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HIDROXICLOROQUINA E IVERMECTINA PARA PACIENTES COM COVID-19

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CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA
FARMACOLOGIA
HIDROXICLOROQUINA E IVERMECTINA PARA PACIENTES COM COVID-19
NOVA IGUAÇU
2020.2
	
Desirée Rosa, Fabiene Cuba, Isabella Nazareth, Luiza Vieira
HIDROXICLOROQUINA E IVERMECTINA PARA PACIENTES COM COVID-19.
Trabalho acadêmico apresentado como parte da avaliação da disciplina de Farmacologia no curso de Medicina Veterinária da Universidade Iguaçu.
Professor: Gustavo Nunes de Sa.
Nova Iguaçu
2020.
SUMÁRIO
1.	INTRODUÇÃO	4
2.	COVID-19	4
2.1.	ESTRUTURA VIRAL	5
2.2.	FISIOPATOLOGIA	5
3.	HIDROXICLOROQUINA	7
4.	IVERMECTINA	7
5.	FARMACOCINÉTICA	8
5.1.	BIOFARMACÊUTICA	8
5.2.	ABSORÇÃO	8
5.3.	BIOTRANSFORMAÇÃO E EXCREÇÃO	9
6.	FARMACODINÂMICA	10
7.	AÇÃO ANTIVIRAL DA HIDROXICLOROQUINA	12
8.	AÇÃO ANTIVIRAL DA IVERMECTINA	12
9.	CUIDADOS NO USO DE HIDROXICLOROQUINA E IVERMECTINA	12
10.	DISCUSSÃO	13
11.	CONSIDERAÇÕES FINAIS	14
12.	REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS	15
1. INTRODUÇÃO
Muito tem se falado sobre a doença que causou a pandemia de 2020. Frente a isso, estudos estão sendo feitos a fim de entender como esse novo vírus funciona, bem como vacinas e medicamentos que possam ser utilizados na prevenção e tratamento de pacientes já infectados, com o objetivo de diminuir os efeitos da doença e, consequentemente, diminuir o número de óbitos, que já ultrapassou a marca de 1 milhão e 200 mil no mundo. No entanto, apesar de ser um vírus de uma família já conhecida, possui particularidades que o tornaram novo para os especialistas, de forma que os estudos e vacinas já existentes não serviram para o controle da doença, antes de se instalar uma pandemia.
O trabalho aborda os dois medicamentos mais citados no momento: hidroxicloroquina (HCQ) e ivermectina, citando seus perfis farmacocinéticos e farmacodinâmicos e o motivo de terem sido escolhidos como possíveis aliados no tratamento da COVID-19.
2. COVID-19
O SARS-CoV-2, que ficou conhecido como COVID-19 (Coronavirus disease 2019), é um vírus da família Coronavidae, pertencente ao subgrupo B dos Betacoronavirus. Acredita-se que esse vírus chegou ao ser humano através do morcego por um processo chamado Spillover – ou transbordamento – que é quando um agente infeccioso tem a capacidade de se adaptar, se mutar e migrar entre espécies. É considerada uma zoonose, pelo fato da contaminação, provavelmente, ter sido iniciada de um morcego para um ser humano, visto que esses animais, aparentemente, são o reservatório natural do vírus.
A princípio, acreditava-se que o SARS-CoV-2 evoluiria para a forma grave e/ou seria fatal apenas para pacientes do grupo de risco – diabéticos, hipertensos, cardiopatas, obesos e idosos. No entanto, com o avançar da doença, notou-se que, além destes, o vírus também foi fatal para crianças e pacientes que não apresentavam comorbidades adjacentes, antes considerados seguros contra o curso grave da doença. 
Observou-se que não só o contato com o vírus dita o curso da doença, como também a carga viral adquirida. Além disso, do início da pandemia até agora, o vírus já se mutou mais de uma vez, sendo encontradas outras cepas presentes em diferentes países que, segundo estudos, podem ter um poder de invasão de células um pouco maior do que a primeira cepa surgida em Wuhan, na China. Esses fatores são indicativos de que ainda há muito o que se estudar sobre o SARS-CoV-2 e que todas as informações sobre prevenção e tratamento com medicações divulgadas até então são baseadas em estudos preliminares, ou que já foram descartados por não apresentarem eficácia.
2.1. ESTRUTURA VIRAL
O SARS-CoV-2 um vírus ácido ribonucleico (RNA) em que cada um dos seus quase 30 mil nucleotídeos é formado por uma molécula de ribose. É envelopado com uma cápsula lipídica que protege o seu genoma. Por possuir a cápsula lipídica, é mais fácil de ser eliminado das mãos e fômites, pois as moléculas de sabão possuem uma parte hidrofílica – que interagem com a água – e uma parte lipofílica – que interage com as moléculas de gordura. A parte lipofílica do sabão interage com o envoltório do vírus, rico em lipídeos, e o rompe, fazendo com que as proteínas virais saiam com a água.
Das proteínas virais presentes, as mais importantes são a glicoproteína S (glicoproteína de pico ou glicoproteína Spike), responsável por ligar o vírus aos receptores das células hospedeiras, permitindo a invasão e a glicoproteína N (ou proteína do nucleocapsídeo viral), responsável pelo processo de replicação viral.
2.2. FISIOPATOLOGIA
O SARS-CoV-2 tem características muito parecidas com o SARS-CoV-1, que provocou um surto entre 2002 e 2003 e teve 8.098 casos confirmados pelo mundo. No entanto, o potencial de transmissão e agressividade do COVID-19 parece ser maior.
A transmissão acontece por contato com fluidos corporais. Acreditava-se que apenas pacientes sintomáticos poderiam transmitir o vírus para outras pessoas. No entanto, observou-se que, além destes, pacientes pré-sintomáticos também são vetores de transmissão. Os pacientes assintomáticos, ou seja, que não desenvolvem a forma clínica da doença, também são vetores transmissão, porém de uma menor carga viral, visto que não apresentam tosse e/ou esternutação, não liberando as gotículas de Flügge – conhecidas popularmente como perdigotos – com a mesma frequência que os outros pacientes. Os fômites contaminado também fazem parte da transmissão, caso não sejam higienizados corretamente antes e após o uso. 
Esse vírus possui a glicoproteína “spike”, que é a maior responsável pela sua entrada nas células. Segundo o Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Eintein, essa glicoproteína se liga ao receptor da enzima conversora de angiotensina-2 (ECA2) e a serina protease TMPR52 cliva a proteína spike, fazendo com que ela entre nas células. Com isso, o SARS-CoV-2 desregula o balanço entre ECA e ECA2, interferindo no sistema renina-angiotensina-aldosterona. Esse desbalanço promove um acúmulo tóxico de angiotensina-2 no plasma, causando a síndrome do desconforto respiratório agudo e miocardite fulminante (BMJ Best Practice, 2020).
Ao entrar no corpo do hospedeiro, age nos pneumócitos, células nasais e outras células presentes no trato respiratório. Os sinais clínicos da COVID-19 são febre, fadiga crônica e cefaleia, comuns em infecções por influenza. Também pode se manifestar como perda de olfato e paladar, dispneia que pode evoluir para uma dificuldade respiratória grave, oxigenação abaixo de 90% e, em casos mais críticos, observa-se Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo, sepse, embolia pulmonar e síndrome coronariana aguda (BMJ Best Practice, 2020).
A febre é um sinal clássico de infecções e é causada pelas substâncias pirogênicas que são secretadas pelos macrófagos frente à uma infecção. O hipotálamo anterior recebe a atuação das prostaglandinas, que elevam a temperatura corporal, a fim de tornar o organismo um meio inabitável para o vírus. A Síndrome da Fadiga Crônica, também conhecida como encefalomielite miálgica, pode ser observada após a infecção por COVID-19. Se caracteriza como uma fadiga intensa sem causa aparente, que, além da fadiga, causa dores nas articulações. Geralmente, aparecem depois de infecções, como a Zika e Chikungunya, mas ainda não se sabe o porquê. Já a cefaleia ocorre quando o vírus SARS-CoV-2 invade as terminações nervosas do nervo trigêmeo, a partir da cavidade nasal, e pelas citocina pró-inflamatórias, que ativam as terminações dos gânglios trigeminais perivasculares.
Acredita-se que a perda de olfato e paladar (anosmia) é causada pelo ataque dos vírus às células de apoio, que ao obterem uma resposta imunológica, incham e inflamam, fazendo com que o cheiro não chegue aos receptores dos neurônios olfatórios, presentes no epitélio nasal. No caso de pacientes que permanecem sem olfato por meses, acredita-se que ocorre destruição dos neurônios olfatórios, que não são invadidos pelos vírus, mas são atacados pelo próprio sistema imunológico.
A Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo ocorre quando o vírus ataca os pulmões, levando à inflamação e recrutamentodos macrófagos. Com isso, há um aumento da permeabilidade vascular e edema, destruindo os alvéolos e o surfactante pulmonar, levando à colabação e consequente hipoxemia. A ativação dos macrófagos, quando excessiva, engrossam o sangue e causam coágulos, que são responsáveis pela embolia pulmonar. A Síndrome Coronariana Aguda é caracterizada pela interrupção do fornecimento de sangue ao miocárdio, o que ocasiona isquemia e pode acontecer como consequência de uma trombose arterial ou venosa.
3. HIDROXICLOROQUINA
A hidroxicloroquina é o análago farmacológico da cloroquina, com um perfil de segurança mais favorável. Ambos são da família 4-aminoquinolinas e são usados para o tratamento de malária, artrite reumatoide e lúpus eritromatoso sistêmico. Também possuem indicações para tratamento de Amebíase hepática, como infecções por Entamoeba histolytica. No entanto, segundo a Sociedade Brasileira de Imunologia, os efeitos adversos demonstram a necessidade de um acompanhamento médico durante o uso. São eles: retinopatias, hipoglicemia grave, prolongamento QT e toxicidade cardíaca.
A quinina foi produzida a partir da planta Cinchona ledgeriana e foi amplamente usada durante a gripe espanhola. Ela apresenta propriedades anti-inflamatórias, adstringentes, cicatrizantes, além de antimalárica. Anos depois, a quinina foi sintetizada e transformada no medicamento que se conhece atualmente. Em 1945, a FDA aprovou o uso da Cloroquina como um antimalárico e, em 1955, a Hidroxicloroquina foi aprovada como uma versão análoga da Cloroquina, porém mais solúvel e com menor toxicidade. Também é vendido como Reuquinol e Plaquenil.
4. IVERMECTINA
Ivermectina é um antiparasitário de amplo espectro utilizado em medicina humana e medicina veterinária. Faz parte da classe das Avermectinas. Essa classe advém da fermentação do Streptomyces avermitilis e é indicada para o tratamento de oncocercose, tricuríase, ascaridíase, estrongiloidíase, filaríase linfática e infestação por outros parasitas. Em animais, também pode ser utilizado como profilaxia de dirofilariose.
Apesar de ter sido descoberta em 1975, só foi introduzida no mercado 6 anos depois, entrando para a lista de medicamentos essenciais da Organização Mundial da Saúde.
5. FARMACOCINÉTICA
A farmacocinética é responsável por estudar as movimentações de um fármaco dentro de um organismo vivo. Tem como função indicar a relação dose-concentração.
5.1. BIOFARMACÊUTICA
A primeira fase da farmacocinética é a fase biofarmacêutica, que se caracteriza pela liberação do princípio ativo. 
A hidroxicloroquina é um pró-fármaco lipoide que será administrado via oral, com uma biodisponibilidade de, aproximadamente, 75%. Essa biodisponibilidade é menor que 100%, pois, com a administração via oral, ocorre uma extensão incompleta da absorção. Isso pode ser explicado pelo fato do fármaco ser lipoide, o que não o torna solúvel o suficiente para atravessar a camada de água adjacente à célula. 
Como é um pró-fármaco, é uma substância inativa que será metabolizada em metabólitos ativos após a biotransformação. Por ser lipoide, ou seja, lipossolúvel, ele passará facilmente pela membrana plasmática das células, visto que a membrana é composta por uma bicamada fosfolipídica.
A administração da Ivermectina é via oral ou subcutânea, podendo também ser administrado via transdérmica. É altamente lipossolúvel. Porém, diferente da Hidroxicloroquina, não é um pró-fármaco, pois, ao passar pela biotransformação, dá origem à um metabólito menos ativo que a substância mãe. O transporte através da membrana também será facilitado pela característica lipossolúvel do medicamento.
5.2. ABSORÇÃO
A absorção é a transferência de um fármaco desde o seu local de administração até a circulação sanguínea. Para isso, é necessário que o fármaco atravesse a membrana celular e, no caso da HCQ, essa travessia será feita por mecanismos passivos de difusão simples.
A HCQ começa a ser absorvida no trato gastrointestinal e chega ao compartimento central – que é a corrente sanguínea – onde ficará em sua forma livre. Como o compartimento central possui concentração plasmática, o fármaco se liga aproximadamente 60% às proteínas plasmáticas, com o objetivo de torná-lo solúvel. A distribuição é feita para tecidos como olho, pulmão, fígado, baço, hemácias, coração, entre outros (DE MOURA, André Luiz, 2020). Esse medicamento também pode ser distribuído para reservatórios teciduais e ainda pode ser encontrado após 60 dias.
A Ivermectina também começa a ser absorvida no trato gastrointestinal. Por ser lipossolúvel, observa-se uma distribuição para o tecido adiposo, onde fica como reservatório e explica o tempo de permanência do fármaco no organismo. Além do tecido adiposo, a maior concentração tissular é vista no fígado. Sua travessia transmembrana também é por mecanismos passivos de difusão simples.
5.3. BIOTRANSFORMAÇÃO E EXCREÇÃO
A biotransformação é o processo em que uma substância passa por reações químicas com o intuito de que compostos lipossolúveis, se tornem hidrossolúveis. Esse processo de polarização do fármaco acontece no fígado, a fim de evitar uma possível reabsorção nos túbulos renais. Em casos de fármacos em que a substância é ativa, essa polarização acaba o inativando. Porém, no caso da HQC, que é um pró-fármaco, esse processo faz com que se originem metabólitos ativos ou mais ativos que a substância mãe.
Ao chegar ao fígado, a HCQ se liga às enzimas CYP hepáticas – enzimas do citocromo P450 – onde sofre a biotransformação. O fármaco passa por reação de fase 1, que o converte em metabólitos hidrossolúveis a partir da inserção de um átomo de oxigênio na estrutura do fármaco. Após isso, passa pela reação de fase 2, que é a reação enzimática responsável por permitir que esses metabólitos originários da fase 1 possam ser excretados via renal. Com isso, a HQC é parcialmente metabolizada nos metabólitos ativos desetilcloroquina e bidesetilcloroquina. 
A velocidade de distribuição da HCQ vai determinar os níveis de concentrações plasmáticas. A administração oral faz com que o fármaco passe pela circulação porta-hepática antes de chegar à circulação sistêmica, fazendo com que atinja baixas concentrações plasmáticas. Para que seja uma concentração eficaz, é necessária uma dose de ataque – que tem como objetivo uma primeira dose alta do medicamento a fim de atingir rapidamente o alvo terapêutico, sendo as próximas dosagens em níveis de manutenção da faixa terapêutica.
A meia-vida varia entre 32 dias no plasma e 50 dias no sangue total. A depuração desse medicamento é predominantemente renal, mas também pode ser excretado através da bile. Porém, a depuração renal corresponde a, aproximadamente, metade da depuração sistêmica total.
A Ivermectina, ao ser absorvida, se liga à albumina e lipoproteínas plasmáticas, o que proporciona a larga distribuição e acumulação no tecido adiposo. A biotransformação também ocorre no fígado, através das enzimas CYP hepáticas, do citocromo P450. É metabolizado em 3 metabólitos, sendo o mais importante o 24-hidroximetil-H2B1. Porém, a biotransformação desse medicamento é pequena e a maior parte dele será excretado pelas fezes de forma íntegra – aproximadamente 98% - sendo os outros 2% excretados via renal.
A concentração máxima de Ivermectina no plasma é vista após 4h e a meia vida varia entre 22 e 28 horas.
6. FARMACODINÂMICA
A farmacodinâmica é o estudo da fisiologia e bioquímica do fármaco no organismo vivo. Tem como função indicar a relação concentração-efeito.
O protozoário do gênero Plasmodium, responsável pela malária, ataca as hemoglobinas do hospedeiro e as digere. Os resíduos dessa digestão são a globina heme, que é tóxica tanto para o hospedeiro quanto para o próprio parasita. Para se defender dessa toxicidade, o protozoário transforma a heme no pigmento malarial chamado hemozoína. A hidroxicloroquina atua inibindo a síntese desse polímero e, consequentemente, inibe o crescimento e reprodução do parasita. Além disso, a HQC também aumenta o pH do vacúolo digestivo produzido pelo parasita,impedindo a utilização e metabolização das hemoglobinas. Também tem ação anti-inflamatória, o que indica uma inibição das enzimas COX – que produzem prostanóides – e, consequentemente, inibem a formação de prostaglandinas, aliviando os sinais de inflamação.
A HCQ tem atividade esquizonticida, ou seja, destrói as formas assexuadas (esquizontes) dos parasitas no sangue, e gametocida, que destrói as formas sexuadas (gametócitos). Além disso, tem ação antipirética, agindo no hipotálamo para que não seja influenciado pelas interleucinas 1 e 6, inibindo a indução de febre. Outro mecanismo de ação visto na hidroxicloroquina é a ligação às nucleoproteínas e interferência na síntese de proteínas e inibição da polimerase do DNA e RNA (FIOCRUZ, 2017).
A toxicidade da hidroxicloroquina está relacionada com o aumento do complexo QRS, anormalidade da onda T e outros efeitos cardiovasculares, além de irritação gastrointestinal, retinopatias irreversíveis e efeitos do sistema nervoso central, como convulsões e coma.
A estrongilodíase é causada pelo Strongyloides stercoralis e causam lesões em sua passagem pela faringe, sistema gastrointestinal, entre outros, além de alterações cutâneas pela penetração ativa na pele do hospedeiro. A ivermectina atua no estágio intestinal do S. stercoralis. 
Para a oncocercose, a ivermectina atua somente nos estágios de desenvolvimento do parasita e na saída das microfilárias, inibindo a ação de vetor do hospedeiro. Para a filariose, a ivermectina atua da mesma forma, apenas na eliminação das microfilárias, não curando as alterações clínicas já causadas pelo parasita. Além destes, esse fármaco também é utilizado contra escabiose, ascaridíase e pediculose, no qual ocorre eliminação dos piolhos adultos.
A ivermectina atua diretamente nos canais de cloro controlados por glutamato que, ao serem potencializados, causam paralisia e morte do parasita através da hiperpolarização dos nervos musculares dos animais invertebrados, insetos e crustáceos.
A toxicidade da ivermectina é considerada baixa, pois, como possui alto peso molecular, não atravessa a barreira hematoencefálica. No entanto, em pacientes com oncocercose, podem ser observadas reações cutâneas e oftálmicas, ocasionadas por reações alérgicas ou inflamatórias pela morte dos parasitas.
7. AÇÃO ANTIVIRAL DA HIDROXICLOROQUINA
Desde 2004, durante a pandemia de SARS-CoV, estuda-se a ação antiviral da HCQ. Acredita-se que esse fármaco tem uma boa ação antiviral de amplo espectro. No entanto, os estudos feitos foram in vitro, o que os torna inconclusivos. Durante a pandemia do COVID-19, o uso da HQC como aliado ao tratamento de pacientes infectados veio à tona. 
É sabido que, in vitro, a ação da hidroxicloroquina de aumentar o PH do vacúolo digestivo produzido, interfere na atividade das enzimas, o que impede o vírus de liberar seu material genético. Além disso, a HCQ aparentemente interfere na glicolisação – transformação de lipídeos e proteínas em glicolipídeos e glicoproteínas –, inibindo a ligação da proteína spike do vírus com a ECA2 da célula hospedeira, exercendo um efeito antiviral pré e pós-infecção. Também é visto uma atenuação da produção de citosinas e efeitos pró-inflamatórios do vírus, pois a hidroxicloroquina impede a sinalização TLR. 
8. AÇÃO ANTIVIRAL DA IVERMECTINA
A ação antiviral da ivermectina já havia sido estudada in vitro para vírus como HIV, dengue, influenza e zika vírus (SANAR MED, 2020). No entanto, não se mostrou eficaz na prática clínica. Para o COVID-19, foi feito um estudo australiano, que mostrou uma redução de 93% na replicação viral, em 24 horas. A enzima integrase é responsável por inserir o DNA do vírus ao DNA da célula hospedeira. A ação antiviral da ivermectina ainda é indeterminada, mas acredita-se que a administração do fármaco inibe a proteína integrase, não permitindo que o DNA viral chegue à célula hospedeira.
Teoricamente, a ivermectina seria uma grande aliada no tratamento de pacientes infectados. Porém, assim como a HCQ, os estudos foram in vitro, não sendo conclusivos quanto à efetividade e toxicidade.
9. CUIDADOS NO USO DE HIDROXICLOROQUINA E IVERMECTINA
Esses medicamentos passaram a ser utilizados em larga escala, sem saber-se a dose recomendada e os possíveis efeitos em organismos vivos. Pesquisadores da Universidade da Carolina do Sul e da Universidade de Virginia observaram alto risco de morte aos pacientes. Um dos efeitos adversos da hidroxicloroquina é o prolongamento do complexo QRS e anormalidade da onda T, o que ocasiona problemas graves de ritmo cardíaco. Ele prolonga a duração do sistema excito-condutor e, por consequência, aumenta período refratário das fibras de Purkinje (SOBRAC, 2020). O uso de HCQ não é indicado em pacientes com arritmias cardíacas ou outra cardiopatia, pois pode acarretar em arritmias graves e efeitos colaterais que levam à óbito. No entanto, indivíduos que não apresentam cardiopatias não estão livres dos efeitos cardiológicos causados pela hidroxicloroquina, principalmente com uso indiscriminado e dosagens erradas, pois também foram observadas arritmias cardíacas desenvolvidas após o uso de hidroxicloroquina, concomitante ou não ao uso de antibióticos.
Segundo Leonardo Pereira, farmacêutico e professor da Universidade de São Paulo, a dosagem eficaz de ivermectina in vitro é entre 50 a 100 vezes maior que o limite seguro para uso humano. Com isso, percebe-se que, in vivo, podem ocorrer efeitos tóxicos nos pacientes, podendo agravar o quadro. A ivermectina também possui efeito nos receptores GABA-érgicos – neurotransmissor que inibe o SNC –, sendo contraindicados em pacientes com afecções que afetem a barreira hematoencefálica.
10. DISCUSSÃO
Tanto o SARS-CoV-2 como os outros coronavírus já conhecidos utilizam-se da ACE2 para entrar nas células do hospedeiro. Para que um medicamento seja eficaz no tratamento da COVID-19, é necessário que tenha a capacidade bloqueadora da interação entre o vírus e os receptores da Enzima Conversora de Angiotensina 2.
A pneumonia causada pela infecção é um produto de um fenômeno chamado “tempestades de ocitocina”. As citocinas são proteínas essenciais para o sistema imunológico. Podem ser as Interleucinas, os Interferons, os Fatores de Necrose Tumoral, as Quimiocinas e o Fator de Transformação de Crescimento. Elas também atuam na reação inflamatória e, no caso da COVID-19, a “tempestade de citocina” se caracteriza como uma reação hiperinflamatória. Para tratar os pacientes acometidos, seria necessário um controle efetivo dessa reação, de modo que não diminuísse as barreiras imunológicas dos indivíduos. No entanto, ainda não se sabe como fazer isso, o que torna essa pneumonia quase sempre letal.
Ambos os medicamentos foram testados para a ação antiviral. No entanto, estudos feitos in vitro – fora de um organismo vivo – não podem ser conclusivos quanto aos efeitos. Esse tipo de ensaio é o indicador inicial, ou seja, é uma base, mas não representa com exatidão a resposta que o mesmo fármaco terá num ser humano ou animal. Os estudos in vivo – dentro de um organismo vivo – é onde observa-se o risco. É o ensaio onde vê-se os efeitos tóxicos dos fármacos, bem como sua eficácia, a fim de definir os riscos num organismo vivo. 
Como não há estudos clínicos sobre a eficácia do medicamento levando-se em consideração as diferentes reações do organismo, doenças pré-existentes, entre outros fatores, o uso de hidroxicloroquina e ivermectina para tratamento do SARS-CoV-2 não é indicado. Caso seja utilizado, é necessário acompanhamento médico frequente para observação de possíveis efeitos colaterais que podem ser fatais.
11. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sabe-se que as consequências do SARS-CoV-2 foram grandes. Porém, com estudos publicados até agora, foi possível conhecer mais sobre o vírus, sua fisiopatologia, meios de transmissão, entre outros fatores. O mais importante, no entanto, foi a busca por medicamentos e vacinas. Nesse quesito, mais estudos se fazem necessários. Os medicamentos usados em larga escala foram a hidroxicloroquina e ivermectina,que dividiu a opinião pública, mesmo com fontes confiáveis – como a Sociedade Brasileira de Imunologia e a Sociedade Brasileira de Infectologia – não defendendo o uso para tal.
Deve-se levar em consideração que estudos in vitro não são os mesmos que estudos in vivo, não sendo, portanto, argumento plausível para o uso indiscriminado de medicamentos. Pacientes do grupo de risco – obesos, cardiopatas, idosos, diabéticos, hipertensos e com infecções respiratórias – devem prestar mais atenção tanto ao vírus quanto ao uso de tais medicamentos, pois podem agravar o quadro da doença, levando o paciente à óbito.
O uso de hidroxicloroquina e ivermectina – bem como qualquer outro fármaco – não deve ser usado sem prescrição médica e acompanhamento regular para observação de possíveis efeitos colaterais. O uso para tratamento de SARS-CoV-2 não é indicado, pois, além dos efeitos colaterais e tóxicos em pacientes com doenças pré-existentes, não há ensaios clínicos in vivo que corroborem a eficácia antiviral em pacientes humanos. Por enquanto, a diminuição da transmissão e tratamento dos sintomas conforme aparecem são as principais intervenções que podem ser feitas para frear os danos causados pela COVID-19.
12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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