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Distúrbios metabólicos em pacientes críticos: Um estudo de 
revisão integrativa da literatura 
 
Giselle Ribeiro Barbosa 
 Fernanda Alves Ferreira Gonçalves. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Resumo – 
Distúrbios acidobásicos estão presentes em grande escala em pacientes 
críticos. Podendo ser classificados em acidose e alcalose respiratória ou 
metabólica, os distúrbios do equilíbrio acidobásico possuem diversas causas e 
consequências, exigindo uma atenção especial da equipe que o manuseia. Por 
ser um equilíbrio delicado e ao mesmo tempo complexo, os distúrbios devem 
ser analisados não apenas através de gasometria arterial, mas também em 
conjunto com o caso clínico de cada paciente, pois é fundamental tratar a 
causa que gera o distúrbio. Diante disso, esse estudo teve como objetivo 
caracterizar por meio da literatura os distúrbios metabólicas e ainda indicar 
intervenções em cada caso. Trata-se de um estudo de revisão integrativa da 
literatura referente ao tema “distúrbios acidobásicos”. Tem como objetivo 
sintetizar estudos já concluídos na área de interesse. A amostra foi composta 
pelas publicações em bases de dados indexadas na biblioteca virtual de saúde 
(BVS) disponíveis na LILACS, incluídos os artigos publicados entre os anos 
2000 a 2011, que estavam disponíveis na íntegra eletronicamente utilizando os 
descritores (DECs): “equilíbrio ácido base”, “desequilíbrio ácido base”. O 
Enfermeiro deve estar sempre atento, monitorando o paciente crítico, a fim de 
obter precocemente qualquer sinal ou sintoma do paciente que indique 
alteração do seu estado normal. A maioria dos artigos estudados destacaram 
os distúrbios metabólicos, e apontaram a acidose metabólica como sendo o 
mais grave dentre os distúrbios acidobásicos. O paciente grave é de 
responsabilidade do enfermeiro e o mesmo deve estar monitorando-o a todo o 
momento a fim de perceber fatores de risco e antecipar estratégias de 
cuidados. 
 
Palavras chaves: equilíbrio acidobásico, desequilíbrio acidobásico, UTI 
 
 
 
 2
1. Introdução 
 
A unidade de terapia intensiva (UTI) é uma área crítica voltada a pacientes 
graves que requerem cuidados de forma integral, ininterrupta e especializada 
(FARIAS MACHADO, 2004). Diversas são as causas de internações em UTI, 
no entanto a insuficiência respiratória aguda (IRpa) é na atualidade a principal 
causa de internação (NISHIMURA, ZUNIGA, 2004). As causas que propiciam o 
aparecimento de IRpa e acidose estão ligados com fatores relacionados ao 
sistema nervoso, disfunções estruturais ou funcionais relacionadas ao sistema 
respiratório (VIANA, 2011), que podem se associar ou não aos distúrbios 
metabólicos, visto que o sistema renal trabalha conjuntamente com o sistema 
respiratório para a manutenção do equilíbrio acidobásico no organismo 
(GUYTON, HALL, 1988; TERZI, 1992). 
A gasometria arterial é um exame invasivo que tem por objetivo diagnosticar 
os distúrbios acidobásicos. O conhecimento fisiopatológico de cada distúrbio é 
de grande importância, pois oferece informações a respeito da função 
respiratória e metabólica (SALES, 2005; ÉVORA, et al., 1999). 
Os distúrbios respiratórios podem ser classificados em acidose ou alcalose 
e estão ligados diretamente com a concentração do dióxido de carbono no 
sangue (PaCO2), enquanto que os distúrbios metabólicos estão interligados 
com a concentração da base bicarbonato (HCO3) no organismo, podendo 
indicar alcalose ou acidose se esta estiver aumentada ou diminuída 
respectivamente (MOTA, QUEIROZ, 2010; ÉVORA et al., 1999). 
Saber interpretar a gasometria arterial, bem como conhecer o mecanismo 
fisiológico que desencadeou cada distúrbio, é de grande importância ao 
Enfermeiro, já que a equipe de enfermagem mantém o maior contato com o 
paciente e deve então perceber alterações mais precocemente e assim 
antecipar estratégias de tratamento que possam ser implementadas 
rapidamente (SMELTZER et al., 2009). 
O conhecimento da equipe de Enfermagem é um fator fundamental em 
pacientes de UTI, visto que estes pacientes necessitam de uma atenção 
cautelosa voltada para detalhes muito das vezes encobertos. Saber o que fazer 
em determinada situação não é o mesmo de saber por que fazer. O 
 3
conhecimento teórico, fundamentada em estudos científicos é fundamental 
para um cuidado de qualidade. 
Distúrbios acidobásicos estão presentes em grande escala tanto em UTI 
como em emergências. Assim, vale destacar que a Enfermagem como 
profissão requer uma atenção especial aos detalhes que regem cada situação. 
Devem-se conhecer causas e mecanismos fisiopatológicos com o intuito de 
direcionar cuidados ao atender cada caso. É necessário considerar que um 
simples distúrbio no equilíbrio acidobásico que passa despercebido poderá 
acarretar complicações que podem ser fatal. Diante disso esse estudo teve 
como objetivos caracterizar por meio da literatura os distúrbios acidobásicos de 
causa metabólica e ainda, indicar as intervenções em cada situação. 
 
 
 
 
2. Metodologia 
 
Trata-se de um estudo de revisão integrativa da literatura nacional referente 
ao tema “distúrbios acidobásicos”. Tem como objetivo sintetizar estudos já 
concluídos na área de interesse. A amostra foi composta pelas publicações em 
bases de dados indexadas na biblioteca virtual de saúde (BVS) disponíveis na 
LILACS, incluídos os artigos publicados entre os anos 2000 a 2011, que 
estavam disponíveis na íntegra eletronicamente utilizando os descritores 
(DECs): “equilíbrio ácido base”, “desequilíbrio ácido base”. 
 
3. Resultados 
 
a. Método de busca 
 Após a busca das publicações, foram selecionadas as compatíveis com 
o estudo. Com o descritor “equilíbrio ácido base” foi possível localizar 84 
artigos, dos quais 30 estavam completos. Foram incluídos no presente estudo 
 4
8 artigos e excluídos 25, visto que eram estudos feitos com animais, pacientes 
gestantes e neonatais. 
 Utilizando o descritor “desequilíbrio ácido base” foi possível encontrar 30 
artigos publicados, sendo apenas 5 completos. Os mesmos estavam incluídos 
também no descritor anterior. 
 Diante disso foram incluídos 06 artigos nessa revisão e serão 
apresentados por meio de quadro sinóptico. 
 
b. Quadro Sinóptico 
 
Artigo 1 
 
Autores e ano GARCÍA, 2011. 
Titulo do artigo Disturbios del estado ácido-básico em el paciente crítico 
 
Nome da revista Acta Med Per 
Objetivos Descrever a importância dos distúrbios acidobásicos em pacientes críticos 
ressaltando as suas consequências em 3 níveis, além de descrever formas para 
a interpretação dos distúrbios e oferecer estratégias de cuidados em cada caso. 
Método Estudo de revisão do tipo atualização 
Resultados Nesse estudo foram destacados conceitos, o impacto dos distúrbios nos 
pacientes críticos, os métodos de interpretação do exame de gasometria, anion 
gap, sistema de compensação e pontos chaves no manuseio dos transtornos. 
Considerações finais O estudo estabelece alguns pontos críticos. Entre eles a detecção precoce do 
distúrbio acidobásico como uma estratégia de tratamento eficaz. O autor 
também cita alguns fatores que desencadeiam os distúrbios, como a 
fluidoterapia além de destacar a importância da acidose metabólica, que ele 
define como o distúrbio mais perigoso. 
 
 
 
 
Artigo 2 
 
Autores e Ano 
 
ÉVORA, GARCIA, 2008 
Título do Artigo 
 
Equilíbrio ácido-base 
Nome da revista 
 
Medicina, Ribeirão Preto 
Objetivo 
 
Abordar a causa, os efeitos e o tratamento da alcalose e da acidose, respiratória 
e metabólica, afim de uma compreensão do diagnóstico e do tratamento das 
alterações do equilíbrio ácido-base. 
Método 
 
Estudo de revisão do tipo atualização 
Resultados 
 
Nesse estudo foram destacados alguns conceitos fisiológicos bem como 
diagnósticos dos distúrbios do equilíbrio acidobásico (EAB) através da análise 
gasométrica. São destacadas as causas mais comuns e o tratamento dos 
distúrbios do EAB e os efeitos indesejáveis dos mesmos.Considerações finais 
 
Ao final do estudo são apresentados alguns efeitos indesejáveis referentes aos 
distúrbios do EAB. Dentre esses efeitos a alcalose metabólica ganha destaque 
por estar inserido nos distúrbios da homeostase, além de ter relação com os 
pacientes vítimas de morte súbita, por estar relacionado com arritmias 
cardíacas. 
 
 
 
 5
 
 
 
Artigo 3 
 
Autores e ano CALVETE, SCHONHORST, FRIEDMAN, 2008 
Titulo do artigo Acid-base dissarrangement and gastric intramucosal acidosis predict outcome 
from major trauma 
Nome da revista Rev. Assoc. Med Bras 
 
Objetivos Investigar o valor prognóstico da PCO2 em um grupo de pacientes gravemente 
traumatizados e comparar com marcadores metabólicos de hipoperfusão 
tecidual. 
População estudada e amostra 40 pacientes gravemente traumatizados 
Método Ao admitir o paciente na UTI, foram instalados em cada um deles cateter venoso 
central e sonda nasogástrica. Foi realizada coleta sangue arterial para análise 
dos gases arteriais, lactato intramucoso e a fim de obter um estudo a cada 6, 12 
e 24 horas. 
Período da coleta de dados Não evidenciado no artigo 
Resultados Esse estudo foi feito com 40 pacientes internados em uma UTI com tempo 
médio de cinco dias. 36 desses pacientes eram do sexo masculino e a média de 
idade entre todos era 35 anos. Após 24 horas observou-se que entre 
sobreviventes predominou a taquicardia e entre os não sobreviventes 
predominou a diminuição da pressão arterial. Também foi testada a variável 
metabólica para prever a morte por disfunções múltiplas de órgãos em menos 
de 24 horas. 
Conclusões A acidose gástrica nas primeiras 24 horas do paciente é um grande fator de 
risco para o desenvolvimento de disfunções múltiplas de órgãos, porém a 
acidose sistêmica não tem um prognóstico melhor. Outros estudos são 
necessários para indicar o tratamento para a acidose gástrica e demonstrar que 
ele é importante para diminuir a disfunção de órgãos e a mortalidade em 
pacientes com trauma severo. 
 
 
 
 
 
 
 
Artigo 4 
 
Autores e ano CORTEGUERA, MIRANDA, 2000. 
Titulo do artigo Desequilíbrio hidroelectrolítico y ácido-base em la diarrea 
Nome da revista Rev Cubana Pediatr 
Objetivos Realizar uma revisão dos distúrbios acidobásicos destacando os mecanismos 
causadores mais frequentes associados com a pediatria. Destacar causas, 
fisiologia e tratamento e citar ainda a flora bacteriana normal como possível 
aumento dos fatores de risco. 
Método Estudo de revisão do tipo atualização 
Resultados O estudo iniciou-se com uma apresentação dos transtornos hidroeletrolíticos, e 
relacionou a quantidade de água presente no nosso organismo com a sua 
distribuição nos diferentes compartimentos do corpo. Depois de estabelecidos 
esses conceitos, explicou-se a relação da água, do sódio, do potássio e do 
equilíbrio acidobásico como forma de manter a homeostase do organismo. 
Considerações finais Em relação à regulação do equilíbrio acidobásico os autores destacam a 
hipovolemia que causa a acidose metabólica como um fator causador da diarreia, 
visto que a diminuição da filtração glomerular rompe a integridade estrutural das 
células intestinais, fazendo com as bactérias se desloquem da sua microbiota 
normal causando assim a diarreia-translocação bacteriana. Outro ponto destacado 
é a acidose lática causada por enfermidade intestinal. 
 
 
 
 
 
 
 
 6
Artigo 5 
Autores e ano ROCHA, 2009. 
Titulo do artigo Uso de bicarbonato de sódio na acidose metabólica do paciente gravemente 
enfermo. 
 
Nome da revista J Bras Nefrol 
Objetivos Abordar a controvérsia em torno do uso de bicarbonato de sódio na acidose lática. 
Método Estudo de revisão 
Resultados Foram feitas análises das principais diferenças entre as acidoses hiperclorêmicas 
e as acidoses orgânicas com âmion gap (AG) elevado e constatou-se que as 
acidoses metabólicas com AG elevada se caracteriza por uma produção excessiva 
de ácidos orgânicos enquanto que nas acidoses hiperclorêmicas há um déficit de 
bicarbonato, o que implica condições terapêuticas, pois depende da capacidade 
dos rins de metabolizar bicarbonato e excretar íons. 
Os riscos associados à persistência de níveis críticos de acidemia foram avaliados 
e constratados com o uso de bicarbonato de sódio e constatou-se que embora 
haja controvérsias com o uso de bicarbonato, esperar até que o organismo do 
paciente haja tamponando a acidose, essa não é a melhor opção, visto que a 
resposta orgânica é lenta e isso estaria expondo o paciente a diversos riscos 
respiratórios, metabólicos, cerebrais e cardiovasculares. 
Ao analisar as evidências da literatura sobre o uso do bicarbonato de sódio no 
paciente grave, com ênfase em ensaios clínicos randomizados em seres 
humanos, observou-se que o emprego do uso de bicarbonato é neutro, no entanto 
devido a escassez de estudos, foram analisados apenas dois que foram 
realizados há mais de 20 anos, o que não transmite segurança visto que há uma 
série de implicações que influenciaram os estudos, como o uso de poucas 
evidências científicas, e muitas teorias. 
Ao oferecer um fundamento judicioso do uso de bicarbonato de sódio na acidose 
severa, o autor contradiz a diretriz Surviving Sepsis de 2008, que é contraria ao 
uso de bicarbonato de sódio na acidose lática, afirmando que se o paciente estiver 
sendo tratado com a doença base desencadeadora do distúrbio e continuar 
apresentando pH menor que 7,15mmHg o tratamento com bicarbonato está 
justificado, afim de prevenir riscos de efeitos adversos provocados pela acidemia 
severa. 
Considerações finais O autor oferece sugestões para a utilização de bicarbonato de sódio na acidose 
lática do paciente com choque séptico. O tratamento está em estabelecer um 
tratamento primário à doença base, e somente se o pH permanecer menor que 
7,15mmHg iniciar o uso de bicarbonato de sódio. 
A solução isotônica deve ter preferência e deve se utilizar a seguinte fórmula para 
calcular a quantidade: (Bicarbonato desejado-bicarbonato encontrado) x 0,5 x 
peso em kg 
Outros fatores devem ser avaliados, como a velocidade de administração, a 
reavaliação laboratorial 30 minutos após infusão, checagem de cálcio ionizado e 
adequar ventilação para excretar sobrecarga de CO2. 
 
Artigo 6 
Autores e ano MORIYA et al. 
Titulo do artigo Hidratação e equilíbrio ácido-base em pacientes cirúrgicos. 
Nome da revista Acta Cir. Bras. 
Objetivos Verificar em pacientes sem problemas metabólicos submetidos a cirurgia os 
efeitos dos diferentes regimes de hidratação sobre equilíbrio ácido-base. 
Método Ensaio clínico randomizado 
 
População do estudo 30 pacientes distribuídos de maneira aleatória da seguinte forma: PI (pequena 
cirurgia com restrição de hidrossalina); PII (pequena cirurgia com reposição 
conforme balanço hidroeletrolítico diário); PIII (pequena cirurgia com sobrecarga 
de hidrossalina); GI (grande cirurgia com restrição de hidrossalina); GII (grande 
cirurgia com reposição conforme balanço hidroeletrolítico diário); GIII (grande 
cirurgia com sobrecarga de hidrossalina). 
Resultados No período pré-operatório houve uma incidência maior de pacientes com 
alcalose respiratória. Já no pós-operatório houve uma incidência maior de 
acidose respiratória se relacionado com a quantidade de pacientes com 
alcalose. Os pacientes que apresentaram alcalose metabólica ou mista estavam 
no 1º, 2º e 3º dia pós-operatório. No entanto nenhum resultado foi grave de 
maneira que precisasse de correção. 
Conclusões Há uma alteração do equilíbrio acidobásico devido à cirurgia. No pré-operatório 
predomina a alcalose. No pós-operatório imediato há acidose respiratória, 
metabólica ou mista. Nos 3 primeiros dias a alcalose metabólica é predominante. 
Porém a hidratação com sobrecarga hidrossalina reduz a alcalose metabólica. 
 7
4. Discussão 
 
Após a leitura e síntese verificou-se que na maioria dos artigos foram 
destacados os distúrbios metabólicos que serão enfatizados nessa discussão. 
 
4.1. Causas de distúrbios metabólicosDiversas são as causas que propiciam o organismo a desenvolver uma 
acidose metabólica, no entanto o mecanismo que desenvolve esse distúrbio 
está associado basicamente com a perda excessiva de base, seja pelo 
aumento da diluição ou do consumo de bicarbonato, ou o aumento significativo 
da quantidade de ácidos fixos pelo organismo (GARCÍA, 2011). O inverso 
ocorre na alcalose metabólica que se desenvolve a partir de fatores que geram 
a perda de ácido forte pelo organismo, ou o ganho de bicarbonato, que pode 
ser tanto farmacológico que é a infusão do próprio bicarbonato quanto 
fisiológica que pode ser gerado pelo estresse (ÉVORA, GARCIA 2008). Dentre 
esses mecanismos estão associadas alguns fatores causadores que merecem 
atenção e que serão abordados. 
Dentre os artigos revisados, a hipovolemia ganha destaque como uma das 
principais desencadeadoras da acidose lática. Segundo Corteguera (2000), a 
hipovolemia com duração acima de 8 horas tem como consequência a diarreia 
por deslocação da microbiota normal do organismo. Tal fenômeno ocorre 
devido à diminuição do bicarbonato (HCO3) pelo filtrado glomerular 
prejudicando assim a integridade celular do intestino e causando diarreia 
devido a esse deslocamento. 
Um estudo realizado por Calvete (2008) com pacientes críticos vítima de 
trauma internados em uma UTI, verificou a perfusão inadequada como fator 
determinante gerador da acidose metabólica. Entre os pacientes estudados, 
sobreviventes e não sobreviventes, o risco de óbito pelo distúrbio é maior após 
as primeiras 24 horas de internação, visto que com a perfusão inadequada do 
organismo, há um déficit de bicarbonato bem como um aumento significativo 
dos níveis de dióxido de carbono, prejudicando assim tanto a função 
 8
respiratória quanto a função metabólica. Com a acidose gástrica persistente o 
paciente tem uma maior predisposição para desenvolver disfunção múltipla de 
órgãos, que foi predominante nos pacientes estudados. 
Em pacientes cirúrgicos também é possível observar alterações do 
equilíbrio acidobásico como mostra o estudo de Moriya et al.,(2000). Durante a 
cirurgia o paciente está sujeito a uma hiperventilação o que causa uma 
alcalose respiratória. Esse distúrbio respiratório dura somente durante a 
cirurgia, tornando-se uma acidose respiratória logo no pós-operatório devido à 
iniciação do centro respiratório do organismo pela reversão da anestesia que 
faz com que o organismo inicie o metabolismo anaeróbio. 
 A alcalose metabólica ou mista tem uma maior incidência a partir do 
primeiro dia do pós-operatório, e sugere-se que a causa seja a sondagem 
nasogástrica, no entanto os autores não puderam explicar a causa da alcalose 
metabólica no período pré-operatório, visto que a coleta de sangue para 
gasometria arterial foi feita antes da administração de qualquer medicamento e 
que os pacientes estudados não tinha qualquer patologia que pudesse explicar 
o distúrbio (MORIYA et al.,2000). 
 
4.2. Tratamento dos distúrbios metabólicos 
 
O tratamento dos distúrbios metabólicos tem como princípio básico analisar 
a causa primária que desencadeou cada distúrbio, para então direcionar um 
tratamento eficaz. García (2011) direciona o tratamento da alcalose metabólica 
baseada na reposição de potássio e observação da necessidade de utilizar 
cloreto de sódio (NaCL) caso esse seja o causador do distúrbio. 
Já Évora e Garcia (2008) afirmam que o tratamento pode ser feito baseado 
em reposição de cloretos, acetazolamia que também pode ser feita em 
associação com o cloreto de potássio aumentando a excreção urinária de 
bicarbonato e consequentemente elevando assim o pH sanguíneo. 
Apesar da eficácia da acetazolamida associada com o cloreto de potássio, 
há controvérsias, como afirma García (2011), se o distúrbio estiver associado 
com edemas relacionados a causas como problemas cardíacos, hepáticos ou 
 9
renais, o tratamento não deve ser feito com hidratação e nem com o uso de 
diuréticos, pois pode se tratar de um edema secundário a uma patologia, não 
haverá melhora e sim uma piora do mesmo. 
O tratamento da acidose metabólica também deve ser feito baseado na 
causa primária que desencadeou o distúrbio. Um tratamento bastante 
empregado é a administração do bicarbonato de sódio, no entanto a sua 
utilização direta só tem indicação quando o pH é menor que 7,10 mmHg, pois o 
excesso dessa substância no organismo pode gerar uma alcalose metabólica, 
o que pode acarretar consequências como dificuldade de homeostase ou 
mesmo geração de arritmias (GARCÍA, 2011; ÉVORA, GARCIA, 2008). 
 O tratamento com administração de bicarbonato de sódio deve ser feita de 
acordo com a fórmula de Astrup Siggaard Andersen, uma relação matemática 
que determina a quantidade de bicarbonato que deve ser administrado. A 
equação é dada por: (0,03 x kg x BE)/ 2 ou 3. No entanto o tratamento também 
pode ser feito por estimativa, onde a dosagem inicial será de 2mEq/kg seguida 
por aumento criterioso da dose. Porém esse tratamento por estimativa é feito 
quando não se há dados gasométricos podendo então estar sujeito a erros pela 
administração em excesso do bicarbonato (ÉVORA, GARCIA, 2008). 
 
4.3. O uso do bicarbonato de sódio na acidose metabólica e suas 
controvérsias 
 
A acidose metabólica merece uma atenção especial, pois ela é considerada 
o distúrbio mais perigoso como afirma García (2011), além de estar relacionada 
com um aumento significativo da mortalidade por distúrbios acidobásicos 
(ROCHA, 2009). O organismo por si só, recorre a diversas linhas de defesas 
para o tamponamento do problema, no entanto, quando esses recursos são 
insuficientes, é necessária a intervenção farmacológica por meio da 
administração de agentes alcalinizantes para a correção do problema. Porém 
há controvérsias na utilização do bicarbonato como tratamento escolha, visto 
que o excesso pode gerar uma alcalose metabólica. (ROCHA, 2009; ÉVORA, 
GARCIA, 2008). 
 10
Rocha (2008) faz uma relação com o uso de bicarbonato em duas 
situações, na acidose lática e na acidose provocada pela diarreia. Na acidose 
provocada pela diarreia, o uso do bicarbonato é aceitável, visto que há uma 
perda intestinal significativa de bases, e a reposição fisiológica do bicarbonato 
será feito por via renal, porém lentamente. Já na acidose lática severa, o ácido 
lático acaba sendo convertido em bicarbonato a nível hepático, tornando assim 
a administração de HCO3 controvérsia, pois a mesma pode gerar um excesso 
de base no organismo convertendo a acidose em alcalose. 
Há muitos riscos associados com o uso de bicarbonato, a hipernatremia e a 
hiperosmolaridade podem ser consequências da administração sem a devida 
diluição. Outro problema é a sobrecarga de volume no organismo, visto que há 
uma administração de sódio (ROCHA, 2008). 
A hipercapnia pode ser gerada também, visto que com o aumento do 
bicarbonato, haverá também um aumento da produção de ácido carbônico pelo 
tampão bicarbonato que se combina com o hidrogênio em excesso. O aumento 
do ácido carbônico no organismo gera uma hipoventilação, que causa acidose 
respiratória. A alcalose de rebote é outro problema, pois o aumento de 
bicarbonato eleva o pH sem resolver o problema primário, ou seja, o distúrbio é 
corrigido, no entanto apenas temporariamente, visto que a causa primária 
continua intacta podendo causar outros distúrbios novamente (ROCHA, 2008). 
 
5. Considerações finais 
 
Ao estudar os distúrbios acidobásicos com enfoque nos distúrbios 
metabólicos, foi possível observar que a acidose metabólica é a mais grave e 
por isso merece uma atenção especial. É fundamental avaliar os valores 
gasométricos em conjunto com o caso clínico apresentado pelo paciente, 
procurando sempre buscar a causa primária que desencadeou cada distúrbio. 
Outro fator importante a ser considerado são as controvérsias no tratamento 
com o uso de bicarbonato injetável. Deve-seestudar minuciosamente a causa 
dos distúrbios já com a intenção de prever futuras consequências do 
 11
tratamento. O estudo do caso e a sua relação com valores gasométricos são 
fundamentais para evitar erros preveníveis. 
Embora o tratamento dos distúrbios metabólicos seja médico, a 
enfermagem deve estar sempre atenta ao paciente crítico, observando fatores 
de risco que podem acarretar um distúrbio. O paciente grave é de 
responsabilidade do Enfermeiro, e o mesmo deve estar monitorando cada 
paciente, observando a gasometria arterial juntamente com a clínica do 
paciente a fim de obter um melhor direcionamento além de planos de cuidados. 
Vale lembrar que a equipe de enfermagem é a equipe que passa o maior 
tempo com o paciente devendo assim estar atenta a qualquer sinal de 
alterações. A partir do momento que o Enfermeiro tem um conhecimento da 
complexidade fisiopatológica dos distúrbios que envolvem seu paciente, ele 
adquire uma autonomia profissional, além de poder direcionar um cuidado de 
qualidade de acordo com a sua competência. 
A educação continuada deve estar sempre presente no dia a dia do 
Enfermeiro, visto que com o avanço da tecnologia, as inovações são 
constantes. Os cuidados prestados devem estar sempre justificados por 
evidências científicas em qualquer situação, e são essas evidências que dão 
ao Enfermeiro autonomia e competência para agir em cada situação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 12
6. Referências 
 
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