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1 MEDICINA INTERNA I HIPOGLICEMIA AULA 2 DE ENDOCRINOLOGIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM: ✓ Identificar as principais causas de hipoglicemia; ✓ Compreender a fisiopatologia e os principais sintomas e sinais da hipoglicemia; ✓ Entender o manejo do paciente com hipoglicemia. QUESTÃO 1: Qual valor de glicemia abaixo do qual geralmente se considera uma hipoglicemia? a) 40 mg/dL; b) 70 mg/dL; c) 100 mg/dL; d) 125 mg/dL. Normalmente, o limite inferior da concentração plasmática de glicose é de cerca de 70 mg/dL. **NÍVEIS UM POUCO MAIS BAIXOS DE GLICOSE NO SANGUE, PODEM SER ENCONTRADOS EM GESTANTES OU DURANTE UM JEJUM PROLONGADO (>24 HORAS) E, EVENTUALMENTE, EM PESSOAS SAUDÁVEIS** Um aparelho muito usado para avaliarmos a glicemia do paciente é o glicosimêtro, o qual quando apresenta o resultado LO, significa que a glicemia do paciente está abaixo do limite de detecção do aparelho (em geral, abaixo de 20 mg/dL), sendo crucial orientar esse paciente quanto a leitura do glicosimêtro, pois ele pode achar que o aparelho está com defeito quando resulta em LO. CAUSAS MAIS COMUNS DE HIPOGLICEMIA EM ADULTOS: Os medicamentos, especificamente, a insulina e os antidiabéticos são as causas mais comuns de hipoglicemia. Os antidiabéticos, por exemplo, os da classe das sulfonilureias (glimepirida, glibenclamida, gliclazida, etc), apresentam diversos princípios ativos, sendo um deles, aumentar a secreção de insulina pela célula beta, independentemente da glicemia do paciente – o que é um problema quando o paciente já está com a glicemia baixa. **TEMOS QUE FICAR ATENTOS QUANDO ESTIVERMOS ATENDENDO UM PACIENTE QUE TOMA INSULINA OU SULFONILUREIAS, PERGUTANDO ATIVAMENTE SOBRE OS SINTOMAS DE HIPOGLICEMIA** OBS: A metformina e a pioglitazona não dão hipoglicemia, geralmente, uma vez que ambas não aumentam a produção da insulina, mas sim, otimizam a ação daquela já presente no organismo. Elas reduzem a produção de glicose pelo fígado e aumentam a sensibilidade dos tecidos, principalmente dos músculos, à insulina. Outras causas de hipoglicemia em adultos são: ✓ Abuso de álcool por tempo prolongado sem ingestão de alimentos: o álcool reduz a neoglicogênese e com isso o estoque hepático de glicogênio acaba em algum momento. LETÍCIA MARABESI T1 – 6° SEMESTRE 2 MEDICINA INTERNA I ✓ Doença crítica: sepse, insuficiência hepática, ICC, etc. ✓ Deficiência de hormônios contrarreguladores de insulina: cortisol (insuficiência adrenal), GH (mais em crianças pequenas). ✓ Pós derivação gástrica: pós cirurgia bariátrica, por exemplo, na qual a mudança do esvaziamento gástrico pode gerar hipoglicemia, os alimentos deixam de passar pelo duodeno indo direto para o jejuno. ✓ Neoplasias: insulinoma, por exemplo, neoplasia rara das células beta. QUESTÃO 2: Odd one out – escolha abaixo o único item que NÃO representa 1 fator de risco para hipoglicemia em diabéticos: a) Aumento da dose de insulina; b) Início de sulfonilureias em paciente com DM2; c) Omissão de lanche da tarde ou almoço; d) Exercício físico; e) Ganho de peso; f) Consumo de álcool; g) Desenvolvimento de insuficiência renal. No exercício físico, o músculo expressa mais transportadores de glicose (GLUT-4), os quais captam mais glicose da circulação, gerando hipoglicemia – de forma independente da glicemia do indivíduo. Na insuficiência renal, o rim não destrói mais a insulina presente no sangue (por meio da insulinase), fazendo com que esta dure mais tempo no organismo, gerando hipoglicemia pela meia vida mais longa da insulina. O ganho de peso não é um fator de risco para a hipoglicemia em diabéticos, uma vez que, aumenta a resistência à insulina, fazendo com que o paciente precise de uma dose maior de insulina para controle da sua glicemia. HIPOGLICEMIA NO DIABETES MELLITUS: A hipoglicemia é mais comum em pacientes com DM1, sendo que 10% destes vão morrer devido a uma hipoglicemia grave. Mas, pode ocorrer em pacientes com DM2 avançado também, em uso de sulfonilureias e/ou insulina. Os principais fatores de risco para a hipoglicemia no DM são: ✓ Excesso de insulina relativo ou absoluto: por doses de insulina excessivas e/ou administradas em intervalos inadequados. ✓ Influxo de glicose exógena reduzido: por exemplo, durante o jejum ou após refeições ou lanches em quantidade menor que a habitual. ✓ Utilização de glicose independente da insulina aumentada pelos tecidos: por exemplo, durante o exercício físico. ✓ Sensibilidade à insulina aumentada: por exemplo, após o exercício ou por perda de peso. ✓ Neoglicogênese reduzida: por exemplo, após o consumo de álcool. ✓ Redução da depuração de insulina: por exemplo, em quadros de insuficiência renal. 3 MEDICINA INTERNA I CASO CLÍNICO 1: Homem de 52 anos chega ao pronto socorro por conta de quadro de sudorese intensa, agitação psicomotora e agressividade (estava gritando com os familiares). Tem DM tipo 1, em uso de insulina. EF: Glasgow=14, FC=120, PA=160x100 mmHg, pupilas dilatadas fotorreagentes. Qual a principal suspeita diagnóstica e conduta? a) Hipoglicemia – medir glicemia capilar. b) AVC – realizar tomografia de crânio. c) Hiperglicemia – medir glicemia capilar. d) IAM – realizar eletrocardiograma. **QUALQUER PACIENTE COM ALTERAÇÕES NEUROLÓGICAS AGUDAS, TEMOS QUE MEDIR A GLICEMIA** CASO CLÍNICO 2: Homem de 52 anos chega ao pronto socorro por quadro de confusão mental há 2 horas e crise convulsiva minutos atrás. Tem DM2, em uso de glibenclamida (uma sulfonilureia). Ao EF, Glasgow=8, FC=120, PA-160x100 mmHg, pupilas dilatadas fotorreagentes, sem sinais neurológicos focais, com sudorese intensa e extremidades frias. Qual a principal suspeita diagnóstica e conduta? a) Hipoglicemia – medir glicemia capilar. b) AVC – realizar tomografia de crânio. c) Hiperglicemia – medir glicemia capilar. d) IAM – realizar eletrocardiograma. **CASO A HIPOGLICEMIA SEJA DESCARTADA APÓS AFERIÇÃO DA GLICEMIA, DEVEMOS PROCURAR OUTRAS CAUSAS** **A GLICOSE É UM COMBUSTÍVEL METABÓLICO OBRIGATÓRIO PARA O NOSSO CÉREBRO, EM CONDIÇÕES FISIOLÓGICAS. POIS, ESTE É INCAPAZ DE SINTETIZAR GLICOSE OU DE ARMAZENAR UM SUPRIMENTO EM FORMA DE GLICOGÊNIO POR MAIS DE ALGUNS MINUTOS E, POR CONSEGUINTE, NECESSITA DE UM SUPRIMENTO CONTÍNUO DE GLICOSE A PARTIR DA CIRCULAÇÃO ARTERIAL** SINTOMAS DA HIPOGLICEMIA: Os sintomas da hipoglicemia podem ser de 2 tipos: 1. Autonômicos: decorrem principalmente da descarga simpatoadrenal, ou seja, da ativação do sistema nervoso simpático e aumento de catecolaminas plasmáticas, gerando: EM PACIENTES COM SINTOMAS NEUROLÓGICOS AGUDOS, SEMPRE DEVEMOS REALIZAR O EXAME DA GLICEMIA CAPILAR. E, SE TAIS PACIENTES FOREM DIABÉTICOS, TAL PROCEDIMENTO SE TORNA MAIS IMPORTANTE AINDA. Exemplos: alterações agudas e injustificadas de comportamento, confusão mental ou sonolência excessiva, sintomas neurológicos focais (paresias, parestesias) e/ou crise epiléptica. PALPITAÇÕES/TAQUICARDIA/ARRITMIAS; TREMOR; ANSIEDADE/AGITAÇÃO; SUDORESE; PALIDEZ. 4 MEDICINA INTERNA I 2. Neuroglicopênicos: decorrentes de privação de glicose para o sistema nervoso central, gerando: Em quadro de hipoglicemia grave, pode ocorrer crises convulsivas, alterações mentais e sintomas neurológicos focais idênticos aos do AVC – DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL IMPORTANTE. E, além desses sintomas citados acima, a hipoglicemia traz outros riscos também, uma vez que ativa respostas pró-inflamatórias, pró-coagulantes e pró-aterotrombóticas. Com isso, ela aumenta o risco de eventos cardiovasculares, como por exemplo, IAM e AVC. A hipoglicemia, quando grave, pode ser fatal, devido ao fato dela poder desencadear: arritmias, eventos aterotrombóticos cardiovasculares (IAM, AVC) e lesão neurológica por hipoglicemia grave prolongada. QUESTÃO 3: São hormônios cuja deficiência pode colaborar parao desenvolvimento de hipoglicemia: a) Glucagon. b) Epinefrina. c) Cortisol. d) GH. e) Todos os anteriores. O glucagon, epinefrina, cortisol e GH são os chamados hormônios contrarreguladores da insulina, uma vez que, possuem o efeito oposto ao da insulina, ou seja, aumentam a glicemia. Eles estimulam a glicogenólise (hepática e renal) e a neoglicogênese (síntese de glicose no fígado a partir de outros precursores – lactato, alanina, glicerol). FOME; FRAQUEZA/ASTENIA; ALTERAÇÕES DE COMPORTAMENTO; CRISES CONVULSIVAS; CONFUSÃO MENTAL E ALTERAÇÕES DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA; PODEM OCORRER SINTOMAS NEUROLÓGICOS FOCAIS IDÊNTICOS AOS DO AVC 5 MEDICINA INTERNA I ipoglic CASO CLÍNICO 3: Homem de 22 anos, com DM1 há 10 anos, vem à USF para consulta de rotina. A enfermeira te chama pois na pré-consulta a glicemia capilar está de 48 mg/dL, já confirmada mais uma vez com outro aparelho. Paciente assintomático e EF normal. Qual a principal suspeita diagnóstica? a) Hipoglicemia assintomática (perda da percepção da hipoglicemia – falência autossômica associada à hipoglicemia), que pode passar a ocorrer devido a hipoglicemias recorrentes. b) Erro na aferição da glicemia – colher exame de sangue para confirmar. c) Hipoglicemia assintomática, que pode passar a ocorrer devido a hiperglicemias recorrentes. d) Considerar que esse valor de glicemia possa ser normal para o paciente, não tomando conduta qualquer. **O PRINCIPAL FATOR DE RISCO PARA HIPOGLICEMIA ASSINTOMÁTICA SÃO HIPOGLICEMIAS RECORRENTES** 6 MEDICINA INTERNA I A resposta normal à hipoglicemia é uma adaptação celular para evitar a morte celular, como a utilização de energias alternativas (lactato, por exemplo) e aumento do transporte de glicose na célula (GLUT-4). Durante uma hipoglicemia subsequente, a célula adaptada experimentar um menor grau de depleção energética e estresse metabólico, fazendo com que sejam menos susceptíveis à morte, porém ativa menos o sistema nervoso autonômico, responsável pela liberação dos hormônios que aumentam a glicemia e provocam os sinais e sintomas de alarme. A falência da ativação do sistema autonômico e da resposta da adrenal em prol de hipoglicemias recorrentes, é um dos principais mecanismos envolvidos na gênese da hipoglicemia assintomática. Há dúvidas se a falência autonômica é um mecanismo adaptativo ou mal adaptativo, por tornar o paciente ao mesmo tempo menos vulnerável e mais propenso a hipoglicemia grave. Felizmente, os sinais e sintomas de alarme podem ser recuperados em 3 semanas, se as hipoglicemias forem evitadas. E, para isso, muitas vezes é necessário deixar menos rígido o controle glicêmico com elevação das metas glicêmicas por um determinado tempo. SITUAÇÃO 1: Você está consultando um paciente e ele te conta que acha que está tendo hipoglicemias à tarde. Quais 3 etapas você deve idealmente averiguar com o paciente para checar se de fato ele está tendo hipoglicemia? 1) Você apresentou sintomas de hipoglicemia (adrenérgicos e/ou Neuroglicopênicos)? 2) Você mediu sua glicemia? Qual foi o valor? 3) Os sintomas melhoraram depois que você comeu (algum carboidrato, de preferência)? SITUAÇÃO 2: Você está consultando um paciente e ele te conta que acha que está tendo hipoglicemias à tarde. Quais 3 etapas você deve idealmente averiguar com o paciente para checar se de fato ele está tendo hipoglicemia? Checar a tríade de Whipple: 1) Paciente apresenta sintomas compatíveis com hipoglicemia; 2) Paciente apresenta baixa concentração plasmática de glicose, medida por um método preciso; 3) Paciente apresenta alívio dos sintomas após a elevação do nível plasmático de glicose (exemplo: após se alimentar com carboidrato). **COMO A HIPOGLICEMIA É COMUM NO DIABÉTICO EM USO DE INSULINA OU ANTIDIABÉTICOS, COM FREQUÊNCIA É RAZOÁVEL SUPOR QUE UM EPISÓDIO CLINICAMENTE SUSPEITO FOI O RESULTADO DE HIPOGLICEMIA. DE QUALQUER FORMA, É IMPORTANTE SOLICITAR AO PACIENTE COM DM QUE AFIRA A GLICEMIA CAPILAR QUANDO TIVER SINTOMAS SUSPEITOS DE HIPOGLICEMIA** CONDUTA NA HIPOGLICEMIA CONFIRMADA: Caso o paciente esteja consciente, fornecer VO 15 a 20g de carboidratos simples, de rápida absorção. 1 colher de sopa de açúcar, 1 copo de 200ml de suco de laranja ou de uva puro ou de refrigerante ou 3-4 balas de caramelo ou 4 biscoitos de maisena. 7 MEDICINA INTERNA I E, após 15 min devemos repetir a glicemia capilar do paciente, para confirmar a normalização da glicemia. Agora, caso o paciente esteja inconsciente, seja incapaz de deglutir ou se negue veementemente a deglutir, não forneça alimentos ou bebidas ao paciente. As opções nesse caso são: ✓ Aplicar 15-20g de glicose IV; ✓ Aplicar 1mg de glucagon subcutâneo ou IM – sendo fundamental alimentar o paciente assim que este voltar a ter consciência. **É FUNDAMENTAL ORIENTAR OS PACIENTES COM DM E FAMILIARES SOBRE OS SINTOMAS DE HIPOGLICEMIA ALGUNS CUIDADOS A SEREM TOMADOS, COMO POR EXEMPLO, DIRIGIR ALGUM VEÍCULO E OPERAR MÁQUINAS E COMO PROCEDER FRENTE A UM QUADRO DE HIPOGLICEMIA**