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1 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 5 2 DESENVOLVIMENTO HUMANO ............................................................... 6 3 Recém-nascido ........................................................................................... 7 3.1 Avaliação com o escore de apgar ........................................................ 8 3.2 O comportamento ................................................................................. 8 3.3 Capacidade sensoriais iniciais ............................................................. 9 3.4 Reflexos ............................................................................................. 10 3.5 Habilidades motoras ........................................................................... 10 4 DESENVOLVIMENTO COGNITIVO ......................................................... 11 4.1 O desenvolvimento mental ................................................................. 12 4.2 O desenvolvimento e expressão das linguagens dos bebês .............. 14 4.3 Inteligência ......................................................................................... 20 4.4 Estimulação essencial ........................................................................ 22 4.5 Crianças de três a seis meses ........................................................... 23 4.6 Crianças de seis aos 12 meses .......................................................... 24 4.7 Crianças de 12 aos 15 meses ............................................................ 24 5 Contextualizando o desenvolvimento infantil ............................................ 25 6 DESENVOLVIMENTO MOTOR ................................................................ 29 6.1 Conceito e característica do desenvolvimento motor ......................... 31 6.2 Etapas do desenvolvimento motor ..................................................... 31 6.3 Fase motora reflexiva ......................................................................... 32 6.4 Fase de movimentos rudimentares .................................................... 33 6.5 Fase de movimentos fundamentais .................................................... 33 6.6 Fase de movimentos especializados .................................................. 34 6.7 Reflexos primitivos ............................................................................. 34 3 6.8 Reflexo de moro ................................................................................. 35 6.9 Reflexos de busca e sucção ............................................................... 35 6.10 Reflexo buco-manuais .................................................................... 36 6.11 Reflexo palmar de preensão ........................................................... 36 6.12 Reflexo de preensão plantar e de babinski ..................................... 36 6.13 Reflexos corretivos labirínticos e visuais ......................................... 36 6.14 Reflexo de levantamento................................................................. 37 6.15 Reflexo de amortecimento e apoio .................................................. 37 6.16 Reflexo de endireitamento (corretivo) de cabeça e do corpo .......... 37 6.17 Reflexo primário de caminhar ......................................................... 38 6.18 Habilidades fundamentais do desenvolvimento motor .................... 38 6.19 A função da instituição de ensino .................................................... 40 6.20 Fatores ambientais .......................................................................... 41 6.21 Fatores socioeconômicos e culturais .............................................. 43 6.22 Família e desenvolvimento.............................................................. 44 6.23 Papel da família no desenvolvimento humano ................................ 45 6.24 O papel da escola no desenvolvimento humano ............................. 45 6.25 A importância da estimulação no ambiente escolar ........................ 46 7 ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO EM PIAGET ........... 47 7.1 Estágio de desenvolvimento cognitivo sensório-motor ....................... 48 7.2 Estágio cognitivo pré-operatório ......................................................... 50 7.3 Estágio de desenvolvimento cognitivo operatório-concreto................ 52 7.4 Estágio de desenvolvimento cognitivo operatório formal.................... 53 7.5 Fatores que influenciam o desenvolvimento humano ........................ 55 7.6 Princípios do desenvolvimento humano ............................................. 56 7.7 Aspectos do desenvolvimento humano .............................................. 57 7.8 Características psicológicas do desenvolvimento .............................. 59 4 8 PSICOMOTRICIDADE E SEUS CONCEITOS ......................................... 59 8.1 Elementos básicos da psicomotricidade ............................................. 62 8.2 Motricidade fina .................................................................................. 63 8.3 Motricidade global .............................................................................. 64 8.4 Equilíbrio ............................................................................................ 65 8.5 Esquema corporal .............................................................................. 67 8.6 Organização espacial ......................................................................... 69 8.7 Organização temporal ........................................................................ 71 8.8 Lateralidade ........................................................................................ 72 8.9 A importância da afetividade na evolução no processo intelectual e psicomotor na educação infantil ............................................................................ 74 9 O DESENVOLVIMENTO DA INTELIGÊNCIA ........................................... 79 9.1 Conceito de inteligência ..................................................................... 81 9.2 A teoria das inteligências múltiplas .................................................... 81 9.3 Definição das inteligências múltiplas .................................................. 83 9.4 A teoria das inteligências múltiplas e a educação .............................. 84 10 O ADOLESCENTE SEGUNDO PIAGET ............................................... 86 11 PENSAMENTO E LINGUAGEM ............................................................ 92 12 A APRENDIZAGEM ............................................................................... 93 13 Referências bibliográficas ...................................................................... 96 5 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI , esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável,porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 6 2 DESENVOLVIMENTO HUMANO Segundo Dessen e Guedea (2005) O desenvolvimento representa uma organização contínua dentro da unidade tempo-espaço, que opera no nível das ações, percepções, atividades e interações do indivíduo com o seu mundo, sendo estimulado ou inibido por meio das interações com diferentes participantes do ambiente pessoal. Dessa forma, Moura (2009) enuncia que o espaço deve estar disposto de modo que estimule a criança. Ao agir sobre o meio, buscando satisfazer suas necessidades e seus desejos, a criança transforma a si própria e o meio, determinando, assim, seu processo de formação. Daí a necessidade de um espaço desafiador. Conforme Becker (2003): “se o sujeito tem condições ótimas de ação devido as suas experiências anteriores significativas e o meio positivamente desafiador, a qualidade da interação cresce e será função de um desenvolvimento cognitivo ótimo”. De acordo com Piaget e Inhelder (1993), as primeiras noções de espaços construídas pela criança são atribuídas ao espaço prático, que ela vai formando por meio dos sentidos e dos próprios movimentos corporais. Após um extenso processo de coordenação das ações é que o indivíduo começa a construir paulatinamente um objeto permanente e um espaço onde ele se sinta um, entre outros elementos. A noção de espaço vai se aprofundando à medida que a criança vai vencendo gradualmente o egocentrismo, que consegue diferenciar o “eu” e o “mundo”. Fonseca (2004) afirma que é a interação entre dois componentes que definem o comportamento humano: a motricidade e o psiquismo. Para Wallon, (1989), o movimento tem um papel fundamental na afetividade e também na cognição, sendo de extrema importância essa compreensão conjunta. Todavia, o crescimento humano não se manifesta apenas através do biológico, mas também das condições existentes no mundo social, em especial dos avanços técnicos e das conquistas culturais (GALLAHUE e OZMUN, 2003). Esse crescimento ocorre dentro de um espaço em contínua transformação pela ação social. Nele, o psíquico e o biológico estão em constante interação, de modo que o primeiro impulsiona o segundo na mesma direção, podendo sofrer constantes e sucessivas modificações (LORDELA et al, 2000). 7 3 Recém-nascido Fonte: trocandofraldas.com.br Aspectos físicos O crescimento físico e o desenvolvimento motor normais ocorrem de acordo Papalia & Olds (2000) por dois princípios: Princípio céfalocaudal, onde o desenvolvimento avança da cabeça para as partes inferiores. Princípio próximo- distal, o desenvolvimento avança do centro do corpo para as partes externas. Assim, os bebês primeiramente desenvolvem sua capacidade de usar a proporção superior dos braços e das pernas (localizadas próximo ao centro do corpo), e depois as porções inferiores desses membros seguidos pelas mãos e pés, e finalmente, pelos dedos. Assim, pode – se elencar algumas características físicas do neonato como cor avermelhada, recoberto por uma camada de gordura, calvos ou cabeludos, crânio alongado ou assimétrico, órgão genitais proeminentes, altura média de cinquenta centímetros, peso médio de três quilos. 8 3.1 Avaliação com o escore de apgar Logo em seguida do nascimento do bebê, no primeiro minuto, é feita uma avaliação para detectar eventuais problemas que requeiram cuidados especiais. Cinco minutos após a primeira avaliação é feita uma reavaliação para ver se existe alteração no quadro inicial. O sistema de avaliação usado mais comumente é o escore de Apgar, elaborado pela médica Virgínia Apgar em 1953. Essa subdivide- se em cinco subtestes: Aparência (cor), Pulso (frequência cardíaca), Careta (irritabilidade reflexa), Atividade (tônus musculares) e respiração. Um minuto após o nascimento e novamente cinco minutos após o parto, a maioria dos bebês á avaliada usando- se a escala de Apgar, recebendo uma nota de zero a dez. É difícil na primeira avaliação, ele receber nota dez, pois o bebê está bem, ou seja, não corre perigo de vida. Escore de quatro e meio ou seis mostra que o bebê tem problemas na respiração normal e escore igual ou menor que três indica que ele está em condição crítica, mas pode sobreviver (Papalia & Olds, 2000). 3.2 O comportamento Logo após o nascimento, a criança desenvolve características bem definidas relacionadas a movimentos, que são dispersos e aparentemente incoordenados. Esses movimentos resultam de reflexos simples, aplicados em determinadas regiões do corpo. Quando se põe um objeto em contato com a boca do bebê recém-nascido, por exemplo, esse provavelmente começará a sugar, podendo haver, porém, em outras partes do corpo, muitos movimentos adicionais que nada têm a ver com a sucção. Embora a criança apresente numerosos movimentos generalizados, há, desde o início, certa especialização do comportamento, Bee (1997). 9 3.3 Capacidade sensoriais iniciais Desde muito cedo, os bebês percebem o mundo ao seu redor. O reconhecimento da competência do recém-nascido da sua pré-adaptação para iniciar o conhecimento do meio no qual está inserido, em termos físicos e sociais, evidencia o papel ativo do bebê no mundo e nas relações diádicas. Um estudo realizado por Moura et al (2004) analisou as relações entre características de interações mãe – bebê, atividades maternas e a concepção acerca das competências dos bebês e as relações entre características destas atividades e o estado de vigília dos bebês. Participaram 30 díades mãe- bebê, considerando a percentagem de ocorrências nos intervalos, verificou – se que as atividades predominantes das mães nos períodos observados foram: olhar o bebê (99,2%) e tocar o bebê (83,4%). Estes achados sugerem a importância das atividades de olhar e tocar no processo interacional mãe-bebê. A audição começa no útero e é aguda mesmo antes do nascimento. Os fetos respondem a sons e podem até aprender a reconhece – lós. A sensibilidade dos bebês a diferenças auditivas podem ser um indicador de habilidades cognitivas. A visão do bebê é o sentido menos desenvolvido ao nascer. O bebê também tem capacidade de ver, mas é míope ao nascer. Ele tem reação aos estímulos luminosos e pode distinguir o rosto materno dos demais. O olfato do bebê é rudimentar, mas atuante. Ele diferencia o cheiro da mãe dos demais, porém isso exige uma certa experiência e aprendizagem, uma vez que em bebês com dois dias de vida não é observado esse reconhecimento. O bebê discrimina os quatro sabores básicos: salgados, doce, azedo e amargo e tem reações agradáveis em relação ao açúcar, tal preferência ajuda o bebê a adaptar –se a vida fora do útero, pois o leite materno é um tanto adocicado. Frente a um estímulo gustativo, a resposta dele é de sucção. O bebê é muito sensível ao toque principalmente na boca, ao redor dessa e nas mãos. Ele reage a temperaturas mais quentes ou mais frias que a do seu próprio corpo e parece ter mais reação ao frio. Os primeiros sinais desse reflexo aparecem no útero após a concepção. Com trinta e duas semanas de gestação todas as partes corporais são sensíveis a esse toque e essa sensibilidade aumenta durante os primeiros cinco de vida (Papalia; Olds, 2000). 10 3.4 Reflexos O reflexo é uma resposta automática e involuntária que é desencadeada por meio de algum estímulo. Segundo Bee (1997), os bebês apresentam, muitos reflexos, que podem ser divididos em reflexos adaptativos e reflexos primitivos. Os reflexos adaptativos são aqueles que auxiliam o bebê a sobreviver no mundo real. São exemplos desses reflexos os de sugar, de engolir, de buscar, que é quando ele é tocado na face e vira a cabeça na direção do toque, de retraimento quanto a estímulos dolorosos e de abertura e fechamentoda pupila devido à intensidade luminosa. Existem também os reflexos que foram adaptativos na história evolutiva e que persistem até hoje, como o reflexo de preensão. Esse reflexo opera da seguinte forma: quando for colocado o dedo atravessado na palma da mão do bebê, ele reflexamente irá fechar a mão fortemente ao redor do dedo. Se isso for feito em ambas as mãos, é possível levantar o bebê pelas mãos devido a força de preensão. Os reflexos primitivos são chamados dessa forma, porque são controlados pelas partes mais primitivas do cérebro. Por volta dos seis meses, a criança perde esses reflexos e os substitui por funções cerebrais mais complexas. Entre os reflexos primitivos estão o reflexo de moro e o de Babinsky. O reflexo de moro ocorre quando assustamos o bebê de alguma forma ou produzimos um som alto e ele arremessa os braços para frente e arqueia as costas. Já, quando estimulamos a planta dos pés de um bebê e ele estica imediatamente os dedos e depois os encolhe, chamamos esse reflexo de Babinsky. 3.5 Habilidades motoras As habilidades motoras dos recém-nascidos são precárias. Eles não conseguem manter a cabeça ereta, rolar, sentar ou alcançar as coisas que veem. O primeiro desenvolvimento motor da criança é quando ela consegue ficar de bruços puxando os joelhos para cima sob o abdômen, e ficar com a pélvis erguida e a cabeça ao lado para respirar. O recém-nascido mantém sempre as pernas flexionadas. Um estudo realizado por Bonvicine et al (2004) demonstra que o controle postural estável constitui a base para a organização e execução voluntária do movimento. 11 Este é exteriorizado através da emergência de habilidades motoras como, por exemplo, o controle da cabeça. Foram avaliados os itens relacionados com a aquisição do controle de cabeça da avalição Gross Motor Function Measurement (GMFM). Através dessa análise, observou – se uma diferença de pontuação entre o grupo das crianças pré-termo e a termo. No entanto, estes valores não foram significativos ao serem analisados estatisticamente pelo teste t de student. Por meio dos resultados obtidos neste estudo, pode-se sugerir que a prematuridade não é um fator influenciador do controle de cabeça final e que apesar de um ligeiro atraso do desenvolvimento da aquisição do controle de cabeça das crianças pré-termo, ao final dos quatro meses de idade, ambos os grupos apresentavam pontuações similares. Um estudo realizado por Rocha e Tudella (2003), com o objetivo discutir alguns aspectos das principais teorias que embasam as transformações motora ao longo da vida dos bebês, indica que o desenvolvimento motor normal e patológico foi, por muito tempo, interpretado dentro de uma estrutura neuromaturacional. Uma visão diferenciada pode ser verificada na perspectiva de Bernstein, considerando não somente o sistema nervoso no controle motor, mas também a contribuição dos músculos, sistema esquelético, força da gravidade e inércia. A teoria de percepção- ação também surgiu enfocando o uso da informação perceptual do ambiente para controlar os movimentos. No entanto, no início da década de 80, surgiram abordagens enfocando o uso da informação perceptual do ambiente para controlar os movimentos e também sistemas dinâmicos, a qual enfatiza a complexidade e interação de vários componentes envolvidos no desenvolvimento motor. 4 DESENVOLVIMENTO COGNITIVO O desenvolvimento cognitivo é tudo aquilo que a criança vai aprender, ou seja, o conhecimento. O processo cognitivo tem início nos reflexos do recém-nascido e progride por fases, até o raciocínio lógico e formal do adulto. Crianças de dois meses sorriem a qualquer estímulo quando a mãe ou outra pessoa conversa com ela, ou mesmo um brinquedo que lhe chame a atenção. Mas só aos três meses saberá que está sorrindo para o rosto que está bem em frente ao seu. 12 Com seis meses, a criança quase sempre acha tudo engraçado dando gargalhadas, já pode pegar os objetos e com isso se distrai quando a mãe se ausenta, embora fique magoado ao ver –se sozinha. Nesse período, não presta muita atenção as cores, embora já saiba distingui-las. O bebê já vê a mãe como alguém diferente dele e demonstra isso. Aos sete meses, o balbuciar do bebê, antes servindo mais para seu divertimento, passa a ser nitidamente tentativas de palavras. Porém, ainda predomina como meio de comunicação o choro e as expressões faciais. A imitação é seu forte, desse modo sintetiza milhares de informações. Segundo Kaplan (1997), os bebês são capazes de emitir ruídos, como choro, mas não vocalizam até cerca de 8 semanas. Os sons guturais os balbucios em resposta à mãe ocorrem espontaneamente. As vocalizações da criança para sua evolução adicional e persistência dependem do esforço parental. 4.1 O desenvolvimento mental Se constrói continuamente e se constitui pelo aparecimento gradativo de estruturas mentais. As estruturas mentais são formas de organização da atividade mental que vão se aperfeiçoando e se solidificando, até o momento em que todas elas, estando plenamente desenvolvidas, caracterizarão um estado de equilíbrio superior em relação à inteligência, à vida afetiva e às relações sociais. Algumas estruturas mentais podem permanecer ao longo de toda a vida, como, por exemplo: a motivação. Outras estruturas são substituídas a cada nova fase da vida do indivíduo. A obediência da criança é substituída pela autonomia moral do adolescente. A relação da criança com os objetos que, se dá primeiro apenas de forma concreta se transforma na capacidade de abstração. Portanto, a ocorrência desses movimentos organiza a atividade mental e são conhecidos também como estruturas variáveis. Os movimentos realizados em resposta aos interesses ou às necessidades do indivíduo fazem com que a mente realize adaptações de ordem motora, intelectual e afetiva, sendo a afetiva com suas dimensões individuais e sociais. Esses movimentos ou estruturas variáveis são comumente conhecidos como: assimilação, adaptação, acomodação e equilibração, e são considerados fundamentais no processo de construção do conhecimento. 13 Piaget (1999) afirma que é necessário compreender as estruturas variáveis, a fim de diferenciar a conduta de uma criança, a de um adolescente ou a de um adulto. Condutas essas que assumem formas diferentes de acordo com o grau de desenvolvimento. Sendo conduta a forma do comportamento representada na ação do sujeito; que, através do desenvolvimento natural do processo orgânico e físico do corpo, somado às experiências anteriores faz a mente evoluir. Essa evolução se apresenta numa construção de novas e diferentes soluções que a mente realiza para responder às necessidades e interesses quando o indivíduo se relaciona com o meio a cada etapa do desenvolvimento. Por exemplo: Uma criança aos dois anos de idade não vai assimilar um objeto do mesmo modo que uma criança de dez anos faria ao ter contato com esse mesmo objeto. Pois, a compreensão deste objeto dependerá do nível de conhecimento anterior que cada um construiu durante o seu processo de desenvolvimento. São esses diferentes níveis de conhecimento, mencionado no exemplo acima, que um indivíduo constrói desde o seu nascimento e que todas as características que são aprendidas e acomodadas resultam nos estágios de desenvolvimento. O autor sistematizou e organizou as estruturas que são originais de cada estágio da vida humana, a fim de obter um método investigativo que servisse como suporte para estudos de como o homem constrói seu conhecimento. Distinguem-se, então, seis estágios ou períodos de desenvolvimento. 1º reflexos, mecanismos hereditários, tendências instintivas e as primeiras emoções; 2º primeiros hábitos motores, primeiras percepções organizadas, primeiros sentimentos diferenciados; 3º início da inteligência senso-motora ou prática (antesda linguagem), regulações das afeições elementares, fixações exteriores da afetividade; (período de amamentação, antes da linguagem e do pensamento) 4º Inteligência intuitiva, sentimentos interindividuais espontâneos, relações sociais e submissão ao adulto; (de 02 a 07 anos) 5º Operações intelectuais concretas (início da lógica), sentimentos morais e sociais de cooperação; (07 a 11/12 anos); 6º Operações intelectuais abstratas, formação da personalidade e da inserção afetiva e intelectual na vida adulta (adolescência) (PIAGET). 14 Nota-se que em cada estágio de desenvolvimento há características de estruturas originais próprias e comuns a todos os seres humanos em desenvolvimento. Características que coincidem com a maturação biológica do corpo e a progressão que a mente realiza conforme ocorre o processo de construção de conhecimento. Piaget (1999) afirma que o desenvolvimento mental é composto de pequenas construções progressivas que buscam uma equilibração cada vez mais completa; ora assimilando objetos, a ação ou o pensamento, acomodando-se a cada variação exterior ou interior. Identifica-se nesse processo de assimilação e acomodação de novos conhecimentos, a adaptação, um processo de reorganização mental, movimento que leva a um estado de equilíbrio momentâneo. A teoria piagetiana é complexa por envolver várias áreas de conhecimento, tais como, o conhecimento lógico-matemático, biologia, física, etc. Na leitura de um texto de Piaget é possível observar a movimentação do seu raciocínio e reflexão acerca da observação do seu objeto de pesquisa e isso requer várias leituras e uma rica pesquisa dos conceitos e termos empregados a fim de uma acomodação precisa deste conhecimento. A Epistemologia Genética é pouco compreendida por estes aspectos apesar de ser muito divulgada nos meios acadêmicos. A equilibração é indispensável porque um indivíduo que apenas assimilasse estímulos formaria poucos esquemas cognitivos, que embora amplos, seriam incapazes de encontrar diferenças nas coisas ou situações (Piaget 1973/2003; et al., Wardsworth, 1977; 2003 apud Melo; 2011). 4.2 O desenvolvimento e expressão das linguagens dos bebês O processo de aquisição e desenvolvimento das linguagens é algo extremamente complexo, principalmente quando se trata de bebês, que se expressam a partir de diferentes tipos de linguagem, como o choro e as expressões faciais inicialmente e, logo os gestos, as pequenas palavras e frases, pois como Ostetto (2004) nos apresenta, “(...) a linguagem é viva e muitas palavras podem ser contadas e cantadas, criando espaços e momentos de interlocução, partilhando afetos e conhecimentos”. 15 Com as recentes contribuições das neurociências na educação, sabe-se que a criança já nasce com a pré-disposição para aprender, pois a interação com as outras pessoas e com o meio se inicia mesmo antes do nascimento, desde sua vida intrauterina com o contato com a voz da mãe e das pessoas mais próximas, das músicas e histórias que ouve e a partir de o nascimento com as interações com os demais nos diferentes lugares. Até os três anos de idade, acontece o período crítico do desenvolvimento da criança. É o período quando ocorre uma explosão de aprendizagens, pois o cérebro está em pleno desenvolvimento e se modificando o tempo todo com as experiências que a criança vivencia. Da mesma forma, a criança nasce pronta para o desenvolvimento da linguagem como forma de comunicação, expressão dos pensamentos e interação social. Cairuga, Castro e Costa (2014) nos auxiliam a perceber e olhar para o desenvolvimento dos bebês, complementando que “As crianças pequenas, especialmente os bebês, têm um crescimento muito rápido. Do ponto de vista orgânico, as crianças, no primeiro ano de vida, realizam grandes conquistas através do movimento e das linguagens do corpo”. Neste momento, faz-se necessário definir desenvolvimento infantil para compreendermos também como acontece o processo de desenvolvimento das linguagens. Desenvolvimento infantil pode ser definido como capacidade que a criança possui de resolver um problema sozinho, ou ainda, significa capacidade de desenvolver ações cada vez mais complexas e é sinônimo de maturação, a capacidade de desenvolvimento potencial se caracteriza pela resolução de um problema com o auxílio de outra pessoa. Ou seja, aprendizagem é um fenômeno complexo, envolve aspectos cognitivos, emocionais, orgânicos, psicológicos, sociais e culturais, é a capacidade que as pessoas possuem de captar informações, desenvolvendo habilidades e posteriormente competências, no caso dos bebês, com a mediação e presença constante do adulto. O adulto, habituado à linguagem falada, encontra dificuldades para compreender outras formas de comunicação e expressão que, no caso das crianças pequeninas, são os olhares, os gestos, o choro, os sorrisos, os balbucios. Na maioria das vezes, o que ocorre com os profissionais envolvidos é isto: não conseguem perceber esses sinais comunicativos tão complexos. (TRISTÃO, 2005 apud 2012). 16 Para compreendermos melhor as fases do desenvolvimento da linguagem buscaram-se estudos sobre as teorias de Vygotsky (1896–1934) e Piaget (1896- 1980), que apresentam as etapas e influências deste processo. Para Piaget (1975) o conhecimento se dá na interação do sujeito com o meio em que está inserido e afirma em sua teoria que o pensamento é prioridade no processo de desenvolvimento do indivíduo que está ligado às estruturas do ser humano e pode ser resumido como estruturas físicas, biológicas e psíquicas, assumindo a função de desenvolver a identidade e autonomia, proporcionar segurança, interação e conhecimento de mundo e, da mesma forma acontece com o desenvolvimento da linguagem, que também acontece a partir das interações. Pode-se dizer que a principal forma de aprendizagem da criança pequena ocorre através do brincar, brincar de todas as formas possíveis, com a música, a arte, com objetos e com o próprio corpo e segundo Vygotsky (1987), o brincar possibilita a construção e recriação de significados, mas para que isso aconteça, a criança deve estar inserida em um ambiente estável, com rotina estruturada, com objetos e brinquedos disponíveis e a possibilidade de interação com adultos e com outras crianças, compartilhando hipóteses e vivências. A importância dos fatores orgânicos e socioculturais é a mesma neste processo, a criança nasce com a capacidade biológica de aprender, mas a aprendizagem só se constrói socialmente e pode auxiliar ou prejudicar no desenvolvimento da criança. “Desta forma, está com os bebês, aceitando o desafio de conviver com suas especificidades, reafirma a necessidade de aprendermos a ver e ouvir suas linguagens. ” (OSTETTO, 2008). A pessoa é resultado da integração entre afetividade, cognição e movimento. O que é conquistado em um desses conjuntos interfere nos demais. O afetivo, por meio de emoções, sentimentos e paixões, sinaliza como o mundo interno e externo nos afeta. Conforme Almeida (1989), para Wallon, que estudou a afetividade geneticamente, os acontecimentos à nossa volta estimulam tanto os movimentos do corpo quanto a atividade mental, interferindo no desenvolvimento. Piaget (1975) utiliza o termo afetividade, que representa para ele a emoção e também afirma que a afetividade influência positiva ou negativamente os processos de aprendizagem, acelerando ou atrasando o desenvolvimento intelectual. A criança pequena constrói memórias por imagens, associando uma a outra. 17 No decorrer do desenvolvimento, ela passa a fazer essa relação conceitualmente, pela influência e pelo domínio da linguagem - o componente cultural mais importante. Logo, podemos visualizar de forma geral como ocorre o desenvolvimento da linguagem nos primeiros de vida, com as percepções visuais, auditivas, sensoriaise cognitivas dentro do esperado desenvolvimento normal, conforme afirma Tristão (2005) devemos “Estar atentos ao que eles nos indicam por meio de suas manifestações/reações e alfabetizar-se nas linguagens dos bebês, buscando melhor entendê-los e ouvi-los, são atitudes essenciais a quem realiza trabalhos com crianças ainda tão pequenas”, lembrando que as idades citadas são aproximadas ao que ocorre com a maioria das crianças e que o tempo de cada criança deve ser respeitado. Ao nascer, inicia-se o estágio pré-linguístico, quando acontecem as reações de reflexo instintivos da criança, Cairuga, Castro e Costa (2014) explicam este estágio do desenvolvimento em poucas palavras, sendo que “A comunicação inicial se dá pelo choro, sorriso, grito, bocejo, gemido, etc., basicamente relacionados a reações fisiológicas do bebê. ” O bebê já identifica a voz dos pais ou pessoas com quem teve maior contato durante a gestação, principalmente da mãe, o que pode proporcionar conforto à criança. Comunica-se através do choro e expressões emocionais, sinalizando conforto ou desconforto. A ausência da fala não impede as crianças de realizarem um sem-número de atividades, ações e interações que lhes possibilitam ir conhecendo a si mesmas e a outras com as quais estão interagindo. (...) desde que nasce, o bebê está imerso num mundo de sons, que lhe chegam pela audição em forma de vozes humanas, ruídos do ambiente onde vive (...) estimulando-o e organizando-o em relação a si mesmo e ao mundo com o qual está interagindo. Em muitas situações, o simples fato de ouvir a voz das pessoas com as quais convive, que se encontram fora do campo de visão da criança, faz com que ela se sinta segura e se tranquilize, ou seja, a voz está no lugar das pessoas e é o suficiente para apaziguá-la. (RAPOPORT, 2012, apud Pinto; 2012). Com um mês de vida, a criança já diferencia as falas de outros sons e utiliza- se de uma linguagem própria. Com três meses de vida a criança começa a balbuciar e percebe da onde vem os sons, procurando-os e respondendo através do olhar e do sorriso. 18 Com seis meses de vida, o bebê produz sons, ainda que sem sentido, “criando” palavras, como “mama”, “papa”, que é a chamada linguagem materna. Utiliza de diferentes entonações nas vocalizações. Andrea Rapoport (2012) explica que. Essas sequências ainda não têm um significado, não querem dizer coisa alguma. No entanto, à medida em que ocorre uma maior interação do adulto com as crianças pela fala, essas sequências passam a ser empregadas pelos bebês com um sentido definido. É dessa forma que o “papapa” se transforma em comida; “papa”, em papai; “mama”, em mamar; “mamama” em mamãe, não necessariamente nessa ordem e com essa correlação. Com dez meses de vida a criança apresenta a capacidade de imitação dos sons que ouve. Percebe as influências do ambiente e utiliza-se de palavras e gestos para conseguir o que deseja. Com um ano, se inicia o estágio linguístico, que é caracterizado pela maturação do aparelho fonador. Pode iniciar a pronúncia de palavras atribuindo sentindo às mesmas. A criança utiliza a chamada palavra-frase, ou seja, usa apenas uma palavra para comunicar o que deseja. O adulto é quem deve interpretar estas situações a partir do contexto, nomeando os objetos, narrando as situações, auxiliando a criança a se comunicar cada vez mais de forma a ser compreendida. Os gestos ainda fazem parte da comunicação e expressão. Por meio de conversa dos adultos que interagem com as crianças é que elas vão construindo o sentido, percebendo a necessidade da fala e produzindo o desejo de tornarem-se falantes, de expressarem-se pela linguagem. Até aprenderem a falar, suas necessidades e desejos são expressos, em grande parte, por meio de gestos, apontando objetos, coisas e lugares. A partir do momento que começam a organizar intencionalmente a fala, os gestos passam a funcionar com um acessório, não mais como linguagem principal pela qual se comunicam e aprendem sobre si e sobre o mundo. (RAPOPORT, 2012, apud Pinto; 2012). Com um ano e meio, espera-se que a criança apresente um vocabulário de aproximadamente 50 palavras, mesmo que não pronunciadas corretamente. Começa a utilizar duas ou três palavras para se expressar. “Pouco a pouco, as crianças vão ampliando o seu vocabulário e vão fazendo construções mais complexas, como “nenê”, “papá”, “dá colo”, “nenê qué”, etc.” (RAPOPORT, 2012). Aparece a repetição de palavras que lhe são familiares e a compreensão e realização de ordens simples, bem como, identifica e nomeia algumas partes do corpo. 19 Com dois anos, a criança entra na fase da fala linguística, ou seja, compreende a língua como forma de comunicação social. Espera-se nesta faixa etária um vocabulário de aproximadamente 100 palavras, mesmo que não pronunciadas corretamente. Compreende os primeiros fundamentos de sintaxe, preocupando-se com as regras gramaticais, porém, sem considerar as exceções, como por exemplo, o uso do plural. A criança pode utilizar o plural em todas as palavras, mesmo não sendo necessário. Características principais das crianças até dois anos: Revelam expansão do vocabulário; Utilizam-se de generalizações; combinam palavras; Têm preferência por substantivos e palavras de ação; Sua linguagem acompanha, representa e orienta a ação; Ocorrem os primórdios da narrativa; O motor do desenvolvimento é o afeto, a percepção e a ação. (CAIRUGA, CASTRO E COSTA, 2014). Com três anos a criança tem capacidade de falar, compreender e fazer sinais quase como os adultos. Inicia a fase dos “porquês”, perguntando e demonstrando curiosidade sobre tudo. A criança refere-se a si mesma na terceira pessoa, identifica e nomeia objetos de uso cotidiano, aponta e nomeia objetos e cenas em gravuras, interpreta histórias contadas por adultos. Propiciar o faz de conta, criatividade e imaginação são extremamente importantes e podem ser proporcionados através de cantinhos organizados na sala para a livre expressão das crianças, com brinquedos, diferentes tipos de objetos para serem explorados e manuseados, materiais artísticos, fantasias, etc., bem como, explorar diferentes espaços internos e externos para o deslocamento e desenvolvimento do movimento e do corpo, manter livros de pano e emborrachados ao alcance das crianças, reconhecendo a alimentação, higiene e cuidados pessoais como parte dos processos pedagógicos, considerando as necessidades físicas, fisiológicas, sociais e emocionais da criança e da sua família. No contexto da escola de Educação Infantil, destaca-se a importância das interações das crianças com outras crianças e com os adultos, as diferentes situações que proporcionam a expressão, interpretação e a intenção de comunicação. 20 Por meio das brincadeiras os professores podem observar e constituir uma visão dos processos de desenvolvimento das crianças em conjunto e de cada uma em particular, registrando suas capacidades de uso das linguagens, assim como de suas capacidades sociais e dos recursos afetivos e emocionais que dispõem. (RCNEI, 1998, apud Pinto; 2012). Os pequenos gestos, palavras, ambientes, objetos devem ser planejados e pensados para auxiliar a criança na progressão do seu desenvolvimento e algumas situações são essenciais, como o manuseio de diferentes objetos com cores, formas, tamanhos e sons diferenciados, a exploração de outros espaços fora da sala de aula e de ambientes que ofereçam segurança e conforto, mas também ludicidade e desafios, a conversa com a criança em todos os momentos, mesmo que a criança ainda não fale, nomeando objetos, pessoas, explicando o que está acontecendo ou antecipando algo que vai acontecer, etc. 4.3 Inteligência A inteligência surge com a linguagem. Jean Piaget descreve as diferentes fases da aquisição da inteligência. Ela inicia por uma sucessão de adaptaçõessensoriais e motoras elementares, constituídas por reflexos, atingindo os numerosos estágios de adaptação intencional, desde a assimilação reprodutora à invenção de novos meios, conseguida mediante recurso a combinações mentais. Segundo Piaget (1984), durante o estágio- motor o bebê responde ao mundo quase inteiramente através dos esquemas sensório e motor; responde aos estímulos presentes, não planeja nem intenciona e não tem nenhuma representação interna de objetos, imagens mentais, ou palavras que representem objetos e possam ser manipulados mentalmente. No estágio sensório- motor, o bebê apresenta comportamento inteligente, percebendo o ambiente e agindo sobre ele. Piaget subdivide esse estágio em uso de reflexos, reação circular primária, reação circular secundária, coordenação de esquemas secundários e reação circular terciária. Uso de reflexos: a criança exerce durante o primeiro mês de vida. Depois ela coordena reflexos e reações, surgindo além dos reflexos instintivos, como por exemplo, a sucção, as primeiras tendências imitativas. Esse período tem duração do zero aos dois meses. 21 Os reflexos motores e sensoriais inatos (Sucção, preensão, acompanhamento visual) são utilizados para interagir e se acomodar com o mundo exterior. Reação Circular Primária: a criança coordena as atividades do próprio corpo e dos cincos sentidos, como sugar o dedo, brincar com a língua. A realidade permanece subjetiva, não procura estímulos fora do ambiente; mostra curiosidade e imitação. Esse período inicia com poucas semanas de vida e vai até o quatro mês. Nessa etapa acontece a assimilação. O fato primitivo geralmente é admitido como o mais elementar da vida psíquica: a repetição. O bebê tende a repetir, quando algum comportamento tem resultado interessante. Inicia – se a organização da visualização, na qual a criança segue com os olhos os objetos que passam por ela. A fonação e a audição manifestam – se desde o nascimento. Os sons percebidos e produzidos apresentam uma organização interna. Tal como a boca, o olho e o ouvido, a mão é um dos instrumentos mais essenciais de que se vai servir a inteligência uma vez constituída. A conquista definitiva dos mecanismos de preensão marca o início das condutas complexas que caracterizam as formas de ação intencional. Reação circular secundária: o bebê procura por novos estímulos no ambiente, começa a prever as consequências do próprio comportamento, quanto a agir propositadamente, a fim de modificar o ambiente; início do comportamento intencional. Os movimentos centram-se num resultado produzido no meio exterior e a ação tem como objetivo manter esse resultado. A originalidade das reações circulares do presente estágio é que constituem as manifestações intelectuais mais avançadas de que a criança é capaz, depois passarão a ter uma posição cada vez mais derivada. A duração desse estágio é do quarto ao sexto mês. Coordenação de esquemas secundários: esse estágio tem duração do sétimo décimo segundo mês. A criança mostra os sinais preliminares da constância de objeto, possui uma vaga ideia de que os objetos têm uma existência independentemente dele próprio, imita comportamentos novos. Reação circular terciária: o bebê procura novas experiências e produz novos conhecimentos. A descoberta de novos meios por experimentação ativa é utilizada pela criança para a solução de novos problemas. 22 Ela começa a experimentar ao invés de repetir as experiências; diferencia o eu e o objeto, e esse de um ato ou ação. Há a formação de estruturas através de deslocamento de objetos, de posições e de relações causais ligadas à ação. 4.4 Estimulação essencial Para que o bebê tenha um bom desenvolvimento cognitivo e motor é necessário que ele seja estimulado. As interações pais-bebê como o desenvolvimento social e afetivo da criança pequena têm sido objeto de numerosos estudos nas últimas três décadas. Grande parte destes estudos teve impulso a partir do reconhecimento do potencial social do bebê e de seu papel ativo já nas suas primeiras interações com os pais (Brazelton, 1982). A partir de então, multiplicaram – se os estudos sobre o desenvolvimento psicológico da criança no início do ciclo vital e suas interações com o mundo adulto. Estes estudos adotaram inicialmente uma perspectiva diádica (em particular a díade mãe-bebê) e mais recentemente, passaram a considerar a tríade mãe- pai – bebê ou o grupo familiar como um todo (Fivaz-Depeursinge, 1988). Nesse sentindo, os pais, desde os primeiros meses de vida do seu filho, devem provocar o bebê para que ele aprenda. Estudos comprovam que crianças que não são estimuladas, principalmente, no primeiro ano de vida, têm o seu desenvolvimento prejudicado. Em um estudo realizado por Ribas e Moura (1999) em ambiente natural, da observação de uma díade mãe- bebê em quatro momentos de desenvolvimento do bebê: 2, 10, 15 e 21 semanas. Foram identificadas, desde fases iniciais, interações como processos recíprocos de engajamento que se tornaram mais frequentes e complexos. Dessa maneira, resultados obtidos mostraram – se convergentes com achados de pesquisas na área, ampliando – os. Foram identificadas, desde fases iniciais, interações como processos recíprocos de engajamento que se tornaram mais frequentes e complexos. Foi possível identificar interações mãe-bebê, caracteriza – lá e ilustrar a natureza diferenciada das atividades e interações dos parceiros em momentos distintos do desenvolvimento do bebê. 23 4.5 Crianças de três a seis meses Para estimular o desenvolvimento da criança é aconselhável aos pais cuidadores, auxiliarem essa etapa do bebê com alguns comportamentos específicos. Para desenvolver as capacidades sensoriais iniciais, pode – se emitir sons (simples e suaves) para que o bebê possa imitá-los oferecer brinquedos e objetos que produzem som; conversar com o bebê em todos os momentos em que estiver em contato com ele; repetir os sons que o bebê emitir, introduzir pequenas palavras (oi, tchau,...), repetindo em tom jocoso várias vezes para a criança; emitir ruídos diversos (chocalhos, palmas, estalos), para que o bebê vire a cabeça buscando o som; dar papéis amassados, de diferentes texturas ( celofane, por exemplo), para que o bebê possa amarrota – lós ainda mais, observando o som produzido. Para desenvolver o tato e a percepção, é importante oferecer pequenos objetos (macios, delicados) de maneira que o bebê possa segurá-los na palma de sua mão; oferecer ao bebê objetos que ele possa levar à boca; puxar os objetos devagarzinho, tentando retira – lós do bebê. Outra atividade seria oferecer o dedo para que o bebê faça o mesmo que com o objeto, dessa vez sentindo a textura da pele; tocar a pele da criança de modo suave e carinhoso. Para estimular o reconhecimento do bebê como ser único, é necessário chama – ló pelo seu nome. É importante ajudar o bebê na coordenação motora, desenvolvendo a postura. Com ele deitado, pode-se oferecer os dedos polegares de maneira que as mãos segurem firmemente as do bebê (embora delicadamente), para então tentar erguê-lo como se fosse coloca – ló de pé (levanta –ló); apoiando bem o bebê, colocá-lo sentado (após cinco meses). Para auxiliar no desenvolvimento da percepção do bebê deve-se colocá-lo em frente ao espelho e deixar que ele se veja; fazer movimentos com seus braços e pernas de modo que ele veja sua imagem refletida no espelho; fazer contrações faciais, sorrir, falar, brincar, na presença do bebê; observar se o bebê busca recuperar o objeto perdido, caso não o faça, incentivá – lo a fazer isso; colocar uma fralda sobre o rosto da criança para que ela tente retirá – la, brincando de “ esconde-esconde”; sorrir para o bebê, estimulando sorrisos também; levar o bebê a passear em diferentes ambientais, mostrando- lhe o que o cerca; jogar bola pequena parao que a criança observe seus movimentos; estimular a criança a pegar a bola e jogá-la de volta para 24 você; brincar, juntamente com o bebê, com o móbile do seu berço ou barra, chamando-lhe a atenção. 4.6 Crianças de seis aos 12 meses Dos seis aos 12 meses continuar com todos os procedimentos iniciais, porém com certo cognitivo já pré-estabelecido, incentivar comportamentos com maior nível de exigência do bebê. Como dizer o nome das partes do corpo mostradas no espelho à criança, fazendo movimentos, e também repetir o mesmo em todas as situações oportunas (banho, higiene); cantar, bater palmas e dançar para a criança tente segurar os objetos; procurar estabelecer uma conversação com a criança, a partir do seu balbucio; procurar introduzir um número de palavras maior (tia, oi, tchau, sim, não, etc.) em tom jocoso, repetindo várias vezes para a criança. Para aprimorar os movimentos, ensinar gestos significativos, tais como: mandar beijinhos, dar adeus, sim e não com a cabeça, etc.; engatinhar ao lado da criança para que ela faça o mesmo; segurar a apoia – la para andar (desde que, por si própria, consiga levantar – se); incentivar a criança a buscar o objeto de seu interesse, esticando os braços, engatinhando ou de outra forma qualquer própria da criança; coloca-la para sentar com apoio; oferecer brinquedos ou objetos que possam ser empurrados pela criança; procurar retirar delicadamente um brinquedo de posse da criança para que ela ofereça resistência. E para ajudar no desenvolvimento da percepção do bebê, deixa –lo explorar livremente o ambiente; passear com a criança em diferentes ambientais, conversando com ela. 4.7 Crianças de 12 aos 15 meses Para melhor desenvolvimento do bebê a ajuda dos pais é fundamental. Para o aprimoramento do desenvolvimento cognitivo e motor, os responsáveis devem estimular a criança de muitas formas. Como segurar a criança de modo firme, em pé, de maneira que ela possa andar (desde que por si própria consiga levantar – se); fazer com que a criança busque andando o objeto de seu interesse; jogar bola com a criança; oferecer um objeto a criança e depois outro, para que ela segure os dois, um 25 em cada mão. É necessário tocar a pele da criança demonstrando carinho e estimulando – a fazer o mesmo. Para a percepção bater um objeto contra outro de modo a levar a criança a repetir tal movimento e observar o som; mostrar gravuras diversas e simples (de preferência de uma figura só: avião, trem, fruta), fazendo, se for o caso, o ruído correspondente e estimulando a criança a fazer o mesmo. E por fim, é importante chamar sempre o nome da criança, buscando sua atenção. As crianças têm um desenvolvimento muito rápido durante os primeiros quinze meses de vida. Quando ela nasce, é praticamente só reflexo e, poucos meses depois, já tem reações pensadas e, muitas vezes, complexas. É importante dividir o desenvolvimento cognitivo e motor da criança em estágios, mas essa divisão é muito relativa. Crianças, do local onde vivem da cultura onde estão inseridas terão um desenvolvimento diferente. É claro, que o desenvolvimento básico como engatinhar, falar, caminhar, em qualquer cultura vai ocorrer da mesma forma, mas de repente não se dê na mesma faixa etária. É precipitado dividir os estágios em faixas etárias, pois cada criança vai se desenvolver de acordo com a estimulação que receber. A estimulação é fundamental no desenvolvimento de um bebê. Ele nasce com muitas habilidades inatas, mas para que essas se aprimorem, se desenvolvam é preciso que ele vivencie coisas novas, que ele seja estimulado a conhecer o mundo novo. Uma criança vai se desenvolver muito mais rápido e eficazmente se estimulada desde cedo. 5 Contextualizando o desenvolvimento infantil O desenvolvimento infantil é um processo que vai desde a concepção, envolvendo vários aspectos, indo desde o crescimento físico, passando pela maturação neurológica, comportamental, cognitiva, social e afetiva da criança. Tem como produto tornar a criança competente para responder as suas necessidades e às do seu meio, considerando seu contexto de vida (FIGUEIRAS et al, 2005). 26 Este processo é complexo, resultado da interação do corpo geneticamente programado com o ambiente social e cultural no qual a criança está inserida. Na perspectiva de Piaget (1973) significa dizer que o processo de desenvolvimento individual tem uma origem biológica que, para alcançar todo seu potencial genético, necessita da experiência ou da ação sobre o meio, e do contato social. Para Gesell (1996), o desenvolvimento infantil é um conceito unificador da hereditariedade e do ambiente. Em outras palavras, as potencialidades básicas são determinadas geneticamente, mas a maneira como a criança utiliza esse potencial, o que ela acaba finalmente por ser é sempre influenciado por aquilo que o ambiente lhe oferece. O desenvolvimento da criança é expresso por meio do progresso contínuo e integrado das funções do sistema nervoso, como a afetividade, a sensibilidade, a inteligência, a linguagem e a motricidade (BRANDÃO, 1984). A influência da maturação neurológica sobre a aquisição das habilidades conduz ao uso do termo desenvolvimento neuropsicomotor. O desenvolvimento leva tempo e avança em fases, numa sequência biológica ordenada. O ciclo de desenvolvimento da criança é observado através do desfile de comportamentos próprios de cada fase e idade. A organização destes comportamentos orienta-se em geral, da cabeça para os pés e dos segmentos proximais para os distais. A criança progride das reações mais simples e imaturas para as mais complexas (GESELL, 1996). Gesell distingue os comportamentos em 4 áreas: Comportamento motor (postura, locomoção, preensão e conjuntos posturais); comportamento adaptador (capacidade de apreender elementos significativos de uma situação e de utilizar a experiência presente e passada na adaptação a novas situações); Comportamentos da linguagem (todas as formas de comunicação e compreensão por gestos, sons e palavras); Comportamento sociopessoal (reações individuais as outras pessoas e à cultura social). Estas áreas, embora interligadas, podem ser influenciadas de modo diferente por fatores diversos. Tais fatores podem alterar o ritmo normal do desenvolvimento, e geralmente são classificados em fatores de risco biológicos ou ambientais para o desenvolvimento infantil. 27 Os fatores de risco biológicos são eventos pré, peri e pós-natais que resultam em danos biológicos e que podem aumentar a probabilidade de prejuízo no desenvolvimento como a prematuridade, a hipóxia cerebral grave, o kernicterus, as meningites e encefalites, uso de álcool ou drogas durante a gestação, dentre outros (MIRANDA et al, 2003). Alguns autores separam dos fatores de risco biológicos os riscos ditos estabelecidos, referindo-se a desordens médicas definidas, como os erros inatos do metabolismo, as malformações congênitas, a síndrome de Down e outras síndromes genéticas‖ (FIGUEIRAS et al, 2005). As experiências adversas de vida ligadas à família, ao meio ambiente e à sociedade são consideradas como fatores de risco ambientais, tais como: condições precárias de saúde, a falta de recursos sociais e educacionais, a educação materna, os estresses intrafamiliares, como violência, abuso, maus-tratos e problemas de saúde mental da mãe ou de quem cuida, e as práticas inadequadas de cuidado e educação, dentre outros (FIGUEIRAS et al, 2005). Embora existam classificações de fatores de risco, os problemas no desenvolvimento infantil ocorrem geralmente pela interação de várias condições. O modelo teórico de determinação de suspeita de atraso no desenvolvimento neuropsicomotor em crianças de 0 a 6 anos de idade, descrito por Frankenburg et al (1992) considera os fatores socioeconômicos, os fatores reprodutivos,as condições da criança ao nascer, morbidade na infância, estrutura familiar, atenção à criança e os componentes maternos, como fatores associados ao desenvolvimento infantil. Bowlby (1961), em estudo solicitado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) intitulado Cuidados Maternos e Saúde Mental, descreve a influência negativa do cuidado materno inadequado na primeira infância e do efeito de separações entre mãe e filho neste período para o desenvolvimento da personalidade. Enfatiza que seria essencial para a saúde mental que o bebê e a criança pequena tivessem uma relação calorosa, íntima e contínua com a mãe (ou mãe substituta) e que fosse prazerosa e satisfatória para ambos. Para o autor, uma personalidade estável e autoconfiante se construiria a partir da certeza de contar com o apoio e a presença das figuras de apego e muitas patologias poderiam ser atribuídas à privação do cuidado materno ou descontinuidade na relação da criança com a figura materna durante os primeiros anos de vida. 28 Esta relação com a mãe seria fundamental nos três primeiros anos de vida da criança, mas não devia ser exclusiva, sendo complementada pelos cuidados de outras figuras como pai, irmãos, parentes e outros. Sobre o desenvolvimento da cognição e da linguagem, Vygotsky (1987) defende que todas as atividades cognitivas básicas do indivíduo ocorrem de acordo com sua história e acabam se constituindo no produto do desenvolvimento histórico- social de sua comunidade. Ressalta ainda que a linguagem se inter-relaciona com a cognição e um proporciona recursos ao outro. Papalia et al (2009) destaca que uma interação estimulante com adultos responsivos é fator crucial para o desenvolvimento cognitivo, linguístico e psicossocial das crianças. Entretanto, outros aspectos pessoais, familiares e sociais estão envolvidos no processo de desenvolvimento infantil. Sapienza e Pedromônico (2005) ressaltam que a presença dos fatores de risco biológicos e sociais, anteriormente descritos, são fatores que potencialmente tornam as crianças vulneráveis aos eventos estressores e por isso estas passam a ser consideradas crianças em risco para problemas de desenvolvimento. De acordo com Garcia a vulnerabilidade se define como, as suscetibilidades físicas e/ ou psicológicas que podem potencializar os efeitos dos eventos estressores, predispor ao desenvolvimento de várias formas de psicopatologias e provocar alterações no desenvolvimento de uma pessoa submetida a situações ou fatores de risco” (GARCIA, 2008). Para Yunes (2001) citada por Janczura (2012,) a vulnerabilidade opera apenas quando o risco está presente: sem risco, vulnerabilidade não tem efeito, neste sentido pode haver mais vulnerabilidade quando ocorre a presença concomitante de diversas condições de risco em um mesmo contexto como é o caso de crianças em situação da pobreza (GARCIA, 2008). Por outro lado, a resiliência definida por Grotberg (1995) como a capacidade humana para enfrentar, recuperar-se e sair fortalecido ou transformado pelas experiências de adversidade, pode operar fazendo com que crianças em situação de vulnerabilidade tenham sucesso no desenvolvimento neuropsicomotor. Considerando que a resiliência é uma construção e que as crianças pequenas estão no início deste processo, a resiliência familiar tem papel preponderante na superação dos eventos adversos vivenciados pelas crianças. 29 De acordo com Silva, família resiliente é considerada um processo desenvolvimental único que envolve uma forma particular de organização, de comunicação, de recursos pessoais e comunitários para a solução de problemas, os quais podem ser considerados, também, como a expressão de forças da família que operam em determinadas circunstâncias e possibilitam que seus membros sejam capazes de responder de uma forma positiva às demandas da vida quotidiana, mesmo vivendo em ambientes potencialmente de risco” (SILVA et al, 2009). Nestas perspectivas, compreende-se que o desenvolvimento infantil, especialmente seu componente neurológico, é influenciado por condições biológicas, mas sua determinação se dá a partir de múltiplos fatores que compõem o contexto ambiental, social e emocional no qual a criança e sua família se inserem. O verdadeiro desenvolvimento advém de atividades espontâneas, daí a necessidade de inserir os jogos e brincadeiras no âmbito escolar. Brincando, a criança pode vivenciar uma mesma situação diversas vezes. Isso, além de permitir que ela repita brincadeiras que lhe dão prazer, possibilita que ela solucione problemas e aprenda processos e comportamentos adequados, (PIAGET, 1999 apud 2016). 6 DESENVOLVIMENTO MOTOR Fonte: istockphoto.com Á medida que a criança se locomove, aumenta o seu campo e ação, e através das percepções visuais e táteis ela vai conhecer os objetos. Na preensão, a maturidade ocorre devido ao desenvolvimento dos músculos do ombro, braço, pulso, mão dedos. Além desse desenvolvimento, é preciso que haja também o amadurecimento das áreas corticais, responsáveis pela integração das sensações e pela coordenação das atividades motoras. 30 Assim, o bebê desenvolve a percepção visual, conseguindo alcançar com maior facilidade os objetos. Quando ele conjuga o trabalho das mãos, já pode erguer-se ficar de pé apoiado em alguma coisa (por volta dos dez meses). E o contato com os objetos e o seu condicionamento lhe permitirá o movimento de pinça. Em um estudo realizado por Mancini et al (2002) sobre o desenvolvimento da função motora de 8 e 12 meses de idade em crianças pré-termo, com trinta e duas crianças em que 16 nascidas pré-termo representavam (grupo de risco) e 16 nascidas a termo o (grupo controle). A movimentação espontânea das crianças foi avaliada aos 8 meses e as habilidades e independência em mobilidade foram avaliadas aos 12 meses de idade. Os dados foram analisados através dos testes t de student para grupos independentes (comparação entre grupos) e de correlação de Pearson (comparação intra grupo). Não foi evidenciada diferença significativa na comparação de crianças nascidas a termo com as pré-termo nem aos 8 nem aos 12 de idade. No grupo controle, foi observada relação significativa entre motivação aos 8 meses e habilidades de mobilidade aos 12 meses. No grupo de risco, houve relação significativa entre habilidade e independência em mobilidade aos 12 meses de idade corrigida. Na ausência de outros distúrbios e com correção da idade em pré-termos, o desenvolvimento motor pode ser semelhante ao de crianças nascidas a termo. A forma pela qual as crianças pré-termo adquirem suas habilidades funcionais parece ocorrer de modo diferente da observada em crianças a termo. O desenvolvimento motor das crianças é gradativo. Em pouco tempo, elas passam do engatinhar para o caminhar. Há uma maturação de todo o corpo do bebê nos primeiros quinze meses de vida. “O desenvolvimento motor é um processo contínuo que se inicia desde a concepção até a morte. ” (GALLAHUE; OZMUN, 2003). O desenvolvimento motor é caracterizado por diferentes mudanças de movimentos ao longo da vida, essas mudanças ocorrem gradualmente e de maneira contínua conforme a faixa etária. O desenvolvimento inclui todos os aspectos do comportamento humano e, como resultado, somente artificialmente pode ser separado em “áreas”, “fases” ou “ faixas etárias”. [..] muito pode ser ganho com o aprendizado do desenvolvimento motor em todas as idades e com a análise desse desenvolvimento como um processo que dura toda a vida. (GALLAHUE; OZMUN, 2003, apud Gomes et al., Magalhães e Maia; 2015). 31 Segundo Rocha, Marciano e Pilé (2014), o indivíduo adquire habilidades através do seu meio evolutivo e adapta-se a elas. Cada indivíduo possui uma idade cronológica para desenvolver essas habilidades. “Desenvolvimento motor é o estudo das mudanças que ocorrem nocomportamento motor humano durante as várias fases da vida, os processos que servem de base para essas mudanças e os fatores que os afetam. ” (PAYNE; ISAACS, 2007). 6.1 Conceito e característica do desenvolvimento motor “O desenvolvimento motor é uma alteração contínua no comportamento motor ao longo do ciclo da vida. ” (GALLAHUE; OZMUN, 2003). Ao longo da vida o ser humano vai adquirindo habilidades motoras, que vão desde simples e desorganizados movimentos até movimentos mais uniformes e complexos. Como um processo, o desenvolvimento motor envolve as necessidades biológicas subjacentes, ambientais e ocupacionais, que influenciam o desempenho motor e as habilidades motoras dos indivíduos desde o período neonatal até a velhice. (GALLAHUE; OZMUN, 2003). O termo motor quando citado sozinho, está se referindo a fatores biológicos e mecânicos, que são fatores que influenciam o movimento. (GALLAHUE; OZMUN, 2003). “O termo desenvolvimento, no que se aplica aos seres humanos, em geral é considerado à medida que passamos pela vida. ” (PAYNE; ISAACS, 2007). Portanto, caracteriza-se por desenvolvimento motor as habilidades motoras que o ser humano vai adquirindo ao longo da vida. 6.2 Etapas do desenvolvimento motor Desde o nascimento, os seres humanos passam por várias etapas de desenvolvimento motor, desde os simples movimentos reflexos, até os movimentos mais maduros. Os primeiros movimentos chamados de movimentos reflexos são movimentos primitivos que desaparecerão e darão origem aos movimentos especializados. 32 O processo de desenvolvimento motor revela-se basicamente por alterações no comportamento motor. Todos nós – bebês, crianças, adolescentes e adultos – estamos envolvidos no processo permanente de aprender e mover-se com o controle e competência, em relação aos desafios que enfrentamos diariamente em um mundo em constate mutação. (GALLAHUE; OZMUN, 2003). O desenvolvimento motor humano é compreendido em quatro fases: fase motora reflexiva, fase motora rudimentar, fase motora fundamental e fase motora especializada. A figura abaixo representa as etapas do desenvolvimento motor citadas por Gallahue e Ozmun (2003): Fonte: efdeportes.com 6.3 Fase motora reflexiva “Os reflexos são movimentos involuntários, controlados subcorticalmente, que formam a base para as fases do desenvolvimento motor. ” (GALLAHUE; OZMUN, 2003). Todas as reações que o bebê possui, ao toque, a luz, a sons, provocam atividades motoras involuntárias. Esses movimentos involuntários e grande atividade cortical nos primeiros meses de vida auxiliam o bebê no conhecimento do seu corpo e meio externo. (GALLAHUE; OZMUN, 2003). 33 Os reflexos primitivos são classificados como “agrupadores de informações, caçadores de alimentação e de reações protetoras”. São agrupadores de informações pois auxiliam e estimulam o desenvolvimento. Os reflexos primitivos de sugar, buscar através do olfato, são mecanismos de sobrevivência, pois através deles que o recém- nascido busca seu alimento. (GALLAHUE; OZMUN, 2003). Segundo Gallahue e Ozmun (2003), os reflexos posturais são a segunda forma de movimentos involuntários e esses movimentos são similares a comportamentos voluntários. Esses reflexos servem de testes neuropsicomotor que mais tarde serão usados com controle consciente. Os movimentos involuntários presentes nos bebês servem como base para movimentos voluntários futuros. “O reflexo primário de pisar e o reflexo de arrastar-se, por exemplo, relembram intimamente os comportamentos de caminhar voluntário posterior e de engatinhar. ” (GALLAHUE; OZMUN, 2003). 6.4 Fase de movimentos rudimentares Os primeiros movimentos voluntários são os movimentos rudimentares. Esses movimentos são encontrados no bebê desde o nascimento e se estendem até aproximadamente os 2 anos de idade. Esses movimentos acontecem de maneira previsível, porem o nível com que essas habilidades aparecem variam de criança para criança. (GALLAHUE; OZMUN, 2003). As habilidades motoras rudimentares do bebê representam as formas básicas de movimento voluntário que são necessárias para a sobrevivência. Elas envolvem movimentos estabilizadores, como obter controle da cabeça, pescoço e músculos do tronco; as tarefas manipulativas de alcançar, agarrar e soltar; e os movimentos locomotores de arrastar-se, engatinhar e caminhar. (GALLAHUE; OZMUN, 2003). 6.5 Fase de movimentos fundamentais “As crianças que estão desenvolvendo padrões fundamentais de movimento estão aprendendo a reagir com controle motor e competência motora a vários estímulos. ” (GALLAHUE; OZMUN, 2003). 34 A fase de movimentos fundamentais é a fase onde a criança apresenta movimentos voluntários mais específicos, estão em constante exploração e experimentação da sua capacidade motora. É o período em que a criança está descobrindo como desempenhar uma variedade de movimentos estabilizadores, locomotores e manipulativos, primeiro de forma isolada e mais tarde executando movimentos combinados. (GALLAHUE; OZMUN, 2003). Os padrões de movimento fundamentais são padrões observáveis básicos de comportamento. Atividades locomotoras (correr e pular), manipulativas (arremessar, apanhar) e estabilizadoras (andar com firmeza e equilíbrio em um pé só) são exemplos de movimentos fundamentais que devem ser desenvolvidos nos primeiros anos da infância. (GALLAHUE; OZMUN, 2003). 6.6 Fase de movimentos especializados A fase de movimentos especializados é resultado da fase de movimentos fundamentais. A Criança agora realiza “atividades motoras complexas” do dia a dia. Os movimentos fundamentais que eram simples antes, como saltar e pular em um pé só agora podem ser associados com atividades mais complexas como pular corda e práticas esportivas como salto triplo. (GALLAHUE; OZMUN, 2003). “Esse é o período em que as habilidades estabilizadoras, locomotoras e manipulativas fundamentais são progressivamente refinadas, combinadas e elaboradas para uso em situações crescentemente exigentes. ” (GALAHUE; OZMUN, 2003). 6.7 Reflexos primitivos Os reflexos primitivos são reações involuntárias em resposta a um estímulo externo e são as primeiras formas de movimento humano. Eles aparecem antes do nascimento e vão desaparecendo conforme as atividades motoras voluntárias vão surgindo. Os bebês apresentam dois tipos de reflexos: os reflexos primitivos de sobrevivência, como por exemplo o de sucção e os reflexos primitivos posturais, que darão origem aos movimentos voluntários. 35 Durante os últimos 4 meses de vida pré-natal e os primeiros 4 meses após o nascimento, o repertório da motricidade do ser humano inclui os movimentos que são da natureza reflexa; isto é, cada movimento é uma resposta estereotipada involuntária a um determinado estímulo. Como por exemplo, quando é tocado a mão do bebê, a mão estimulada se fecha em uma resposta habitual ou estereotipada [...] (PAYNE; ISAACS, 2007). 6.8 Reflexo de moro Segundo Gallahue e Ozmun (2001) o reflexo de moro existe desde o nascimento e segue até os seis meses de idade do bebe. Este reflexo tem sido um dos instrumentos mais utilizados para diagnosticar alguma alteração neurológica no bebe pequeno. Esse reflexo pode ser notado toda vez que a criança se sentir insegura, ele pode ser notado a um ruído alto ou o seu próprio espirro. Esse movimento ocasiona a extensão dos braços, dedos e pernas. Os membros então retornam à posição de flexão normal contra o corpo. A prolongação desse reflexo além do sexto mês pode indicar algum problema neurológico. Conforme descrito por Payne e Isaacs (2007) a permanência do reflexo após o período esperado, atrasara a capacidade do bebe em tomar uma posição sentada, o domínio da cabeça e diversas propriedades motoras. 6.9 Reflexos de busca e sucção Os dois reflexos estão relacionados com um mesmo objetivo conseguiro alimento. O reflexo de busca auxilia o bebê encontrar a fonte de sustento, e o reflexo de sucção por sua vez, faz com que o bebe possa ingeri-lo. (PAYNE e ISAACS, 2007). Segundo Gallahue e Ozmun (2001) ambos os reflexos estão existentes em todos os neonatos considerados normais. O reflexo de busca pode permanecer até o fim do primeiro ano de vida, já o reflexo de sucção desaparece ao termino do terceiro mês, mas segue como uma reação voluntária. 36 6.10 Reflexo buco-manuais De acordo com Gallahue e Ozmun (2001) existem dois tipos de reflexo buco- manuais no neonato, que podem ser observados do primeiro mês de vida até o terceiro mês. O reflexo plantar-mental, é caracterizado pela estimulação de uma coceira na palma da mão, ocasionando uma contração dos músculos do queixo levantando-o para cima. Já o reflexo palmar-mandibular consiste na realização de uma pressão na palma das mãos. O bebê vai gerar respostas como abrir a boca, fechar os olhos e gerar uma flexão da cabeça para a frente. 6.11 Reflexo palmar de preensão Este reflexo é evidenciado desde o nascimento até os quatro meses e consiste em estimular a palma da mão do bebê com um objeto, e em resposta desse estimulo, ele fechará a mão envolvendo-o sem o uso do polegar. Caso o aperto seja avaliado como fraco ou continue após o primeiro ano de vida pode ser um sintoma de atraso no desenvolvimento motor ou hemiplegia. (GALLAHUE e OZMUN, 2001). 6.12 Reflexo de preensão plantar e de babinski O reflexo de babinski está presente desde o nascimento. Incide em realizar um choque na sola do pé do bebê, provocando um estiramento dos dedos. Conforme o sistema neuromuscular amadurece, após quatro meses até um ano de vida, esse reflexo é trocado pelo reflexo de preensão plantar. (GALLAHUE e OZMUN, 2001). Segundo Payne e Isaacs (2007) O reflexo de preensão plantar consiste em aplicar uma rápida pressão na sola do pé, com isso promove a flexão de todos os dedos do pé. 6.13 Reflexos corretivos labirínticos e visuais Ambos os reflexos podem ser estimulados quando se inclina o corpo do bebê para frente, para trás ou para o lado. A criança reage mantendo a cabeça ereta no sentido oposto do deslocamento. A única diferença do reflexo visual é o fato de que os olhos do bebê seguem a direção acima da cabeça. (GALLAHUE e OZMUN, 2001). 37 6.14 Reflexo de levantamento Conforme descrito por Payne e Isaacs (2007) esse tipo de reflexo pode ser observado a partir do terceiro mês e se prolonga até o primeiro ano de vida. Consiste em inclinar o bebê a qualquer direção, este estímulo faz com que a criança estenda ou flexione os braços para alcançar a posição ereta. 6.15 Reflexo de amortecimento e apoio Segundo Gallahue e Ozmun (2001) o reflexo de amortecimento é evidenciado quando a criança está em posição ereta e é inclinada em direção ao solo. Este estímulo faz com que a ela, na tentativa de amortecer a queda, estenda os braços para baixo. O reflexo de apoio pode ser observado quando é causado um desequilíbrio na criança na posição sentada. Todas as reações do bebê permanecem além do primeiro ano de vida, e são de grande importância para que a criança possa desenvolver a marcha. 6.16 Reflexo de endireitamento (corretivo) de cabeça e do corpo De acordo com Payne e Isaacs (2007), esses dois reflexos estão relacionados com os movimentos de rolamento. O reflexo de endireitamento corretivo da cabeça ocorre logo no primeiro mês de vida, esse reflexo pode ser descrito como o acompanhamento da cabeça do bebê com o movimento do corpo, ou seja, quando o bebê se encontra na posição supina e seu corpo é virado para o lado a cabeça acompanha esse movimento virando para o mesmo lado do corpo. Já o reflexo de endireitamento (corretivo) do corpo é o contrário do endireitamento da cabeça, nele ao se virar a cabeça do bebê ele tende a virar o corpo para o mesmo lado da cabeça “endireitando” o corpo, para assim recuperar a relação com fronte para frente entre a cabeça e os ombros. Esse reflexo pode não ser identificado até o quinto mês da primeira infância. 38 6.17 Reflexo primário de caminhar Segundo Payne e Issacs (2007), o reflexo de caminhar será o sinal inicial para o importante movimento que é o caminhar. Este reflexo será induzido quando se segurar o bebê na posição vertical com os pés apoiados a uma superfície de apoio, por haver uma pressão sobre a sola dos pés do bebê isso permitirá que suas pernas sejam levantadas e, a seguir, abaixadas de forma alternada, parecendo-se muito com uma forma imatura de caminhar. 6.18 Habilidades fundamentais do desenvolvimento motor É por volta dos dois anos de idade que a criança dá um enorme salto no que diz respeito ao desenvolvimento motor. “Essas habilidades motoras formam a base sobre a qual cada criança desenvolve ou refina os padrões motores fundamentais do início da infância e as habilidades motoras especializadas da infância posterior e da adolescência. ” (GALLAHUE; OZMUN, 2001). De acordo com Payne e Isaacs (2007) é nessa fase que a criança começa a desenvolver habilidades motoras fundamentais como caminhar, correr, saltar, pular, além disso, ela ainda possui a capacidade de combinar essas habilidades, como por exemplo, combinando o correr com o pular surge o galope. Nessa fase a criança não está mais restrita a movimentos simples ela já possui a capacidade de fazer movimentos com maior dificuldade. É através das experiências vividas no cotidiano da criança que ela terá condições de desenvolver suas habilidades e ter controle sobre elas. Quando a criança começa a desenvolver essas habilidades elas são grosseiras, pois a criança ainda não tem total controle de seus movimentos, mas com as situações do dia a dia ela aprende a “lapidar” esses movimentos podendo assim desempenha-los com maior precisão. O domínio das habilidades motoras fundamentais é básico para o desenvolvimento motor de crianças. As experiências motoras, em geral, fornecem múltiplas informações sobre a percepção que as crianças têm de si mesmas e do mundo que as cerca. (GALLAHUE; OZMUN, 2001). 39 Segundo Papalia e Olds (apud CASTRO, 2008) esse período de desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais é um período rico de experiências e vivencias devido as descobertas no ambiente vivido pela criança. Nessa fase a criança já possui uma melhor aptidão física, ela é mais forte, mais ágil e mais veloz e essas aptidões só tendem a se desenvolver ainda mais, pois o aprendizado da criança apresenta modificações diárias e sequenciais. É uma fase de intensa movimentação, intensa atividade e intensa progressão motora. Quando se fala em habilidades motoras fundamentais é necessário saber que existem vários estágios de desenvolvimento para cada padrão de movimento e que também existem diferenças entre as crianças, pois o desenvolvimento de uma criança nunca será igual ao da outra. (GALLAHUE; OZMUN, 2001). A sequência de progressão ao longo dos estágios iniciais, elementar e amadurecido é a mesma para a maioria das crianças. O ritmo, entretanto, variará, dependendo tanto dos fatores ambientais quanto dos fatores hereditários. (GALLAHUE; OZMUN, 2001). Gallahue e Ozmun (apud CASTRO, 2008) dividem os movimentos fundamentais em três estágios, sendo estes: estágio inicial que ocorre entre os 2 a 3 anos e representa as primeiras tentativas da criança, onde os movimentos ainda são bem rudimentares e imprecisos; estágio elementar que ocorre entre os 4 a 5 anos e é quando a criança já apresenta melhor controle e precisão de seus movimentos fundamentais, em geral quando oportunidades são adequadas; e por fim o estágio maduro que se dá entre os 6 a 7 anos se as condições ambientais e de maturação forem propícias, é caracterizado por movimentos precisos e eficientes, coordenados e controlados. É importante ressaltar que haverá variações
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