Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Livro Didático Digital Unidade 03 Glória Freitas Educação das Relações Étnico-Raciais Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Diretora Editorial ANDRÉA CÉSAR PEDROSA Projeto Gráfico MANUELA CÉSAR ARRUDA Autora GLÓRIA FREITAS Desenvolvedor CAIO BENTO GOMES DOS SANTOS GLÓRIA FREITAS Olá. Meu nome é Glória Freitas. Sou graduada em Pedagogia, com mestrado e doutorado na área de educação, com diversas experiências técnico-profissionais, na área de Educação, desde 1984, percorrendo inicialmente pela Educação Básica (na Educação Infantil e no Ensino Fundamental I) em Escolas, posteriormente lecionando em formações docentes em Organizações Governamentais e Não Governamentais (ONG’s e OSCIPs), e a partir de 1990, lecionando os fundamentos e metodologias de ensino, na Formação Docente Inicial e Pós-Graduação, no Ensino Superior, em Universidades Públicas e Particulares, em São Paulo, Paraná, Ceará, Rondônia e Maranhão. Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! A AUTORA INTRODUÇÃO: para o início do desen- volvimento de uma nova competência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações es- critas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e inda- gações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamento do seu conhecimento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou discutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últimas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma ativi- dade de autoaprendi- zagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; Olá. Meu nome é Manuela César de Arruda. Sou a responsável pelo projeto gráfico de seu material. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: ICONOGRAFIA SUMÁRIO Refletindo sobre a Diversidade Cultural e sobre o respeito às diferenças.....................................................................10 Refletindo sobre a Diversidade Cultural e sobre o respeito às diferenças: questões iniciais e essências sobre diversidade e diferenças nas práticas pedagógicas ...................................10 Refletindo sobre a Diversidade Cultural e sobre às diferenças, nas práticas pedagógicas: diferenças ambiental-ecológica, étnico-racial, de gêneros, faixas geracionais, classes sociais, religiões, necessidades especiais, escolhas sexuais, entre outras.................................................................................13 Aplicando a Diversidade Cultural Brasileira na Prática Docente ............................................................................24 Aplicando a Diversidade Cultural Brasileira na Prática Docente: Histórias, pensamentos e conquistas ..................24 Aplicando a Diversidade Cultural Brasileira na Prática Docente: Refletindo sobre o futuro do respeito às diferenças.....................33 Desenvolvendo uma Prática Pedagógica que contemple o Outro e suas Semelhanças e Diferenças...........................40 Avaliando a Necessidade de Repensar o Papel do Educador diante da Diversidade Cultural .......................................48 Educação das Relações Étnico-Raciais 7 UNIDADE 03 Educação das Relações Étnico-Raciais8 A diversidade é inerente ao ser humano e é uma importante discussão a ser considerada no trabalho escolar. Nesse sentido, é necessário discutir inovações nas ações pedagógicas para que a escola pare de reproduzir sujeitos fragmentados e assuma uma proposta pluricultural para melhor atender as necessidades dos sujeitos e da sociedade que ele está inserido. Você estudará na Unidade 3 sobre a Prática Pedagógica que contemple o Outro em suas semelhanças e diferenças, levando em conta a Diversidade Cultural. preparado? Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo! INTRODUÇÃO Educação das Relações Étnico-Raciais 9 Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 3. Nosso propósito é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o término desta etapa de estudos: • Refletir sobre a Diversidade Cultural e sobre o respeito às diferenças ambiental ecológica, étnico-racial, de gêneros, faixas geracionais, classes sociais, religiões, necessidades especiais, escolhas sexuais, entre outras. • Entender a Diversidade Cultural Brasileira na Prática Docente. • Desenvolver uma Prática Pedagógica que contemple o Outro e suas Semelhanças e Diferenças. • Compreender a Necessidade de Repensar o Papel do Educador diante da Diversidade Cultural. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! OBJETIVOS Educação das Relações Étnico-Raciais10 Refletindo sobre a Diversidade Cultural e sobre o respeito às diferenças INTRODUÇÃO Ao término deste capítulo você será capaz de compreender o desenvolvimento de uma Prática Pedagógica que contemple o Outro em suas semelhanças e diferenças, levando em conta a Diversidade Cultural. Inicialmente você irá refletir sobre a Diversidade Cultural e sobre o respeito às relevantes diferenças, como as diferenças ambiental-ecológica, étnico-racial, de gêneros, entre as faixas geracionais, classes sociais, religiões, necessidades especiais, escolhas sexuais, entre outras. Em seguida, você pensará sobre a necessária tarefa de aplicar a Diversidade Cultural Brasileira na Prática Docente, percorrendo Histórias, pensamentos, conquistas e refletindo sobre o futuro do respeito às diferenças. Ainda refletindo sobre a prática pedagógica, você focará em reflexões sobre como desenvolver uma Prática Pedagógica que contemple o Outro e suas Semelhanças e Diferenças. E, por fim, você vai avaliar a necessidade de repensar o papel do Educador diante da Diversidade Cultural. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Refletindo sobre a Diversidade Cultural e sobre o respeito às diferenças: questões iniciais e essências sobre diversidade e diferenças nas práticas pedagógicas Refletindo sobre a Diversidade Cultural e sobre o respeito às diferenças, você tomará contato com as questões iniciais e essências sobre diversidade e diferenças, e, tais aprendizagens farão enorme diferença nas suas futuras práticas pedagógicas, além de fornecer elementos para refletir sobre erros de algumas atuais práticas pedagógicas que não levam em conta nem as diversidades culturais e nem as diferenças entre as pessoas. Educação das Relações Étnico-Raciais 11 Você vai começar esta leitura com uma reflexão sobre a Diversidade Cultural e sobre o respeito às diferenças, tomando consciência de questões iniciais e essências sobre diversidade e diferenças, dentro das (e nas) práticas pedagógicas. Isso significa que você vai refletir sobre a Diversidade Cultural e as Diferenças, juntas e dentro das escolas. A Diversidade Cultural precisa ser vista como a expressão de opostos. Sobre este tema é possível afirmar que a Diversidade Cultural é diversa, [...] ou seja, não se constitui como um mosaico harmônico, mas um conjunto de opostos, divergentes e contraditórios. A Diversidade Cultural é cultural e não natural, ou seja, resulta das trocas entre sujeitos, grupos sociaise instituições a partir de suas diferenças, mas também de suas desigualdades, tensões e conflitos. (BARROS, 2008, p.18) E, é possível ainda afirmar que a Diversidade Cultural surge como uma resposta a algo que já era uma indagação, além de significar a procura decidida de um sujeito, e não exclusivamente uma constatação antropológica. É o resultado de uma construção deliberada, e não apenas um pressuposto, um ponto de partida. Um projeto, e não apenas um inventário (BARROS, 2008, p.19). Na busca de entender pelo ponto de vista cultural, o que é a diversidade, os caminhos poderão levar ao entendimento da diversidade como a construção ao mesmo tempo, histórica, cultural e social das diferenças. Algo é incontestável: A Diversidade Cultural se realiza no humano, ao longo da História. E é nesse contexto que as relações raciais se configuram, constroem e reconstroem. E o que afirmar sobre as diferenças? Existe um encontro entre o tema da diversidade cultural e das diferenças. E ficará evidente que por mais que cada comunidade seja distinta da outra, e que seus membros compartilhem idênticos ou semelhantes atos, festas, comemorações e modos de sentir e pensar, cada um de seus membros aprenderá socialmente a pertencer a uma determinada diversidade cultural, e, assim, carregar suas diferenças. Educação das Relações Étnico-Raciais12 As mais novas gerações aprendem de mãos dadas com as mais antigas, seus mestres e com os legados deixados pelos seus antepassados, chamados de ancestrais. E como estas pessoas, em seus grupos, com as suas diversidades culturais, agem nas e com as diferenças? O Antropólogo Claude Lévi-Strauss, já em 1950, naquele cenário posterior aos horrores da 2.ª grande guerra, no discurso sobre Raça e História, para a UNESCO, já havia proposto três principais marcações conceituais para a compreensão e atuação com a diversidade cultural. Lévi-Strauss afirmou com relação a diversidade cultural que era imprescindível que ela fosse realizada de tais formas a permitir diálogos generosos entre as distintas diversidades culturais (KAUARK; BARROS; TORREÃO; MIGUEZ, 2015). Segundo o entendimento do importante estudioso francês e que morou em São Paulo, na juventude, deu aulas na Universidade de São Paulo e visitou alguns dos nossos povos indígenas, no Brasil, ele considerou que era importante uma reflexão sobre a compreensão da inexistência de uma relação de causa e efeito entre as diferenças culturais e as diferenças no plano biológico. O que isso quer dizer? Que não podemos acreditar em inatismo de nossas diferenças que são culturais. As nossas diferenças biológicas nem as causam e nem produzem efeitos sobre elas. As diferenças não se limitam a biologia. Existe desde 2007 uma convenção que trata da garantia da soberania, relacionada ao respeito às políticas culturais. É a Convenção da Unesco sobre a Proteção e a Promoção da Diversidade das Expressões Culturais. E que em sua história vem sendo utilizada como um instrumento para pressionar diversos governos, na busca da construção e manutenção de poderosas políticas públicas, capazes de promover e proteger a diversidade cultural. E neste documento da UNESCO, a diversidade cultural é vista como um valor universal, repassando uma ideia que os bens e serviços culturais possuem valores e sentidos que demandam tratamentos diferenciados, incidindo sobre os nossos direitos a diversidade cultural. Quando um Governo, Técnicos Educacionais de uma Secretária Estadual ou Municipal de Educação, seus conscientes coordenadores Educação das Relações Étnico-Raciais 13 pedagógicos, e ainda, os seus professores reflexivos tomam a iniciativa de cumprir as legislações relacionadas à educação e que zelam pela existência de um planejamento de atividades educacionais, que levem em conta a diversidade cultural e as diferenças, é necessário louvar todos estes esforços! O fato é que as existências das legislações, nas instâncias federal, estadual e municipal não determinam que as práticas pedagógicas serão profundamente tocadas e focadas, na Diversidade Cultural e no respeito às diferenças. SAIBA MAIS Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso à seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Vídeo - Brasil: DNA África. Trata da origem dos afrodescendentes e a importância dos africanos na construção do Brasil. O projeto está baseado em três eixos: o histórico, o cultural e o científico. Acessível pelo link: http://bit.ly/2tVkt29 Refletindo sobre a Diversidade Cultural e sobre às diferenças, nas práticas pedagógicas: diferenças ambiental- ecológica, étnico-racial, de gêneros, faixas geracionais, classes sociais, religiões, necessidades especiais, escolhas sexuais, entre outras Refletindo sobre a Diversidade Cultural e sobre às diferenças, nas práticas pedagógicas faz-se necessário lançar mão de reflexões sobre as diferenças ambiental-ecológica, étnico-racial, de gêneros, faixas geracionais, classes sociais, religiões, necessidades especiais, escolhas sexuais, entre outras. É necessário comemorar tais práticas pedagógicas e tais políticas públicas que as amparam, bem como os legisladores que constituíram http://bit.ly/2tVkt29 Educação das Relações Étnico-Raciais14 estes relevantes marcos legais. É importante que as políticas educacionais de integração democrática das diversidades, contemplem problemas comuns à questão do negro e à questão do índio, outras deverão contemplar especificidades próprias de cada grupo. E, que, ainda, nossas políticas educacionais oportunizem uma educação de cultura, através de campanhas massivas e intensivas de ‘fabricação’ contra-hegemônica de identidades de negros e índios como atores sociais partícipes do processo de construção do País. E isso é possível acontecer se existirem, no seio da sociedade, políticas Públicas inúmeras e potentes, não somente as políticas públicas educacionais, mas também as políticas afirmativas ostensivas de presença negra e presença índia nas mídias, de assunção às esferas decisórias, de cotas de vagas em escolas e, no caso dos negros, de quotas de empregos nas diversas atividades econômicas. Assim, antes de pensar nas Práticas pedagógicas é necessário a luta ou a preservação, a depender do momento histórico que passa o país, de algumas políticas educacionais, que contemple as especificidades das populações afro-brasileiras e das populações indígenas. No caso das populações indígenas, a questão do bilinguismo continua sendo uma questão crucial. Isso significa manter a língua materna! Não podemos falar em contemplar a diversidade cultural e as diferenças étnico-raciais brasileiras, sem pensar em manter as línguas maternas indígenas. Muitos povos indígenas conservam sua língua, mas a tendência de perda é cada vez mais acentuada. Isso para falar em um único seguimento de nossas diferenças, no recorte étnico-racial, com foco nas línguas. Mas existem muitos outros! Gersem dos Santos Luciano (2006), Gersem Baniwa, indígena brasileiro, do Povo Indígena Baniwa, da Amazônia Brasileira, Doutor em Antropologia, é escritor e professor universitário. Deu e continua dando grande contribuição ao nosso país nos tempos em que atuou como Conselheiro no Conselho Nacional de Educação (2006/2008 e 2016 a 2020). É possível aprender com Gersem Baniwa sobre diversidade cultural e diferença étnico-racial indígena, ou mais apropriadamente diferenças. Educação das Relações Étnico-Raciais 15 Gersem Luciano, do Povo Indígena Baniwa (2008), fala sobre ser falante de outras línguas, em um país que a maioria só fala uma única língua, o português do Brasil. Declarando que os povos indígenas enfrentam a imposição de padrões, que vão da alimentação à língua. Somos obrigados a aprender e a falar uma outra língua, muitas vezes abdicando de nossas línguas, de nossas tradições e assim por diante (LUCIANO, 2008,p. 69). Neste sentido, refletir sobre as diferenças e a diversidade cultural visíveis e coexistindo com as intenções educativas dos professores, passa por mudanças nas mentalidades dos educadores e pela instauração de novas posturas, tolerantes as diferenças dos alunos. E, caminhar um pouco mais além, saindo da leve aceitação, desta aparente situação de tolerância para uma convivência mais partilhada da diversidade. Porque uma coisa é tolerar alguém; outra coisa é conseguir compartilhar modos de pensar, valores, conhecimentos e assim por diante. As diferenças indígenas são representativas das diferentes culturas dos povos que habitam e constituem o nosso país: olhar a diferença não como um problema, mas como um valor, um enriquecimento da sociedade brasileira (um patrimônio nacional). Tratando das diferenças indígenas, Luciano (2006) defende que a escola, que foi exaustivamente usada como um dos fundamentais instrumentos durante a história do contato para descaracterizar e destruir as culturas indígenas, possa vir a ser um instrumental decisivo na reconstrução e na afirmação das identidades e dos projetos coletivos de vida. Como distinguir os Povos Indígenas e suas grandes diferenças? São povos que representam culturas, línguas, conhecimentos e crenças únicas, e sua contribuição ao patrimônio mundial – na arte, na música, nas tecnologias, nas medicinas e em outras riquezas culturais – é incalculável. Eles configuram uma enorme diversidade cultural, uma vez que vivem em espaços geográficos, sociais e políticos sumamente diferentes. (LUCIANO, 2006, p. 47) Educação das Relações Étnico-Raciais16 Figura 3: Povos Indigenas Fonte: Freepik O escritor e indígena Gersem Luciano explica que a diversidade cultural de cada povo indígena, bem como a história de cada um deles e os contextos e que vivem desenvolvem dificuldades para reduzi-los ou enquadrá-los com uma só definição. Talvez exista no imaginário popular, fruto do preconceito de que índio é tudo igual, servindo para diminuir o valor e a riqueza da diversidade cultural dos povos nativos e originários da América continental (LUCIANO, 2006, p. 40). Este autor, Gersem Luciano, do Povo Indígena Baniwa, reflete sobre a realidade brasileira, com relação a diversidade cultural. Isso explica a diversidade cultural e a diferença de uma das matrizes do povo brasileiro, que são os Povos Indígenas, além da necessidade de ouvir deles mesmos sobre eles mesmos e suas diversidades e diferenças. A seguinte definição deles pode ser até uma lição que podemos usar para definir a diversidade dos alunos: Eles mesmos, em geral, não aceitam as tentativas exteriores de retratá- los e defendem como um princípio fundamental o direito de se auto definirem. Somente depois da promulgação da Constituição Cidadã, de 1988, é que um novo tempo foi instituído no Brasil, com relação as garantias e Educação das Relações Étnico-Raciais 17 respeitos as diversidades culturais indígenas. Assim, inicia-se o terceiro período, do Indigenismo Governamental Contemporâneo – pós 1988 (LUCIANO, 1988). Sendo que o fato acentuado de tal período teria sido, segundo Luciano, a superação teórico-jurídica do princípio da tutela dos povos indígenas por parte do Estado brasileiro (entendida como incapacidade indígena) e o reconhecimento da diversidade cultural e da organização política dos índio. Os Povos Indígenas são sujeitos com direitos às diferenças. Mas nem sempre isso é perceptível. Apesar de existirem 223 povos indígenas no Brasil. Estes 223 diferentes povos não são idênticos, são povos diferentes um do outro. Por que é diferente? Porque cada povo tem sua língua própria, têm suas tradições próprias, sua mitologia própria, sua cosmologia própria, que se distinguem das demais. Já desde a largada dos portugueses e espanhóis dos portos europeus, os planos não constituíam o respeito as diferenças e nem muito menos à diversidade cultural. O projeto passava pela unificação e domínio. Constitui-se um: [...]projeto ambicioso de dominação cultural, econômica, política e militar do mundo, ou seja, um projeto político dos europeus, que os povos indígenas não conheciam e não podiam adivinhar qual fosse. Eles não eram capazes de entender a lógica das disputas territoriais como parte de um projeto político civilizatório, de caráter mundial e centralizador, uma vez que só conheciam as experiências dos conflitos territoriais intertribais e interlocais. (LUCIANO, 2006, p. 17) O que aponta ainda, em pleno século XXI, com relação aos povos indígenas, é que toda a história da colonização e até os dias atuais, persiste uma danosa prática histórica, que permanece agindo para manter a invisibilidade e o preconceito, contestando até os direitos dessas coletividades indígenas. Com relação a Diversidade Cultural, as diferenças e os afrodescendentes, o povo negro brasileiros, os descendentes dos africanos que viveram no Brasil na condição indigna de escravizados, é impossível tocar nas suas singularidades sem tratar das relações racistas Educação das Relações Étnico-Raciais18 produzidas no Brasil, nas quais o povo negro foi duramente atingido em suas diferenças e identidades. Este racismo foi sendo alimentado pela reafirmação da ambiguidade do ser e não-ser, insistentemente presente nas mentes dos que tratam desta questão, ou seja, da imprecisão de alguns quando tratam sobre a realidade de racismo que o povo negro vive, no Brasil, entre outros povos do Brasil que estão imersos na nossa realidade de pluralidade étnica. Não há como falar sobre a participação do povo negro no Brasil, a sua presença no complexo leque da Diversidade Cultural brasileira, as diversas formas por meio das quais esse grupo étnico-racial constrói sua identidade sem considerar o contexto do racismo na sociedade brasileira. (GOMES, 2008, p. 135) Isso levará você a reflexão sobre as desigualdades que enfrentam os afrodescendentes no Brasil, neste imenso país construído com os esforços de seus ancestrais. O fato é que, a população negra do Brasil, precisa lidar com suas diversidades culturais, com suas diferenças, e com a persistência do racismo, a não-integração ou integração marginal do negro na nossa sociedade, a cidadania precária e subalterna que permeia a vida e a conquista dos direitos. São desigualdades históricas que caminham lado a lado com a desigualdade socioeconômica, mas cada uma tem a sua forma de operar na cultura, na política, na educação, nos contextos das relações de poder, na vida dos sujeitos sociais. Algumas pessoas, não negras ou não identificadas com as lutas em prol de igualdades de oportunidades, de parcela significativa do povo negro e empobrecido, costumam maldizer as políticas afirmativas, como as políticas de cotas raciais das universidades. Um dado estatístico, revelado por pesquisas do IPEA, no fim do século XX, determina reflexões: No ano de 1999, 98% deles não tinham ingressado na Universidade. Isso demanda um olhar mais apurado. Com as políticas de Cotas nas Universidades Públicas brasileiras, o quadro foi amenizado, passando a ser de 12,8% a presença de jovens negros (pretos e pardos), na faixa etária entre 18 e 24 anos, entre os que são estudantes matriculados em Educação das Relações Étnico-Raciais 19 instituições de ensino superior no Brasil. Pode representar um número ainda ínfimo, mas mudanças ocorreram, graças às políticas afirmativas de cotas. A presença de estudantes negros, na totalidade da população brasileira, foi ampliada de negros nas universidades, segundo dados do ano de 2015, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso comprova que a presença nula mudou com a política de cotas, mas poderá melhor ainda mais. É significativo revelar que, em 2018, no Brasil mais de 19 milhões de pessoas se declaram pretas, segundodados de 2019, divulgados pelo IBGE. Somando aos não declarados representam grande contingente populacional. É necessário refletir sobre os dados todos acima. Eles revelam que é necessário investimento em políticas Públicas educacionais que tragam um contingente cada vez maior de crianças, adolescentes e jovens negros para dentro das escolas, nos mais diversos níveis da Educação Básica e para a Universidade. Muitos avanços aconteceram e gigantescos passos precisarão ser dados para superar todos estes séculos de desigualdade. O país desafia com seus quadros acentuados de desigualdades, de desníveis e com as suas precariedades nas políticas educacionais de caráter universal. Elas não conseguem atingir de forma igualitária alguns grupos específicos da nossa população. Essa situação desvela uma das falácias do mito da democracia racial brasileiro, ou seja, a crença de que negros e brancos encontram-se em situação de harmonia e igualdade no Brasil. Que harmonia? Que igualdade? O que os dados estão dizendo? (GOMES, 2008, p. 137) Educação das Relações Étnico-Raciais20 Figura 2: Diversidade Fonte: Freepik Sendo assim é muito importante garantir as necessárias e justas mudanças educacionais e epistemológicas, ou seja, operando nas formas como construímos o conhecimento ou que práticas educativas fazemos para as crianças construírem, e serem suficientemente capazes de entender, considerar e afirmar, dentro das instituições educacionais, que as ações dos negros como sujeitos políticos ao longo da História poderá ser dar visibilidade às práticas culturais, políticas, educacionais e organizativas do segmento negro da população brasileira. Refletindo sobre a Diversidade Cultural e sobre às diferenças, nas práticas pedagógicas, com os olhos nas diferenças étnico-raciais, do Povo Negro Brasileiro, focando sobre a situação de gênero, pensando na mulher negra professora, e nos negros que enfrentam suas diferenças relacionadas as faixas geracionais, ligando com as realidades de suas classes sociais, e não discriminando aqueles negros que são de religiões afrodescendentes ou religiões de matriz africana, é necessário promover seus direitos todos a diversidade cultural e suas diferenças. A escola brasileira precisará avançar na sua intolerância com as diferenças religiosas. As crianças sofrem e ainda são obrigadas a assistir aulas que desconhecem seus cultos sagrados: [...] Mais do que ‘tolerância religiosa’, o que se reivindica é o reconhecimento, a aceitação e o respeito da diversidade religiosa brasileira. As religiões de matriz africana têm Educação das Relações Étnico-Raciais 21 sofrido muitas pressões e discriminações. No entanto, a organização dos praticantes dos cultos afro-brasileiros tem ampliado e alcançado algumas vitórias políticas em diferentes lugares do País. (GOMES, 2008, p. 143). Sobre as relações entre a diversidade cultural e as diferenças ambiental-ecológica, apontando como uma estratégia para tempos difíceis de acentuadas mudanças climáticas, aquecimento global com relevantes danos para a população mundial, com perspectivas de agravamento nas próximas décadas, segundo dados de cientistas do clima, são necessárias reflexões. Qual seria o papel das práticas pedagógicas, nas escolas brasileiras? O mundo já vê estarrecido episódios que demandam novas significações e novos contatos com a preservação ambiental-ecológica, em uma aliança com a diversidade cultural e as diferenças dos diversos povos que habitam o território brasileiro e que necessitam da terra para produzir, além de alimentos, suas diversidades culturais. É o caso de indígenas, quilombolas e demais pessoas e comunidades tradicionais que vivem no Campo. Recentemente chamou a atenção nos lamentáveis episódios de rompimentos de barragens em Minas Gerais (2019), os danos graves às vidas das comunidades ribeirinhas, pescadores e povos indígenas de Minas Gerais. Pensando no mundo todo são diversos episódios como incêndios e mudanças drásticas no clima que criam a categoria de desabrigados ambientais. Isso demanda reflexões significativas pela preservação dos nossos ecossistemas, entre eles a Amazônia, onde habitam muitos dos nossos povos indígenas. A nossa diversidade cultural e o nosso pluralismo cultural prova que não somos idênticos, ou seja, não somos iguais, somos diferentes, carregamos diferenças, que aparecem em diversos formatos, nos longos séculos de luta contra os projetos de unificação, propostos pelos colonizadores da nossa América e de nosso Brasil. Já os colonizadores portugueses não eram únicos, carregavam suas diferenças. Os povos indígenas eram e são diversos. E os africanos eram idênticos, somente, na condição indigna de escravização. Educação das Relações Étnico-Raciais22 É evidente que Governos Federal, Estadual e Municipais, as legislações eficazes e Políticas Públicas de Educação serão necessárias e devem ser mantidas, a escola sozinha não pode realizar tão imprescindíveis tarefas. Já neste século foi proposto pelo Governo Federal, o Programa Brasil Plural. Foi praticado pela Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural, através do Ministério da Cultura, em 2004. É interessante analisar os pontos escolhidos para focar em tal programa, figuravam: a valorização da diversidade das expressões culturais nacionais e regionais, o fortalecimento da democracia, com igualdade de gênero, raça e etnia e a cidadania com transparência, diálogo social e garantia dos direitos humanos. Bem como a garantia de apoio, promoção e intercâmbio aos grupos e redes de produtores culturais, manterem suas diversificadas manifestações culturais, salvaguardando as qualidades identitárias (de identidade, de diferença) por gênero, orientação sexual, grupos etários, étnicos e da cultura popular. Além de promover a identificação, preservação e valorização dos patrimônios culturais brasileiros, assegurando sua integridade, permanência, sustentabilidade e diversidade. Algo a ser pensado na escola é uma condição de diferença e de portador de diversidade cultural da criança ou do jovem com deficiência! As legislações avançaram! Os educadores precisam entender e garantir a perfeita inclusão das pessoas com deficiência. Toda uma legislação recente os salvaguarda na escola! Todos estes elementos devem ser levados em consideração para a realização de práticas pedagógicas que levem em conta a diversidade cultural e as diferenças ambiental-ecológica, étnico-racial, de gêneros, faixas geracionais, classes sociais, religiões, necessidades especiais (Crianças, adolescentes, jovens e adultos com deficiência), escolhas sexuais, entre outras. Educação das Relações Étnico-Raciais 23 SAIBA MAIS Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso à seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Vídeo - Darcy Ribeiro narra no seu livro o Povo Brasileiro, a matriz indígena. Acessível pelo link: http://bit.ly/3b2ZKKy E a matriz afrodescendente. Acessível pelo link: http://bit.ly/3aX3ZXO Figura 3: Brasileiros Fonte: Wikimedia Commons Você foi capaz de refletir sobre o sobre a Diversidade Cultural e sobre o respeito às relevantes diferenças, inicialmente focando nas questões iniciais e essências sobre diversidade e diferenças, nas práticas pedagógicas. Por fim, você foi capaz de refletir sobre Diversidade Cultural e sobre cada uma das seguintes diferenças, a saber, ambiental- ecológica, étnico-racial, de gêneros, entre as faixas geracionais, classes sociais, religiões, necessidades especiais (pessoas com deficiências), escolhas sexuais, entre outras. http://bit.ly/3b2ZKKy http://bit.ly/3aX3ZXO Educação das Relações Étnico-Raciais24 Aplicando a Diversidade Cultural Brasileira na Prática Docente Você será capaz de aplicar a diversidade cultural brasileira na prática docente, você vai entrar nas especificidades das práticas docentes,nos saberes e fazeres docentes, sob o foco da presença da diversidade cultural brasileira, levado pela indagação e como promovê- la, no cotidiano escolar. Aplicando a Diversidade Cultural Brasileira na Prática Docente: Histórias, pensamentos e conquistas Quando você refletir sobre a relação entre Diversidade Cultural, diferença e prática pedagógica, dentro das escolas, procure pensar que as nossas diferenças e aquelas que aprendemos nas nossas casas, e vemos desde pequenos, no contato com as nossas comunidades, não devem ser naturalizados, nem romantizados e muito menos vistos como ingênuos. Não devemos aceitar que eles sejam sentidos ou teorizados como algo que compense os maus tratos e todo o longo processo de escravização do povo africano ou de desapropriação dos povos indígenas, duas das nossos importantes matrizes, imersas nas nossas culturas e em nossa diversidade cultural, demandando respeito aos seus direitos e visibilidade. E muito menos devemos amenizar as hibridizações contemporâneas (algumas misturas que acabam por desqualificar e anular as marcas constituintes de nossas culturas e de pertencimento dos povos negros e indígenas brasileiros. Permitir isso impede perspectivas e atitudes mais efetivas de proteção, promoção e articulação, dos legados de nossos ancestrais negros, indígenas e europeus. Cada um destes agrupamentos trouxe contribuições singulares e que devem ser preservadas. É necessário admitir inicialmente que somente o desvendar desta necessidade, movida por sentimentos que caminham pela trilha Educação das Relações Étnico-Raciais 25 de uma reparação histórica de tantos silenciamentos diante de toda a diversidade cultural brasileira e com as nossas mais distintas diferenças não vão mover rapidamente a engrenagem que ficou parada e está enferrujada. É preciso ir bem além da boa vontade, em sala de aula, e estabelecer um caminho, mesmo que seja longo para desconstruir velhas: [...] práticas geradas por estruturas de dominação colonial de longo prazo, de produção da desigualdade a partir das diferenças socioculturais, estas consideradas como signo de inferioridade. Tal enunciação prescritiva da busca de ‘novas posturas’ mal disfarça o exercício da violência (adocicada que seja), única caução de uma ‘verdade’ também única e totalitária. É preciso ir bem mais adiante. (LIMA, 2006, p. 13) Isso fará você retornar a uma questão: o que as escolas e suas práticas pedagógicas devem e podem fazer pela nossa diversidade cultural, aliada às nossas diferenças, agindo de uma maneira que não anulem e jamais destruam as nossas diferenças? E a resposta possível é a defesa evidente que existe uma grande necessidade de educar para a diversidade ou de uma educação para a diversidade entendida menos como uma atitude de respeito passivo e mais como uma forma de estar no mundo, em que a articulação das diferenças se configura como pré- requisito ao desenvolvimento humano. Há uma alternativa já antiga e conhecida pelos Povos Indígenas do Brasil. É uma possibilidade de Educação diferenciada, que não esconde nem nossas diversidades culturais e nem as nossas diferenças. É a Educação intercultural focada em trazer os diversos elementos de várias culturas, tais conhecimentos, valores e tradições, que se articulam e se integram nas práticas cotidianas das pessoas, para o campo das políticas de divulgação e de valorização da Diversidade Cultural e para o dia-a-dia das pessoas, bem como das instituições escolares e das nossas sociedades, mas nem sempre bem utilizadas. É bom destacar que a interculturalidade não é inverter a relação desigual de discriminado a discriminador, mas uma superação de qualquer forma de simetria nas relações culturais entre indivíduos e sociedades. Educação das Relações Étnico-Raciais26 Existem pessoas que desconhecem a nossa diversidade cultural brasileira e, ainda, ignoram e discriminam as nossas mais distintas diferenças, diferenças ambiental-ecológica, étnico-racial, de gêneros, faixas geracionais, classes sociais, religiões, necessidades especiais, escolhas sexuais, entre tantas outras. Já educadores precisarão conhecê-las e respeitá-las muito bem! A realidade social brasileira e nos demais Estados contemporâneos estão vinculados às diferenças socioculturais? Como podemos fazer com que as escolas sejam espaços de aprender com as diferenças socioculturais e todas as demais diferenças que brotem dentro das escolas? Como fazer um cenário pedagógico que permitam dialogar com as diferenças e as diversidades culturais já existentes, dentro das escolas? Como começar este caminho? Como vencer os preconceitos e dissipar tanto racismo? Sempre que uma realidade educacional inspira e respira, democraticamente, práticas pedagógicas inclusivas, com respeito as diferenças e as diversidade cultural, não se pode dizer apenas que cumprem as legislações. Agem e são justos com a nossa história, ou mais precisamente as nossas histórias e culturas dos diversos povos, nossas intensas matrizes do povo brasileiro. O Brasil não é ou não multicultural? É diverso? É sempre bom refletir que: [...] a multicultura brasileira reflete a rica pluralidade que se manifesta na miscigenação de seu povo, na cor da pele, nos costumes, na culinária, vestimentas, folclore, comportamento etc. Todavia (e infelizmente) se reflete também nas relações de poder e nas desigualdades entre os privilegiados e os outros – as denominadas de forma depreciativa ‘minorias’. (FERREIRA, 2015, p. 306) Educação das Relações Étnico-Raciais 27 Figura 4: Aceitação da diversidade Fonte: Freepik Refletindo sobre a questão da Diversidade Cultural, das diferenças, das identidades nas salas de aula, é possível afirmar palavras que remetem à atualíssimas reflexões sobre estes temas que você está estudando agora, diferenciando-as de formas antigas, ultrapassadas e superadas. Depois de fazer suas considerações sobre os cenários desoladores em que alojaram as nossas diversidades culturais no Brasil, ao longo da nossa história, desde a chegada dos portugueses, escondendo-as, assim como se fosse possível àquilo recalcado, ocultado, não ser perceptível, este projeto nacional de homogeneização (assim como se fosse fácil misturar óleo e água), tal projeto de embranquecimento e destituição das nossas diversidades e diferenças foram chegando às escolas, aos alunos, montadas dentro das cabeças dos professores, presentes aos currículos, mantidas como mentiras que parecem verdades nos nosso livros didáticos. E com quais finalidades? Para que os futuros professores, não indígenas e que desconhecem a diversidade cultural e as diferenças dos povos indígenas, possam Educação das Relações Étnico-Raciais28 falar deles com propriedades e sem preconceitos? Servirá para os que são muito pouco ou pouco conhecedores da diversidade linguística, dos modos de vida e das visões de mundo de povos de histórias tão distintas como os que habitam o Brasil e que compõem um patrimônio humano inigualável. E para que possamos construir uma escola aberta às diferenças e a diversidade cultural que tenha por princípio elementar o respeito à diferença, o cultivo da diversidade, a polifonia de tradições e opiniões e que se paute pela tolerância, como tantos preconizam no presente. Com tais mentiras que pareciam verdades foram surgindo explicações, que caracterizavam as nossas diferenças como nulas e parecíamos menos complexos do que somos, menos diversificados culturalmente do que somos, menos diferentes étnico-racialmente do que somos. Foram mentindo sobre nós e estas mentiras pareciam verdades de tanto serem repetidas. Então, uma tarefa surgiu como preponderante. Era necessário tocar as mentes das pessoas para ver as invisibilidades, diante de nossa diversidade cultural. Estes desafios exteriores à sala de aula, são, concomitantemente,desafios para dentro das salas de aula, relacionados aos temas da diversidade cultural e das diferenças, que estão fora e dentro da escola. O que podemos almejar como reconhecimento de nossas diferenças? E quando falamos em diferenças designamos as individuais e as coletivas. Queremos ver reconhecidas as nossas diferenças coletivas e individuais como uma condição de cidadania quando as identidades diversas são reconhecidas como direitos civis e políticos, consequentemente absorvidos pelos sistemas políticos e jurídicos no âmbito do Estado Nacional. Não devemos agir nas escolas, com relação aos modos diferentes de alguns agrupamentos com relação à educação, como educam seus filhos, com os mesmos parâmetros de análise equivocada dos colonizadores portugueses. Eles achavam que somente as diferenças deles eram boas, válidas e certas. E que somente os seus métodos para educar eram os mais acertados. A Educação é um direito social e um processo de desenvolvimento humano, que demanda Políticas Públicas de Educação. Já nos Parâmetros Educação das Relações Étnico-Raciais 29 Curriculares Nacionais (1997), a educação escolar corresponde a um espaço sociocultural e institucional responsável pelo trato pedagógico do conhecimento e da cultura. Historicamente, esta universalização do direito à educação foi tardia no Brasil, mesmo depois da Proclamação da República. O que necessariamente deve ser comemorado como fruto das lutas populares e que resultaram nos avanços dos marcos legais da educação Nacional, a partir de 1988, com a nova Constituição Federal, carinhosa e esperançosamente chamada de Constituição Cidadã. Não ocorreu sem lutas! O Grande abolicionista, pensador e escritor negro brasileiro, Luiz Gama nasceu em 1830, sua mãe Luiza Mahin era africana e estava na condição de escravizada, Luiz Gama nasceu livre, e posteriormente foi vendido pelo próprio pai, quando tinha dez anos. Nunca teve um diploma universitário. Atuou nos tribunais e conseguiu com seus esforços libertar mais de 500 pessoas negras, em condição de escravizados. Hábil leitor, ele ia atrás das leis escravistas brasileiras, no século XIX, conseguindo examinar saídas para a libertação de muitas pessoas, antes do fim da escravidão, no Brasil. Em uma carta de importante valor histórico, datada de 1880, um pouco antes da assinatura do fim da escravidão no Brasil, declarou: [...] Em 1847, contava eu 17 anos, quando para a casa do sr. Cardoso, veio morar, como hóspede, para estudar humanidades, tendo deixado a cidade de Campinas, onde morava, o menino Antônio Rodrigues do Prado Júnior, hoje doutor em direito, ex-magistrado de elevados méritos, e residente em Mogi-Guassu, onde é fazendeiro. Fizemos amizade íntima, de irmãos diletos, e ele começou a ensinar-me as primeiras letras. Em 1848, sabendo eu ler e contar alguma cousa, e tendo obtido ardilosa e secretamente provas inconcussas de minha liberdade, retirei- me, fugindo, da casa do alferes Antônio Pereira Cardoso, que aliás votava-me a maior estima, e fui assentar praça. (MOURA; MOURA, 2004, p. 170) No tempo em que serviu no exército, como praça, ele narra que se fez copista (fazia cópias); escreveu para o escritório de um escrivão Educação das Relações Étnico-Raciais30 tornando-se amigo dele. Ordenança dele, narrando que por meu caráter, por minha atividade e por meu comportamento, conquistei a sua estima e a sua proteção; e as boas lições de letras e de civismo, que conservo com orgulho. Sem o direito universal a educação, tendo nascido livre, sendo filho de uma africana escravizada, os dois eram lideranças da resistência negra, a mãe e ele, Luiz Gama aprendeu a ler e as tarefas ligadas a um exercício intelectual e unido as letras, graças aos amigos que foi fazendo pela vida. Sua vida é exemplar da falta que as políticas públicas podem fazer! Lá pelo ano de 1856, ainda longe estava a abolição, após ter servido no cargo de escrivão diante de muitas autoridades policiais, conta fui nomeado amanuense da Secretaria de Polícia, onde servi até 1868, época em que ‘por turbulento e sedicioso’ fui demitido a ‘bem do serviço público’, pelos conservadores, que então haviam subido ao poder.(MOURA; MOURA, 2004, p.170). Assim, por pura perseguição política e não por algum grave delito no exercício de sua profissão. “Desde que me fiz soldado, comecei a ser homem; porque até os 10 anos fui criança; dos 10 aos 18, fui soldado. Fiz versos; escrevi para muitos jornais; colaborei em outros literários e políticos, e redigi alguns”. (MOURA; MOURA, 2004, p. 170). Um renovado intelectual brasileiro, do século XIX, Luiz Gama lutou muito pelos direitos dos afrodescendentes. Uma escola pública que aplicasse a Diversidade Cultural Brasileira na Prática Docente, fez falta à vida do menino Luiz Gama, lá no século XIX! O fato é que no decorrer das últimas décadas o século XX e das duas primeiras décadas do século XXI, a sociedade civil organizada e os Governos Federal, Estaduais e Municipais brasileiros organizaram pujante conjunto de marcos legais e de políticas públicas, focadas nas diferenças étnico-raciais e na diversidade cultural brasileira. Para que as escolas e as práticas docentes possam ser inclusivas e não ocultar ou insultar as nossas diferenças e nossas diversidades culturais, serão necessárias mudanças íntimas (na subjetividade de cada educador) e também externas ou sociais nos currículos, nas metodologias, na avaliação e na relação com a comunidade em seu entorno, na formação docente, entre tantas outras questões. Educação das Relações Étnico-Raciais 31 No caso das práticas pedagógicas é necessário se debruçar sobre todas as ausências como, por exemplo, a ausência do negro no livro didático, a ausência de mulheres negras na política, a ausência dos negros nos cargos de poder, entre outros, são formas de exclusão e de não-existência ativamente. Estas ausências do povo negro, com sua diversidade cultural e suas diferenças foram, perversamente, produzidas, dentro da realidade brasileiras e nos contextos histórico, político, cultural e educacional. Ou seja, elas foram produzidas conquanto tais. Essas ausências também podem ser encontradas no campo epistemológico, como, por exemplo, na própria produção do conhecimento. Quanto à questão da diversidade cultural dos povos indígenas, a Constituição Federal de 1988 representou um divisor de águas de um processo longo de exclusão das diversidades culturais e diferenças entre os mais de 200 povos indígenas brasileiros. Isso operou uma ruptura com um modelo excludente, já existente desde o início da República brasileira (1889), baseada em uma política extremamente etnocida (voltada a exterminar os povos indígenas), repressiva e genocida. O que operava era uma política determinada de negação e de banimento dessa Diversidade Cultural. Passamos mais de quatro séculos em que a política oficial dos dirigentes, seja no período colonial ou pós-colonial, distinguia negativamente essas pessoas e grupos, física e culturalmente. Uma primeira iniciativa neste sentido foram os Parâmetros Curriculares Nacional (1997), diversidade cultural figura entre os temas transversais. De lá para cá, as demandas para a escola que levem em conta a diversidade cultural e a diferença de cada povo indígena passa por vê-la, a escola, como um ‘contexto’: [...] um lugar onde a relação entre os conhecimentos tradicionais e os novos conhecimentos científicos e tecnológicos deverão articular-se de forma equilibrada, além de ser uma possibilidade de informação a respeito da sociedade nacional, facilitando o ‘diálogo intercultural’ e a construção de relações igualitárias – fundamentadas no respeito, no reconhecimento e na valorização das diferenças culturais – entre os povos indígenas, a sociedade civil e o Estado. (LUCIANO, 2006, p. 148) Educaçãodas Relações Étnico-Raciais32 Os Parâmetros curriculares Nacionais/PCN’s representaram apenas um ponta pé em uma história de silenciamentos e exclusões as matrizes dos povos brasileiros. Pois nem existe uma só cultura, existem diversas culturas e elas se encontram dentro da escola. Além da escola e o currículo dela assumirem que as crianças representam muitas culturas diferentes, é preciso ir além. É necessário reconhecer a cultura docente, do aluno e da comunidade, a presença da cultura escolar, mas não questiona o lugar que a diversidade de culturas ocupa na escola. Mais do que múltiplas, as culturas diferem entre si. Refletindo sobre a aplicação da Diversidade Cultural e das diferenças, nas práticas pedagógicas, com os olhos nas diferenças étnico-raciais, do Povo Negro Brasileiro, discutindo as questões de gênero, pensando na exclusão da mulher negra ou do homossexual de qualquer etnia, e nos desafios geracionais dos negros, na velhice da população negra, ou nos desafios dos adultos e idosos que vão aprender a escrever e ler, nas salas de Educação de Jovens e adultos, entendendo o desejo do jovem negro de chegar na universidade, entendendo-os de dentro de suas realidades sociais e classes sociais, e não perseguindo os negros que são de religiões afrodescendentes ou religiões de matriz africana, muitos avanços precisarão acontecer nas escolas. E isso configurou campos de lutas antigas dos negros, nos seus debates sobre a diversidade cultural, no campo minado das desigualdades brasileiras, a ponto de transformar e re-semantizar suas reivindicações, hoje, em políticas de ações afirmativas. Faz-se necessário compreender o caráter radical e emancipatório de tais políticas. Refletir sobre as aplicações da diversidade nas práticas pedagógicas para o povo negro é se deparar com: [...] um conjunto de políticas públicas e privadas de caráter compulsório, facultativo ou voluntário, concebidas com vistas ao combate à discriminação racial, de gênero e de origem nacional, bem como para corrigir os efeitos presentes da discriminação praticada no passado, tendo por objetivo a concretização do ideal de efetiva igualdade de acesso a bens fundamentais como educação e emprego. (GOMES, 2001, p. 40) Educação das Relações Étnico-Raciais 33 SAIBA MAIS Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso à seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Artigo: As Dimensões da Diversidade Cultural Brasileira. Acessível pelo link: http://bit.ly/31aoD2a Figura 6: Encontro Afro-latino em Salvador Fonte: Wikimedia Commons Aplicando a Diversidade Cultural Brasileira na Prática Docente: Refletindo sobre o futuro do respeito às diferenças Aplicando a diversidade cultural brasileira na prática docentes, você poderá perceber as conquistas das lutas e o que poderá ser fruto no futuro. e o que mudou e com ainda poderá mudar para ser mais justo? Já existem muitas iniciativas e muitas outras precisarão continuar sendo aplicadas. E que avancemos com políticas Públicas Educacionais e com práticas inclusivas! http://bit.ly/3b2ZKKy http://bit.ly/31aoD2a Educação das Relações Étnico-Raciais34 Diferentes daquelas políticas antidiscriminatórias, que atendem a criança, o jovem, a mulher, o homem, o idoso, ou ainda o membro de uma comunidade de Religião de Matriz Africana, baseadas em lei de conteúdo meramente proibitivo, que se singularizam por oferecerem às respectivas vítimas tão somente instrumentos jurídicos de caráter reparatório e de intervenção, tão recorrentes na televisão e nos jornais, de fatos tão devastadores, racistas, intolerantes e que acabam na frente de um delegado de polícia, com o simples pagamento de uma fiança. Ir além é preciso! O que a escola deverá buscar, conquistar e efetivar são as ações afirmativas. E o que são ações afirmativas? As ações afirmativas [...]têm natureza multifacetária e visam evitar que a discriminação se verifique nas formas usualmente conhecidas – isto é, formalmente, por meio de normas de aplicação geral ou específica, ou através de mecanismos informais, difusos, estruturais, enraizados nas práticas culturais e no imaginário coletivo. (Gomes 2001, p. 41) A questão a ser considerada é se as Práticas Pedagógicas também foram transformadas essencialmente. O que é necessário refletir é se as práticas Pedagógicas aplicam a Diversidade Cultural Brasileira, e isso faz sentido nas práticas dos educadores de crianças, adolescentes e jovens que chegam na escola, fora da faixa etária determinada para cursar os seus primeiros anos escolares, sem os discriminar por suas diferenças e levando em conta as suas diversidades culturais? As práticas Pedagógicas que se intitulam como iguais para todos seriam ou não mais ou menos discriminatórias? Segundo Gomes acabariam por ser mais discriminatórias. Essa afirmação pode parecer paradoxal, mas, dependendo do discurso e da prática desenvolvida, pode-se incorrer no erro da homogeneização em detrimento do reconhecimento das diferenças. É fundamental entender que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação/LDBEN Nacional determina um cenário de garantias legais para aplicar a diversidade cultura, nas práticas docentes. Caso professor queira? Caso ele não tenha nenhuma oposição a esta lei? Não! É um marco legal a ser respeitado! Educação das Relações Étnico-Raciais 35 O fato é que já escorridos tantos anos, desde a homologação da LDBEN (BRASL, 1996), apresenta-se um desacerto entre a lei e as práticas docentes. Muitos educadores continuam sem entender que as diversidades culturais, em sala de aula, dependem da boa vontade deles. E isso implica em abandonar práticas docentes retrógradas, conservadoras e centradas nas construções de cultura e de diversidade que permeiam o grupamento social ao qual determinados educadores pertencem, que parece anular as necessidades de emancipação, e de oferecer experiências educativas que impulsionem os alunos para o futuro, passando pelos legados dos seus antepassados. As matrizes indígena e negra é de todos nós! O professor deve aplicar a Diversidade Cultural Brasileira na Prática Docente, a partir das Diretrizes Curriculares Nacionais, de iniciativas do Conselho Nacional de Educação/CNE e do Ministério da Educação/MEC, para promover a Educação das Relações Étnico- Raciais, que poderá acontecer em iniciativas, firmadas em marcos legais, como no Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e indígena, apoiados em princípios como Socialização e visibilidade da cultura negro-africana e indígena. Passando, inicialmente, pela sensibilização dos professores para a importância de aplicar a diversidade cultural brasileira, que envolve a Formação de professores com vistas à sensibilização e à construção de estratégias para melhor equacionar questões ligadas ao combate às discriminações racial e de gênero e à homofobia. Ainda que tais diversidades não sejam familiares aos educadores, mas é bom lembrar que são reais aos diversificados alunos que encontram pelo caminho. Aplicando a diversidade cultural brasileira na prática docente, vai demandar a construção de material didático-pedagógico que contemple a diversidade étnico-racial na escola. Perpassando pela importante valorização de diversificados saberes, construídas no âmbito da diversidade cultural dos povos que constituíram o povo brasileiro. O que passa pela Valorização das identidades presentes nas escolas, sem deixar de lado esse esforço nos momentos de festas e comemorações. Isso significa abrir a escola para a vida comunitária, onde podem estar muitos grupos diversificados e artísticos que dançam ou encenam Educação das Relações Étnico-Raciais36 elementos constitutivos da nossa memória oral brasileira, chamados por alguns como folclóricas, parte integrante da nossa vibrante diversidade cultural tradicional. Isso traz elementos suficientes para comporum cotidiano escolar com pesquisa, aprendizagem e envolvimento das crianças. Aos que pretendem aplicar a diversidade cultural na prática docente na educação Infantil, em que currículos, bases e parâmetros curriculares já focam no Cuidar e Educar, é necessário planejar e ao mesmo tempo questionar as escolhas pautadas em padrões dominantes que reforçam os preconceitos e os estereótipos. Isso vai exigir que sejam elencados, construídos ou recuperados princípios para os cuidados embasados em valores éticos, nos quais atitudes racistas e preconceituosas não podem ser admitidas. Nessa direção, a observação atenciosa de suas próprias. O que requer um desejo e um cuidado em promover práticas e atitudes podem permitir às educadoras rever suas posturas e readequá-las em dimensões não-racistas. É interessante que o educador infantil, embutido na tarefa de aplicar a diversidade cultural na sua ação docente, que ele queira aprender sobre as construções epistemológicas dos diversos grupamentos que formaram o povo brasileiro (destacando duas matrizes bem importante o negro e o indígena). Como eles definem o processo de aprender? Como os grupos de manifestações da cultura popular tradicional costumam ensinar aos seus novos membros dos grupos? Que metodologias estão contidas nelas? E aprender com eles! É bom lembrar que para aprender é necessário que alguém mais experiente, em geral mais velho, se disponha a demonstrar, a acompanhar a realização de tarefas, sem interferir, a aprovar o resultado ou a exigir que seja refeita. Talvez seja necessário, no combate aos racismos e preconceitos, trazer as manifestações da diversidade cultural daqueles que são atingidos por vitimizações, sejam por preconceitos étnico-raciais, ou outros relacionados a origem e até ao fato de viver em uma família incomum aos modelos burgueses, como grande parte das crianças brasileiras, que vivem em uma sociedade ainda submetida a um acentuado machismo, com maioria de votantes mulheres e grande número delas são as chefes de família. Bem como as famílias que surgem Educação das Relações Étnico-Raciais 37 em casamentos entre pessoas do mesmo sexo. É necessário vencer os preconceitos embutidos em sua postura, linguagem e prática escolar; reestruturar seu envolvimento e se comprometer com a perspectiva multicultural da educação. O professor, atento às diferenças, deverá buscar na história e na cultura de cada criança e poderá responder suas indagações sobre como agir. É necessário que o professor entenda e aceite as diversidades! Na recente e homologada Base Nacional Comum Curricular/ BNCC (2018), configura como uma das Competências da Educação Básica (para Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio): [...] Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade (BRASIL, 2018, p.09). Na Educação Infantil, a BNCC recomenda que a escola precisa conhecer e trabalhar com as culturas plurais, dialogando com a riqueza/ diversidade cultural das famílias e da comunidade. Já no Ensino Fundamental, a BNCC recomenda uma atenção mútua, imbricada à questão dos multiletramentos, essa proposta considera, como uma de suas premissas, a diversidade cultural. A BNCC ressalta sobre a temática da diversidade cultural o fato de mais de 250 línguas são faladas no país. Indígenas, de imigração, de sinais, crioulas e afro-brasileiras, além do português e de suas variedades. Esse patrimônio cultural e linguístico é desconhecido por grande parte da população brasileira. E, ainda, indica para considerar a temática diversidade cultural, abrangendo formas e produções de expressão várias e distintas, a literatura infantil e juvenil, o cânone, o culto, o popular, a cultura de massa, a cultura das mídias, as culturas juvenis etc., de forma a garantir ampliação de repertório, além de interação e trato com o diferente. Do 1.º ao 5.º ano do Ensino Fundamental, no ensino da Língua Portuguesa, a BNCC (BRADIL, 2018) recomenda, no Campo Artístico- Literário, vinculado a leitura, a fruição e produção de textos literários Educação das Relações Étnico-Raciais38 e artísticos, uma atenção a textos que bem representem a diversidade cultural e linguística, que favoreçam experiências estéticas. Alguns gêneros deste campo: lendas, mitos, fábulas, contos, crônicas, canção, poemas, poemas visuais, cordéis, quadrinhos, tirinhas, charge/cartum, dentre outros. Configurando ainda, no Ensino da Geografia no 4.º ano, o tema Território e diversidade cultural, e no 5.º ano, Diferenças étnico-raciais e étnico-culturais e desigualdades sociais. Na área de Ciências Humanas, no Ensino Fundamental configura a valorização e temas como os direitos humanos, respeito ao ambiente e à coletividade, fortalecendo os valores sociais, tais como a solidariedade, a participação e o protagonismo voltados para o bem comum; e, sobretudo, a preocupação com as desigualdades sociais. Sendo assim a atuação do pedagogo, nas escolas, fará obrigatoriamente encontros com o tema da diversidade cultural. E, configura, como competência específica de Ciências Humanas para todo o Ensino Fundamental, refletir sobre atividades que façam o aluno compreender a si e ao outro como identidades diferentes, de forma a exercitar o respeito à diferença em uma sociedade plural e promover os direitos humanos. Assim, esta última e as demais demandas da BNCC (BRASIL, 2018) configuram um foco em aplicar a Diversidade Cultural Brasileira na Prática Docente, aberta a aplicação da diversidade cultural nas escolas. Isso não se deu por simples decisão dos seus elaboradores, foi fruto de lutas constantes da sociedade civil organizada, dos povos negros, indígenas, que vivem nos campos e nas comunidades mais empobrecidas e historicamente excluídas dos antigos currículos, desde a colonização até a república. O futuro é a diversidade cultural, assim como já era o nosso silenciado passado para a grande maioria da população brasileira. Sendo assim ser contemplada! Educação das Relações Étnico-Raciais 39 SAIBA MAIS Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso às seguintes fontes de consulta e aprofundamento: Artigo: Educação, diferença, diversidade e desigualdade (páginas 13 a 15). Acessível pelo link: http://bit.ly/2tbPKxc Vídeo: A Invenção do Brasil genética, técnica e simbólica continua. Acessível pelo link: http://bit.ly/2RNehCx Você foi capaz de focar sobre a aplicação da Diversidade Cultural na Prática pedagógica, propiciando importantes aprendizagens de como conciliar as Diversidades Culturais Brasileiras em sala de aula, não discriminando-as, e promovendo-as. Neste percurso foi possível percorrer algumas Histórias, pensamentos e conquistas. Conquistando, assim, um futuro de respeito às diferenças. http://bit.ly/3b2ZKKy http://bit.ly/2tbPKxc http://bit.ly/2RNehCx Educação das Relações Étnico-Raciais40 Desenvolvendo uma Prática Pedagógica que contemple o Outro e suas Semelhanças e Diferenças Figura 7: Apoio pedagógico Fonte: Freepik Desenvolvendo uma Prática Pedagógica que contemple o Outro e suas Semelhanças e Diferenças, isso significa lidar com o singular e as singularidades, com aquilo que é ou nos parece ser intraduzível (sem tradução para nossos sentimentos e pensamentos). E, também, com aquilo que toca na nossa capacidade e na capacidade do Outro de diferir, no direito de diferir, bem como a expressão do universal, de uma ética e de um conjunto de direitos humanos. Simultaneamente uma coisa e outra, é nessa tensão de opostos que sua realidade se revela rica, dinâmica e desafiadora. E diferir (em português) é originada da palavra difere,que podemos traduzir como ‘dispensar’ e ainda ‘Ser diferente’. Sendo assim está a se tratar sobre a diferença. Bem como do nosso direito de sermos diferentes uns dos outros. E de sermos divergentes um do outro e de possuirmos opiniões diversas. Educação das Relações Étnico-Raciais 41 E mais: somos desafiados pela própria experiência humana a aprender a conviver com as diferenças. O nosso grande desafio está em desenvolver uma postura ética de não hierarquizar as diferenças e entender que nenhum grupo humano e social é melhor ou pior do que outro. Na realidade, somos diferentes. (GOMES, p.22) A história brasileira é uma luta constante de tais grupos para terem suas diversidades culturais e diferenças respeitados, em espaços como a escola, a educação nacional é excludente às diferenças e a diversidade cultural desde a chegada dos primeiros jesuítas. Pensar na diversidade cultural, no respeito as diferenças, com a responsabilidade de desenvolver uma Prática Pedagógica que contemple o Outro e suas Semelhanças e Diferenças demanda o reconhecimento das diferenças é, acima de tudo, uma condição para o diálogo, e, portanto, para a construção de uma união mais ampla de pessoas diferentes. Pensar em como desenvolver uma Prática Pedagógica que contemple o Outro e suas Semelhanças e Diferenças é assegurar que o educador seja visto como o Sujeito do processo educacional, e concomitantemente, seja visto como o aprendiz da temática e mediador entre o/a aluno/a e o objeto da aprendizagem, no caso, os conteúdos da história e cultura afro-brasileira e africana, bem como a educação das relações étnico-raciais, bem como estudar a história e cultura indígena e dos povos europeus e asiáticos que vieram viver no Brasil, a partir do século XVI. As práticas pedagógicas devem ser desenvolvidas, objetivando que os educandos sejam capazes de sentir e entender o outro, naquilo que ele é diferente ou semelhante a ele mesmo. O que se deve querer é o diálogo salutar entre as diferenças e as semelhanças, nunca deverá ser a indiferença com a dessemelhança do outro. Nem a zombaria, escárnio e discriminação em sala de aula. A escola deverá ser o lugar dos diálogos das diferenças! As buscas devem ser centradas em desenvolver Práticas Pedagógicas que contemple o Outro e suas Semelhanças e Diferenças, modificando-os neste contato, em sala de aula, fazendo-os melhores Educação das Relações Étnico-Raciais42 pessoas com as suas semelhanças e diferenças, que nunca podem ser vistas como muros que separam as pessoas. O importante é desenvolver prática Práticas Pedagógicas que não coloquem nenhum aluno na situação de invisibilidade ou escárnio, por qualquer tipo de diferença que habite em sua subjetividade, interioridade e exterioridade, e que promovam e: [...] reverenciem o princípio da integração, reconhecendo a importância de se conviver e aprender com as diferenças, promovendo atividades em que as trocas sejam privilegiadas e estimuladas. Que reconheçam a interdependência entre corpo, emoção e cognição no ato de aprender. Que privilegiem a ação em grupo, com propostas de trabalho vivenciadas coletivamente (docentes e discentes), levando em conta a singularidade individual. Que rompam com a visão compartimentada dos conteúdos escolares. (BRASIL, 2006, p. 68) Isso deverá acontecer no âmbito das mais diversas práticas escolares. Haverá sempre algo a aprender com as dessemelhanças do outro e a ensinar com as nossas diferenças. E, sempre é possível descobrir semelhanças por sermos todos membros de uma só raça, a raça humana. Desenvolvendo uma Prática Pedagógica que contemple o Outro e suas Semelhanças e Diferenças, nem sempre foi fácil no Brasil e continua representando um campo tremendo de lutas contra estereótipos, contra preconceitos e contra o desconhecimento da maioria da população brasileira sobre a real formação do povo brasileiro. Por isso, desde a redemocratização, nas últimas décadas do século XX muitos agrupamentos travaram suas grandes batalhas, entre eles negros, indígenas e homossexuais. Esta história de mobilização afetou a sala de aula, tornado a escola como espaço de inclusão e repensar de nossas intolerâncias e preconceitos. O que foi conquistado até o fim das duas primeiras décadas do século XXI apontam para o repensar dos currículos e a necessidade de repensar as formações docentes iniciais e continuadas, além de transformar o cotidiano da sala de aula, nas suas práticas pedagógicas que precisarão ser intensamente inclusivas, na sociedade movida pela Educação das Relações Étnico-Raciais 43 diversidade cultural que é o Brasil. Foi necessário redescobrir os sujeitos e valorizá-los. Um bom caminho para repensar as propostas curriculares para infância, adolescência, juventude e vida adulta poderá ser uma orientação que tenha como foco os sujeitos da educação. A grande questão é: como o conhecimento escolar poderá contribuir para o pleno desenvolvimento humano dos sujeitos? Não se trata de negar a importância do conhecimento escolar, mas de abolir o equívoco histórico da escola e da educação de ter como foco prioritariamente os ‘conteúdos’ e não os sujeitos do processo educativo. (GOMES, 2007, p. 33) Desenvolver uma Prática Pedagógica que contemple o Outro e suas Semelhanças e Diferenças, demandou que a diversidade cultural brasileira indagasse os currículos, escolas, professores e suas práticas sobre muitas questões. Entre elas configurou o ordenamento temporal. Existem realidades distantes das grandes cidades em que eventos significativos de uma cultura mobilizam forças coletivas e a presença das crianças na escola precisa ser equacionada em tais ocasiões. São festividades dos povos indígenas ou dos quilombolas, entre outros povos que vivem no campo. São tempos de colheitas no campo! Repensar ordenamentos temporais garantem o direito de todos à educação. As pesquisas educacionais mostram que a rigidez desse ordenamento é uma das causas do abandono escolar de coletivos sociais considerados como mais vulneráveis. Além disso, esta prática pedagógica, exigiu que além do currículo, escola, lógicas, organização espacial e temporal, também mudassem as pessoas todas que fazem a escola: Professores, diretores, coordenadores, alunos, funcionários e a relação com os mais varados grupos que estão localizados no entorno da escola e que são significativos em aprendizagem sobre as semelhanças e diferenças dos povos brasileiros. São frutos da inter-relação entre escola, sociedade e cultura e, mais precisamente, da relação entre escola e movimentos sociais. Educação das Relações Étnico-Raciais44 Isso não se faz somente nas festas mais significativas do povo brasileiro e assumidas pelos mais diversos grupos, muitas vezes localizados tão próximos da escola e desconhecidos dentro dela. Mas também nas festas! Trazê-los para apresentações dentro da escola, entrevistá-los com os alunos, promovê-los em muitas ocasiões e escrever suas histórias representam tomar posições contra as diversas formas de dominação, exclusão e discriminação. É entender a educação como um direito social e o respeito à diversidade no interior de um campo político. É necessário levar em conta que as Práticas Pedagógicas não devem impedir o diálogo com o desconhecido outro, em suas Semelhanças e nas Diferenças. Muitas vezes o aluno vive em uma família muito distinta da família de seus colegas e da professora. Existem crianças com diversidade de credos religiosos, de comportamentos e de filosofias de vida. Diferentes arranjos familiares e afetivos são cada vez mais presentes. Situações que, por não sabermos lidar, acabam causando angústias e incompreensões. Isso precisa levar para adiante do impasse e ser revertido por práticas inclusivas e que estabeleçam o diálogo entre as diferenças e semelhanças. O salutar exercício daescuta e da tolerância do ‘outro’ é um aprendizado que nunca acaba, mas, para começar, precisamos nos dispor a ouvir antes de emitir nossos julgamentos, antes de rotular, classificar e ter um pouco mais de cautela antes de afirmar que algo é errado ou certo, conveniente ou inapropriado. Em muitas ocasiões será necessário que o professor abra mão de suas certezas e ideais de criança, jovem e adulto, para ver somente outros tipos de configurações familiares e modos singulares de vestir, de arrumar o cabelo, de coloridas roupas, de cultos e de vinculações culturais tão distintas daquela professora que merecem ser respeitadas. Um aluno que se comporta de uma maneira diferente é somente um ser que demanda um tratamento na condição de igualdade diante dos outros, ou seja, uma igualdade que se orienta pelo direito de ser diferente (diverso), e não desigual. E isso remete a que não se confunda diversidade com desigualdade, já que a primeira diz respeito à qualidade de organizar-se de forma particular, e a segunda, às mazelas produzidas por uma sociedade desigual. Educação das Relações Étnico-Raciais 45 Figura 8: Encontros Fonte: Freepik É importante garantir que os encontros entre as nossas diferenças e semelhanças, nas horas das práticas Pedagógicas, possam contribuir para que cada criança solidifique as suas identidades, não que elas sejam inaudíveis, ou sejam caladas. A identidade se constrói dentro do próprio grupo e se faz a partir de uma relação de alteridade. Ou seja, ela necessita do ‘outro’ para poder se definir, é como se identifica um perfil identitário: pelos opostos. Isso configura a necessidade da criação e atividades, no cotidiano escolar que mostrem as identidades mais diferenciadas que compõem a escola, de um modo festivo, comemorativo e vistos todos com respeito e a consideração que eles trazem nas suas construções. Uma boa tarefa é catalogar as diferenças, nos seus modos de comer, festejar, existir e resistir. Algo bem importante é não alimentar dualismos, dos bons contra os maus, do bem contra o mal, nas práticas pedagógicas, que devem dialogar com as diferenças e semelhanças, lutando contra uma concepção das relações de gênero em que o polo masculino sempre detém o poder e o feminino é desprovido de poder — daí a necessidade de ‘fortalecer’ ou de ‘dar poder’ às mulheres (LOURO, 2003, p. 115). É preciso Educação das Relações Étnico-Raciais46 ter consciência que os casos de feminicídio vem aumentando no Brasil. No final da década passada, no 1.º semestre de 2019 aumentou em 44%, no estado de São Paulo, segundo dados amplamente divulgados pela imprensa. Os anos de escolaridade poderão ser positivos na construção de convivência pacífica e construtiva com as nossas diferenças múltiplas sejam de gênero, étnica, de origem e outras. As meninas e mulheres representam já uma considerável maioria nas escolas. A grande maioria das professoras da Educação infantil e Ensino Fundamental são mulheres. Isso deverá ser mais um elemento motivador de um cuidado para não impor discursos retrógrados, sexistas, machistas e que discriminam as meninas, dentro das práticas pedagógicas. Outro fator relevante é não criar práticas pedagógicas que discriminem os homossexuais e bissexuais (reconhecidamente vitimados pela homofobia). As desigualdades só poderão ser percebidas — e desestabilizadas e subvertidas — na medida em que estivermos atentas/os para suas formas de produção e reprodução. Desenvolvendo uma Prática Pedagógica que contemple o Outro e suas Semelhanças e Diferenças, requer que os educadores e as educadoras inventem e solicitem a participação das meninas e dos meninos para que apareçam: [...] formas novas de dividir os grupos para os jogos ou para os trabalhos; promovendo discussões sobre as representações encontradas nos livros didáticos ou nos jornais, revistas e filmes consumidos pelas/os estudantes; produzindo novos textos, não-sexistas e não-racistas; investigando os grupos e os sujeitos ausentes nos relatos da História oficial, nos textos literários, nos ‘modelos’ familiares; acolhendo no interior da sala de aula as culturas juvenis, especialmente em suas construções sobre gênero, sexualidade, etnia, etc. Aparentemente circunscritas ou limitadas a práticas escolares particulares, essas ações podem contribuir para perturbar certezas, para ensinar a crítica e a autocrítica (um dos legados mais significativos do feminismo), para desalojar as hierarquias. (LOURO, 2003, p. 124) Educação das Relações Étnico-Raciais 47 Aos educadores e educadoras caberá o desafio de fazer com que as diferenças geracionais entre eles e as crianças, adolescentes, matriculados nas instâncias da Educação Básica, e ainda aqueles, jovens que estão matriculados na Educação de Jovens e Adultos, não sejam empecilhos para um diálogo saudável, respeitoso e construtivo, entre as antigas e as contemporâneas formas, entre os diferentes modos de pesar das gerações dos professores e professoras e das novas gerações sobre os significados antigos e as novas construções, mais contemporâneas, trazendo novas concepções sobre gênero, sexualidade e etnia. É relevante lembrar que as crianças e adolescentes com deficiências precisarão ser atendidos em suas diferenças e com intenções e práticas inclusivas, nunca com exclusões. SAIBA MAIS Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso às seguintes fontes de consulta e aprofundamento: Artigo: Módulo IV: Relações Étnico-Raciais | Unidade III | Texto I | Escola sem cor, num país de diferentes raças e etnias. Acessível pelo link: http://bit.ly/319j0RY Você foi capaz de refletir sobre como desenvolver uma Prática Pedagógica que contemple o Outro e suas Semelhanças e Diferenças, levando em conta e abrigando em sala de aula as diversificadas culturas infantis, adolescentes e juvenis, bem como suas novas formas e próprias as suas gerações de significar e construir novas e contemporâneas concepções sobre gênero, sexualidade, etnia http://bit.ly/319j0RY Educação das Relações Étnico-Raciais48 Avaliando a Necessidade de Repensar o Papel do Educador diante da Diversidade Cultural Avaliando a necessidade de repensar o papel do educador diante da diversidade cultural, você será capaz de refletir sobre as mudanças necessárias na figura do educador e da educadora para que a educação como uma prática de diversidade cultural aconteça plenamente. O ponto de largada, na reflexão sobre as mudanças necessárias no Papel do Educador, diante da Diversidade Cultural e promovendo-a em sala de aula, passa pela própria formação inicial e pelas formações posteriores da saída deste educador da universidade e de suas vivências em sala de aula. A formação de professores/as para a diversidade não significa a criação de uma ‘consciência da diversidade, antes, ela resulta na propiciação de espaços, discussões e vivências em que se compreenda a estreita relação entre a diversidade étnico-cultural, a subjetividade e a inserção social do professor e da professora, os quais, por sua vez, se prepararão para conhecer essa mesma relação na vida de seus alunos e alunas. (GOMES e GONÇALVES e SILVA, 2003, p. 28) Avaliando a necessidade de repensar o papel do educador, diante do seu compromisso necessário com a Diversidade Cultural, dentro da escola e em sala de aula, é necessário pensar na formação deste profissional que a legislação afirma como o responsável pelos primeiros anos da chegada das crianças nas escolas, na Educação Infantil e na 1.ª parte do Ensino Fundamental. O que devemos almejar é que a formação dos futuros pedagogos contemple e faça emergir melhores e mais conscientes educadores e que sejam capazes de examinar e refletir sobre suas práticas, desejosos de modificá-las. E possam fazer esforços para conscientizar seus educandos sobre a diversidade cultural presente na sociedade
Compartilhar