUA) Informações sobre a qualidade de água para consumo humano, proveniente de sistemas públicos e privados. Sistema de Acompanhamento da Gestante (SISPRENATAL) Acompanhamento das gestantes no Programa de Humanização do Pré Natal e Nascimento. Sistema de Informação do Câncer (SISCAN) Monitoramento e Avaliação do Programa Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero e de Mama. Sistema de Monitoramento do Programa Academia da Saúde Acompanhamento e apoio a implantação do Programa Academia da Saúde Sistema do Programa Nacional de Controle da Dengue (SISPNCD) Monitoramento das ações no combate ao mosquito Aedes Aegyptis. Fonte: Disponivel em: https://datasus.saude.gov.br/wp-content/uploads/2019/08/Catalogo-de- Produtos-DATASUS.pdf. Disponível em: 08 jun 2020. 14 10. FERRAMENTAS PARA ACESSO A DADOS A Rede Interagencial de Informações para a Saúde (RIPSA) foi estabelecida em 1996 pelo Ministério da Saúde em parceria com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS). Os objetivos da RIPSA são: 1) potencializar a utilização das bases de informação disponíveis para apoiar a construção do Sistema Único de Saúde; e 2) contribuir para a sistematização de dados e informações pelos países da Região das Américas, a partir da Iniciativa Regional de Dados Básicos em Saúde (RIPSA, 2020) No país, as fontes de informação em saúde são diversificadas, envolvendo as três esferas de governo (setores públicos de gestão em saúde e outros correlacionados),o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e outras instituições de ensino e pesquisa, associações técnico-cientificas e organizações não governamentais. A RIPSA otimiza o acesso ao conjunto de informações, independente da origem. O acesso público às informações em saúde da RIPSA ocorre pelo ambiente virtual do TabNet, ferramenta de tabulação dos dados dos Sistemas de Informações do Sistema Único de Saúde, desenvolvido pelo Departamento de Informática do SUS (DataSus). Permite o acesso a dados coletados pelos diversos SIS e inquéritos nacionais de saúde. Estão disponíveis estatísticas vitais (mortalidade e natalidade), além dos dados relacionados à morbidade, incapacidade, acesso a serviços, qualidade de atenção, condição de vida, demográficos, socioeconômicos e ambientais. Também são apresentados dados sobre a rede assistencial (ambulatorial e hospitalar) e de financiamento (Figura 11). Figura 11- Grupos de dados disponíveis para acesso no TabNet Tema Sistemas de informações em Saúde e outros dados disponíveis Indicadores de saúde (estatísticas vitais) e pactuações Mortalidade (SIM), nascimentos (SINASC) e indicadores de pactos pela saúde Assistência à Saúde e Rede Assistencial SIH/SUS, SIA/SUS, imunizações, saúde da família, CNES, Pesquisa de Assistência Médica Sanitária (AMS)) Epidemiológicas e Morbidade SINAN, SISVAN, SISC00AN Demográficas e Socioeconômicas CENSO Inquéritos e pesquisas Resultados de diversos inquéritos populacionais Saúde Suplementar Dados da rede suplementar de saúde disponibilizados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Recursos do SUS Recursos financeiros federais repassados a municípios GAP Guia de Autorização de Pagamentos Estatísticas de acesso ao TabNet Frequência de acesso as informações disponibilizadas Fonte: Disponivel em: https://datasus.saude.gov.br/informacoes-de-saude-tabnet/. Acesso em: 08 jun 2020. https://datasus.saude.gov.br/informacoes-de-saude-tabnet/ 15 Pelo TabNet é possível ter acesso a diversos indicadores de saúde segundo localidade e tempo. A tabela 1 mostra o coeficiente de mortalidade para doenças do aparelho circulatório segundo estados da região sudeste em 2011. Tabela 1- Coeficiente de mortalidade especifica por doenças do aparelho circulatório (óbito por 100.000 habitantes) na região sudeste. Brasil, 2011. Unidade da Federação CME para doenças do ap. circulatório (por 100.000 hab) Brasil 195,7 Minas Gerais 171,4 Espírito Santo 182,2 Rio de Janeiro 229,8 São Paulo 195,2 Fonte: Disponível em: https://datasus.saude.gov.br/informacoes-de-saude-tabnet/. Acesso em: 08 jun 2020. O TabWin é um programa disponível para download em ambiente Windows, que permite aos usuários utilizarem outros recursos de tabulação e analise dos mesmos dados disponíveis no TabNet. Após instalação do TabWin, a tabela elaborada no TabNet deve ser salva para posteriormente ser aberta no programa TabWin. 11. INQUÉRITOS EM SAÚDE Informações provenientes de SIS com coleta contínua e permanente de dados geram conhecimentos importantes para as finalidades propostas, mas são insuficientes para contemplar todas as necessidades para a gestão em saúde. Inquéritos de saúde são pesquisas populacionais representativas relevantes para o planejamento e avaliação de politicas públicas. No Brasil, há uma combinação de diferentes tipos de inquéritos de base populacional, responsáveis pela geração de um conjunto substancial de informações de saúde que [...] não são produzidos pelos sistemas de registro continuo (ANDRADE, NARVAI, 2013, p. 157). Os inquéritos nacionais populacionais buscam avaliar a assistência à saúde na percepção do usuário do sistema, assim como a coleta de dados referente a morbidades referidas e estilo de vida. Nos países desenvolvidos, os inquéritos de base populacional são utilizados desde a década de 1960, enquanto que, nos países em desenvolvimento, a aplicação de inquéritos para avaliação das políticas públicas é uma prática mais recente. No caso do Brasil, o Ministério da Saúde tem feito investimentos substanciais na área a partir dos anos 90 (SZWARCWALD, MONTEIRO, 2014, p.334). Nos últimos anos, o conhecimento cientifico sobre delineamentos de estudos populacionais assim como sobre instrumentos de coleta e analise de dados promoveu o aperfeiçoamento dos inquéritos, otimizando o investimento e a validade das informações. https://datasus.saude.gov.br/informacoes-de-saude-tabnet/ 16 Inquéritos populacionais são, em geral, estudos de corte transversal, diferenciados pela abrangência populacional, população alvo, conteúdos avaliados, tipo de dados coletados, forma de obtenção e periodicidade. As informações geradas por inquéritos devem ser complementares, sem sobreposição desnecessária as informações já obtidas pelos SIS que já existem com coleta de dados contínuos (BARROS, 2008). 11.1 – Inquéritos domiciliares No Brasil, desde a década de 1970, diversas pesquisas domiciliares foram realizadas, com amostras representativas do país ou grandes áreas nacionais, caracterizadas por logística complexa e grande tamanho amostral, o que as tornam caras e longas. Assim, a necessidade destas pesquisas e as metodologias adotadas devem ser cuidadosamente avaliadas e os resultados dos inquéritos devem ser efetivamente utilizados para o aprimoramento do planejamento de políticas públicas. Ressalta-se que inquéritos domiciliares não incluem população institucionalizada e indivíduos que vivem nas ruas (“moradores de rua”), portanto para estes segmentos populacionais são necessárias pesquisas especificas. A maioria das pesquisas nacionais representativas da população é operacionalizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), órgão responsável pelo sistema estatístico nacional, como o censo demográfico, que tem periodicidade de dez anos, aproximadamente, e consiste no levantamento de dados demográficos, socioeconômicos e caracteristicas do domicilio. Na metade do periodo intercensitário é feita a contagem da população atendendo a obrigação legal de fornecer estimativa do número de residentes em território nacional. Segundo o IBGE (2020), o censo demográfico: Constitui a principal fonte de referencia para o conhecimento das condições de vida da população em todos os municipios do País [...] O primeiro recenseamento da população do Brasil foi efetuada em 1808, visando atender especificamente a interesses militares, de recrutamento para as Forças Armadas (IBGE, 2020). Está prevista nova coleta de dados do Censo em outubro de 2020. É estimada uma amotra de 71 milhões de residências e o questionário básico será composto por 26 questões. Um questionário mais abrangente, com 76 questões, será aplicado em uma sub amostra, composta por 10% da amostra final (IBGE, 2020). A figura 12 mostra os principais inquéritos domiciliares que tiveram abordagem especifica sobre condições de saúde. A Pesquisa Nacional por Amostras Domiciliares (PNAD) era realizada anualmente nos periodos intercensitários, desde 1967, com amostra estratificada. Nas visitas domiciliares, pesquisava-se sobre caracteristicas relacionadas a educação, trabalho, rendimento e habitação. Informações sobre outros temas eram coletadas em suplementos especiais com periodicidade variável, de acordo com a necessidade. O levantamento de dados especificos sobre saúde ocorreu em 1986, 1988, 1998, 2003 e 2008, contemplando informações sobre a utilização de serviços de saúde, mobilidade física, realização de exames preventivos, uso de medicamentos de forma contínua, cadastramento no Programa Saúde da Familia, cirurgias recentes e alguns fatores de risco e proteção a saúde (atividade fisica, tabagismo, violência e trânsito) (IBGE, 2010; TRAVASSOS; VIACAVA; LAGUARDIA, 2008). A metodologia desta pesquisa foi modificada em 2015 e, atualmente, é 17 realizadaa PNAD Contínua, com periodicidade trimestral e cobertura territorial mais abrangente, porém com foco no mercado de trabalho (IBGE, 2020). Figura 12- Principais Inquéritos Domiciliares sobre condição de saúde. PESQUISA NACIONAL POR AMOSTRAS DOMICIALIRES (PNAD 1967-2015) PESQUISA NACIONAL SOBRE SAÚDE E NUTRIÇÃO (PNSN – 1989) PESQUISA SOBRE PADRÃO DE VIDA (PPV – 1996/97) PESQUISA NACIONAL SOBRE DEMOGRAFIA E SAÚDE DA CRIANÇA E DA MULHER (PNDS 1986; 1996; 2006) PESQUISA NACIONAL DE SAÚDE DO ESCOLAR (PeNSE 2009; 2015) PESQUISA DE ORÇAMENTOS FAMILIARES (POF 1987/88; 1995/96; 2002/03; 2008/09; 2017/18) PESQUISA NACIONAL EM SAÚDE (PNS 2013) Fonte: IBGE (2020);PINTO; FREITAS; FIGUEREDO (2018); BARROS (2008). Em 2009, teve inicio a primeira versão da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) com o intuito de analisar fatores de risco e proteção a saúde do adolescente matriculados em escolas públicas e privadas das capitais brasileiras. Foram coletados dados de alunos do nono ano do ensimo fundamental (13 a 15 anos) que responderam a um questionário abordando, entre outros fatores, o estilo de vida (alimentação, atividade fisica, uso de drogas licitas e ilicitas e consumo de bebidas alcoolicas); saúde sexual e reprodutiva; saúde bucal; saúde mental; exposição a acidentes e violência; estado nutricional. As demais versões da PeNSE ocorreram em 2013 e 2015, com modificações importantes no plano amostral (duas amostras contemplando faixas etárias diferenciadas de adolescentes). Atualmente, a PeNSE é parte integrante do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças e Agravos não Transmissíveis da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (OLIVEIRA et al., 2017). A última Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) foi realizada entre 2017 e 2018 e as edições anteriores foram em 1987/88, 1995/96, 2002/03 e 2008/09. Este inquérito domiciliar tem como intuito avaliar aspectos relacionados a estutura de consumo, gastos, rendimentos e variação patrimonial das familias, e desde a edição de 2002/03, também avalia fatores relacionados a qualidade de vida e estado nutricional. O Estudo Nacional da Despesa Familiar (ENDEF), realizado entre 1974 e 1975, antecedeu a POF. Na edição de 2002/03, a POF se tornou nacional (nas edições anteriores a coleta ocorreu apenas nas regiões metropolitanas) e peso e altura foram aferidos. A partir da edição de 2008/09 foram coletadas dados de consumo alimentar (recordatório de 24 horas) em uma subamostra de individuos acima de 10 anos (IBGE, 2020). A Pesquisa Nacional sobre saúde e nutrição (PNSN), realizada em 1989, teve foco na avaliação do estado nutricional. Já a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher (PNDS1986, 1996 e 2006) teve como objetivo identificar o perfil das mulheres em idade fértil (15 a 49 anos) e das crianças menores de cinco anos, considerando aspectos reprodutivos, assistência a gestante e ao parto; morbidades referidas; avaliação do estado nutricional e dosagens bioquimicas de vitamina A e ferro. Na ultima edição foram inclusas questões sobre 18 acesso a medicamentos e a segurança alimentar nos domicilios (acesso a alimentos em quantidade e qualidade) (BRASIL, 2020a). Em 2013 foi realizada a Pesquisa Nacional em Saúde (PNS), inquérito de base populacional com o objetivo de avaliar as condições de saúde do brasileiro, bem como o acesso aos serviços de saúde públicos e privados. Além de questionário com temas diferenciados relacionados a saúde (Figura 13), neste levantamento também ocorreu a aferição de pressão arterial, peso, altura e circunferência da cintura além da coleta de material biológico (sangue e urina) para analises laboratoriais. Este foi o primeiro inquérito de abrangência nacional com coleta de amostras biológicas para traçar o perfil de condições clinicas ou pré clinicas em uma sub amostra da população de estudo (IBGE, 2015). A coleta de sangue foi de 7 ml a qualquer hora do dia, sendo realizado os seguintes exames: hemoglobina glicada; colesterol total; LDL (método direto); HDL colesterol (método direto); hemograma; hemoglobina S e outras hemoglobinopatias; creatina; sorologia de dengue. A urina também foi coletada a qualquer hora do dia, sendo realizadas as dosagens de sódio, potássio e creatina (SZWARCWALD et al., 2014, p. 338). Figura 12 – Temas abordados no questionário da Pesquisa Nacional em Saúde (PNS). Brasil, 2013. Subdivisão do questionário Tema Domiciliar Informações do Domicilio Acompanhamento pela equipe Saúde da Familia Todos moradores do domicilio Caracteristicas gerais (educação, trabalho e rendimento) Pessoas com deficiências Cobertura de plano de saúde Utilização de serviços de saúde Saúde dos individuos com 60 anos ou + Cobertura de mamografia entre mulheres acima de 50 anos Condições de saúde especifica de crianças com menos de 2 anos Individual Percepção do estado de saúde Acidentes e violência Estilo de vida Doenças crônicas Saúde da mulher (acima de 18 anos) Atendimento pré natal Saúde bucal Fonte: SZWARCWALD et al.(2014); DAMACEMA et al (2015). Viacava e Bellido (2016) analisaram a serie histórica sobre condições de saúde e uso de serviços, considerando os dados provenientes dos suplementos de saúde da PNAD dos anos de 1998, 2003 e 2008 e a Pesquisa Nacional em Saúde de 2013. Apesar de independentes, os suplementos especiais da PNAD e a PNS tem subamostras calculadas da amostra mestra da PNAD continua, diminuindo o viés ao analisar dados temporais advindos destes dois inquéritos como representado na figura 13 (prevalência de diabetes auto referida segundo regiões brasileiras em 19 diferentes momentos, com dados baseados na PNAD (1998/2003/2008) e PNS (2013)). Figura 13- Distribuição percentual de individuos segundo prevalência de diabetes auto referida. Brasil, 1998/2003/2008/2013. Fonte: VIACAVA, BELLIDO (2016) 11.2- Inquéritos telefônicos O grande intervalo de tempo entre os inquéritos domiciliares sobre saúde e as modificações dos instrumentos de coleta de dados, objetivos e planejamento amostral dos estudos já realizados impõe, em alguns casos, limitações importantes para o uso destes dados no planejamento e avaliação em saúde. Entrevistas telefônicas constituem um método de menor custo e mais rápido para a obtenção de dados e, em geral, resultam em estimativas comparáveis às obtidas por inquéritos domiciliares. Estima-se que o custo da entrevista por telefone seja, aproximadamente, 25% do recurso financeiro necessário para a entrevista domiciliar. Nos Estados Unidos, desde 1981, inquéritos populacionais em saúde por telefone já são realizados pelo Centro de Controle de Doenças (CDC) (MOURA et al, 2008). Em 2003, foi implantado um sistema de monitoramento de fatores de risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) por entrevista telefônica. A amostra foi constituida por individuos maiores de 18 anos residentes no municipio de São Paulo com linha telefônica fixa no domicilio. Foi realizado um sorteio de linhas telefônicas fixas ativas, de forma sistemática e estratificada por região de moradia. A segunda etapa da amostragem foi o sorteio do morador que seria entrevistado, totalizando uma amostra final de 2.311 individuos, sendo que a taxa de recusa foi de 15,3% (similar a inqueritos domiciliares). O questionário utilizado era composto por 89 perguntas curtas, sendo a grande maioria com opções (categorias) para respondimento. O entrevistador já digitava as respostas em sistema próprio e as entrevistas, com a concordância do entrevistado, eram gravadas. Como há residências sem linha tefefonica fixa e, portanto, não foram inclusas no universo amostral, utilizou-se fatores de ajuste para as análises estatisticas, de acordo com caracaterisiticas da população deste municipio identificadas pelo Censo, a fim de aumentar a representatividade do estudo(MONTEIRO el al, 2005). 0 1 2 3 4 5 6 7 8 Norte Nordeste Sudeste Sul Centro Oeste Brasil % 1998 2003 2008 2013 20 O inquérito por telefone no município de São Paulo foi replicado em outras capitais (Belém, Florianópolis, Goiânia e Salvador) e, em 2006, originou o VIGITEL – Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico, implantado sob a responsabilidade da Secretaria de Vigilância em Saúde e da Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa, em parceria com o Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (NUPENS/USP), precursor desta metodologia. O Vigitel tem como objetivo: [...] o monitoramento contínuo da frequência e distribuição de fatores de risco e proteção para doenças crônicas em todas as capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal, apoiando-se, para tanto, na realização contínua de entrevistas telefônicas assistidas por computador em amostras probabilísticas da população adulta residente em domicílios servidos por linhas fixas de telefone de cada cidade (BRASIL, 2007, p.15). Ressalta-se que, em 2006, 66,4% dos domicílios nas 27 cidades envolvidas no VIGITEL tinham aparelho fixo, variando entre 33,7% em Macapá e 82,2% em Curitiba. O percentual de linhas telefônicas fixas é mais baixo em cidades com menor desenvolvimento econômico e entre famílias pertencentes a estratos socioeconômicos menos favorecidos (BRASIL, 2007). Para obter estimativas populacionais corrigidas, ao menos parcialmente, pela não cobertura universal de domicílios com telefone fixo, na analise dos dados emprega-se fatores de ponderação que igualam a composição sociodemográfica da amostra em cada cidade àquela observada no Censo (MOURA et al., 2008). O processo de construção do questionário considerou experiências internacionais e nacionais em inquéritos por telefone e, em 2006, a média de tempo para finalização da entrevista foi de 7,4 minutos (BRASIL, 2007). Já em 2019, a média de tempo para responder ao questionário foi 12 minutos, variando de 4 a 58 minutos (BRASIL, 2020c). O figura 14 mostra os temas abordados nos questionários dos inquéritos telefônicos do VIGITEL. Figura 14- Temas das questões abordadas no VIGITEL. Características Dados Demográficas e socioeconômicas Idade, sexo, estado civil, etnia, escolaridade, número de pessoas e cômodos do domicilio. Estilo de vida Frequência do consumo de alimentos marcadores de alimentação saudável e não saudável, prática de atividades físicas no lazer e hábito de assistir televisão, hábito de fumar e consumo de bebidas alcoolicas. Estado nutricional Peso e altura referidos Condições de saúde Auto avaliação do estado de saúde, diagnostico médico anterior de hipertensão arterial, diabetes e hipercolesterolemia. * A partir de 2007: Frequência e intensidade de exposição à luz solar (até 2010) e realização de exame de Papanicolau e mamografia. ** A partir de 2012: ocorrência de multas de transito e participação de ações de combate a dengue. Fonte: BRASIL, 2007; MOURA et al, 2008; BRASIL, 2020b. 21 Dados são coletados pelo Vigitel anualmente (durante todos os meses do ano), com suplementos especiais sobre saúde suplementar (2008, 2011, 2015 e 2017), medicamentos (2011, 2012 e 2013) e comportamento no trânsito (2018) (BRASIL, 2020b). Inicialmente, há um sorteio sistemático e estratificado de 5.000 linhas telefônicas por município. Linhas telefônicas não residenciais, fora de serviço ou que não atendam as chamadas feitas em dias e horários alternados são excluídas. A segunda etapa da amostragem é o sorteio do individuo (acima de 18 anos) que será entrevistado no domicilio. O tamanho amostral é de, no mínimo, 2.000 indivíduos por município, a fim de estimar frequências de indicadores com coeficiente de confiança de 95% e erro máximo percentual de três pontos percentuais (BRASIL, 2020b). O monitoramento dos fatores de proteção e risco para DCNT subsidiam a analise das metas propostas no Plano de Ação Global para o Enfrentamento das DCNT (BRASIL, 2011), no Plano de Ação Global para Prevenção e Controle das DCNT, da Organização Mundial de Saúde (WHO, 2013), no Plano Regional (OPAS, 2014), além do alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (UNITED NATIONS, 2015). Malta et al (2015) elaboraram um estudo para comparar resultados sobre estilo de vida provenientes da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS-2013) e do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para DCNT por Inquérito Telefônico (VIGITEL) do ano de 2013 (Tabela 2). Tabela 2 – Comparativo das prevalências de fatores de risco e proteção para DCNT na população adulta residente nas capitais brasileiras e no Distrito Federal segundo PNS e VIGITEL, 2013. * Comparando intervalo de confiança de 95% entre Vigitel e PNS, ocorre sobreposição, indicando que possivelmente não houve diferença entre frequências. Fonte: MALTA et al. (2015). Indicadores PNS (2013) VIGITEL (2013) Prevalência Intervalo de 95% de confiança Prevalência Intervalo de 95% de confiança Fumantes atuais de cigarro 12,5 11,9 - 13,2 11,3 10,6 - 11,9* Fumantes passivos no domicilio 8,7 8 - 9,3 10,2 9,6 - 10,8 Fumantes passivos no local de trabalho 10,4 9,6 - 11,2 9,8 9,2 - 10,4* Ex fumantes 16,5 15,7 - 17,2 22,0 21,3 - 22,7 Consumo abusivo de álcool 14,9 14,2 - 15,6 16,4 15,7 - 17,0 Consumo recomendado de frutas e hortaliças 41,8 40,6 - 42,9 23,6 22,9 - 24,3 Consumo recomendado de feijão 64,9 63,9 - 65,9 66,9 66,1 - 67,7 Consumo excessivo de carnes com gordura 29,8 28,8 - 24,9 31,0 30,1 - 31,8* Consumo regular de refrigerante ou suco artificial 24,0 23,2 - 24,9 23,3 22,5 - 24,1* Prática de atividade física recomendada no tempo livre 26,6 25,7 - 27,6 33,8 33,0 - 34,6 Assistir televisão três horas ou mais diariamente 33,0 32 - 33,9 28,6 27,8 - 29,4 22 As diferenças no delineamento e plano amostral entre as pesquisas possivelmente interferiam nos resultados. Diferenças nas perguntas, opções de respostas e ordem das questões também podem ter influenciado, assim como a presença do pesquisador no domicilio, seja pela melhor compreensão ou constrangimento maior para responder as questões. Outra questão é o fato do VIGITEL ter coleta de dados ao longo de todo o ano, enquanto a PNS teve coleta em cinco meses no ano, o que pode afetar a frequência de fatores sazonais, como atividade física e alimentação, pois podem sofrer influência do clima e estação do ano. Malta et al. (2015) concluem neste estudo que: Indicadores com pergunta igual ou muito semelhante, como consumo de refrigerantes e carnes com gorduras, tiveram resultados iguais, mostrando que a mesma pergunta e a mesma opção de resposta são fundamentais para comparação das estimativas. Dessa forma, é preciso cautela na realização de comparações entre o Vigitel e a PNS, ressaltando que as duas estratégias são instrumentos úteis para a vigilância de fatores de risco e proteção para as DCNT, principalmente apontando tendências na população, existindo vantagens e desvantagens em ambas as estratégias, domiciliar e telefônica. Importante destacar que, mesmo com algumas prevalências distintas, as diferenças entre os inquéritos, em geral, foram pequenas (MALTA et al, 2015, p. 80). Conde et al (2013) analisaram a consistência de peso e altura obtidos por mensuração direta na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008//09 e por auto relato no Vigitel 2008 e 2009, considerando as variabilidades típicas que ocorrem nos inquéritos. O Índice de Massa Corporal (IMC), calculado com os valores de peso e altura, apresentou alta concordância entre os resultados obtidos nos dois inquéritos. Quando estratificado por idade e sexo, algumas diferenças foram observadas. No sexo feminino, as médias de peso e altura obtidas no Vigitel foram estatisticamente maiores quando comparadas às estimativas da POF,tornando a média de IMC maior em 0,6%. No sexo masculino não foram observadas diferenças relevantes. No entanto, conclui-se que estimativas globais do estado nutricional, avaliado por medidas antropométricas relatadas, são consistentes com os resultados obtidos em inquéritos que utilizam medidas antropométricas diretas, no entanto, quando estratificadas apresentam maior imprecisão, principalmente entre mulheres. Nos inquéritos telefônicos, analises de tendência temporal do estado nutricional (Figura 15) não serão afetadas. Figura 15- Evolução das estimativas de prevalência de excesso de peso (IMC ≥ 25 kg/m2) e obesidade (IMC ≥ 30 kg/m2). População adulta (≥ 18 anos), de ambos os sexos, das capitais brasileiras e do Distrito Federal (2006-2019). Fonte: BRASIL (2020c). 0 10 20 30 40 50 60 2 0 0 6 2 0 0 7 2 0 0 8 2 0 0 9 2 0 1 0 2 0 1 1 2 0 1 2 2 0 1 3 2 0 1 4 2 0 1 5 2 0 1 6 2 0 1 7 2 0 1 8 2 0 1 9 % Ano Excesso de peso Obesidade 23 12. Limitações e perspectivas para o uso de informações sobre saúde Informações provenientes dos SIS e inquéritos de saúde devem ser utilizadas de forma consciente para o planejamento e avaliação de politicas e programas, considerando as limitações de cada metodologia empregada. Sistemas permanentes de coleta de dados, como mortalidade, natalidade e doenças com notificação compulsória, foram aperfeiçoados ao longo do tempo, mas ainda há subnotificações e erros no preenchimento dos instrumentos e consolidação dos dados, ainda que em menor proporção que no passado. Os inquéritos de saúde também modificaram a fim de atender as demandas de cada momento e fornecer informações com maior validade. O avanço observado nos últimos anos em relação aos SIS e inquéritos em saúde é devido a diversos fatores tais como o avanço do conhecimento em epidemiologia, aumento do uso de tecnologia, melhora no acesso e qualidade de atendimento nos serviços de saúde, melhor capacitação dos profissionais que atuam nas instituições de atendimento à população (hospitais, ambulatórios e Unidades Básicas de Saúde) e maior conscientização dos gestores em saúde das três esferas do poder público sobre a importância destas informações para a melhor qualidade das ações implementadas, que visam à promoção, prevenção e recuperação da saúde, otimizando os investimentos necessários nesta área. Ainda existem obstáculos a serem superados para o aprimoramento da geração de conhecimento em saúde, no entanto, o maior desafio atual é a sustentabilidade financeira das ações de coleta e analise de dados populacionais, considerando a diminuição do orçamento para o setor da saúde e recentes crises politicas no país. 24 REFERÊNCIAS ANDRADE, F. R.; NARVAI, P. C. Inquéritos populacionais como instrumentos de gestão e os modelos de atenção à saúde. Rev Saúde Pública, v.47, Supl. 3, p.154- 60, 2013. BARROS, M.B.A. Inquéritos domiciliares de saúde: potencialidades e desafios. Rev. Bras. Epidemiol., v. 11, supl. 1, 6-19, 2008. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. VIGITEL BRASIL: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquéritos telefônicos. Brasília: Ministério da Saúde, 2007. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Guia de vigilância epidemiológica. 7 ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. BRASIL. 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Acidente de trabalho: grave, fatal e em crianças e adolescentes X 2 Acidente por animal peçonhento X 3 Acidente por animal potencialmente transmissor da raiva X 4 Botulismo X X X 5 Cólera X X X 6 Coqueluche X X 7 a. Dengue - Casos X b. Dengue - Óbitos X X X 8 Difteria X X 9 Doença de Chagas Aguda X X 10 Doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ) X 11 a. Doença Invasiva por "Haemophilus Influenza" X X b. Doença Meningocócica e outras meningites X X 12 Doenças com suspeita de disseminação intencional: a. Antraz pneumônico b. Tularemia c. Varíola X X X 13 Doenças febris hemorrágicas emergentes/reemergentes: a. Arenavírus b. Ebola c. Marburg d. Lassa e. Febre purpúrica brasileira X X X 14 a. Doença aguda pelo vírus Zika X b. Doença aguda pelo vírus Zika em gestante X X c. Óbito com suspeita de doença pelo vírus Zika X X X 15 Esquistossomose X 16 Evento de Saúde Pública (ESP) que se constitua ameaça à saúde pública (ver definição no Art. 2º desta portaria) X X X 17 Eventos adversos graves ou óbitos pós-vacinação X X X 18 Febre Amarela X X X 19 a. Febre de Chikungunya X b. Febre de Chikungunya em áreas sem transmissão X X X c. Óbito com suspeita de Febre de Chikungunya X X X 20 Febre do Nilo Ocidental e outras arboviroses de importância em saúde pública X X X 21 Febre Maculosa e outras Riquetisioses X X X 22 Febre Tifoide X X 31 23 Hanseníase X 24 Hantavirose X X X 25 Hepatites virais X 26 HIV/AIDS - Infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana ou Síndrome da Imunodeficiência Adquirida X 27 Infecção pelo HIV em gestante, parturiente ou puérpera e Criança exposta ao risco de transmissão vertical do HIV X 28 Infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) X 29 Influenza humana produzida por novo subtipo viral X X X 30 Intoxicação Exógena (por substâncias químicas, incluindo agrotóxicos, gases tóxicos e metais pesados) X 31 Leishmaniose Tegumentar Americana X 32 Leishmaniose Visceral X 33 Leptospirose X 34 a. Malária na região amazônica X b. Malária na região extra Amazônica X X X 35 Óbito: a. Infantil b. Materno X 36 Poliomielite por poliovirus selvagem X X X 37 Peste X X X 38 Raiva humana X X X 39 Síndrome da Rubéola Congênita X X X 40 Doenças Exantemáticas: a. Sarampo b. Rubéola X X X 41 Sífilis: a. Adquirida b. Congênita c. Em gestante X 42 Síndrome da Paralisia Flácida Aguda X X X 43 Síndrome Respiratória Aguda Grave associada a Coronavírus a. SARS-CoV b. MERS- CoV X X X 44 Tétano: a. Acidental b. Neonatal X 45 Toxoplasmose gestacional e congênita X 46 Tu b e r c u l o s e X 47 Varicela - caso grave internado ou óbito X X 48 a. Violência doméstica e/ou outras violências X b. Violência sexual e tentativa de suicídio X * MS (Ministério da Saúde), SES (Secretaria Estadual de Saúde) ou SMS (Secretaria Municipal de Saúde) Fonte: BRASIL (2016)
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