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1 Distúrbios metabólicos em pacientes críticos: Um estudo de revisão integrativa da literatura Giselle Ribeiro Barbosa Fernanda Alves Ferreira Gonçalves. Resumo – Distúrbios acidobásicos estão presentes em grande escala em pacientes críticos. Podendo ser classificados em acidose e alcalose respiratória ou metabólica, os distúrbios do equilíbrio acidobásico possuem diversas causas e consequências, exigindo uma atenção especial da equipe que o manuseia. Por ser um equilíbrio delicado e ao mesmo tempo complexo, os distúrbios devem ser analisados não apenas através de gasometria arterial, mas também em conjunto com o caso clínico de cada paciente, pois é fundamental tratar a causa que gera o distúrbio. Diante disso, esse estudo teve como objetivo caracterizar por meio da literatura os distúrbios metabólicas e ainda indicar intervenções em cada caso. Trata-se de um estudo de revisão integrativa da literatura referente ao tema “distúrbios acidobásicos”. Tem como objetivo sintetizar estudos já concluídos na área de interesse. A amostra foi composta pelas publicações em bases de dados indexadas na biblioteca virtual de saúde (BVS) disponíveis na LILACS, incluídos os artigos publicados entre os anos 2000 a 2011, que estavam disponíveis na íntegra eletronicamente utilizando os descritores (DECs): “equilíbrio ácido base”, “desequilíbrio ácido base”. O Enfermeiro deve estar sempre atento, monitorando o paciente crítico, a fim de obter precocemente qualquer sinal ou sintoma do paciente que indique alteração do seu estado normal. A maioria dos artigos estudados destacaram os distúrbios metabólicos, e apontaram a acidose metabólica como sendo o mais grave dentre os distúrbios acidobásicos. O paciente grave é de responsabilidade do enfermeiro e o mesmo deve estar monitorando-o a todo o momento a fim de perceber fatores de risco e antecipar estratégias de cuidados. Palavras chaves: equilíbrio acidobásico, desequilíbrio acidobásico, UTI 2 1. Introdução A unidade de terapia intensiva (UTI) é uma área crítica voltada a pacientes graves que requerem cuidados de forma integral, ininterrupta e especializada (FARIAS MACHADO, 2004). Diversas são as causas de internações em UTI, no entanto a insuficiência respiratória aguda (IRpa) é na atualidade a principal causa de internação (NISHIMURA, ZUNIGA, 2004). As causas que propiciam o aparecimento de IRpa e acidose estão ligados com fatores relacionados ao sistema nervoso, disfunções estruturais ou funcionais relacionadas ao sistema respiratório (VIANA, 2011), que podem se associar ou não aos distúrbios metabólicos, visto que o sistema renal trabalha conjuntamente com o sistema respiratório para a manutenção do equilíbrio acidobásico no organismo (GUYTON, HALL, 1988; TERZI, 1992). A gasometria arterial é um exame invasivo que tem por objetivo diagnosticar os distúrbios acidobásicos. O conhecimento fisiopatológico de cada distúrbio é de grande importância, pois oferece informações a respeito da função respiratória e metabólica (SALES, 2005; ÉVORA, et al., 1999). Os distúrbios respiratórios podem ser classificados em acidose ou alcalose e estão ligados diretamente com a concentração do dióxido de carbono no sangue (PaCO2), enquanto que os distúrbios metabólicos estão interligados com a concentração da base bicarbonato (HCO3) no organismo, podendo indicar alcalose ou acidose se esta estiver aumentada ou diminuída respectivamente (MOTA, QUEIROZ, 2010; ÉVORA et al., 1999). Saber interpretar a gasometria arterial, bem como conhecer o mecanismo fisiológico que desencadeou cada distúrbio, é de grande importância ao Enfermeiro, já que a equipe de enfermagem mantém o maior contato com o paciente e deve então perceber alterações mais precocemente e assim antecipar estratégias de tratamento que possam ser implementadas rapidamente (SMELTZER et al., 2009). O conhecimento da equipe de Enfermagem é um fator fundamental em pacientes de UTI, visto que estes pacientes necessitam de uma atenção cautelosa voltada para detalhes muito das vezes encobertos. Saber o que fazer em determinada situação não é o mesmo de saber por que fazer. O 3 conhecimento teórico, fundamentada em estudos científicos é fundamental para um cuidado de qualidade. Distúrbios acidobásicos estão presentes em grande escala tanto em UTI como em emergências. Assim, vale destacar que a Enfermagem como profissão requer uma atenção especial aos detalhes que regem cada situação. Devem-se conhecer causas e mecanismos fisiopatológicos com o intuito de direcionar cuidados ao atender cada caso. É necessário considerar que um simples distúrbio no equilíbrio acidobásico que passa despercebido poderá acarretar complicações que podem ser fatal. Diante disso esse estudo teve como objetivos caracterizar por meio da literatura os distúrbios acidobásicos de causa metabólica e ainda, indicar as intervenções em cada situação. 2. Metodologia Trata-se de um estudo de revisão integrativa da literatura nacional referente ao tema “distúrbios acidobásicos”. Tem como objetivo sintetizar estudos já concluídos na área de interesse. A amostra foi composta pelas publicações em bases de dados indexadas na biblioteca virtual de saúde (BVS) disponíveis na LILACS, incluídos os artigos publicados entre os anos 2000 a 2011, que estavam disponíveis na íntegra eletronicamente utilizando os descritores (DECs): “equilíbrio ácido base”, “desequilíbrio ácido base”. 3. Resultados a. Método de busca Após a busca das publicações, foram selecionadas as compatíveis com o estudo. Com o descritor “equilíbrio ácido base” foi possível localizar 84 artigos, dos quais 30 estavam completos. Foram incluídos no presente estudo 4 8 artigos e excluídos 25, visto que eram estudos feitos com animais, pacientes gestantes e neonatais. Utilizando o descritor “desequilíbrio ácido base” foi possível encontrar 30 artigos publicados, sendo apenas 5 completos. Os mesmos estavam incluídos também no descritor anterior. Diante disso foram incluídos 06 artigos nessa revisão e serão apresentados por meio de quadro sinóptico. b. Quadro Sinóptico Artigo 1 Autores e ano GARCÍA, 2011. Titulo do artigo Disturbios del estado ácido-básico em el paciente crítico Nome da revista Acta Med Per Objetivos Descrever a importância dos distúrbios acidobásicos em pacientes críticos ressaltando as suas consequências em 3 níveis, além de descrever formas para a interpretação dos distúrbios e oferecer estratégias de cuidados em cada caso. Método Estudo de revisão do tipo atualização Resultados Nesse estudo foram destacados conceitos, o impacto dos distúrbios nos pacientes críticos, os métodos de interpretação do exame de gasometria, anion gap, sistema de compensação e pontos chaves no manuseio dos transtornos. Considerações finais O estudo estabelece alguns pontos críticos. Entre eles a detecção precoce do distúrbio acidobásico como uma estratégia de tratamento eficaz. O autor também cita alguns fatores que desencadeiam os distúrbios, como a fluidoterapia além de destacar a importância da acidose metabólica, que ele define como o distúrbio mais perigoso. Artigo 2 Autores e Ano ÉVORA, GARCIA, 2008 Título do Artigo Equilíbrio ácido-base Nome da revista Medicina, Ribeirão Preto Objetivo Abordar a causa, os efeitos e o tratamento da alcalose e da acidose, respiratória e metabólica, afim de uma compreensão do diagnóstico e do tratamento das alterações do equilíbrio ácido-base. Método Estudo de revisão do tipo atualização Resultados Nesse estudo foram destacados alguns conceitos fisiológicos bem como diagnósticos dos distúrbios do equilíbrio acidobásico (EAB) através da análise gasométrica. São destacadas as causas mais comuns e o tratamento dos distúrbios do EAB e os efeitos indesejáveis dos mesmos.Considerações finais Ao final do estudo são apresentados alguns efeitos indesejáveis referentes aos distúrbios do EAB. Dentre esses efeitos a alcalose metabólica ganha destaque por estar inserido nos distúrbios da homeostase, além de ter relação com os pacientes vítimas de morte súbita, por estar relacionado com arritmias cardíacas. 5 Artigo 3 Autores e ano CALVETE, SCHONHORST, FRIEDMAN, 2008 Titulo do artigo Acid-base dissarrangement and gastric intramucosal acidosis predict outcome from major trauma Nome da revista Rev. Assoc. Med Bras Objetivos Investigar o valor prognóstico da PCO2 em um grupo de pacientes gravemente traumatizados e comparar com marcadores metabólicos de hipoperfusão tecidual. População estudada e amostra 40 pacientes gravemente traumatizados Método Ao admitir o paciente na UTI, foram instalados em cada um deles cateter venoso central e sonda nasogástrica. Foi realizada coleta sangue arterial para análise dos gases arteriais, lactato intramucoso e a fim de obter um estudo a cada 6, 12 e 24 horas. Período da coleta de dados Não evidenciado no artigo Resultados Esse estudo foi feito com 40 pacientes internados em uma UTI com tempo médio de cinco dias. 36 desses pacientes eram do sexo masculino e a média de idade entre todos era 35 anos. Após 24 horas observou-se que entre sobreviventes predominou a taquicardia e entre os não sobreviventes predominou a diminuição da pressão arterial. Também foi testada a variável metabólica para prever a morte por disfunções múltiplas de órgãos em menos de 24 horas. Conclusões A acidose gástrica nas primeiras 24 horas do paciente é um grande fator de risco para o desenvolvimento de disfunções múltiplas de órgãos, porém a acidose sistêmica não tem um prognóstico melhor. Outros estudos são necessários para indicar o tratamento para a acidose gástrica e demonstrar que ele é importante para diminuir a disfunção de órgãos e a mortalidade em pacientes com trauma severo. Artigo 4 Autores e ano CORTEGUERA, MIRANDA, 2000. Titulo do artigo Desequilíbrio hidroelectrolítico y ácido-base em la diarrea Nome da revista Rev Cubana Pediatr Objetivos Realizar uma revisão dos distúrbios acidobásicos destacando os mecanismos causadores mais frequentes associados com a pediatria. Destacar causas, fisiologia e tratamento e citar ainda a flora bacteriana normal como possível aumento dos fatores de risco. Método Estudo de revisão do tipo atualização Resultados O estudo iniciou-se com uma apresentação dos transtornos hidroeletrolíticos, e relacionou a quantidade de água presente no nosso organismo com a sua distribuição nos diferentes compartimentos do corpo. Depois de estabelecidos esses conceitos, explicou-se a relação da água, do sódio, do potássio e do equilíbrio acidobásico como forma de manter a homeostase do organismo. Considerações finais Em relação à regulação do equilíbrio acidobásico os autores destacam a hipovolemia que causa a acidose metabólica como um fator causador da diarreia, visto que a diminuição da filtração glomerular rompe a integridade estrutural das células intestinais, fazendo com as bactérias se desloquem da sua microbiota normal causando assim a diarreia-translocação bacteriana. Outro ponto destacado é a acidose lática causada por enfermidade intestinal. 6 Artigo 5 Autores e ano ROCHA, 2009. Titulo do artigo Uso de bicarbonato de sódio na acidose metabólica do paciente gravemente enfermo. Nome da revista J Bras Nefrol Objetivos Abordar a controvérsia em torno do uso de bicarbonato de sódio na acidose lática. Método Estudo de revisão Resultados Foram feitas análises das principais diferenças entre as acidoses hiperclorêmicas e as acidoses orgânicas com âmion gap (AG) elevado e constatou-se que as acidoses metabólicas com AG elevada se caracteriza por uma produção excessiva de ácidos orgânicos enquanto que nas acidoses hiperclorêmicas há um déficit de bicarbonato, o que implica condições terapêuticas, pois depende da capacidade dos rins de metabolizar bicarbonato e excretar íons. Os riscos associados à persistência de níveis críticos de acidemia foram avaliados e constratados com o uso de bicarbonato de sódio e constatou-se que embora haja controvérsias com o uso de bicarbonato, esperar até que o organismo do paciente haja tamponando a acidose, essa não é a melhor opção, visto que a resposta orgânica é lenta e isso estaria expondo o paciente a diversos riscos respiratórios, metabólicos, cerebrais e cardiovasculares. Ao analisar as evidências da literatura sobre o uso do bicarbonato de sódio no paciente grave, com ênfase em ensaios clínicos randomizados em seres humanos, observou-se que o emprego do uso de bicarbonato é neutro, no entanto devido a escassez de estudos, foram analisados apenas dois que foram realizados há mais de 20 anos, o que não transmite segurança visto que há uma série de implicações que influenciaram os estudos, como o uso de poucas evidências científicas, e muitas teorias. Ao oferecer um fundamento judicioso do uso de bicarbonato de sódio na acidose severa, o autor contradiz a diretriz Surviving Sepsis de 2008, que é contraria ao uso de bicarbonato de sódio na acidose lática, afirmando que se o paciente estiver sendo tratado com a doença base desencadeadora do distúrbio e continuar apresentando pH menor que 7,15mmHg o tratamento com bicarbonato está justificado, afim de prevenir riscos de efeitos adversos provocados pela acidemia severa. Considerações finais O autor oferece sugestões para a utilização de bicarbonato de sódio na acidose lática do paciente com choque séptico. O tratamento está em estabelecer um tratamento primário à doença base, e somente se o pH permanecer menor que 7,15mmHg iniciar o uso de bicarbonato de sódio. A solução isotônica deve ter preferência e deve se utilizar a seguinte fórmula para calcular a quantidade: (Bicarbonato desejado-bicarbonato encontrado) x 0,5 x peso em kg Outros fatores devem ser avaliados, como a velocidade de administração, a reavaliação laboratorial 30 minutos após infusão, checagem de cálcio ionizado e adequar ventilação para excretar sobrecarga de CO2. Artigo 6 Autores e ano MORIYA et al. Titulo do artigo Hidratação e equilíbrio ácido-base em pacientes cirúrgicos. Nome da revista Acta Cir. Bras. Objetivos Verificar em pacientes sem problemas metabólicos submetidos a cirurgia os efeitos dos diferentes regimes de hidratação sobre equilíbrio ácido-base. Método Ensaio clínico randomizado População do estudo 30 pacientes distribuídos de maneira aleatória da seguinte forma: PI (pequena cirurgia com restrição de hidrossalina); PII (pequena cirurgia com reposição conforme balanço hidroeletrolítico diário); PIII (pequena cirurgia com sobrecarga de hidrossalina); GI (grande cirurgia com restrição de hidrossalina); GII (grande cirurgia com reposição conforme balanço hidroeletrolítico diário); GIII (grande cirurgia com sobrecarga de hidrossalina). Resultados No período pré-operatório houve uma incidência maior de pacientes com alcalose respiratória. Já no pós-operatório houve uma incidência maior de acidose respiratória se relacionado com a quantidade de pacientes com alcalose. Os pacientes que apresentaram alcalose metabólica ou mista estavam no 1º, 2º e 3º dia pós-operatório. No entanto nenhum resultado foi grave de maneira que precisasse de correção. Conclusões Há uma alteração do equilíbrio acidobásico devido à cirurgia. No pré-operatório predomina a alcalose. No pós-operatório imediato há acidose respiratória, metabólica ou mista. Nos 3 primeiros dias a alcalose metabólica é predominante. Porém a hidratação com sobrecarga hidrossalina reduz a alcalose metabólica. 7 4. Discussão Após a leitura e síntese verificou-se que na maioria dos artigos foram destacados os distúrbios metabólicos que serão enfatizados nessa discussão. 4.1. Causas de distúrbios metabólicosDiversas são as causas que propiciam o organismo a desenvolver uma acidose metabólica, no entanto o mecanismo que desenvolve esse distúrbio está associado basicamente com a perda excessiva de base, seja pelo aumento da diluição ou do consumo de bicarbonato, ou o aumento significativo da quantidade de ácidos fixos pelo organismo (GARCÍA, 2011). O inverso ocorre na alcalose metabólica que se desenvolve a partir de fatores que geram a perda de ácido forte pelo organismo, ou o ganho de bicarbonato, que pode ser tanto farmacológico que é a infusão do próprio bicarbonato quanto fisiológica que pode ser gerado pelo estresse (ÉVORA, GARCIA 2008). Dentre esses mecanismos estão associadas alguns fatores causadores que merecem atenção e que serão abordados. Dentre os artigos revisados, a hipovolemia ganha destaque como uma das principais desencadeadoras da acidose lática. Segundo Corteguera (2000), a hipovolemia com duração acima de 8 horas tem como consequência a diarreia por deslocação da microbiota normal do organismo. Tal fenômeno ocorre devido à diminuição do bicarbonato (HCO3) pelo filtrado glomerular prejudicando assim a integridade celular do intestino e causando diarreia devido a esse deslocamento. Um estudo realizado por Calvete (2008) com pacientes críticos vítima de trauma internados em uma UTI, verificou a perfusão inadequada como fator determinante gerador da acidose metabólica. Entre os pacientes estudados, sobreviventes e não sobreviventes, o risco de óbito pelo distúrbio é maior após as primeiras 24 horas de internação, visto que com a perfusão inadequada do organismo, há um déficit de bicarbonato bem como um aumento significativo dos níveis de dióxido de carbono, prejudicando assim tanto a função 8 respiratória quanto a função metabólica. Com a acidose gástrica persistente o paciente tem uma maior predisposição para desenvolver disfunção múltipla de órgãos, que foi predominante nos pacientes estudados. Em pacientes cirúrgicos também é possível observar alterações do equilíbrio acidobásico como mostra o estudo de Moriya et al.,(2000). Durante a cirurgia o paciente está sujeito a uma hiperventilação o que causa uma alcalose respiratória. Esse distúrbio respiratório dura somente durante a cirurgia, tornando-se uma acidose respiratória logo no pós-operatório devido à iniciação do centro respiratório do organismo pela reversão da anestesia que faz com que o organismo inicie o metabolismo anaeróbio. A alcalose metabólica ou mista tem uma maior incidência a partir do primeiro dia do pós-operatório, e sugere-se que a causa seja a sondagem nasogástrica, no entanto os autores não puderam explicar a causa da alcalose metabólica no período pré-operatório, visto que a coleta de sangue para gasometria arterial foi feita antes da administração de qualquer medicamento e que os pacientes estudados não tinha qualquer patologia que pudesse explicar o distúrbio (MORIYA et al.,2000). 4.2. Tratamento dos distúrbios metabólicos O tratamento dos distúrbios metabólicos tem como princípio básico analisar a causa primária que desencadeou cada distúrbio, para então direcionar um tratamento eficaz. García (2011) direciona o tratamento da alcalose metabólica baseada na reposição de potássio e observação da necessidade de utilizar cloreto de sódio (NaCL) caso esse seja o causador do distúrbio. Já Évora e Garcia (2008) afirmam que o tratamento pode ser feito baseado em reposição de cloretos, acetazolamia que também pode ser feita em associação com o cloreto de potássio aumentando a excreção urinária de bicarbonato e consequentemente elevando assim o pH sanguíneo. Apesar da eficácia da acetazolamida associada com o cloreto de potássio, há controvérsias, como afirma García (2011), se o distúrbio estiver associado com edemas relacionados a causas como problemas cardíacos, hepáticos ou 9 renais, o tratamento não deve ser feito com hidratação e nem com o uso de diuréticos, pois pode se tratar de um edema secundário a uma patologia, não haverá melhora e sim uma piora do mesmo. O tratamento da acidose metabólica também deve ser feito baseado na causa primária que desencadeou o distúrbio. Um tratamento bastante empregado é a administração do bicarbonato de sódio, no entanto a sua utilização direta só tem indicação quando o pH é menor que 7,10 mmHg, pois o excesso dessa substância no organismo pode gerar uma alcalose metabólica, o que pode acarretar consequências como dificuldade de homeostase ou mesmo geração de arritmias (GARCÍA, 2011; ÉVORA, GARCIA, 2008). O tratamento com administração de bicarbonato de sódio deve ser feita de acordo com a fórmula de Astrup Siggaard Andersen, uma relação matemática que determina a quantidade de bicarbonato que deve ser administrado. A equação é dada por: (0,03 x kg x BE)/ 2 ou 3. No entanto o tratamento também pode ser feito por estimativa, onde a dosagem inicial será de 2mEq/kg seguida por aumento criterioso da dose. Porém esse tratamento por estimativa é feito quando não se há dados gasométricos podendo então estar sujeito a erros pela administração em excesso do bicarbonato (ÉVORA, GARCIA, 2008). 4.3. O uso do bicarbonato de sódio na acidose metabólica e suas controvérsias A acidose metabólica merece uma atenção especial, pois ela é considerada o distúrbio mais perigoso como afirma García (2011), além de estar relacionada com um aumento significativo da mortalidade por distúrbios acidobásicos (ROCHA, 2009). O organismo por si só, recorre a diversas linhas de defesas para o tamponamento do problema, no entanto, quando esses recursos são insuficientes, é necessária a intervenção farmacológica por meio da administração de agentes alcalinizantes para a correção do problema. Porém há controvérsias na utilização do bicarbonato como tratamento escolha, visto que o excesso pode gerar uma alcalose metabólica. (ROCHA, 2009; ÉVORA, GARCIA, 2008). 10 Rocha (2008) faz uma relação com o uso de bicarbonato em duas situações, na acidose lática e na acidose provocada pela diarreia. Na acidose provocada pela diarreia, o uso do bicarbonato é aceitável, visto que há uma perda intestinal significativa de bases, e a reposição fisiológica do bicarbonato será feito por via renal, porém lentamente. Já na acidose lática severa, o ácido lático acaba sendo convertido em bicarbonato a nível hepático, tornando assim a administração de HCO3 controvérsia, pois a mesma pode gerar um excesso de base no organismo convertendo a acidose em alcalose. Há muitos riscos associados com o uso de bicarbonato, a hipernatremia e a hiperosmolaridade podem ser consequências da administração sem a devida diluição. Outro problema é a sobrecarga de volume no organismo, visto que há uma administração de sódio (ROCHA, 2008). A hipercapnia pode ser gerada também, visto que com o aumento do bicarbonato, haverá também um aumento da produção de ácido carbônico pelo tampão bicarbonato que se combina com o hidrogênio em excesso. O aumento do ácido carbônico no organismo gera uma hipoventilação, que causa acidose respiratória. A alcalose de rebote é outro problema, pois o aumento de bicarbonato eleva o pH sem resolver o problema primário, ou seja, o distúrbio é corrigido, no entanto apenas temporariamente, visto que a causa primária continua intacta podendo causar outros distúrbios novamente (ROCHA, 2008). 5. Considerações finais Ao estudar os distúrbios acidobásicos com enfoque nos distúrbios metabólicos, foi possível observar que a acidose metabólica é a mais grave e por isso merece uma atenção especial. É fundamental avaliar os valores gasométricos em conjunto com o caso clínico apresentado pelo paciente, procurando sempre buscar a causa primária que desencadeou cada distúrbio. Outro fator importante a ser considerado são as controvérsias no tratamento com o uso de bicarbonato injetável. Deve-seestudar minuciosamente a causa dos distúrbios já com a intenção de prever futuras consequências do 11 tratamento. O estudo do caso e a sua relação com valores gasométricos são fundamentais para evitar erros preveníveis. Embora o tratamento dos distúrbios metabólicos seja médico, a enfermagem deve estar sempre atenta ao paciente crítico, observando fatores de risco que podem acarretar um distúrbio. O paciente grave é de responsabilidade do Enfermeiro, e o mesmo deve estar monitorando cada paciente, observando a gasometria arterial juntamente com a clínica do paciente a fim de obter um melhor direcionamento além de planos de cuidados. Vale lembrar que a equipe de enfermagem é a equipe que passa o maior tempo com o paciente devendo assim estar atenta a qualquer sinal de alterações. A partir do momento que o Enfermeiro tem um conhecimento da complexidade fisiopatológica dos distúrbios que envolvem seu paciente, ele adquire uma autonomia profissional, além de poder direcionar um cuidado de qualidade de acordo com a sua competência. A educação continuada deve estar sempre presente no dia a dia do Enfermeiro, visto que com o avanço da tecnologia, as inovações são constantes. Os cuidados prestados devem estar sempre justificados por evidências científicas em qualquer situação, e são essas evidências que dão ao Enfermeiro autonomia e competência para agir em cada situação. 12 6. Referências CALVETE, J. O.; SCHONHORST, L.; MOURA, D. M. et al. Acid-base disarrangement and gastric intramucosal acidosis predict outcome from major trauma. Rev Assoc Med Bras. Passo Fundo, v.54, n.2, p.116-121, 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ramb/v54n2/a 12v54n2.pdf> Acessado dia: 25/10/2012 CORTEGUERA, R. L. R.; MIRANDA, V. R. M. Desequilibrio hidroelectrolítico y ácido-base em la diarrea. Rev Cubana Pediatr. 72, n.3, p. 170-182, 2000. Disponível em: <http://bvs.sld.cu/ revistas/ped/vol72_3_00/ped03300.pdf> ÉVORA, P. R. B., et al . 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