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0 – Natureza, Urbano, Rural e Cultura ‘ A geografia do Pará em múltiplas perspectivas - 1 Coordenadores Rosângela Aparecida de Medeiros Hespanhol Everaldo Santos Melazzo Organizadores Antonio Cezar Leal Carlos Alexandre Leão Bordalo João Osvaldo Rodrigues Nunes Colaboradora Leonice Seolin Dias A geografia do Pará em múltiplas perspectivas Natureza, Urbano, Rural e Cultura 1a edição TUPÃ-SP ANAP 2017 2 – Natureza, Urbano, Rural e Cultura Editora ANAP - Associação Amigos da Natureza da Alta Paulista Pessoa de Direito Privado Sem Fins Lucrativos Fundada em 14 de setembro de 2003 Rua Bolívia, nº 88, Jardim América, Cidade de Tupã, Estado de São Paulo. CEP 17.605-310 www.editoraanap.org.br www.amigosdanatureza.org.br editora@amigosdanatureza.org.br Revisor ortográfico - Maurício Dias Marques Editoração e diagramação - Leonice Seolin Dias; Sandra Medina Benini Capa: Porto Fluvial Marudá-Algodoal, Belém-PA. Autor: José Queiroz Miranda Neto (2008). FICHA CATALOGRÁFICA G298 A geografia do Pará em múltiplas perspectivas: natureza, urbano, rural e cultura [recurso eletrônico]/ coordenadores Rosângela Aparecida de Medeiros Hespanhol, Everaldo Santos Melazzo; organizadores Antonio Cezar Leal, Carlos Alexandre Leão Bordalo, João Osvaldo Rodrigues Nunes; colaboradora Leonice Seolin Dias. - Tupã: ANAP, 2017 212 p; il.; 14.8x21cm ISBN: 978-85-68242-62-9 1. Natureza. 2. Urbano. 3. Rural. 4. Cultura. 5. Estado do Pará. I. Hespanhol, Rosângela Aparecida de Medeiros. II. Melazzo, Everaldo Santos. III. Leal, Antonio Cezar. IV. Bordalo, Carlos Alexandre Leão. V. Nunes, João Osvaldo Rodrigues. VI. Dias, Leonice Seolin. VII. Título. Ficha catalográfica elaborada pela Seção Técnica de Aquisição e Tratamento da Informação - Diretoria Técnica de Biblioteca e Documentação - UNESP, Campus de Presidente Prudente Alessandra Kuba Oshiro Assunção - CRB-8/9013 Índice para catálogo sistemático Brasil: Geografia A geografia do Pará em múltiplas perspectivas - 3 Coordenadores e Organizadores Coordenadores Rosângela Aparecida de Medeiros Hespanhol Docente da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UNESP, Campus de Presidente Prudente; coordenadora do GEDRA e bolsista produtividade (PQ) do CNPq. Possui mestrado e doutorado em Geografia pela UNESP de Rio Claro e pós-doutorado pelo Centre de Recherche sur le Brèsil Contemporain (CRBC) da Ècole des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS) de Paris – França. Atua nas áreas de Geografia Humana e Agrária. Endereço eletrônico para contato: rosangel@fct.unesp.br Everaldo Santos Melazzo Economista pela Universidade Federal de Uberlândia - MG. Doutor em Geografia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho e Mestre em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Bolsista Produtividade do CNPq -2. É professor da Universidade Estadual Paulista - Unesp em Presidente Prudente- SP, junto ao Departamento de Planejamento, Urbanismo e Ambiente e docente do Programa de Pós-Graduação em Geografia. Membro do Conselho Fiscal da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Geografia. Atualmente coordena o Programa de Pós-Graduação em Geografia acadêmico da FCT/Unesp. Organizadores Antonio Cezar Leal Geógrafo, com especialização em Ensino de Geociências, Mestre em Geociências e Meio ambiente e Doutor em Geociências. Professor nos cursos de graduação em Geografia, Engenharia Ambiental e Arquitetura e Urbanismo e dos Programas de Pós-Graduação em Geografia (Acadêmico e Mestrado Profissional) da Faculdade de Ciências e Tecnologia/Universidade Estadual Paulista - Campus de Presidente Prudente. Coordenador do Grupo de Pesquisa Gestão ambiental e Dinâmica Socioespacial - GADIS, com projetos de pesquisa e de extensão universitária sobre gerenciamento de recursos hídricos e gerenciamento integrado de resíduos sólidos urbanos, realizados com apoio do CNPq, CAPES, FEHIDRO e FAPESP. Pesquisador do CNPq e representante da UNESP em colegiados do sistema de gerenciamento de recursos hídricos. Carlos Alexandre Leão Bordalo Geógrafo pela Universidade Federal do Pará, bacharel em Geografia pela Universidade Federal do Pará, especialização em Gestão Ambiental pela Universidade Federal do Pará, mestrado em Geografia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, e doutorado em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido pela Universidade Federal do Pará. Atualmente é professor adjunto da Universidade Federal do Pará, diretor da Faculdade de Geografia e Cartografia - FGC/UFPA, professor adjunto do Programa de Pós-Graduação em Geografia - PPGEO/UFPA, professor colaborador da pós-graduação do Núcleo de Meio Ambiente - NUMA/UFPA, professor colaborador da pós-graduação da Faculdade Integrada Brasil Amazônia 0 FIBRA Joao Osvaldo Rodrigues Nunes Geógrafo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1990), doutorado em Geografia pela Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho (2002), Pós-doutorado pela Universidade de Alicante, Espanha (2008-2009) e Livre Docência em Geografia Física pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2014). Atualmente é Professor Adjunto do Departamento de Geografia da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP/FCT), sendo Bolsista de Produtividade em Pesquisa 2 do CNPq. Orientador de mestrado e doutorado no Programa de Pós-graduação em Geografia da UNESP/FCT (CAPES-nota 7). Tem experiência na área de Geografia Física, com ênfase em Geomorfologia, atuando principalmente nos seguintes temas: Geomorfologia, mapeamento geomorfológico, erosão, depósitos tcnogênicos e Ambiente. 4 – Natureza, Urbano, Rural e Cultura A geografia do Pará em múltiplas perspectivas - 5 Conselho Editorial Interdisciplinar Profª Drª Alba Regina Azevedo Arana – UNOESTE Prof. Dr. Alexandre Carneiro da Silva Prof. Dr. Alexandre França Tetto – UFPR Prof. Dr. Alexandre Sylvio Vieira da Costa – UFVJM Prof. Dr. Alfredo Zenen Dominguez González – UNEMAT Profª Drª Alina Gonçalves Santiago – UFSC – UFV Profª Drª Aline Werneck Barbosa de Carvalho Profª Drª Ana Klaudia de Almeida Viana Perdigão – UFPA Profª Drª Ana Lúcia Reis Melo Fernandes da Costa – IFAC Profª Drª Ana Paula Santos de Melo Fiori – IFAL Prof. Dr. André de Souza Silva – UNISINOS Profª Drª Andrea Holz Pfutzenreuter – UFSC Prof. Dr. Antonio Fábio Sabbá Guimarães Vieira – UFAM Prof. Dr. Antonio Marcos dos Santos – UPE Profª Drª Arlete Maria Francisco – FCT/UNP Profª Drª Beatriz Ribeiro Soares – UFU Prof. Dr. Carlos Andrés Hernández Arriagada – Prof. Dr. Carlos de Castro Neves Neto –UNESP/PP Profª Drª Carmem Silvia Maluf – Uniube Profª Drª Célia Regina Moretti Meirelles – UPM Prof. Dr. Cesar Fabiano Fioriti – FCT/UNESP Prof. Dr. Cledimar Rogério Lourenzi – UFSC Prof. Dr. Crescencio L. Calva Alejo – Pesquisador/México Profª Drª Cristiane Miranda Martins – IFTO Profª Drª Daniela de Souza Onça – FAED/UESC Profª Drª Denise Antonucci – UPM Profª Drª Diana da Cruz Fagundes Bueno – UNITAU Prof. Dr. Edson L. Ribeiro – Unieuro –Ministério das Cidades- BR Profª Drª Eliana Corrêa Aguirre de Mattos – UNICAMP Profª Drª Eloisa Carvalho de Araujo – UFF Profª Drª Eneida de Almeida – USJT Prof. Dr. Erich Kellner – UFSCar Profª Drª Fátima Aparecida da SIlva Iocca – UNEMAT Prof. Dr. Felippe Pessoa de Melo – Centro Universitário AGES Profª Drª Fernanda Silva Graciani – UFGD Profª Drª Flávia Akemi Ikuta – UMS Profª Drª Flávia Maria de Moura Santos – UFMT Prof. Dr. Francisco Fransualdo de Azevedo – UFRN Prof. Dr. Francisco Marques Cardozo Júnior – UESPI Prof. Dr. Frederico Braida Rodrigues de Paula – UFJF Prof. Dr. Frederico Canuto – UFMG Prof. Dr. Frederico Yuri Hanai – UFSCar Profª Drª GelzeSerrat de Souza Campos Rodrigues – UFU Prof. Dr. Generoso De Angelis Neto – UEM Prof. Dr. Geraldino Carneiro de Araújo – UFMS Prof. Dr. Gerardo Bernache Pérez – CIESAS – México Prof. Dr. Glauco de Paula Cocozza – UFU Profª Drª Isabel Cristina Moroz Caccia Gouveia – FCT/UNESP Prof. Dr. João Cândido André da Silva Neto – UEA Prof. Dr. João Carlos Nucci – UFPR Prof. Dr. João Roberto Gomes de Faria – FAAC/UNESP Prof. Dr. José Aparecido dos Santos – FAI Prof. Dr. José M. Mateo Rodriguez – Univ. de Havana – Cuba Prof. Dr. José Sobreiro Flho – UFPA Prof. Dr. Josep Muntañola Thornberg – UPC/Barcelona, Espanha Profª Drª Josinês Barbosa Rabelo – UFPE Profª Drª Jovanka Baracuhy Cavalcanti Scocuglia – UFPB Profª Drª Juliana Heloisa Pinê Américo-Pinheiro – FEA Prof. Dr. Júnior Ruiz Garcia – UFPR Profª Drª Karin Schwabe Meneguetti – UEM Profª Drª Leda Correia Pedro Miyazaki – UFU Profª Drª Lidia Maria de Almeida Plicas – IBILCE/UNESP Profª Drª Lisiane Ilha Librelotto – UFS Profª Drª Luciana Ferreira Leal – FACCAT Profª Drª Luciana Márcia Gonçalves – UFSCar Prof. Dr. Marcelo Campos – FCE/UNESP Prof. Dr. Marcelo Real Prado – UTFPR Profª Drª Maria José Martinelli Silva Calixto – UFGD Profª Drª Márcia Eliane Silva Carvalho – UFS Profª Drª Marcia Aparecida da Silva Pimentel – UFPA Prof. Dr. Márcio José Catelan –UNESP/PP Prof. Dr.Marcio Douglas Brito Amaral – UFPA Profª Drª Margareth de Castro Afeche Pimenta – UFSC Profª Drª Maria Ângela Dias – UFRJ Profª Drª Maria Ângela Pereira de Castro e Silva Bortolucci – IAU Profª Drª Maria José M. Silva Calixto – UFGD Profª Drª Maria Augusta Justi Pisani – UPM Profª Drª Maria Betânia M. Amador – UPE – Campus Garanhuns Profª Drª María Glória Fabregat Rodríguez – IEA/Cienfuegos – Cuba Profª Drª Maria Helena Pereira Mirante – UNOESTE Profª Drª Maria José Neto – UFMS Profª Drª Maristela Gonçalves Giassi – UNESC Profª Drª Marta Cristina de Jesus Albuquerque Nogueira – UFMT Profª Drª Martha Priscila Bezerra Pereira – UFCG Prof. Dr. Maurício Lamano Ferreira – UNINOVE Profª Drª Natacha Cíntia Regina Aleixo – UEA Prof. Dr. Natalino Perovano Filho – UESB Prof. Dr. Nilton Ricoy Torres – FAU/USP Profª Drª Olivia de Campos Maia Pereira – EESC – USP Profª Drª Onilda Gomes Bezerra – UFPE Prof. Dr. Paulo Cesar Rocha – FCT/UNESP Prof. Dr. Renan Antônio da Silva – UNESP – IBRC 6 – Natureza, Urbano, Rural e Cultura Profª Drª Gianna Melo Barbirato – UFAL Prof. Dr. Ricardo Toshio Fujihara – UFSCar Profª Drª Risete Maria Queiroz Leao Braga – UFPA Prof. Dr. Rodrigo Simão Camacho – UFGD Prof. Dr. Rodrigo Barchi – UNISO Prof. Dr. Rodrigo Gonçalves dos Santos – UFSC Prof. Dr. Rodrigo José Pisani – UNIFAL-MG Prof. Dr. Ronaldo Rodrigues Araujo – UFMA Prof. Dr. Salvador Carpi Júnior – UNICAMP Prof. Dr. Sérgio Augusto Mello da Silva – FEIS/UNESP Prof. Dr. Ricardo de Sampaio Dagnino – UNICAMP Prof. Dr. Sergio Luis de Carvalho – FEIS/UNESP Profª Drª Sílvia Carla da Silva André – UFSCar Profª Drª Silvia Mikami G. Pina – Unicamp Profª Drª Simone Valaski – UFPR Profª Drª Tânia Paula da Silva – UNEMAT Prof. Dr. Vilmar Alves Pereira – FURG Prof. Dr. Vitor Corrêa de Mattos Barretto – FCAE/UNESP Prof. Dr. Xisto Serafim de Santana de Souza Júnior – UFCG A geografia do Pará em múltiplas perspectivas - 7 Sumário Prefácio 09 Apresentação 13 Capítulo 1 ANÁLISE DA TEMPERATURA DOS ALVOS NA ÁREA CENTRAL DA CIDADE DE BELÉM-PA UTILIZANDO BANDAS TERMAIS José Edilson Cardoso Rodrigues; Margarete Cristiane de Costa Trindade Amorim 17 Capítulo 2 DINÂMICA DE INUNDAÇÕES E EXPANSÃO URBANA EM ALTAMIRA-PA NO CONTEXTO DE INSTALAÇÃO DA USINA HIDRELÉTRICA DE BELO MONTE: uma análise a partir da complexidade. Rita Denize de Oliveira; Paulo Cesar Rocha 45 Capítulo 3 CARACTERÍSTICAS E DISTRIBUIÇÃO DAS FORMAÇÕES DE MAURITIA FLEXUOSA L. F. NA MICRORREGIÃO DO SALGADO PARAENSE Paulo Alves de Melo; Messias Modesto dos Passos 75 Capítulo 4 CASTANHAL (PA) - CIDADE MÉDIA DE ENTORNO METROPOLITANO: situação espacial, centralidade regional e interações espaciais Willame de Oliveira Ribeiro; Everaldo Santos Mellazzo 89 Capítulo 5 A EMERGÊNCIA DAS INDICAÇÕES GEOGRÁFICAS NO RURAL CONTEMPORÂNEO: rendas de monopólio e desenvolvimento territorial Benedito Ely Valente da Cruz; Rosangela Aparecida Medeiros Hespanhol 115 Capítulo 6 TRABALHO DOMÉSTICO REMUNERADO NO BRASIL: A EXPERIÊNCIA DE DIARIZAÇÃO E SEUS REFLEXOS SOBRE A PROTEÇÃO SOCIAL Francilene Soares de Medeiros Costa; Marcelo Dornelis Carvalhal 146 Capítulo 7 CONTRIBUIÇÃO AO DEBATE TEÓRICO E METODOLÓGICO ACERCA DA ABORDAGEM GEOGRÁFICA NOS ESTUDOS DE HOMICÍDIOS Tiago Barreto de Andrade Costa; Raul Borges Guimarães 165 Capítulo 8 TERRITORIALIDADE FESTIVA E IDIOMA DO SAGRADO NA AMAZÔNIA: o Divino na Festa do Sairé de Alter do Chão-Pará Maria Augusta Freitas Costa Canal; Eda Maria Góes 189 8 – Natureza, Urbano, Rural e Cultura A geografia do Pará em múltiplas perspectivas - 9 Prefácio Clay Anderson Nunes Chagas1 O livro A Geografia do Pará em Múltiplas Perspectivas: Natureza, Urbano, Rural e Cultura, coordenado e organizado por Rosângela Aparecida de Medeiros Hespanhol, Everaldo Santos Melazzo, Antônio Cezar Leal, Carlos Alexandre Leão Bordalo e João Osvaldo Rodrigues Nunes, fruto da parceira entre a Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho (UNESP-Presidente Prudente), Universidade Federal do Pará – UFPA e Universidade do Estado do Pará - UEPA, através dos seus programas de Pós-Graduação em Geografia e as Faculdades de Geografia, é resultado de uma exitosa cooperação institucional, que culminou na realização de um DINTER e os capitulos aqui apresentados são oriundos de algumas teses defendidas nos anos de 2016 e 2017. A materialização dessa parceira institucional é fruto de um esforço contínuo, realizado ao longo dos últimos anos, entre a Faculdade de Geografia e Cartografia da Universidade Federal do Pará e o Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP - Presidente Prudente. Os capítulos aqui presentes representam uma parte dos esforços realizados pelos professores/alunos do DINTER com seus respectivos orientadores. Dessa forma o livro está organizado em oito capítulos. O primeiro capítulo, de autoria de José Edilson Cardoso Rodrigues e Margarete Cristiane de Costa Trindade Amorim, denominado: “Análise da temperatura dos alvos na área central da cidade de Belém utilizando bandas termais”, consiste em analisar uma série histórica de temperatura dos alvos na área central de Belém, no período de 1987 a 2013, através da utilização de sensoriamento remoto e dados meteorológicos, assim como a correlação com as mudanças dos padrões de uso e ocupação do solo urbano. Na sequência das análises voltadas para as questões ambientais, Rita Denize de Oliveira e Paulo Cesar Rocha nos apresentam o capítulo “Uma proposta teórica e metodológica para compreensão das inundações graduais e rápidas em Altamira, Pará”. Os autores partem da 1 Possui graduação em Geografia Licenciatura e Bacharelado pela Universidade Federal do Pará, mestrado em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido e doutorado em Desenvolvimento Socioambiental pela Universidade Federal do Pará. Atualmente é Vice Reitor da Universidade Federal do Pará, participa como professor do Programa de Pós Graduação em Geografia e do Programa de Pós Graduação em Segurança Pública pela Universidade Federal do Pará. 10 – Natureza, Urbano, Rural e Cultura problemática das inundações localizadas na cidade de Altamira, e, dessa forma, investigam,quais as possíveis causas que explicariam as duas formas de inundações, graduais e rápidas, utilizando a teoria da complexidade em sua dimensão dinâmica e metodológica. O capítulo “Características e distribuição das formações de Mauritia Flexuosa L. F. na Microrregião do Salgado Paraense”, dos autores Paulo Alves de Melo e Messias Modesto dos Passos, apresenta a distribuição das paisagens de várzeas, especialmente, o buruti, açaí, tucumã, marajá, murumuru e ubim, na Microrregião do Salgado paraense. O objetivo central desse artigo consiste em um levantamento cartográfico da distribuição das paisagens de várzea, a fim de entender o potencial geoecológico das mesmas para a proteção das nascentes e local de abrigo e reprodução de fauna. O capítulo quatro, em uma perspectiva mais da Geografia Urbana, nos brinda com uma análise das discussões sobre cidade média, em especial a cidade de Castanhal, sendo que os autores Willame de Oliveira Ribeiro e Everaldo Santos Melezzo, apresentam: “Castanhal (PA) – cidade média de entorno metropolitano: situação espacial, centralidade regional e interações espaciais”. A discussão central diz respeito à função que a cidade de Castanhal exerce no âmbito da rede urbana regional. Para tanto, os autores fizeram uma análise levando em consideração a situação espacial, centralidade regional e as interações espaciais vivenciadas em Castanhal. O próximo capítulo é “Emergência das indicações geográficas no rural contemporâneo: rendas de monopólio e desenvolvimento territorial”, dos autores Benedito Ely Valente da Cruz e Rosangela Aparecida Medeiros Hespanhol. Os autores trazem para a discussão a emergência das indicações geográficas no rural contemporâneo e as transformações que afetam o setor de agroalimentos no século XXI. A principal questão levantada nesse artigo diz respeito à transição de uma economia de escala para uma (re)valorização da dimensão espaço–territorial-local na lógica da reprodução do capital. O capítulo seis, denominado de “Trabalho doméstico remunerado no Brasil: a experiência de diarização e seus reflexos sobre a proteção social”, de Francilene Soares Medeiros e Marcelo Dornelis Carvalhal, apresenta os aspectos que caracterizam o trabalho doméstico renumerado feito por diaristas, especialmente nos municípios de Belém e São Paulo. Os autores trabalham a partir da percepção das próprias diaristas. Assim, foi possível fazer uma reflexão sobre os dilemas e paradoxos desse fenômeno nos municípios pesquisados. Os autores Tiago Barreto de Andrade Costa e Raul Borges Guimarães, no capítulo “Contribuição ao debate teórico e metodológico acerca da abordagem geográfica nos estudos de homicídios”, apresentam uma relevante discussão sobre os principais estudos de A geografia do Pará em múltiplas perspectivas - 11 análise espacial referente à mortalidade por agressão. Dessa maneira abordam um panorama da realidade urbana, em especial na cidade de Belém, sob a perspectiva do fenômeno crescente da taxa de homicídio, demonstrando dessa forma a necessidade de aprofundamento da análise dessa temática a partir de uma abordagem geográfica. O último capítulo do livro, intitulado de “Territorialidade festiva e idioma do sagrado na Amazônia: o Divino na festa do Sairé de Alter do Chão/Pará”, tem como autoras Maria Augusta Freitas Costa Canal e Eda Maria Góes. As autoras analisam as relações entre a instanciação do Sairé e a produção da linguagem sobre o Divino na Amazônia como entidade co- evolutiva e informação simbólica em uma das principais manifestações culturais no estado do Pará no Distrito de Alter do Chão, município de Santarém. Este livro apresenta capítulos referentes a um novo momento das relações institucionais entre duas universidades paraenses e a UNESP – Presidente Prudente, no campo da Geografia. Os capítulos aqui apresentados demonstram a maturidade intelectual e acadêmica dos autores em abordar a temática da Geografia Amazônica. Espero que tenham uma excelente leitura e que a mesma possa ajudar a aprofundar a análise das questões amazônicas, no âmbito do entendimento da ciência geográfica. 12 – Natureza, Urbano, Rural e Cultura A geografia do Pará em múltiplas perspectivas - 13 Apresentação Os textos que compõem o livro “A Geografia do Pará em Múltiplas Perspectivas: Natureza, Urbano, Rural e Cultura” são resultantes do Doutorado Interinstitucional – DINTER, realizado entre a Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus de Presidente Prudente, a Universidade Federal do Pará (UFPA) e a Universidade Estadual do Pará (UEPA), com financiamento da CAPES. Os DINTERs visam qualificar os docentes de regiões distantes dos "centros de excelência", a partir da sua participação e titulação nos Programas de Pós-Graduação stricto- sensu em nível de doutorado já consolidados no país. No Estado do Pará, tal necessidade era ainda maior, já que, até 2013, não havia na Região Norte, nenhum curso de pós-graduação em Geografia, em nível de doutorado. Porém, havia na região uma significativa demanda para a qualificação dos docentes que atuavam, sobretudo, nos cursos de Graduação em Geografia da Universidade Federal do Pará e da Universidade Estadual do Pará. Tal demanda tornou-se ainda mais relevante em decorrência da realização de concursos públicos pelas duas instituições nos últimos anos, tendo sido contratado um corpo docente jovem e que atua nas diversas unidades das duas instituições, as quais estão distribuídas em todo o território paraense. A realização deste DINTER em Geografia também se justificou: a) pela afinidade entre os temas das pesquisas dos docentes das duas instituições paraenses com as Linhas de Pesquisa do Programa de Doutorado da instituição promotora, no caso o Programa de Pós-Graduação em Geografia da UNESP, Campus de Presidente Prudente; b) pelo intercâmbio já existente entre alguns docentes que compõem o corpo docente da UFPA, que foram alunos do Programa de Mestrado e Doutorado em Geografia na FCT-UNESP/Presidente Prudente; c) pelos vínculos já existentes entre essas instituições a partir dos Grupos de Pesquisa, sediados na UNESP, que contam com a participação de docentes da instituição receptora, e de Grupos de Pesquisa da UFPA, que contam com a participação de docentes da instituição promotora; d) pelos laços constituídos por meio de eventos, em que docentes da UNESP de Presidente Prudente participaram e colaboraram com as atividades da UFPA e vice-versa. 14 – Natureza, Urbano, Rural e Cultura A realização do DINTER poderá contribuir para o fortalecimento e consolidação do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFPA, com novas oportunidades de formação acadêmica para os estudantes e profissionais da região norte do país, seja no mestrado ou com a implantação do curso de doutorado, tendo em vista a titulação dos professores da UFPA e da UEPA. A titulação dos docentes, possibilitada pelo DINTER, certamente reforçará a capacidade de intervenção desses profissionais na realidade regional do Pará e favorecerá o estreitamento dos vínculos das Universidades participantes com a sociedade civil e com os poderes públicos nos níveis municipal, estadual e federal, ampliando ainda mais a importância das instituições por meio das suas atividades de ensino, pesquisa e extensão. Para o Programa de Pós-Graduação em Geografia da FCT/UNESP, esse DINTER também se revestiu de especial importância, em decorrência de ter propiciado a sua atuação mais direta na região amazônica, em especial no Estado do Pará, o que gerou novos temas e reforçou as linhas de pesquisa do programa. Nesse contexto, o DINTER teve como objetivos principais: - Qualificar parte do corpo docente dos cursos de Geografia da UFPA e da UEPA, da capital edo interior do Estado do Pará, contribuindo para o fortalecimento das atividades de pesquisa e para a formação de recursos humanos visando aprimorar o ensino em seus diferentes níveis; - Fortalecer as relações interinstitucionais já existentes entre a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista (FCT/UNESP), Campus de Presidente Prudente, como promotora, e as Universidades Federal e Estadual do Pará, como receptoras; - Contribuir para a consolidação dos Grupos de Pesquisa, qualificando a formação docente; - Favorecer para a consolidação do Programa de Pós-Graduação em Geografia (Mestrado) na UFPA junto à CAPES; - Consolidar a interiorização dos cursos de licenciatura e bacharelado em Geografia nos municípios paraenses, tais como Altamira, Marabá, Cametá, entre outros, oferecidos pela UFPA e UEPA; - Aprofundar as pesquisas e reflexões sobre a dinâmica territorial da Região Norte com vistas a verticalizar as análises sobre o desenvolvimento regional sustentável no campo e na cidade, com respeito e valorização da diversidade sociocultural e dos diversos ecossistemas amazônicos; - Fortalecer a relação entre a UFPA e a UEPA, com vista a ampliação das atividades desenvolvidas em parceria, no âmbito do ensino, da pesquisa e da extensão universitária. A geografia do Pará em múltiplas perspectivas - 15 A realização do DINTER em Geografia consolidou a parceria entre os Programas de Pós-Graduação em Geografia da FCT/UNESP, Campus de Presidente Prudente, e da UFPA, e possibilitou a construção de novos vínculos com a UEPA. O Programa de Pós-Graduação em Geografia da FCT-UNESP, dado o caráter abrangente de sua área de concentração (Produção do Espaço Geográfico), pode acolher uma diversidade de temas e problemáticas que estão expressos nos oito (8) textos que compõem este livro. Realizado entre os anos de 2013 e 2017, o referido DINTER envolveu docentes/doutorandos da UFPA e da UEPA e professores do Programa de Pós-graduação em Geografia da UNESP – Campus de Presidente Prudente, muitos dos quais ministraram disciplinas no Estado do Pará e/ou na UNESP, Campus de Presidente Prudente. Além disso, muitos docentes realizaram trabalhos de campo com os docentes/doutorandos sob sua orientação em diversas localidades do Estado do Pará que se constituíam nos recortes territoriais das pesquisas. Os docentes/doutorandos, por sua vez, permaneceram na UNESP, Campus de Presidente Prudente, em diferentes etapas do curso de doutorado para cursar disciplinas e participar dos Seminários de Doutorado oferecidos pelo programa, bem como para se integrarem aos grupos de pesquisa que estruturam o Programa de Pós-Graduação em Geografia, vivenciando, assim, a Universidade e suas atividades acadêmicas. Os textos publicados no livro enfocam, sob diferentes perspectivas teórico- metodológicas, diversos temas realizados à realidade do espaço geográfico amazônico e, em particular, do espaço geográfico paraense que se vinculam a diferentes processos que ocorrem em diversas escalas. Desvendar essa realidade, a partir das contribuições dos autores, é uma das possibilidades proporcionadas pelo DINTER. Esperamos que essa parceria tenha continuidade e seja fortalecida ao longo do tempo para que resulte em novos frutos de boa qualidade, como é o caso desta obra. Os Coordenadores e Organizadores Tupã-SP, 2017. 16 – Natureza, Urbano, Rural e Cultura A geografia do Pará em múltiplas perspectivas - 17 Capítulo 1 ANÁLISE DA TEMPERATURA DOS ALVOS NA ÁREA CENTRAL DA CIDADE DE BELÉM-PA UTILIZANDO BANDAS TERMAIS José Edilson Cardoso Rodrigues2; Margarete Cristiane de Costa Trindade Amorim3 INTRODUÇÃO Tendo consciência da complexidade e das dimensões dos estudos sobre o clima urbano na sociedade contemporânea é fundamental assegurar a reflexão da interação entre fenômenos climáticos e a paisagem, urbana a partir de um contexto do ambiente urbano. Na dimensão climática, fenômenos como ilhas de calor e mudanças de temperatura, passam a fazer parte do cotidiano da paisagem urbana. Esse processo é intensificado devido à grande concentração da população em áreas urbanas que resulta na alteração da ecologia das cidades. A urbanização, considerada em termos de espaço físico construído, altera significativamente a atmosfera próxima da superfície, proporcionando o aumento das superfícies de absorção térmica, impermeabilização do solo, alterações na cobertura vegetal, interferência nos efeitos dos ventos pelas concentrações de edifícios que interferem nos efeitos dos ventos, contaminação da atmosfera através da emissão de gases (LOMBARDO, 1985). Para Lombardo op cit, as atividades humanas nos espaços internos diferenciados, como parques, ruas, casas, indústrias e a configuração física da cidade contribuem para as alterações dos elementos do clima, sendo os mais evidentes a temperatura, a umidade e o vento. O desenho urbano pode ter fortes repercussões nas condições climáticas locais, levando em consideração a configuração dos edifícios, a extensão e densidade da área construída, as condições de sombra nas ruas, a distribuição de áreas verdes e espaços livres. Por meio dessa análise, pode-se obter uma correlação entre área construída e índices de temperatura. Por tudo isso, entender que a cidade modifica o clima, produz um aumento de calor, modifica a ventilação e a umidade em função de alterações processadas em sua superfície, requer a análise por meio de um referencial teórico como o Sistema Clima Urbano (SCU) que propicia o entendimento das relações entre os constituintes naturais com as ações antrópicas. 2 Professor, Doutor em Geografia da Faculdade de Geografia e Cartografia – FGCIFCH/UFPA, Brasil. Email: jecrodrigues@ufpa.br. 3 Professora, Doutora em Geografia da Faculdade de Ciências e Tecnologia- FCT/UNESP. Email: mccta@fct.unesp.br 18 – Natureza, Urbano, Rural e Cultura Contudo, dentro dessa discussão do clima urbano, a cobertura vegetal constitui-se em importante indicador de regulação do clima das cidades, porque exerce diversas funções geoambientais, amenizando as modificações de temperaturas ocasionadas pela impermeabilização do solo, poluentes lançados por veículos e indústrias, e pelos diversos usos já que as áreas urbanas encontram-se, também, em estágios variados de organização (SANT’ANNA NETO, 2011). O uso de técnicas de sensoriamento remoto, como ferramenta de apoio aos estudos do clima, principalmente pela utilização de imagens do infravermelho termal, permite o mapeamento da temperatura das superfícies urbanas considerado como ponto de partida para a análise de outros fenômenos do clima urbano. Além de imagens termais, outras de alta resolução são muito úteis para a elaboração de cartas de uso da terra, contribuindo assim, para a análise da estrutura e funcionalidade urbana para a identificação de áreas com maiores registros de temperaturas. É muito claro que as cidades têm causado uma indesejável alteração do clima local, onde a forma de ocupação e uso dos espaços urbanos pela sociedade substituem as formas naturais e superficiais em unidades artificiais, alterando os processos físicos e químicos da interface entre a litosfera e a atmosfera. Essas alterações foram observadas por Chandler: Através da substituição de campos por atividades agrícolas e áreas florestadas por construções de concreto, vidro e asfalto, o homem tem afetado os processos aerodinâmicos, térmicos, hidrológicos e a troca de massa que ocorrem na camada limite da atmosfera. Em consequência, as propriedades meteorológicas do ar dentro e imediatamente acima das áreas urbanas são profundamente alteradas para criar um tipo de distintivo climático local, o clima urbano. (CHANDLER,1976. p. 3 tradução nossa). Partindo do pressuposto de que o meio urbano causa alterações ou até mesmo cria tipos climáticos locais pela artificialidade da paisagem, então se pode considerar que o clima urbano é produto de um conjunto complexo constituído de inter-relações da atividade ecológica natural, associada aos fenômenos urbanos (HACK, 2002). Considerando que a composição da cidade modifica o clima em escala local, afetando outros elementos geográficos, os estudos clássicos de clima urbano focavam principalmente nas alterações que ocorriam na temperatura, na umidade do ar, na precipitação e no movimento do ar, observados no meio urbano. A geografia do Pará em múltiplas perspectivas - 19 Para uma melhor compreensão, o conceito de clima urbano é construído em uma relação de alterações e modificações dos elementos do clima observados entre o meio urbano e o meio rural, sustentados pelo conceito de clima que segundo Chandler (1976), é uma consequência da profunda alteração das propriedades meteorológicas do ar imediatamente acima das cidades. Essas alterações relacionam-se com as características térmicas da superfície, a circulação de ar e a poluição atmosférica. Para Monteiro (1976), o clima urbano é também considerado uma síntese que compreende o clima de um determinado espaço terrestre e sua urbanização. É um mesoclima que está inserido no macroclima e que sofre, ao nível do solo, influências microclimáticas, provenientes dos espaços urbanos. Lombardo (1985) considera que o clima urbano é uma produção da ação ecológica natural, associada aos fenômenos urbanos, constituindo um conjunto bastante complexo. Para Sorre (2006), esta particularidade climática é, por sua vez, apenas um elemento das características geográficas, as quais compreendem, ainda, a forma do terreno, as águas, o mundo vivo. A preocupação com os estudos do clima urbano passou a ser relevante devido ao crescimento da população mundial nas áreas urbanas. Segundo o relatório da ONU (World Urbanization Prospects, 2014), há uma previsão de que 66% da população habitará os centros urbanos em 2050. Em um mundo cada vez mais globalizado e interconectado de hoje, mais da metade da população mundial (54%) vive em áreas urbanas, embora ainda haja uma variabilidade substancial nos níveis de urbanização entre os países. As próximas décadas vão trazer ainda profundas alterações no tamanho e distribuição espacial da população global. A contínua urbanização e crescimento global da população são projetados para adicionar 2,5 bilhões de pessoas à população urbana em 2050. Ao mesmo tempo, a proporção da população mundial que vive em áreas urbanas deverá aumentar, atingindo 66 % em 2050. (World Urbanization Prospects, 2014, p. 2, tradução nossa). Esse crescimento da população no meio urbano provoca intensas e irreversíveis modificações na paisagem, alterando toda a ecologia das cidades, em especial onde o crescimento foi mais acelerado e sem planejamento adequado (Lombardo, 1985). Ainda segundo a autora além do adensamento populacional, essas grandes concentrações de áreas construídas, parques industriais, pavimentação asfáltica, associadas à concentração de poluentes, criaram condições para alterar modificações na baixa troposfera em ambiente urbano. 20 – Natureza, Urbano, Rural e Cultura As alterações no clima urbano são marcadas pelo alto índice de construções que substituem áreas arborizadas por espaços artificializados, produzindo grandes concentrações de poluentes e aumento de temperatura alterando toda a composição química da atmosfera, como considera Hobbs: Sempre que qualquer área de florestas ou campos é substituída por áreas construídas, as propriedades físicas e químicas da camada limite atmosféricas são alteradas, de modo que elementos como o fluxo de ar, a temperatura, precipitação, umidade diferem em áreas urbanas, em comparação com as áreas rurais. Não é só o ar poluído acima das cidades com uma mistura de sólidos, líquidos e gasosos, mas as temperaturas são geralmente mais elevadas do que no campo circundante, a precipitação tende a ser aumentada, pelo menos, na frequência e, por vezes, em quantidades, fortes ventos de ventilação são desacelerados e ventos fracos são acelerados. (HOBBS, 1980, p. 136, tradução nossa). A alta densidade de construções nas áreas urbanas com diversos tipos de materiais leva a mudanças nas superfícies, modificando claramente os saldos de radiação e, portanto, alterando o clima local. Para Barry e Chorley (1972); Lockwood (1974), os efeitos de estruturas urbanas são responsáveis por algumas categorias principais: 1. A produção de calor por mudanças no albedo da superfície da cidade e pela queima de combustíveis fósseis; 2. A modificação da composição atmosférica; 3. Alteração da configuração da superfície e rugosidade. Landsberg, (2006) considera que: A primeira, a produção de calor, é causada pela própria cidade, indo desde aquele proveniente do metabolismo da massa de seres humanos e animais ao calor liberado por tipos de residências e indústrias, ampliados nos anos recentes por milhões de motores de combustão interna em função do grande aumento de veículos motorizados. A segunda maior influência da cidade sobre o clima, frequentemente chegando muito longe das áreas densamente povoadas, é a alteração da composição da atmosfera, ocasionada pela a adição de material sólido inerte, gases e substâncias químicas ativas que são lançados na atmosfera. E a terceira, alteração na superfície, no caso extremo, uma floresta densa substituída por um complexo de substâncias rochosas, como pedra, tijolo e concreto; naturalmente, locais úmidos, como charcos e pântanos, são drenados e a rugosidade aerodinâmica é aumentada por obstáculos de variados tamanhos. (LANDSBERG, 2006, p. 96). O impacto resultante dessas mudanças sobre as condições climáticas das cidades tem causado transtornos em muitos casos. Na maior parte dos casos as mudanças afetam a temperatura, a circulação de ventos, a precipitação e a umidade. Essas alterações foram estudadas de forma separada por diversos autores (CHANDLER, 1965; OKE, 1979; LANDSBERG, 1981; HENDERSON-SELLER; ROBINSON, 1986; ESCOURROU, 1991), que A geografia do Pará em múltiplas perspectivas - 21 apontaram, independente do tamanho, para o fato de que as cidades tendem a ser mais quentes do que os seus arredores afetando as trocas de radiação de onda curta e onda longa por poluição do ar, desencadeando diversas alterações nos outros elementos do clima que vão desde a microescala à mesoescala. Os estudos de Barry e Chorley (1972) apontam que as altas concentrações de misturas de gases antropogênicos na atmosfera das cidades reduzem a radiação de onda curta recebida e diminui a perda de radiação de ondas longas. Também, alteram a velocidade do vento, onde a média anual dentro das cidades é cerca de 20 a 30% menos do que a observada em áreas rurais. O resultado dessas mudanças no equilíbrio de calor e vento faz com que as cidades tendam a ser mais quentes do que as zonas rurais circundantes. O ambiente urbano apresenta uma mistura de prédios em vidro e concreto, residências, indústrias, ruas asfaltadas e calçadas que alteram o balanço de radiação solar. Todo corpo disposto sobre a superfície terrestre apresenta uma característica física denominada de albedo. O albedo expressa o poder refletor de um objeto ou superfície e é obtido pela relação entre a energia refletida e o total incidente, variando de zero (corpo negro) a um (espelho). A variabilidade do albedo pode ser explicada pelo uso da terra ou pela composição das superfícies. Isso faz com que ambientes urbanos sejam muito desconfortáveis termicamente devido a várias reflexões e emissividades entre as ruas e edifícios. A ação antrópica tem influência direta nos índices de albedo, retirando a vegetação, edificandocidades, pavimentando ruas e estradas. Essas intervenções causam possíveis acréscimos da temperatura no meio urbano. Estima-se que as grandes cidades que apresentam população com mais de um milhão de habitantes e com redução de áreas verdes e superfícies construídas, tendem a apresentar as temperaturas mais elevadas. A Cidade do México (México) e São Paulo (Brasil), cidades de países da América Latina, que apresentam grande incremento populacional, registraram 9°C e 12°C de temperatura, respectivamente, na década de 1980 (ESCORROU, 1991). Segundo Oke (1979), o calor antropogênico provocado pelo adensamento e verticalização das áreas urbanas é capaz de provocar alterações sobre o clima urbano local gerando camadas atmosféricas urbanas denominadas de urban canopy layer e urban boundary layer, termos usados para distinguir as camadas que podem apresentar dimensão altamente variável e também variação térmica (Figura 1). 22 – Natureza, Urbano, Rural e Cultura A camada atmosférica delimitada por Oke como “urban canopy layer” é considerada a mais quente de uma aglomeração urbana. A “urban boundary layer” ocupa um volume maior e é mais espessa, formando uma espécie de cúpula de calor que se desenvolve com o vento. Figura 1 - Representação esquemática da estrutura da atmosfera urbana que ilustra uma classificação de duas camadas de modificação térmica. Fonte: Oke, (1979, 2010). Esta representação de Oke busca sintetizar a estrutura da atmosfera acima da cidade, onde o vigor dessa mistura sobre a área urbana cria uma perturbação em forma de cúpula na inversão sobreposta. A causa exata do excesso de calor na atmosfera urbana é mostrada no Quadro 01, e resume os processos mais prováveis que podem alterar o balanço de energia, favorecendo a formação do fenômeno conhecido como ilhas de calor (OKE, 1979; 2010). Quadro 1 - Hipóteses das causas da ocorrência de ilha de calor urbano no âmbito do urban canopy layer e urban boundary layer. Urban Canopy Layer - Copa Ou Dossel Urbano Urban Boundary Layer- Camada Limite Calor antropogênico proveniente dos edifícios Calor antropogênico dos telhados e da aglomeração Maior absorção da radiação de ondas curtas devido ao efeito da geometria do canyon no albedo Entrada de ar quente resultante da ilha de calor na camada de cobertura urbana Redução da perda de radiação de ondas longas dos canyons devido à redução do seu sky view factor Queda do fluxo de calor sensível da camada estável de cobertura pela convecção de penetração Maior estocagem de calor diurno e liberação noturna, devido a propriedades térmicas dos materiais urbanos. Convergência do fluxo radiativo de ondas curtas no ar poluído Redução da evaporação devido à remoção da vegetação e à impermeabilização da superfície da cidade Redução da perda de calor sensível devido à queda da velocidade do vento na camada urbana Fonte: Oke (1979). A geografia do Pará em múltiplas perspectivas - 23 Segundo Lombardo (1985); Oke (1987); Huang et al. (2008); Nóbrega e Vital (2010), as “ilhas de calor”, caracterizam-se pelo aumento da temperatura do ar nas cidades em relação às zonas menos urbanizadas ou circunvizinhas, podendo influenciar na saúde e no desconforto térmico que ultrapassa o limite tolerável pelos habitantes da cidade. Normalmente, ocorrem no centro das cidades, onde há uma grande concentração de construções de concreto, asfalto, pobres em vegetação, grande concentração de poluição do ar e o calor desprendido no processo de combustão, e de equipamentos elétricos considerados as principais variáveis envolvidas na alteração do balanço energético local. Os efeitos reais ou potenciais das elevadas temperaturas sobre a saúde da população são bastante preocupantes. Oke (1987) considera que o funcionamento bem sucedido de um organismo vivo depende da relação entre si e seu ambiente circundante. No caso de mudança de temperatura do ambiente de forma significativa, há tendência de baixar ou elevar a temperatura corporal, o que pode ser prejudicial para a saúde humana. Observar-se que os estudos sobre o clima urbano, com destaque para as ilhas de calor, abriram caminhos para discussões mais aprofundadas não só pela necessidade de adquirir conhecimento sobre os efeitos da urbanização no clima da cidade, mas para permitir também um entendimento prático e sistêmico. Segundo Monteiro (1976), a cidade é entendida como um sistema aberto por apresentar componentes urbanos que interagem fortemente uns com os outros e com a atmosfera. Essa interação ocorre principalmente com os componentes do sistema que são: a radiação solar, o meio físico e antrópico e elementos químicos, que estão conectados e agindo uns sobre os outros. O fluxo de energia emitida pelo sol, ao entrar em contato com o meio físico (água, solo, ar) e antrópico (prédios, concreto, asfalto, etc.), entendido também como subsistemas, será absorvida, transmitida e refletida (comprimentos de onda do infravermelho), definido-se como processos superficiais. O componente químico do sistema estará relacionado com as mudanças da quantidade de carbono e a entrada de outros gases que irão contribuir para o perfil da temperatura da atmosfera urbana. Esses componentes estarão interagindo tanto num período de tempo como em um determinado espaço geográfico urbano, caracterizando um fluxo de matéria e energia e nas transformações ocorridas nos subsistemas. 24 – Natureza, Urbano, Rural e Cultura Dos canais de percepção sugeridos por Monteiro (1976), o conforto térmico é o Subsistema Termodinâmico, que associa a topografia do sítio urbano a diversos usos da terra, estrutura urbana (morfologia), funções e atividades urbanas (crescimento populacional, automotiva, industrial), efeito térmico (reflexão absorção, efeito estufa) e ausência de cobertura vegetal, condicionando o aumento de energia térmica espacial urbana. A modificação da temperatura pode causar interferência na precipitação, ventilação, umidade e ilha ou arquipélago de calor, que por sua vez propiciam efeitos diretos no conforto térmico, causando problemas no desempenho fisiológico, psicológico do indivíduo afetado. Uma das formas de observar as modificações na temperatura em ambiente urbano é através do uso de técnicas de sensoriamento remoto, principalmente pela utilização de imagens do infravermelho termal, dando grande contribuição ao mapeamento da temperatura das superfícies urbanas considerado como ponto de partida para a análise de outros fenômenos do clima urbano. De acordo com Jensen (2009), as paisagens urbanas são compostas por um conjunto de materiais como concreto, asfalto, metal, plástico, telhas, vidro, água, grama, vegetação, solo, entre outros dispostos de maneira bastante complexa pela sociedade. Esses atributos urbanos e periurbanos podem ser observados praticamente em qualquer banda na região do visível (verde, azul e vermelho) ou infravermelho. Usualmente os comprimentos de onda do visível são mais utilizados em sensoriamento remoto devido à possibilidade de distinguir os objetos da superfície terrestre, pela energia que emitem que variam do branco (quando refletem mais energia) ao preto (quando refletem pouca energia). Entretanto, a razão pela qual usamos instrumentos de sensoriamento para detectar a energia do infravermelho nessas regiões é porque a atmosfera permite que uma porção da energia infravermelha (Thermal InfraRed - TIR) seja transmitida do terreno para os sensores (SCHMUGGE et al., 2002 citado por JENSEN 2009). O comprimento de onda do infravermelho são ondas que estão fora do alcance da visão do ser humano e por meio do sensor remoto pode-se obter um conhecimento além da percepção visual humana onde a banda termal pode permitir medir espacialmente e de forma contínua a temperatura da superfície urbana, sendo muito útil para registrar-se o calor urbanoe efeitos de ilhas de calor (YANG, 2011). A geografia do Pará em múltiplas perspectivas - 25 Rao (1972, citado por WENG 2009) foi o primeiro a avaliar a possibilidade de detecção de temperatura em áreas urbanas por meio de dados na faixa do infravermelho termal. Desde então, uma ampla gama de sensores TIR tem sido empregados para estudar a termodinâmica das cidades. Segundo Voogt e Oke (2003), a banda termal do sensoriamento remoto vem sendo usada em estudos de clima urbano para avaliar a ilha de calor através do tempo, classificação de cobertura da terra e troca de energia entre superfície urbana e a atmosfera. Entretanto, segundo os autores, o uso de bandas termais no estudo de climas urbanos, concentra-se principalmente sobre o efeito da ilha de calor urbana. Para Barbosa e Vecchia (2006), a utilização de dados de sensoriamento remoto captados na região do infravermelho termal permite a realização de estudos da característica térmica das diferentes tipologias de cobertura da terra pelo fornecimento de informações relativas à temperatura aparente da superfície (Land Surface Temperature – LST). O incremento nos valores de temperatura deve-se às condições particulares do meio ambiente urbano, seja por sua rugosidade, ocupação da terra, permeabilidade ou pelas propriedades físicas dos materiais constituintes (OKE, 1987). Informações de temperatura da superfície de distintos materiais urbanos como o concreto, o asfalto e o telhado, apresentam alta refletância na banda termal, por serem alvos com características físico-químicas diversificadas, constituindo uma assinatura espectral de acordo com a energia incidente. O concreto e o asfalto, materiais que compõem grande parte das áreas edificadas em ambientes urbanos, apresentam uma complexa mistura de diferentes elementos com propriedades químicas e físicas diferentes. Logo, toda a energia incidente é refletida ou absorvida, a qual, na região do infravermelho varia entre 0,6 a 1,3 µm, por apresentar alta refletância, e a temperatura é um dos principais produtos resultantes da análise de bandas termais. Dos materiais urbanos, a vegetação proporciona uma interação onde o comportamento espectral está associado aos processos de reflectância, tramitância e absortância espectrais. Contudo a reflectância é o fenômeno mais analisando no infravermelho. Segundo Oke (1987), a estrutura celular tende a causar dispersão quase totalmente difusa. Isso resulta em partes quase iguais de radiação refletida e transmitida através da folha. 26 – Natureza, Urbano, Rural e Cultura A vegetação reflete o infravermelho porque a radiação de calor é muito alta e esse comprimento de onda não é útil para a fotossíntese, portanto, a sua rejeição é útil para compensar a carga de calor na folha. A alta emissividade em comprimentos de onda mais longa também ajuda a folha a lançar calor para o ambiente e manter as temperaturas das folhas moderada (OKE, 1987). Dentro do contexto da urbanização, a vegetação mediante a aplicação de técnicas de sensoriamento remoto inclui diferentes abordagens que se estendem desde o monitoramento da vegetação até o inventário da arborização por desempenhar um papel importante na moderna gestão de dados espacial urbana. A importância desses estudos está associada a muitos benefícios e aplicações que essa fonte de informação de dados pode detalhar, como o monitoramento de funções que a vegetação urbana apresenta, por exemplo, função climática, amenizando as temperaturas. Portanto, o sensoriamento remoto vem sendo considerado uma técnica que pode ter a função de agregar uma análise climática e ambiental em ambiente urbano. Proporciona também um levantamento minucioso promovendo análises e estudos de propriedade termal dos objetos e mapeamento da temperatura de superfície urbana. Contudo, pode ser utilizada, inclusive, para estudos de ilhas de calor em ambiente urbano, pois percebe-se que a urbanização, tanto em termos quantitativos como qualitativos, representa um importante indicador na mensuração da qualidade ambiental e da vida urbana. A relevância da pesquisa e localização da área de estudos. As mudanças nos padrões de temperaturas médias ou máximas na cidade Belém do Pará vêm aumentando significativamente nos últimos trinta anos. Lugares pobres em vegetação alcançam temperaturas superiores àquelas áreas com maior cobertura da vegetação. As variações de temperatura entre os distritos e os bairros da Primeira Légua estão relacionadas não só com a presença ou ausência de cobertura vegetal, mas também pela diferenciação da urbanização e dos padrões de uso da terra que cada setor da cidade apresenta. A paisagem urbana de Belém não reflete apenas a segregação espacial ou social, mas expressa áreas com diferenciações climáticas. As intervenções no meio físico pela expansão da mancha urbana e pela crescente concentração da população eleva o grau de situações como o aumento da temperatura do ar que é prejudicial à sociedade. A geografia do Pará em múltiplas perspectivas - 27 Neste sentido, analisou-se a série histórica da temperatura dos alvos na área Central da cidade de Belém durante o período de 1987 a 2013, utilizando-se produtos do sensoriamento remoto e dados meteorológicos, correlacionando-os com as mudanças nos padrões de cobertura vegetal. A área central, que forma a Primeira Légua Patrimonial, onde esta pesquisa foi realizada, é formada por três distritos: o Distrito Administrativo de Belém (DABEL), o Distrito Administrativo da Sacramenta (DASAC) e o Distrito Administrativo do Guamá (DAGUA). Além deles, também fazem parte do estudo o bairro Universitário onde está localiza Universidade Federal do Pará (UFPA) que pertence ao Distrito Administrativo do Entroncamento (DAENTE) (Figura 2) e 21 bairros (A Primeira Légua Patrimonial é formada pelos bairros Cidade Velha, Campina, Reduto, Umarizal Telégrafo, Sacramenta, Pedreira, Marco, Fátima, Nazaré, São Brás, Canudos, Montese (Terra Firme), Batista Campos, Cremação, Jurunas, Condor, Guamá, Universitário, Barreiro e Miramar). A área da Primeira Légua Patrimonial está delimitada pelas coordenadas de 1º 24’ 26” e 1º 28’ 46” de latitude sul e 48º 26’ 38” e 48º 30’ 26” de longitude oeste (Figura 2). Figura 2 - Mapa da Primeira Légua Patrimonial de Belém e seus respectivos Distritos Administrativos e bairros. Fonte: Base Cartográfica Imagem IKONOS (2006), projeção UTM, Datum SAD69. (Org.) RODRIGUES, J. E. C. (2015). Localização da Légua no município de Belém 28 – Natureza, Urbano, Rural e Cultura MATERIAL E MÉTODO Além da revisão de parte da literatura que trata da geração do clima urbano, particularmente no que se refere às ilhas de calor, realizou-se um conjunto de procedimento que serão aqui apresentados. Para a elaboração de uma série de cartas das temperaturas intraurbanas da superfície da área de estudo, foram utilizados produtos de sensoriamento remoto como imagens de satélites do Landsat 5 (canal do infravermelho termal que correspondem a banda 6) dos anos de 1987, 1990, 1995, 2000 e 2006) e a banda 10 infravermelho termal do satélite Landsat-8 (ano 2013). Isso com a finalidade de observar-se a variação de temperatura dos alvos a partir do recorte temporal de 1987 a 2013. A coleta de dados climáticos foi feita a partir da Estação Meteorológica oficial de monitoramento do clima regional do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), a fim de comparar com os resultados das temperaturas dos alvos Para a elaboração dos mapas temáticos de uso da terra foi realizado levantamento da base cartográfica e produtos de sensoriamento remoto como imagens de satélites do IKONOS (2006) e Fotografias Aéreas (2013). Obtenção da temperatura dos alvos da Primeira Légua Patrimonial de Belém As cartas de temperaturas da superfície da Primeira Légua da cidade de Belém foram obtidas pormeio de sensoriamento remoto, com a utilização das bandas 6 termal do sensor Thematic Mapper (TM), resolução espacial de 120m, da série de satélites Landsat 5 e banda 10 no Landsat 8 com resolução espacial de 100m, tratada e disponibilizada com 30m. Os procedimentos para a obtenção das temperaturas em Celsius (°C), a partir das imagens termais, foram realizados no aplicativo IDRISI versão Taiga, com a utilização de parâmetros fixos de conversão de níveis de cinza da imagem (NC) para radiância, depois para temperatura Kelvin e finalmente para Celsius. Esse procedimento de conversão dos níveis de cinza para radiância ocorre com a utilização da equação 01 como demonstra Lima e Amorim (2011), executada no programa IDRISI: A geografia do Pará em múltiplas perspectivas - 29 Equação 01 – Fórmula aritmética para obter conversão dos níveis de cinza para radiância no programa IDRISI. L λ = ((lmax λ - λ Lmin) / (QCALMAX QCALMIN)) * (QCALMIN-QCAL) + Lmin λ L λ - Radiância espectral em sensor de abertura de em Watts QCAL - Valor quantizado calibrado pixel em DN Lmin λ - Radiância espectral, que é dimensionado para QCALMIN em Watts = 0.000 LMax λ - Radiância espectral, que é dimensionado para QCALMAX = 15.303-L5 / 22.001-L8 QCALMIN - O mínimo valor quantizado calibrado pixel (correspondente a Lmin λ), em DN = 1 QCALMAX - Máximo valor quantizado calibrado pixel (correspondente a LMax λ) no DN = 255 Após a conversão dos níveis de cinza em radiância, foi aplicada a equação de conversão dos valores em temperatura Kelvin (Equação 02). O Cálculo de radiância espectral é o passo fundamental na conversão de dados de imagem de vários sensores em uma escala radiométrica comum fisicamente significativa (CHANDER et al., 2009). Equação 02 - Fórmula aritmética para obter conversão da radiância para temperatura Kelvin no programa IDRISI. T = Temperatura efetiva no satélite em Kelvin; K2 = Constante de calibração 2, (1.260,56 – L5 / 1.321,08 - L8). K1 = Constante de calibração de 1, (607,76 - L5 / 774,89 - L8). L = Radiância espectral, em Watts. Os valores utilizados nas equações 01 (Lmin λ, LMax λ, QCALMIN, QCALMAX) e 02 (K1, K2) são disponibilizados pelo arquivo metadados de cada imagem Landsat que podem se alterar em função do tipo de sensor. Para a geração da grade de temperatura da superfície em Celsius (°C), os valores de temperatura Kelvin gerados a partir da equação 3, foram subtraídos do valor 273,15. Valor utilizado na conversão de temperatura de Kelvin para Celsius. T = In K2 K1 L λ +1 30 – Natureza, Urbano, Rural e Cultura Elaborada a imagem em Celsius (°C), o último passo foi gerar imagem de diferença de temperatura dos alvos, que consistiu em subtrair a menor temperatura registrada na imagem pela própria imagem. A série temporal foi tomada no mesmo período de transição da estação mais chuvoso para o período menos chuvoso (maio, junho, julho e agosto) dos anos analisados e sobre o mesmo local e hora (Quadro 2) e em dias sem nebulosidade, pois as nuvens interferem no reconhecimento e na interpretação da temperatura dos alvos. Quadro 2 - Dados temporais das imagens Landsat utilizadas na interpretação da temperatura dos alvos. Ano Satélite Banda Data da Imagem Hora local de aquisição Dia Mês Ano 1987 Landsat 5 Banda 6 Termal 17 05 1987 12hs 47min. 1990 Landsat 5 Banda 6 Termal 25 05 1990 12hs 43min. 1995 Landsat 5 Banda 6 Termal 10 07 1995 12hs 28min. 2000 Landsat 5 Banda 6 Termal 05 06 2000 12hs 59min. 2006 Landsat 5 Banda 6 Termal 09 08 2006 13hs 16min. 2013 Landsat 8 Banda 10 Termal 27 07 2013 13hs 24min. Fonte: produção do próprio autor, 2016. A coleta de dados climáticos foi feita também a partir da Estação Meteorológica oficial de monitoramento do clima regional do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), utilizados para comparar com as temperaturas dos alvos. RESULTADOS E DISCUSSÃO A Primeira Légua Patrimonial concentra a metade da população da cidade de Belém. A ausência de uma rede fixa de monitoramento e de coleta de dados meteorológicos dificulta algumas análises principalmente na escala do clima intraurbano. A série temporal e espacial de temperatura dos alvos pode ser adquirida por meio das imagens do satélite Landsat. Assim, foi possível obter um diagnóstico das características da temperatura em alguns episódios da área central da Primeira Légua Patrimonial por um período 1987 a 2013. A geografia do Pará em múltiplas perspectivas - 31 Breve caracterização do clima da cidade de Belém-PA A cidade de Belém apresenta clima quente e úmido, com precipitação média anual alcançando os 2.500 a 3.000 mm. A temperatura média gira em torno de 25ºC, entre fevereiro e março e acima de 26ºC, entre outubro e novembro. Devido aos altos valores de energia que incidem na superfície, as características da temperatura do ar mostram uma pequena variação ao longo do ano na cidade de Belém (PA), marcada por duas estações bem definidas: um período mais chuvoso, com temperaturas amenas; e um período menos chuvoso, com temperaturas mais elevadas. Segundo a classificação do IBGE, Belém está em uma Zona Climática Equatorial quente superúmido, sem seca, e que se caracteriza por elevadas temperaturas, umidade, nebulosidade e precipitação o ano todo. Os índices térmicos anuais resultam do fato de que durante todo o ano as temperaturas se mantêm mais ou menos elevadas, destacando–se os meses de setembro, outubro e novembro, períodos nos quais as médias mensais elevam-se acima dos 26ºC. Porém, a partir de dezembro, a temperatura apresenta leve queda, tendo seu menor índice entre os meses de fevereiro e março. Então, os meses de setembro a novembro (tendo novembro seu ápice) são os meses mais quentes e janeiro a março constituem os meses com temperaturas mais amenas. Essa característica anual da temperatura está relacionada com a alta umidade que a região apresenta (em torno de 80% durante todo o ano) e da intensa nebulosidade que deixa o céu encoberto parcial e totalmente a partir de meados de dezembro, estendendo-se até o final de abril e início de maio. Nesses meses, não se registram máximas diárias excessivas (NIMER, 1977). Essa alta nebulosidade reduz a radiação direta e consequentemente ameniza a temperatura. Além da alta nebulosidade, tem-se também, atuando na redução da temperatura nos meses janeiro a maio, os altos índices pluviométricos. Segundo Nimer (1977), Belém apresenta o domínio climático mais chuvoso do Brasil, ou seja, o maior total pluviométrico anual com excedente que pode atingir os 3.000mm anuais (Gráfico 1). 32 – Natureza, Urbano, Rural e Cultura 24,8 25 25,2 25,4 25,6 25,8 26 26,2 26,4 26,6 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Te m p er at u ra o C P re ci p it aç ão ( m m ) Meses Precipitação (mm) 1961 a 1990 Temp. Média (°C) 1961 a 1990 Gráfico 1 - Normais climáticas (1961-1990) da precipitação e temperatura da cidade de Belém-Pará. Fonte: INMET, 2016. Nos períodos de primavera-verão, a fraca nebulosidade permite o aquecimento solar da superfície, elevando a temperatura como já demonstrado no gráfico 01. Além da nebulosidade e precipitação, outro elemento local que governa o curso diurno da temperatura é o vento, por meio da direção e velocidade, assim como o relevo, a altitude e a natureza do solo. Quanto mais seco e calmo forem os ventos predominantes, quanto mais plana for a topografia, quanto mais baixa for a altitude do lugar, quanto mais construído, impermeável for o solo, quanto menor for a cobertura por vegetação arbórea, maior será a amplitude térmica diária (NIMER, 1977). No caso da área central da cidade de Belém, o relevo plano e a altitude baixa, a natureza do solo densamente construído, áreascom pouca cobertura vegetal, favorecem o aumento da amplitude térmica diurna e a intensa radiação noturna. Entretanto, os sistemas de baías (Guajará) e rios (Guamá) que margeiam a cidade, os ventos alísios, a forte nebulosidade durante grande parte do ano e algumas áreas vegetadas agem em sentido contrário, porém não é o suficiente para amenizar a temperatura do ar da cidade de Belém, uma vez que, nas últimas décadas, vem registrando gradual elevação. A geografia do Pará em múltiplas perspectivas - 33 Análise temporal da temperatura do ar para a cidade de Belém-PA Belém apresenta uma temperatura média mensal mínima de 25,4ºC, entre os meses de fevereiro e março, e máxima de 26,5ºC, em novembro, segundo Costa e Mattos (2000). Analisando a temperatura média da cidade de Belém, a partir do final das décadas de 1970 até 2015, constatou-se que a temperatura média vem apresentando uma tendência de crescimento ao longo das décadas, como demonstra o gráfico de evolução de temperatura média da cidade de Belém (Gráfico 2). Gráfico 2 - Evolução da temperatura média anual da cidade de Belém-Pa. Fonte: INMET, 2016 Analisando a série histórica da temperatura média, a partir de 1978 até 2015, observou-se que, em 1978, registrava-se 26,9ºC. A partir do ano de 1979, foi acima dos 27ºC, e, em 1982, registrou queda para 26,9ºC. Em 1983, subiu novamente acima dos 27ºC. Entre os anos de 1984 a 1986, a temperatura média ficou em torno de 26ºC, contudo, a partir de 1987, a cidade de Belém passou a registrar alta que atingiu os 27ºC. Em 1998, observou-se que a temperatura média passou a ter registro acima dos 28ºC, e até 2015 oscilou entre 27ºC e 28ºC. Do menor registro de 26,4ºC, feito em 1985, para o maior registro médio de 28,4ºC, feito em 2010, houve uma amplitude térmica média anual de 2°C na temperatura em um período de quase 40 anos, para a cidade de Belém-PA. 25,0 25,5 26,0 26,5 27,0 27,5 28,0 28,5 29,0 1 97 8 1 98 0 1 98 2 1 98 4 1 98 6 1 98 8 1 99 0 1 99 2 1 99 4 1 99 6 1 99 8 2 00 0 2 00 2 2 00 4 2 00 6 2 00 8 2 01 0 2 01 2 2 01 4 T em p er at u ra ° C Ano Temperatura Média 34 – Natureza, Urbano, Rural e Cultura As temperaturas médias ao longo dos meses vêm apresentando um ritmo nas variações, evidenciando uma sazonalidade dividida em dois períodos muito bem definidos, como já citados anteriormente, sendo um período muito chuvoso (janeiro a maio) e um período menos chuvoso (julho a novembro). Entre os meses mais chuvosos até 1986, registravam-se temperaturas mínimas de 25ºC, principalmente nos meses de fevereiro e máximas de 28ºC, em novembro, considerado o mês menos chuvoso do período de estiagem. A partir de 1987, não houve mais registros de temperatura mínima de 25ºC. Passou a ser registrada 26ºC (janeiro, fevereiro e março). No entanto, em novembro desse mesmo ano os primeiros registros de temperatura máxima foram de 29ºC (novembro). Portanto, a cidade de Belém começou a apresentar modificações em suas temperaturas médias, tanto na mínima quanto na máxima. Entre os anos de 1988 até 1994, as temperaturas médias oscilaram entre mínima de 26ºC e máxima de 28ºC, tendo essas médias alteradas a partir de 1995, quando apareceram os registros de temperatura máxima de 29ºC, diminuindo os registros de temperatura mínima de 26ºC. A partir de 2013 até 2015, não se tem mais registros de temperatura mínima abaixo de 26ºC. Atualmente, a temperatura mínima em média é de 27ºC, registrada em fevereiro e máxima, com registro em novembro de 2014, marcando os 30ºC. Valor este repetido em outubro de 2015 (Tabela 01). Portanto, o que se observa é que gradativamente as temperaturas mínimas e máximas vêm sofrendo modificações ao longo dos anos. Na tabela 01, são indicados os anos em que as temperaturas mudaram. Assim, a partir de 1995 Belém começou a apresentar registros de evolução crescente da temperatura, equivalente a 29ºC, sendo que em 2010, foram sete meses com registro de temperatura de 29ºC, entre os meses de maio e novembro. As temperaturas médias, máximas e mínimas permitem observar que, dentro de um ciclo sazonal, os meses que apresentam as temperaturas mais baixas na cidade de Belém são os meses de fevereiro e março; e as mais altas ocorrem nos meses de outubro e novembro (Tabela 1). A geografia do Pará em múltiplas perspectivas - 35 Tabela 1 - Temperatura média mensal da cidade de Belém (1978 – 2015). Ano/ Meses Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Média anual 1978 27 26 26 27 27 27 27 27 27 28 27 26,9 1979 26 26 26 27 27 27 27 27 28 28 28 27 27,0 1980 26 25 26 27 28 27 27 27 28 28 28 28 27,1 1981 26 27 27 28 27 27 27 28 28 28 28 27 27,3 1982 26 26 26 26 27 27 27 27 27 28 28 28 26,9 1983 28 27 27 28 28 28 27 28 28 28 28 27 27,7 1984 26 25 26 26 26 27 27 27 27 28 28 27 26,7 1985 25 25 26 26 26 27 27 27 27 28 27 26 26,4 1986 26 25 26 26 27 27 27 28 27 28 28 27 26,8 1987 26 26 26 27 28 28 28 28 28 28 29 28 27,5 1988 26 27 26 26 27 28 28 28 28 28 27 27 27,2 1989 27 26 26 26 27 27 28 28 28 28 28 27 27,2 1990 27 26 27 27 28 28 27 28 28 28 28 28 27,5 1991 26 26 26 26 27 28 28 28 28 27 28 28 27,2 1992 27 26 26 27 28 28 27 27 28 28 28 28 27,3 1993 26 26 26 26 28 28 27 27 28 27 28 28 27,1 1994 27 26 26 27 27 28 28 28 28 28 28 28 27,4 1995 27 26 27 27 27 28 28 29 29 28 28 27 27,6 1996 26 26 26 27 27 28 28 28 28 28 28 28 27,3 1997 27 27 27 27 28 28 28 28 29 29 29 28 27,9 1998 27 28 28 29 29 28 28 29 29 29 28 28 28,3 1999 27 27 27 27 27 28 28 29 28 28 29 28 27,8 2000 27 26 26 27 28 28 28 28 28 28 29 27 27,5 2001 26 26 26 27 28 28 28 28 28 29 29 29 27,7 2002 27 27 27 27 28 28 28 29 29 28 28 28 27,8 2003 27 26 27 27 28 29 29 29 29 29 29 28 28,1 2004 27 26 27 28 29 28 28 28 28 29 29 28 27,9 2005 28 27 27 28 28 29 29 29 29 29 29 28 28,3 2006 28 27 27 27 27 28 29 29 29 29 28 28 28,0 2007 28 26 27 27 28 28 28 28 29 28 28 27 27,7 2008 26 26 26 27 27 28 28 29 29 29 29 29 27,8 2009 27 26 27 27 27 28 29 28 29 29 29 28 27,8 2010 27 28 28 27 29 29 29 29 29 29 29 28 28,4 2011 26 26 27 27 28 28 28 29 29 29 29 28 27,8 2012 27 26 27 27 28 28 28 29 29 29 29 28 27,9 2013 28 27 28 28 28 29 28 29 29 28 28 28 28,2 2014 27 27 27 28 28 28 28 29 29 29 30 29 28,3 2015 28 28 27 27 28 28 28 29 29 30 29 28 28,3 Período mais chuvoso Período menos chuvoso Min. 25,0 25,0 26,0 26,0 26,0 27,0 27,0 27,0 27,0 27,0 27,0 26,0 Med. 26,7 26,3 26,6 27,0 27,6 27,9 27,8 28,1 28,3 28,3 28,4 27,7 Max. 28,0 28,0 28,0 29,0 29,0 29,0 29,0 29,0 29,0 29,0 30,0 29,0 Fonte: INMET, 2016. 36 – Natureza, Urbano, Rural e Cultura Análise temporal da temperatura na cidade de Belém-PA utilizando bandas termais Uma das formas de se investigar alterações na temperatura da cidade de Belém ao longo de vários anos é com o emprego de técnicas de sensoriamento remoto, por meio do uso de imagens do infravermelho termal. Uma das vantagens dessa técnica é a possibilidade de detectar e visualizar as características térmicas dos objetos que constituem o meio urbano. Segundo Jardim (2010), Lima e Amorim (2011), as imagens de satélites produzidas na faixa termal são sensíveis à radiação, sendo possível monitorar as características das temperaturas dos alvos superficiais da paisagem, o que auxilia na compreensão da produção de seu clima urbano. Para a obtenção e verificação das características da temperatura dos alvos da área central da cidade de Belém, foram analisadas imagens na faixa do infravermelho termal dos satélites Landsat 5 e 8, entre os anos de 1987, 1990, 1995, 2000, 2006 e 2013. A série temporal foi tomada no mesmo período de transição da estação mais chuvosa para a menos chuvosa (maio, junho, julho e agosto), dos anos analisados, sobre o mesmo local e hora (Quadro 3), em dias sem nebulosidade, pois asnuvens interferem no reconhecimento e na interpretação da temperatura dos alvos. Quadro 3 - Dados temporais das imagens Landsat utilizadas na interpretação da temperatura dos alvos. Ano Satélite Banda Data da Imagem Hora local de aquisição Dia Mês Ano 1987 Landsat 5 Banda 6 Termal 17 05 1987 12hs 47min. 1990 Landsat 5 Banda 6 Termal 25 05 1990 12hs 43min. 1995 Landsat 5 Banda 6 Termal 10 07 1995 12hs 28min. 2000 Landsat 5 Banda 6 Termal 05 06 2000 12hs 59min. 2006 Landsat 5 Banda 6 Termal 09 08 2006 13hs 16min. 2013 Landsat 8 Banda 10 Termal 27 07 2013 13hs 24min. Fonte: produção do próprio autor. Os mapas desenvolvidos a partir das imagens termais, primeiramente, possibilitaram averiguar e interpretar a diferença da temperatura dos alvos a partir dos pontos mais quentes e dos pontos mais frios, dentro dos limites da Primeira Légua Patrimonial. Isso, posteriormente, contribuiu para uma análise temporal das características da temperatura dos alvos (Figura 3). A geografia do Pará em múltiplas perspectivas - 37 Figura 3 – Diferença das temperaturas dos alvos da Primeira Légua Patrimonial nos anos de 1987, 1990, 1995, 2000, 2006 e 2013. Fonte: Imagens Landsat 5 banda 6 (1987, 1990,1995, 2000 e 2006) e Landsat 8 banda 10 (2013). Sistema de Projeção UTM Datum SAD 69. Organização: Rodrigues, 2016 – Laboratório Geocartografia/UNESP. 38 – Natureza, Urbano, Rural e Cultura Considera-se o ponto mais frio como sendo o “0” (zero), definido como ponto de referência, representado por áreas bastante florestadas, como o “cinturão verde”, estendendo-se de Norte a Sudeste, acompanhando os limites da Primeira Légua, formados por Áreas Institucionais (Federais, Estaduais, Militares) e rios que margeiam a área central da cidade ao sul e oeste. Em todas as datas estudadas, observa-se que, para a maior parte da área sob análise, tomando como ponto de referência as áreas vegetadas, que indicam os pontos mais frios, nota-se, nitidamente, que as temperaturas dos alvos sofreram oscilações. No ano de 1987, áreas como os bairros do Reduto e da Campina, apresentavam uma diferença de 8°C de temperatura em relação às áreas com pontos mais frios (áreas arborizadas); seguidos dos bairros do Jurunas, Cidade Velha, Cremação, Umarizal, Canudos e Marco com diferença de 7°C em relação aos pontos mais frios. Nos bairros mais arborizados como Nazaré, Batista Campos, São Brás, Barreiro, Montese, Universitário e Miramar, a diferença era de 5°C em relação aos pontos mais frios. Os demais bairros Condor, Guamá, Fátima, Telégrafo, Sacramenta e Pedreira apresentaram diferença de 6°C em relação aos pontos considerados zero. Assim, a diferença de temperatura dos alvos dos bairros com maior arborização (Nazaré, Batista Campos, São Brás, Barreiro, Montese, Universitário e Miramar) foi de 3°C menor que os alvos dos bairros do Reduto e Campina; 2°C que a temperatura dos alvos dos bairros do Jurunas, Cidade Velha, Cremação, Umarizal, Canudos e Marco; e 1°C, em relação aos alvos dos bairros Condor, Guamá, Fátima, Telégrafo, Sacramenta e Pedreira. Em 1990, as temperaturas dos alvos apresentaram modificações em virtude de ter sido um ano de influência do El Niño de forte intensidade, que ocasionou a diminuição da precipitação, sendo, portanto, o responsável pelo aumento das temperaturas dos alvos. O bairro do Reduto apresentou alguns pontos com 9ºC, porém grande parte dos alvos do bairro, assim como Cidade Velha, Campina, Pedreira, Marco e Canudos apresentaram 8ºC de diferença em relação às áreas com pontos mais frios. Os bairros do Jurunas, Condor, Cremação, Fátima, Umarizal, Telégrafo e Sacramenta apresentaram 7ºC de diferença. Guamá e Batista Campos, parte dos alvos, apresentaram entre 7ºC e 6ºC de diferença. São Brás e Montese apresentaram, em parte de suas superfícies, diferenças de temperatura entre 7ºC e 5ºC em relação aos pontos mais frios. Os bairros de Nazaré e Barreiro apresentaram uma diferença de 6ºC em relação aos pontos mais frios, porém Nazaré, mais arborizado, apresentou 1ºC a mais do que no ano de 1987. A geografia do Pará em múltiplas perspectivas - 39 Por fim os bairros de Miramar e Universitário mantiveram 5ºC, sendo esta a menor diferença entre os pontos mais frios em relação aos demais bairros. Em 1995, as temperaturas dos alvos oscilaram entre 2ºC e 7ºC de diferença em relação aos pontos mais frios da imagem. A diferença de 2ºC foi registrada no bairro de Miramar, e o valor 7ºC foi registrado no bairro do Reduto. Os bairros de Nazaré, Barreiro, Universitário, Parte de Batista Campos e São Brás, apresentaram uma diferença de 4ºC. Condor, Cremação, Fátima, Umarizal, Telégrafo, Guamá, Canudos, Montese, Marco, Pedreira, Sacramenta, registraram 5ºC de diferença. Enquanto Campina, Cidade Velha e Jurunas apresentaram 6ºC de diferença em relação aos pontos mais frios. Para o ano de 2000, as diferenças de temperatura dos alvos ficaram entre 4ºC, registrado nos bairros de Miramar e Universitário; e 10ºC no Reduto e Campina. Apenas o bairro de Nazaré registrou 6ºC de diferença. Nos demais bairros, como Condor, Cremação, Fátima, Umarizal, Telégrafo, Guamá, Canudos, Montese, Marco, Pedreira, Sacramenta, Cidade Velha, Jurunas, Barreiro, Batista Campos, São Brás, a diferença ficou entre 7ºC e 8ºC. O ano de 2006 foi um dos anos analisados que apresentou maiores diferenças de temperatura dos alvos da área central, também sob influência de El Niño, porém, de intensidade fraca, mas que proporcionou diminuição da precipitação, contribuindo para o amento da temperatura dos alvos. Nesse ano, quase todos os bairros, como Barreiro, Sacramenta, Telégrafo, Pedreira, Marco, Umarizal Fátima, São Brás, Canudos, Montese, Guamá, Cremação, Condor, Jurunas, Cidade Velha e Campina apresentaram diferenças entre 10ºC e 11ºC em relação aos pontos mais frios. O bairro de Nazaré apresentou diferença de 7º. Apenas os bairros Universitário e Miramar apresentaram 5ºC de diferença em relação aos pontos mais frios. Ao contrário de 2006, em 2013 os alvos apresentaram diferenças de temperatura baixas. Quase todos os bairros apresentaram diferenças de 5ºC. Nazaré, Batista Campos e São Brás apresentaram diferença de 3ºC e 4ºC. Universitário e Miramar registraram 2ºC e 1ºC, respectivamente. Apenas os bairros da Pedreira e Reduto apresentaram 6ºC e 7ºC, respectivamente de diferença em relação aos pontos mais frios. Na análise temporal das imagens termais, verificou-se que, apenas os bairros de Nazaré, Miramar, Universitário, parte de Batista Campos e de São Brás sempre apresentaram temperaturas dos alvos abaixo dos demais bairros, motivado pela presença de vias arborizadas (Nazaré, Batista Campos e São Brás) (Figura 4), parques como o Museu Paraense Emilio Goeldi e Parque da Residência (São Brás), áreas de reservas (Miramar) e de preservação como APA de Belém (Universitário), que se encontram nos respectivos bairros. 40 – Natureza, Urbano, Rural e Cultura Figura 4 - (A) Praça Batista Campos; (B) Avenida Nazaré (Bairro Nazaré). Fonte: Acervo do autor. Por outro lado, os b airros do Reduto e da Campina foram os que apresentaram os maiores valores de temperatura dos alvos, por apresentarem pouca arborização e pela sua localização a sudoeste da cidade, estando a sotavento da verticalização que se impõe como barreira artificial em relação à circulação e direção dos ventos de nordeste. Alguns bairros como Marco e Guamá, que sempre apresentaram alvos com temperaturas mais elevadas, também apresentaram pontos mais frios, estando este fator relacionado às áreas vegetadas, como o bosque Rodrigues Alves, localizado mais ao norte do bairro do Marco, e o cemitério Santa Isabel, localizado a noroeste do bairro do Guamá (Figura
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