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METODOLOGIAS PARA APRENDIZAGEM ATIVA Ingrid Gayer Pessi Aprendizagem baseada em projetos e em problemas Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Definir as metodologias pautadas em resolução de problemas e sua relevância para o contexto social vigente. � Identificar os diferentes modos de se elaborar a questão norteadora. � Descrever os modos de aplicação das estratégias pedagógicas basea- das em problemas, projetos e o aprendizado em times, bem como possibilidades de avaliação. Introdução A aprendizagem baseada em projetos e em problemas é uma metodo- logia que coloca os alunos na posição de investigadores, separando-os em pequenos grupos, tendo o professor como orientador. Essa moda- lidade de aprendizagem permite a construção coletiva e colaborativa do conhecimento. Neste capítulo, você vai estudar os conceitos e as características prin- cipais da aprendizagem baseada em projetos e em problemas (ABP), en- tendendo como o professor pode transformar suas aulas em momentos de reflexão e de interação, a partir da construção de bons problemas. Você também conhecerá as estratégias que podem ser utilizadas no desenvolvimento dessa metodologia e como construir uma avaliação significativa. Por fim, você aprenderá aspectos importantes do planeja- mento de projetos e a refletir sobre o uso da ABP na prática educativa. Metodologias pautadas em resolução de problemas No final da década de 1960, professores da faculdade de Medicina da Uni- versidade MacMaster, no Canadá, introduziram uma abordagem específica educacional, com o objetivo de mudar a forma de ensino da medicina, de- nominada aprendizagem baseada em problemas (ABP). O intuito da equipe de professores era formar médicos que soubessem aplicar, na prática, todo o conhecimento obtido de forma teórica. Para tanto, essa proposta era introdu- zida nos últimos anos do curso, em que os alunos já possuíam conhecimento teórico suficiente para resolver determinados problemas. Conhecida como aprendizagem baseada em projetos, aprendizagem ba- seada em problemas ou aprendizagem por descoberta, a abordagem é sem- pre a mesma: colocar o aluno em contato com problemas ou situações que se aproximem de sua realidade, para que possa resolvê-los utilizando seus conhecimentos. A maior diferença entre a aprendizagem baseada em projetos e a aprendi- zagem baseada em problemas está na necessidade de integração das diferentes áreas do conhecimento, na capacidade de solução da questão em forma de um produto e na cooperação para resolução da proposta de trabalho. Na aprendizagem baseada em projetos, o resultado está no produto ou no artefato, e ela exige maior participação dos alunos, envolvendo-os ao longo de todo o processo de construção do conhecimento. Já na aprendizagem baseada em problemas, o foco está na busca pela solução do problema. A ABP, originalmente denominada project based learning (PBL), representa uma estratégia de ensino ativa e inovadora, em que o aluno irá construir o conhecimento de forma coletiva e interdisciplinar, por meio de atividades de Aprendizagem baseada em projetos e em problemas2 projeto. Em linhas gerais, a ABP é a solução de um ou mais problemas que podem se desenvolver durante o ensino de projeto. Trata-se de uma abordagem pedagógica na qual os estudantes iniciam sua atividade partindo de um problema que pode ser real ou uma situação simulada de qualquer área do conhecimento, desde que atenda aos objetivos de aprendizagem de um curso ou disciplina. É importante considerar que os problemas são situações contextualizadas e apresentadas pelo professor em forma de questões, casos e cenários que necessitam de uma solução/resposta por meio de um processo investigativo realizado pelos discentes. Apesar de ter sua origem na década de 1960, foi a partir de 1990 que a ABP passou a ser aplicada nos Estados Unidos. É uma metodologia que tem ganhado cada vez mais espaço, por ser “[…] um formato de ensino empolgante e inovador, no qual os alunos selecionam muitos aspectos de sua tarefa e são motivados por problemas do mundo real que podem, e em muitos casos, irão contribuir para a sua comunidade” (BENDER, 2014, p. 15). Diferentes universidades passaram a introduzir a metodologia em seus cursos de Medicina, inclusive o Brasil, que em 1993, implantou a ABP pela primeira vez na Escola de Saúde Pública do Ceará. Em seguida, a prática começou a ser empregada em diferentes universidades e áreas que não fossem somente da saúde, como administração, pedagogia, engenharias, entre outras. Analisando o modelo educacional tradicional, baseado demasiadamente em aulas expositivas e na memorização de conteúdos, entendemos a impor- tância de repensarmos sobre metodologias inovadoras, que possibilitem maior participação do aluno em seu processo de aprendizagem. A ABP entende que o problema é apresentado para ajudar os alunos a identificarem suas próprias necessidades de aprendizagem, à medida que tentam entendê-lo, reunir, sintetizar e aplicar informações sobre o problema e começar a trabalhar efetivamente para aprender com os membros do grupo e com o tutor (professor). Os fundamentos da aprendizagem baseada em problemas estão descritos a seguir. � Aprendizagem em grupos pequenos: a aprendizagem baseada em projetos e em problemas ocorre em uma configuração de tutoria, em grupos de sete a oito alunos. Um aluno é designado para um grupo tutorial e há um facilitador diferente em cada uma das cinco áreas de fundamentação. Os tutoriais ocorrem duas vezes por semana. � Facilitação por parte dos professores: o tutor procura estabelecer um equilíbrio entre guiar a conversa do tutorial e solicitar ativamente o 3Aprendizagem baseada em projetos e em problemas feedback dos alunos, para garantir que suas lacunas de conhecimento sejam abordadas e resolvidas. � Uso de casos reais: os alunos são apresentados a casos reais durante o primeiro tutorial da semana. Espera-se que os alunos estudem, inves- tiguem o caso e apresentem seus resultados durante o segundo tutorial dessa semana. � Objetivos de aprendizagem: simplesmente propor aos alunos um caso não garante que eles entenderão os conceitos apropriados. Cada caso/ tutorial é fundamentado em um conjunto de objetivos de aprendizagem definidos, essenciais para garantir que os alunos abordem o conteúdo correto e identifiquem seus pontos fortes e fracos naquela área em particular. Para Bruner (1976), o processo de aprendizagem ocorre a partir da aquisição e da transformação de uma nova informação, adaptando novas ideias e ava- liando a aquisição dessa informação. Entendendo o processo de aprendizagem e considerando os fundamentos da ABP, é importante destacar que, para o sucesso desse processo e para que o aprendizado realmente aconteça, é neces- sário o envolvimento do aluno, seu interesse e sua curiosidade em aprender. Para que esse interesse desperte no aluno, os problemas trazidos para sala de aula não podem ser rotineiros: devem ser construídos, privilegiando problemas reais, que desenvolvam as habilidades dos alunos, instiguem a busca criativa de soluções e o pensamento crítico. O papel do professor é fundamental, uma vez que ele é o mediador entre o aluno e o conteúdo a ser estudado (Figura 1), estimulando-o em suas descober- tas. É ele quem cria as situações de aprendizagem e seu papel na construção dos problemas é fundamental, uma vez que ao formulá-los, ele precisa fazer conexões entre a teoria e a prática, buscando as relações entre o que ensina e as habilidades necessárias aos futuros profissionais, de forma que estimule os alunos a tomarem suas próprias decisões. Quando bem aplicada, a ABP pode produzir efeitos positivos na prática educativa, levando os alunos a interagir com a realidade e a desenvolverem o senso crítico. Ao analisar as constantes mudanças sociais, é de suma impor- tância repensar os métodos adotados pelo professor em sala deaula, para que estes também atendam às necessidades da sociedade. Aprendizagem baseada em projetos e em problemas4 Figura 1. Na ABP, o professor é o mediador entre o aluno e o conteúdo. Professor Aluno Conteúdo Entendendo que a aprendizagem não é um processo passivo, em que um obrigatoriamente ensina e outro aprende, a ABP coloca professor e aluno como parceiros na construção do conhecimento. Para Mamede e Penaforte (2001), a ABP possibilita que o aluno, autodirigindo sua aprendizagem, construa o conhecimento de forma ativa e colaborativa, aprendendo de forma contextu- alizada e dando um significado pessoal ao saber. Nesse sentido, para construir um bom problema, o professor deve pensar em atrair a atenção e o interesse de seus alunos, a fim de motivá-los a bus- carem respostas para a questão, não esquecendo que este (o problema) venha ao encontro dos objetivos da disciplina para que os educandos percebam a correspondência entre o conteúdo e a proposta apresentada. Outro aspecto importante é propor um problema desafiante, porém não muito extenso, que contenha informações claras e contemple os conhecimentos prévios dos alunos para que tenham interesse em pesquisar e descobrir mais. 5Aprendizagem baseada em projetos e em problemas A aprendizagem baseada em projetos e em problemas se diferencia em muitos as- pectos da problematização. Primeiramente, por quem a executa: enquanto a ABP envolve todos na gestão educacional, fazendo necessária a preparação do ambiente educacional, a problematização é uma decisão do professor que não requer grandes mudanças na estrutura e nos materiais. Trata-se de uma mudança comportamental do professor e dos estudantes. Na problematização, o indicado é que os estudantes possam identificar os problemas a partir da primeira fase da metodologia, que é a observação da realidade, enquanto na ABP usualmente quem introduz o problema é o professor e os estudantes devem resolvê-lo, pois este problema é elaborado de acordo com o objetivo da aula/conteúdo ou da disciplina na qual será desenvolvida a ABP. Em comum, ambas as metodologias oferecem a possibilidade de os estudantes formularem hipóteses, incluem trabalho em grupo e partem de uma pergunta focal como padrão para gerar novas informações, mediante processos de análise e de síntese. Estratégias para o desenvolvimento e para a avaliação das atividades A aplicação da ABP em sala de aula requer profunda reflexão sobre o(s) objetivo(s) que se pretende atingir, para que a partir disso seja elaborada a questão que norteará a aprendizagem. No desenvolvimento da atividade, o professor deve estar ciente de que não se trata de mera obtenção de conceitos por parte dos alunos, mas do desenvolvimento de habilidades cognitivas como compreensão, raciocínio e estratégia. Para a aplicação da ABP, Souza e Dourado (2015) apresentam uma estrutura básica de passos que podem ser adaptados e aplicados em diferentes níveis de ensino. � Elaboração do cenário ou contexto problemático: deve ser de acordo com o objetivo que se pretende atingir e chamar a atenção do aluno para que este identifique o tema do objeto de estudo. Além disso, deve haver relação com o conteúdo, ser funcional e de um tamanho ideal. Aprendizagem baseada em projetos e em problemas6 � Questões-problema: ao receber as questões-problema, os grupos devem organizar as informações, dividir as tarefas, esclarecer as dúvidas com o professor/tutor para então decidirem como vão aprofundá-las. � Resolução dos problemas: é a fase em que os alunos colocam em prática todas as ações planejadas anteriormente. � Apresentação do resultado e autoavaliação: o grupo deve elaborar uma síntese com as reflexões e os debates realizados. Todos deverão apresentar a solução encontrada para o grupo. No final, é importante que o grupo e que cada aluno realizem uma autoavaliação junto ao professor, que irá verificar se o objetivo foi ou não atingido, realizando, assim, a avaliação da aprendizagem. A construção de conhecimentos por meio da ABP se caracteriza não só por ser uma oportunidade rica e significativa para que o aluno confronte suas ideias com as de outros colegas, mas também propicia uma visão concreta e prática do aprendizado. Ao trabalhar em grupo, os alunos percebem a importância da troca de saberes e da colaboração, apoiam-se mutuamente, significando a importância de atingirem os objetivos que lhes são comuns, acordados pelo coletivo, o que, por sua vez, exige o estabelecimento de relações que prezem pela liderança compartilhada, pela confiança mútua e a corresponsabilidade para a condução das tarefas. A aprendizagem em grupo na ABP se configura como uma estratégia de ensino na qual os sujeitos, de diferentes níveis de desempenho, trabalham juntos e em pequenos grupos a fim de atingir uma meta — a partir da qual entram em expressiva e significativa interatividade. Uma das mais importantes mudanças que acontecem na prática docente da ABP começa pela concepção que se tem de avaliação, uma vez que esta deve vir carregada de significados e não ser apenas uma forma de mensurar quantitativamente o quanto o aluno sabe ou não. A ABP permite o feedback imediato para que o professor avalie o progresso da aprendizagem dos alunos, obtendo pistas da assimilação do conteúdo e das possíveis dificuldades encontradas. Já para o aluno, é a oportunidade de refletir, em tempo real, sobre as estratégias utilizadas e avaliar o caminho que percorreu. Ao receber o feedback imediato, o aluno desmistifica a ideia negativa que se tem do erro na aprendizagem, uma vez que o percebe como parte natural do processo e isso o leva a experimentar diferentes formas de pensar. 7Aprendizagem baseada em projetos e em problemas Como elaborar questões norteadoras Ao planejar a questão norteadora, o professor deve privilegiar para que a avaliação ocorra durante todo o processo e na sua aplicação, estando atento às impressões dos alunos. Na elaboração de uma questão norteadora, deve-se considerar que: � as questões devem ser provocativas, ir além de superficialidades, ins- tigando e despertando o interesse dos alunos; � devem ir além da obtenção por respostas fáceis, levando os alunos a um pensamento superior, exigindo que eles integrem, sintetizem e avaliem criticamente as informações; � não podem privilegiar apenas uma disciplina ou tópico; é importante que promovam conexões e quando possível, a interdisciplinaridade; � podem surgir a partir de dilemas da vida real dos alunos e responder às suas dúvidas ou curiosidades; � não se detenham a responder “o que é isso?” ou “quais são?”, mas sim, “por que isso acontece?” ou “como isso acontece?”. Além dessas dicas, é importante que o professor tenha claro seu objetivo e evite “armadilhas”, pois a questão norteadora deve promover a reflexão por parte dos alunos. Isso o possibilitará a melhora de possíveis futuros aspectos que acabaram não funcionando em determinada atividade. A avaliação contínua permite uma me- lhor reflexão sobre as relações entre professor e aluno, professor e conhecimento, estudante e estudante, estudante e conhecimento (SOUZA; DOURADO, 2015). A avaliação se caracteriza como um dos maiores desafios da ABP, uma vez que as instituições escolares ainda privilegiam avaliações formais. Nesta metodologia, a avaliação acontece de forma contínua e exige cuidados por parte do professor, uma vez que é baseada na observação direta, nos argumentos e nos registros realizados pelos alunos. O professor deve pensar em uma forma de avaliar por meio da APB, so- licitando um produto final da solução encontrada pelo grupo, podendo ser: � uma apresentação de slides; � a produção de um artigo científico; � um relatório escrito; � qualquer outra produção que evidencie a construção significativa do conhecimento. Aprendizagem baseada em projetos e em problemas8 É preciso ter em mente que a ABP possibilita a integração de conhecimentos, uma vez que considerao conhecimento prévio do aluno para a construção de novos conhecimentos. Nesse sentido, é importante valorizar aquilo que o aluno já sabe, planejando questões que instiguem sua curiosidade e seu pensamento crítico. A ABP pode ser implementada em um ambiente on-line, sem alterar sua filosofia fundamental. A riqueza de mídias que podem ser utilizadas no ambiente on-line acaba fundamentando a experiência. Apesar da curva de aprendizado ser íngreme, o treinamento e o planejamento podem ajudar estudantes e tutores a se adaptarem e a desenvolverem a alfabetização on-line para se utilizar a ABP em educação a distância. Apesar de seus desafios, a ABP on-line tem potencial para apoiar a aquisição e a aplicação de novos conhecimentos em diversos contextos, além de criar a possibilidade de aprendizagem interdisciplinar. A aprendizagem baseada em projetos e em problemas na prática A aprendizagem baseada em projetos e em problemas não tem como objetivo a mera transmissão e a aquisição de conteúdos, mas é caracterizada pela articulação entre teoria e prática, com a intenção de apresentar ao aluno um problema ou uma situação próxima da realidade, que resulte em uma solução e leve o aprendiz a tomar consciência da sua participação efetiva nesse processo. A aprendizagem baseada em projetos desenvolve nos educandos o senso de responsabilidade, amplia seus conhecimentos e desperta a atenção às diferenças individuais. Os resultados obtidos refletem a coletividade, favorecendo futuras discussões e o intercâmbio de ideias, permitindo uma comunicação direta em que todos percebam os problemas e as dificuldades durante a atividade. Esta interação possibilita o desenvolvimento de lideranças, o compartilhamento de expectativas, dificuldades e metas, promovendo o sentimento de coleguismo e, principalmente, de aprendizagem colaborativa. Segundo Bender (2014), para se conceber o planejamento dos projetos de ABP são necessários alguns componentes essenciais, conforme descrito no Quadro 1. 9Aprendizagem baseada em projetos e em problemas Fonte: Adaptado de Bender (2014). Âncora do projeto Simples narrativas que descrevam o problema, podendo ser algo mais envolvente e que desperte o interesse dos alunos. É imprescindível que ela descreva um projeto real para os alunos. Questão motriz Em conjunto com a âncora, a questão motriz deve tanto motivar os alunos quanto ajudá-los a delinear parâmetros que orientem seu trabalho. Voz e escolha dos alunos O professor deve envolver os alunos na escolha do projeto, considerando não apenas os tipos de escolhas de ABP significativas para eles, mas principalmente qual delas tem maior possibilidade de funcionar para eles. Processos específicos para investigação e pesquisa Apenas algumas atividades e alguns processos de aprendizagem devem ser estipulados pela tarefa inicial, proporcionando experiências autênticas para que os grupos possam resolver o problema. Investigação e inovação dos alunos O professor deve usar meios que estimulem a investigação e o pensamento inovador dos alunos durante o processo de planejamento, pesquisa e desenvolvimento das atividades, por exercer o papel de facilitador. Cooperação e trabalho em equipe Ajudar os alunos a trabalharem juntos na resolução de um problema, desempenhando diferentes papéis e se ajudando mutuamente. É uma das principais contribuições da ABP. Oportunidades para a reflexão Estimulando e levando o aluno a usar o pensamento reflexivo, ele é capaz de encontrar soluções para o problema de forma criativa e inovadora. Feedback e revisão Quando o aluno recebe o feedback constante dos caminhos percorridos em cada etapa e tem a oportunidade de revisar seu trabalho, ele se sente mais motivado durante o processo. Apresentações públicas dos resultados dos projetos O professor pode dar como alternativa para os alunos publicarem os resultados do projeto em formato de vídeos, relatórios, websites, apresentação de slides, entre outros, a fim de divulgar para outras pessoas as soluções encontradas. Quadro 1. Planejamento de projetos na ABP Aprendizagem baseada em projetos e em problemas10 Analisando o Quadro 1, temos uma visão geral de como a ABP pode con- tribuir para a formação de um aluno com habilidades necessárias para atuar em nossa atual sociedade por meio da comunicação, do raciocínio lógico, do desenvolvimento da criatividade e do pensamento inovador. A seguir, podemos analisar uma sequência didática de aplicação da me- todologia da ABP. a) O professor seleciona um problema, caso, cenário ou uma situação a partir das necessidades do conteúdo trabalhado. b) Os estudantes realizam pesquisas ou a coleta de informações, indi- vidualmente ou em grupo, ou seja, passam a investigar o assunto/ solução conforme as especificidades de cada situação, com o intuito de desvendar ou resolver o problema que receberam. c) Para que os estudantes consigam solucionar o problema elencado, o pro- fessor pode indicar as fontes ou autores de base para a investigação, mas nesta forma de trabalho também é possível utilizar outras referências como parte do processo de busca e de qualificação da resposta/solução. d) O professor deve indicar a forma de apresentação da resolução do problema, bem como critérios para sua solução, como a capacidade de execução, a viabilidade, entre outros. Para enriquecer sua proposta, o professor pode organizar o projeto fazendo uso das tecnologias disponíveis para o ensino. Quando bem utilizadas, estas aumentam a eficácia da aprendizagem e o envolvimento dos alunos na ativi- dade, abrindo oportunidade para integrar, enriquecer e expandir os materiais educacionais, apresentando novas maneiras de interação. É importante utilizar tecnologias nas metodologias adotadas pelo professor, pois ao mesmo tempo em que inovam a prática docente, elas também vão ao encontro da realidade dos alunos. Quando aplicadas à ABP, as tecnologias se tornam ferramentas que pro- porcionam possibilidades de aprendizagem que colaboram para o professor estreitar laços de fala e interação com os educandos. É possível planejar atividades que utilizem a internet, softwares, celulares, câmeras fotográficas e de vídeo, quadros interativos, aplicativos, jogos digitais, entre outros. 11Aprendizagem baseada em projetos e em problemas Para conhecer um pouco mais sobre o uso de recursos tecnológicos na ABP, leia o artigo “Aprendizagem baseada em projetos: contribuições das tecnologias digitais”, que traz importantes reflexões sobre as possibilidades e os desafios para a prática educativa, disponível no link a seguir. https://qrgo.page.link/gp3Yd Tipos de projetos da ABP Como mencionado anteriormente, o planejamento de um projeto deve vir ao encontro da necessidade de se possibilitar uma aprendizagem significativa, contemplando problemas contextualizados, que levem o aluno a fazer uso do pensamento reflexivo e crítico. Moura (1993) apresenta três categorias de projetos que podem ser adotadas no planejamento da ABP. � Projeto construtivo: tem o objetivo de construir algo novo, inovador ou uma nova solução para um problema. � Projeto investigativo: adotando o método científico, o aluno utiliza da pesquisa em diversas fontes para encontrar a solução do problema. � Projeto didático ou explicativo: com base nas questões: “Como?” e “Para quê?”, explica a funcionalidade do objeto de estudo. A ABP pode ser planejada por um ou mais professores, contemplando diferentes disciplinas. O importante é que, em seu planejamento, o professor privilegie oportunidades de interação e de interiorização dos conhecimentos produzidos pelos alunos. Para entender melhor como a ABP pode ser usada na prática pedagógica, vamos imaginar que o professor, após ter trabalhado o conteúdo de alimentação saudável, lança o seguinte desafio: como conscientizar as pessoas sobre a importância de uma alimentação saudável? Pode ser que um grupo crie uma campanha com panfletos Aprendizagembaseada em projetos e em problemas12 e cartazes que informem os benefícios dos alimentos funcionais; outro grupo pode criar um aplicativo com receitas saudáveis; enquanto o outro pode entrevistar um nutricionista para aprofundar a questão. Portanto, na ABP não há um único caminho para encontrar a solução de um problema: a aprendizagem é construída a partir da curiosidade, da criatividade e da autonomia. BENDER, W. N. Aprendizagem baseada em projetos: educação diferenciada para o século XXI. Porto Alegre: Penso, 2014. 156 p. BRUNER, J. S. Uma nova teoria de aprendizagem. 4. ed. Rio de Janeiro: Bloch, 1976. 162 p. MAMEDE, S.; PENAFORTE, J. C. Aprendizagem baseada em problemas: características, processos e racionalidade. In: MAMEDE, S.; PENAFORTE, J. C. (org.). Aprendizagem baseada em problemas; anatomia de uma nova abordagem educacional. Fortaleza: Hucitec, 2001. p. 27–48. MOURA, D. G. A dimensão lúdica no ensino de ciências: atividades práticas como elemento de realização lúdica. 1993. 311 f. Orientador: Ernst Wolfgang Hamburger. Tese (Doutorado em Educação) — Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1993. SOUZA, S. C.; DOURADO, L. Aprendizagem baseada em problemas (ABP): um método de aprendizagem inovador para o ensino educativo. Holos, Natal, v. 5, p. 182–200, 2015. Disponível em: http://www2.ifrn.edu.br/ojs/index.php/HOLOS/article/view/2880/. Acesso em: 8 maio 2019. Leituras recomendadas BACICH, L.; MORAN, J. (org.). Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. São Paulo: Penso, 2018. 260 p. (Série Desafios da Educação). BERBEL, N. A. N. A problematização e a aprendizagem baseada em problemas: dife- rentes termos ou diferentes caminhos? Interface — Comunicação, Saúde, Educação, Botucatu, v. 2, n. 2, p. 139–154, fev. 1998. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_abstract&pid=S1414-32831998000100008&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 8 maio 2019. BUCK INSTITUTE FOR EDUCATION. Aprendizagem baseada em projetos: guia para pro- fessores de ensino fundamental e médio. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008. 200 p. 13Aprendizagem baseada em projetos e em problemas CYRINO, E. G.; TORALLES-PEREIRA, M. L. Trabalhando com estratégias de ensino-apren- dizado por descoberta na área da saúde: a problematização e a aprendizagem baseada em problemas. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 20, n. 3, p. 780–788, maio/jun. 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0102- -311X2004000300015&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 8 maio 2019. PAULA, F. B. R. Da “Aprendizagem Baseada em Problemas” à “Aprendizagem Baseada em Projetos”: estratégias metodológicas para o ensino de projeto nos cursos de Design à luz dos paradigmas contemporâneos. Actas de Diseño, Buenos Aires, v. 9, n. 17, p. 142–146, jul. 2014. Disponível em: https://fido.palermo.edu/servicios_dyc/publicacionesdc/ vista/detalle_articulo.php?id_libro=485&id_articulo=10252. Acesso em: 8 maio 2019. Aprendizagem baseada em projetos e em problemas14
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