Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Resumo de Psicodiagnóstico | Aisha Ramos S. S. PSICODIAGNÓSTICO FENOMENOLÓGICO: FOCANDO NOS ASPECTOS SAUDÁVEIS Capítulo 1 do Livro: Psicodiagnóstico Interventivo –Rosana Moura e Silva Perspectiva histórica Retomando ideias desenvolvidas por Morato e Andrade, de acordo com Webster (1974): Saúde vem do latim salus, significando condição (orgânica ou organizacional) benéfica, de bem-estar, de segurança. Refere-se à cura (healein, em inglês antigo), como promoção de integridade e/ou cuidado. Estas definições nos remetem a uma aproximação de clínica e de cuidado, tarefas que dizem respeito ao universo do fazer psicológico no âmbito da saúde. IDADE MÉDIA • relação do homem com o mundo - vida coletiva, assentada nas tradições e na crença de entidades poderosas que exigiam submissão (eram donas do destino) RENASCIMENTO • descobertas e ampliação do comércio, a multiplicidade de possibilidades traz consigo a sensação de desamparo e incertezas quanto ao destino. IDADE MODERNA • homem criou um método — construção de sistemas lógicos e coerentes que permitam explicar os fenômenos do universo e de si mesmo, com a consequente exclusão daquilo que não é contemplado pela razão. • tanto a atividade clínica quanto a pedagógica não fogem a um predomínio da técnica. HOJE • sabemos que saúde e doença não podem ser vistas de forma dicotômica, e sim como parte de um único processo no qual saúde não é o simples fato de não ter doença ou vice-versa. Assim, a “doença mental” pode passar a ser pensada como a construção de “outros modos de existência”, diante da dificuldade de responder, de maneira “habilidosa”, aos fatos do existir. Poder-se-ia pensar na possibilidade de outra atitude existencial em face do mundo como ele é vivido (Cautella Jr., 2003). Resumo de Psicodiagnóstico | Aisha Ramos S. S. “Hoje em dia, o clínico é entendido e valorizado como especialista. Nessa composição, o momento clínico inicial, com toda sua potencialidade de promover uma confiança terapêutica através da atenção e do acolhimento, é reduzido a uma atividade de triagem, a qual encaminhará os pacientes aos respectivos especialistas que, através da mediação da técnica, tratarão deles.” p. 21 Este modelo, no entanto, passa a apresentar atualmente, sinais de esgotamento. Conduzir sujeito ao seu bem-estar Acolher o sofrimento humano “Em nossa prática, no momento do encontro com o outro, percebemos que o domínio do saber não funciona como lugar seguro; não traz respostas exatas ou verdadeiras nem alivia a angústia perante a alteridade que aparece no encontro. Assim, a tendência é negar a alteridade procedendo-se a uma redução, na medida em que se procura encaixar o outro em um esquema de referência dado pelo saber teórico. Neste caso, temos o homem teórico, portador de um saber racional que explica as irracionalidades (os desvios) e acredita deter os meios de controlá-las ou ajustá-las à norma.” p. 21 “O que se propõe, antes de tudo, é um deslocamento do saber, uma outra postura ética em que não existe um saber dado a priori ou uma verdade a ser transmitida, mas uma construção conjunta de sentidos. Faz-se necessário, pois, que o psicólogo se despoje do lugar de especialista, portador de um saber a ser transmitido, e passe a funcionar como um mediador, um “entre”, que acolhe a produção emergente nos diversos encontros (Andrade e Morato, 2004).” p. 21 Resumo de Psicodiagnóstico | Aisha Ramos S. S. Psicodiagnóstico Infantil o Possibilitou a atuação dos psicólogos enquanto profissionais. o Acontece com maior ocorrência nas clínicas-escolas (atendimento gratuito). o Maior índice de queixas escolares. o Muitos encaminhados por outras instituições, tais como as escolas “[...] em sua prática cotidiana, exerceria a função de acolher o cliente, em um processo permanente de desmistificação de verdades naturalizantes e universalizantes geradoras de injustiças e exclusão sociais. Um trabalho voltado para “transformações” das relações sociais exige um desmonte permanente das cristalizações que impedem a instituição de outros modos de estar no mundo, de outras “formas” de afetamento, em que a diferença não aparece como algo a ser negado ou excluído, mas exatamente como aquilo que possibilitará a criação, as mudanças nos sistemas — pensamento, relações, crenças, entre outros — cristalizados.” p. 22 “A perspectiva fenomenológica existencial foi o referencial de fundamento dessa clínica, pois considera que a condição constituinte da existência do ser humano é relacional, ou seja, revela-se pelo encontro com o outro. São essas situações de encontro intersubjetivo que propiciam, no cotidiano da vida, mudanças para o desenvolvimento e aprendizagem do ser humano, bem como as formas de convivência no mundo e com os outros, vendo e sendo visto, ouvindo e sendo ouvido.” (Figueiredo, 1995). “A instituição, por sua vez, em geral oferece um psicodiagnóstico, uma vez que, no caso de uma criança, o distúrbio pode ter a concorrência de várias causas (intelectuais, emocionais, psicomotoras, neurológicas, fonoaudiológicas), sendo importante investigar qual área deve ser prioritariamente atendida.” p. 22 Resumo de Psicodiagnóstico | Aisha Ramos S. S. “O psicodiagnóstico infantil efetuado nos moldes tradicionais consta de uma ou duas entrevistas iniciais com os pais, para que o psicólogo possa entrar em contato com a queixa, a dinâmica familiar e o desenvolvimento da criança. Em seguida, a criança é testada, são avaliados os testes com ela realizados e integradas as informações obtidas. Finalmente, o psicólogo realiza uma ou duas entrevistas devolutivas com os pais, a fim de oferecer- lhes suas conclusões diagnósticas e sugerir os passos seguintes a serem trilhados: psicoterapia da criança, orientação aos pais, psicomotricidade, entre outras possibilidades.” p. 23 o Participação dos pais - desmotivados, muitos desconhecem o processo, limitam-se á repetir queixa inicial ao invés de informar sobre procedimentos/processos anteriores (que também podem vir a desconhecer). o Será que tanto para os pais como para a criança o atendimento o Somente deve tornar-se efetivo na psicoterapia? o Atendimento em grupo O processo psicodiagnóstico fenomenológico-existencial com crianças e seus pais 10-12 sessões Encaminhamentos/ Busca espontânea primeira sessão com os pais sobre o motivo da consulta 6-7 sessões com os pais trabalho com pais - compreender situação como entendem o atendimento psicológico e suas expectativas Restantes são somente com a criança encaminhados é importante o significado do encaminhamento anamnese, conhecer as condições familiares e sociais, os vínculos estabelecidos e os papéis desempenhados Resumo de Psicodiagnóstico | Aisha Ramos S. S. “Antes de marcar, em torno da terceira ou quarta sessão, o primeiro contato com a criança, orienta os pais no sentido de dizerem ao filho que estão vindo consultar um psicólogo e porque o estão fazendo. [...] Têm medo de contar-lhe que procuraram um profissional para falar dele e porque o fizeram. Imaginam que a explicitação daquilo que os está movendo possa fazer com que ele “piore”, “se sinta diferente”. [...] Assim, a criança já pode perceber que algo está acontecendo, construindo sua própria compreensão a respeito, mesmo que ela não consiga expressar claramente, nem da mesma maneira que os adultos, quais são as preocupações a seu respeito.” ▀ Dificuldade dos pais de falar sobre a ida ao psicólogo também tem relevância para o processo. ▀ Algumas vezes, observação da criança, é necessária pesquisar mais amplamente certos aspectos da vida e do relacionamento.▀ Confronto com a visão dos pais e o contato com a criança. ▀ Uso de testes, observações devem ser explicados para os pais antes. ▀ Conteúdo pedagógico nas entrevistas com pais. “O primeiro encontro do psicólogo com a criança se desenvolve através de uma observação lúdica ou de uma entrevista acompanhada da execução de desenhos, dependendo de sua idade, capacidade e possibilidade de expressão verbal e gráfica. A partir daí, as sessões com os pais e com a criança são intercaladas.” p. 26 “As comunicações a respeito dos instrumentos utilizados também servem para desmistificá-los, contextualizá-los, mostrando que eles representam bem mais uma possibilidade de enfoque do que uma verdade absoluta.” p. 26 “O roteiro de anamnese, utilizado na sequência do atendimento, permite o conhecimento do desenvolvimento biopsicossocial da criança, mas é, sobretudo, uma oportunidade para os pais se debruçarem sobre sua experiência passada e presente com o filho, podendo clarificar sentimentos e expectativas que atuam no relacionamento com a criança. Também oferece ao psicólogo a possibilidade de observar formas de relacionamento na família, focos de ansiedade, distribuição de forças na dinâmica familiar.” p. 25 Resumo de Psicodiagnóstico | Aisha Ramos S. S. Psicodiagnóstico interventivo, na abordagem fenomenológica existencial “Ao final do processo, o psicólogo elabora um relatório a respeito do atendimento, no qual procura descrever o processo em seus passos. Na última sessão, este relatório é lido aos pais, para levá-los a compreender que, em se tratando de uma síntese feita pelo profissional, e que síntese implica seleção, é importante eles dizerem se tal síntese corresponde a sua própria compreensão do processo. Assim, eles podem propor modificações, sugerir alterações, acréscimo ou eliminação de situações ou de termos.” p. 26-7. “Uma das contribuições do psicodiagnóstico interventivo, na abordagem fenomenológica-existencial, está na reavaliação do papel desempenhado pelo cliente e pelo psicólogo nesta situação. O cliente, antes agente passivo, torna-se um parceiro ativo e envolvido no trabalho de compreensão e eventual encaminhamento posterior: é corresponsável pelo trabalho desenvolvido.” p.27 “A situação de psicodiagnóstico torna-se, então, uma situação de cooperação, na qual a capacidade de ambas as partes observarem, apreenderem e compreenderem constitui a base indispensável para o trabalho. Tanto os pais como o psicólogo observam a si mesmos e uns aos outros, procurando compreender o que está sendo vivenciado, já que a compreensão dos pais e a do psicólogo são equivalentes e compartilhadas.” p. 27 Resumo de Psicodiagnóstico | Aisha Ramos S. S. ▀ Mudança de postura pela reavaliação ▀ Queixa particular dos pais é ouvida, mas ampliada pelo psicólogo. ▀ Observar relação dos pais, como casal (entre si), com o filho. “A partir de seus contatos com a criança, o psicólogo procura descrever como compreendeu os comportamentos que lhe apareceram. Compartilha com os pais sua experiência acerca de como foi o contato com a criança a partir das situações propostas, para favorecer a observação de como esta última se relaciona consigo mesma, com os outros e com o mundo.” p. 28 “Assim, o psicodiagnóstico fenomenológico-existencial envolve um trabalho de redirecionamento dos pais a partir da compreensão da criança e da dinâmica familiar, com o objetivo de facilitar o relacionamento, propiciar novas formas de interação e abrir novas perspectivas experienciais.” p. 28 O estilo das intervenções do psicólogo “O psicólogo mostra-se compreensivo e acrítico em relação às vivências relatadas pelos pais. Em certos momentos, suas intervenções se apresentam como possibilidades de compreensão, podendo ser feitas a partir das associações dos pais a elas. [...] Em outros momentos, apenas acompanha os pais, permitindo lhes falar, sendo suas intervenções de apoio, questionamento e/ou ampliação, dependendo do momento. Nesse sentido, várias intervenções se colocam no âmbito de conselhos e de informações pedagógicas.” p. 28 “Em geral, há uma tentativa de salientar os aspectos positivos, adaptativos e saudáveis, em detrimento dos patológicos. Dá apoio aos pais, procurando favorecer uma mudança do investimento na criança, uma crença nas suas possibilidades de crescimento e uma tentativa de promover a separação psíquica entre eles e o filho [...]. Dirige-se o atendimento, portanto, no sentido de favorecer uma individualização das partes.” p. 28-9 Resumo de Psicodiagnóstico | Aisha Ramos S. S. A utilização dos testes psicológicos “Para conhecer a criança, o profissional faz uso de diversos instrumentos, pertencentes ao cabedal de recursos dos quais o psicólogo clínico dispõe para atender a um cliente. Entre estes se destacam a observação lúdica, mais utilizada com crianças pequenas, entrevistas e testes. Frequentemente, em se tratando de dificuldades de aprendizagem, é necessário recorrer a testes de nível intelectual. Como se sabe, esses testes pertencem à tradição positivista, na qual uma das suposições básicas é de que qualquer coisa que exista, existe numa determinada quantidade e pode ser medida. [...] O resultado numérico serve apenas de referência para uma classificação em relação àquilo que seria esperado para a idade da criança.” – pg. 29 ▀ Situação similar com utilização de testes projetivos - suporte a uma projeção global das representações inconscientes ▀ Os testes organizadores que possibilitam a emergência de vivências que ocorrem no cotidiano da criança “Mais relevante para a compreensão do que está ocorrendo com ela é a relação estabelecida entre a criança e o psicólogo, durante a aplicação dos testes, bem como sua forma de entrar em contato com eles: suas inseguranças, a maneira como soluciona os problemas apresentados, ou seja, sua postura em geral. O psicólogo conversa com a criança a respeito de suas observações, relacionando a situação presente às situações que ela vive em seu cotidiano. Assim, o resultado do teste articula-se com a compreensão do vivido pela criança, sendo ela quem orienta as sugestões quanto ao que fazer.” – pg. 29-30 Resumo de Psicodiagnóstico | Aisha Ramos S. S. As repercussões deste trabalho sobre os pais Em vários casos estudados, nota-se um movimento dos pais que culmina, geralmente, em torno da quinta sessão, quando eles relatam modificações em sua compreensão da criança e tentativas de mudança em sua forma de se relacionarem com ela, ao mesmo tempo que, também, parecem ter perdido seus referenciais, tornando-se dependentes das indicações do psicólogo. – p.31 De fato, quando os pais não estão motivados para o trabalho proposto, por se mostrar distante de suas expectativas ou muito ameaçador, desistem do atendimento. Pensamos que, talvez, este seja um aspecto positivo, uma vez que a desistência ocorre no início do processo, evitando investimentos desnecessários e frustrantes de ambas as partes. Em outros casos, porém, é possível instalar-se um campo interacional, no qual os pais e o psicólogo viverão experiências. A instalação e eficácia deste campo dependem tanto dos pais como do psicólogo. – p.31 Eles foram sendo preparados e aconteceram sem ter sido, obrigatoriamente, formulados através de verbalizações. Agora, podem aparecer com a angústia própria à novidade da situação. O psicólogo pode, a partir desses movimentos, avaliar a plasticidade dos pais, ou seja, as possibilidades destes de se confrontarem com novas formas de ser com o filho, pois é aqui que intervêm sua flexibilidade, sua abertura para possíveis reinterpretações das situações vividas, sua capacidadepara compreender de outro ponto de vista, a fim de se implicarem de outro modo nessa relação. – p. 31 • Estes movimentos ocorrem mais intensamente em torno da quinta sessão, mas podem surgir até antes. • É esse o momento em que os aspectos terapêuticos do processo se manifestam mais claramente. • Propomos, também, a realização de uma visita domiciliar, com o consentimento do cliente. Ela permite a observação, in loco, da família, assim como a ressignificação de falas e observações ocorridas durante as sessões. • Outro recurso utilizado é a visita à escola. Por essa ocasião, recorre-se a uma entrevista com a professora, à observação da criança na sala de aula e no recreio. Deste modo, através da visita, podem-se observar e, às vezes, redimensionar queixas em relação à criança. Dependendo da disponibilidade da escola, ainda torna possível orientar a professora a partir da compreensão da criança. Resumo de Psicodiagnóstico | Aisha Ramos S. S. O follow-up A entrevista de follow-up é realizada com a finalidade de retomar, passado algum tempo, a experiência vivida pelos pais durante o psicodiagnóstico, a fim de conhecer sua fecundidade e eficácia. – p. 32 Nessa perspectiva, o follow-up pode propiciar possibilidades de revisão por parte do psicólogo e do cliente, abrindo novos horizontes, levando a novas perspectivas. Torna-se, nesse sentido, um momento de encontro que pode propiciar acontecimentos. Assim considerado, realizar follow-up, prática pouco difundida em nossos meios, pode abrir novas perspectivas no campo da pesquisa em Psicologia Clínica, além de tornar-se, por si mesma, um momento significativo de atenção e cuidado tanto para o profissional como para o cliente. – p. 33 Referência bibliográfica YEHIA, Gohara Yvette. Psicodiagnóstico fenomenológico-existencial: focalizando os aspectos saudáveis. In: ANCONA-LOPES, Silvia. Psicodiagnóstico interventivo: Evolução de uma prática. 1. ed. Cortez Editora, v. 3, f. 120, 2014. 186 p. cap. 1, p. 20-35. ALERTA:
Compartilhar