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CARACTERIZAÇÃO FISIOGRÁFICA DE BACIAS HIDROGRÁFICAS 1. Definição de bacia hidrográfica e seus componentes A bacia hidrográfica é uma área delimitada espacialmente pelo relevo através dos divisores de água (linha de pontos elevados), sendo drenada por um curso d'água ou um sistema conectado de cursos d'água (rede de drenagem), tal que, a vazão efluente é descarregada por uma simples saída, a seção de controle. Uma hipótese geralmente usada nos projetos de hidrologia é a de que os divisores de águas subterrâneas coincidem com os divisores de água superficiais. Isto nem sempre acontece e pode-se ter um volume de água subterrânea fluindo para outra bacia. O papel hidrológico da bacia hidrográfica é transformar uma entrada de volume concentrado no tempo (chuva) em uma saída de água (escoamento-vazão) mais distribuída ao longo do tempo. Os volumes de entrada e de saída são diferentes devidos às perdas por evapotranspiração e infiltração. A importância do estudo das bacias hidrográficas está no fato da mesma representar a unidade fundamental de análise do ciclo hidrológico na sua fase terrestre sendo respaldado pela lei 9.433 de 1997 (Lei das Águas). A rede de drenagem constitui-se de todos os corpos d’água da bacia e canais de escoamento. Tem sua importância destacada pela caracterização e manejo de bacias hidrográficas, determinação de sua capacidade de produção de água (Disponibilidade hídrica), caracterização do escoamento superficial, caracterização do potencial de produção e transporte de sedimentos, entre outros. A seção de controle é o local por onde toda a água captada pela bacia hidrográfica realiza sua drenagem. Também é conhecida como exutório. 2. Análise escalar de bacias hidrográficas Em estudos hidrológicos o espaço é uma dimensão relevante para compreensão dos fenômenos e processos que compõem a dinâmica da água no sistema. Para tanto, os estudos são realizados a partir da definição da escala que se deseja obter a informação hidrológica. Atualmente, são observadas diversas formas de enquadra a bacia hidrográfica em termos escalares. A maioria das classificações foca, exclusivamente, no tamanho da bacia (área). Já algumas classificações buscam agregar a análise escalar a dinâmica dos processos hidrológicos. TUCCI (2003) em seu livro “Hidrologia: Ciência e Aplicação” propõem a classificação de bacias hidrográficas em função de seu tamanho com base nas áreas abaixo listadas: Micro < 10-4 km2 (100 ha); Transição γ 10-4 – 10 km2 (100 – 1000 ha); Meso 10 - 103 km2 (1000 -100000 ha); Transição α 103 - 104 km2 (100000 – 1000000 ha); Macro > 104 km2 (> 1000000 ha); Já PAIVA e PAIVA (2001) em seu livro “Hidrologia Aplicada à Gestão de Pequenas Bacias Hidrográficas” trazem conceitos mais focados nos processos hidrológicos e nos procedimentos de observação para classificarem as bacias hidrográficas. Tais autores propõem a divisão das bacias em representativas, elementares e experimentais. Bacias representativas: são bacias instrumentadas com aparelhos de observação e registro de fenômenos hidrológicos que representam bacias situadas em uma mesma região homogênea. Apresentam extensões de 1 a 250 Km². Em geral essas bacias são instrumentadas para obtenção de dados típicos de uma região homogênea a que pertencem, permitindo a fundamentação de estudos que resultam em um melhor conhecimento dos processos hidrológicos. Bacias Elementares: são bacias de pequena ordem, que constituem a menor unidade geomorfológica onde podem ocorrer todos os processos elementares do ciclo hidrológico. Em geral, apresentam tamanho de ate 5 km 2 . Bacias experimentais: são bacias relativamente homogêneas no que se refere a cobertura do solo. Possuem características físicas relativamente uniformes, com área menor do que 4 Km², onde são realizados estudos detalhados do ciclo hidrológico. Em alguns casos são selecionadas bacias com algumas condições naturais alteradas para estudar seu efeito sobre o comportamento hidrológico, inferindo leis e demais relações. 3. Caracterização fisiográfica de bacias hidrográficas A fisiografia corresponde ao estudo das características naturais existentes na superfície terrestre. Os estudos/levantamentos de caracterização fisiográfica buscam identificar aspectos físicos, geográficos e topográficos de uma bacia hidrográfica que contribuem par a compreensão do seu comportamento hidrológico. Os dados fisiográficos podem ser obtidos por meio de levantamentos de campo ou extraídos de fotografias áreas, imagens de satélite e cartas topográficas. Esses dados consistem em informações de área, altitude, declividade, comprimentos / distâncias entre outros. Os dados fisiográficos podem ser interpretados de forma direta ou convertidos em índices / indicadores aos quais são atribuídos significados hidrológicos. A caracterização fisiográfica mostra sua relevância por possibilitar uma melhor compreensão do comportamento hidrológico de uma bacia hidrográfica principalmente na ocorrência de eventos extremos. a) Área A área deve ser definida em relação a um dado ponto ao longo do canal, ou à própria saída ou confluência da bacia. A área total inclui todos os pontos situados a altitudes superiores à da saída da bacia e dentro do divisor topográfico que separa duas bacias adjacentes. Como o deflúvio pode ser originado de componentes superficiais e sub- superficiais é possível existir uma área de drenagem superficial que não corresponde exatamente aos limites subterrâneos da bacia, ou seja, o divisor topográfico pode não coincidir com o divisor freático. A área é uma informação básica utilizada de forma direta para confecção de outros índices / indicadores fisiográficos de uma bacia hidrográfica. b) Forma da bacia A forma superficial de uma bacia hidrográfica influencia diretamente a distribuição de água na bacia com efeito direto no escoamento superficial podendo gerar cheias / vazões de pico. O formato da bacia é analisado principalmente através do cálculo de índices que relacionam este formato da bacia com a forma de figuras geométricas conhecidas. Os índices mais utilizados são: o fator de forma e o coeficiente de compacidade. Fator de forma – Kf O fator de forma expressa a tendência de uma dada bacia hidrográfica estar susceptível a ocorrência de eventos de cheias, ou seja, é um indicador qualitativo que manifesta, na ocorrência de um evento extremo de precipitação, a tendência de ocorrência de cheias. O fator de forma pode ser expresso pela Equação 1: ̅ (1) Em que, Kf corresponde ao fator de forma (adimensional), Lax representa o comprimento axial (km) e B refere-se ao comprimento médio dos segmentos de reta que cortam perpendicularmente o Lax da bacia conectando seus divisores topográficos – largura média da bacia hidrográfica (km). O comprimento axial da bacia é definido pelo segmento de reta que une a seção de controle de interesse ao divisor topográfico mais longínquo da bacia. Quanto mais próxima do formato de um quadrado, mais curtas tendem ser as drenagens e os níveis dos rios respondem de forma mais rápida a eventos de precipitação. Na Figura 1 é apresentada uma bacia com formato quadrado (a) e uma com formato retangular (b). Figura 1. Bacia com formato quadrado (a) e retangular (b). (a) (b) Quanto mais próximo da unidade, maior o chance a ocorrência de enchentes na bacia. Abaixo segue uma classificação do Kf: Valores entre 1,00 e 0,75 Bacia sujeita a enchentes; Valores entre 0,75 e 0,50 Bacia com tendência mediana a ocorrência de enchentes; Valores abaixo de 0,50 Bacia não sujeita a ocorrência de enchentes. Coeficiente de Compacidade – Kc O coeficiente de compacidade expressa a relação entre o perímetro da bacia e a circunferência de um círculo de área igual à dabacia. É um numero adimensional que varia de acordo com a forma da bacia; quanto maior o coeficiente, mais longa é a bacia. Quanto mais próximo da unidade, mais circular é a bacia e maior é a sua tendência a gerar enchentes de grandes magnitudes. O fator de forma pode ser expresso pela Equação 2: √ (2) Onde Kc representa o coeficiente de compacidade (adimensional), Pbh corresponde ao perímetro da bacia (km) e Abh reflete a área da bacia hidrográfica (km 2 ). Na Figura 2 é apresentada uma bacia com formato circular (a) e uma com formato elíptico (b). (a) (b) Figura 2. Bacia com formato circular (a) e elíptico (b). Abaixo segue uma classificação do Kc: Valores entre 1,00 e 1,25 Bacia com alta propensão a ocorrência de grandes enchentes; Valores entre 1,25 e 1,50 Bacia com tendência mediana a ocorrência de grandes enchentes; Valores acima de 1,50 Bacia não sujeita a ocorrência de grandes enchentes. c) Sistema de drenagem O sistema de drenagem é constituído pelo rio principal e seus afluentes. O estudo das ramificações e do desenvolvimento do sistema é importante porque ele indica a velocidade com que a água deixa a bacia hidrográfica. O sistema de drenagem é analisado principalmente em relação à: constância do fluxo, ordem dos cursos de água e densidade de drenagem. Classificação quanto à constância do fluxo De acordo com o período de tempo durante o qual o fluxo ocorre, distinguem-se os seguintes tipos de rios: Perenes São aqueles rios com fluxo durante todo ano hidrológico e apresentam canais bem definidos. Intermitentes Rios com fluxo durante todo período chuvoso e no período seco há uma tendência deles secarem. Efêmeros São rios que surgem durante um evento chuvoso e tem seu fluxo finalizado durante o próprio evento ou pouco tempo após a finalização da chuva. Não apresentam canais bem definidos. Classificação quanto à ordem de drenagem A ordem de drenagem representa o grau de ramificação dos rios de uma bacia hidrográfica. É um indicador do desenvolvimento da rede de drenagem. Dentre os diversos métodos que possibilitam a definição da ordem de drenagem destaca-se o método proposto por Strahler. Este método propõe a classificação por segmentos (trechos) de rios. O início do processo de classificação se dá com os segmentos que não recebem contribuição a montante. Estes segmentos são definidos com de primeira ordem. Canais de segunda ordem são formados pela confluência de dois canais de primeira ordem. Está lógica é aplicada para as demais, onde a confluência de dois canais de ordem i resulta em um canal de ordem i+1 a jusante. Onde um canal de ordem menor encontrar um de ordem maior, o canal a jusante mantem a maior das duas ordens. A ordem da bacia hidrográfica é designada como a ordem do rio que passa pela seção de controle. A Figura 3 representa a classificação pelo método de Strahler para uma bacia de quarta ordem. 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 2 3 3 3 3 2 2 4 4 3 Figura 3. Classificação de Strahler para uma bacia de quarta ordem. Classificação quanto à densidade de drenagem - Dd A densidade de drenagem é definida como sendo a razão entre o comprimento total dos canais e a área da bacia hidrográfica. É um índice importante, pois reflete a influência da geologia, topografia, do solo e da vegetação da bacia hidrográfica, e está relacionado com o tempo gasto para a saída do escoamento superficial da bacia. A Equação 3 expressa o procedimento de cálculo da densidade de drenagem. ∑ (3) 4ª Ordem Onde Dd representa da densidade de drenagem (km.km -2 ), ΣL corresponde ao somatório dos comprimentos de todas as drenagens da bacia (km) e A reflete a área da bacia hidrográfica (km 2 ). As faixas de classificação deste índice irão variar de acordo com a base de dados que originou as informações que compõe o índice. Para base de dados oriunda de imagens de satélite a classificação é: Valores inferiores a 5 km.km -2 Baixa densidade de drenagem; Valores entre 5 e 13 km.km -2 Média densidade de drenagem; Valores superiores a 13 km.km -2 Alta densidade de drenagem. Frequência de drenos na bacia hidrográfica - Fd A Equação 4 expressa o procedimento de cálculo da frequência de drenos. (4) Onde Fd representa da frequência de drenos (rios.km -2 ), N corresponde ao número de rios da bacia hidrográfica e A reflete a área da bacia hidrográfica (km 2 ). Sinuosidade do curso d’água principal – S A Equação 5 expressa o procedimento de cálculo da sinuosidade do curso d’água principal. (5) Onde S representa a sinuosidade do curso d’água principal (km.km -1 ), L corresponde ao comprimento real do curso d’água principal e Lt reflete a distância euclidiana entre a nascente e a seção de controle do rio de interesse (km). Quanto mais próximo da unidade, mais retilíneo é o curso d’água. Declividade do curso d’água principal A Equação 6 expressa o procedimento de cálculo da sinuosidade do curso d’água principal. (6) Onde S1 representa a declividade do curso d’água principal (m.m -1 ), L corresponde ao comprimento real do curso d’água principal e ΔH reflete a diferença entre as cotas da nascente e seção de controle do rio principal (m). Extensão média do escoamento superficial – Cm Este parâmetro indica a distância média que a água de chuva teria que escoar sobre os terrenos da bacia, a partir do ponto onde ocorreu sua queda até o curso d’ água mais próximo. Ele representa a distância média do escoamento superficial. Com base na Equação 7 é obtido o valor de Cm. (7) Onde Cm representa a extensão média do escoamento superficial (Adimensional), e Dd corresponde a densidade de drenagem da bacia (km.km -2 ). d) Relevo da bacia hidrográfica O relevo de uma bacia hidrográfica tem grande influência sobre os fatores meteorológicos e hidrológicos, pois a velocidade de escoamento superficial é determinada pela declividade do terreno, enquanto que a temperatura, a precipitação e a evaporação são influenciadas pela altitude da bacia. São informações relevantes para uma boa caracterização fisiográfica de uma bacia o levantamento da declividade média, mínima e máxima da bacia hidrográfica, elevação média da bacia e construção de curvas hipsométricas para a bacia hidrográfica.
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