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Ana Carolina Thomaz Mendes HIV Vírus da imunodeficiência humana - HIV O HIV é uma partícula esférica medindo de 100 a 120nm de diâmetro, pertencente ao gênero Lentivirus e à família Retroviridae, que apresenta em seu núcleo duas cópias de RNA de cadeia simples, encapsuladas por uma camada proteica ou nucleocapsídeo, um capsídeo e um envelope externo composto por uma bicamada fosfolipídica. O genoma do HIV inclui três principais genes que codificam as proteínas estruturais e enzimas virais: gag, pol e env. A nomenclatura das proteínas virais utiliza a abreviação “gp” para glicoproteína ou “p” para proteína, seguida de um número que indica o peso molecular em kilodaltons (kd). O gene gag codifica a p55, a partir da qual quatro proteínas estruturais do capsídeo são formadas: p6, p9, p17 e p24. O capsídeo que circunda o ácido nucléico viral contém p24, p6 e p9, enquanto a p17 se encontra em uma camada entre o núcleo proteico e o invólucro, denominada matriz protéica, a qual reveste a superfície interna da membrana viral. Os principais componentes virais com utilidade diagnóstica incluem as proteínas do envelope viral (gp160, gp120 e gp41), as proteínas codificadas pelo gene gag (p55, p24 e p17) e as proteínas codificadas pelo gene pol (p66, p51, p31) (CLSI, 2011). INFECÇÃO E RESPOSTA IMUNE CONTRA O HIV A maioria das infecções pelo HIV-1 ocorre por meio das mucosas do trato genital ou retal durante a relação sexual. Nas primeiras horas após a infecção pela via sexual, o HIV e células infectadas atravessam a barreira da mucosa, permitindo que o vírus se estabeleça no local de entrada e continue infectando linfócitos T-CD4 +, além de macrófagos e células dendríticas. Após a transmissão do vírus, há um período de aproximadamente dez dias, denominado fase eclipse, antes que o RNA viral seja detectável no plasma. Estudos que utilizaram técnicas avançadas de sequenciamento genético das primeiras partículas virais detectadas no plasma permitiram demonstrar que aproximadamente 80% das infecções sexuais pelo HIV-1 dos subtipos B e C são iniciadas por um único vírus. A homogeneidade do vírus, dito fundador, indica que o estabelecimento da infecção é resultado de um único foco de linfócitos T-CD4 + infectados da mucosa. A resposta imunológica inata que se estabelece no foco da infecção atrai uma quantidade adicional de células T, o que, por sua vez, aumenta a replicação viral. A partir dessa pequena população de células infectadas, o vírus é disseminado inicialmente para os linfonodos locais e depois sistemicamente, em número suficiente para estabelecer e manter a produção de vírus nos tecidos linfóides, além de estabelecer um reservatório viral latente, principalmente em linfócitos T-CD4+ de memória. A replicação viral ativa e a livre circulação do vírus na corrente sanguínea causam a formação de um pico de viremia por volta de 21 a 28 dias após a exposição ao HIV. Essa viremia está associada a um declínio acentuado no número de linfócitos T-CD4 +. Na fase de expansão e disseminação sistêmica, há a indução da resposta imunológica, mas esta é tardia e insuficiente em magnitude para erradicar a infecção. A ativação imune, por outro lado, produz uma quantidade adicional de linfócitos T-CD4+ ativados que servem de alvo para novas infecções. Ao mesmo tempo, o número crescente de linfócitos T-CD8+ exerce um controle parcial da infecção, mas não suficiente para impedir, na ausência de terapia, a lenta e progressiva depleção de linfócitos T-CD4+ e a eventual progressão para a síndrome da imunodeficiência adquirida (aids). A ativação de linfócitos T-CD8+ específicos contra o HIV ocorre normalmente antes da soroconversão. O aparecimento de uma resposta imune celular HIV- específica e a subsequente síntese de anticorpos anti- HIV levam a uma queda da carga viral plasmática Ana Carolina Thomaz Mendes (viremia) – até um nível (set point) que é específico de cada indivíduo – e à cronicidade da infecção pelo HIV. A resposta imune mediada por células é mais importante do que a resposta imune humoral no controle da replicação viral durante a infecção aguda, mas os anticorpos têm um papel relevante na redução da disseminação do HIV na fase crônica da infecção. A resposta imunológica humoral contra vários antígenos virais é vigorosa. A maioria das proteínas do HIV é imunogênica, mas uma resposta de anticorpos precoce e preferencial é induzida contra as glicoproteínas do envelope, a gp120 e a gp41, e contra a proteína do capsídeo viral, a p24. Como em qualquer outra infecção viral, a primeira classe de anticorpo produzida durante uma resposta imune primária é a imunoglobulina M (IgM). Devido à persistência do HIV, nosso organismo é continuamente exposto aos mesmos antígenos e a produção inicial de IgM é substituída pela produção de imunoglobulina G (IgG). Entretanto, ao contrário de outras doenças infecciosas, a presença da IgM não permite diferenciar uma infecção recente de uma infecção crônica, tendo em vista que a IgM pode reaparecer em outros momentos durante o curso da infecção. A IgG anti-HIV atinge níveis séricos elevados e persiste por anos, enquanto os níveis séricos de IgM tendem a desaparecer com o tempo ou apresentar padrão de intermitência. É observado um aumento da afinidade do anticorpo pelo antígeno, ou seja, os anticorpos de baixa afinidade que são produzidos no início da resposta humoral são pouco a pouco substituídos por anticorpos de alta afinidade. Esse é um fenômeno devido à ocorrência de mutações somáticas em determinadas regiões (hot spots) dos genes que codificam a imunoglobulina (Ig). Essas mutações ocorrem ao acaso e o aparecimento de clones de linfócitos B com maior especificidade antigênica é o resultado de um processo de seleção positiva decorrente dessas mutações. Essa característica de aumento de afinidade (ou avidez), juntamente com o aumento da concentração sérica de anticorpos específicos anti-HIV durante a fase inicial da resposta imune humoral, é a base racional para o desenvolvimento de testes laboratoriais que classificam a infecção em recente ou crônica. HIV O HIV é uma IST, que também pode ser contraída pelo contato com o sangue infectado e de forma vertical, ou seja, a mulher que é portadora do vírus HIV o transmite para o filho durante a gravidez. Não há cura para a infecção pelo vírus HIV, mas há remédios que podem reduzir drasticamente a progressão da doença. Essas drogas reduziram o número de mortes em decorrência da infecção em grande parte do planeta, mas não é um tratamento simples e a pessoa infectada demandará diversos cuidados em todas as áreas de sua saúde. No Brasil, de acordo com o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (UNAIDS), a incidência do HIV em pessoas de 15 a 49 anos é de 0,6%, segundo última atualização em 2013. De acordo com o mesmo relatório, o Brasil apresenta uma incidência maior que os seus vizinhos Bolívia e Chile, ambos com 0,3%, Paraguai e Peru, com 0,4% e Colômbia, 0,5%, por exemplo. No Haiti a taxa é de 2%, mas os números são muito mais altos em países africanos como Zimbábue (15%), Moçambique (10,8%), Malavi (10,3%), Uganda (7,4%) e Angola (2,4%). No Canadá e na Itália a incidência de infecção pelo vírus é de 0,3%. Todas as pessoas estão sujeitas à infecção pelo HIV, não importa o gênero, idade ou comportamento sexual. É preciso apenas que tenham contato com uma das formas de transmissão do vírus. Causas Os cientistas acreditam que um vírus similar ao HIV ocorreu pela primeira vez em algumas populações de chimpanzés e macacos na África, onde eram caçados para servirem de alimento. O contato com o sangue do macaco infectado durante o abate ou no processo de cozinhá-lo pode ter permitido ao vírus entrar emcontato com os seres humanos e se tornar o HIV. O HIV é transmitido principalmente por relações sexuais desprotegidas, isto é, sem o uso do preservativo, e compartilhamento de seringas e agulhas contaminadas com sangue, o que é frequente entre usuários de drogas ilícitas - que também podem contrair mais doenças, como hepatites. Outras vias de Ana Carolina Thomaz Mendes transmissão são por transfusão de sangue, porém é muito raro, uma vez que a testagem do banco de sangue é eficiente, e a vertical, que é a transmissão do vírus da mãe para o filho na gestação, amamentação e principalmente no momento do parto, o que pode ser prevenido com o tratamento adequado da gestante e do recém-nascido. É importante ressaltar que é possível contrair o HIV seja por sexo desprotegido vaginal, anal ou oral, quando o parceiro está infectado e seu sangue, sêmen ou secreção vaginal entram no corpo da pessoa que não vive com o vírus. A infecção pelo HIV evolui para Aids quando a pessoa não é tratada e sua imunidade vai diminuindo ao longo do tempo, pois, mesmo sem sintomas, o HIV continua se multiplicando e atacando as células de defesa, principalmente os linfócitos TCD4+. Por definição, a pessoas que tem aids apresentam contagem de linfócitos TCD4+ menor que 200 células/mm3 ou têm doença definidora de aids, como neurotoxoplasmose, pneumocistose, tuberculose extrapulmonar etc. O tratamento antirretroviral visa impedir a progressão da doença para aids. Quanto tempo demora para os sintomas se manifestarem? Uma pessoa pode estar infectada pelo HIV, sendo soropositiva, e não necessariamente apresentar comprometimento do sistema imune com perda dos linfócitos T, podendo viver por anos sem manifestar sintomas ou desenvolver a AIDS. Existe também o período chamado de janela imunológica, que é o período entre o contágio e o início de produção dos anticorpos pelo organismo. Nesse período, não há detecção de positividade nos testes, pois ainda não há anticorpos, e pode variar de 30-60 dias. Embora nesse período a pessoa não seja identificada como portadora do HIV, ela já é transmissora. Fatores de risco Todos estão sujeitos a contrair o vírus HIV, uma vez que a doença não escolhe cor de pele, idade, gênero ou preferências sexuais, contudo, há alguns comportamentos de risco para a infecção por HIV: ● Relação sexual (vaginal, anal ou oral) com pessoa infectada sem o uso de preservativos ● Compartilhamento de seringas e agulhas, principalmente, no uso de drogas injetáveis ● Reutilização de objetos perfurocortantes com presença de sangue ou fluidos contaminados pelo HIV Mulheres HIV-positivas que queiram engravidar também precisam tomar as providências, sob orientação médica, para não transmitir o vírus para os seus filhos durante a gestação, parto ou amamentação. Sintomas de HIV A maior parte das pessoas infectadas pelo vírus HIV desenvolvem, cerca três semanas após a exposição, alguns sintomas parecidos com os de um resfriado. Esta fase, conhecida como primária ou aguda pode durar por algumas semanas e é bastante perigosa, pois a infecção pode passar desapercebida e a carga viral (quantidade de vírus no sangue) neste momento é bastante alta, fazendo com que o vírus se espalhe mais facilmente. Depois deste período os sintomas podem desaparecer espontaneamente por vários anos antes do HIV ser diagnosticado. Em pacientes crônicos pode demorar até 11 anos em média para apresentar sintomas. Entre os sintomas que podem surgir quando a pessoa foi infectada pelo HIV estão: ● Febre ● Mal-estar ● Manchas vermelhas pelo corpo ● Aumento dos linfonodos, ou ínguas ● Dores de cabeça ● Dor nos músculos ● Erupção cutânea ● Calafrio ● Dor de garganta ● Úlceras orais ou úlceras genitais ● Dor nas articulações ● Sudorese noturna ● Diarreia ● Tosse Diagnóstico de HIV O diagnóstico do HIV normalmente é realizado através de testes que detectam o vírus na saliva ou no sangue. Eles podem ser realizados a partir de 30 dias após a Ana Carolina Thomaz Mendes exposição, isso porque os exames (laboratorial e teste rápido) busca por anticorpos contra o HIV no sangue para detectar a infecção. Existem vários testes para determinar em que estágio a doença está, dentre eles: ● Contagem de CD4: As células CD4 são um tipo de glóbulo branco que é especificamente destruído pelo HIV. A contagem de células CD4 em uma pessoa sem HIV pode variar de 500 a mais de 1.000. Mesmo que o paciente não apresente sintomas, quando a infecção por HIV progride para AIDS a contagem de CD4 cai para menos de 200. ● Carga viral: O teste mede a quantidade de vírus no sangue e, normalmente, quanto maior a carga viral, menor a condição geral de saúde da pessoa. O médico também pode solicitar testes para outras infecções ou complicações relacionadas ao HIV/aids: ● Tuberculose ● Hepatite ● Toxoplasmose ● Outras ISTs ● Danos nos rins e fígado ● Infecções de trato urinário ● Sífilis Tipos de teste ● Testes convencionais: O teste convencional foi o primeiro a ser desenvolvido. A ele, dá-se o nome de Ensaio Imunoenzimático, ou ELISA. Nele os profissionais de laboratório colhem uma amostra do sangue do paciente e buscam por anticorpos contra o vírus. Se a amostra não apresentar nenhuma célula de defesa específica para o HIV, o resultado é negativo e, então, oferecido ao paciente. Porém, caso seja detectado algum anticorpo anti-HIV no sangue, é necessária a realização de um teste adicional, o chamado teste confirmatório, para que se tenha certeza absoluta do diagnóstico. Nele, os profissionais buscam por fragmentos de HIV na corrente sanguínea do paciente ● Teste rápido: Ele funciona da mesma forma que o teste convencional, com a diferença de que o resultado sai no mesmo dia, cerca de trinta minutos até duas horas após a realização do exame. Isso permite que o paciente fique sabendo do resultado no momento da consulta médica e receba o aconselhamento pré e pós-teste, muito importante para esclarecer dúvidas a respeito das formas de transmissão e também de tratamento ● Fluído oral: O teste de fluido oral é a mais recente modalidade de testagem. Para realizar o exame, é necessário retirar uma amostra do fluido presente na boca, principalmente das gengivas e da mucosa da bochecha, com o auxílio de uma haste coletora. O resultado sai em 30 minutos e pode ser realizado em qualquer lugar, dispensando estruturas laboratoriais. No entanto, o teste de fluido oral serve apenas como triagem para o paciente ● Testes confirmatórios: São usados como testes confirmatórios os exames Western Blot, o Teste de Imunofluorescência indireta para o HIV-1 e o Imunoblot. Eles são requeridos somente quando o resultado de testes convencionais ou testes rápidos é positivo. Eles são necessários porque, algumas vezes, os exames podem dar resultados falso- positivos em decorrência de algumas doenças, como artrite reumatoide, doenças autoimunes e alguns tipos de câncer não diagnosticados. Tratamento de HIV Atualmente há tendência de tratar todos os pacientes com HIV, independente do CD4, com o objetivo de reduzir a transmissão e melhorar a evolução clínica das pessoas portadoras do HIV. Há várias medicações disponíveis e o tratamento é sempre combinado com pelo menos três drogas. Há um consenso brasileiro de tratamento de HIV/Aids do Ministério da Saúde, que visa uniformizar as formas de tratar. A medicação de primeira escolha hoje está disponível em um único comprimido, é a combinação de lamivudina, tenofovir e efavirenz. No caso de contraindicação, efeitos adversos ou resistência, temos opções de outros antirretrovirais que deverão ser individualizados para cada paciente. A indicação Ana Carolina Thomaz Mendes de qual esquema de tratamentodeve ser utilizado é passada pelo médico. O importante é que uma vez iniciado o tratamento, o paciente deve estar ciente de que ele não deve ser interrompido sem motivo e que as medicações devem ser tomadas todos os dias e nos intervalos prescritos. Quando utilizado de maneira irregular, o tratamento pode falhar por surgimento de vírus resistentes. Os medicamentos agem em diferentes partes do ciclo de multiplicação do HIV dentro do organismo, evitando a formação de novos vírus e a destruição das células de defesa. Cada classe de medicação age em uma fase desse ciclo e para que o tratamento seja mais eficaz, são utilizadas combinações de diferentes classes. É importante lembrar que ainda não há uma medicação que consiga destruir todos os vírus existentes no paciente e que alguns permanecem “escondidos” e podem voltar a se multiplicar se ele parar de tomar a medicação. Outros remédios utilizados são para prevenção de algumas doenças oportunistas, que em geral são suspensos com a melhora da imunidade do paciente. Conheça a seguir como cada um deles é usado: ● Inibidores nucleosídeos da transcriptase reversa: Essa classe de medicamentos atua sobre a enzima transcriptase reversa, tornando conversão do RNA em uma cadeia de DNA viral defeituosa, impedindo a inclusão desta no DNA das células de defesa do organismo hospedeiro. Essa ação impede que o vírus se reproduza. Exemplos: Abacavir, Lamivudina, Tenofovir, Zidovudina, Truvada; ● Inibidores não nucleosídeos da transcriptase reversa: Essa classe de medicamentos também atua sobre a enzima transcriptase reversa, bloqueando diretamente sua ação, impedindo a multiplicação do vírus. Exemplos: Efavrienz, Nevirapina, Etravirina ● Inibidores de protease: Medicamentos que atuam na enzima protease, bloqueando sua ação e impedindo a produção de novas cópias do vírus HIV. Exemplos: Atazanavir, Darunavir, Lopinavir, Ritonavir ● Inibidores de fusão: Medicamentos que impedem a entrada do vírus do HIV nas células de defesa do organismo hospedeiro via proteína CD4, impedindo o ciclo reprodutivo do vírus, como o Enfuvirtida (T20) ● Inibidores da integrase: Medicamentos que bloqueiam a atividade da enzima integrase, responsável pela inserção do DNA do vírus HIV (após ação da transcriptase reverva que converte RNA do vírus em DNA) ao DNA humano. Isto permite a inibição da replicação do vírus e sua capacidade de infectar novas células. Exemplos: Dolutegravir, Raltegravir. Caso o (a) parceiro (a) esteja presente na consulta, poderá também passa pela testagem. Quando indicado, a pessoa exposta sexualmente ao vírus HIV (ou ao risco de), recebe medicamentos antirretrovirais que devem ser usados por 4 semanas, para evitar a infecção pelo HIV. PEP A Profilaxia Pós-exposição (PEP), estratégia para prevenção da infecção pelo HIV, foi inicialmente disponibilizada para profissionais de saúde que acidentalmente se expunham ao HIV (com agulhas e outros instrumentais contaminados) ou para vítimas de violência sexual. Desde 2010, no entanto, existe a versão PEP sexual. Esta é uma estratégia complementar ao sexo seguro, indicada para pessoas que se expuseram a situações sexuais de risco para infecção pelo HIV: falha no uso ou ainda rompimento de preservativos. A ideia da PEP é que tão logo a pessoa tenha sido exposta, ela seja avaliada e testada para o HIV. Essa medida irá verificar se ela já havia sido infectada anteriormente - fator que impossibilitaria o uso da PEP -, uma vez que logo após a exposição não é possível saber se a pessoa contraiu o vírus ou não. Caso o parceiro esteja presente na consulta, ele também passa pela testagem e, se indicado, é dado início ao uso de medicamentos antirretrovirais. Ana Carolina Thomaz Mendes Complicações possíveis São diversas as complicações que uma pessoa vivendo com HIV pode desenvolver, a principal delas é a AIDS, mas, com o tratamento adequado é possível retardar bastante este processo. Contudo, o vírus deixa a pessoa mais suscetível a outras doenças, como um grande número de infecções e de tipos de cânceres. Dentre as infecções temos: ● Tuberculose: É a infecção oportunista mais comum associada ao HIV e uma das principais causas de morte entre pessoas com aids. É extremamente comum que pessoas com HIV também estejam infectadas com tuberculose. ● Salmonela: A infecção é contraída através da ingestão de alimentos ou água contaminada. Entre os sintomas estão diarreia severa, febre, calafrios, dor abdominal e vômitos e é muito mais incidente entre soropositivos do que em soronegativos. ● Citomegalovírus: O vírus da herpes, que é transmitido através de contatos com fluídos corporais, fica inativo ou dormente em uma pessoa com um sistema imunológico saudável. Contudo, se a imunidade da pessoa está baixa, ele reaparece, o que é comum em soropositivos. O vírus pode causar dano aos olhos, trato digestivo, pulmões e outros órgãos. ● Candidíase: A infecção causa inflamações e o aparecimento de um revestimento branco espesso nas membranas mucosas da boca, língua, esôfago ou vagina. Em crianças, os sintomas são ainda mais severos na boca ou no esôfago, o que pode tornar o ato de comer bastante doloroso. ● Meningite criptocócica: é uma infecção do sistema nervoso central, associada ao HIV, ocasionada por fungos encontrados no solo. Esta doença também pode estar ligada à pássaros ou fezes de morcego. ● Toxoplasmose: É uma infecção potencialmente fatal causada por um parasita transmitido usualmente por gatos. O animal infectado libera o parasita nas fezes, que é quando ele pode ser transmitido a humanos e outros animais. ● Criptosporidiose:É uma infecção intestinal parasitária comumente encontrada em animais, transmitida para os humanos através da ingestão de água ou alimentos contaminados. O parasita cresce no intestino, levando a diarreias severas e crônicas em pacientes com aids. Dentre os tipos mais comuns de câncer que podem se desenvolver com maior facilidade em pacientes soropositivos estão: ● Sarcoma de Kaposi: Que é raro em pessoas sadias e comum entre os portadores do vírus HIV. O Sarcoma de Kaposi surge com lesões rosas, vermelhas, roxas, marrons ou pretas na pele e boca da pessoa e também pode afetar os órgãos internos como o trato digestivo e os pulmões. ● Linfomas: Esse tipo de câncer se origina nos glóbulos brancos do sangue e usualmente aparece primeiramente nos nódulos linfáticos. Outras complicações podem incluir: ● Síndrome de Wasting ou do definhament: É definida como a perda de ao menos 10% da massa corpórea do paciente, acompanhada de diarreia, fraqueza crônica e febre. Com os tratamentos, o número de casos de Síndrome do Definhamento tem diminuído, mas ainda afeta muitas pessoas com HIV. ● Complicações neurológicas: Apesar da aids aparentemente não afetar as células nervosas, ela pode causar sintomas neurológicos como confusão, esquecimento, ansiedade, dificuldade de caminhar etc. A complicação mais comum é o complexo aids-demência, que leva a Ana Carolina Thomaz Mendes mudanças comportamentais e a um funcionamento mental diminuído. ● Doenças renais: A nefropatia associada ao HIV é uma inflamação dos pequenos filtros dos rins, que removem o excesso de líquido e resíduos do sangue e os passa para a urina. Assim como é muito importante que o paciente com HIV faça uso das medicações corretamente para que aumente a sua expectativa de vida e reduza as possíveis complicações do HIV, que incluem a aids, também é essencial ter diversos cuidados e regras com a saúde. As seguintes sugestões podem ajudar os pacientes soropositivos a ficarem saudáveis por maior período de tempo: Coma alimentos saudáveis Frutas e vegetais frescos, grãos e proteínas, emuma dieta equilibrada, ajudam a manter o paciente forte, liberar mais energia e a dar suporte ao sistema imunológico. Mas cuidado, doenças relacionadas a ingestão de alimentos podem ser especialmente mais severas em pessoas vivendo com HIV/aids. Evite produtos lácteos não pasteurizados, ovos crus e frutos do mar crus, como ostras e peixes. Cozinhe a carne até que ela fique bem passada ou até que não haja nenhum traço cor de rosa. Tome suas vacinas A imunização pode prevenir infecções como pneumonia e gripe, mas tenha certeza de que as vacinas não são compostas de vírus vivos. Eles podem ser perigosos para pessoas com sistema imunológico enfraquecido. Tome cuidado com os animais de estimação Alguns animais podem carregar parasitas que causam infecções em pessoas soropositivas ou com o sistema imunológico enfraquecido. As fezes do gato, por exemplo, podem causar toxoplasmose, répteis podem carregar salmonela e os pássaros certos tipos de fungo. O ideal é conversar com o seu médico sobre a presença do animal em casa e procurar um veterinário para verificar a saúde do bichinho. Não fume Pacientes soropositivos têm o sistema imunológico enfraquecido e estão mais susceptíveis a diversas doenças, inclusive comorbidades relacionadas aos pulmões. Então, se ainda fuma, pare de fumar o quanto antes. AIDS na gestação Durante a gestação, uma mulher soropositiva não vai necessariamente transmitir o vírus para o bebê. O maior risco é durante o parto e depende da carga viral da paciente: se for muito alta o ideal é fazer uma cesárea. Durante toda a gestação a mulher deve ser medicada, mesmo que sua sua carga viral não exija tratamento. A mãe recebe um coquetel para reduzir a quantidade de vírus em seu organismo, o que diminui o risco de transmissão para o bebê. Além disso, durante o parto, a mãe deve receber medicação endovenosa contra o HIV. Os filhos nascidos de mãe infectada pelo HIV também devem receber medicamento contra HIV no início da vida – todas estas estratégias combinadas diminuem muito o risco do bebê ser infectado pelo HIV. Além disso, estes bebês NÃO devem receber leite materno, que pode transmitir HIV. AIDS na terceira idade Os pacientes idosos podem ter associadas doenças pré-existentes que podem intensificar os sintomas relacionados a doenças ditas oportunistas que definem o diagnóstico de AIDS, conferindo maior gravidade, morbidade e mortalidade ao quadro. Em relação aos antirretrovirais disponíveis para tratamento dos pacientes idosos, (que são as mesmas classes disponíveis para os pacientes adultos), se faz importante atentar para possíveis para-efeitos destas medicações, que costumam ser mais intensos em pacientes com mais de 60 anos. No momento do início de tratamento com medicações antirretrovirais, é preciso escolher um esquema que tenha o menor número de interações farmacológicas com as medicações de uso prévio e contínuo do paciente em questão (exemplo: medicações para hipertensão arterial, diabetes etc). Ana Carolina Thomaz Mendes O diagnóstico do HIV no idoso muitas vezes é dificultado, porque tanto o paciente quanto seus familiares e profissionais de saúde tendem a não cogitar a possibilidade deste diagnóstico nesta faixa etária e em muitas situações os sinais e sintomas presentes no momento da avaliação médica fazem parte do grupo de doenças típicas do envelhecimento, confundindo e dificultando o diagnóstico. Por isso, o atendimento diferenciado a este paciente, com intensa interação entre médico geriatra e médico infectologista é imprescindível. O que é janela imunológica? Janela imunológica é o tempo que o corpo demora para reconhecer a presença do HIV (ou qualquer outro vírus) na corrente sanguínea e, assim, começar a produzir anticorpos contra ele. E como os testes de diagnóstico buscam esses anticorpos na amostra de sangue colhida, se o exame for feito dentro deste período o resultado pode dar negativo mesmo que a pessoa já esteja infectada. Prevenção Para se prevenir contra o HIV, o mais importante é não se colocar em situação de risco para a infecção pelo vírus, ou seja: ● Faça sexo (vaginal, anal ou oral) sempre com proteção; ● Não compartilhe agulhas e seringas ● Não reutilize objetos perfurocortantes no geral ● No caso de violência sexual, comunique as autoridades o quanto antes e vá a um hospital, de preferência especializado, para que eles possam ministrar os remédios de profilaxia de infecção pelo HIV ou outras IST. As chances de não se desenvolver essas doenças quando a profilaxia é feita poucas horas após o ato é muito maior ● Se você descobriu que tem o vírus, comunique o seu parceiro ou pessoas com as quais teve relações sexuais. Ele precisará fazer os testes, pois um diagnóstico precoce faz com que o tratamento seja muito mais efetivo. Além disso, eles precisam saber se estão com o vírus para que não acabem por infectar outras pessoas. Se você já foi diagnosticado com HIV, para se prevenir a aids o mais importante é que você tome todos os seus medicamentos conforme prescrição e siga todas as demais orientações médicas, além de procurar ter uma vida mais saudável, se alimentando bem, mantendo o peso compatível com a sua idade, sexo e altura e, se ainda fuma, deixar de fumar. No caso de infecções oportunistas ou outros sintomas enquanto está se tratando do HIV, é importante procurar assistência médica para tomar as providências corretas contra a doença o quanto antes, que incluem medicações que não interfiram com os seus antirretrovirais. PrEP: medicamentos para prevenção do HIV No começo de julho de 2014, a Organização Mundial de Saúde (OMS) fez uma recomendação do uso de quimioprofilaxia através de uma combinação de antirretrovirais para tentar diminuir a transmissão do HIV entre os homens que fazem sexo com homens (HSH), transgêneros femininos, usuários de drogas injetáveis, profissionais do sexo e pessoas que estejam em privação de liberdade no sistema prisional. A profilaxia seria feira com a combinação dos antirretrovirais Tenofovir e Emtricitabina, unidos em uma pílula única. Os pacientes submetidos a esse tratamento deveriam tomar diariamente um comprimido da medicação ao dia, por tempo indeterminado. A isso se deu o nome de Profilaxia Pré Exposição Sexual (PrEP). Todos tem que ser avaliados periodicamente a fim de rastrear possíveis efeitos adversos da medicação. Ainda não se sabe a longo prazo todos os efeitos adversos que esse tratamento pode acarretar, visto que essa medicação foi liberada para uso no tratamento do HIV somente a partir de 2004. Apesar de se mostrar eficaz na redução da contaminação pelo vírus HIV, outros métodos de profilaxia, como o uso de preservativo, devem ser sempre muito estimulados. Também é preocupante a postura de medicalização do problema e a inexistência de políticas de prevenção para o grupo HSH no Brasil e em todo mundo. Existem muitos argumentos prós e contras essa prática, no entanto, ficamos felizes que novos métodos de proteção estejam surgindo na luta contra Ana Carolina Thomaz Mendes o HIV. Ainda há muito a se fazer nesta questão, passando por educação sexual, políticas de saúde pública de prevenção eficazes e combate ao preconceito e discriminação. No Brasil já estão acontecendo novos estudos para avaliar a eficácia da quimioprofilaxia como método de prevenção ao HIV e a discussão da introdução desse método nos serviços de saúde. AIDS AIDS é uma doença crônica causada pelo vírus HIV, que danifica o sistema imunológico e interfere na habilidade do organismo lutar contra outras infecções (tuberculose, pneumocistose, neurotoxoplasmose, entre outras). A AIDS também facilita a ocorrência de alguns tipos de câncer, como sarcoma de Kaposi e linfoma, além de provocarperda de peso e diarreia. Apesar de ainda não existir cura para a doença, atualmente há tratamentos retrovirais capazes de aumentar a expectativa de vida dos soropositivos. Diferença entre HIV e AIDS HIV é a sigla em inglês do vírus da imunodeficiência humana, que é o causador da AIDS. AIDS, no entanto, se trata do estágio mais avançado da infecção por HIV. O HIV é uma infecção sexualmente transmissível, que também pode ser contraída pelo contato com o sangue infectado e de forma vertical, ou seja, a mulher que é portadora do vírus HIV o transmite para o filho durante a gravidez, parto ou amamentação. Fatores de risco Para se contrair AIDS é necessário que a pessoa seja infectada pelo vírus HIV. Mulheres infectadas pelo HIV não devem amamentar, pois o vírus pode ser transmitido pelo leite materno. Sintomas de AIDS Os primeiros sintomas de HIV observáveis para AIDS são: ● Fraqueza ● Febre ● Emagrecimento ● Diarreia prolongada sem causa aparente Nas crianças que nascem infectadas, os efeitos mais comuns são: ● Problemas nos pulmões ● Diarreia ● Dificuldades no desenvolvimento Fase sintomática inicial da AIDS: ● Candidíase oral ● Sensação constante de cansaço ● aparecimento de gânglios nas axilas, virilhas e pescoço ● Diarreia ● Febre ● Fraqueza orgânica ● Transpirações noturnas ● Perda de peso superior a 10% Infecção aguda da AIDS: ● Febre ● Afecções dos gânglios linfáticos ● Faringite ● Dores musculares e nas articulações ● Ínguas e manchas na pele que desaparecem após alguns dias ● Feridas na área da boca, esôfago e órgãos genitais ● Falta de apetite ● Estado de prostração ● Dor de cabeça ● Sensibilidade à luz ● Perda de peso ● Náuseas e vômitos Os sintomas que pessoas com aids podem apresentar incluem: ● Emagrecimento não intencional ● Fadiga ● Aumento dos linfonodos, ou ínguas ● Sudorese noturna ● Calafrios ● Febre superior a 38ºC durante várias semanas ● Diarreia crônica ● Manchas brancas ou lesões incomuns na língua ou boca ● Dor de cabeça Ana Carolina Thomaz Mendes ● Fadiga persistente e inexplicável ● Visão turva e/ou distorcida ● Erupções cutâneas e/ou inchaços Estes sintomas podem ser agravados sem o tratamento adequado, além de que, o paciente vivendo com HIV/AIDS pode apresentar outros sinais mais graves dependendo da doença oportunista que desenvolver. Diagnóstico de AIDS Para diagnóstico de AIDS o médico analisará a condição de saúde geral do paciente, a evolução do HIV, a resposta aos tratamentos e a presença de doenças oportunistas. Existem vários testes para determinar em que estágio a doença está, dentre eles: ● Contagem de CD4 - A infecção pelo HIV costuma diminuir a contagem de CD4. Quanto menor for o CD4, pior o comprometimento do sistema imunológico. Contagens abaixo de 200 células/mm3 mostram que o paciente tem risco de apresentar infecções oportunistas; ● Carga viral - O teste mede a quantidade de vírus no sangue e quanto maior a carga viral, mais o sistema imunológico pode ser agredido. Carga viral O teste mede a quantidade de vírus no sangue e quanto maior a carga viral, mais o sistema imunológico pode ser agredido. Teste rápido: Pode ser feito com sangue (inclusive da ponta do dedo) e na saliva. Isso permite com que o paciente fique sabendo do resultado no momento da consulta médica. O teste é feito após o aconselhamento pré- teste. Com o resultado, seja ele positivo ou negativo, a pessoa passa por um aconselhamento pós- teste, muito importante para esclarecer dúvidas a respeito das formas de transmissão, tratamento e prevenção. Western Blot: É um exame que detecta diferentes tipos de anticorpo contra o HIV 1 e 2 e pode ser útil no caso de resultados discrepantes nos exames acima. PCR ou carga viral para HIV: Via de regra, este exame é solicitado quando um dos exames acima é positivo. Ele detecta e quantifica o vírus HIV no sangue e é importante para monitorar o tratamento. Testes confirmatórios: Todo exame positivo para HIV precisa ser confirmado com um segundo teste. Testes convencionais: O teste convencional foi o primeiro a ser desenvolvido. A ele, dá-se o nome de Ensaio Imunoenzimático, ou ELISA. Nele os profissionais de laboratório colhem uma amostra do sangue do paciente e buscam por anticorpos contra o vírus. Se a amostra não apresentar nenhuma célula de defesa específica para o HIV, o resultado é negativo e, então, oferecido ao paciente. Porém, caso seja detectado algum anticorpo anti-HIV no sangue, é necessária a realização de um teste adicional, o chamado teste confirmatório, para que se tenha certeza absoluta do diagnóstico. Nele, os profissionais buscam por fragmentos de HIV na corrente sanguínea do paciente. Tratamento de AIDS O objetivo é minimizar os danos que o HIV causa no corpo e reduzir a transmissão: pessoas em tratamento e com carga viral indetectável = intransmissível. Complicações possíveis Quando o sistema imunológico está muito enfraquecido pelo HIV, outras infecções e doenças oportunistas se aproveitam – são as chamadas infecções oportunistas. Dentre as infecções temos: Ana Carolina Thomaz Mendes ● Tuberculose ● Salmonella ● Citomegalovírus ● Candidíase ● Meningite criptocócica ● Toxoplasmose ● Criptosporidiose Pessoas infectadas pelo HIV têm risco aumentado para alguns tipos de câncer. Sarcoma de Kaposi: Raro em pessoas sadias e mais comum entre pessoas com aids e imunossupressão severa. O Sarcoma de Kaposi surge com lesões escuras na pele e boca da pessoa e também pode afetar os órgãos internos como o trato digestivo e os pulmões. Em muitos casos, tratar o HIV acaba por resolver o sarcoma. Quando muito avançado, demanda quimioterapia. Lipodistrofia: Caracteriza-se pela concentração excessiva de gordura no abdome, tórax e nuca e perda de gordura na face, braços e pernas de pessoas soropositivas que estão utilizando a Terapia Anti- retroviral Altamente Ativa (HAART), também conhecida como terapia de combinação ou coquetel para o tratamento anti-HIV. Pode ocorrer aumento de gordura na região do abdome/ventre (gordura central), entre os ombros, em volta do pescoço ou no tórax (especialmente em mulheres) ou perda de gordura da pele, mais aparente nos braços, pernas, nádegas e rosto, resultando em enfraquecimento da face, atrofiamento das nádegas e veias aparentes nas pernas e braços. Pessoas com HIV também tem risco aumentado para doenças cardiovasculares, como infarto do miocárdio e AVC. Por este motivo, talvez mais que a população em geral, pessoas com HIV precisam manter hábitos de vida saudáveis: ● Não fumar ● Manter atividade física regular ● Evitar obesidade ● Consumir alimentos pobres em gorduras e açúcares, preferindo frutas, verduras, legumes AIDS na terceira idade Os pacientes idosos com HIV enfrentam os mesmos problemas relacionados ao envelhecimento que as outras pessoas. O envelhecimento pode ser acelerado na infecção pelo HIV, bem como maior o risco de doenças cardiovasculares. Pacientes idosos recebem o mesmo tratamento que adultos jovens, mas deve-se levar em consideração interações com outros remédios que o paciente eventualmente precise usar. Nem todos os remédios combinam entre si. Por isso, o infectologista precisa centralizar o cuidado, em especial de pacientes com múltiplas comorbidades. É equivocado quem esquece de pensar em HIV como diagnóstico em idosos. Ao fazer isto, atrasamos o diagnóstico e com isso, atrasamos o tratamento. Prevenção As chances de não se desenvolver essas doenças quando a profilaxia é feita poucas horas após o ato é muito maior; Se você descobriu que tem o vírus, comunique o seu parceiro ou pessoas com as quais teve relações sexuais. Ele precisará fazer os testes, pois um diagnósticoprecoce faz com que o tratamento seja muito mais efetivo. Além disso, eles precisam saber se estão com o vírus para que não acabem por infectar outras pessoas. PeRP: medicamentos para prevenção do HIV Desde 2018 o PreP, feito com a combinação dos antirretrovirais Tenofovir e Emtricitabina, unidos em uma pílula única, é oferecido no SUS. Pessoas com risco acrescido de se infectarem por HIV e fazem uso regular deste medicamento tem diminuído o risco de se infectarem pelo HIV. A proteção conferida pelo remédio não muda a recomendação de se fazer sexo protegido, com camisinha. Pessoas que recebem este medicamentos precisam ser acompanhadas regularmente, para monitorar eventuais efeitos adversos do remédio e serem testados para HIV e outras DST. Como vimos acima, a infecção pelo HIV tem tratamento mas ainda impacta negativamente na Ana Carolina Thomaz Mendes saúde dos infectados. Deste modo, prevenir é sempre melhor. Síndrome da imunodeficiência adquirida Estruturas virais: ● P24: componente capsídeo ● P17: presente no capsídeo ● GP120 e GP41: localizadas no envelope (ligam-se aos receptores) ● Possuem transcriptase reversa e integrase, além do RNA viral. Ação viral: Ligação de glicoproteínas virais (gp120) ao receptor específico da superfície celular ● Células dendríticas ● Macrófagos ● Linfócitos, T-CD4 principalmente; Fusão do envelope do vírus com a membrana da célula hospedeira; Liberação do "core" do vírus para o citoplasma da célula hospedeira; Transcrição do RNA viral em DNA complementar, dependente da enzima transcriptase reversa; Transporte do DNA complementar para o núcleo da célula, onde pode haver integração no genoma celular (provírus), dependente da enzima integrase, ou a permanência em forma circular, isoladamente; O provírus é reativado, e produz RNA mensageiro viral, indo para o citoplasma da célula; Proteínas virais são produzidas e quebradas em subunidades, por intermédio da enzima protease; As proteínas virais produzidas regulam a síntese de novos genomas virais, e formam a estrutura externa de outros vírus que serão liberados pela célula hospedeira; Ana Carolina Thomaz Mendes O vírion recém-formado é liberado para o meio circundante da célula hospedeira, podendo permanecer no fluído extracelular, ou infectar novas células. Dentro de 3 a 6 semanas após a infecção inicial, 40 a 90% dos indivíduos infectados desenvolvem a síndrome aguda do HIV, que é desencadeada pela disseminação inicial do vírus e pela resposta do hospedeiro. Esta fase está associada a uma doença autolimitada com sintomas inespecíficos que incluem dor de garganta, mialgias, febre, perda de peso e fadiga, assemelhando-se a uma gripe. Erupção cutânea, linfadenopatia, diarreia e vômitos também podem ocorrer. O quadro normalmente se resolve espontaneamente em 2 a 4 semanas. Fisiopatologia Desde os primórdios da descrição da AIDS, era observada a sua consequência catastrófica decorrente de uma profunda diminuição da imunidade celular. Inicialmente, observava-se que as pessoas infectadas evoluíam a óbito pelas assim chamadas infecções oportunistas e por neoplasias raras que foram denominadas subsequentemente de neoplasias oportunistas. No momento do diagnóstico destas “doenças oportunistas”, sistematicamente se detectava a diminuição da imunidade celular. Em um segundo momento, quando o diagnóstico mais precoce da infecção pelo HIV foi possibilitado pelo desenvolvimento de testes sorológicos, percebeu-se que a perda da imunidade celular, que era determinada pelas quantidades de linfócitos T CD4+, ocorria de maneira paulatina e progressiva. Era, portanto, um processo crônico, quase sempre lento e inexorável, que minava a imunidade celular, culminando com a morte. Entretanto, percebeu-se desde o início que a regra tinha exceções. Algumas pessoas infectadas pelo HIV tinham a progressão do déficit de imunidade de modo muito lento, enquanto isto acontecia de maneira muito acelerada em outras. Na busca do entendimento sobre o que ditaria o ritmo de progressão da doença, ou seja, o ritmo de decaimento dos linfócitos T CD4+, ficou determinado que o fator que mais se correlacionava com a queda desses linfócitos eram os níveis de replicação do HIV, ou seja, a carga viral. A equação parecia finalizada: o vírus leva à progressão da doença de maneira direta devido ao seu papel citopático e, quanto mais intensa a replicação viral, mais rapidamente este processo ocorreria. As condutas para intervenção em momentos de risco, como instituição de profilaxias primárias para infecções oportunistas ou início de tratamento com antirretrovirais, eram ditadas exclusivamente pelos níveis de linfócitos T CD4+ na periferia da corrente sanguínea. Ativação celular e progressão da doença Ana Carolina Thomaz Mendes A ativação celular denota indiretamente um processo inflamatório que, entre outros fatores, correlaciona-se com a morte celular, especialmente a morte celular programada ou apoptose. A ativação celular não só está aumentada nas pessoas infectadas pelo HIV em comparação às não infectadas, como também é proporcional aos níveis de carga viral na ausência de tratamento antirretroviral. Em outras palavras, quanto maior a carga viral, maiores os níveis de ativação celular. Os mecanismos relacionados ao desenvolvimento deste processo inflamatório deletério que é a ativação celular relacionam-se intrinsecamente com a depleção de linfócitos T CD4+ existentes no TGI. Após a exposição ao HIV, o vírus será captado por uma célula dendrítica, que sem se infectar por ele, leva o HIV aderido a ela ou mesmo protegido por endocitose ao linfonodo regional para que seja montada a chamada resposta imune adaptativa. Isto ocorre a despeito da via de exposição ao HIV e, neste caso, a célula dendrítica funciona como um “cavalo de Troia”, levando o vírus para o quartel general do exército protetor de nosso organismo. Este tráfego demora entre 4 e 14 dias e a infecção dos linfócitos ocorrerá então neste linfonodo regional e uma quantidade enorme de vírus será lançada na circulação sanguínea. Estes vírus livres no plasma vão se replicar em órgãos linfoides e se concentrar especialmente no TGI, o maior órgão linfoide do corpo humano, que alberga mais de 50% dos linfócitos de nosso organismo. Este contingente de linfócitos encontra-se mais concentrado em jejuno, com a função de proteção do corpo humano contra os patógenos veiculados à alimentação e às bactérias no TGI. Nestes primeiros momentos da infecção, a depleção linfocitária no organismo é intensa, sendo que realmente não se consegue idealizar a magnitude da perda de linfócitos T pela observação dos níveis de CD4+ na periferia sanguínea. Somente cerca de 3% dos linfócitos T CD4+ encontram-se na periferia e na determinação dos níveis de CD4+ não é possível observar uma variação que reflita a perda do contingente destes linfócitos, que está ocorrendo especialmente no TGI. A repercussão mais imediata desta depleção linfocitária em TGI é a ruptura da barreira mucosa associada à ocorrência de translocação bacteriana, ou seja, invasão de bactérias nos espaços que deveriam conter os tecidos linfoides. Esta translocação bacteriana possibilita a transferência de LPS bacterianos à corrente sanguínea, o que leva a um processo inflamatório generalizado e, especificamente, ao aumento da ativação celular. De fato, existe uma correlação direta entre os níveis plasmáticos de LPS com o grau de ativação celular, sendo que, quanto maiores os níveis de LPS, maiores os níveis de ativação celular. De modo geral, os níveis mais elevados de ativação celular são detectados entre os indivíduos sem tratamento com vírus sensíveis aos medicamentos. Os controladores deelite, que são pessoas que apresentam naturalmente carga viral indetectável e estabilidade do CD4+, apresentam menores índices de ativação celular do que os indivíduos com viremia, porém os níveis de ativação celular entre os indivíduos tratados e com carga viral indetectável é inferior ao dos controladores de elite. De qualquer maneira, mesmo o tratamento antirretroviral com supressão da viremia a níveis indetectáveis não reduz a ativação celular no nível das pessoas não infectadas pelo HIV. Em resumo, a ativação celular é maior entre os HIV-positivos sem tratamento com vírus sensíveis, seguidos dos indivíduos com viremia em tratamento antirretroviral, seguidos dos controladores de elite, seguidos dos HIV-positivos com antirretrovirais e carga viral indetectável, seguidos dos HIV-negativos. Consequências da inflamação provocada pelo HIV em humanos A inflamação crônica proporcionada pelo HIV leva, de maneira geral, à deterioração de diversos órgãos e tecidos do organismo. Esta deterioração ocorre de modo acelerado no SNC, levando à atrofia encefálica com aparecimento de alterações cognitivas e depressão. Leva também à degeneração do sistema cardiovascular com fenômenos ateroscleróticos, insuficiência coronariana e disfunção ventricular esquerda. Leva também à osteopenia com fraturas patológicas, à deterioração da função hepática e renal, bem como à insuficiência endócrina múltipla. Infelizmente, o tratamento antirretroviral mitiga, mas não elimina os riscos destas ocorrências. Mesmo com níveis mantidos de carga viral indetectáveis, os fenômenos acima ocorrem com maior frequência entre as pessoas infectadas pelo HIV em comparação à população soronegativa. Ana Carolina Thomaz Mendes Corroborando a associação da inflamação e infecção pelo HIV, marcadores inespecíficos como a PCR ultrassensível, dosagem de IL-6 e dímero D estão elevados entre as pessoas infectadas pelo HIV e correlacionam-se diretamente com gravidade de doença quando desfechos como mortalidade são usados em análises de estudos. Evidências científicas demonstram também que o tratamento levando a supressão viral a níveis indetectáveis reduz os marcadores inflamatórios inespecíficos, como PCR ultrassensível, IL-6, dímero D e cistatina C, porém os níveis destes marcadores continuam elevados quando comparados aos dos indivíduos não infectados pelo HIV. De modo mais específico, quanto maior a ativação celular entre pessoas em tratamento com carga viral indetectável, maior a dificuldade na recuperação dos níveis de CD4+. Especula-se, portanto, que a ativação celular elevada dificulte uma recuperação imunológica plena em alguns pacientes. A própria viremia proporcionada pelo HIV tem um potencial inflamatório. Pequenas proteínas, como TAT, NEF e VPU, podem propiciar esta inflamação. Percebe-se, assim, que, entre pessoas infectadas pelo HIV e sem tratamento antirretroviral, as pessoas com alta carga viral apresentam mais ativação celular do que as pessoas com viremia baixa que, por sua vez, apresentariam mais ativação celular do que os controladores de elite. Inflamação e ritmo de progressão da doença Existe um grande interesse da comunidade científica em entender os correlatos da progressão da doença na infecção pelo HIV. Na maior parte das vezes não se identifica o porquê do ritmo de progressão mais lenta. Fatores genéticos do hospedeiro têm sido estudados e entre os protetores estariam os perfis de HLA-B*5701 ou B*27, o polimorfismo do gene que codifica a interleucina SDF1 conhecido como SDF-1 3′A/3′A, o polimorfismo dos genes que codificam os receptores CCR5 e o polimorfismo do gene que codifica o correceptor CCR2 (CCR2 64I). É especialmente interessante a relação do polimorfismo do alelo (gene) que codifica o CCR5 e a progressão da doença/inflamação. É sabido que uma pequena parcela da população de pessoas brancas apresenta um alelo com a deleção de 32 nucleotídeos, sendo conhecido como CCR5_delta32. A homozigose para o CCR5_delta32 que ocorre em cerca de 1% das pessoas está associada à resistência da infecção pelo HIV pela ausência da expressão do receptor CCR5 na superfície da célula, receptor este fundamental para a entrada do vírus. Aproximadamente 15% das pessoas podem apresentar heterozigose, com um alelo normal e um CCR5_delta32. Estas pessoas não estão completamente protegidas da infecção pelo HIV, mas notoriamente apresentam um ritmo de progressão da doença mais lento comparadas com as que apresentam os dois alelos normais. Para entendermos o mecanismo diferenciado de progressão da doença entre os indivíduos heterozigotos para o alelo CCR5_delta32, precisamos entender a função do CCR5 e a repercussão da ausência ou diminuição da expressão destes receptores na superfície das células. O CCR5 é um receptor de quimiocinas e incidentalmente fundamental para a entrada do HIV na célula. Algumas atividades pró-inflamatórias do organismo são inteiramente dependentes do receptor CCR5. Percebe-se, por exemplo, que a gravidade da infecção pelo vírus do Nilo ocidental é substancialmente mais alta entre os portadores do CCR5_delta32. Sabe-se que o CCR5 é um determinante fundamental para o tráfego de leucócitos para o SNC e o knockout do CCR5 em camundongos leva a uma diminuição na quantidade de leucócitos, células NK e linfócitos T no cérebro. O potencial anti-inflamatório da ausência ou diminuição da expressão de CCR5 é notório. Percebeu-se inicialmente que a inibição do CCR5 em camundongos preveniu o aparecimento de artrite reumatoide grave nestes animais. De modo geral, o alelo CCR5_delta32 em humanos associa-se à proteção do desenvolvimento de artrite reumatoide, bem como de uma paucidade de sintomas desta doença quando ela se manifesta. Outras evidências do benefício relacionado à redução do dano mediado pelo sistema imune nos portadores do alelo CCR5_delta32 são redução dos índices de rejeição de transplantes renais, desenvolvimento mais tardio de esclerose múltipla, redução da incidência de linfoma relacionado a AIDS e redução da inflamação e dano hepático proporcionado pelo vírus da hepatite C. Ana Carolina Thomaz Mendes Em resumo, a diminuição de receptores CCR5 causados pelo alelo truncado CCR5_delta32 leva a uma diminuição da capacidade inflamatória em seus portadores. É sabido também que estas pessoas, quando infectadas pelo HIV, progridem mais lentamente em suas doenças por apresentarem ritmo de decaimento de CD4+ mais lento. É, portanto, concebível que a diminuição da capacidade inflamatória nas pessoas com menor quantidade de receptores CCR5 nas suas células seja o determinante fundamental na preservação dos linfócitos T CD4+ nas pessoas infetadas pelo HIV. Outro fator relacionado à progressão mais lenta da infecção pelo HIV está na coinfecção com o vírus denominado GBV-C. Trata-se de um vírus hepatotrópico que não causa doença ao hospedeiro. Descobriu-se, entretanto, que a coinfecção HIV/GBV-C leva a menor ritmo de progressão da doença. Curiosamente, estar infectado pelo GBV-C seria bom no contexto do HIV, mas o mecanismo envolvido nesse benefício não havia sido elucidado. Recentemente foi determinado que o GBV-C causa uma regulação negativa na expressão dos receptores CCR5, diminuindo o número destes receptores na superfície celular. Deste modo, estas pessoas se comportariam (artificialmente) como se apresentassem o alelo CCR5_delta32. Classificação da OMS Estágio 1 A OMS estabelece a síndrome de soroconversão aguda neste estágio. Ela geralmente acontece no primeiro mês da infecção e pode provocar uma síndrome flu-like, com febre e linfadenopatia. Como ainda não existe imunidade específica para o HIV, a viremia sobe a níveis muito altos e com alto consumo de células CD4. A linfopenia podecair transitoriamente a ponto de haver infecções oportunistas. Após o estabelecimento de anticorpos anti-HIV, a CV cai até o nível em que se inicia um platô. Nesse ponto, denomina-se “setpoint da CV” e está relacionado à velocidade da queda do CD4. O CD4 sofre uma recuperação. A pessoa então se torna assintomática, podendo ter linfadenopatia persistente. Capacidade funcional 1 (completamente ativo). Estágio 2 ● Sintomas sugestivos de imunodeficiência ● Perda de menos de 10% do peso corporal. ● Herpes-zóster. ● Manifestações cutâneas menores. ● Infecções respiratórias de repetição. ● Capacidade funcional 2 (sintomático, mas quase completamente ativo). Estágio 3 ● Perda de mais de 10% do peso corporal. ● Diarreia por mais de 1 mês. ● Febre por mais de 1 mês. ● Candidíase oral ou vaginal, recorrentes ou crônicas. ● Leucoplasia pilosa oral. ● Infecções bacterianas graves. ● TB pulmonar. ● Capacidade funcional 3 (no leito, menos de 50% no último mês). Estágio 4 ● Caracteriza a doença. ● Sarcoma de Kaposi. ● Síndrome de emaciação. ● Micose disseminada. ● TB extrapulmonar. ● Pneumonia recorrente. ● Capacidade funcional 4 (restrito ao leito por mais de 50% do tempo). Quando iniciar o tratamento e relação com os exames A instituição da terapia antirretroviral (TARV) tem como objetivo diminuir a morbidade e mortalidade, melhorando a qualidade e a expectativa de vida das pessoas que vivem com HIV/ AIDS (PVHA). Sabe-se que, mesmo em indivíduos assintomáticos com contagens elevadas de LT- -CD4 + , a replicação viral e a ativação imune crônica são associadas ao surgimento de doenças não relacionadas à infecção pelo HIV, tais como eventos cardiovasculares e neoplasias. Além disso, pessoas com reconstituição Ana Carolina Thomaz Mendes imune, em uso de TARV, que mantêm contagens de LT-CD4 + acima de 500 células/mm3 e carga viral indetectável, atingem expectativa de vida semelhante à da população geral. O início precoce da TARV eleva as chances de se alcançar níveis elevados de LT-CD4 + , além de promover redução significativa da morbimortalidade e da transmissão do HIV. No entanto, deve-se levar em consideração a importância da adesão e o risco de efeitos adversos a longo prazo. Atualmente, estão disponíveis opções terapêuticas mais simplificadas, eficazes, cômodas e bem toleradas, justificando o estabelecimento de novos critérios para o início da TARV. O Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêu�cas para Manejo da Infecção pelo HIV em Adultos (PCDT) traz novas recomendações de esquemas antirretrovirais (ARV) considerando princípios básicos como eficácia, toxicidade e comodidade posológica. Situações de priorização de atendimento pelos serviços da rede de assistência à PVHIV, para início da TARV. – iniciar TARV com celeridade: • PVHIV sintomática. • LT-CD4+ < 350 céls/mm3. • Gestante. • Tuberculose ativa. • Coinfecção HBV. • Coinfecção HCV. • Risco cardiovascular elevado (> 20%). Importante: na impossibilidade de obter contagem de LT-CD4+, não se deve adiar o início do tratamento. Sintomáticos: • TB ativa: para LT-CD4 + < 200, iniciar TARV na segunda semana após o início do tratamento de TB. Para LT-CD4 + > 200, iniciar TARV ao final da oitava semana. • Manifestações clínicas atribuídas diretamente ao HIV: – Nefropatia associada ao HIV. – Alterações neurológicas. – Cardiomiopatia associada ao HIV. • Imunodeficiência avançada (doença definidora de AIDS) ou moderada. 5.1 1. Principais antivirais (HIV) Medicamentos antirretrovirais disponíveis Inibidores de entrada Enfuvirtida | Inibidor de fusão O medicamento capaz de interferir na fusão do vírus à célula hospedeira é a enfuvirtida. São moléculas complexas e de difícil produção em larga escala. Trata-se de um peptídeo de 36 aminoácidos que atua ligando-se à região HR1 da gp41 do HIV-1, comprometendo os passos subsequentes de fusão da membrana viral com a membrana plasmática. Vários estudos já foram apresentados demonstrando sua ação antirretroviral em combinação com outros ARV. Apresenta a desvantagem do uso subcutâneo (SC) 2 vezes/dia. Os efeitos colaterais mais comuns são os relacionados à injeção. Em geral bem tolerada, enfuvirtida foi associada a cefaleia, neuropatia periférica, tonturas, insônia, depressão, diminuição do apetite, astenia, mialgia, constipação intestinal e pancreatite, embora fossem de leve ou moderada intensidade na maioria dos pacientes. A dose preconizada são 90 mg (1 mℓ) SC a cada 12 h. Apresenta barreira genética baixa, com resistência emergindo após 3 semanas de falha virológica. Maraviroque | Antagonista de correceptor CCR5 Maraviroque (MVC) é um inibidor do correceptor celular CCR5. Para que seu uso seja efetivo é necessária a prévia realização de teste de tropismo para a caracterização do HIV como cepa com tropismo para receptor CCR5 (cepa R5) ou receptor CXCR4 (cepa X4). Maraviroque somente é ativo para cepas com tropismo exclusivo R5. É apresentado em comprimidos de 150 mg e 300 mg. A posologia é de 300 mg VO, de 12 em 12 h, com ou sem alimentos. Dependendo das medicações coadministradas, recomenda-se o ajuste de doses. Em combinação, a dosagem sempre varia de acordo com o inibidor da protease (IP); quando ambos, um inibidor e um indutor da metabolização hepática são utilizados, o inibidor será dominante. Em relação aos efeitos adversos, é medicação bem tolerada, com raras cefaleias, fadiga, tontura e náuseas. Em altas doses, pode ocorrer hipotensão ortostática. Há relatos ocasionais de elevação de CPK Ana Carolina Thomaz Mendes e miosite. A administração concomitante de maraviroque e rifampicina não é recomendada. Isoniazida deve ser evitada pelo risco de hepatotoxicidade. A erva-de-são-joão pode reduzir o nível sérico de maraviroque e também deve ser evitado o seu uso. Inibidores da transcriptase reversa análogos aos nucleosídeos A formação do DNA viral ocorre dentro da célula infectada pelo HIV, graças à ação da enzima transcriptase reversa. Esta enzima recruta os nucleotídeos naturais da célula, a adenosina, a guanosina (compostas por bases purínicas, com um anel na estrutura espacial), a timidina e a citosina (compostas por bases pirimidínicas, com dois anéis na estrutura espacial). Antes de serem fosforilados, os nucleotídeos são denominados nucleosídeos. Os inibidores da transcriptase reversa análogos aos nucleosídeos funcionam inibindo a síntese de DNA porque apresentam uma estrutura espacial que simula a estrutura dos nucleosídeos naturais. Como os compostos naturais, os análogos aos nucleosídeos são fosforilados pela célula, havendo incapacidade da transcriptase reversa em distinguir qual é o nucleosídeo natural do artificial. Uma vez incorporado, o falso nucleosídeo impede a continuidade da formação da cadeia de DNA, bloqueando a replicação viral. Zidovudina A zidovudina (1,3′-azido 2,3′-dideoxitimidina ou AZT) após metabolização, torna-se um análogo do nucleotídeo natural timidina. É inativa em sua forma natural, necessitando ser triplamente fosforilada utilizando enzimas dentro da célula. Assim, transforma-se no derivado trifosfato, detentor de ação antirretroviral. Uma vez fosforilado, este composto compete com o nucleosídeo natural timidina, ocupando seu lugar na formação de novas cadeias de ácido nucleico induzido pela transcriptase reversa. A zidovudina é absorvida no intestino após administração oral, alcançando biodisponibilidade de 60%. Cerca de 35% da substância ligam-se à proteína plasmática, proporcionando curta meia-vida, em torno de 1,1 h. Todavia, apresenta longa meia-vida intracelular, de aproximadamente 3 h. Apresenta boa difusão pela barreira hematencefálica, característica que a coloca como um dos antirretroviraismais populares na escolha de esquema de tratamento para a doença neurológica causada pelo HIV. Também consegue atravessar de modo bastante adequado a placenta, vindo daí seu emprego na prevenção da transmissão vertical. É metabolizada no fígado e eliminada principalmente pelos rins. As doses inicialmente recomendadas, de 1.000 a 1.200 mg/dia, eram mal toleradas e bastante tóxicas. Com a comprovação de eficácia semelhante com doses menores, é empregada na dose de 600 mg/dia, o que diminuiu significativamente a ocorrência de efeitos colaterais. Entretanto, ainda são comuns queixas nas primeiras 2 semanas de seu uso de náuseas e cefaleia, que costumam desaparecer após. Podem ainda surgir vômitos, febre, exantema, parestesias e mialgias. A toxicidade medular, exteriorizada por anemia e neutropenia, ocorre principalmente em pacientes com formas avançadas da doença. Um efeito colateral raro, mas que pode apresentar significativa gravidade, é a acidose láctica. Hepatotoxicidade, hepatomegalia e esteatose hepática também ocorrem com baixa frequência. Suas apresentações comerciais são em comprimidos de 100 mg, 300 mg associados a 150 mg de lamivudina, xarope para uso pediátrico e frascos com 10 mg/mℓ para uso intravenoso no periparto. O esquema posológico para adultos prevê a administração oral de 300 mg duas vezes. Didanosina A didanosina (2,3′-dideoxi-inosina ou ddI) em sua forma original não apresenta atividade antirretroviral. Após sofrer complexo processo de transformação química intracelular, assume a forma de 2,3′- dideoxiadenosina (ddA), análogo ao nucleotídeo Ana Carolina Thomaz Mendes natural adenosina. Portanto, como a zidovudina, inibe a ação da transcriptase reversa competindo com o trifosfato de adenosina na formação da cadeia de ácido nucleico. Sua biodisponibilidade é de 25 a 40%, alcançando pico sérico cerca de 30 min após ingestão. Sua meia-vida sérica é de 60 a 90 min, mas sua meia- vida intracelular é muito mais longa, entre 8 e 24 h, permitindo a administração em intervalos de até 24 h. Atravessa a barreira hematencefálica, com níveis no líquido cefalorraquidiano de 19 a 21% dos observados no plasma em adultos, e mais elevados em crianças. Atravessa a barreira placentária e é removida por hemodiálise. Sua eliminação ocorre principalmente pela urina, merecendo ajuste de dose em pacientes com insuficiência renal. As doses recomendadas são de 400 mg (1 comp.), 1 vez/dia em indivíduos com peso acima de 60 kg e 250 mg para aqueles com menos que 60 kg. Os efeitos colaterais mais indesejáveis são pancreatite e neuropatia periférica. O primeiro, apesar de bastante incomum, pode levar a quadros muito graves e morte, obrigando constante monitoramento de níveis séricos de amilase, e o segundo pode levar a sequelas que podem ser irreversíveis, o que obriga a suspensão precoce do medicamento nos primeiros sintomas da neuropatia periférica. Pode ainda ocorrer diarreia com relativa frequência, mas sua causa está, em geral, associada à presença dos antiácidos na formulação dos comprimidos. Outros efeitos menos comuns são náuseas, vômitos, dor abdominal, cefaleia e insônia. Cardiomiopatias e hepatite são alterações raras e alterações hematológicas são excepcionais. É encontrado em formulações de comprimidos de liberação entérica, contendo 400 mg e 250 mg, ou ainda em pó para suspensão oral. Essa formulação difere da anterior em comprimidos por ser composta de grânulos revestidos que resistem à degradação ácida no estômago, resultando em maior absorção pela região proximal do intestino delgado. A ausência de antiácido em sua formulação diminui os efeitos adversos gastrintestinais e as interações devidas à sua presença. A administração é em dose única diária de uma cápsula de 400 mg, preferencialmente com estômago vazio. A absorção da didanosina EC é mais lenta e a Cmáx é 40% mais baixa, porém com equivalência da área sob a curva (AUC) em relação aos comprimidos. Lamivudina A lamivudina [(–)-β-enantiômero ou 2′,3′-dideoxi-3′- tiacitidina ou 3TC] é um nucleosídeo sintético que, após fosforilação, torna-se um análogo a nucleotídeos naturais, inibindo a ação da transcriptase reversa e interrompendo a cadeia de formação de ácidos nucleicos. É bem absorvida após ingestão oral, com biodisponibilidade de 80 a 86%. Sua meia-vida sérica é de 3 a 6 h, ao passo que a intracelular é de 12 h. Alcança concentração baixa no líquido cefalorraquidiano, cerca de 10% da concentração no soro. Sua eliminação é por via renal, havendo um pequeno grau de metabolismo hepático. A absorção não sofre interferência da ingestão simultânea de alimentos. Trata-se de um medicamento bem tolerado. Efeitos colaterais como neuropatia periférica, pancreatite, cefaleia, tonturas e insônia são raros. Praticamente não apresenta toxicidade hematológica, com raros relatos de anemia ou neutropenia seguramente relacionados ao seu uso. A dose habitualmente indicada para adultos é de 150 mg a cada 12 h, ou 300 mg 1 vez/dia, que requer ajuste em pacientes com insuficiência renal. É encontrada na formulação de comprimidos contendo 150 mg de lamivudina isolada ou associada a 300 mg de zidovudina. Abacavir A abacavir (2′-deoxiguanosina – ABC) após metabolização, torna-se um análogo do nucleotídeo guanosina, inibindo competitivamente a ação da transcriptase reversa. Como os demais inibidores da transcriptase reversa análogos aos nucleosídeos, recomenda-se usar o abacavir em combinação com outros agentes da mesma classe. É bem absorvido quando administrado por VO, independente do estado de alimentação, proporcionando biodisponibilidade de 80 a 95%. Sua meia-vida sérica é de cerca de 0,9 a 1,7 h e sua ligação a proteínas plasmáticas de aproximadamente 50%. Tem boa penetração no líquido cefalorraquidiano, similar à da zidovudina. É metabolizado no fígado e sua excreção é basicamente realizada pelos rins. Contudo, não é necessária a redução da dose em pacientes com insuficiência renal. É bem tolerado, podendo causar queixas gastrintestinais, fadiga, insônia e cefaleia, em geral de baixa intensidade. Raramente pode causar leucopenia ou alterações das enzimas hepáticas. Entretanto, a principal preocupação ao usar o abacavir é o aparecimento em aproximadamente 5% Ana Carolina Thomaz Mendes dos pacientes de quadro de potencial gravidade caracterizado por reação de hipersensibilidade. Em geral, surge precocemente, em média 11 dias após o início do uso, caracterizando-se por febre alta, náuseas, vômitos, exantema, linfadenopatia e comprometimento significativo do estado geral. Ocorre remissão dos sintomas com a suspensão permanente do uso do abacavir. No entanto, o prolongamento do uso ou o reinício da medicação após interrupção temporária podem levar a quadro ainda mais grave, com choque e morte. Por isso, é vital explicar estes sintomas a todos os pacientes em uso de abacavir e está contraindicada a reintrodução da substância após suspeita de quadro de hipersensibilidade anterior. A dose empregada em adultos é de 300 mg VO a cada 12 h, ou 600 mg (2 comprimidos) em dose única diária. Estavudina A estavudina (2’,3’-dide-hidro-2’,3’-dideoxitimidina ou d4T), após fosforilação intracelular, assume a forma de trifosfato de estavudina, competindo com o nucleotídeo natural timidina na formação de ácido nucleico, resultando na interrupção da formação da cadeia. É rapidamente absorvida após a administração por VO, com biodisponibilidade de cerca de 86%. Sua vida média sérica é de somente uma hora, mas a intracelular é mais prolongada, em torno de 3,5 h. Alcança concentrações no líquido cefalorraquidiano de cerca de 30 a 40% equivalentes à concentração sérica. É eliminada principalmente por via renal. Seus efeitos colaterais mais importantes sãoneuropatia periférica e hepatite. Esta última é frequentemente oligossintomática ou assintomática, detectada por aumento dos níveis séricos de enzimas hepáticas, principalmente após o uso prolongado. Já a neuropatia é observada em cerca de 20% dos pacientes. Na maioria das vezes, a suspensão do uso leva à regressão da hepatite ou da neuropatia periférica, se realizada precocemente. Outros efeitos colaterais, como pancreatite, cefaleia, anemia, cansaço e febre, são de aparecimento bem menos frequente. Tais efeitos têm reduzido substancialmente seu emprego na prática clínica. Atravessa a barreira placentária e não há necessidade de jejum para sua administração. As doses recomendadas para adultos são de 30 mg em intervalos de 12 h. Atualmente, este medicamento está em desuso, devido à alta incidência de eventos adversos. Inibidores da transcriptase reversa análogos aos nucleotídeos Tenofovir O tenofovir (tenofovir disoproxil fumarato – TDF) é o primeiro representante dessa nova classe de antirretrovirais, diferindo dos análogos de nucleosídeos por ser previamente fosforilado, competindo com o nucleotídeo natural de adenina. Administrado VO, apresenta biodisponibilidade de 25% e é mais bem absorvido quando ingerido junto com alimentos. Sua longa meia-vida plasmática permite que seja utilizado em dose única diária de 300 mg. Não é substrato para o complexo enzimático citocromo P-450, sendo predominantemente eliminado pelo rim, por meio de filtração glomerular e secreção tubular ativa. O uso do tenofovir eleva a concentração sérica de didanosina, o que pode potencializar o aparecimento dos efeitos colaterais dessa última, motivo para desencorajar tal associação. Em geral, é uma substância bem tolerada. Uma pequena proporção dos pacientes pode se queixar de sintomas gastrintestinais, como náuseas, vômitos e flatulência. É encontrado na forma de comprimidos contendo 300 mg. Inibidores da transcriptase reversa, não análogos aos nucleosídeos Trata-se de outra classe de agentes que também inibe a ação da transcriptase reversa. Porém, ao contrário de agir como um falso nucleosídeo ou nucleotídeo, estas substâncias ligam-se diretamente à transcriptase reversa, fora do sítio ativo, conseguindo impedir sua ação na formação do DNA viral. Em geral, a resistência viral a estes compostos ocorre rapidamente, se utilizados como monoterapia antirretroviral. Nevirapina Liga-se diretamente à transcriptase reversa, bloqueando a atividade de polimerase da enzima por incapacitar seu sítio catalítico. Bem absorvida VO, não sofre interferência pela ingestão de alimentos ou antiácidos. Apresenta meia-vida plasmática superior a 24 h, o que permite seu uso em dose única diária, Ana Carolina Thomaz Mendes embora a recomendação seja de administração 2 vezes/dia. Com ótima penetração no SNC, é uma das melhores opções para tratamento da infecção pelo HIV em pacientes com diagnóstico de complexo demencial da AIDS. A substância é metabolizada no fígado pelo sistema enzimático citocromo P-450. Curiosamente, a nevirapina (NVP) induz seu próprio metabolismo, interferindo nas concentrações plasmáticas nas primeiras 2 a 4 semanas de tratamento. Esse efeito, associado à alta frequência de exantema cutâneo no início do seu uso, levou à recomendação do uso de 200 mg/dia nas primeiras 2 semanas, seguido pelo aumento da dose para 200 mg, 2 vezes/dia, a partir da terceira semana de tratamento. Tem boa ação antirretroviral, mas exige utilização em esquemas combinados para evitar o aparecimento de resistência e prolongar ao máximo o efeito antiviral. A reação adversa mais comum é o já referido exantema cutâneo, que aparece geralmente nas primeiras 8 semanas de tratamento. Ocorre em cerca de 22% dos pacientes, com aspecto maculopapular eritematoso, poupando plantas e solas. Apesar de habitualmente leve, pode assumir formas graves, incluindo a síndrome de Stevens- Johnson. Nesses casos, o medicamento deve ser interrompido e seu uso futuro evitado. Aumento das transaminases hepáticas também é frequente, recomendando cautela no uso em pacientes que também são cronicamente infectados pelos vírus das hepatites B e C. Está disponível em comprimidos de 200 mg. Efavirenz É bem absorvido VO, sem sofrer interferência significativa dos alimentos. Sua longa meia-vida plasmática (> 24 h) permite seu uso uma vez/dia. Tem boa penetração em SNC. Metabolizado pelo sistema enzimático citocromo P-450, sofre e exerce interferência no nível sérico de vários outros medicamentos, incluindo ritonavir, indinavir, saquinavir, claritromicina, cisaprida. Recomenda-se a verificação da possibilidade de interação significativa sempre que for utilizado medicamento que interage com o mesmo sistema enzimático hepático no seu metabolismo. Apresenta boa ação antirretroviral, sendo um dos medicamentos mais utilizados no tratamento inicial de pacientes infectados pelo HIV-1. A reação adversa mais comum envolve neurotoxicidade, exteriorizada por queixas de sonolência (mais raramente insônia), tonturas, dificuldade de concentração, cefaleia e alteração dos sonhos. Esta última e curiosa queixa consiste em vivacidade incomum dos sonhos e frequente lembrança após o despertar. É importante alertar os pacientes sobre tais efeitos antes do início do uso do efavirenz e recomendar a ingestão imediatamente antes de dormir, o que ameniza o desconforto durante o dia. Esses sintomas tendem a regredir após as primeiras 3 semanas de uso. Podem também ocorrer exantema e sintomas gastrintestinais leves. Neurotoxicidade crônica leve, como depressão, alteração de sono e irritabilidade podem também ocorrer. Encontra-se na apresentação de comprimidos com 600 mg utilizados em dose única diária. Etravirina Etravirina (ETR) é um inibidor da transcriptase reversa não análogo aos nucleosídeos (ITRNN) de segunda geração, recomendado no Brasil para esquemas antirretrovirais de resgate. Apresenta atividade contra cepas portadoras da mutação K103N. Sua barreira genética é mais elevada que a dos ITRNN de primeira geração, mas sua atividade se reduz à medida que ocorre o acúmulo de mutações de resistência para esta classe. É apresentada em comprimidos de 100 mg, sendo a dose diária de 200 mg, de 12 em 12 h VO, após as refeições. Os comprimidos podem ser dissolvidos em água. Dentre os eventos adversos, o exantema cutâneo discreto é frequente e náuseas ocorrem raramente. Se ocorrer exantema discreto, o qual aparece em geral na segunda semana, o tratamento, na maioria das vezes, pode ser mantido. Se a farmacodermia for mais grave, o tratamento deve ser interrompido imediatamente. Raramente pode ocorrer síndrome de Stevens-Johnson e, recentemente, foram descritos casos de necrólise epidérmica tóxica. A etravirina é um substrato do citocromo P-450, assim como indutora do CYP3A4 e inibidora do CYP2C9. Consequentemente, várias interações podem ser previstas. A etravirina reduz as concentrações séricas de atazanavir, maraviroque e raltegravir e aumenta os níveis de fosamprenavir. Por outro lado, os níveis de etravirina são consideravelmente reduzidos pelo tipranavir, efavirenz, nevirapina e moderadamente por darunavir, saquinavir e tenofovir. Lopinavir Ana Carolina Thomaz Mendes aumenta os níveis de etravirina. Logo, etravirina não deve ser associada com atazanavir, fosamprenavir, tipranavir, IP sem reforço de ritonavir, efavirenz e nevirapina. Evitar rifampicina, carbamazepina, fenobarbital, fenitoína e erva-de-são-joão. Inibidores da integrase Os inibidores da integrasse do HIV ligam-se ao sítio ativo da integrase e bloqueiam a etapa de transferência do filamento na integração do DNA do retrovírus, essencial para o ciclo de replicação do HIV. Os dois fármacos dessa classe disponíveis
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