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Proteínas São substâncias que apresentam maior quantidade e complexidade, formadas pelo encadeamento de aminoácidos e por isso pode-se dizer que as proteínas são chamadas de polímeros formados por aminoácidos, os monômeros. Estas macromoléculas complexas podem se manifestar de diversas formas e exercer diversas funções no organismo, estando presentes tanto na matriz intercelular, quanto em inúmeras estruturas celulares. Classificação dos principais grupos proteicos ➢ Classificação química: ✓ Albuminas: Fonte plantas e animais. ✓ Globulinas: Fonte plantas e animais. ✓ Glutelinas: Fonte planta. ✓ Prolaminas: Fonte plantas. ✓ Escleroproteinas: Fonte animal. ✓ Nucleo-proteínas: São os componentes principais da cromatina. ✓Glicoproteínas: Formam o muco de tecidos e secreções. ✓Cromoproteínas: São hemoglobinas, proteínas respiratórias presentes nas cedeias de redução e oxidação celulares. ✓Fosfoproteínas: Importância na indústria de laticínios, processos adaptativos e diferentes organismos, especialmente bactérias, estão ligados ás fosofoproteínas. ✓Lipoproteínas: Formadas por proteínas mais lipídios, possuem como fonte HDL, LDL e os quilomícrons. ➢ Classificação estrutural: Estruturalmente as proteínas podem ser divididas em: proteínas globulares, apresentam-se como globos vermelhos enovelados, como as histonas e a hemoglobina; e as proteínas fibrosas, apresentam-se como delgados filamentos, como a queratina, colágeno e a fibrina. Digestão proteica A digestão das proteínas se inicia no estômago e se completa no intestino. As enzimas que digerem as proteínas são produzidas como precursores inativos (zimogênios), os quais são maiores do que as enzimas ativas. Os zimogênios inativos são secretados pelas células nas quais são sintetizados e entram no lúmen do trato digestivo, onde são clivados a formas menores que têm atividade proteolítica. Uma única enzima ativa não pode digerir uma proteína, porém, agindo em conjunto, elas podem digerir as proteínas da dieta a aminoácidos e pequenos peptídeos, os quais são clivados pelas peptidases associadas às células epiteliais do intestino. Aminoácidos São compostos orgânicos formados por um ácido carboxílico, uma amina, um átomo de hidrogênio e um radical ligados a um carbono alfa. Podem ser classificados como: aminoácidos naturais (ou não essenciais), são aqueles que conseguem ser produzidos pelo corpo; e os aminoácidos essenciais, adquiridos por meio da alimentação Proteínas Simples Proteínas Conjugadas ➢ Digestão das proteínas no estômago: O pepsinogênio é secretado pelas células principais do estômago. As células parietais gástricas secretam HCl. O ácido no lúmen do estômago altera a conformação do pepsinogênio, que, então, pode clivar a si mesmo, produzindo a protease ativa pepsina. Portanto, a ativação do pepsinogênio é autocatalítica. ➢ Digestão de proteínas por enzimas do pancreáticas: Conforme o conteúdo gástrico é esvaziado para o intestino, ele encontra as secreções do pâncreas exócrino. Uma dessas secreções é o bicarbonato, o qual, além de neutralizar o ácido estomacal, aumenta o pH, de forma que as proteases pancreáticas, as quais também estão presentes nas secreções pancreáticas, possam ficar ativas. Quando secretadas, as proteases pancreáticas estão na forma de pró-enzima inativa (zimogênios). Como as formas ativas dessas enzimas podem digerir umas às outras, é importante que todas as formas zimogênicas se tornem ativas em um curto espaço de tempo. Tal feito é realizado pela clivagem do tripsinogênio à sua forma de enzima ativa tripsina, a qual, então, cliva os outros zimogênios pancreáticos, produzindo suas formas ativas. O zimogênio tripsinogênio é clivado para formar tripsina pela enteropeptidase (uma protease, antigamente chamada de enteroquinase) secretada pelas células da borda em escova do intestino delgado. A tripsina catalisa as clivagens que convertem quimotripsinogênio na enzima ativa quimotripsina, a pró-elastase em elastase e as pró-carboxipeptidases em carboxipeptidases. Portanto, a tripsina tem um papel central na digestão, porque ela tanto cliva proteínas da dieta quanto ativa as outras proteases digestivas produzidas pelo pâncreas. ➢ Digestão de proteínas por enzimas das células intestinais: As exopeptidases produzidas pelas células intestinais agem dentro da borda em escova e, também, dentro da célula. As aminopeptidases, localizadas na borda em escova, clivam um aminoácido por vez a partir da extremidade aminoterminal dos peptídeos. As peptidases intracelulares agem em pequenos peptídeos que são absorvidos pelas células. A ação conjunta das enzimas proteolíticas produzidas pelas células de estômago, pâncreas e intestino cliva as proteínas da dieta a aminoácidos. As enzimas digestivas digerem a si próprias, bem como as proteínas da dieta. Elas também digerem as células intestinais que são regularmente esfoliadas para o lúmen. Essas células são substituídas por células que amadurecem a partir de células precursoras localizadas nas criptas duodenais. A quantidade de proteína que é digerida e absorvida a cada dia dos sucos digestivos e das células liberadas dentro do lúmen intestinal pode ser igual ou maior do que a quantidade de proteína consumida na dieta (50 a 100 g). Absorção proteica Os aminoácidos são absorvidos a partir do lúmen intestinal por meio de sistemas de transporte ativo secundário dependente de Na+ e de difusão facilitada. ➢ Co-transporte de Na+ e aminoácidos: Os aminoácidos são absorvidos do lúmen do intestino delgado principalmente por proteínas de transporte semi-específicas dependentes de Na+ na membrana luminal da célula intestinal da borda em escova de forma similar a que foi apresentada para o transporte de carboidratos. O co-transporte de Na+ e aminoácido do lado de fora da membrana apical para o lado de dentro da célula é dirigido pela baixa concentração intracelular de Na+. Essa resulta do bombeamento do Na+ para fora da célula pela Na+, K+ -ATPase na membrana serosa. Portanto, o mecanismo de transporte primário é a criação de um gradiente de sódio; o processo de transporte secundário é o acoplamento do aminoácido ao influxo de sódio. Esse mecanismo permite que as células concentrem aminoácidos a partir do lúmen intestinal. Os aminoácidos são, então, transportados para fora da célula em direção ao fluido intersticial principalmente por transportadores facilitados na membrana serosa. No mínimo seis diferentes carreadores de aminoácidos Na+ -dependentes estão localizados na membrana apical da borda em escova das células epiteliais. Esses carreadores apresentam uma sobreposição de especificidades para os diferentes aminoácidos. Um dos carreadores transporta preferencialmente aminoácidos neutros, outro transporta prolina e hidroxiprolina, um terceiro transporta preferencialmente aminoácidos ácidos, e um quarto transporta aminoácidos básicos (lisina, arginina e o intermediário do ciclo da uréia, ornitina) e cistina (dois resíduos de cisteína ligados por ponte dissulfeto). Adicionalmente a esses carreadores Na+ dependentes, alguns aminoácidos são transportados através da membrana luminal por carreadores de transporte facilitado. A maioria dos aminoácidos é transportada por mais de um sistema de transporte. Durante o jejum, o epitélio intestinal, assim como outros tipos celulares o fazem, capta aminoácidos do sangue para utilizar como fonte de energia. Desse modo, o transporte de aminoácidos através da membrana serosa é bidirecional. Transporte proteico ➢ Aminoácidos do Sangue:A concentração normal de aminoácidos no sangue está entre 35 e 65 mg/dL, que é a média de 2 mg/dL, para cada 20 aminoácidos, embora alguns estejam presentes em quantidades bem maiores do que os outros. Uma vez que os aminoácidos são ácidos relativamente fortes, eles existem no sangue, principalmente no estado ionizado, resultante da remoção de um átomo de hidrogênio do radical NH2. A distribuição exata dos diferentes aminoácidos no sangue depende, até certo ponto, dos tipos de proteínas ingeridas, mas as concentrações de pelo menos alguns aminoácidos individuais são reguladas pela síntese seletiva nas diferentes células. ➢ Transporte de aminoácidos para dentro das células: Os aminoácidos que entram no sangue são transportados através das membranas celulares dos tecidos principalmente por co-transportadores Na+ dependentes e, em menor extensão, por transportadores facilitados. Nesse aspecto, o transporte de aminoácidos difere do transporte de glicose, o qual é Na+ dependente nos epitélios intestinal e renal, mas transporte facilitado nos outros tipos celulares. A dependência de Na+ do transporte de aminoácidos no fígado, no músculo e em outros tecidos permite que as células desses tecidos concentrem aminoácidos do sangue. As proteínas de transporte têm diferente base genética e composição de aminoácidos e especificidade um pouco diferentes daquelas da membrana luminal do epitélio intestinal. Elas também apresentam algumas diferenças entre os tecidos. ➢ Limiar renal para os aminoácidos: Nos rins, os diferentes aminoácidos podem ser reabsorvidos através do epitélio tubular proximal, por transporte ativo secundário, que os remove do filtrado glomerular devolvendo-os ao sangue, se eles forem filtrados para os túbulos renais através das membranas glomerulares. Todavia, existe um limite superior para a intensidade com que cada tipo de aminoácido pode ser transportado. Por essa razão, quando a concentração de tipo particular de aminoácido fica muito elevada no plasma e no filtrado glomerular, o excesso que não pode ser ativamente reabsorvido é perdido pela urina. ➢ Armazenamento de aminoácidos como proteínas nas células: Após o seu ingresso nas células, os aminoácidos se combinam uns com os outros por ligações peptídicas sob direção do RNA mensageiro celular e do sistema ribossômico, para formar as proteínas celulares. Assim, a concentração de aminoácidos livres no interior da maioria das células, em geral, permanece baixa, e o armazenamento de grande quantidade de aminoácidos livres não ocorre nas células; em vez disso, eles são principalmente estocados sob a forma de proteínas verdadeiras. Mas muitas dessas proteínas intracelulares podem ser rapidamente decompostas novamente em aminoácidos sob a influência das enzimas digestivas lisossômicas intracelulares. Esses aminoácidos podem, então, ser transportados de volta para fora da célula para o sangue. Exceções especiais a esse processo reverso são as proteínas dos cromossomos do núcleo. Essas proteínas estruturais, tais como o colágeno ou as proteínas musculares contráteis, não participam, significativamente, dessa digestão reversa e do transporte de volta ao exterior celular. Alguns tecidos corporais participam no armazenamento dos aminoácidos, em maior grau do que outros. Por exemplo, o fígado, que é órgão volumoso e que tem sistemas especiais de processamento dos aminoácidos, pode estocar grande quantidade de proteínas, rapidamente intercambiáveis; isso é, de igual modo, verdade em menor grau para os rins e a mucosa intestinal. ➢ Liberação dos aminoácidos das células como meio de regulação da concentração plasmática de aminoácidos: Sempre que as concentrações plasmáticas de aminoácidos caírem abaixo dos níveis normais, os que forem necessários são transportados para fora das células, a fim de recompor seu suprimento plasmático. Desse modo, a concentração plasmática de cada tipo de aminoácido é mantida em nível razoavelmente constante. ➢ Equilíbrio reversível entre das proteínas: Uma vez que no fígado (e, num grau muito menor, em outros tecidos) as proteínas celulares podem ser rapidamente sintetizadas por meio dos aminoácidos plasmáticos e, uma vez que muitas dessas proteínas podem ser degradadas e devolvidas ao plasma quase tão rapidamente, há um constante intercâmbio e equilíbrio entre os aminoácidos plasmáticos e as proteínas lábeis em praticamente todas as células do corpo. Por exemplo, se qualquer tecido em particular necessitar de proteínas, ele poderá sintetizar novas proteínas pelos aminoácidos sanguíneos; por sua vez, os aminoácidos sanguíneos são reabastecidos pela degradação das proteínas em outras células corporais, especialmente pelas células hepáticas. Esses efeitos são em particular perceptíveis com relação à síntese proteica pelas células cancerosas. Essas células costumam ser usuárias prolíficas de aminoácidos; por conseguinte, as proteínas das outras células podem ficar acentuadamente depletadas. ➢ Limite superior para o armazenamento de proteínas: Cada tipo celular particular tem limite superior em relação à quantidade de proteínas que pode armazenar. Depois que todas as células atingirem seus limites, o excesso de aminoácidos ainda em circulação é degradado em outros produtos e utilizado como energia, ou convertido em gordura ou glicogênio, sendo estocado sob essas formas. ➢ Turner proteico e o reabastecimento do POOL intracelular de aminoácidos: O pool de aminoácidos dentro das células é gerado tanto pelos aminoácidos da dieta quanto pela degradação das proteínas existentes dentro da célula. Todas as proteínas dentro da célula têm uma meia-vida (t1/2), que é o tempo no qual 50% das proteínas que foram sintetizadas, em um tempo específi co, deverão ser degradadas. Algumas proteínas têm inerentemente vida curta, com meias-vidas de 5 a 20 minutos. Outras proteínas estão presentes por longos períodos, com meias-vidas de várias horas ou mesmo dias. Uma grande quantidade de proteína é reciclada diariamente na forma de enzimas digestivas, as quais são degradadas por enzimas digestivas. Além disso, cerca de um quarto das células que revestem as paredes do trato gastrintestinal é perdido a cada dia e substituído por células novamente sintetizadas. Conforme as células deixam a parede gastrintestinal, suas proteínas e outros componentes são digeridos por enzimas no lúmen do intestino, e os produtos são absorvidos. Cerca de apenas 6% (de modo geral, 10 g) da proteína que entra no trato digestivo (incluindo proteínas da dieta, enzimas digestivas e proteínas das células esfoliadas) são excretados nas fezes a cada dia, o restante é reciclado. As proteínas também são recicladas dentro das células. As diferenças na composição de aminoácidos das várias proteínas do corpo, a ampla variação nos tempos de turnover (t1/2) e a reciclagem de aminoácidos são fatores importantes que ajudam a determinar os requerimentos por aminoácidos específicos e o total de proteína na dieta. A síntese de várias enzimas é induzida em resposta à demanda fisiológica (tais como os estados de jejum ou alimentado). Essas enzimas estão continuamente sendo degradadas. As proteínas intracelulares também são danifi adas por oxidação e por outras modificações que limitam sua função. Os mecanismos para degradação intracelular de proteínas desnecessárias ou danificadas envolvem os lisossomas ou o sistema ubiquitina/proteassoma. A. Turnover Protéico Lisossomal: Os lisossomas participam nos processos de autofagia, no qual componentes intracelulares são envolvidos por membranas que se fundem com lisossomas. A autofagia é um processo reguladocomplexo, no qual o citoplasma é sequestrado para dentro de vesículas e entregue para os lisossomas. Dentro dos lisossomas, as proteases da família das catepsinas degradam as proteínas ingeridas a aminoácidos livres. Os aminoácidos reciclados podem, então, deixar os lisossomas e reingressar no pool de aminoácidos intracelular. B. A Via Ubiquitina-Proteassoma: A ubiquitina é uma proteína pequena, que marca proteínas intracelulares para a degradação por ligação covalente a grupos ε-amino de resíduos de lisina. Esse processo é realizado por um sistema de três enzimas que adicionam a ubiquitina às proteínas-alvo para a degradação. Muitas vezes, a proteína-alvo é poliubiquitinilada, ou seja, moléculas adicionais de ubiquitina são ligadas a moléculas de ubiquitina prévias, formando longas cadeias de ubiquitina na proteína-alvo. Após a poliubiquitinilação estar completa, a proteína- alvo é liberada do complexo trienzimático. Então, um complexo proteolítico conhecido como proteassoma degrada a proteína marcada, liberando a ubiquitina intacta que pode novamente marcar outras proteínas para degradação. O proteassoma básico é um complexo protéico 20S cilíndrico com múltiplos sítios proteolíticos internos. O complexo 20S é regulado por complexos de proteínas cap, os quais se ligam a proteínas ubiquitiniladas (passo que requer ATP) e as entregam ao complexo 20S. Depois que a proteína-alvo é degradada, a ubiquitina é liberada intacta e reciclada. Os aminoácidos resultantes juntam-se ao pool intracelular de aminoácidos livres. Metabolismo proteico Proteínas Plasmáticas Os três principais tipos de proteínas presentes no plasma são albumina, globulina e fibrinogênio. A principal função da albumina é a de produzir pressão coloidosmótica no plasma, o que impede a perda de plasma pelos capilares. As globulinas são as principais Degradação obrigatória das proteínas Quando a pessoa não ingere proteínas, certa proporção das proteínas corporais é degradada em aminoácidos e, então, desaminada e oxidada. Esse processo envolve 20 a 30 gramas de proteína por dia, o que se denomina perda obrigatória de proteínas. Portanto, a fim de prevenir a perda efetiva de proteínas corporais, uma pessoa média deve ingerir o mínimo de 20 a 30 gramas de proteína a cada dia; embora essa quantidade dependa de múltiplos fatores, entre eles a massa muscular, a atividade e a idade; para permanecer na margem de segurança, um mínimo de 60 a 75 gramas é em geral recomendado. Se algum tipo particular de aminoácido essencial estiver em baixa concentração, os outros se tornam inutilizáveis, uma vez que as células ou sintetizam proteínas completas, ou nenhuma proteína. Os aminoácidos inutilizáveis são desaminados e oxidados. A proteína que tenha a proporção de aminoácidos diferente da média das proteínas corporais é denominada proteína parcial ou proteína incompleta, e essa proteína é menos valiosa para a nutrição do que uma proteína completa. Efeito do jejum extremo sobre a degradação proteica Exceto pelos 20 a 30 gramas de degradação proteica obrigatória diária, o corpo usa quase inteiramente carboidratos ou gorduras como fonte energética, enquanto estiverem disponíveis. Todavia, após várias semanas de jejum, quando as quantidades de carboidratos e gorduras armazenados começam a se esgotar, os aminoácidos do sangue são rapidamente desaminados e oxidados para geração de energia. Desse ponto em diante, as proteínas dos tecidos se degradam rapidamente — em torno de 125 gramas a cada dia — e, como resultado, as funções celulares se deterioram de forma precipitada. Uma vez que a utilização dos carboidratos e das gorduras como matriz energética ocorre normalmente em preferência à utilização das proteínas, eles são denominados poupadores de proteína. responsáveis pela imunidade orgânica natural e adquirida, contra os organismos invasores. O fibrinogênio se polimeriza em longos filamentos de fibrina durante a coagulação sanguínea, assim formando coágulos sanguíneos que ajudam a reparar os sangramentos no sistema circulatório. ➢ Formação das proteínas plasmáticas: Essencialmente, toda a albumina e o fibrinogênio das proteínas plasmáticas, assim como 50% a 80% das globulinas, são formados no fígado. O restante das globulinas é formado quase inteiramente nos tecidos linfoides. A intensidade da formação das proteínas plasmáticas pelo fígado pode ser extremamente alta, da ordem de 30 g/dia. Certas condições patológicas causam rápida perda de proteínas plasmáticas; por exemplo, as queimaduras graves que desnudam grandes áreas de superfície cutânea podem provocar a perda de vários litros de plasma, através das áreas expostas a cada dia. Em tais estados, a rápida produção de proteínas plasmáticas pelo fígado é valiosa na prevenção do óbito. Ocasionalmente, a pessoa com doença renal grave perde algo em torno de 20 gramas de proteína plasmática na urina a cada dia, por meses, e ela é de modo contínuo reposta, principalmente pela produção hepática das proteínas requeridas. ➢ Proteínas plasmáticas fonte de aminoácidos para os tecidos: Quando os tecidos ficam depletados de proteínas, as proteínas do plasma podem atuar como fonte rápida de reposição. De fato, proteínas plasmáticas inteiras podem ser assimiladas in toto pelos macrófagos teciduais, pelo processo de pinocitose; uma vez nessas células, elas são clivadas em aminoácidos que são transportados de volta para o sangue e usadas em todo o organismo para formar as proteínas celulares onde quer que seja necessário. Desse modo, as proteínas plasmáticas funcionam como forma lábil de depósito proteico, representando fonte prontamente disponível de aminoácidos, sempre que um tecido particular o requeira. ➢ Equilíbrio reversível entre proteínas plasmáticas e proteínas dos tecidos: Existe estado de equilíbrio constante entre as proteínas plasmáticas, os aminoácidos do plasma e as proteínas teciduais. Estimou-se por estudos com traçadores radioativos que normalmente 400 gramas de proteínas corporais são sintetizados e degradados a cada dia, como parte do estado de fluxo contínuo de aminoácidos, o que demonstra o princípio geral da troca reversível de aminoácidos, entre as diferentes proteínas corporais. Mesmo durante a inanição ou as doenças debilitantes graves, a proporção corporal entre as proteínas teciduais totais e as proteínas plasmáticas totais permanece relativamente constante. Devido a esse equilíbrio reversível entre as proteínas plasmáticas e as outras proteínas corporais, um dos mais eficazes tratamentos para grave, aguda e generalizada deficiência proteica corporal consiste na transfusão intravenosa de proteínas plasmáticas. Dentro de poucos dias, ou por vezes em horas, os aminoácidos das proteínas administradas são distribuídos para todas as células do corpo, para formar novas proteínas onde forem necessárias. Regulação hormonal do metabolismo proteico ➢ Hormônio do crescimento aumenta a síntese das proteínas celulares: O hormônio do crescimento provoca aumento das proteínas teciduais. O mecanismo preciso pelo qual isso ocorre não é conhecido, mas acredita-se que resulte em sua maior parte de transporte aumentado de aminoácidos, através das membranas celulares, da aceleração da transcrição do DNA e do RNA e dos processos de tradução para a síntese proteica, ou da diminuição da oxidação de proteínas teciduais. ➢ Insulina é necessária para a síntese proteica:A completa falta de insulina reduz a síntese proteica a quase zero. A insulina acelera o transporte de alguns aminoácidos para as células, o que poderia se constituir no estímulo à síntese proteica. Além disso, a insulina reduz a degradação de proteínas e aumenta a disponibilidade de glicose para as células, de modo que a necessidade de aminoácidos como fonte energética seja correspondentemente reduzida. ➢ Glicocorticoides aumentam a degradação da maior parte das proteínas teciduais: Os glicocorticoides secretados pelo córtex adrenal reduzem a quantidade de proteínas, na maior parte dos tecidos, enquanto aumentam a concentração dos aminoácidos no plasma, assim como aumentam as proteínas hepáticas e as plasmáticas. Acredita-se que os glicocorticoides atuem aumentando a degradação das proteínas extra-hepáticas, gerando assim quantidades aumentadas de aminoácidos disponíveis nos fluidos corporais. Isso supostamente permite ao fígado sintetizar maior quantidade de proteínas celulares hepáticas e plasmáticas. ➢ Testosterona e estrogênio aumentam a deposição proteica nos tecidos: A testosterona, o hormônio sexual masculino, provoca deposição proteica aumentada nos tecidos por todo o organismo, em especial as proteínas contráteis dos músculos. O mecanismo desse efeito é desconhecido, mas é definitivamente diferente daquele do hormônio do crescimento do seguinte modo: o hormônio do crescimento faz com que os tecidos continuem a crescer, quase indefinidamente, enquanto a testosterona faz com que os músculos e, em grau muito menor, alguns tecidos proteicos aumentem apenas por alguns meses. O estrogênio, o principal hormônio sexual feminino, também provoca alguma deposição proteica, embora o efeito do estrogênio seja muito menor que o da testosterona. ➢ Tiroxina aumenta o metabolismo das células: A tiroxina afeta indiretamente o metabolismo proteico ao aumentar o metabolismo das células. Se os carboidratos e as gorduras forem insuficientemente disponíveis para a produção de energia, a tiroxina provoca rápida degradação das proteínas e as utiliza como energia. Contrariamente, se quantidades adequadas de carboidratos e gorduras estiverem disponíveis, e aminoácidos em excesso também forem encontrados no líquido extracelular, a tiroxina pode de fato aumentar a síntese proteica. Nos animais ou em seres humanos em crescimento, a deficiência de tiroxina provoca grande inibição do crescimento devido à falha da síntese proteica. Essencialmente, acredita-se que a tiroxina tenha poucos efeitos específicos sobre o metabolismo proteico, mas tenha importante efeito geral pelo aumento da intensidade das reações proteicas normais, tanto anabólicas quanto catabólicas. Destino do nitrogênio dos aminoácidos ➢ Reações de Transaminação: É o principal processo para remover o nitrogênio dos aminoácidos. Na maioria dos casos, o nitrogênio é transferido, como um grupo amino, do aminoácido original para o cetoglutarato, formando glutamato, enquanto o aminoácido original é convertido em seu cetoácido correspondente. Todos os aminoácidos, exceto lisina e treonina, são submetidos a reações de transaminação. As enzimas que catalisam essas reações são conhecidas como enzimas transaminases ou aminotransferases. Para a maioria dessas reações, o cetoglutarato e o glutamato servem como um dos pares cetoácido-aminoácido, o piridoxal-fosfato é o co-fator. De forma geral, em uma reação de transaminação, um grupo amino de um aminoácido se torna o grupo amino do segundo aminoácido. Como essas reações são prontamente reversíveis, elas podem ser utilizadas para remover o nitrogênio de aminoácidos ou para transferir nitrogênio para cetoácidos para formar aminoácidos. Dessa forma, elas estão envolvidas tanto na degradação quanto na síntese de aminoácidos. ➢ Remoção do nitrogênio dos aminoácidos como amônia: As células do corpo e as bactérias do intestino liberam o nitrogênio de certos aminoácidos na forma de amônia ou íon amônio (NH4+). O íon amônio libera um próton para formar amônia por uma reação com um pK de 9,3. Portanto, no pH fisiológico, o equilíbrio favorece o NH4+ por um fator de aproximadamente 100/1. Contudo, é importante observar que NH3 também está presente no organismo, pois essa é a forma que pode atravessar as membranas celulares. O glutamato pode ser desaminado oxidativamente por uma reação catalisada pela glutamato- desidrogenase que produz íon amônio e cetoglutarato. Essa reação, que ocorre na mitocôndria da maioria das células, é prontamente reversível; ela pode incorporar amônia ao glutamato ou liberar amônia a partir de glutamato. O glutamato pode coletar o nitrogênio de outros aminoácidos como consequência das reações de transaminação e, então, liberar amônia através da reação da glutamato-desidrogenase. Esse processo fornece uma das fontes de amônia que entra no ciclo da uréia. Além do glutamato, vários outros aminoácidos liberam o seu nitrogênio como NH4+. A histidina pode ser diretamente desaminada para formar NH4+ e urocanato. As desaminações da serina e da treonina são reações de desidratação que requerem piridoxal-fosfato e são catalisadas pela serina-desidratase. A serina forma piruvato, e a treonina, cetobutirato. Em ambos os casos, o NH4+ é liberado. A glutamina e a asparagina contêm grupos R amidas que são liberados como NH4+ por desaminação. A asparagina é desaminada pela asparaginase, produzindo aspartato e NH4+. A glutaminase age na glutamina, formando glutamato e NH4+. A reação da glutaminase é particularmente importante no rim, no qual o íon amônio produzido é excretado diretamente na urina, na qual ele forma sais com ácidos metabólicos, facilitando a remoção desses na urina. No músculo e no cérebro, mas não no fígado, o ciclo dos nucleotídeos da purina permite que o NH4 + seja liberado dos aminoácidos. O nitrogênio é coletado pelo glutamato a partir de outros aminoácidos por meio das reações de transaminação. O glutamato, então, transfere seu grupo amino para o oxaloacetato para formar aspartato, o qual fornece nitrogênio para o ciclo dos nucleotídeos da purina. As reações do ciclo liberam fumarato e NH4+. O íon amônio formado pode deixar o músculo na forma de glutamina. Em resumo, o NH4+ que entra no ciclo da uréia é produzido no organismo pela desaminação, ou desamidação, de aminoácidos. Uma quantidade significativa de NH4+ também é produzida pelas bactérias que vivem no lúmen do trato intestinal. Esse íon amônio entra na veia porta hepática e vai para o fígado. ➢ Papel do glutamato no metabolismo do nitrogênio dos aminoácidos: O glutamato tem um papel central no metabolismo dos aminoácidos, ele está envolvido tanto na síntese quanto na degradação. O glutamato fornece nitrogênio para a síntese de aminoácidos. Nesse processo, o glutamato obtém seu nitrogênio ou dos outros aminoácidos, por reações de transaminação, ou do NH4+, pela reação da glutamato-desidrogenase. Quando os aminoácidos são degradados e a uréia é formada, o glutamato coleta nitrogênio dos outros aminoácidos por reações de transaminação. Alguns desses nitrogênios são liberados como amônia pela reação da glutamato-desidrogenase, mas uma quantidade muito maior de amônia é produzida a partir das outras fontes. O NH4+ é uma das duas formas nas quais o nitrogênio entra no ciclo da uréia. A segunda forma de nitrogênio para a síntese da uréia é fornecida pelo aspartato. O glutamato pode ser a fonte desse nitrogênio; ele transfere seu grupo amino para o oxaloacetato, e aspartato e cetoglutarato são formados. ➢ Papel da alanina e da glutamina no transporte do nitrogênio dos aminoácidos para o fígado:O turnover protéico e a degradação dos aminoácidos ocorrem em todos os tecidos; entretanto, as enzimas do ciclo da uréia são ativas principalmente no fígado. Assim, é necessário um mecanismo para transportar o nitrogênio dos aminoácidos para o fígado. A alanina e a glutamina são os principais transportadores de nitrogênio no sangue. A alanina é exportada principalmente pelo músculo. Como o músculo metaboliza a glicose por meio da glicólise, o piruvato está disponível no músculo. O piruvato é transaminado com o glutamato para formar alanina, a qual vai até o fígado. O glutamato é formado pela transaminação de um aminoácido que esteja sendo degradado. Chegando ao fígado, a alanina é transaminada a piruvato, e o nitrogênio será utilizado para a síntese de uréia. O piruvato formado é utilizado para a gliconeogênese, e a glicose é exportada para o músculo para servir como energia. Esse ciclo de movimento de carbonos e nitrogênios entre o músculo e o fígado é conhecido como ciclo glicose-alanina. A glutamina é sintetizada a partir do glutamato pela fixação de amônia, necessitando de energia (trifosfato de adenosina [ATP]) e da enzima glutamina-sintetase, que é uma enzima citoplasmática encontrada em todas as células. Sob condições de rápida degradação de aminoácidos em um tecido, de forma que os níveis de amônia aumentem, o glutamato que está sendo formado por reações de transaminação irá aceitar uma outra molécula de nitrogênio para formar glutamina. A glutamina vai até o fígado, o rim ou o intestino, nos quais a glutaminase irá remover o nitrogênio amida para formar glutamato mais amônia. No rim, a liberação da amônia e a formação do íon amônio servem para formar sais com ácidos metabólicos na urina. No intestino, a glutamina é utilizada como substrato energético. No fígado, a amônia é utilizada para a biossíntese da uréia. Ciclo da Uréia O ser humano adulto normal está em balanço nitrogenado, isto é, a quantidade de nitrogênio ingerida a cada dia, principalmente na forma de proteína na dieta, é igual à quantidade de nitrogênio excretada. O principal produto de excreção de nitrogênio é a uréia, a qual é eliminada pelo corpo na urina. Esse composto inócuo, produzido principalmente no fígado pelo ciclo da uréia, serve como uma forma de eliminar a amônia, a qual é tóxica, particularmente ao cérebro e ao sistema nervoso central. Em geral, pouca amônia (ou NH4+) está presente no sangue. A concentração varia entre 30 e 60 M. A amônia é rapidamente removida do sangue e convertida em uréia pelo fígado. O nitrogênio é transportado no sangue principalmente nos aminoácidos, em particular na alanina e na glutamina. ✓ Síntese carbomoil-fosfato: Na primeira reação do ciclo da uréia, NH4+, bicarbonato e ATP reagem para formar carbamoil- fosfato. É necessária a clivagem de 2 ATP para formar a ligação fosfato de alta energia do carbamoil-fosfato. A enzima carbamoil-fosfato-sintetase I (CPSI), que catalisa essa primeira reação do ciclo da uréia, é encontrada principalmente nas mitocôndrias do fígado e do intestino. ✓ Produção de arginina: O carbamoil-fosfato reage com a ornitina para formar citrulina. A ligação fosfato de alta energia do carbamoil-fosfato fornece a energia requerida para essa reação, a qual ocorre na mitocôndria e é catalisada pela enzima ornitina-transcarbamoilase. O produto, a citrulina, é transportado através da membrana mitocondrial em troca de ornitina citoplasmática e entra no citosol. O carreador para essa reação de transporte catalisa uma troca eletroneutra de dois compostos. No citosol, a citrulina reage com o aspartato, a segunda fonte de nitrogênio para a síntese da uréia, para produzir argininossuccinato. Essa reação, catalisada pela enzima argininossuccinato-sintetase, é direcionada pela hidrólise do ATP a monofosfato de adenosina (AMP) e pirofosfato. O aspartato é produzido pela transaminação do oxaloacetato. O argininossuccinato é clivado pela enzima argininossuccinato-liase para formar fumarato e arginina. ✓ Clivagem da arginina para produzir uréia: A arginina, que contém os nitrogênios derivados do NH4+ e do aspartato, é clivada pela enzima arginase, produzindo uréia e regenerando ornitina. A uréia é produzida a partir do grupo guanidino da cadeia lateral da arginina. A porção da arginina originalmente derivada da ornitina é reconvertida em ornitina. As reações pelas quais a citrulina é convertida em arginina e essa é clivada para produzir uréia ocorrem no citosol. A ornitina, outro produto da reação da arginase, é transportada para dentro da mitocôndria em troca de citrulina e, na mitocôndria, pode reagir com o carbamoil-fosfato, iniciando outra volta do ciclo. ➢ Origem da Ornitina: A ornitina é um aminoácido. Entretanto, ela não é incorporada nas proteínas durante o processo de síntese protéica, pois não existe códon genético para esse aminoácido. Embora a ornitina seja normalmente regenerada pelo ciclo da uréia (um dos produtos da reação da arginase), ela também pode ser sintetizada de novo, se necessário. A reação é uma transaminação não-usual catalisada pela ornitina-aminotransferase, sob condições específi cas, no intestino. A direção dessa reação em geral é a de formação de glutamato semialdeído, o qual é o primeiro passo da via de degradação da ornitina. ➢ Regulação do Ciclo da Uréia: O fígado humano tem uma grande capacidade para converter o nitrogênio dos aminoácidos em uréia, prevenindo, dessa forma, os efeitos tóxicos da amônia, a qual pode, caso contrário, acumular. Em geral, o ciclo da uréia é regulado pela disponibilidade de substrato; quanto maior a velocidade de produção de amônia, maior a velocidade de produção de uréia. Esse é um tipo de regulação por feed-forward, ao contrário da regulação por feedback (retroalimentação), a qual é característica de vias que geram produtos finais funcionais. Dois outros tipos de regulação controlam o ciclo da uréia: a ativação alostérica da CPSI pelo N-acetil- glutamato (NAG) e a indução/repressão da síntese das enzimas do ciclo da uréia. O NAG é formado especificamente para ativar a CPSI, não tendo nenhuma outra função conhecida em mamíferos. A síntese de NAG a partir de acetilCoA e glutamato é estimulada pela arginina. Assim, quando os níveis de arginina no fígado aumentam, duas reações importantes são estimuladas. A primeira é a síntese do NAG, o qual irá aumentar a velocidade pela qual o carbamoil-fosfato é produzido. A segunda é para produzir mais ornitina (via reação da arginase), de tal forma que o ciclo possa operar mais rapidamente. A indução das enzimas do ciclo da uréia ocorre em resposta a condições que requerem um aumento do metabolismo protéico, tais como uma dieta rica em proteína ou um jejum prolongado. Em ambos estados fisiológicos, enquanto os carbonos do aminoácido são convertidos em glicose, o nitrogênio do aminoácido é convertido em uréia. ➢ Ciclo da uréia durante o jejum: Durante o jejum, o fígado mantém os níveis de glicose no sangue. Os aminoácidos das proteínas musculares são a maior fonte de carbono para a produção de glicose pela via da gliconeogênese. Conforme os carbonos dos aminoácidos são convertidos em glicose, os nitrogênios são convertidos em uréia. Assim, a excreção urinária de uréia é maior durante o jejum. Quando o jejum progride, o cérebro começa a utilizar corpos cetônicos, poupando a glicose do sangue. Menos proteína muscular é clivada para fornecer aminoácidos para a gliconeogênese, e a produção diminuída de glicose a partir de aminoácidos é acompanhada por uma diminuição na produção de uréia. O principal aminoácido que serve como substrato para a gliconeogêneseé a alanina, a qual é sintetizada nos tecidos periféricos para agir como um carreador de nitrogênio. A liberação de glucagon, que acontece durante o jejum, estimula o transporte de alanina para o fígado pela ativação da transcrição do sistema de transporte para alanina. Duas moléculas de alanina são necessárias para gerar uma molécula de glicose. O nitrogênio dessas duas moléculas de alanina é convertido em uma molécula de uréia.