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Letícia Brito - CESMAC Leptospirose Introdução · Principal zoonose bacteriana do mundo, causada por nove leptospira spp. patogênicas. · A maior prevalência é em regiões tropicais, subtropicais e temperadas. · Água e solos úmidos sãos os principais veículos de transmissão para os seres humanos. · Doença infecciosa febril Início abrupto · Espectro variado formas graves formas inaparentes. Agente etiológico · Espiroquetas patogênicas do gênero leptospira, extremidades finas encurvadas ou em forma de gancho, helicoidal e grande motilidade. · O diagnóstico rápido e acurado de leptospira patogênicas ou não patogênicas é essencial para intervenção terapêutica e de vigilância epidemiológica ambiental. Epidemiologia · Os principais reservatórios são ratos urbanos e pequenos roedores silvestres, que podem eliminar leptospira em sua urina alcalina por toda sua vida. · Os seres humanos são infectados através do contato direto com a urina de animais infectados, e através do contato indireto com água contaminada com urina de ratos infectados. Obs.: Mordedura de ratos, leite materno, relação sexual e transmissão direta entre humanos são formas mais raras de transmissão. · Os humanos são infectados após exposição com leptospira patogênicas através de abrasões na pele, mucosas intactas, incluindo a deglutição de água contaminada. · É possível a penetração em pele integra se contato prolongado. · Principalmente no adulto jovem e do sexo masculino Patogênese · A leptospirose é consequência da invasão das barreiras naturais, pele ou mucosa, pelas leptospira patogênicas. · O resultado da infecção depende da patogenicidade ou virulência da Leptospira spp. e da resistência inata do hospedeiro contra a infecção. · Nem a virulência e tampouco a resistência são elementos constantes. · A síndrome de Weil, comumente descrita como icterícia, insuficiência renal e hemorragias, é a manifestação clássica de leptospirose grave. · A síndrome de hemorragia pulmonar vem sendo reconhecida como forma grave e emergente da doença. A letalidade de formas graves de leptospirose é de aproximadamente 10% e chega a 50% quando ocorre a síndrome de hemorragia pulmonar. Quadro Clínico Sindrômico · Após um período de incubação de 2 a 20 dias (em média, 7 a 10), essa enfermidade infecciosa sistêmica evolui para duas apresentações clínicas clássicas: a forma anictérica, observada em 90% dos casos, de baixa morbidade e letalidade. · E a forma ictérica, encontrada numa minoria de pacientes com maior morbidade e letalidade. É conhecida como doença de Weil e caracteriza-se por febre, insuficiência renal, icterícia e diátese hemorrágica. · A divisão em anictérica e ictérica vem sendo questionada por que pacientes coma forma pulmonar grave, muitas vezes não apresentam icterícia. · Fase septicêmica ou leptospirêmica, as leptospiras são encontradas no sangue, no líquor, no humor aquoso e nos tecidos. Essa fase dura 3 a 9 duas, seguida de defervescência e de melhora dos sintomas iniciais, que pode durar de algumas horas a 3 dias. · O quadro clínico tem início súbito, com calafrios, febre alta, mialgia intensa, náuseas, vômitos, prostração, vasodilatação sistêmica, sobretudo ocular. · Deve-se pensar em leptospirose quando apresentar as seguintes síndromes: febril aguda, álgica, ictérica, hemorrágica, respiratória. Os achados de leucocitose com ou sem bastonemia, aumento da velocidade de hemossedimentação acima de 25mm/h, insuficiência renal aguda não oligúrica, hipopotassemia e aumento da enzima creatina fosfoquinase (cpk) corroboram para o diagnóstico presuntivo da doença. · A febre é quase regra na leptospirose, pode ser alta na fase septicêmica e pode assumir o tipo remitente. Inicia subitamente e dura de 2 a 12 dias. · A mialgia é a manifestação clínica mais observada após a febre e compromete, particularmente, as panturrilhas, a região paravertebral e a região abdominal. · A forma anictérica também apresente: adenomegalia, angina infecciosa, hepatomegalia, exantemática. · A gravidade dos sintomas ocorre exatamente na segunda fase da doença, imune, quando surgem os anticorpors da classe IgM. · Nessa fase, observa-se o agravamento dos sintomas iniciais, são muito frequentes: icterícia rubínica, insuficiência renal, insuficiência hepática, pneumonite hemorrágica, rabdomiólise, pancreatite, meningite, miocardite, arterite das coronárias, uveíte, iridociclite. · Alteração do estado mental, idade acima de 37 anos, insuficiência renal e insuficiência respiratória são fatores preditores de óbito. Icterícia · Surge entre o 3º e o 7º dia de doença, intensificando-se com sua progressão, podendo apresentar tom amarelo-avermelhado ou rubínico. · Sua origem parece relarcionar-se com a colestase intra-hepática causada pela leptospira e suas toxinas. · Os níveis séricos de BD podem chegar a 80mg/dl, acompanhados com moderada elevação das aminotransferases e alanina aminotransferase, com leve aumento de fosfatase alcalina. · Os níveis séricos de AST-TGO são maiores que os de ALT, ao contrário do que se observa nas hepatites vírus. Diagnóstico Laboratorial · A confirmação da leptospirose ainda é um desafio na prática clínica, uma vez que depende da fase em que a doença foi suspeitada e da disponibilidade dos testes diagnósticos. · Deve-se basear na detecção do agente etiológico e nos testes sorológicos. Visualização direta por exame microscópico · Em amostras obtidas de sangue ou de líquor, na 1ª semana da doença ou de urina a partir da 2ª semana, é possível através da microscopia em campo escuro. · NÃO É REALIZADO DE ROTINA Isolamento em meio de cultura · Isolada a partir de amostras de sangue ou de LCR, nos primeiros 7 a10 dias do início dos sintomas, e urina na 2ª e na 3ª semana da doença. · Leptospira cresce lentamente, em média 2 a 4 semanas. · DIAGNÓSTICO RETROSPECTIVO. Métodos moleculares · Reação em cadeia de polimerase (PCR) isolada ou em combinação com outras técnicas tem se tornado o método de escolha para o diagnóstico precoce. · Alta sensibilidade e especificidade Teste de Microaglutinação (MAT) · É o método mais utilizado, principalmente na sua fase tardia, pela sua alta sensibilidade e especificidade. É o teste recomendado pela OMS e pelo ministério da saúde do Brasil. · Para confirmação é necessário pareamento de amostras, em intervalo de 14 a 21 dias. · Confirma através da presença dos seguintes critérios: · Soroconversão: primeira amostra negativa e a segunda positiva com título ≥ 200; · Aumento de quatro vezes ou mais nos títulos, entre as duas amostras coletadas, em testes quantitativos; · Quando não houver disponibilidade de duas ou mais amostras, um título ≥ 800 confirma o diagnóstico. ELISA · Permitem a detecção de IgM contra antígenos de Leptospira spp. · Em geral a detecção de anticorpos se torna reagente entre o 5º e o 8º dia da doença e permanecem positivos por pelo menos 5 meses após a infecção. · No ministério da saúde, um teste ELISA IgM positivo, em vigência de sinais e sintomas compatíveis com leptospirose confirma o caso da doença. Teste rápido · Vários testes rápidos baseados na detecção de IgM contra antígenos de leptospira spp. tem baixa sensibilidade em relação aos outros testes sorológicos. Diagnóstico Inespecífico · O diagnóstico para fins de conduta terapêutica é essencialmente clínico. Uma série de alterações em exames laboratoriais inespecíficos pode auxiliar no diagnóstico clínico da doença. · Hemograma leucocitose com desvio para a esquerda. · Linfócitos atípicos · Anemia e trombocitopenia comuns na forma grave. · VHS aumentada · Ureia e creatinina estão sempre elevadas na forma ictérica, contudo são mais marcantes na síndrome de Weil. · Acidose metabólica nos casos graves · TGO e TGP aumenta, sendo o TGO mais alto. TP encontra-se alargado e sua atividade reduzida. · CPK aumenta pela miopatia e a CPK-MB aumenta quando ocorre agressão miocárdica. Tratamento Tratamento de Suporte · O início da terapêutica não deve esperar os resultados dos exames específicos. ·Os casos mais brandos da doença podem ser tratados sintomaticamente e acompanhados em ambulatório para a vigilância de aparecimento dos sinais de gravidade. · Os casos graves precisam de rápida instalação de medidas de terapia intensiva. · Os pacientes graves devem ser monitorados quanto ao ritmo cardíaco, pressão arterial, a saturação arterial e o balanço hídrico. · Reposição volêmica é essencial para a sobrevida, recomenda-se o uso de solução fisiológica ou ringer-lactato. E cuidado nas formas pulmonares e nos casos de IRA oligúrica para evitar a sobrecarga hídrica. · Reposição hídrica deve ser acompanhada de reposição de potássio, para casos de hipopotassemia. · Proteção para a mucosa gástrica com inibidores da bomba de próton. · Ventilação mecânica nos casos de acometimento pulmonar grave. · Hemodiálise está indicada para todos os pacientes que evoluem para IRA oligúrica ou com hipopotassemia. Tratamento Específico · Recomenda que os antibióticos devam ser iniciados para todos os casos suspeitos de leptospiroses, inclusive para as formas anictéricas. · Fase precoce ou manifestações clínicas leves: · Amoxicilina – 500mg, via oral, de 8/8h, por 5 a 7 dias; · Doxiciclina – 100mg, via oral, de 12/12h, por 5 a 7 dias · Azitromicina – 1g, via oral, no 1º dia, seguida de 500mg nos 2 dias seguintes. · Fase precoce ou tardia com manifestações clínicas moderadas a graves: · Penicilina G cristalina – 1,5 milhão UI, via intravenosa, 6/6h, por 7 dias · Ceftriaxona – 1 a 2 g, via intravenosa, uma vez ao dia, por 7 dias. Prevenção e Controle · Evitar contato direto com animais infectados ou com água e solos contaminados. · Redução da população de roedores nos centros urbanos e medidas de saneamento básico. · Quimioprofilaxia pré-exposição uso de doxiciclina 200mg, uma vez por semana durante o período de exposição. · Utilização de EPI para os que trabalham com funções que oferecem risco, como os que atuam na limpeza de esgotos. · Vacinas contra leptospirose para humanos estão disponíveis em alguns países, mas produzem curto período de proteção e grande frequência de efeitos colaterais. · A vacinação de animais domésticos apresenta ação limitada, não previnem a infecção e a colonização dos tecidos e o animal continua sendo transmissor.