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Julia Paris Malaco– UCT15 SP4 – gastroenterologia Abdome agudo inflamatório É causada por processo inflamatório e/ou infeccioso em cavidade abdominal, órgãos ou estruturas adjacentes. Costuma cursar com manifestações de peritonite e alterações de ritmo intestinal. Caracteriza-se por dor de início insidioso e intensidade progressiva. Pode ser causado por um processo agudo ou pela agudização de uma doença crônica. Suas principais etiologias são: apendicite aguda, colecistite aguda, pancreatite aguda e diverticulite. Sinais de peritonite: sensibilidade abdominal, distensão/rigidez muscular, náuseas e vômitos. A colescistite é mais incidente em jovens e idosos e no sexo feminino A apendicite (principal causa de abdome agudo inflamatório) é mais incidente em jovens de 10 a 20 anos e no sexo masculino de forma geral Pancreatite por causa biliar é mais incidente no sexo femilino e por causa alcoolica no sexo masculino A diverticulite é mais incidente na população maior que 50 anos A fisiopatologia do AAI baseia-se na extensão do processo inflamatório/infeccioso ao peritônio e às modificações do funcionamento do trânsito intestinal. A cavidade peritoneal é revestida pelo peritônio, uma membrana serosa derivada do mesênquima que possui uma extensa rede capilar sangüínea e linfática, com função protetora por meio da exsudação, absorção e formação de aderências. Topograficamente, a membrana peritoneal divide-se em visceral e parietal. Peritônio visceral é inervado pelo sistema nervoso autônomo Peritônio parietal é inervado pelo sistema nervoso cerebroespinal, o mesmo da musculatura da parede abdominal. Todo agente inflamatório ou infeccioso, ao atingir o peritônio, acarreta irritação do mesmo, cuja intensidade é diretamente proporcional ao estádio do processo etiológico. Segue-se a instalação progressiva de íleo paralítico localizado ou generalizado. Esse fenômeno é justificado pela lei de Stokes que diz: “Toda vez que a serosa que envolve uma musculatura lisa sofre irritação, esta entra em paresia ou paralisia.” Por outro lado, a resposta do peritônio parietal exterioriza-se clinicamente por dor mais bem localizada e contratura da musculatura abdominal localizada ou generalizada, dependendo da evolução do processo. É importante salientar que a contratura muscular pode ser voluntária ou, mesmo, determinada por doença extra abdominal. De fato, podemos concluir que a dor abdominal secundária à irritação do peritônio visceral (autônoma) é mal localizada e origina-se pela distensão e contração das vísceras, enquanto a dor que segue a irritação do peritônio parietal (cerebroespinal) é contínua, progressiva, piorando com a movimentação e sendo também mais localizada. Embriologia: o trato gastrointestinal se origina do intestino anterior, médio e posterior, tendo cada segmento vascularização e inervação próprias; o intestino anterior compreende desde a orofaringe até o duodeno, dando origem a pâncreas, fígado, árvore biliar e baço; o intestino médio origina o duodeno distal, jejuno, íleo, apêndice, cólon ascendente e dois terços do colo transverso e, finalmente, o intestino posterior dá origem ao restante do colo e reto até a linha pectínea. Epigástrio: víscera oriunda do intestino anterior; Periumbilical: vísceras derivadas do intestino médio; Hipogástrio: vísceras derivadas do intestino posterior. Manifestações clinicas A dor abdominal é o sintoma preponderante no AAI, podendo ser decorrente de um processo recente, como na apendicite aguda, ou crônico agudizado tal qual nos casos de colecistite aguda por litíase biliar ou diverticulite por doença diverticular do cólon. A dor abdominal costuma ser progressiva e quando evolui com piora progressiva uma conduta cirúrgica é necessária na maioria das vezes. Sinais de peritonite: Alguns sinais de peritonite são: sensibilidade abdominal, principalmente a palpação (ponto de Mcburney) dor exacerbada a movimentação, distensão/rigidez muscular, náuseas e vômitos. Náuseas e vômitos podem ocorrer na evolução do AAI, podendo ser resultado do quadro álgico intenso ou até mesmo de estase intestinal secundária à irritação do peritônio visceral. A febre podendo surgir já nas fases iniciais do processo, com temperaturas mais brandas, Julia Paris Malaco– UCT15 piorando com a evolução do quadro, sobretudo quando há processo supurativo instalado. Obstipação comumente ocorre secundária à paralisia das alças intestinais. Entretanto, a diarreia pode estar presente, sobretudo em casos de abscessos pélvicos. Habitualmente encontra-se o indivíduo em posição antálgica e com um bom estado geral. Pode haver sinais de irritação peritoneal, com contratura da musculatura abdominal e/ou defesa voluntária à palpação. Alguns sinais importantes Sinal de Blumberg: dor a compressão, com piora à descompressão do quadrante inferior direito do abdome, relacionado com apendicite aguda. Sinal de descompressão brusca: dor à descompressão brusca do abdome, relacionado com peritonite no local da dor. Sinal de Giordano: dor a punho percussão lombar à direita ou esquerda, indicativo de processo inflamatório renal. Sinal de Jobert: timpanismo à percussão em toda região hepática, indicativo de pneumoperitônio. Sinal de Murphy: consiste na dor à palpação do bordo inferior do fígado durante uma inspiração forçada, indicativo de colecistite aguda. Sinal do Psoas: dor em quadrante inferior do abdome direito a elevação contra resistência da coxa ipsilateral, relacionado com apendicite, pielonefrite e abscesso em quadrante inferior do abdome. Sinal de Rovsing: compressão do quadrante inferior esquerdo do abdome com dor no quadrante inferior direito, indicativo de apendicite aguda. Sinal de Torres-Homem: percussão dolorosa em região hepática, relacionado com abscesso hepático. Courvoisier: icterícia + vesícula biliar palpável. Diverticulite Dor abdominal de início agudo, localizada principalmente no quadrante inferior esquerdo, associada a hipersensibilidade nessa região Febre com calafrios Anorexia, náuseas, vômitos Parada de eliminação de gases e fezes (abdome distendido e timpânico) Descompressão dolorosa, defesa involuntária, abdome em tábua Massa palpável: hipersensível, firme, fixa Ruídos intestinais diminuídos ou ausentes Disúria e polaciúria, se houver comprometimento vesical (pneumatúria, fecalúria em caso de desenvolvimento de fístula colovesical) Exame ginecológico pode revelar hipersensibilidade, induração e massa no fundo de saco de Douglas. Colecistite Colecistite aguda Dor abdominal de início súbito, intensa, na região epigástrica ou no hipocôndrio direito, irradiando para o ombro direito ou para as costas (“cólica biliar”). A dor aumenta no decorrer de 2 a 3 minutos e atinge um platô de intensidade mantido por 20 minutos Náuseas e vômitos Crises dolorosas recorrentes após as refeições: surgem dentro de 1 a 6 horas após, durando cerca de 12 horas, com recuperação gradativa, geralmente em 3 dias Febre: leve a moderada Hipersensibilidade no hipocôndrio direito Julia Paris Malaco– UCT15 Sinal de Murphy: dor acompanhada de suspensão da fase inspiratória da respiração, a qual é provocada pela palpação do ponto cístico quando se pede ao paciente para fazer uma respiração profunda Sinal de Murphy ultrassonográfico é a reprodução do sinal de Murphy com a compressão da vesícula realizada pelo transdutor Icterícia Vesícula palpável: 5% dos pacientes Colecistite crônica Pode ser assintomática por longo tempo; em 20% dos pacientes, torna-se sintomática no decorrer de 15 a 20 anos. Quase sempre associada a cálculos biliares (ver Capítulo 291, Colelitíase) Dispepsia após as refeições Apendicite Dor abdominal (100% dos casos): inicia na região umbilical; a seguir, localiza-se na fossa ilíaca direita. A dor costuma diminuir com a flexão da coxa Anorexia, náuseas e vômitos Obstipação e/ou diarreia (menos comum) Defesa muscular na parede abdominal (fossa ilíaca direita e áreas próximas) Sequência do aparecimento dos sintomas: anorexia, dor abdominal (epigástrica no início; a seguir na fossa ilíaca direita), náuseas e vômitos (95% dos casos) Discreta elevação da temperatura Paciente costuma ficar imóvel com a coxa direita encolhida Hipersensibilidade na fossa ilíaca direita, no ponto de McBurney Hiperestesia cutânea no dermátomo T10-12 Sinal de Rovsing: dor na fossa ilíaca direita que se manifesta após pressão na fossa ilíaca esquerda Sinal de Blumberg: dor que surge à descompressão súbita de uma área suspeita do abdome, indicando peritonite Sinal do psoas: dor à extensão da coxa direita Sinal do obturador: dor à rotação interna da coxa direita flexionada Apêndice com localização atípica (retrocecal) Hipersensibilidade no flanco e na fossa ilíaca direita Irritação pélvica: dor local e suprapúbica no exame retal Maior diferença entre a temperatura retal e axilar, sendo mais elevada no reto. Pancreatite Aguda Dor epigástrica intensa de início súbito; pode irradiar para a região dorsal Náuseas e vômitos Sudorese Distensão abdominal Febre Hipotensão postural Icterícia Movimentos peristálticos diminuídos ou ausentes Derrame pleural Taquicardia Sinal de Grey Turner e de Cullen (indicam extravasamento de exsudato hemorrágico para os flancos ou região umbilical, respectivamente). Diagnóstico Diverticulite Comprovação diagnóstica: Dados clínicos + enema opaco e/ou retossigmoidoscopia/colonoscopia Hemograma: leucocitose com formas imaturas na diverticulite; diminuição da hemoglobina ou hematócrito quando há perda de sangue crônica Colonoscopia e retossigmoidoscopia: identifica a doença diverticular, além de comprovar ou excluir câncer colorretal. A colonoscopia é mais indicada na forma não complicada (difícil identificação do divertículo sangrante na vigência da hemorragia; na diverticulite aguda deve ser indicada com bastante critério e interrompida se houver suspeita de perfuração livre na cavidade abdominal) Enema opaco com duplo contraste: melhor método para estabelecer o diagnóstico do ponto de vista topográfico e extensão da doença. Pode identificar trajetos fistulosos. Contraindicado na suspeita de diverticulite (a Julia Paris Malaco– UCT15 não ser que se use contraste iodado – hidrossolúvel) Radiografia simples do abdome em decúbito e na posição ortostática: na peritonite e perfuração TC com ou sem contraste retal (indicada nos casos de diverticulite aguda): permite localização e mensuração da massa inflamatória, diagnóstico de abscesso(s) e fístula(s) Angiografia mesentérica: para diagnóstico e tratamento nos casos de hemorragia em divertículos Cintilografia: identifica a topografia da hemorragia, inclusive nos casos de hemorragia de pequeno volume Biópsia em casos selecionados, quando se suspeita de neoplasia associada. Colecistite Hemograma: leucocitose de 12.000 a 15.000/dℓ Provas de função hepática: elevação das transaminases (AST, ALT), da fosfatase alcalina e da gama GT na vigência da obstrução do ducto comum Amilase sérica: pode estar discretamente aumentada Cintilografia com ácido iminodiacético (HIDA), Tc (colecintilografia): altamente sensível (97%) para o diagnóstico da colecistite aguda. Não visualização da vesícula é altamente suspeita, indicando obstrução no cístico, devendo-se suspeitar de colecistite Radiografia simples do abdome (posição ortostática): 20% dos cálculos são radiopacos. Não costuma trazer apenas informações relevantes para o diagnóstico de colecistite aguda Ultrassonografia abdominal: melhor método para diagnosticar cálculos biliares e colecistite aguda Presença de ar na parede ou na luz da vesícula, decorrente de isquemia ou gangrena da vesícula biliar e infecção com bactéria produtora de gás (colecistite enfisematosa) TC abdominal: não tem vantagem sobre a ultrassonografia no diagnóstico de cálculos biliares e/ou colecistite aguda, sendo útil, porém, na detecção de abscessos. Apendicite Comprovação Diagnóstica: Dados clínicos + exames laboratoriais. Em casos especiais podem ser necessários exames de imagem Laparoscopia diagnóstica em casos selecionados Exame histopatológico Hemograma: leucocitose moderada (10.000 a 15.000) com neutrofilia geralmente superior a 75% e/ou desvio para a esquerda. Leucocitose superior a 15.000 e neutrofilia acima de 80% são sugestivas de perfuração. Pacientes portadores do vírus HIV podem apresentar apendicite com leucograma normal Exame simples de urina: normal Radiografia simples do abdome: apêndice pode estar preenchido com gás; fecálito radiopaco; ceco deformado; nível líquido; íleo paralítico; ar livre na cavidade abdominal (pneumoperitônio) Apêndice não preenchido por bário: efeito expansivo na fossa ilíaca direita Ultrassonografia: inflamação apendicular (permite descartar outra doença pélvica, como massa inflamatória). A ultrassonografia tem sensibilidade de 75 a 90%. Entretanto, “apêndice normal” é visualizado em cerca de 5% dos pacientes com apendicite aguda. O exame apresenta limitações em pacientes obesos ou com distensão abdominal. Apêndice ≥ 7 mm é diagnosticado como apendicite. TC (em casos selecionados): a TC tem alta sensibilidade (90 a 100%) e especificidade (94 a 99%). Não deve ser considerada como procedimento de rotina. Permite reconhecer abscesso periapendicular. Pancreatite Aguda Dados clínicos + exames laboratoriais + exames de imagem. Exames complementares Amilase e lipase sérica: elevadas Alanina-aminotransferase (AST) e/ou aspartato-aminotransferase (ALT): elevadas – quando a pancreatite está associada a hepatite alcoólica ou coledocolitíase Fosfatase alcalina elevada: quando associada a hepatite alcoólica ou coledocolitíase Hiperbilirrubinemia: quando associada a hepatopatia alcoólica ou coledocolitíase Glicemia aumentada: nos casos graves Tripsina aumentada Cálcio diminuído: nos casos graves Hemograma: o achado relevante é 10.000 a 25.000 leucócitos/μℓ. Radiografia simples do abdome: pode revelar cálculos nos ductos pancreáticos Radiografia do tórax: pode revelar atelectasia ou derrame pleural Ultrassonografia abdominal: evidência de cálculos biliares, dilatação do colédoco, edema do pâncreas TC do abdome: permite visualizar o pâncreas Julia Paris Malaco– UCT15 RM de pâncreas Colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE): em casos selecionados. Tratamento Analgesia: Iniciar com dipirona e seguir com escala da dor, conforme necessário Reposição volêmica: Utilizar preferencialmente cristaloides Correção de distúrbios eletrolíticos: Comumente estão alterados o Na+ e K+ Antibioticoterapia profilática: Caso a etiologia não possa ser sugerida, optar por antibióticos de amplo especto. Realizar descalonamento quando possível Tratamento específico conforme etiologia Diverticulite A maior parte dos pacientes com diverticulite não complicada pode ser tratada em um contexto ambulatorial com um regime de antibióticos e modificaçãoda dieta a curto prazo à medida que seus sintomas se resolvem. Isso pode ser conseguido com sucesso e segurança se o paciente estiver afebril, com sinais vitais estáveis e for capaz de tolerar uma dieta oral e não tiver evidência de imunossupressão ou comorbidades significativas. Os antibióticos devem ter cobertura para bacilos Gram-negativos e anaeróbios. Os pacientes com diverticulite complicada caracterizam-se pela presença de um abscesso, fístula, obstrução ou perfuração livre. A maior parte desses pacientes necessitará de cirurgia de Hartmann. Colecistite O tratamento medicamentoso de cálculos biliares é normalmente mal sucedido e raramente utilizado. As opções incluem terapia de dissolução oral, dissolução de contato, que requer a canulação da vesícula e a injeção de solvente orgânico, e a litotripsia extracorpórea por ondas de choque. A litotripsia extracorpórea por ondas de choque tem uma taxa de recorrência mais baixa, aproximadamente 20%, e pode ser usada em pacientes com um único cálculo de 0,5 a 2 cm de tamanho. Embora o evento fisiopatológico primário na colecistite aguda seja a obstrução do ducto cístico e a infecção seja um evento secundário que se segue a estase e inflamação, a maior parte dos casos de colecistite aguda é complicada por superinfecção da vesícula biliar inflamada. Deste modo, suspende-se a ingesta oral dos pacientes e inicia-se a reposição hídrica intravenosa (IV) e a antibioticoterapia parenterais. Considerando que as bactérias aeróbias Gram-negativas são os organismos mais comumente encontrados na colecistite aguda, seguidas por anaeróbios e aeróbios Gram-positivos, justifica-se a administração de antibióticos de amplo espectro. Uma sedação com opiáceos parenteral é geralmente necessária para controlar a dor. A colecistectomia, seja aberta ou laparoscópica, é o tratamento de escolha para a colecistite aguda. Como o processo inflamatório ocorre na porta hepática, a conversão precoce para a colecistectomia aberta deve ser considerada quando a delineação da anatomia não está clara ou quando a intervenção cirúrgica não pode ser feita por via laparoscópica. No caso de inflamação substancial, uma colecistectomia parcial, cortando a vesícula transversalmente no infundíbulo com cauterização da mucosa remanescente (técnica de Thorek), é aceitável para evitar lesão do colédoco. Alguns pacientes apresentam colecistite aguda, mas têm risco cirúrgico proibitivo. Para esses pacientes, a drenagem percutânea da vesícula deve ser considerada. Frequentemente realizada sob orientação de ultrassonografia sob efeito de anestesia local com alguma sedação, este tipo de procedimento pode funcionar como uma medida contemporizadora drenando a bile infectada. A drenagem percutânea possibilita melhora nos sintomas e da fisiologia, autorizando a postergação da colecistectomia para 3 a 6 meses, mas sob observação médica. Em pacientes com drenos de colecistostomia, quando a fluoroscopia mostra um ducto cístico patente, o dreno de colecistostomia pode ser removido e a decisão para colecistectomia ser determinada pela capacidade do paciente de tolerar intervenção cirúrgica. Apendicite O tratamento adequado para apendicite aguda não complicada é a apendicectomia imediata. O paciente deve realizar reanimação hídrica conforme indicado, e a administração de antibióticos de amplo espectro dirigidos contra organismos anaeróbios e Gram-negativos deve ser iniciada de imediato. A operação deve prosseguir sem atrasos indevidos. A terapia antibiótica isolada como tratamento definitivo da apendicite aguda não complicada, mas está associada a uma taxa de falha significativa, talvez proibitivamente elevada, se comparada com a apendicectomia. Por essa razão, nossa prática é reservar a terapia não operatória apenas para a apendicite aguda não Julia Paris Malaco– UCT15 complicada de pacientes nos quais o risco operatório é proibitivo. Pancreatite Aguda Independentemente da causa ou da gravidade da doença, a base do tratamento da PA é a reposição agressiva de líquidos e eletrólitos pelo uso de uma solução isotônica de cristaloides. A taxa de reposição deve ser individualizada e ajustada com base na idade, comorbidades, sinais vitais, estado mental, turgor cutâneo e débito urinário. Os pacientes que não respondem à reposição inicial por hidratação ou têm comorbidades renais, cardíacas ou respiratórias significativas, muitas vezes exigem monitoramento invasivo com acesso venoso central e um cateter de Foley vesical. Além da reanimação por reposição hídrica, os pacientes com PA exigem oximetria do pulso contínua porque uma das complicações sistêmicas mais comuns da PA é a hipoxemia provocada por lesão pulmonar aguda associada a essa doença. Os pacientes devem receber oxigênio complementar para manter a saturação arterial acima de 95%. Também é essencial estabelecer a analgesia efetiva. Os sedativos opiáceos são geralmente utilizados, em especial a morfina. Um dos efeitos fisiológicos assinalados após a administração sistêmica de morfina é um aumento no tônus no esfíncter de Oddi, no entanto não há evidência de que os opiáceos exerçam um impacto negativo no resultado dos pacientes com PA. Não há benefício comprovado no tratamento da PA com antiproteases (p. ex., gabexato mesilato, aprotinina), inibidores do fator ativador de plaquetas (p. ex., lexipafant) ou inibidores de secreção pancreática. O suporte nutricional é vital para o tratamento da PA. A alimentação oral pode ser impossível em função do íleo persistente, da dor ou da entubação. Além disso, 20% dos pacientes com PA grave desenvolvem dor recorrente logo após a via oral ser reiniciada. As principais opções para fornecer esse apoio nutricional são a alimentação enteral e a nutrição parenteral total (NPT). Colangiopancreatografia retrógrada endoscópica A CPRE precoce, com ou sem esfincterotomia, foi inicialmente defendida para reduzir a gravidade da pancreatite, porque a teoria obstrutiva defende que a lesão pancreática é o resultado da obstrução do ducto pancreático. Três estudos randomizados, contudo, mostraram que a CPRE é benéfica somente para os pacientes com pancreatite biliar aguda grave. O uso de rotina da CPRE não está indicado para pacientes com pancreatite leve porque a obstrução do ducto biliar normalmente é transitória e cessa 48 horas após o início dos sintomas. Além da pancreatite biliar aguda grave, a CPRE está indicada para os pacientes que desenvolvem colangite e para aqueles com obstrução persistente do ducto biliar mostrada por outras modalidades de imagem, como o USE. Por fim, em pacientes idosos, com estado de saúde precário ou com comorbidades graves que impedem a cirurgia, a CPRE com esfincterotomia é uma alternativa segura para evitar a pancreatite biliar recorrente. Colecistectomia laparoscópica Na ausência do tratamento definitivo, 30% dos pacientes com pancreatite biliar aguda terão crises recorrentes. Com exceção dos pacientes idosos e daqueles com estado precário, a colecistectomia laparoscópica está indicada para todos os pacientes com pancreatite aguda leve de natureza biliar. As recomendações atuais sugerem o tratamento conservador por pelo menos seis semanas antes de a colecistectomia laparoscópica ser realizada nessas circunstâncias. Essa abordagem tem morbidade significativamente reduzida. Anatomia das vias biliares Vesícula biliar Possui de 7-10 cm de comprimento Situada na fossa da vesícula biliar na face visceral hepática Armazena até 50 ml de bile É circundada completamente por peritônio Fundo o Extremidade larga e arredondada o Geralmente se projeta na margem inferior do fígado Corpo o Parte principal,localizada no sulco do fígado o Relacionada também com a parte superior do duodeno e o colo transverso Colo o Extremidade estreita e afilada, voltada para a porta do fígado o Se liga ao infundíbulo e ao ducto cístico Relações anatômicas Anterior: Parede anterior do abdômen e margem inferior do fígado Posterior: Rim direito Superior: Face visceral hepática Inferior: Colo transverso e duodeno Julia Paris Malaco– UCT15 Ducto cístico o 3-4 cm de comprimento o Une o colo da vesícula biliar com o ducto hepático comum Prega espiral ou válvula de Heister o Formada pela túnica mucosa o Ajuda a manter o ducto aberto, facilitando a passagem da bile Vias biliares Caminho da bile Os hepatócitos secretam a bile para os canalículos biliares Drenam para os ductos biliares interlobulares Drenam para os ductos biliares coletores, localizados na tríade portal Os ductos se fundem e formam ducto hepático direito e esquerdo, que drenam as partes direita e esquerda do fígado Ao deixar a porta do fígado, se unem e formam o ducto hepático comum Se une ao ducto cístico, formando o ducto colédoco, que conduz a bile para o duodeno Ducto colédoco o É formado pelo cístico + hepático comum na margem do omento menor o Varia de 5-15cm Divisões o Superior → entre a veia porta e a artéria hepática própria, no omento menor o Média → posterior ao duodeno e ao lado da artéria gastroduodenal o Inferior → posterior à cabeça do pâncreas o Essa porção perfura a porção posterior da cabeça do pâncreas o Desce posteriormente à porção superior do duodeno Esfíncter do colédoco o Músculo localizado na porção distal o Impede a passagem da bile para a ampola, causando o refluxo da bile → ducto cístico → vesícula biliar O ducto colédoco e o ducto pancreático frequentemente se fundem após perfurar o duodeno para formar o ducto hepatopancreático. O ducto emerge na superfície luminal da segunda parte do duodeno como a ampola hepatopancreática de Vater. Lembre-se de que existem duas estruturas musculares circulares ao redor da ampola hepatopancreática - esfíncter superior e inferior do colédoco. O esfíncter superior do colédoco está localizado ao redor da porção distal do ducto colédoco. O esfíncter inferior do colédoco torna-se o esfíncter hepatopancreático de Oddi Ampola hepatopancreática ou de Vater o É um canal músculo-membranáceo, formado pela junção do colédoco + ducto pancreático o Possui um esfíncter hepatopancreático ou de Oddi o Desemboca na papila principal do duodeno, de Vater ou maior. Irrigação Vesícula biliar Artéria cística: Comumente originada no triângulo entre o ducto hepático comum, ducto cístico e face visceral do fígado (triângulo de Calot) Artérias pancreático duodenais superiores + Artéria hepática própria → Artéria cística Colédoco Artéria cística: Irriga porção proximal do ducto colédoco Artéria hepática direita: Irriga porção medial do ducto colédoco Artéria pancreaticoduodenal superior posterior e artéria gastroduodenal: Irriga porção retroduodenal do ducto colédoco Drenagem venosa Vesícula biliar Veias císticas o A partir do colo drenam diretamente para a Porta ou diretamente para os sinusóides o A partir do fundo e corpo seguem diretamente para os sinusóides hepáticos Drenagem linfática Vesícula biliar: Linfonodos císticos → Linfonodos hepáticos → Linfonodos celíacos Julia Paris Malaco– UCT15 Colédoco: Linfonodos císticos → Linfonodo do forame omental → Linfonodos hepáticos → Linfonodos celíacos Inervação Os nervos para a vesícula biliar e para o ducto cístico seguem ao longo da artéria cística a partir do plexo nervoso celíaco (aferentes viscerais + simpáticas) e do nervo vago (parassimpático). Nervo frênico direito → aferente somática o Correm os impulsos de dor causados pela inflamação da vesícula biliar. Nervo vago → parassimpático o A estimulação parassimpática causa contrações da vesícula biliar e relaxamento dos esfíncteres na ampola hepatopancreática. o Entretanto, essas respostas geralmente são estimuladas pelo hormônio colecistocinina (CCK), produzido pelas paredes duodenais (em resposta à chegada de alimentos gordurosos) e que circula na corrente sanguínea. Histologia das vias biliares A vesícula biliar tem três camadas: Membrana mucosa: é formada a partir do epitélio colunar simples que fica na lâmina própria. Estas células possuem microvilosidades na superfície apical. A superfície luminal da vesícula biliar - muito parecida com a do intestino delgado - é altamente dobrada em rugas e tem aparência de favo de mel. No entanto, ao contrário do intestino delgado, as rugas são estruturas temporárias que desaparecem quando a vesícula biliar se distende. Há também divertículos dentro da mucosa que se estendem até a camada muscular conhecida como criptas de Luschka. Submucosa: relativamente solta sob a camada mucosa é rica em fibras elásticas, vasos sanguíneos e vasos linfático Camada muscular: camada fina de fibras musculares lisas. possuem receptores CCK, que respondem à colecistocinina liberada pelas células enteroendócrinas do duodeno em resposta à presença de gorduras e proteínas nos intestinos. Como resultado, a bile concentrada da vesícula biliar é bombeada para o ducto cístico e transportada para o duodeno através do ducto colédoco. Serosa O ducto cístico e a árvore biliar extrahepática também possuem camadas histológicas semelhantes. A superfície luminal é revestida por colangiócitos: células epiteliais cuboidais simples (ou de baixa coluna) que residem na lâmina própria. A submucosa é fina e contém glândulas mucosas tubuloalveolares em algumas áreas ao longo do ducto cístico. Uma fina camada muscular com fibras musculares lisas circulares, oblíquas e longitudinais envolve todo o sistema biliar dentro de uma bainha de tecido conjuntivo fibroso. No entanto, gradualmente se torna mais espessa à medida que o ducto se aproxima de seu ponto terminal na ampola de Vater. O ducto hepatopancreático também possui pregas vilosas com miócitos lisos em seu núcleo; eles funcionam como válvulas unidirecionais para impedir o refluxo de conteúdo duodenal para o ducto hepatopancreático. Colelitiase Colecistite: Inflamação aguda ou crônica da vesícula biliar, quase sempre secundária a cálculos biliares. Ocorre com maior frequência após a 4ª década de vida. Colangite: Inflamação bacteriana dos ductos biliares, intra- ou extra-hepáticos, associada à obstrução desses ductos ou a condições que possibilitem o refluxo de bactérias do intestino delgado. Pode ser aguda, crônica ou recorrente. Ocorre com mais frequência entre os 50 e os 70 anos de idade, com rara incidência em crianças. Coledocolitíase: Também chamada de litíase do colédoco, a coledocolitíase consiste na presença de cálculo no ducto biliar comum. Ocorre com mais frequência após a 5ª década de vida e sua incidência aumenta com a idade. Acomete de 10 a 15% dos pacientes com colelitíase sintomática. Colelitíase: Também chamada de colecistolitíase, calculose biliar ou litíase da vesícula biliar, é uma enfermidade que se manifesta por cálculos de colesterol e/ou pigmentares formados e retidos na vesícula biliar. A colecistite é mais frequente no sexo feminino (2:1) e após a 5ª década de vida, e sua incidência aumenta com a idade. A colelitíase é a presença de pedras (cálculo) no interior da vesícula biliar Em 75% dos pacientes, os cálculos biliares são compostos predominantemente (70-95%) por colesterol, e são denominados cálculos de colesterol. Os 25% restantes sãocálculos de https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/intestino-delgado https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/visao-geral-e-tipos-de-tecido-conjuntivo Julia Paris Malaco– UCT15 pigmento. Independentemente da composição, os cálculos biliares produzem sequelas clínicas semelhantes. Cálculos de colesterol Os cálculos biliares de colesterol resultam da secreção de bile supersaturada de colesterol pelo fígado. Sob a influência de diversos fatores presentes na bile, o colesterol sofre precipitação na solução e os cristais recém-formados crescem para produzir cálculos macroscópicos. Exceto nos casos com dilatação ou obstrução parcial do ducto colédoco, os cálculos nessa doença formam-se quase exclusivamente no interior da vesícula biliar. Fatores de risco: Antes da puberdade, a doença é rara, mas com igual frequência entre os sexos. Daí em diante, as mulheres são mais comumente afetadas até após a menopausa, quando a discrepância é reduzida. Os efeitos hormonais também se refletem no aumento da incidência de cálculos biliares em multíparas e no aumento da saturação de colesterol na bile e maior incidência de cálculos com o uso de contraceptivos orais. A obesidade é outro grande fator de risco. O colesterol é solubilizado na bile pela agregação aos sais biliares hidrossolúveis e lecitinas insolúveis em água, que atuam como detergentes. Quando as concentrações de colesterol excedem a capacidade de solubilização da bile (supersaturação), o colesterol pode não permanecer disperso e torna-se nucleado em cristais monoidratados de colesterol sólido. Quatro condições aparentam contribuir para a formação de cálculos de colesterol: Supersaturação da bile com colesterol; Hipomotilidade da vesícula biliar: A hipomotilidade causa a estase da bile, aumentando a absorção dos solventes e acumulando os solutos Nucleação de cristais de colesterol acelerada; Hipersecreção de muco na vesícula biliar, que retém os cristais nucleados, resultando no acúmulo de mais colesterol e no surgimento de cálculos macroscópicos. Hipossecreção de fosfolipídeos ou ácidos biliares: Transformação acelerada do ácido cólico em desoxirribonucleico, que é rapidamente absorvido. A supersaturação de colesterol não é suficiente para a formação de cálculos: A nucleação acelerada do monohidrato de colesterol na bile pode ser causada pelo excesso de fatores pró- nucleação ou pela deficiência de fatores anti nucleação. Pró: mucinas e munoglobulinas; Anti: APO A1 e A2, além de glicoproteínas. Hipomotilidade da vesícula biliar: Ocorre pela anormalidade no esvaziamento da vesícula; A incidência de cálculos biliares está aumentada em condições associadas ao esvaziamento infrequente ou reduzido da vesícula biliar (inclusive jejum, nutrição parenteral ou gestação) e em usuários de fármacos inibidores da motilidade da vesícula biliar. A ocorrência de cálculos biliares de colesterol requer supersaturação de colesterol na bile, mas só isso é insuficiente. O colesterol na bile supersaturada de indivíduos sem cálculo biliar sofre precipitação espontânea com velocidade muito menor do que o colesterol em bile semelhante dos indivíduos que não formam cálculos. Além disso, entre os indivíduos com bile supersaturada, apenas aqueles com cálculos biliares demonstram formação de cristais de colesterol in vivo. Esses fatos decorrem de proteínas específicas na bile que estabilizam ou desestabilizam as vesículas de fosfolipídeo repletas de colesterol. Para a formação de cálculos biliares, os fatores pró-nucleação (p. ex., imunoglobulina, mucoglicoproteína, fibronectina, orosomucoide) parecem ser mais importantes do que os fatores antinucleação (p. ex., glicoproteína, apolipoproteína, citoqueratina). Variações nessas proteínas podem ser o fator essencial para determinar quais dos muitos indivíduos com bile saturada irão desenvolver cálculos biliares. O fato de os cálculos biliares se formarem quase exclusivamente na vesícula biliar, mesmo quando a composição da bile hepática é anormal, enfatiza o papel importante desse órgão na patogênese da doença. Além de servir como área de estase para a formação e o crescimento dos cálculos, a vesícula participa provendo um nicho (p. ex., pequenos grãos de pigmento) para a cristalização do colesterol e contribuindo com mucoproteína para unir os cálculos. De forma geral, ocorre pelo desequilíbrio dos solutos biliares, principalmente a porção de colesterol e sais de cálcio. Na bile normal, o colesterol é solúvel na forma de micelas mistas com concentração ótima de sais Julia Paris Malaco– UCT15 biliares e fosfolipídios. Com concentrações desproporcionais, a bile torna-se supersaturada, e o excesso de colesterol precipita como cristais mono-hidratados. Esses cristais tornam-se incorporados no gel de mucina da vesícula biliar com o bilirrubinato para formar lama biliar, que pode eventualmente agregar-se em cálculos biliares. Cálculos pigmentados Os cálculos de pigmento respondem por 25% dos casos. Esses cálculos são negros ou castanho- escuros, com 2 a 5 mm de diâmetro e amorfos. São compostos por uma mistura de bilirrubinato de cálcio, polímeros complexos de bilirrubina, ácidos biliares e outras substâncias não identificadas. A incidência é semelhante em ambos os sexos e em negros e brancos. Os fatores predisponentes são cirrose, estase biliar (p. ex., ducto colédoco estenosado ou muito dilatado) e hemólise crônica. Alguns pacientes com cálculos de pigmento apresentam maior concentração de bilirrubina não conjugada na bile. O exame de microscopia eletrônica revela que cerca de 90% dos cálculos de pigmento são compostos por misturas densas de bactérias e glicocálice bacteriano junto com pigmentos sólidos. Isso sugere que as bactérias tenham papel primordial na formação desses cálculos e ajuda a explicar por que pacientes com cálculos de pigmento evoluem com sepse mais frequentemente do que aqueles com cálculo de colesterol. Parece provável que a {b}- glicuronidase bacteriana seja responsável por desconjugar o diglicuronídeo de bilirrubina solúvel em bilirrubina não conjugada insolúvel, que subsequentemente é aglomerada pelo glicocálice, formando cálculos macroscópicos. Pretos: Ocorre pela precipitação do bilirrubinato de cálcio pelo excesso da solubilidade do cálcio e bilirrubina indireta Marrons: São comumente formados no ducto biliar como resultado de uma infecção bacteriana. Desconjugação excessiva pela beta- glicuronidase endógena. Hidrolisa o ácido glicurônico. Enzima produzida em caso de infecção bacteriana crônica. Acúmulo de BI e precipitação Cálculos pigmentados da vesícula são misturas complexas de sais de cálcio insolúveis de bilirrubina não conjugada, juntamente com sais de cálcio inorgânico. Os distúrbios que são associados a níveis elevados de bilirrubina não conjugada na bile, como anemias hemolíticas crônicas, disfunção ileal severa ou derivação, e contaminação bacteriana da árvore biliar, aumentam o risco de desenvolvimento de cálculos pigmentares. A bilirrubina não conjugada, normalmente, é um componente menor da bile, porém aumenta quando a infecção do trato biliar provoca a liberação de β- glicuronidases microbianas, que hidrolisam os glicuronídeos de bilirrubina. Portanto, a infecção do trato biliar por Escherichia coli, Ascaris lumbricoides ou o trematódeo C. sinensis aumenta a probabilidade da formação de cálculos pigmentares. Nas anemias hemolíticas, a secreção da bilirrubina conjugada na bile aumenta. Cerca de 1% dos glicuronídeos de bilirrubina é desconjugado na árvore biliar, e na configuração da secreção cronicamente elevada de bilirrubina conjugada, há uma quantidade suficientemente grandede bilirrubina desconjugada restante para permitir a formação de cálculos de pigmento. Manifestações clinicas Cerca de 80% dos portadores de cálculos biliares são assintomáticos. Nos demais, os sintomas variam de um tipo característico da dor (cólica biliar), colecistite a colangite grave com risco de morte. Cólica biliar é o sintoma mais comum. Cálculos podem atravessar o ducto cístico sem causar sintomas. Entretanto, a obstrução transitória do ducto cístico geralmente causa dor (cólica biliar). Caracteristicamente, a cólica biliar começa no hipocôndrio direito, mas pode ocorrer em outros locais do abdome. Ela costuma ser localizada de maneira ruim, principalmente em idosos e diabéticos. Pode irradiar ao membro superior ou às costas. Embora a cólica biliar possa ocorrer depois de refeições fartas, a ingestão de alimentos gordurosos não é um fator predisponente. Sintomas de dispepsia, como regurgitação, empanzinamento, plenitude e náuseas, são muitas vezes creditados, de forma incorreta, à litíase biliar. Esses sintomas são muito frequentes, apresentando prevalência semelhante em colelitíase, doenças úlcera péptica e doenças funcionais do trato gastrintestinal (GI). A cólica biliar apresenta Sinal de Murphy negativo e pode apresentar febre. A cólica biliar começa bruscamente e pode persistir com alta intensidade por 15 minutos a 5 horas, desaparecendo de modo gradual ou rápido. Um episódio de dor biliar que persiste por mais de 5 horas deve despertar a suspeita de colecistite aguda. Os cálculos biliares produzem habitualmente seus sintomas porque https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-gastrointestinais/gastrite-e-doen%C3%A7a-ulcerosa-p%C3%A9ptica/doen%C3%A7a-ulcerosa-p%C3%A9ptica Julia Paris Malaco– UCT15 causam inflamação ou obstrução após sua migração para dentro do ducto cístico ou DC. O sintoma mais específico e característico de doença vesicular é a cólica biliar, uma dor constante e, na maioria das vezes, duradoura. A obstrução do ducto cístico ou do DC por um cálculo produz elevação da pressão intraluminal e distensão da víscera que não podem ser aliviadas pelas contrações biliares repetitivas. A dor visceral resultante é caracteristicamente uma plenitude ou dolorimento intenso e constante no epigástrio ou quadrante superior direito (QSD) do abdome com frequente irradiação para a área interescapular, a escápula direita ou o ombro. Náusea e vômitos acompanham com frequência os episódios de dor biliar. Um nível elevado de bilirrubina sérica e/ou de fosfatase alcalina sugere um cálculo coledociano. Febre ou calafrios (arrepios) com dor biliar sugerem habitualmente uma complicação, isto é, colecistite, pancreatite ou colangite. As queixas com curta duração de plenitude epigástrica indefinida, dispepsia, eructações ou flatulência, especialmente após uma refeição gordurosa, não devem ser confundidas com dor biliar. Esses sintomas são induzidos com frequência em pacientes com ou sem doença calculosa biliar, porém sem serem específicos de cálculos biliares. A cólica biliar pode ser desencadeada pela ingestão de refeição gordurosa, pelo consumo de grande refeição após um período de jejum prolongado ou pela ingestão de refeição normal; é mais frequentemente noturna, ocorrendo poucas horas após deitar-se. A presença de qualquer um dos seguintes achados implica risco de evolução grave e provavelmente serve como razão para colescistectomia profilática: Cálculos grandes (> 2 cm de diâmetro), porque produzem colecistite aguda com maior frequência do que os menores; Vesícula biliar calcificada, em razão da associação frequente com carcinoma. Entretanto, a maioria dos pacientes assintomáticos não apresenta nenhuma característica especial. Se houver problemas cardiopulmonares ou outros problemas que aumentem o risco cirúrgico, a cirurgia não deve ser indicada. Para o paciente médio assintomático, não se justifica recomendar enfaticamente colecistectomia. Entretanto, a tendência tem sido operar os mais jovens e protelar nos idosos. Colecistite Colecistite aguda Em 80% dos casos, a colecistite aguda é causada por obstrução do ducto cístico por impactação de cálculo no fundo de saco de Hartmann. A vesícula biliar torna-se inflamada e distendida, produzindo dor abdominal e sensibilidade dolorosa à palpação. A história natural da colecistite aguda varia em função de alívio da obstrução, extensão da invasão bacteriana secundária, idade do paciente e presença de fatores agravantes, como diabetes melito. A maioria das crises resolve-se espontaneamente sem cirurgia ou outro tratamento específico, mas algumas evoluem com formação de abscesso ou perfuração com peritonite generalizada. As alterações patológicas na vesícula biliar evoluem com padrão característico: As primeiras alterações são edema e hemorragia subserosos e necrose da mucosa. Posteriormente, polimorfonucleares (PMNs) aparecem. O estágio final envolve o desenvolvimento de fibrose. Gangrena e perfuração podem ocorrer apenas 3 dias após a instalação, mas a maioria das perfurações ocorre durante a segunda semana. Manifestações clinicas Um episódio de colecistite aguda pode progredir para pancreatite aguda se um cálculo descer pelo colédoco, mas não passar pelo esfíncter de Oddi, bloqueando o ducto pancreático. De modo semelhante, uma vesícula inflamada pode se tornar infectada, ou pode sofrer infarto e necrose, preparando o cenário para sepse sistêmica se o paciente não receber antibióticos de amplo espectro sistêmicos nem se submeter a ̀ colecistectomia de emergência. Dor abdominal de início súbito, intensa, na região epigástrica ou no hipocôndrio direito, irradiando para o ombro direito ou para as costas (“cólica biliar”)- sinal de boas e kehr. A dor aumenta no decorrer de 2 a 3 minutos e atinge um platô de intensidade mantido por 20 minutos Náuseas e vômitos Crises dolorosas recorrentes após as refeições: surgem dentro de 1 a 6 horas após, durando cerca de 12 horas, com recuperação gradativa, geralmente em 3 dias Febre: leve a moderada Hipersensibilidade no hipocôndrio direito Sinal de Murphy: dor acompanhada de suspensão da fase inspiratória da respiração, a qual é provocada pela palpação do ponto Julia Paris Malaco– UCT15 cístico quando se pede ao paciente para fazer uma respiração profunda Sinal de Murphy ultrassonográfico é a reprodução do sinal de Murphy com a compressão da vesícula realizada pelo transdutor Icterícia Vesícula palpável: 5% dos pacientes Em geral, são quadros clínicos em que a doença parece ter complicado ou estar prestes a complicar: Febre alta (39 °C), leucocitose importante (> 15.000/mL) ou calafrios sugerem progressão supurativa. A colecistite acalculosa aguda deve ser colocada nessa categoria automaticamente. Quando o quadro geral do paciente for insatisfatório, o tratamento preferencial é a colecistostomia percutânea. Os pacientes com melhor estado geral devem ser tratados com colecistectomia. Colecistite crônica A colecistite crônica é a forma mais comum de doença sintomática da vesícula biliar e está associada a cálculos biliares em quase todos os casos. Em geral, o termo colecistite aplica-se sempre que estejam presentes cálculos biliares, independentemente do aspecto histológico da vesícula biliar. Episódios menores repetidos de obstrução do ducto cístico causam a cólica biliar intermitente e contribuem para inflamação e subsequente formação de fibrose. Manifestações clinicas Pode ser assintomática por longo tempo; em 20% dos pacientes, torna-se sintomática no decorrer de 15 a 20 anos. Quase sempre associada a cálculos biliares. Dispepsiaapós as refeições A cólica biliar, sintoma mais característico, é causada por obstrução transitória do ducto cístico por cálculo. Em geral, a dor inicia de maneira abrupta e desaparece gradualmente, durando poucos minutos a algumas horas. A dor da cólica biliar geralmente é constante – e não intermitente como a da cólica intestinal. Em alguns pacientes, as crises são pós-prandiais; em outros, não há relação com as refeições. A frequência das crises é muito variável, desde um problema praticamente contínuo até episódios com intervalos de muitos anos. Náusea e vômitos podem acompanhar a dor. A cólica biliar geralmente é sentida no quadrante superior direito, mas a dor epigástrica e no lado esquerdo do abdome é comum, e alguns pacientes podem queixar-se de dor precordial. A dor pode irradiar-se ao redor da borda costal para as costas ou pode ser referida à região da escápula. Durante a crise, é possível haver sensibilidade dolorosa à palpação do quadrante superior direito, e raramente a vesícula biliar será palpável. Intolerância a alimentos gordurosos, dispepsia, indigestão, azia, flatulência, náusea e eructações são outros sintomas associados aos cálculos biliares. Exames laboratoriais (aguda e crônica) A contagem de leucócitos geralmente está aumentada, entre 12.000 e 15.000/mL. Contagens normais são comuns, mas se a contagem estiver muito acima de 15.000, deve-se suspeitar de complicação. Aumento leve da bilirrubina sérica (entre 2 e 4 mg/dL) é comum, presumivelmente em razão da inflamação secundária do ducto colédoco a partir da vesícula biliar contígua. Valores da bilirrubina acima desses limites indicam a possibilidade de cálculos associados no ducto colédoco. As crises podem ser acompanhadas por aumento leve da fosfatase alcalina. Às vezes, a amilase sérica chega ou supera transitoriamente 1.000 unidades/dL. Exames complementares Hemograma: leucocitose de 12.000 a 15.000/dℓ Provas de função hepática: elevação das transaminases (AST, ALT), da fosfatase alcalina e da gama GT na vigência da obstrução do ducto comum Amilase sérica: pode estar discretamente aumentada Cintilografia com ácido iminodiacético (HIDA), TC (colecintilografia): altamente sensível (97%) para o diagnóstico da colecistite aguda. Não visualização da vesícula é altamente suspeita, indicando obstrução no cístico, devendo-se suspeitar de colecistite Radiografia simples do abdome (posição ortostática): 20% dos cálculos são radiopacos. Não costuma trazer apenas informações relevantes para o diagnóstico de colecistite aguda Ultrassonografia abdominal: melhor método para diagnosticar cálculos biliares e colecistite aguda Julia Paris Malaco– UCT15 Presença de ar na parede ou na luz da vesícula, decorrente de isquemia ou gangrena da vesícula biliar e infecção com bactéria produtora de gás (colecistite enfisematosa) TC abdominal: não tem vantagem sobre a ultrassonografia no diagnóstico de cálculos biliares e/ou colecistite aguda, sendo útil, porém, na detecção de abscessos. Tratamento (aguda e crônica) Dieta zero Reposição hidroeletrolítica. Antibióticos nem sempre são necessários (cerca de 50% dos pacientes não apresentam infecção bacteriana) Nos casos de leves a moderados, antes do resultado da cultura, utilizar uma cefalosporina de 2ª geração Nos casos mais graves, associar ampicilina, IV, 1 g, 6/6 h, a gentamicina, IV, 5 mg/kg/dia, e a metronidazol, IV, 500 mg, 8/8 h. Pode-se utilizar também cefalosporina de 3ª geração, associada a metronidazol ou clindamicina. Tratamento Cirúrgico: Colecistostomia convencional ou percutânea nos pacientes com elevado risco cirúrgico. A drenagem pode ser feita por técnicas radiológicas ou endoscópicas. Permite o controle da infecção e da icterícia por semanas e até meses. Coledocolitiase Cerca de 15% dos pacientes com cálculos na vesícula biliar abrigam cálculos também nos ductos biliares. Os cálculos no ducto colédoco geralmente são acompanhados por outros na vesícula biliar, mas em 5% dos casos a vesícula está vazia. O número de cálculos ductais varia de 1 a mais de 100. Há duas origens possíveis para os cálculos no ducto colédoco. As evidências sugerem que a maior parte dos cálculos de colesterol tenha origem na vesícula biliar, alcançando o ducto após passar pelo ducto cístico. Estes são denominados cálculos secundários. Os cálculos de pigmento podem ter origem semelhante ou, o que é mais frequente, originar-se de novo dentro do ducto colédoco. Estes são denominados cálculos primários do ducto comum. Cerca de 60% dos cálculos do ducto colédoco são de colesterol e 40% são de pigmento. Os últimos estão, na média, associados a manifestações clínicas mais graves. Os pacientes podem apresentar uma ou mais das manifestações clínicas principais que se seguem, todas causadas por obstrução do fluxo biliar ou do suco pancreático: cólica biliar, colangite, icterícia e pancreatite. Contudo, é provável que até 50% dos pacientes com coledocolitíase permaneçam assintomáticos. O ducto colédoco pode sofrer dilatação nos 2 a 3 cm proximais à obstrução, e ductos verdadeiramente enormes ocorrem em pacientes com tumores biliares. Nos casos de coledocolitíase ou de estenose biliar, a reação inflamatória restringe a dilatação que é, então, menos evidente. A dilatação do sistema de ductos no interior do fígado também pode ser limitada por cirrose. A cólica biliar resulta do aumento rápido na pressão biliar, independentemente de o bloqueio ocorrer no ducto colédoco ou no colo da vesícula biliar. A obstrução gradual do ducto – como no câncer – raramente produz o mesmo tipo de dor encontrada na litíase biliar. Manifestações clinicas Assintomática em 10 a 25% dos pacientes Icterícia flutuante acompanhada de prurido Cólica biliar Dor e hipersensibilidade no hipocôndrio direito Dor epigástrica Hipersensibilidade abdominal Anorexia Náuseas Vômitos Sinais de colangite Colúria (presença de pigmentos biliares na urina) Acolia (fezes claras por ausência de pigmentos biliares) Possibilidade de vesícula biliar palpável. A coledocolitíase pode ser assintomática ou produzir colangite toxêmica súbita, levando rapidamente à morte. A gravidade do quadro é proporcional ao grau de obstrução, ao período de evolução e à extensão da infecção bacteriana secundária. Cólica biliar, icterícia ou pancreatite podem ser achados isolados ou ocorrem em combinação junto com os sinais de infecção (colangite). A cólica biliar causada por obstrução do ducto colédoco não pode ser diferenciada da causada por cálculos na vesícula biliar. A dor pode ser localizada na região subcostal direita, no Julia Paris Malaco– UCT15 epigástrio ou, até mesmo, na região retroesternal. A dor referida à região escapular direita é comum. A possibilidade de coledocolitíase deve ser cogitada em caso de calafrios intermitentes, febre ou icterícia acompanhando a cólica biliar. Alguns pacientes observam colúria transitória durante as crises, mesmo quando não há icterícia evidente. O prurido geralmente resulta de obstrução persistente por longo prazo. É mais intenso no clima quente, quando o paciente transpira, e geralmente é pior nos membros do que no tronco. É muito mais comum com obstrução neoplásica do que naquela produzida por cálculos biliares. O paciente pode estar ictérico e toxêmico, com febre alta e calafrios, ou pode aparentar ótima saúde. É raro que a vesícula biliar esteja palpável nos pacientes com icterícia obstrutiva do ducto colédoco, uma vez que a obstrução é transitória e parcial e a fibrose da vesícula biliar a torna inelástica e não distensível. É possívelque haja sensibilidade dolorosa à palpação do quadrante superior direito, mas geralmente não é tão evidente quanto nos quadros de colecistite aguda, úlcera péptica perfurada ou pancreatite aguda. É possível haver aumento doloroso do fígado. Diagnóstico Exames laboratoriais Na colangite, é comum haver leucocitose de 15.000/mL e valores acima de 20.000/mL são comuns. Com frequência, ocorre elevação da bilirrubina sérica nas 24 horas após o início dos sintomas. O nível absoluto mantém-se abaixo de 10 mg/dL e, na maioria dos casos, varia entre 2 e 4 mg/dL. A fração direta é maior que a indireta, mas esta última está aumentada na maioria dos casos. A dosagem de bilirrubina geralmente não atinge os valores encontrados nos tumores malignos, já que a obstrução costuma ser parcial e transitória. De fato, a icterícia flutuante é tão característica da coledocolitíase que serve, com razoável confiabilidade, para diferenciar obstrução benigna de obstrução maligna. O nível sérico da fosfatase alcalina geralmente está elevado e talvez seja a única alteração bioquímica nos pacientes sem icterícia. Quando a obstrução é aliviada, a fosfatase alcalina e a bilirrubina voltam aos seus níveis normais em 1 a 2 semanas, exceto se a obstrução tiver sido prolongada, situação em que a primeira pode manter-se elevada por mais tempo. Observam-se aumentos discretos na AST e ALT com obstrução extra-hepática dos ductos; em poucos casos, a dosagem de AST alcança 1.000 unidades transitoriamente. Exames complementares Bilirrubinas: aumentadas Fosfatase alcalina e gama GT: elevadas Hipercolesterolemia (quando associada a colestase crônica) Transaminases (AST, ALT): aumento discreto Ultrassonografia abdominal (método de escolha). Detecta 95% dos cálculos Colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) Colangiografia trans-hepática percutânea TC do abdome RM das vias biliares Colangiografia intra-operatória: defeitos de enchimento do ducto biliar comum Coledocofibroscopia intra-operatória Colecintilografia em casos especiais Ecoendoscopia. Tratamento Evolução e prognóstico Prognóstico depende das complicações Bom prognóstico, com diagnóstico precoce e tratamento adequado Evolução desfavorável, nos casos não tratados, pelas graves complicações que podem ocorrer. Tratamento: Alívio da dor Tratamento Medicamentoso: Antibióticos nos casos de colangite Tratamento Cirúrgico Remoção cirúrgica de cálculos Nos casos em que a vesícula biliar já foi removida: CPRE com papilotomia, juntamente com extração dos cálculos Em pacientes idosos, a CPRE e a papilotomia com remoção dos cálculos podem evitar colecistectomia Fragmentação do cálculo com ondas de choque (litotripsia). Colangite Inflamação bacteriana dos ductos biliares, intra- ou extra-hepáticos, associada à obstrução desses ductos ou a condições que possibilitem o refluxo de bactérias do intestino delgado. Pode ser aguda, crônica ou recorrente. Ocorre com mais Julia Paris Malaco– UCT15 frequência entre os 50 e os 70 anos de idade, com rara incidência em crianças. A colangite esclerosante primária é uma inflamação, com cicatrização progressiva e estreitamento dos dutos biliares dentro e fora do fígado. Por fim, os dutos ficam obstruídos e, em seguida, são obliterados. Poderá ocorrer cirrose, insuficiência hepática e, às vezes, câncer nos dutos biliares. Tríade de Charcot: Dor no hipocôndrio direito Icterícia Febre com calafrios Pêntade de Reynolds: Tríade de Charcot Hipotensão arterial Depressão do sistema nervoso central. Dados clínicos + exames laboratoriais + exames de imagem Exames complementares Hemograma: leucocitose com desvio para a esquerda Fosfatase alcalina e gama GT: elevação em 90% dos casos Hemocultura: positiva em 50% dos casos (gram-negativos e anaeróbios) Ultrassonografia: permite identificar cálculos biliares e o tamanho do ducto biliar comum Colangiografia: exame mais importante Colangiografia trans-hepática percutânea (CTP) Colangiopancreatografia retrógrada endoscópica RM das vias biliares, em casos selecionados TC: pouco valor diagnóstico. Evolução e prognóstico Pode evoluir para colangite esclerosante secundária Taxa de mortalidade de 5% Taxa de mortalidade mais elevada na colangite tóxica Tratamento Medicamentoso Ampicilina, IV, 1 g, 6/6 h, associada a gentamicina, IV ou IM, 5 mg/kg/dia e a metronidazol, IV, 500 mg, 8/8 h Cefalosporina de 3ª geração, associada a metronidazol ou clindamicina Anatomia e fisiologia do pâncreas Se encontra na região retroperitoneal no abdome superior É uma glândula que pode ser dividida em 3 porções – cabeça, corpo e cauda. A cabeça do pâncreas possui íntimo contato com a porção medial do duodeno e encontra-se anteriormente à veia cava inferior e aos vasos mesentéricos superiores. O colédoco passa por um sulco posterior na cabeça do pâncreas adjacente ao duodeno. O corpo do pâncreas mantém contato posterior com a aorta, o pilar esquerdo do diafragma, a suprarrenal esquerda e o rim esquerdo. A cauda do pâncreas encontra-se no hilo esplênico. O ducto pancreático principal (ducto de Wirsung) se estende ao longo da glândula desde a cauda até a cabeça e une-se ao colédoco, imediatamente antes de entrar no duodeno pela ampola de Vater. O suprimento sanguíneo para o pâncreas deriva de ramos das artérias celíaca e mesentérica superior. A artéria pancreaticoduodenal superior tem origem na artéria gastroduodenal, segue paralela ao duodeno e, por fim, encontra a artéria pancreaticoduodenal inferior, ramo da artéria mesentérica superior, para formar uma arcada. A artéria esplênica emite ramos que nutrem o corpo e a cauda do pâncreas. Os ramos principais são denominados artérias pancreáticas dorsal, magna e inferior. A drenagem venosa da glândula é feita por ramos paralelos ao suprimento arterial. A drenagem linfática distribui-se para os linfonodos peripancreáticos localizados ao longo das veias. Julia Paris Malaco– UCT15 Relações anatômicas A inervação do pâncreas é feita pelos nervos vagal e esplâncnico. As fibras eferentes passam pelo plexo celíaco desde o ramo celíaco do nervo vago direito e terminam nos gânglios localizados no septo interlobular do pâncreas. Fibras pós-ganglionares a partir dessas sinapses inervam os ácinos, as ilhotas e os ductos. As fibras viscerais aferentes vindas do pâncreas também cursam pelos nervos vago e esplâncnico, mas aquelas responsáveis pela transmissão da dor ficam restritas ao último. As fibras simpáticas para o pâncreas cursam dos nervos esplâncnicos passando pelo plexo celíaco para inervar a vasculatura pancreática. Histologia O componente endócrino corresponde apenas a 2% do pâncreas e é representado por ilhotas pancreáticas (de Langerhans). Elas estão dispersas no componente exócrino do pâncreas, a maioria delas na região da cauda. Essas ilhotas são demarcadas do resto do parênquima por uma delicada rede de fibras reticulares. . Existem quatro tipos principais de células nas ilhotas pancreáticas: Células B (beta) - estas células secretam insulina e constituem cerca de 70% das células das ilhotas. Elas estão comumente localizadas na parte central da ilhota. Células A (alfa) - estas células secretam glucagon e constituem 15-20% das células das ilhotas. Células D (delta) - estas células secretam somatostatina e constituem 5-10% das célulasdas ilhotas. Elas estão localizadas difusamente em toda a ilha, mas são mais comuns na periferia. Células PP (produtoras de polipeptídeo pancreático) - estas células secretam polipeptídeo pancreático e constituem <5% das células das ilhotas. Elas se concentram mais na cabeça do pâncreas Fisiologia Função exócrina: A secreção exócrina do pâncreas é formada por uma solução clara e alcalina (pH 7,0-8,3) contendo enzimas digestivas. A secreção é estimulada pelos hormônios secretina e colecistoquinina (CCK) e por descarga parassimpática vagal. A secretina e a CCK são sintetizadas, armazenadas e liberadas por células da mucosa duodenal em resposta a estímulos específicos. O ácido presente na luz do duodeno estimula a liberação de secretina, e produtos da digestão luminal de gordura estimulam a liberação da CCK. A secreção de água e eletrólitos é formada por células centroacinares e ductais intercaladas, principalmente em resposta à estimulação pela secretina. A secreção é modificada por processos de troca e secreção ativa no sistema coletor ductal. Os cátions sódio e potássio estão presentes nas mesmas concentrações apresentadas no plasma. Os ânions bicarbonato e cloro variam suas concentrações em função da taxa de secreção: quanto maior a taxa de secreção, maior a concentração de bicarbonato e menor a de cloro, de forma que a resultante para os dois é a Julia Paris Malaco– UCT15 mesma ao longo de toda a secreção. O suco pancreático ajuda a neutralizar o ácido gástrico no duodeno e ajusta o pH luminal ao nível ideal para a atividade das enzimas pancreáticas. As enzimas pancreáticas são sintetizadas, armazenadas (na forma de grânulos de zimogênio) e liberadas, principalmente em resposta à estimulação por CCK e vagal. As enzimas pancreáticas são proteolíticas, lipolíticas e amilolíticas. A lipase e a amilase são armazenadas e secretadas nas suas formas ativas. As enzimas proteolíticas são secretadas como precursores inativos e ativados pela enzima duodenal enteroquinase. Ribonuclease e fosfolipase A são outras enzimas secretadas pelo pâncreas. A fosfolipase A é secretada na forma de uma pró-enzima inativa que é ativada no duodeno pela tripsina. Ela catalisa a conversão da lecitina biliar em lisolecitina. A renovação proteica no pâncreas é maior do que em qualquer outro órgão. Os aminoácidos injetados no sangue são incorporados em proteínas enzimáticas e podem aparecer no suco pancreático em uma hora. Três mecanismos impedem a autodigestão no pâncreas por suas enzimas proteolíticas: As enzimas são armazenadas em células acinares na forma de grânulos de zimogênio, onde ficam separadas de outras proteínas celulares; As enzimas são secretadas na forma inativa; e Há inibidores das enzimas proteolíticas presentes no suco pancreático e no tecido do pâncreas. Função endócrina: A função do pâncreas endócrino é facilitar o armazenamento de alimentos por meio da liberação de insulina após as refeições e prover um mecanismo para sua mobilização por meio da liberação de glucagon nos períodos de jejum. Insulina e glucagon, assim como o polipeptídio pancreático e a somatostatina, são produzidos pelas ilhotas de Langerhans. A insulina, um polipeptídio, é sintetizada nas células β (beta) do pâncreas a partir do seu precursor, a pró-insulina. A secreção de insulina é estimulada por concentrações séricas crescentes de substratos metabólicos, como glicose, aminoácidos e, talvez, ácidos graxos de cadeia curta. Normalmente, o principal estímulo para a liberação de insulina parece ser a glicose. Liberação e síntese de insulina são estimulados pela ativação de glicorreceptores específicos localizados na membrana celular das células β. A liberação de insulina também é estimulada por cálcio, glucagon, secretina, CCK, polipeptídio intestinal vasoativo (VIP) e gastrina, os quais sensibilizam os receptores nas células β para a glicose. Epinefrina, tolbutamida e clorpropamida liberam insulina atuando sobre o sistema da adenilciclase. As principais funções da insulina são estimular reações anabólicas envolvendo carboidratos, gorduras, proteínas e ácidos nucleicos. A insulina reduz glicogenólise, lipólise, proteólise, gliconeogênese, ureagênese e cetogênese. O glucagon é sintetizado pelas células α do pâncreas. A liberação de glucagon é estimulada por baixas concentrações de glicose no sangue, aminoácidos, catecolaminas, descarga simpática e CCK. E é suprimida por hiperglicemia e insulina. O glucagon estimula a glicogenólise no fígado e proteólise e lipólise no tecido adiposo assim como no fígado. Com o aumento da lipólise, há aumento na cetogênese e na gliconeogênese. O glucagon aumenta o AMPc no fígado, no coração, nos músculos esqueléticos e no tecido adiposo. A regulação de curto prazo da gliconeogênese depende do equilíbrio entre insulina e glucagon. Pancreatite Pancreatite Aguda: A pancreatite aguda, que é um episódio discreto de lesão celular e inflamação no pâncreas, é deflagrada pela liberação de enzimas digestivas para o pâncreas e tecidos peripancreáticos. Embora após o surto agudo possa existir recuperação da estrutura e da função pancreáticas, a recuperação completa é improvável se o dano inicial for substancial, particularmente se o episódio original for associado à necrose pancreática significativa. Com episódios repetidos, pode haver um desvio de inflamação aguda, necrose e apoptose para um ambiente de inflamação crônica, ativação de células estreladas pancreáticas, destruição contínua de tecidos e, por último, a fibrose característica de pancreatite crônica. Cerca de 25% dos pacientes com pancreatite aguda irão ter uma recorrência, e cerca de 10% irão desenvolver pancreatite crônica. Pancreatite Crônica: A pancreatite crônica, que é uma síndrome de múltiplos fatores de risco predisponentes, culmina numa via final comum de lesão pancreática permanente e irreversível, caracterizada por inflamação crônica, destruição de estruturas celulares (acinares) normais e fibrose. A pancreatite crônica normalmente surge após episódios de pancreatite aguda, alguns dos quais Julia Paris Malaco– UCT15 podendo ter sido subclínicos, mas às vezes é difícil identificar a transição entre pancreatite aguda e crônica. Pancreatite biliar: Cerca de 40% dos casos de pancreatite estão associados à litíase biliar, que, se não tratada, geralmente causará outras crises agudas. A erradicação da doença biliar quase sempre previne pancreatite recorrente. O mecanismo etiológico provavelmente é obstrução transitória da ampola de Vater e do ducto pancreático por cálculo. A coledocolitíase é encontrada em apenas 25% dos casos, mas como cerca de 90% dos pacientes excretam um cálculo nas fezes nos 10 dias seguintes a uma crise aguda, presume-se que a maioria das crises seja causada por cálculo ou lama biliar passando pelo ducto comum e pela ampola de Vater. Pancreatite alcoólica: O alcoolismo responde por cerca de 40% dos casos de pancreatite. Caracteristicamente, os pacientes são grandes consumidores de bebidas com alto teor de álcool ou de vinho; Com frequência, a pancreatite alcoólica é considerada sinônimo de pancreatite crônica, independentemente das manifestações clínicas. A administração aguda de álcool estimula a secreção pancreática e induz espasmo do esfíncter de Oddi. Essa situação foi comparada com experimentos nos quais se produziu pancreatite aguda combinando obstrução ductal parcial com estimulação da secreção. Se o paciente puder ser convencido a parar de beber, as crises agudas poderão ser evitadas, mas o dano ao parênquima continuará ocorrendo em razão da persistência de obstrução e fibrose ductais. Hipercalcemia: Hiperparatireoidismoe outras doenças acompanhadas por hipercalcemia ocasionalmente são complicadas por pancreatite aguda. Com o passar do tempo, surgem pancreatite crônica e cálculos ductais. O aumento na concentração de cálcio no suco pancreático resultante da hipercalcemia pode ativar prematuramente as proteases. Também pode facilitar a precipitação dos cálculos nos ductos. Hiperlipidemia: Em alguns pacientes – especialmente nos alcoolistas – a hiperlipidemia ocorre transitoriamente durante crises de pancreatite aguda; em outros, com hiperlipidemia primária (especialmente naqueles com elevação de quilomicra e das lipoproteínas de densidade muito baixa), a pancreatite parece ser consequência direta de anormalidades metabólicas. Em geral, a hiperlipidemia durante a crise de pancreatite aguda está associada a níveis séricos normais de amilase, porque o lipídio interfere com a determinação química dessa enzima; o débito urinário da amilase ainda pode estar alto. Deve-se sempre inspecionar o soro de todos os pacientes com dor abdominal aguda, porque, se estiver leitoso, a pancreatite quase sempre será o diagnóstico correto. Se houver uma anormalidade lipídica primária, o controle da dieta reduz a chance de crises adicionais de pancreatite assim como de outras complicações. Pancreatite familiar: Neste quadro, as crises de dor abdominal geralmente se iniciam na infância. Algumas famílias afetadas também apresentam aminoacidúria, mas esse não é um achado universal. Diabetes melito e esteatorreia são incomuns. Finalmente ocorre pancreatite calcificada crônica na maioria dos pacientes e muitos passam a ser candidatos a tratamento cirúrgico de dor crônica. O carcinoma pancreático é mais frequente nos pacientes com pancreatite familiar. Fisiopatologia O conceito de que a pancreatite é causada por digestão enzimática da glândula é corroborado pela presença de enzimas proteolíticas no líquido ascítico e de maiores quantidades de fosfolipase A e lisolecitina no tecido pancreático de pacientes com pancreatite aguda. Experimentalmente, é possível produzir pancreatite facilmente, injetando-se sob pressão enzimas ativadas no ducto pancreático. A tripsina não foi encontrada em quantidades excessivas no tecido pancreático de seres humanos afetados, possivelmente em razão de sua inativação por seus inibidores. De qualquer forma, embora as evidências disponíveis não sejam conclusivas, a autodigestão é quase universalmente aceita. Outros fatores propostos são insuficiência vascular, congestão linfática e ativação do sistema calicreína-cinina. Fosfolipase A, a lipase e a elastase como provavelmente são as porteinas com maior nível de agressão pancreática. A tripsina normalmente não ataca células vivas e, mesmo quando forçada a entrar no espaço intersticial, a pancreatite resultante não inclui necrose de coagulação, uma característica proeminente na pancreatite humana. A fosfolipase A, na presença de pequenas quantidades de sais biliares, ataca fosfolipídios livres (p. ex., lecitina) e aqueles ligados à membrana celular para produzir liso-compostos Julia Paris Malaco– UCT15 extremamente potentes. A lisolecitina, que resultaria da ação da fosfolipase A sobre a lecitina biliar, ou da própria fosfolipase A sobre os sais biliares, é capaz de produzir pancreatite grave com necrose. A tripsina é importante nesse contexto, porque pequenas quantidades são necessárias para ativar a fosfolipase A, a partir de seu precursor inativo. A elastase, que é elastolítica e proteolítica, é secretada na forma inativa. Como é capaz de digerir as paredes dos vasos sanguíneos, supõe-se que a elastase seja importante na patogênese da pancreatite hemorrágica. Se a autodigestão é a via final comum na pancreatite, as etapas iniciais devem explicar a presença de enzimas ativadas e seus produtos de reação nos ductos e seu escape para o interstício. As teorias mais populares que tentam ligar os fatores etiológicos conhecidos com a autodigestão são as seguintes. O alcoolismo crônico causa a maior parte dos casos de pancreatite crônica, mas alguns poucos se devem a cálculos biliares, hipercalcemia, hiperlipidemia, obstrução do ducto por qualquer causa ou predisposição hereditária (pancreatite familiar). O traumatismo direto na glândula, seja por trauma ou por lesão cirúrgica, pode produzir pancreatite crônica caso ocorra estenose de ducto no processo de cicatrização. Nesses casos, a doença costuma ser localizada no segmento da glândula drenado pelo ducto obstruído. Embora a litíase biliar possa causar crises repetidas de pancreatite aguda, raramente ela causa pancreatite crônica. Nos pacientes com pancreatite crônica a pressão intraductal está aumentada (cerca de 40 cm H2O) em comparação com a dos indivíduos normais (cerca 15 cm H2O). Isso ocorre em razão de aumento da viscosidade do suco pancreático, obstrução por cálculos e redução da distensibilidade da glândula em razão de fibrose difusa. A pressão no esfíncter se mantém nos limites normais. O aumento da pressão causa dilatação do ducto nos pacientes em que o pâncreas ainda não esteja rígido por fibrose. Também reduz o fluxo de sangue nutriente causando dano funcional adicional. As alterações patológicas na glândula são destruição de parênquima, fibrose, desdiferenciação acinar, cálculos e dilatação ductal Pancreatite Aguda A pancreatite aguda é caracterizada por lesão reversível do parênquima pancreático associada à inflamação e tem diversas etiologias. A pancreatite aguda resulta da liberação e ativação inadequadas de enzimas pancreáticas, que destroem o tecido pancreático e estimulam uma reação inflamatória aguda. Como discutido, as enzimas pancreáticas, incluindo a tripsina, são sintetizadas na forma de pro-enzimas inativas. A ativação intrapancreática inapropriada de tripsina pode, por sua vez, provocar a ativação de outras proenzimas, tais como a pró-fosfolipase e a pró-elastase que, em seguida, degradam as células adiposas e danificam as fibras elásticas dos vasos sanguíneos, respectivamente. A tripsina também converte a pré-calicreína em sua forma ativada, estimulando desse modo o sistema de cininas e, pela ativação do fator da coagulação XII, os sistemas de coagulação e complemento também. A consequente inflamação e as tromboses de pequenos vasos (que podem levar à congestão e ruptura de vasos já enfraquecidos) danificam as células acinares, ampliando ainda mais a ativação intrapancreática das enzimas digestivas. Ainda não está totalmente esclarecido como ocorre a ativação inapropriada das enzimas pancreáticas em formas esporádicas de pancreatites agudas, porém há evidências de pelo menos três principais eventos. Sintomas comuns Dor contínua e profunda na região epigástrica e periumbilical (dor em faixa) que pode se irradiar para dorso, tórax, flanco e abdome inferior; Náuseas, vômitos, distensão abdominal. Exame físico: Febrícula, taquicardia e hipotensão; Nódulos cutâneos eritematosos devidos à necrose da gordura subcutânea; Estertores nas bases pulmonares e derrame pleural (comumente à esquerda); Dor à palpação abdominal e rigidez, ruídos hidroaéreos diminuídos e massa palpável no abdome superior; Sinal de Cullen: coloração azul na área periumbilical devida ao hemoperitônio; Sinal de Turner: coloração azul-vermelho- púrpura ou verde-castanha dos flancos em razão do catabolismo tecidual da hemoglobina. Pancreatite aguda apresenta-se habitualmente com sintomas de dor abdominal, náuseas e Julia Paris Malaco– UCT15 vômitos acompanhados por elevação dos níveis séricos de amilase, lipase ou ambas, e pela evidência radiológica de inflamação, edema ou necrose do pâncreas. A crise
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