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Anatomia interna Preparo químico mecânico Objetiva a completa remoção do tecido pulpar, dos microrganismos e da dentina infectada e uma adequada modelagem, propiciando condições ideais para o selamento da cavidade pulpar e reparos dos tecidos perirradiculares. OBS: Fator limitante do preparo químico-mecânico = complexidade anatômica do SCR (sistema de canais radiculares). Que favorece a permanência de remanescentes teciduais e bacterianos em istmos reentrâncias e ramificações, principalmente em canais ovais, achatados ou curvos. O resultado do preparo químico-mecânico depende mais da anatomia do canal radicular do que do instrumento ou da técnica utilizados. dos canais radiculares Métodos convencionais: Métodos de estudo da anatomia do SCR - Confecção de modelos em cera; - Radiografia convencional e radiografia digital - Injeção de resina - Avaliação macroscópica - Técnicas de diafanização (processo para tornar órgãos humanos translúcidos, no dente essa técnica era obtida através da injeção de materiais fluídos, como a liga fundida de Wood, corantes ou gelatina associada a um corante) - Métodos radiográficos usando substâncias de contraste - Microscopia eletrônica de varredura; Os estudos que utilizaram métodos convencionais que merecem destaque são de: Pucci e Reig; Green; Piñeda e Kuttler; Vertucci; De Deus; e Pécora. O conjunto desses trabalhos estabeleceu pressupostos para o entendimento e discussão dos principais aspectos relacionados a anatomia interna dos dentes e sua inter-relação com o tratamento endodôntico. No entanto algumas limitações, nesses estudos, devem ser consideradas, como o fato dos métodos radiográficos e de secção dos dentes so fornecerem uma imagem bidimensional de uma estrutura tridimensional. As técnicas de modelagem por meio de injeção de diferentes materiais, com posterior remoção dos tecidos circundantes por desmineralização produzem mudanças irreversíveis nas amostras, não refletindo com precisão a morfologia do canal, além de não permitir a análise tridimensional da anatomia interna e externa simultaneamente. A injeção de metal fundido sob pressão pode ocasionar microfraturas que podem ser confundidas com ramificações naturais do canal. OBS: Os métodos convencionais não possuem acuidade e definição suficiente para mostrar detalhes da complexa estrutura tridimensional dos dentes Métodos computacionais: Microtomografia computadorizada: - Possibilitou o cálculo do volume e diâmetro do SCR; Mayo et al, 1986: injetou solução de contraste no canal radicular de pré molares, depois realizou seis radiografias de cada espécime em diferentes ângulos. Combinando estas imagens, usando recursos computacionais, obteve resultados promissores, aperfeiçoado posteriormente por outros autores. - Tomografia computadorizada: trouxe um avanço na medicina diagnóstica, porém possui utilidade limitada na endodontia, devido seu alto curso, excessivo tempo de processamento computacional e da sua baixa resolução espacial, gerando imagens imprecisas para análise. - Considerada a ferramenta de pesquisa mais importante no estudo da anatomia interna dos dentes. - Usa raios-X para criar secções transversais de um objeto que posteriormente podem ser usadas para gerar modelos tridimensionais de forma não destrutiva. - A primeira análise utilizando micro-TC objetivou correlacionar a anatomia interna e externa de molares superiores. - Técnica precisa, reprodutível, não destrutiva e que pode ser utilizada tanto para análise quantitativa quanto qualitativa; - Limitações: considerável tempo dispendido no escaneamento e reconstrução das imagens, alto custo do equipamento e à complexidade dos procedimentos técnicos, que exigem longa curva de aprendizado, além do conhecimento profundo de análise computacional. Cavidade pulpar: Anatomia da cavidade pulpar - Definida como um espaço que abriga a polpa dentária, normalmente situada na porção central dos dentes. - Dividida em: 1.Câmara pulpar - Porção mais coronária da cavidade pulpar; - Cavidade única, geralmente volumosa, aloja a polpa coronária e ocupa internamente o centro da coroa, assemelha-se, em forma, à superfície externa do dente. - Dentes anteriores: Câmara pulpar contígua ao canal radicular, delimitada pelas paredes V, L, M e D, correspondentes às faces coronárias do dente. O teto está localizado abaixo da margem incisal, podendo apresentar reentrâncias que correspondem às saliências na coroa, como os divertículos pulpares, mamelões ou tubérculos. Em incisivos, a câmara é triangular, estreita no sentido vestibulolingual e ampla no sentido mesiodistal, não apresentando divertículos pulpares proeminentes, exceto nos dentes jovens. No canino, a câmara apresenta seu maior diâmetro no sentido vestibulolingual na altura da região cervical, afilando-se em direção à ponta da cúspide onde apresenta um divertículo pronunciado. - Dentes posteriores: O teto da câmara é definido pelo contato da parede oclusal com a face oclusal. Possui forma côncava e possui divertículos pulpares, como reentrâncias subjacentes às cúspides, tubérculos e outras saliências da coroa, ocupados pelos cornos pulpares. outros processos degenerativos, que podem ocasionar na redução progressiva do volume da CP e em um possível bloqueio dos oríficios de entrada dos canais radiculares. A face oclusal é o assoalho da câmara, que é a face oposta ao teto da câmara e é onde estão localizados as entradas dos canais (os orifícios radiculares), ou seja, aberturas que conectam a câmara pulpar so SCR. A câmara tende a ser estreita no sentido mesiodistal e ampla na direção vestibulolingual, apresentando o formato de um prisma quadrangular irregular com seis lados: o teto e o assoalho bem nítidos e quatro paredes axiais nomeadas de acordo com a face do dente para a qual está voltada, como mesial, distal, vestibular e lingual/palatina. OBS: Um mesmo grupo dental pode haver alterações morfológicas da coroa, provocando variações em forma, tamanho e localização da polpa. Essas alterações também podem ocorrer por anomalias anatômicas, como no taurodontismo, onde a câmara pulpar é mais avantajada e seu assoalho está deslocado no sentido apical. Em dentes multirradiculares podem existir canais acessórios no assoalho conectando a CP ao ligamento periodontal na região de furca, denominados canais cavointer-radiculares, que se manifestam clinicamente como áreas de rarefação óssea envolvendo estruturas periodontais na região de furca de dentes com necrose pulpar. A CP pode, ainda, apresentar alterações por modificações fisiológicas relacionadas com a deposição contínua de dentina secundária ou terciária com a idade ou por resposta pulpar diante de fatores irritantes, com a formação de nódulos pulpares ou 2.Canal radicular = porção radicular - Acompanha sua forma externa; - Canal principal = forma cônica e se afunila a partir de sua abertura (orifício de entrada) progressivamente em direção ao forame apical (orifício de saída). "Dividido" em três porções = cervical, médio e apical Pode apresentar variações quanto ao número, forma, direção e configuração. Geralmente são achatadas ou ovais no sentido mesiodistal ou vestibulolingual, acompanhado a direção das raízes. - Canais acessórios = ramificações diminutas que comunicam o canal principal à superfície externa da raiz. Possui maior frequência em dentes pré molares e molares. Não são visualizados no exame radiográfico convencional, mas pode se suspeitar de sua presença quando há espessamento localizado no ligamento periodontal ou presença de lesão na superfície lateral da raiz. Canais laterais = canais acessórios localizados nos terços cervical ou médio da raiz, geralmente entendendo-se horizontalmente a partir do canal principal. Seu conteúdo so pode ser limpo e desinfetado por meio de irrigação eficaz com solução dotada de atividade antimicrobiana e capacidade de dissolver matéria orgânica, podendo ser complementado com medicações intracanal entre sessões. Essas ramificações surgem durante a formação radicular; Esses canais servem comovia de passagem de irritantes, principalmente, da polpa necrosada/infectada para o periodonto, sendo dificeis de acessar, limpar, descontaminar e obturar durante o tratamento endodôntico. OBS: A prevalência, a localização e a direção das ramificações dependem do grupo dentário estudado. - Istmos = área estreita, em forma de fita, que conecta dois ou mais canais radiculares. Limita a ação dos procedimentos endodônticos. Os métodos de desinfecção tem ação limitada nessas regiões. Apresenta variações, sua prevalência depende do grupo dentário, do nível da raiz e da idade do paciente. A limpeza e a desinfecção dos istmos representam um desafio clínico, pois todas as técnicas de canais radiculares geram detritos que podem se acumular nessas áreas de difícil acesso, reduzindo ou impedindo a ação efetiva das soluções irrigantes e afetando diretamente o prognóstico do tratamento. No entanto esse desafio tem sido passível de resolução a partir dos sistemas de preparo e irrigação ultrassônica. - Canais em C = configuração do canal em forma de C, observado no sentido transversal da raiz. Principal característica anatômica - presença de um ou mais istmos conectando canais individuais ao longo de toda a raiz. Sua limpeza e desinfecção também é um desafio clínico. Comumente encontrada em dentes com raizes fusionadas, principalmente primeiro pré molares e segundo molares inferiores. O diagnóstico pré operatório de canais em forma de C é dificil, principalmente se realizado por meio de exame radiográfico. - Canal radicular apical = compreende a porção apical do canal principal, o forame apical e suas ramificações, além de canais acessórios. Possui grande importância durante o preparo e a obturação do SCR, em razão da sua complexidade. Principais características - variabilidade e imprevisibilidade. Forame menor/constrição apical - porção apical do canal radicular que apresenta menor diâmetro e que, as vezes, coincide com a zona de união entre a dentina e o cemento. A partir da constrição apical, o canal se amplia a medida que se aproxima do forame apical (estrutura que separa o término do canal da superfície externa da raiz. É a principal abertura do canal radicular na região apical através do qual os tecidos da polpa e do ligamento periodontal se comunicam e por onde penetram os vasos sanguíneos que vão suprir a polpa dentária). OBS: O ápice anatômico é a ponta ou a extremidade da raíz. - O canal principal acompanha a direção e as assimetrias das raízes, incluindo sua: Inclinação = deslocamento do eixo longitudinal da raiz em relação ao da coroa, quase sempre ocorre no sentido distal; Curvatura = desvio gradual e palatino do eixo da raiz que se torna curvo; Mais comum na direção vestibulolingual, não pode ser identificada na tomada radiográfica ortorradial. A curvatura do canal radicular pode ocorrer em diferentes direções mesmo em um único canal. Angulação = desvio brusco de uma parte do eixo da raiz em relação ao outro. Inclinação dos dentes nos arcos - Deslocamento do eixo longitudinal da raiz em relação ao da coroa. - Pode ocorrer ao mesmo tempo que uma angulação ou curvara, porem em sentidos opostos. - Cada dente possui uma inclinação própria do seu eixo longitudinal em ambos os arcos dentários, tanto na direção vestibulolingual quando mesiodistal. Incisivo central superior: Morfologia da cavidade pulpar nos grupos dentários - O conhecimento sobre a média do comprimento dos dentes e das raízes é importante para determinar a profundidade de inserção dos instrumentos durante o tratamento endodôntico; - O número, a forma e a localização dos canais radiculares dependem basicamente do número e do formato das raízes, conhecimento importante para a realização do tratamento endodôntico. INCISIVOS 1. - Comprimento médio de 23,7mm - Raiz única com canal reto e amplo - Camara pulpar estreita no sentido vestibulo- palatina (risco de perfuração durante o acesso) - O ápice radicular pode apresentar curvatura abrupta para vestibular - Precisa remover o ombro palatino - Os eixos da coroa e da raiz não coincidem (cuidado durante o acesso coronário para evitar perfuração) 2. Incisivo lateral superior: - Comprimento médio de 23,1mm - Raiz única com canal reto e amplo - Proximidade com a cavidade nasal (atenção!!) - Pode ter uma curvatura no ápice radicular para a distal (visível na radiografia) - Situado em área de risco embriológico, podendo apresentar anomalias anatômicas, como raízes multiplas, fusão, germinação, canais em C ou S, coroa cônica, porção apical delgada, sulcos radicules e dens invaginatus. - Necessita da remoção do ombro palatino 3. Incisivo central inferior: - Mais dificil de trabalhar; - Comp. médio de 21,8mm (menor dente da arcada) - Raiz única - Curvatura da porção apical da raiz do dente no sentido disto-lingual - Secção transversal oval ou achatada, com seu maior diâmetro no sentido VL. - Se o dente aparesentar dois canais precisa remover o ombro lingual. 4. Incisivo lateral inferior: - Comprimento médio de 23,3mm - Raiz única e canal único - Frequência de dois canais (vestibulo e lingual) que se unem no terço apical - Curvatura da porção apical da raiz no sentido disto- lingual OBS: Os incisivos inferiores possuem diferentes variações anatômicas; Canino superior: CANINOS - Dente mais volumoso das arcadas dentárias - Secção transversal no canino inferior é mais achatada na porção cervical e média do que o canino superior que é mais ovalado, mas ambos se assemelham na porção apical. 1. - Comprimento médio 27,3mm (maior da arcada) - Canal radicular = maior diâmetro vestíbulo palatino - Raiz e canal único, sendo este último reto e longo - O ápice radicular se aproxima muito da cavidade nasal (atenção!!) - Ombro palatino deve ser removido durante o preparo do terço cervical; 2. Canino inferior - Comprimento médio de 26mm - Raiz e canal únicos - Raiz achatada na porção mesiodistal com canal oval ou achatado na direção mesiodistal. Esse achatamento pode ser tanto, a ponto de ter dois canais radiculares. - Germinação: o germe dentário sofre uma divisão por invaginação, dando origem a um dente com coroa dupla, cavidade pulpar única e canal radicular único - Radix entomolaris: raiz supranumerária localiada na posição distolingual dos molares inferiores - Radix paramolaris: raiz supranumerária localizada na posição mesiovestibular dos molares inferiores - Taurodontismo: desenvolvimento avantajado da porção coronária da cavidade pulpar, na qual o assoalho da CP está deslocado apicalmente; - Sulco radicular: depressão radicular que pode se iniciar na coroa, estendendo-se em direção apical e que predispõe a problemas periodontais sérios. - Dens in dente: mais frequente entre os incisivos laterais superiores, também podem ser observados nos centrais superiores, incisivos inferiores e outros dentes em menor proporção. É uma anomalia de desenvolvimento resultante da invaginação do epitélio interno do órgão dental, em direção à papila dentária, durante a fase de proliferação/capuz. - Dens evaginatus: ou cúspide talão, é uma proliferação anormal do epitélio do esmalte no interior do retículo estrelado do órgão de esmalte, resultando em uma protuberância na face palatina dos dentes anteriores ou oclusal dos dentes posteriores (tubérculo de esmalte e dentina com um canal central conectado à polpa) Anomalias com impacto na prática endodôntica - Fusão: dois germes dentários que se unem parcial ou totalmente, formando um dente com dupla coroa, duas cavidades pulpares separadas e dois canais radiculares distintos;