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Lucas Melo – Medicina Ufes 103 ANGINA O termo correto é angina pectoris, que significa dor no peito, é uma dor ou equivalente de origem cardíaca por isquemia miocárdica reversível, é uma sensação de desconforto precordial que está relacionada a esforços e emoções, têm alívio com o repouso. Sinal de Levine, paciente leva a mão ao peito e fala que está com dor, não é só na região retroesternal, pode ir para a região mamária esquerda. Mostrou uma imagem de um homem, na qual vemos vários fatores desencadeantes, a pessoa está no frio, acabou de sair de um restaurante (aumento do gasto energético), carregando uma mala que parece estar pesada e está fumando. Há diferentes regiões de irradiação, a irradiação clássica é aquela que sai do precórdio, vai para região mamária esquerda e depois membro superior esquerdo. Outras regiões de irradiação estão na imagem, como para o lado direito, mandíbula, região epigástrica e dorso. A angina pectoris pode ter uma origem além da cardíaca, como cutânea (herpes zoster), muscular (pacientes sedentários que fazem alguma atividade), psicogênica, alterações no abdome (abdome distendido, paciente constipado, pneumoperitônio), vascular (dissecção de aorta, aneurisma de aorta), alterações pulmonares e pleurais (pneumonia e derrame pleural). Existem diversas classificações, a principal é saber se a angina é estável ou instável. A estável é a sensação de desconforto relacionada a esforços, sendo previsível e aliviada no repouso (estenose fixa de artérias epicárdicas), a instável é a sensação do desconforto com o início mais recente (menor que 30 dias) ou de caráter progressivo (coágulo sobre uma estenose fixa), quando ainda não tem os processos de adaptação do organismo. *Angina típica e atípica: A angina típica se dá por 3 critérios: Desconforto retroesternal com característica e duração típicas, causada por stress físico ou emocional, aliviada em repouso ou com o uso de nitratos. A angina atípica (provável) preenche 02 dos critérios acima. Assim como mostra a imagem a seguir, toda placa causa um pouquinho de vasoconstrição, todo organismo fica num estado de hipercoagulabilidade, as forças de estresse em cima da placa aumentam, isso causa uma inflamação na placa, e é essa inflamação que é responsável por fazer a ruptura da placa e causar o trombo. As células espumosas acontecem ainda na primeira década de vida, nesse tempo costumamos ter estrias gordurosas, quando vamos para a terceira década já aumenta um pouco, e a complicação da placa costuma acontecer da quarta década em diante, por isso que é estudada a introdução alimentar em crianças para tentar postergar esse processo. Classificação CCS: Classifica de I a IV, sendo I a mais leve e a IV a mais intensa. Tipo I é Lucas Melo – Medicina Ufes 103 aquela que a angina vai surgir quando o paciente fizer um exercício mais intenso e prolongado, tanto no trabalho como de forma recreativa. Tipo II vai ter uma leve limitação da atividade habitual. Tipo III possui uma acentuada limitação nas atividades habituais e o Tipo IV é aquele que tem uma enorme dificuldade nas atividades habituais, como escovar os dentes e pentear o cabelo. A dor anginosa pode ser dividida ainda em A, B, C e D. A é aquele que é definitivamente anginosa, ou seja, não depende de exames complementares, o que colhemos de história já é suficiente. B é a provavelmente anginosa, ela depende dos exames complementares para classificação. C é a provavelmente não anginosa, na qual precisamos de exames para excluir a angina para ter certeza. D é a definitivamente não anginosa, é aquela que não é causada por insuficiência coronária. *Durante o ambulatório, o professor usou essa classificação para discutir o caso de uma paciente que tinha dor precordial, portanto, importante saber essa classificação. A angina instável possui algumas características: Classificação de Braunwald: Leva em consideração a intensidade da dor, circunstâncias clinicas e a intensidade do tratamento. *Angina secundária pode ser causada por anemia, pico hipertensivo, problemas hormonais da tireoide, entre outros. *Angina pós infarto nem sempre está relacionada a uma nova oclusão, pode ter relação com a lesão de reperfusão, pericardite pós infarto, etc. Os fatores de risco podem ser de dois grupos, os removíveis, que podemos mudar, e os não removíveis, que não podemos mudar. Os não removíveis são idade (quanto mais velho mais chance), sexo masculino (depois da menopausa das mulheres o risco iguala), história familiar (casos em jovens aumenta o risco, sendo que considera jovem nesse caso homens abaixo de 55 anos e mulheres abaixo de 60 anos) e diabetes (doença que funciona como ferrugem nos vasos, faz Lucas Melo – Medicina Ufes 103 diferença se é uma diabetes bem controlada ou não, e quantos anos de diabetes). As causas removíveis são hipertensão (controlar com medicação), dislipidemia (inicialmente o ideal é uma medicação de estilo de vida, diminuição de alimentos com muito colesterol), tabagismo (tabaco causa um estado pró-inflamatório, lembrando que é a inflamação que faz romper a placa), estresse (nível de estresse alto faz picos pressóricos que aumentam a força de cisalhamento), sedentarismo (a musculatura da panturrilha é muito importante pois funciona como um coração periférico, e a pessoa sedentária não desenvolve as forças de suporte para o coração, como a falta de musculatura na panturrilha) e obesidade (além de consumir muita energia, aumenta a chance de alteração dos hormônios, por exemplo os tireoidianos). Exame físico (variável): Normalmente é inexpressivo, mas podemos notar palidez, sudorese, ansiedade, cianose, turgência jugular (se a disfunção for no ventrículo direito fica túrgida). Na AC podemos ter várias coisas como presença de B3, B4 e sopro sistólico, na AP pode haver crepitações (se está crepitando quer dizer que está acumulando água no pulmão, deflagrando uma insuficiência cardíaca esquerda). É importante aferir a PA nos dois membros superiores (se for uma primeira consulta, aferir pressão nos quatro membros, escolher o membro de maior pressão e aferir novamente com o paciente, sentado, deitado e em pé) e se for um caso de consultório, fazer palpação de pulsos dos MMSS e MMII, num quadro agudo focar só na pressão dos dois braços. Avaliação laboratorial: É importante fazer a dosagem das enzimas cardíacas (troponina, de preferência a i – proteína ultrassensível - e CKMBm), hemograma (para pesquisar se tem anemia que pode causar angina, ou se o paciente tem alteração do número de leucócitos indicando uma infecção, que exige mais do coração), eletrólitos (se está consumindo eletrólitos durante essa angina, na falha de alguns deles, pode ocorrer arritmia, os principais são sódio, potássio e magnésio), glicose em jejum e hemoglobina glicada (só se for um caso de ambulatório, hemoglobina glicada confere os últimos 14 dias dos pacientes), perfil lipídico, função renal (por conta da síndrome cardiorrenal, em que alterações cardíacas provocam lesões renais e vice-versa), coagulação (estado de hipercoagulabilidade aumenta o risco de trombo e causar infarto). Exames complementares: ECG (um eletro normal não exclui que a angina seja de causa cardíaca, e para isso existe história clínica e anamnese), Teste ergométrico (teste provocativo de isquemia), Holter (é um eletro de 24 horas que pode ver isquemias que são mais silenciosas), Rx de Tórax (tamanho da área cardíaca, aumento de alguma câmara, é mais deixado de lado, pois o Eco é mais utilizado) e Ecocardiograma (vai excluir causas estruturais como cardiopatias congênitas, doenças valvares e doenças musculares e mostra a função das paredes). Exames complementares(alto custo/risco): Ecocardiograma com stress (feito com dobutamina e em locais em que há um suporte maior), Cintilografia (usa um radiofármaco injetável), Cineangiocoronariografia (CAT, é excelente para ver a anatomia, porém é invasivo e precisa de uma máquina de hemodinâmica), Angio Tomografia de Coronária (injeção de contraste em uma veia periférica, ela não substitui o CAT, e é mais recomendada para pacientes de risco intermediário, enquanto o CAT já é mais recomendado para risco alto) e PET SCAN (utiliza uma glicose marcada). Cascata isquêmica: Quando o paciente começa a ter isquemia, os exames que vão nos mostrar isso são, inicialmente, os exames que vão mostrar o metabolismo, que são o PET SCAN e a cintilografia. Depois do metabolismo, vai mudar a função diastólica do paciente, nesse caso pode ser visto no Ecocardiograma. Posteriormente, há a alteração da contratilidade, que também é vista no eco. Em seguida, há a alteração elétrica, que é vista no ECG, e por último vai ter a apresentação dos sintomas. Lucas Melo – Medicina Ufes 103 Professora mostrou uma imagem de um teste ergométrico, que primeiro o paciente está caminhando normalmente e não apresenta nenhuma alteração elétrica, após a mudança de inclinação, o paciente apresenta infradesnivelamento nas derivações do ECG, e por mais que você queira, não pode dizer qual parede está afetada só com esse teste, pode imaginar qual que é, mas não colocar no laudo. Na cintilografia vemos uma área mais rosada, que é o radiofármaco marcando e a área mais azul e arroxeada, nesse exame, uma área maior que 10% de área isquêmica é considerada uma área de isquemia grande. Tratamento: Em relação a angina, o objetivo do tratamento é o controle dos sintomas, prevenção de complicações (principais complicações são infarto, doença arterial periférica, carotídea e cerebral – AVC) e controle do processo de aterosclerose (o tratamento do colesterol pode diminuir o tamanho das placas). O tratamento pode ser clínico, utilizando antiagregação, beta bloqueador (funciona como um dipirona para o coração, ele tem um efeito analgésico, vai diminuir os batimentos cardíacos e tornar cada novo batimento mais eficaz), nitratos (vasodilatadores que favorecem a passagem de sangue por áreas de estenose), bloqueador de canais de cálcio (não podem ser dados em pacientes que já tem alteração da função de ejeção), redução do colesterol por meio de dieta, exercícios e/ou medicação. Pode ser um tratamento intervencionista, que pode ser tanto percutâneo quanto cirúrgico. *Diferente do infarto, a angina é uma dor que passa, o infarto é uma dor excruciante, é algo bem intenso e o paciente vai chegar infartando para você na maioria das vezes, a angina pode durar ali os seus 40 minutos, mas passa. Anotações: *Tecido cardíaco possui uma elevada taxa de extração de O2 (75%), é fixa e não aumenta, por isso, para aumentar a oxigenação do musculo cardiaco, precisa aumentar o fluxo. *Arteríolas pré-capilares se dilatam em resposta aos produtos do metabolismo, como o NO, relacionadas com a reserva coronariana. Lucas Melo – Medicina Ufes 103 *Os pacientes podem ter diferentes limiares para isquemia de acordo com a interação da doença coronariana subjacente e de outros fatores individuais. *Isquemia (início) > disfunção diastólica (perda do relaxamento) > evolui para > disfunção sistólica (perda da capacidade contrátil). *O tecido miocárdico pode estar em hipocinesia (contração fraca), acinesia (imóvel) ou discinesia (com movimento paradoxal). *Primeiro sinal de isquemia é a alteração da onda T, um infradesnivelamento no segmento ST corresponde a lesão não transmural e um supradesnivelamento a uma lesão transmural. *Artérias que suprem o coração, coronária direita (irriga o VD), tronco coronário esquerdo que se divide em descendente anterior (maior parte do VE) e circunflexa (parede lateral do VE). *Dor anginosa: Paciente refere dor em aperto ou peso, após um esforço ou emoção e melhora depois de um tempo. *Pacientes com transplante cardíaco não referem dor cardíaca pois não há comunicação nervosa sensitiva. *Dor referida no trapézio exclui angina, relacionada com irritação do diafragma (peritonite aguda). *Infradesnivelamento de ST maior ou igual a 2mm é um prognóstico ruim. Tratamento medicamentoso: A angina possui alguns tipos de terapia, a terapia básica é composta de 3 passos que estão na primeira coluna da imagem abaixo, sendo o primeiro passo um betabloqueador (é a dipirona da angina) ou um bloqueador de canal de cálcio. O segundo passo da terapia básica é a associação entre um betabloqueador e um bloqueador de canal de cálcio dihidropiridínico, e o terceiro passo é partir para o uso de uma droga de 2ª linha, sendo que essas etapas são para o controle da dor, e não o tratamento para o que está causando a angina. As outras colunas da imagem mostram os passos do tratamento da dor com algumas especificidades que o paciente pode apresentar.
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