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~ 1 ~ ~ 2 ~ William passou seis anos fugindo de seu passado e os últimos oito meses tentando tirar de sua cabeçaos sonhos que cada vez mais assombram suas noites. Preso em um mundo de falsas ambições e emoções fingidas, William sabe que atingiu um ponto de ruptura onde alguma coisa vai ter que ceder. Maggie viveu sua vida inteira sem esperanças, até que um homem mostrou a ela o que significava ser amada. Ele foi sua luz em uma vida de escuridão. Seis anos atrás, a escuridão o levou para longe. Sem ele, ela se rendeu a uma existência de onde não sabe escapar. Quando a família que William deixou para trás é atingida por uma tragédia, ele é chamado para o único lugar que jurou nunca retonar. Em um momento que mudará sua vida para sempre, William encara a garota que, com um olhar, conquistou seu coração. Ele é incapaz de ignorar os desejos enterrados e a esperança de um futuro que eles uma vez acreditaram que teriam. Agora, William está pronto para lutar para ter de volta o que lhe foi roubado seis anos atrás. Porém, ele nunca pensou no que esta luta poderia custar. ~ 3 ~ Capítulo Um Risos flutuavam sobre o parque vazio, um eco, um chamado. William se impulsionou para frente, atraído pela névoa escura. Vento lhe sopravaos pés, agitando as folhas caídas no chão do inverno morto. Cada passo de suas botas era pesado com um fardo que fervia em algum lugar na periferia de seu entendimento. — Aposto que você não pode me encontrar. — A voz inocente estava distante, enquanto caianos ouvidos de William cheia de alegria do jogo que a criança brincava. Essas palavras correram como medo nas veias de William. Os passos de William batiam em seus ouvidos enquanto ele seguia a trilha da voz suave que se arrastava com o vento, passando pelos balanços vazios e caixa de areia na floresta na parte de trás do terreno. Entre as árvores vigorosas e intricadas, com seus galhos torcidos e entrelaçados, William parou para escutar. Um galho estalou à sua direita, outra gargalhada quando a criança correu rindo atrás de uma árvore para outra há mais de cem metros de distância. — Espere. — Chamou William, estendendo sua mão na direção da criança. Por favor. Por um momento, o menino espiou por trás de um grande tronco de árvore e olhou para William com enormes olhos castanhos. O coração de William estremeceu com o rosto do menino – aimagem de si mesmo – derepente consumido com a necessidade de proteger e abrigar. ~ 4 ~ A criança riu novamente, com os pés muito ágeisquando decolou, seu cabelo loiro escuro, como uma chama impressionante à luz da lua, antes de desaparecer na escuridão mais profunda. Ofegante, William perseguiu o rapaz, pedindo-lhe para parar, enquanto tropeçava em raízes expostas e cobertas de terra que pareciam quase vivase quetentavam segurá-lo. O riso da criança seguiu ao longo da brisa, roçando o rosto de William, chamando-o para um lugar que ele não conhecia. William se esforçou para encontrá-lo, para diminuir a distância, mas a diferença só crescia. O riso mudou e desapareceu. O súbito medo do garoto bateu em William como uma faca no peito. Em algum lugar nas profundezas, longe do alcance de William, ele ouviu o grito da criança. Eu puleida cama, ofegante e desorientado. Lascas de luz prateada disparavam peloquarto, furtando através das ripas das persianas. Agarrando minha cabeça entre minhas mãos, lutei para endireitar a mim mesmo, para diminuir meu coração trovejando, e parar os tremores rolando pelo meu corpo. Merda. Eu balancei minha cabeça e bati a mão sobre meu rosto. Meu olhar se lançou ao redor do enorme quarto. Na penumbra, meus olhos se ajustaram. Concentrei-me no criado mudo ao lado da minha cama. Minha carteira de couro preta e o pesado relógio de prata estavam ao lado do relógio que brilhava quatro e quarenta e sete. Vislumbrei a entrada do banheiro à minha direita eapequena cômoda com espelho alto no outro lado da extremidade do quarto. Tudo familiar – tudoque eu compreendo. Eu soltei uma respiração pesada e atraí uma calma, meu peito nu palpitando com um último tremor. ~ 5 ~ Foi apenas um sonho, disse a mim mesmo quando passei a mão pelo meu cabelo. Apenas o mesmo pesadelo fodido que estava me assombrando há meses. Sempre o mesmo, me perseguindo como um menino pela floresta escura, acordando quando eu gritava. Lançando um olhar para a esquerda, eu olhei para onde Kristina dormia profundamente sobre seu estômago, virada para a direção oposta. O edredom foi puxado até um pouco abaixo de sua cintura fina, o cabelo loiro caindo em cascata no travesseiro e mergulhando no colchão. A pele pálida de seus braços e costas pareciam um severo contraste contraos lençóis negros em que ela estava deitada. Seu corpo subia e descia com cada respiração, não afetada e sem saber da minha angústia. Dificilmente era uma surpresa, não que eu desejasse o conforto de qualquer maneira. Éramos pouco mais que estranhos dormindo na mesma cama durante os últimos seis anos. Casamento nunca tinha sido mencionado. Nenhum de nós fingia o que essa relação era. Eu estive apaixonado uma vez. Foi esse tipo estúpido de amor que tinha me mantido acordado durante a noite, querendo mais. Mas ela mesma nunca foi minha. Eu era bastante jovem - tolo o suficiente – paraesperar que o que sentimos um pelo outro conseguisse superar o passado dela, mas não ingênuo o suficiente para realmente acreditar que iria funcionar. Sabendo que não queria perdê-la não tinha me dilacerado. Mesmo que ela não me escolhesse, eu estava desesperado para salvá-la desse caminho. Mas algumas coisas tinham sido tão profundamente enraizadas nela que eu duvidava que ela alguma vez realmente tivesse tido a chance de se libertar delas. Era tão enraizado que ela acreditava que era a única maneira de viver. Rolei para o meu lado e fechei meus olhos enquanto eu tentava afastar a memória do rosto dela da minha mente, mas era tão vívido como o dia em que ela me forçou a sair de sua vida. ~ 6 ~ Ela me tocou mais fundo do que qualquer uma já fez, mais profundo do que eu acreditava que alguém pudesse. Pressionando meu rosto no meu travesseiro, eu permiti um vislumbre de sua presença me invadisse. Aquele sorriso... Tão inocente e doce. Como ela tinha me olhado com aqueles olhos castanhos. O seu lado tímido, sentindo como suas mãos confiantes deslizavam levemente sobre a minha pele. Mesmo a memória roubou meu fôlego. Às vezes eu gostaria de poder apagar a marca que ela tinha deixado em mim, para que eu pudesse finalmente ficar livre desta dor. Outra parte minha a segurava, porque isso era a única coisa que ela me deixou. A única coisa que eu tinha para provar que o que tínhamos compartilhado tinha sido real. Eu queria tudo com ela, mas mais do que tudo, eu queria que ela fosse feliz. Segura. Eu rolei ficando de costas e encarei as sombras jogandopelo teto, antes de olhar novamente para Kristina. Quão diferente eu imaginei a minha vida. Em vez de fingir aqui praticamente sozinho ao lado de Kristina, eu deveria estar embrulhado nela, seu cabelo ruivo fazendo cócegas no meu queixo enquanto se mexia em seu sono e esfregava seu rosto no meu peito. Eu deveria estar acordando para as boas-vindas em seus olhos, de alguém que se importava comigo, tanto quanto eu me preocupava com ela. Eu aceitei há muito tempo que nunca teria a vida eu que queria, mas o isolamento da noite sempre parecia trazer tudo de volta, e isso só tinha piorado desde que eu comecei a ter os pesadelos há seis meses. Sentando-me, esfreguei a parte de trás do meu pescoço e tentei afastar a tensão que se reuniu nesses músculos, para livrar-me da ansiedade que se agarrou gradualmente. Levantandoda cama, tive o cuidado de não perturbar Kristina. Eu sabia por experiência que não tinha chance de voltar a dormir agora. No banheiro, apertei o interruptor de luz e fiquei vesgo com o brilho, vendo a tensão do sonho recorrente evidenciada no meu rosto no espelho. ~ 7 ~ Suspirando, eu virei a pleno vapor a torneira e joguei água fria no meu rosto. Isso estava ficando realmente velho. *** Kristina estava na opulenta cozinha, agitando uma xícara de café enquanto folheando uma pilha de papéis sobre o balcão. Ela usava calça típicas, blusa e salto alto, os acessórios perfeitos para o seu corpo perfeito, nem um fio de seu cabelo brilhante e elegante em desordem. Ela mal olhou na minha direção quando eu entrei através da arcada. — Me encontra depois do trabalho na Nicoll’s? — Ela disse. Sua atenção permaneceu nos papéis à sua frente. Apesar de ter sido formulada dessa forma, eu sabia que não era realmente uma pergunta. Minhaconcordância era esperada. Todo o meu sucesso estava em suas mãos, e ela nunca me deixa esquecer isso. Como se ela estivesse me dando algo que eu realmente queria. Me deu vontade de rir na cara dela. Será que ela realmente não tinhaideia de como eu mantinha tudo à tona? — Eu estarei lá. — Eu murmurei, indo para minha quarta xícara de café da manhã, esperando além da esperança que esta seria a que poderia, finalmente, combater o cansaço pesado na minha mente e corpo. O olhar de Kristina caiu sobre mim, desta vez com seus olhos me estudando. — Você parece uma merda, William. — Os saltos clicados contra o piso de ardósiaenquanto ela dava os três passos necessários para trazê-la ao meu lado. Estendendo a mão, ela me virou na direção dela, ajeitou a gola da minha camisa de botão branca, ajustando a minha gravata, e acariciando as peças errantes do meu bagunçado cabelo loiro escuro que havia sido ~ 8 ~ propositadamente cortado dessa maneira. — O que está acontecendo com você ultimamente? Dei de ombros, fazendo um esforço consciente para me impedir de vacilar em seu toque. — Eu estou bem. Eu não tenho dormido bem. Ela apertou os lábios, um lado puxado mais do que o outro, antes que ela se virasse. Seu breve momento de preocupação desapareceu tão rapidamente como tinha aparecido. Agarrando minha pasta, eu fui para a garagem. Levei meu SUV de luxo preto para fora na estrada estreita e sinuosa com vista para Los Angeles. Poluiçãofixava-se fortemente no horizonte, a luz da manhã era um cinza nebuloso. A rodovia engarrafada não foi nenhuma surpresa. Meu carro ficou parado quase no momento em que fundiu na I-10 no caminho para o meu escritório no centro. Sentindo os efeitos da fadiga, eu caí no banco e descansei contra o encosto de cabeça. Meus olhos caíram fechados. Quando tudo que eu via eram os mesmos olhos castanhos do meu sonho olhando para mim, meus olhos se abriram. O que diabos há de errado comigo? Eu apertei as palmas das minhas mãos nos meus olhos. Eu sempre me orgulhei do meu autocontrole, a minha tenacidade, a minha capacidade de fazer o trabalho. Agora eu me sentia como se minha sanidade estivesse pendurada por uma corda rapidamente se desenrolando. De onde esta inquietação estava vindo, eu não estava realmente certo. Imaginei que os sonhos eram apenas uma extensão da minha insatisfação com a vida –um relacionamentoem que eu não queria estar, e um trabalho que era tão estressante que eu mal conseguia pensar direito no final do dia. Eu me perdi em algum lugar no meio do caminho, e talvez meu subconsciente estivesse me dizendo que era hora que eu encontrasse essa pessoa de novo, porque eu com certeza não estava feliz com o que eu havia me tornado. ~ 9 ~ No começo, eu tinha abraçado a fuga que encontrei em LA, mas nunca estaria em casa. Foi apenas isso– umafuga. Por toda a minha vida, eu tinha sonhado em sair do Mississipi, até que fui para a faculdade e, lentamente, percebi que a pequena cidade era o único lugar em que eu queria estar. Meu irmão mais velho, Blake, sempre brincou comigo por ser um garoto da mamãe, uma acusação que nos causou mais de algumas brigas no nosso quintal quando éramos crianças. Crescendo, eu sempre me esforcei para ser durão, assim como Blake, que era o jogador estrela de futebol, o cara que todas as garotas queriam. Porém, eu tinha sido aquele alto, desengonçado – oirmãozinho magricela que iria acabar com o lábio inchado, sangrando após Blake me colocar de volta no meu lugar quando eu tentava enfrentá-lo.Provando o ponto de Blake, eu sempre corriadireto para a nossa mãe, que colocavano meu lábio sangrando uma bolsa de gelo e uma mão suave no meu cabelo. Engraçado como os tempos mudaram. Agora, Blake tinha duas meninas e uma esposa dedicada, um espírito calmo e uma voz suave, e eu não era mais o garoto estranho. No mundo em que eu trabalhava, eu cortava gargantas antes que alguém pudesse cortar a minha. Eu nunca pensei duas vezes sobre uma facada rápida nas costas para dar um passo mais perto de onde Kristina queria que eu fosse. Mamãe nos chamavade casal poderoso com uma quantia de desgosto, incapaz de esconder seu descontentamento com a pessoa calejada que eu havia me tornado. Aparentemente, algo dentro de mim, não gostava de quem eu me tornei também. Quarenta minutos mais tarde, entrei na garagem subterrânea. Eu estacionei na abertura revestida com meu nome, respirei fundo, e fixeiem meu rosto uma expressão para combinar com a personalidade que a cada dia parecia se tornar cada vez mais difícil manter. O porteiro ficou de lado com um aceno sucinto. — Bom dia, Sr. Marsch. ~ 10 ~ Eu balancei minha cabeça bruscamente em um show de poder e caminhei até o elevador. *** Nicholl’s era mal iluminado e bancado por homens em ternos de grife. Eles eram ofuscados por mulheres executivas com bolsas que provavelmente custavam mais do que o meu primeiro carro. O restaurante servia os ricos. Não os famosos, mas os cultos que tinham agarrado seu caminho até o topo, outros que tinham nascido com isso e herdaram o trono, e, sem dúvida, alguns que dormiramcom o seu caminho para entrar. Kristinaestava sentada em uma mesa redonda, em um canto da sala, conversando com os dois homens de frente para ela. Ela levantou a mão em saudação quando me viu do outro lado da sala, um sorriso artificial no rosto. Eu fiz o meu caminho, e me forcei a beijá-la na sua mandíbula oferecida. — William, você faz isso tão bem. — Sua irritação foi pouco forçada. Eu estava cinco minutos atrasado. — Desculpe. —Eu me desculpei enquanto eu alisava minha gravata contra o meu peito e me colocava sobre a cadeira vazia ao seu lado. Ela não parecia conseguir ver que me atrasei porque limpar a bagunça de seu pai era um trabalho que nunca termina. Como eu tinha caído na armadilha de trabalhar com os dois, eu nunca saberia. Ela me apresentou para os nossos clientes potenciais, sua brincadeira fácil colocando-os à vontade. Do jeito que olhavam para ela, eu pude ver que ela já conseguira esta conta. Mesmo que pegasse meu laptop e lhes mostrasse como é que faríamos o seu investimento crescer, e Kristina teria a intenção de convencê-los das razões pelas quais se juntarem a empresa de seu pai iria beneficiá-los, tudo seria completamente desnecessário. ~ 11 ~ Kristina tinha me agarrado quando eu era um estagiário durante o meu último ano de faculdade. Eu lhe permiti descobrir algo em mim que até então eu nunca soube que possuía, algo que agora eu queria que ela nunca tivesse descoberto. Mais velhapor cinco anos, ela já estava se preparando para tomar seu lugar no topo da empresa de seu pai e prometeu me levar junto com ela. No início, parecia um grande arranjo. Isso serviu como uma distração perfeita sobre meu passado, um lugar onde eu poderia fingir que era alguém que eu não era. E eu duvidava que houvesse muitos homensque teriam se oposto a dormir com uma mulher que parecesse comoKristina noite após noite, mas esse tipo de atração superficial só poderia durar por um tempo. Várias bebidas depois, os dois homens estavam assinando na linha pontilhada. Nenhuma surpresa. Kristina estava satisfeita e apertou minha coxa por debaixo da mesa. Nós nos separamos dos homens com as brincadeiras típicas de sucesso garantido. Seguindo para sua casa, estacionei em um local próximo ao seu Porsche vermelho. Ela era toda sorrisos tímidos e sexo quando saiu de seu carro. Uma sensação de pavor lentamente se instalou na boca do estômago. Eu realmente tinha começado a odiar esta vida. *** Kristina dormia enrolada em seu lado, mais uma vez de costas para mim. Seu cabelo loiro brilhava sob a luz do luar que entrava pela janela. Imitando a pose, eu permiti que meus olhos traçassem sobre sua pele nua pelas costas, onde inclinava e se reunia com o quadril e tentei sentir alguma coisa, algo diferente de desdém. Um gosto amargo azedou na minha boca quando percebi que não havia nada. ~ 12 ~ Exausto, eu afundei ainda mais no colchão, ainda mais no meu travesseiro, e flutuei. O riso era o seu chamado, perdido em algum lugar nas profundezas da floresta. O vento veio forte, soprou no rosto de William, picando enquanto ele se arrastava desolado pelo quintal. William tropeçou na madeira amontoada. Um flash de cabelos loiros. — Aposto que você não pode me encontrar. — O menino riu e saiu correndo. O medo cresceu e virou o intestino de William, o empurrandopara frente. — Espere. — Chamou William, estendendo a mão na direção da criança. Por favor. Ele espiou atrás de uma árvore, o garoto com o rosto de William. A criança estava em movimento novamente, escondendo-se, rindo, mexendo com a ansiedade desconhecida em um frenesi que batia como um tambor contra o peito de William. Por favor, espere. O riso esmaeceu e diminuiu. O súbito medo do garoto bateu em William como uma faca no peito. Em algum lugar nos recessos mais profundos, muito além de seu alcance, William o ouviu gritar. Eu me acordei, estremecendo. Engolindo o ar, eu segurava minha cabeça e tentava pressionar o sonho dos meus pensamentos, mas ele cavou seus dedos profundamente sob a minha pele, enquanto sementes do medo que eu sentia há meses firmemente se enraizaram. ~ 13 ~ Capítulo Dois Maggie ~ Dias atuais Relâmpagos fora da janela da sala de estar. Eles iluminavam a rua adormecida e as longas silhuetas e ramos secos das árvores altas. Eu fiquei em silêncio na sala escura e achatei a palma da minha mão no painel de vidro frio. Tantos anos se passaram, mas eu nunca iria esquecer. Eu nunca iria esquecer seu toque. A maneira como ele me fez sentir ou o que ele me fez ver. Nunca iria esquecer a bondade gentil nos seus olhos. Outra centelha de luz cobriu o céu da noite, e se eu me concentrasse bastante, quase podia vê-lo em pé no meio da rua vazia. Tufos de seu cabelo loiro escuro eramchicoteados pelo vento, enquadrando a intensidade de seus olhos castanhos surpreendentes. Ele estava olhando diretamente para mim. William foi o único que se importou o suficiente para realmente me ver. Pressionando minha mão com mais força na janela, eu desejei puxá- lo para perto de alguma forma, no entanto,sabia que nunca seria corajosa o suficiente para enfrentá-lo se ele retornasse. Assustada, eu pulei quando a porta de trás sacudiu quando foi desbloqueada, e eu lentamente me afastei do único que queria. E como eu tive que fazer tanto tempo antes, o deixei ir. ~ 14 ~ Capítulo Três William ~ Dias atuais Esforçando-me para me concentrar, tentei fazer sentido na confusão de números que pareciam redemoinhos através da página. Quanto mais eu tentava, mais confuso se tornavam. Três horas de sono, merdas de Kristina, lidar com o desastre financeiro que seu pai havia criado para esta empresa, e eu estava prestes a explodir. Eu estava tão cansado de tudo isso. Jogando minha caneta sobre a planilha, eu balancei de volta na minha cadeira de couro e massageei as têmporas como se pudesse silenciar o sonho da noite passada que ainda estava gritando em meus ouvidos. — Droga — Eu gemi, esfregando os olhos e tentando me livrar dele. — Isso é ridículo. — O que é ridículo? Minha pele se arrepiou com o irritante som áspero da voz de Kristina vindo da minha porta do escritório. Eu soprei o ar dos meus pulmões em uma tentativa de me controlar o suficiente para lidar com ela. Ela deu um passo para frente e a porta fechou atrás dela com um clique suave. — Tudo isso. — Minha mão arremessou para frente em um aceno irreverente em um show evidente de frustração. Apenas tudo. ~ 15 ~ Kristinaencarou o desastre em cima de minha mesa. Meu laptop estava inclinado para o lado e os papéis estavam espalhados em pilhas não organizadas em torno dele. Ela estreitou os olhos para mim. — O que está errado com você, William? — Insatisfação pingava através de cada palavra dela. — Papai precisava disso dias atrás. Você tem que se recompor. Não sei exatamente o que eles esperavam, porque eu só podia mover os números ao redor. Mas não fazia sentido apontar isso. Fazer as práticas de negócios questionáveis do Sr. Crane legais era o que eu era pago para fazer. Além disso, há seis meses, eu teria feito dias atrás. No início, não tinha sido tão ruim assim, apenas misturar alguns números que não combinavam muito bem, mas quanto mais eu ficava e quanto mais profundo eu cavava, mais eu descobria. Suprimindo o meu ressentimento, eu olhei para a minha esquerda e para fora da janela para a forma do arranha-céu ao lado. À toa, eu me perguntava se alguém não se sentia tão preso como eu fazia aqui. Eu voltei minha atenção para Kristina e desejei que eu não sentisse a onda de animosidade que vinha com isso, o meu tom firme com moderação. — Vou fazê-lo assim que eu puder. *** Tão absorto na tentativa de fazer a mistura de números, pulei quando meu celular vibrou e tocou sobre a mesa. Duas horas se passaram e eu ainda não tinha percebido isso. Pegando o telefone, eu me arrepiei quando vi o nome que iluminou na tela. Droga. ~ 16 ~ Eu me dei alguns segundos antes de responder, necessitando de tempo para conter a onda de culpa que eu sentia cada vez que falava com um deles, e, em seguida, trouxe o telefone para o meu ouvido. — William Marsch. — Minha saudação padrão, toda a parte da fachada, como se eu já não estivesse ciente de quem estava ligando. Isso falava volumes do imbecil que eu me permiti ser. Apesar de todo meu esforço para manter a minha família no comprimento do braço, eles tentavam tão difícil me manter como uma parte deles. Toda vez que eu falava com o meu irmão mais velho, Blake era simpático e me perguntava como eu estava, porque ele realmente se importava. Ele costuma ignorar o fato de que eu tinha, essencialmente, deixado tudo para trás. Mas não hoje. Por alguns momentos dolorosos, ele ficou em silêncio. Havia apenas murmúrios tênues e sussurro no fundo. Quando ele finalmente falou, sua voz estava tensa. — Ei, Will... uh... É Blake. Um medo de modo semelhante ao que senti ontem à noite quando eu tinha acordado do sonho explodiu no meu peito. Eu já estava antecipando as palavras de Blake antes que ele as falasse. — Olha...Eu tenho más notícias. Em um borrão, os rostos da minha família correram pela minha mente, as pessoas que eu amava, mas mal conhecia mais, aqueles que eu fingi esquecer. Meu peito apertou enquanto cada rosto passava, e eu lutava para conseguir fôlego. Movendo-me para apoiar os cotovelos, eu pressionei meu polegar eo indicador contra os meus olhos e segurei mais apertado o telefone no meu ouvido. Por favor... Apenasnão a mãe. Eu cantava a oração silenciosa enquanto Blake continuava a falar.~ 17 ~ — Tia Lara... Ela... O câncer está de volta. — Blake limpou a aspereza de sua garganta. — É ruim desta vez, Will. Isso se espalhou muito. Eles não podem fazer nada a não ser deixá-la confortável. Isso veio tão rápido. — Blake embargou com a explicação, e eu tentei parar o giro na minha cabeça. — Eles a tinham colocado em uma casa de repouso e a mudaram para a mamãe então ela está perto da família. Ela tem apenas algumas semanas, no máximo. A notícia penetrou meu núcleo. Minha tia Lara ia morrer. — Deus... Blake. Mesmo que eu tentasse, não era algo que eu poderia afastar. Não era outra coisa que eu poderia agrupar e guardar e me convencer de que isso não importava. Houve um tempo em que minha tia Lara e eu éramos próximos. Quantas tardes quentes de verão quando um garotoentreipor sua porta de trás, sentando-me à mesa da cozinha com um picolé vermelho na minha mão, sorrindo, enquanto ela me pedia os pequenos detalhes sobre o meu dia? Ou as muitas noites de sexta-feira que passei em sua toca, no chão enterrado debaixo de um cobertor, assistindo a filmes com pipoca e refrigerante. Ela nunca se casou, nunca teve seus próprios filhos, e ela sempre considerou Blake e eu como seus meninos. No entanto, outro relacionamento que eu tinha deixado para trás. — Nós precisamos de você aqui, Will. Mamãe precisa de você. Eu não tinha voltado para o Mississipi em mais de seis anos. Tia Lara me ligou uma vez e não hesitou em libertar o seu desapontamento em mim. Ela me disse que não iria ficar de lado e permitir que eu ferisse sua irmã mais nova por evitar minha mãe – minhafamília inteira –mais. Ela me acusoude pensar que era bom demais para todos eles e perguntou o que qualquer um deles já tinha feito para mim, já que eu achava que poderia tratá-los dessa forma. O que nenhum deles entendia era que eu não poderia voltar. Eu não podia suportar vê-la, não poderia testemunhar a vida que ela tinha ~ 18 ~ escolhido. Ninguém da minha família sabia o que tinha acontecido naquele verão, o verão, quando o meu coração tinha ficado vivo e, em seguida, foi esmagado no que pareceu ser com o mesmo fôlego. A única coisa que eu podia fazer era sair, virar as costas e agir como se nunca tivesse acontecido. Eu tinha enterrado tudo em um lugar logo abaixo da superfície, onde as memórias do toque dela corriam desenfreadas nas minhas fantasias, livres apenas nos momentos solitários da noite. Ela tinha se tornado um sonho. Eu sabia que se pisasse de novo no Mississippi estaria indo torná-la real novamente. Porém, mesmo se o fizesse, eu me recusava a ignorar minha família quando eles precisavam de mim. — É... — Eu levei a mão para meu cabelo e olhei para minha mesa, não sabia como eu iria lidar com a volta, mas sabia que não tinha escolha. Engoli em seco, então forcei a falar, comprometendo-me de voltar para o lugar que eu corri tanto tempo atrás. — Eu estarei lá. A surpresa de Blake era evidente em sua falta de palavras. Finalmente, ele se apressou. — Bom. Isso é bom. Estamos todos... — Ele fez uma pausa e sua voz baixa. — Todo mundo aqui sente falta de você, Will. Eu apertei para baixo alguma emoção, odiando que eu tivessefeito a minha família acreditar que não queria ser uma parte de suas vidas. — Deixe-me colocar algumas coisas do trabalho reorganizadas, e eu vou te dar um telefonema de manhã para te deixar saber quando eu vou sair. A respiração pesada de Blake era quase palpável através do telefone. — Okay. Apenas se apresse. *** ~ 19 ~ Puxando as camisas de seus cabides, as joguei com pouca atenção na mala aberta sobre a cama. Kristina estava atrás de mim, encostada no batente da porta do quarto com os braços cruzados sobre o peito. — Eu não posso acreditar que você está fazendo isso, William. Você tem alguma ideia do que temos montando esta conta? Quanto dinheiro estamos perdendo se você não está aqui? Eu lancei um olhar de soslaio para Kristinaenquanto espreitava de volta para o closet. Ela ficou ali fumegando do outro lado da sala. Ela estava montando em minha bunda desde o segundo eu lhe disse que estava indo embora. Peguei alguns pares de calças do closetparando na entrada no caminho para fora. — Minha tia está morrendo. —Eu disse, forçando a palavra para fora. — O que você espera que eu faça? — Eu espero que você honre suas obrigações. Eu mordi de volta um bufo desdenhoso. Honra? Trabalhar para o pai de Kristina era a coisa menos honrosa que eu já tinha feito. Tomando quatro passos largos para a cama, eu virei de costas para Kristina e joguei o resto das minhas coisas na mala, a enchendo com roupa e me esforçando para mantê-lapresa enquanto a fechava. Eu estava em pé e falei na direção da parede. Oferecendo-lhe uma explicação que eu pensava que qualquer pessoa normal iria entender. — Minha família precisa de mim. Eu senti a mudança, a inclinação da cabeça, quase podia ver seu sorriso de escárnio. — Desde quando você se importa sobre o que eles precisam? ~ 20 ~ Eu apertei minhas mãos com a culpa tensionando os músculos nas minhas costas. É isso que os últimos anos da minha vida tinham mostrado? Completa desconsideração pela minha família? Sacudi isso fora, peguei a mala e a arrastei da cama pelas rodas, percebendo que era inútil corrigi-la. Ela não tinha ideia sobre o meu passado, o quão próximo eu era com a minha família, ou o quão próximo eu tinha chegado de viver uma vida tão diferente desta. Eu cruzei o quarto até ela, parando a um pé de distância. Sua expressão era dura, seus olhos de fogo azul, todos os pretextos se foram– fria – assim como eu sabia que ela seria. Minha raiva se dissipou quando eu a tomei. Eu quase senti pena dela. Ela permitia que toda essa merda trivial governasse seu mundo. Era a mesma merda que eu tinha permitido que girasse em torno do meu. — Quando é que vai ser o suficiente, Kristina? Aproximando-me, eu inclinei minha cabeça para ter certeza que mantinha sua atenção. — Será que você vai ficar satisfeita? Porque eu me recuso a viver assim por muito tempo. — De alguma forma eu sabia que tinha chegado a um ponto de virada. Eu só não sabia para que lado eu estava indo. — O que é que isso quer dizer? — Sua determinação pedregosa vacilou, seus olhos cintilando com a incerteza por um momento, antes de fixá-lo firmemente no lugar. É claro que ela sabia o que eu quis dizer – oexcesso, quando se torna ganância. Eu passei a mão no meu rosto cansado, forçando o ar dos meus pulmões e soltando o assunto, porque eu já sabia que não havia chance de mudar – nenhumachance de mudar a forma como eu me sentia sobre ela. — Eu estou indo para casa, Kristina... Chame Neil, faça-o assumir a conta. Eu passei por ela e fui em direção à garagem. ~ 21 ~ — Quando você vai voltar? — Pânico inundou sua voz. Pela primeira vez desde que eu a tinha conhecido, Kristina estava à beira de perder o controle cuidadosamente elaborado. Fiz uma pausa, mas não olhei em sua direção. — Eu realmente não sei. *** Minhas mãos suavam enquanto eu segurava o volante quando deixei LA decidindo dirigir, racionalizando a viagem de dois dias ao Mississippi, me comprando algum tempo. Tempo para decidir o que fazer sobre a confusão com Kristina. Tempo para atrasar minha chegada de volta ao lugar que eu tinha jurado nunca mais voltar. Um choque de pânico levantou minha temperatura pelo que pareceu trinta graus quando pensei em voltar. Eu ri sem graça. Nada como viver a vida de um covarde. Mas era isso o que eu realmente era? Um covarde? Eu lutei por ela, teria dado qualquer coisa por ela. Eu tive que sair porque não havia nenhuma maneira de que poderia ter ficado ocioso e a vê- la cair. Eu teria feito... Alguma coisa. As chances eram que eu acabasse perdendo, como eu tinha feito naquela noite. Seu sorriso passou pela minha visão, os olhosmais suaves, a boca doce. — William.— Ela sussurrava em meu ouvido, enquanto tecia os dedos pelo meu cabelo. Calafrios dispararam na minha pele e levantaram os cabelos na nuca do meu pescoço, espalhando-se pelas minhas costas. Deus. Pesar de idade latejava em algum lugar profundo dentro do meu peito. Talvez eu devesse ter ficado. Mas o que isso já mudou? ~ 22 ~ Capítulo Quatro Maggie ~ Dias atuais Sua mão calejada queimava na minha pele. Ele estava dormindo atrás de mim com a palma da mão segurando possessivamente minha coxa. Respirações quentes se arrastavam ao longo da minha pele e em volta do meu pescoço como uma corda invisível, roubando o ar enquanto eu lutava para sugá-lo em meus pulmões. Meu corpo parecia um peso morto enquanto estava deitada ao lado do último homem que escolhi me dar. Eu tinha sido marcada para esta vida antes de nascer? Predestinada antes do tempo para sofrer nas mãos dos que deveriam cuidar de mim? Ou foi a escolha que eu tinha feito que me trouxe até aqui? Será que um erro fatal me enviou em rota de colisão, ou era simplesmente uma consequência de uma vida de ingenuidade e medo? Eu recuei ainda mais em mim mesma, buscando abrigo nas sombras da minha mente. Havia algumas coisas de conforto lá. Mas a pequena quantidade de conforto que permaneceu piscava brilhantemente. O rosto de William, rindo e gentil. — Maggie. — Ele murmurou enquanto rolava para me puxar para cima dele. Eu ri e relaxei no corpo firme abaixo de mim. William riu do fundo ~ 23 ~ de seu peito e me segurou ainda mais quando enterrou o rosto no meu cabelo. Inclinando-me para trás, arrasyava as pontas dos meus dedos pelo lado do seu rosto. Ele sorriu enquanto eu seguia ao longo das linhas dos lábios. Minha pele se arrepiou, e eu era incapaz de ter ideia de como qualquer pessoa poderia me fazer sentir desse jeito. — Você é tão linda... Você sabe disso? — Ele disse. Meu coração vibrava loucamente com alegria, e eu ansiava por sentir mais de seu toque. William tinha sido perfeito, um presente. Ele me mudou, profundamente e em todos os sentidos. Quando ele me encontrou, eu estava assustada e insegura, e enquanto as coisas ainda permaneciam, elas nunca pareciam as mesmas. Cada parte de mim tinha William escrito nela, do jeito que eu pensava e do que via. O que eu desejava e onde colocava meus sonhos. Não, eu nunca poderia tê-lo. Eu tinha cometido muitos erros. Eu tinha ficado no mesmo caminho que ele tentou me salvar. Mas eu nunca tinha parado de querê-lo. Amá-lo. Ele lutou por mim. E eu o deixei ir sem fazer a minha própria luta. Olhando para trás agora, eu pude finalmente ver o ponto gritante que William estava desesperado para me mostrar o tempo todo. Eu me arrependi mais do que poderia dizer, mais do que eu jamais poderia admitir abertamente. Eu faria qualquer coisa para voltar para o dia em que o deixei escapar por entre meus dedos. Apesar de tudo que aconteceu, eu tinha que acreditar agora que William teria me aceitado. ~ 24 ~ Troy agitou-se atrás de mim, resmungando profundamente dentro de seu sono. Sua mão viajou para a minha barriga e apertou seus braços. Calor nauseante encheu meu corpo e apertou minha garganta. Tentei engolir. Eu faria qualquer coisa para voltar. Mas já era tarde demais. ~ 25 ~ Capítulo Cinco William ~ Dias atuais Após dois dias dirigindo, eu finalmente cruzei a linha do Estado do Mississippi ao anoitecer. O tráfego era leve quando saí da estrada e segui para o sul, correndo pela estrada em campo aberto. Árvores altas que chicoteavam em um borrão de verde, deram lugar a campos abertos onde as casas eram definidas fora da estrada com as suas luzes da varanda brilhando, e então de voltana floresta densa–a paisagem tão alienígenada que eu tinha me acostumado ao longodos últimos anos. No entanto, ainda assim muito familiar. Meus nervos saltaramno que parecia uma centena de entalhes enquanto me virava para Main Street e segui a estrada de pista única pela cidade. Era exatamente a mesma que eu me lembrava. Vagas de estacionamento em ângulo cobriam as fachadas das empresas de um – e dois – andares.Algumas haviam saído do negócio e tinham sido substituídas por novos proprietários, algumas estavam vagas, e muitos eram as mesmas. Passei pela escola onde me formei e o hospital do município, onde eu nasci. Eu lutava para conter as mil memórias que me inundaram quando me deparei com o parque infantil. Foi o playground onde minha mãe tinha me empurrado nos balanços quando eu era pequeno, onde eu jogava futebol no colégio, onde ela tinha me deixado seis anos antes. ~ 26 ~ Eu diminuí e avancei pelo terreno baldio. O balanço balançou com o vento suave, as árvores farfalhando enquanto a noite sugavaa última da luz do céu. Como eu sabia que seria, senti como se fosse ontem. Como se eu pudesse estender a mão e tocá-la, enxugar as lágrimas que caíram quando ela tinha quebrado os nossos corações, beijá-la uma última vez. Eu esfreguei a mão no meu rosto para acabar com as memórias. Vir aqui foi uma péssima ideia. Dois minutos depois, voltei para a rua estreita que eu cresci, e me vi lutando com emoções conflitantes tanto para ficar e correr enquanto eu estava envolvido em uma onda de saudades de casa. Olmos secos e perenes cresciam ao longo da calçada, na fronteira com a estrada, as árvores sombreavam as casas em sua maioria de dois andares, os pátios ostentando canteiros e gramados aparados. Algo voou em minha consciência quando eu calmamente entrei na garagem dos meus pais, uma sugestão de nostalgia e tristeza. Cascalho rangia sob meus pneus, e eu parei atrás de um enorme caminhão monstro que só poderia assumir que pertencia ao meu irmão. A casa dos meus pais era muito parecida com as outras, uma modestacasa branca de dois andares com um caminho de pedra que se estendia desde a calçada até os cinco degraus que levavam até a varanda da frente. Senti-me como o filho pródigo quando minha mãe de repente irrompeu pela porta blindada e para a varanda da frente. Ela congelou quando me viu, uma mão cobrindo a boca e as lágrimas brilhando em seus olhos verdes, como se não pudesse acreditar que eu realmente tinha chegado. Minha mãe, Glenda, estava no início dos seus cinquenta anos, um pouco ampla em seus quadris, mas fina em toda a parte. Seu cabelo castanho tinha acinzentado um pouco desde a última vez que a tinha visto, e preocupação tinha revestido seu rosto. ~ 27 ~ Blake saiu atrás dela. Um sorriso cauteloso foi forçado em seu rosto, e sua postura era tensa quando ele enfiou as mãos nos bolsos da calça jeans gasta do trabalho. Eu e ele parecíamos um com o outro, olhos castanhos e cabelos loiro escuro como o nosso pai. Ele era um par de centímetros menordo que eu, no entanto, atarracado, seus músculos grossos de anos jogando futebol na escola e, em seguida, o seu trabalho em obras de construção, logo que se formou. Por um momento eu apenas fiquei lá, olhando para fora da janela do lado do motorista para a família que estava esperando por mim. Eu finalmente me permiti admitir o quanto realmente sentia falta deles. Seis anos desde que eu tinha visto o meu irmão. Três anos desde que minha mãe tinha ido para a Califórnia, me implorando para voltar para casa. Dois anos desde que eu tinha falado com o meu pai. Eu ainda não tinha vindo para o casamento de Blake, porque não podia arriscar a chance de vê- la. Deus, eu era um idiota. Tomando uma respiração profunda, eu desliguei a ignição e saí do carro, não sabendo exatamente o que fazer ou o que dizer. Refreei a vergonha na minha pele, e me movi em meus pés. Em uma onda de movimento, mamãe correu escada abaixo. Antes que eu pudesse compreender, ela jogou os braços ao redor da minha estrutura rígida. Demorou alguns segundospara recebê-la na pele, para eu reagir e envolver meus braços em torno dela. Ela estava tremendo e chorando, enquanto se agarrava a mim. Ela continuou resmungando: — Você veio... Você veio. Eu não tinha palavras. Minha garganta estava grossa, minhas emoções tensas. Eu a abracei. Ela usava o mesmo perfume floral que usava desde que eu conseguia lembrar, e fiquei impressionado com as memórias de quão incrivelmente boa ela sempre tinha sido para mim. ~ 28 ~ Eu fiquei ali desejando que teria, pelo menos, que ser corajoso o suficiente para dar-lhe uma razão, que em algum momento ao longo dos anos, eu teria explicado que não tinha nada a ver com ela ou com o pai ou Blake. Ela teria entendido. Ela finalmente se afastou e limpou debaixo de seus olhos antes que estendesse a mão trêmula para tocar meu rosto. — Estou tão feliz por você estar aqui. — Seus olhos eram sérios, cheios de decepção e cheios de alívio. Eu resisti à vontade de desviar o olhar. Em vez disso, acenei com a cabeça e sufoquei sobre as palavras: — Eu estou feliz que estou aqui, também. — Pelo menos era parcialmente verdadeiro. Ela sorriu e se virou para voltar para casa. — Vamos lá, então. Eu não era tão tolo para acreditar que seria a última coisa que ouviria sobre a minha ausência, mas por enquanto, isso teria que ser o suficiente. No interior, a minha tia Lara estava morrendo, e esta viagem não era sobre mim. Eu estava recolhendo minhas coisas na parte de trás do SUV. Blake apareceu ao meu lado, o sorriso desconfiado de antes agoraestava acolhedor. — Aqui. Deixe-me dar uma mão com isso. Parei para olhar para o meu irmão, seis anos passados, agora um homem, um pai. Blake nunca tinha sido alguém de rancores. Nossas batalhas eram travadas com os punhos e maldições, a luta quase sempre esquecida na manhã seguinte. Briguinhas, minha mãe as havia chamado. Eu queria que pudesse ser tão simples agora. ~ 29 ~ — Obrigado, cara. — Eu disse, puxando a mala grande na parte de trás do SUV. — Não é um problema. — Blake inclinou-se para a área de carga e buscou a menor mala e a maleta do laptop. Segui Blake pelos mesmos passos que eu tinha tomado um milhão de vezes. Olhei por cima do ombro até a estrada e em direção ao parque que permanecia fora de vista, perguntando se ela ainda escapava para esse lugar isolado e se as lembranças do que havia acontecido a afetavam tanto quanto elas me faziam. Será que ela se sente atraída para lá, da mesma maneira que eu me sentia agora? Ou talvez eu simplesmente sempre fui atraído por ela. Sacudindo os pensamentos de mim, eu me virei para seguir o meu irmão para dentro. Meus pés vacilaram no meio da porta da frente. Minha culpa amplificada quando coloquei meus olhos sobre as pessoas na sala de estar. Eu os conhecia só por fotos, Emma e Olivia, duas pequenas meninas de cabelos negros, o rosto redondo de Blake. Elas estavam no chão, de bruços, Emma colorindo, Olivia rabiscando. Sua mãe, Grace, sentada na beira do sofá, olhando para elas. Sua boca se torceu em um sorriso obrigatório e fingido quando ela olhou para mim. Eu tinha conhecido Grace durante anos, tinha crescido com ela, nos formamos na mesma classe do ensino médio. Sua expressão me disse o quão pouco ela pensava de mim agora. Eu não acho que já tinha conhecido um momento mais complicado do que quando meu irmão teve que me apresentar para minhas sobrinhas de dois e quatro anos de idade, que eu nunca tinha conhecido. — Hey, Olivia, Emma. Venham aqui. Eu quero que vocês conheçam alguém. Este é o seu tio Will, meu irmão. ~ 30 ~ A mais velha me olhou com curiosidade cautelosa e a mais nova com medo imediato. Aparentemente, presentes caros enviados em aniversários e Natais não me faziam menos que um estranho. Corri a mão pelo meu cabelo e desviei os olhos, nunca me senti mais como um estranho do que eu fiz agora. Eu perdi tanto, parecia ser uma vida. Como eu poderia ter sido tão tolo para permitir que meu passado me perseguisse desde a minha família? — Seu pai já está dormindo. — Disse mamãe de onde ela parou no meio da sala, olhando tão insegura sobre eu estar lá como eu me sentia. — Ele ainda está trabalhando no turno da manhã. Por que você não se instala e, em seguida, você pode entrar e ver sua tia Lara? Balançando a cabeça, eu comecei a subir as escadas para o meu antigo quarto. Os passos de Blake ecoaram na escadaria de madeira atrás de mim. Eu cutuquei a porta para abri-la. As dobradiças rangeram de desuso. Acendendo a luz, eu fiquei de lado e permiti que Blake entrasse na minha frente. Ele jogou minhas coisas no chão e lançou um olhar cauteloso ao redor do meu quarto. — Tudo é praticamente o mesmo aqui. Mamãe não teve coragem de mudar nada. Se não fosse a falta de poeira, eu teria me perguntado se alguém tinha pisado nele desde que eu tinha deixado. A mesmacolcha xadrez azul e verde gasta estava estendida sobre a cama grande, cartazes de carros pregados nas paredes, as prateleiras desordenadas de troféus acadêmicos. Blake de repente riu. Seus olhos brilharam com a mesma diversão que sempre tinha chegado às minhas custas. — Deus, você era esse pequeno nerd. — Blake sorriu na minha direção, e eu sorri, a respeito de mim mesmo com a memória. — Era tão fácil te chatear. Você vinha atrás de mim com os punhos balançando. Por alguma ~ 31 ~ razão, eu pensava que era o meu trabalho endurecê-lo. Pensava que se eu chutasse sua bunda o suficiente, eu teria um homem fora do meu irmãozinho. Acho que eu te ensinei bem. Lembra-se daquela vez que você chutou a merda fora de Troy Clemons? — Olhando para o chão, ele balançou a cabeça como se ainda não conseguia acreditar. — Merda. Você quase matou o cara. Ninguém foi mexer com você depois disso. Meu queixo cerrou involuntariamente e meus punhos se enrolaram, uma reação física instintiva evocada com a menção do nome de Troy. Talvez eu devesse tê-lo matado. Deus sabia que eu queria. Blake cortou seus olhos semicerrados pro meu lado. — Claro, isso não importou muito. Foi pouco tempo antes que você desaparecesse. Olhei para o chão quando o desapontamento de Blake me cobriu como uma mortalha. — O que aconteceu, Will? — Blake deu um passo para trás para encostar na parede do quarto, com os braços cruzados sobre o peito. — Um minuto estava tudo muito bem e no próximo nunca o vi novamente. Eu lutava para encontrar uma explicação válida, mas não havia uma para dar. Arrastando a mão pelo meu cabelo, eu soltei um suspiro envergonhado. — Eu só... — Olhei para o meu irmão e desejava que eu pudesse dizer alguma coisa para apagar os últimos seis anos. Eu estava errado em tomar o caminho que tinha tomado, talvez tão errado quanto ela tinha estado. Finalmente eu disse: — Me desculpe. — Porque eu não tinha desculpa para a escolha que tinha feito. Do outro lado da sala, Blake levantou a cabeça e expirou em direção ao teto. O som pairava no ar, cheio de dúvidas e insatisfação e um ~ 32 ~ sentimento de desapego. Ele olhou para mim e empurrou o queixo em minha direção. — Quanto tempo você vai ficar? Olhei ao redor do quarto desconfortável, então olhei de volta para ele. — Eu não tenho certeza. Um tempo... — Eu dei de ombros. — Eu acho. Carrancudo, Blake me estudou, com uma expressão que eu conhecia bem, uma do irmão mais velho protetor. Não. Algumas coisas nunca mudam. — Você e Kristinaestão com problemas? Eu resisti à vontade de rir. — Algo parecido com isso. — Eu disse, coçando a lateral do meu queixo para mascarar a minha inquietação. Tendo problemas para não começava a descrever isso. Blake assentiu como se ele entendesse e passou a mão pelo queixo. — Bem, se você decidir ficar por aqui por um tempo, Grace e eu temos uma pequena edícula lá atrás. Perdemos nosso inquilino há um par de meses atrás. Não é muito. — Ele gesticulouao redor do meu antigo quarto. — Mas qualquer coisa tem que ser melhor do que isso. É seu, se você quiser. — Eu... Uh... — Eu não sabia o que dizer ou como reagir. Seis anos eu tinha ido, sem uma palavra, sem uma explicação, mas meu irmão me recebia de volta como se eu nunca tivesse cometido o delito. Blake sorriu. — Não se preocupe, cara. Apenas me deixe saber o que você quer fazer. — Ele me bateu uma vez nas costas, enquanto passava, só para fazer uma pausa e se virar na porta com a mão na maçaneta. Todas as provas do sorriso tinham sido apagadas de seu rosto. — Só me prometa que não vai mais embora assim neste momento. — Algo passou pelo rosto de Blake, uma ~ 33 ~ emoção que eu desejei que não conseguisse ler. — Eu quero dizer isso, Will. Eu não vou deixar você fazer isso com a mamãe de novo. Culpa correu minha espinha e se estabeleceu na parte de trás do meu pescoço. Desviei o olhar e espalmei os músculos tensos, incapaz de enfrentar Blake eo que eu tinha feito. Tinha sido uma droga ignorá-lo na Califórnia. Aqui era quase insuportável. — Eu não vou. Blake não disse mais nada, apenas se virou e fechou a porta atrás de si. Eu soltei um suspiro pesado da minha boca e corri uma mão incessante sobre as costas da minha cabeça, me sentindo como um bastardo de pé no meu próprio quarto. *** Vinte minutos mais tarde, me arrastei para fora da porta e para o corredor escuro, a única luz emanava do andar de baixo. Mamãe tinha acabado de tomar o último passo para o patamar do segundo andar quando saí do meu quarto. Ela fez uma pausa e deu um sorriso guardado, como se a satisfação da minha chegada tivesse diminuído e preocupação se instalado, uma parede de desconforto e estranheza que os anos de ausência tinham construído entre mãe e filho. — Oi. — Ela disse. Seu olhar passou por mim. Seus olhos estavam vermelhos, mas suaves, e suavizaram ainda mais quando olhou para o meu rosto. — Oi. —Eu sussurrei e me adiantei, notando o silêncio distinto que tinha se estabelecido no ar. Era uma calma, quase um silêncio perturbador. — Eu estava vindo encontrá-la. Ela sorriu para as palavras. Parecia como se a ação ferisse. ~ 34 ~ — Blake e as meninas partiram por conta da noite, por isso vim até aqui checar Lara. — Ela olhou na direção do antigo quarto de Blake, em seguida, de volta para mim, o rosto de repente mergulhado em tristeza. — Será que você... Quer vê-la? Meu instinto torceu, e eu instintivamente olhei na direção onde minha tia estava morrendo. Uma densa névoa de medo nublou minha mente enquanto eu pensava em enfrentar o que esperava atrás daquela porta. Olhei para mamãe, engolindo em seco. — Sim. Eu gostaria que isso. Ela assentiu com a cabeça. — Eu preciso te avisar, ela está sedada. Ela não está acordando muito, mas quando ela está, não está fazendo um muito sentido. — Pausando na porta fechada, mamãese virou para olhar para mim, a boca trêmula. — Ela está perto do fim. Peguei a mão da minha mãe e a apertei. Eu gostaria de poder dar-lhe algum tipo de conforto, sabendo que eu poderia oferecer a ela nenhum. Ela apertou os olhos fechados, em contrapartida, uma onda de lágrimas caindo de repente pelo rosto, em seguida, abriu a porta e deu um passo para trás para que eu pudesse passar. Toda a respiração me deixou quando eu vi a tia Lara deitada na cama de hospital. A cabeça estava inclinada para mantê-la apoiada, com o cabelo fino e irregular. Eu sempre lembrava dela forte. Agora ela era osso fino. O rosto dela estava submerso, as maçãs do rosto proeminentes, a pele frágil e cinza. A única máquina estava ao lado de sua cama, ligada a umadministrador de narcóticos para deixá-la confortável. Obriguei-me a ir do outro lado do quarto e me sentei em uma das duas cadeiras ao lado da cama. Peguei sua mão fria na minha. Sua boca estava aberta enquanto ela dormia. Cada respiração parecia ser uma luta enquanto ela forçava o ar dentro e fora de seus pulmões. Eu tinha esquecido o quanto eu a amava? ~ 35 ~ Caindo a minha cabeça e olhos, eu corri meu polegar sobre o dorso de sua mão, esperando que ela pudesse me sentir e que de alguma forma ela saberia que eu estava lá. Eu sussurrei: — Eu sinto muito, tia Lara. Seu aperto era fraco, mas eu senti a mudança na pressão quando ela tentou apertar a minha mão. Quando olhei para cima, seus olhos estavam vibrando, sons inteligíveis expressando de seus lábios em movimento. Rapidamente, movi-mepara frente e toquei as costas de minha mão em sua testa. — William. — Era rouca, mas clara. Seus olhos entraram em foco quando olharam os meus. Eu sorri para ela, passando a mão pelo seu cabelo pegajoso, e desejei que eu pudesse ter de volta os últimos seis anos. — Oi, tia Lara. — Eu sabia que você viria. — Seus lábios tremiam enquanto tentava sorrir, um borbulhar audível em sua garganta enquanto ela lutava para sugar o ar. — Eu... — Não faça isso. — Ela tossiu, suas pálpebras vibrando como se estivesse sendo puxadas para baixo novamente, mal se apoiando na consciência. — Eu sei que você está... Sss... Se desculpando. Você está aqui... Agora... É tudo o que importa. — Sua mão apertou a minha quando a sua lucidez desbotou, a sugestão de um sorriso tocando a borda de sua boca. Sua respiração veio forte mais uma vez e sua mandíbula ficou folgada, sua mente se arrastando de volta para o esquecimento. Eu olhei para o teto branco, manchado, lutando contra o tremor de uma britadeira contra minhas costelas. Issoera mais difícil do que eu acreditava. Sentei-me com ela por muito tempo, mais do que eu provavelmente sabia. Eu finalmente me levantei e rocei os lábios em sua testa. ~ 36 ~ Quando eu voltei para o corredor, mamãe ainda estava lá, esperando em um manto de ansiedade, passando o tempo estudando as imagens que revestiam a parede que detalhava a minha infância e de Blake. — Como ela está? — Ela perguntou quando eu fechei a porta atrás de mim. — Descansando agora. Ela acordou por um par de minutos. Ela sabia que eu estava lá. Eu vi a reação dela, a pequena dose de alegria misturada com o que eu agora reconhecia como dor sufocante. Eu senti isso, o desamparo, a perda iminente. Eu só podia imaginar quão maior era para a minha mãe. — Eu vou ficar com ela por um tempo... Me certificarde que ela está confortável para a noite. Você consegue se estabelecer? — Ela franziu as sobrancelhas, quase como se estivesse preparando-se para a minha resposta. — Você vai... Ficar? Eu sabia o que ela estava perguntando. Não se eu estava passando a noite. Ela estava bem consciente que minhas coisas estavam no meu quarto. Ela estava pedindo um compromisso, uma promessa que eu não iria simplesmente desaparecer de sua vida, do jeito que tinha feito seis anos antes. Minha cabeça estava inclinada para baixo e minhas mãos estavam enfiadas nos bolsos, enquanto eu olhava para a minha mãe sob a cobertura de cabelo caindo sobre os olhos. Era o melhor que eu poderia fazer para me expor e esconder tudo ao mesmo tempo. — Sim. Eu vou ficar. *** Caí de bruços na minha velha cama completamente exausto, meu corpo cansado das longas horas de viagem, a minha mente e alma quebradas e cheias de perda. ~ 37 ~ Eu tinha perdido tanto tempo. Os lençóis estavam frescos contra minha pele. Eu pressionei minha palma da mão sobre o colchão onde ela tinha ficado a primeira vez que fiz amor com ela. Eu quase podia me lembrar de como seu cabelo macio tinha sido tão bom que acabei com ele entre os dedos. Podia sentir a dor de seus dedos apertando minhas costas. Podia ver o amor e confiança transbordando em seus olhos quando ela olhou para mim. Sufocado pela sua presença persistente, eu puxei as cobertas apertadas sobre o meu corpo, enterrando-me na pilha de lençóis e cobertores para me proteger do frio que escoava através das fendas davelha casa, das correntes de ar. Rajadas de vento batiam na janela e batiam nos painéis. Forçando os olhos fechados, eu lutava para desligar minha cabeça cheia de memórias. Só por uma noite, eu precisava descansar. Eu enfrentaria tudo amanhã. O cansaço que me perseguiu por meses me bateu em ondas, e eu afundei ainda mais, caindo ainda mais. À deriva. O desespero empurrou William para frente. O vento uivante cortava as árvores, batendo contra seu peito enquanto ele se arrastava pelo parque deserto. Tempestades varriam baixo enquanto corriam sobre o seu corpo, opondo-se a cada passo arduamente. Balanços batiam e balançavam, metal raspandometal, estridente e alto. Risos vieram,do que parecia, de todas as direções. Confusão inflamou o medo. No meio dos jardins, William caiu em um impasse. Batendo as mãos contra os ouvidos, ele apertou os olhos fechados e gritou para isso parar. O som foi devorado pelo vento. Com as mãos urgentes contra seus ouvidos, William girou em um círculo, enquanto seu mundo girava mais rápido. O riso ~ 38 ~ da criança enrolou em fitas em torno de seu corpo. Lamentando contra sua pele. O menino gritou, implorou e chorou na noite. William caiu de joelhos. Eu bati na pequena cama, minhas pernas torcidas nos cobertores. O quarto giravaenquanto eu balançava assentando em minha luta porconsciência. Não. Isso era para parar quando eu voltasse para casa. Isso tinha que parar. Eu ofegava enquanto chupava desesperadamente o ar que podia encontrar. O choro ainda estava tão claro. O som deslizava através das paredes finas, rasgando e agonizando. Não era a criança. Enfiei meu pânico de lado e parei para ouvir o tormento vindo do quarto ao lado. — Merda. — Eu sussurrei enquanto me desembaraçava dos cobertores e pulava da cama quieto quando eu rastejei para fora da porta. Uma lâmpada brilhava no antigo quarto de Blake, cortando a escuridão do corredor. Da porta, vi minha mãe caindo sobre o corpo sem vida de minha tia. Meu pai a segurou por trás, prometendo em seu ouvido que iria ficar tudo bem, que Lara estava em paz, enquanto minha mãe apertava a mão de sua irmã e pedia para ela não ir embora. Eu me virei e apertei minhas costas contra a parede. Eu deslizei para o chão de madeira frio e enterrei meu rosto em minhas mãos. Umidade infiltrou dos meus olhos. Cinquenta e sete anos de idade. A vida não era justa. ~ 39 ~ Capítulo Seis William ~ Dias atuais Na sexta-feira à tarde, eu fiquei para trás perto da parede oposta da sala de estar dos meus pais. Eu tinha uma mão empurrada no fundo do bolso da calça do meu terno preto, enquanto com a outra puxava a gravata cinza-carvão que parecia muito apertada em volta do meu pescoço. Mesmo que fosse o meio de fevereiro, os dias em Mississippi estavam leves, quase quentes, e a temperatura tinha aumentado para um nível próximo do sufoco na sala lotada. Afundando cada vez mais nos cantos, eu fiz o meu melhor para me esconder ao longo da periferia da massa de pessoas que lotava de parede a parede. Eles estavam reunidos para o velório da tia Lara. Faz três dias que ela faleceu. Duas horas desde que a tínhamos deitado no chão. Eu empurrei a respiração dos meus pulmões e percorri os meus olhos sobre as pessoas conversando em sussurros abafados. Eu não estava imune à tristeza pesando na sala. A minha apenas adicionava, embora eu me visse desejando que estivesse sozinho, em um lugar tranquilo, com os meus pensamentos, com as minhas lembranças dela. Em uma cidade deste tamanho, praticamente todo mundo conhecia Lara, e parecia que todos tinhamvindo prestar seus respeitos. ~ 40 ~ A maioria acabaria por fazer o seu caminho até mim para me dar as boas vindas e me dizer que sentiam muito por minha perda. Quase todos esses desejos pareciam genuínos, embora alguns claramente acreditavam que eu estava lá apenas por obrigação. Eu poderia ler as perguntas evidentes em seus rostos, a admiraçãodo meu desaparecimento, a decepção em meu abandono, ea surpresa que eu tinha retornado. Eu sabia o que parecia, superficial e pretensioso, e eu duvidava que me escondendo nas sombras estivesse fazendo algo para mudar suas opiniões sobre mim. Mas mesmo que estar aqui seja insuportável, a obrigação não era o caso. Uma das piores partes da coisa toda era que cada vez que a porta se abria, eu não conseguia parar de fazer minha atenção ser levada para essa direção, não podia afastar a onda de apreensão que surgia quando pensava em vê-la novamente. Eu odiava ainda mais a pontada de decepção que sentia quando ela não chegava. Nos últimos três dias, eu percebi que precisava da mesma coisa da qualfugi depois de todos esses anos. Só ter um vislumbre dela. Para saber que ela estava bem. Deus sabe que não me atrevi a perguntar sobre ela. Olhei para os meus pés, quando a porta de tela se fechou de repente mais uma vez atrás de um casal de idosos que moravam do outro lado da rua. Por que eu estava me torturando desse jeito? A única pessoa que possivelmente parecia mais desconfortável do que eu era meu pai. Peter Marschera alto e corpulento, seu terno escuro mal ajustado e apertado. Ele nunca poderia ser considerado um homem social, mas não havia dúvida de que ele amava sua família e era dedicado à sua esposa. Eu vi quando ele se encostou na parede. Sua única preocupação era a minha mãe, interessado em todos os seus movimentos. Pronto, sempre que ela precisava dele. ~ 41 ~ Suspirei e desloquei-medesconfortável. Eu tinha esquecido sobre meu pai. Como ele sempre foi nosso protetor, nosso provedor. Eu podia ver que Blake tinha herdado a forte tendência de proteção. Se eu prestasse atenção perto o suficiente, eu podia sentir isso fervendo profundamente dentro de mim também. Oprimido por tudo isso, coloquei-me atrás da multidão e calmamente subi as escadas para roubar um momento para mim. No conforto do meu quarto, eu descartei o meu casaco e gravata, desabotoei os dois primeiros botões da minha camisa branca, e enrolei as mangas. Eu respirei com alívio quando me afundei na borda da cama. Tudo que eu precisava era de um minuto para limpar a minha cabeça. Eu estava tão condenadamentecansado. Tão confuso. Eu não tinha ideia do que faria, onde eu estava indo, ou por quanto tempo eu ficaria. No pé da cama, eu esfreguei minhas mãos sobre meu rosto e respirei fundo para me recompor. Quando saí do meu quarto, fui abordado pelos cheiros da cozinha do sul – reconfortantee quente – eas vozes abafadas que se erguiam e se uniam abaixo, minha família e as pessoas que eu tinha antes considerado como amigos. Eu diminuí quando me aproximei das fotos exibidas na parede no corredor, fazendo uma pausa para relaxar e estudar a colagem do meu passado e as muitas fotos de família onde eu estive ausente. Havia muito do que eu tinha perdido. Eu poderia lutar contra isso, mas de alguma forma sabia que era aqui que eu sempre pertenceria. — Desculpe-me, senhor. Existe um banheiropor aqui? Eu tenho que ir e alguém está em um lá em baixo. A mesma voz tímida que tinha me assombrado nas minhas noites durante meses me bateu por trás, mas podia muito bem ter sido um chute diretamente no estômago. Isso me tirou o ar, virou-me do avesso quandoa consciência fluiu através de minha consciência. Eu estava congelado, virado para a parede, tentando falar comigo mesmo, tentando me acordar. ~ 42 ~ Mas eu não estava dormindo. Lentamente, eu me virei. A criança estava saltando no topo das escadas, segurando o corrimão de madeira com uma mão, enquanto ele tinha a outra cobrindo o local onde suas pernas estavam cruzadas e apertadas. O cabelo loiro escuro caía para a nuca do menino, caindo um pouco acima de seus olhos castanhos brilhantes. Aqueles olhos estavam arregalados e quase com medo quando encararam meu olhar chocado. O menino dosmeus sonhos. Através do torpor, eu levantei a minha mão e apontei na direção da porta aberta ao lado de meu quarto. Com uma expressão de alívio, o menino passou correndo por mim e para o banheiro, se lançando sobre o interruptor de luz antes que ele fechasse a porta. Eu fiquei ali, olhando para a porta fechada quandoa compreensão caiu em mim. Agarrou e me destruiu Por um momento, eu estava me sentindo vazio – entorpecido – antes de mergulhar de volta em uma fusão de raiva. Minhas mãos se fecharam em punhos dolorosos quando a minha visão nublou, minha mente cambaleando enquanto tentava rejeitar o que se desenrolava na minha frente. O lavatóriofluiu e água correu. Preparei-me quando ouvi o barulhodo ferrolho eo giro da maçaneta. Espiando por uma fresta na porta, o garoto desviou os olhos para os pés, quando ele me viu ainda de pé lá. Ele saiu e voltou para as escadas com sua atenção treinada no chão na frente dele, olhando uma vez atrás dele. Dei dois passos para frente para que eu pudesse ver por cima dagradedo parapeito, observando o movimento da criança, sabendo exatamente onde iria acabar. Meus olhos corriam à sua frente, buscando através da multidão. ~ 43 ~ Não importava que eu estivesse preparado, que eu já soubesse quem iria encontrar. Issome destruiu totalmente. Eu lutei contra o peso esmagador no meu peito enquanto a observava pressionar um prato nas mãos de minha mãe. Seu corpo todo tremia e ela forçou um sorriso em seu rosto angustiado. Ela estava inquieta, seu olhar passando com tiques nervosos ao redor da sala. Alívio distinto assumiu seu rosto quando o menino de repente aconchegou-se a seu lado. Ela lançou outro olhar cauteloso ao redor da sala, torcendo as mãos enquanto balançava a cabeça longe da minha mãe para o que estava dizendo. Gesticulando em direção a porta, ela pareceu pedir desculpas, então abaixou a cabeça e correu com a criança em direção à porta da frente. A porta de tela soou fechada atrás deles. A raiva queimou embaixo da minha pele, e eu estava em movimento antes que pudesse me parar, batendo meus pés enquanto corria pelas escadas. No pouso, eu desacelerei para tecer entre os convidados amontoados em grupos, murmurando desculpas enquanto empurrava e apertava meu caminho. Eu empurrei a porta para abri-la e voei para fora da casa e do outro lado da varanda. Desci os degrausem dois de uma vez e corri pelo caminho de pedra em direção à rua. Fui para a esquerda onde eu a vi fazendo seu caminho pela calçada, segurando a criança que era, obviamente, muito grande para ela carregar. Sua cabeça estava pendurada, como se ela quisesse se esconder. Sua saia preta longa açoitava em torno de suas pernas, e seus saltos pretos estalavam no concreto enquanto ela se apressava, com seu ritmo apenas pouco menosque uma corrida. O cabelo castanho caía em ondas longas pelas costas, presas sob os braços do rapaz onde a segurava firmemente em torno de seu pescoço. Olhos castanhos confusos olharam para mim, a criança me olhavacom confusão sobre o ombro de sua mãe. ~ 44 ~ Eu sabia que ela me sentia seguindo. Eu podia sentir sua tensão, as ondas de apreensão que cresciam, em seguida, quebravam e ondulavam naminha carne. Diminui meu ritmo, combinando com o dela, passo a passo. Seu ato só aumentou a raiva que ameaçava me deixar fora de controle. Quando ela aumentou sua velocidade, eu fiz o mesmo. Cem metros à frente, ela de repente se lançou do outro lado da rua, parando a chave na porta de correr aberta de uma velhaminivanazul estacionada do outro lado. Ela manobrou o filho perto para colocá-lo para dentro e fechou a porta. Ela se atrapalhou com a maçaneta da porta do lado do motorista. Suas mãos visivelmente tremiam enquanto lutava para abrir. Eu estava bem atrás dela. Eu agarrei seu braço para impedi-la de entrar quando ela abriu a porta. — Você não vai a lugar nenhum até que explique isso para mim. — Minhas palavras saíram em um silvo baixo. Liderada pelo movimento da minha mão, ela girou se encolhendo submissa, com o braço livre levantou para proteger o rosto. Para desviar o golpe. Sua reação picouenquanto cortava o trajeto da minha mão ao meu braço, espalhando minha consciência. Eu lentamente puxei minha mão para trás. — Maggie. — Eu sussurrei o nome não dito por tantos anos. Um pequeno grito saiu tenso de sua boca, e ela se encolheu ainda mais contra o interior da porta. Baixei a cabeça, procurando seu rosto sob a fraca tentativa que fizera em se proteger. — Deus... Maggie... — Eu tentei manter minha voz suave, mas não conseguia esconder o quanto doeu ela reagir assim comigo ou o quanto eu odiava aqueles que acriaram. Meu pulso batia com um inchar protetor. Ainda assim, depois de tanto tempo, tudo que eu queria era protegê-la. ~ 45 ~ Ela estremeceu quando me aproximei dela novamente, sua expressão quase aterrorizada quando eu puxei o braço dela do rosto. — Você sabe que eu nunca te tocaria assim. — Nunca. Não importa o que ela tinha feito e como eu estava com raiva. Embora ela se endireitasse, seu corpo ainda cedia, seu espírito espancado e quebrado. — Eu sei. — Ela finalmente disse, tão baixo que eu mal podia ouvir. Ela fungou e abaixou a cabeça no que parecia humilhação, mantendo-se em seu meio quando ela levantou o rosto apenas o suficiente para se encontrar com o meu. Olhos, o mais quente marrom, se encontraram com o meu olhar intenso. Eles estavam imersos em uma dor que parecia à beira do medo e ainda encontrava neles cada coisa que eu tinha fugido. E seu rosto. Ela era tão linda – ainda. Talvez até mais. Mas ela estava tão diferente da jovem que eu me lembrava. Todos os traços de inocência tinham sido apagados. No lugar havia uma mulher que tinha suportado muito. Eu vi. Sabia disso. Necessidade tencionoumeus músculos. Merda. Eu tive que desviar o olhar para recuperar a razão pela qual eu a tinha perseguido até aqui, em primeiro lugar. Eu dei um passo para trás para colocar algum espaço entre nós. Fechando meus olhos, eu tentei manter minha voz firme. Ela saiu como um apelo. — Diga-me que não é meu filho. Maggie gemeu. Com o som, eu olhei para ver sua queda sobre si mesma, apertando sua mão sobre sua boca antes que ela visivelmente se preparasse. Eu vi como ela lutava por uma expressão impassível, e ela rigidamente me olhou nos olhos. Ela balançou a cabeça. — Não, William, ele não é. ~ 46 ~ Eu reprimi a vontade de gritar, de chamá-la damentirosaque eu sabia que ela era, contive o impulso de colocar meu punho no objeto inanimado mais próximo. Sua atenção esvoaçou entre a casa e eu, disparos de ansiedade aguda em cada movimento brusco. Eu olhei para trás de mim para as poucas pessoas ociosas na varanda dos meus pais. Nenhum deles sequer pareceu notar que estávamos ali. Voltei a nivelar os olhos para a menina que mais uma vez tinha abalado o meu mundo. — Depois de tudo, Maggie, você vai vir aqui e mentir para mim? — Eu queria que as palavras de algum modo refletissem a minha raiva. Em vez disso a minha voz falhou. — Diga-me a verdade. Você me deve isso. Ela fechou os olhos e as lágrimas escaparam dos cantos e deslizaram por sua face. Ela torceu as mãos na bainha de sua camisa preta. Eu empurrei de lado o desejo familiar de confortá-la. Eu tive que dar mais um passo para trás quando ela colocou toda a força de seus olhos castanhos em mim novamente. — Por favor... William, você tem que acreditar em mim. — Ela implorou. — Ele não é. Meus olhos borraram, queimando com a traição. — Como você pôde fazer isso comigo, Maggie? Como? Como algo assim era possível? A presença da criança escondida na van perto de mim era quase insuportável. Um novo peso que tinha sido adicionado aos meus ombros. A necessidade inata de protegê-la me bateu de novo. Dobrou. Ela saltou quando uma porta de tela se fechou na casaao lado de nós, o medo repentino que a tinha preocupado torceu seu rosto em vergonha. — Eu tenho que ir. — Disse tropeçando em si mesma, ela se virou para subir para o assento do motorista. Ela estava tremendo ~ 47 ~ incontrolavelmente, ela não parecia ter o funcionamento adequado de seus membros. — Droga, Maggie. Você não pode simplesmente... — Estendi a mão para ela novamente. Eu tinha que detê-la, fazê-la falar comigo. Ela bateu na minha mão, sua expressão desesperada quando recuou para si mesma. — Você tem que deixar isso ir. Por favor. — Seus olhos estavam suplicando, preenchidos com uma comunicação silenciosa que ela sabia que podia entender. Eu dei um passo para trás, incrédulo, chocado que ela realmente sugeriu que eu pudesse deixar para lá, e ela aproveitou a oportunidade para fechar a porta na minha cara. Gaguejando, o velho motor ganhou vida. Eu fiquei no meio da rua, a olhando partir, sem noção do que deveria fazer agora. Tão enganada como eu sempre acreditei que ela estivesse, nunca imaginei que ela poderia me trair dessa maneira. Ela tinha sido boa — para uma falha. Eu sabia em primeira mão até onde iria essa bondade, até onde ela iria se enganar acreditando que algo estava certo quando estava tão obviamente errado. ~ 48 ~ Capítulo Sete William~ Dias atuais Não haveria nenhuma noite de sono, eu tinha certeza. Havia apenas memórias, raiva e traição que eu não sabia como lidar. Tantas perguntas me consumindo, me comendo, me virando de pavor. Minha mente corria, enquanto o meu coração parecia como se pudesse desligar. Através das paredes, eu ouvi minha mãe chorando em silêncio em seu quarto. Cepas profundas da voz do meu pai murmuravam conforto, embora eu não pudessedizer o que ele falava. O dia tinha cobrado seu preço, o havia deixado exausta. Graças a Deus ela não sabia nada sobre o que havia acontecido esta tarde, mas isso em si adicionou mais às minhas perguntas. Como não tinha mais ninguém reparado? Como é que ninguém mais viu? Porém, minha família não sabia que durante o verão, há seis anos a minha vida foi abalada, permanentemente alterada. Eles não sabiam que uma noite tinha me sentido inexplicavelmente atraído por uma garota que eu nem conhecia. Eu me levantei para ela sem entender o porquê e, em seguida, passei os próximos três meses apaixonando por ela. Eles não tinham ideia de que um dia eu finalmente tive o suficiente, que tinha lutado por ela e, como um tolo, acreditava que ela era minha. ~ 49 ~ William ~ maio, seis anos antes Eu me arrastava nos degrausatrás da casa dos meus pais, uma mochila pendurada no meu ombro. Fadiga diminuíaos meus passos, mas eu estava animado por estar em casa, tanto que eu tinha vindo quase direto. Eu não tinha visto a minha família desde as férias de Natal. Virando a chave na fechadura, eu entrei na ponta dos pés até a cozinha da casa escura, tomando cuidado para não acordar o resto da minha família, uma vez que estava perto de três horas da manhã. Uma pequena luz queimava sobre o fogão e outro pequeno brilho fraco a partir da base da escada quando eu andei através da entrada e na sala de estar. Um cobertor estava torcido e descartado em uma pilha no sofá e um copo de café com um saquinho de chá colocado meio vazio na mesa de café. Senti um sorriso puxar para o lado da minha boca. Eu aposto um milhão de dólares que minha mãe tinha esperado por mim enquanto ela pôde, antes que ela tivesse desistido e ido para a cama. Acalmando os meus passos, eu subi pesadamente as escadas. A porta do quarto dos meus pais estava aberta uma polegada, e parei para espreitar para dentro. Minha mãe e meu pai dormiam enrolados e envoltos em conjunto, o exterior duro, típico do meu pai, apagado no profundo abismo do sono. Meu sorriso cresceu. Eu silenciosamente me movi do seu quarto para o meu próprio. Minha cama estava arrumada, esperando as boas-vindas. Tirei as minhas roupas, até meus boxers, deixei-os no chão, em seguida, cedi ao cansaço que me perseguiu por quilômetros quando caí na minha cama de infância, pensando o quão bom era finalmente estar em casa. *** ~ 50 ~ Mas que diabos? Pisquei, tentando me orientar no ambiente, incapaz de fazê-lo antes de ser agredido no rosto pela segunda vez. Com um travesseiro. Ugh. Ele iria pagar muito caro quando eu não estivesse tão danado de cansado. Mas, por enquanto, eu estava desesperado por um pouco mais de sono. Enterrando meu rosto na segurança do meu travesseiro, eu gemi e virei de costas para o suposto agressor. — Vá embora. Blake apenas riu alto e sem remorso, e me bateu de novo. — Acorde, acorde, irmãozinho. Eu rolei para minhas costas, arrastando o travesseiro comigo para proteger meu rosto, murmurando no tecido denso. — Que horas são? — Nove. Eu gemi novamente. — De jeito nenhum, cara. Preciso de mais horas de sono. Eu não cheguei até quase três ontem à noite. Blake arrancou o travesseiro da minha mão. Fiquei cego por uma súbita explosão de luz solar que esperava não ser confrontado com pelo menos mais um par de horas. Eu olhava para o meu irmão que estava em cima de mim com um sorriso ridículo estampado em seu rosto, em seguida, pressionei os punhos em meus olhos. — Vamos lá, Blake. — Eu pediporque tinha que fazer. — Mamãe está fazendo café da manhã. Pare de ser um bebê e leve sua bunda lá embaixo. — Blake disse enquanto jogava os dois travesseiros para o pé da minha cama. — Todo mundo está esperando por você. ~ 51 ~ Sons da cozinha diretamente abaixo filtraram para o meu quarto, o correr da água e do barulho de pratos. O distinto cheiro de bacon frito abalou meus sentidos. Sentei-me, passando a mão pela bagunça na minha cabeça. — Tudo bem... Tudo bem, eu estou indo. Batendo a mão no meu ombro, o sorriso no rosto de Blake suavizou a um sorriso. — Bem vindo ao lar, Will. Olhei para o meu irmão mais velho e sorri. — Obrigado. Blake apenas balançou a cabeça uma vez e saiu pela porta. Soltando um suspiro pesado, eu empurrei o cansaço de lado. Minha mãe teria levantado com o primeiro indício de manhã, e eu sabia que isso provavelmente tinha tomado cada grama de força de vontade que ela teve para esperar até as nove antes que ela enviasse Blake para me acordar. Vesti um par de calças de pijama e uma camiseta preta lisa e fui para o andar de baixo. Uma súbita sensação de pertencimento me surpreendeu com as vozes vindo da cozinha. Não era nenhum segredo que eu planejava me afastar do Mississippi permanentemente uma vez que me formasse na UCLA. Eu sempre quis uma cidade grande e uma vida rápida. Eu seria o único que escapou desta pequena cidade, um com uma casa enorme e uma conta bancária combinando. Mas quanto mais velho eu ficava, mais tinha começado a questionar minhas intenções. Eu tinha começado a perder a minha vida aqui, e cada dia, essas metas pareciam tornar-se cada vez menos importantes. Realmente, eu não poderia imaginar não ter isso. Parei no arco da cozinha para olhá-los. Na mesa, meu pai estava enterrado nas páginas do jornal da manhã enquanto comia seu café da manhã, e Blake se sentava ao lado dele, a colher de comida na sua boca, enquanto ele conversava com a nossa mãe. Ela estava no fogão, de costas, ~ 52 ~ derramando massa de panqueca em uma frigideira quente durante a conversa com o meu irmão por trás. Foi a tia Lara que me notou primeiro. Ela estava encostada com as costas contra o balcão da cozinha, tomando café da caneca gigante que eu tinha feito para ela há anos antes no Natal, quando eu era apenas um garoto. Um sorriso deslizou sobre seu rosto quando ela me viu, iluminando todo o caminho até seus olhos. — Bem, olha quem está finalmente aqui. — Disse ela com um pouco de provocação. — Nós pensamos que ia dormir o dia inteiro. — Sua expressão
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