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Lesões da pele são interrupções da integridade cutânea-mucosa que resultam no desequilíbrio da saúde, muitas vezes impedindo ou dificultando atividades básicas do dia a dia, como locomoção e convivência. São organizadas em diversas classificações e, por isso, exigem tratamento diferenciado. A cicatrização é determinada pela saúde geral do paciente, portanto, a avaliação abrangente é muito importante para o planejamento e avaliação do tratamento. Naturalmente, os tecidos que compõem o organismo humano têm uma incrível capacidade de autorregeneração. Ou seja, quando sofrem algum tipo de dano, eles conseguem restabelecer totalmente ou parte de sua estrutura local e isso pode ocorrer de duas maneiras: (1) através do mecanismo de regeneração tecidual e (2) através do processo de cicatrização. A CICATRIZAÇÃO de uma ferida nada mais é do que um mecanismo de reparo tecidual após algum dano, seja por um trauma ou mesmo por morte celular. Ela representa um processo secundário a não recuperação por completo do tecido lesado, e é diferenciada em: CICATRIZAÇÃO POR PRIMEIRA INTENÇÃO OU PRIMÁRIA: feridas marcadas pela presença de bordas aproximadas por sutura, de modo que essas bordas apresentam pouca perda de tecido, ausência de infecção e com o tecido de granulação levemente edemaciado. Exemplo: cicatrização de ferida pós-cirúrgica. CICATRIZAÇÃO POR SEGUNDA INTENÇÃO OU SECUNDÁRIA: as bordas das feridas são bem afastadas uma da outra, ocorre a formação de um grande coágulo, a perda de tecido é maior e a reação inflamatória pode ser aumentada caso se instale um processo infeccioso. Assim, a regeneração celular é muito mais demorada. CICATRIZAÇÃO POR TERCEIRA INTENÇÃO OU TERCIÁRIA: primeiramente a ferida é deixada aberta para evoluir com cicatrização de segunda intenção e há o processo de limpeza e debridamento do tecido. Posteriormente, é realizada sutura para que a ferida evolua com cicatrização de primeira intenção. CICATRIZAÇÃO ANTONIO MARCOS O processo cicatricial é composto por 3 fases sequenciais, dependentes de energia e controlada por fatores de crescimento. FASE INFLAMATÓRIA – Também chamada de fase exsudativa, tem as funções de ativar o sistema de coagulação e promover o desbridamento e a defesa da ferida contra patógenos (microrganismos). 0 a 3 dias; FASE PROLIFERATIVA / FIBROBLÁSTICA – Nesse estágio, ocorrem a regeneração dos tecidos, a formação de novos vasos (neoangiogênese) e a multiplicação dos fibroblastos com deposição de colágeno (fibroplasia), isto é, a formação do tecido de granulação e a migração das células epiteliais das margens da lesão para o centro (epitelização). 3 a 24 dias; FASE DE MATURAÇÃO / REMODELAGEM – A depender do local e do grau de extensão da lesão, pode durar meses ou anos. Nessa fase, a ferida sofre um processo de contração, diminuindo a quantidade e tamanho da cicatriz desordenada. Iniciar durante a 3 semana e caracteriza-se por um aumento da resistência, sem aumento na quantidade de colágeno. ATENÇÃO! Alguns autores consideram que a hemostasia (responsável por ativar o sistema de coagulação) seja a primeira etapa do processo de cicatrização das feridas/lesões, seguidas pelas fases inflamatória, proliferativa e remodelagem, ou seja, 4 fases. FASES DA CICATRIZAÇÃO NECRÓTICO, INVIÁVEL OU DESVITALIZADO – Tecido morto que perdeu suas propriedades físicas e biológicas; ESCARA – Tecido necrótico, preto ou marrom, pode estar frouxa ou firmemente aderido ao leito; pode apresentar consistência solida ou amolecida; ESFACELO – Tecido necrótico/desvitalizado, úmido, avascular, amolecido; pode ser branco, amarelo, acastanhado ou verde; pode estar frouxa ou firmemente aderido ao leito; TECIDO DE GRANULAÇÃO – Tecido úmido, rosado, composto por novos vasos sanguíneos, tecido conjuntivo, fibroblastos e células inflamatórias; é o tecido característico da fase proliferativa, que preenche a ferida; a superfície é granulada, assemelhando-se a uma framboesa; LIMPO, NÃO-GRANULAÇÃO – Ausência de granulação; o leito da ferida parece liso, vermelho e não granulado; EPITELIAL – Epiderme regenerada sob a superfície da ferida; seca; de coloração rosada; SANGUINOLENTO – Avermelhado, fluido, indica dano de vasos sanguíneos ou a formação de novos; é típico da fase proliferativa; pode resultar da dilatação das junções interendoteliais, trauma endotelial ou do tecido de granulação que se apresenta friável; pode sinalizar infecção crônica da ferida, se presente em moderada a grande quantidade; SEROSANGUINOLENTO – Rosado ou avermelhado, fluido, é típico da fase inflamatória e proliferativa; SEROSO – Amarelo (cor de palha), translúcido, fluido, é típico da fase inflamatória e proliferativa, quando há uma ação marcante das histaminas e cininas; SEROPURULENTO – Opaco, amarelado ou acastanhado, fluido, sinal inicial de infecção; PURULENTO / PÚS – Amarelo, acastanhado ou esverdeado, opaco e denso, se desenvolve frente à atividade fagocitária e lise celular local; sinaliza infecção e pode estar associada a odor fétido. TIPOS DE TECIDOS PRESENTES NO LEITO DA FERIDA A National Pressute Ulcer Advisory Panel (NPUAP) revisou as definições de lesões por pressão (anteriormente, ulceras por pressão), em abril de 2016. Logo, a lesão por pressão é considerada um dano localizado na pele e/ou tecidos moles subjacentes, geralmente sobre a proeminência óssea ou relacionada ao uso de dispositivos médicos ou a outro artefato. LOCAIS MAIS COMUNS DE APARECIMENTO DE LESÃO POR PRESSÃO Higiene corporal e íntima com sabonete neutro, hidratação da pele com creme emoliente e uso de creme barreira para as partes íntimas. Mudança da posição do paciente em intervalos em até duas horas. Avaliação diária da pele para intervenção ao menor sinal de lesão. Intervenção da nutricionista para adaptar a alimentação do portador da ferida. Não arrastar o paciente na cama ou leito e sim, movimentá-lo através do posicionamento do lençol. Manter o lençol livre de rugas e garantir que seja macio ao toque. LESÃO POR PRESSÃO PROTOCOLO PARA PREVENÇÃO DE LESÃO POR PRESSÃO – MS (2013) Massagem é contraindicada na presença de inflamação aguda e em locais nos quais existe a possibilidade de haver vasos sanguíneos danificados ou na pele frágil (não é uma estratégia de prevenção). A escala de Braden analisa seis fatores principais no paciente: percepção sensorial, umidade, atividade, mobilidade, nutrição e, por último, a fricção e cisalhamento. Cada uma dessas características é testada e pontuada de 1 a 4, sendo maior quanto mais positivo for o estado do paciente. A soma total de todos os fatores analisados resultará em um número entre 6 e 23 que indicará o estado da lesão e quais práticas devem se seguir a essa avaliação. Risco baixo (15 a 18 pontos); Risco moderado (13 a 14 pontos); Risco alto (10 a 12 pontos); Risco muito alto (≤ 9 pontos) A escala de Norton avalia cinco parâmetros para grau de risco: condição física; nível de consciência; atividade; mobilidade; incontinência. Cada parâmetro foi pontuado com valores de 1 a 4. A soma dos cinco níveis produziu um escore que variou de 5 a 20 pontos, interpretados da seguinte forma: <14 ESCALA DE BRADEN ESCALA DE NORTON (risco) e < 12 (alto risco). Além disso, quanto menor for o somatório final maior será o risco para o desenvolvimento de UP (20). ESTÁGIO I – Pele integra com eritema que não embranquece e que pode parecer diferente em pele de cor escura; ESTÁGIO II – Perda da pele em sua espessura parcial com exposição da derme. O leito da ferida tem coloração rosa ou vermelho, é úmido e pode também apresentar-se como uma bolha intacta (com exsudato seroso) ou rompida; ESTÁGIO III – Perda da pele em suaespessura total, na qual a gordura é visível e, frequentemente, o tecido de granulação. Necrose de liquefação (esfacelo) e/ou necrose de coagulação (escara) podem estar visíveis. Não há exposição de ossos, tendões ou músculos; ESTÁGIO IV – Perda da pele em sua espessura total e perda tissular com exposição de músculos, tendões e/ou ossos; NÃO CLASSIFICÁVEL – Perda da pele em sua espessura total e perda tissular, na qual a extensão do dano não pode ser confirmada porque está encoberta pela necrose de liquefação (esfacelo) e/ou necrose de coagulação (escara). ESTÁGIO DE LESÃO POR PRESSÃO A resolução do COFEN nº 0501/2015 regulamenta a competência da equipe de enfermagem no cuidado as feridas. De acordo com essa resolução cabe ao enfermeiro capacitado a avaliação e prescrição de coberturas para tratamento das feridas crônicas. Devem ser avaliado os seguintes pontos: Área de abrangência e extensão da lesão; Aspecto da área adjacente; Aspecto da lesão; Características do Exsudato; Dor; Infecção; Evolução. SISTEMA RED/YELLOW/BLACK – RYB, proposto para classificação de feridas que cicatrizam por segunda intenção, onde se baseia no tipo de tecido presente no leito da ferida, e com isso sugere o tratamento adequado. O RYB assim classifica as feridas: As vermelhas (Red) – incluem sítios doadores de enxertos, feridas pós-desbridamento, feridas crônicas em cicatrização, em que predomina o tecido de granulação e novo epitélio. Nesse tipo de ferida, o objetivo do tratamento é favorecer o ambiente úmido, proteger os tecidos neoformados e prevenir a infecção; AVALIAÇÃO DE FERIDAS As amarelas (Yellow) – normalmente apresentam tecido desvitalizado e seus tecidos são moles; elas podem estar colonizadas, o que favorece a instalação de infecção. Nesse tipo de ferida o objetivo é identificar adequadamente a presença ou não de infecção e, neste último caso, promover o desbridamento dos tecidos desvitalizados e controlar a infecção; ⚫As pretas (Black) – apresentam necrose tecidual, com formação de escara espessa, cuja coloração pode variar entre castanho, marrom e preto. Nesse tipo de ferida, devido à presença do tecido necrótico, o objetivo é remover o tecido necrosado com a máxima brevidade, por meio do desbridamento. Desbridamento cirúrgico – consiste na remoção completa do tecido necrótico, esta técnica é realizada em centro cirúrgico pelo cirurgião, indicada quando o paciente necessita de uma intervenção mais urgente e está indicada para necroses de coagulação e liquefação. Desbridamento instrumental - a remoção do tecido desvitalizado é removido de forma gradativa e seletiva em diversas sessões, pode ser realizado a beira leito ou em sala de curativo com a utilização de material cortante como bisturi , tesoura, pinças e coberturas hemostáticas, podendo ser combinado com outras técnicas como enzimático e autolítico esta técnica pode ser realizada pelo enfermeiro devidamente capacitado com conhecimento e formação específica que lhe proporcione, habilidades e atitude ,conforme parecer do Coren nº 013/2009. TIPOS DE DESBRIDAMENTO Desbridamento enzimático - Consiste na aplicação tópica de substâncias enzimáticas e proteolíticas que atuam como desbridantes diretamente em tecidos necróticos, a escolha da enzima deve ser feita após avaliação do tipo de tecido que se quer desbridar. Recomenda-se proteger a pele perilesional para evitar a maceração do tecido. ÁCIDOS GRAXOS ESSENCIAIS (AGE), registrado pela ANVISA como cosmético está indicado para uso em pele íntegra visando a prevenção de lesões favorecendo a nutrição celular e hidratação da pele formando uma película protetora. ALGINATO DE CÁLCIO E SÓDIO - possui alta efetividade microbiana previne contaminação externa, indicada em lesões cavitárias; úlceras venosas; lesões por pressão; queimaduras de 2º grau e áreas doadoras de enxerto e lesões com pouco sangramento. Contraindicada em necroses secas, deve ser trocada sempre que estiver saturado, e sua permanência máxima é de até 7 dias. BOTA DE UNNA - promove a compressão no membro aumentando o retorno venoso e melhora drenagem linfática. Mantém meio úmido para cicatrização sendo indicado em úlceras venosas e edema linfático de membros inferiores, recomendada a pacientes que deambulam. A troca da bota de unna pode ser feita a cada 7 dias e prevê capacitação do profissional para colocação do material. CARVÃO ATIVADO COM PRATA – tem ação bactericida absorve exsudato neutralizador de odor e está indicado em feridas de moderado a muito exsudato, superficiais ou profundas, infectadas ou não, com o sem tecido necrótico, deve ser trocada sempre que estiver saturado, e sua permanência máxima é de até 7 dias. Importante ressaltar que esta placa não pode ser cortada, caso a ferida seja menor que o tamanho da placa, as bordas devem ser protegidas. COLAGENASE – promove desbridamento enzimático suave e não invasivo está indicado para feridas com tecido desvitalizado. Deve ser trocada sempre que estiver saturado ou a cada 24h. HIDROGEL - proporciona ambiente úmido evita ressecamento e desbrida áreas de necrose indicado feridas limpas não infectadas com áreas necróticas ou esfacelo . Deve ser trocado em feridas infectadas: no máximo 24 horas e tecidos com necrose: no máximo a cada 72 horas. MALHA DE ACETATO DE CELULOSE - evita a aderência do curativo ao leito da ferida. Está indicada feridas como queimaduras (primeiro ou segundo grau), abrasões, enxertos, úlceras venosas, entre outros. Deve ser trocado em média a cada 24 horas. MICROFIBRA – curativo superabsorvente, gel macio e coesivo que se adapta ao leito da ferida mantém ambiente úmido ideal para a cicatrização e controle do excesso de exsudato. Promove o desbridamento autolítico com a remição natural do tecido desvitalizado mantendo o meio úmido. O curativo vai se desprendendo de acordo com a reepitelização, pode permanecer até 14 dias de acordo com o fabricante. TIPOS DE COBERTURAS (MAIS UTILIZADAS) PAPAÍNA - possui ação bactericida e desbridamento químico, ação anti-inflamatória diminui edema local. Deve ser usado com critério conforme apresentação,2% – tecido de granulação 4% – granulação e secreção purulenta 6% – Necrose de liquefação 8%– necrose de liquefação mais necrose de coagulação 10%- necrose de coagulação. Deve ser trocado duas vezes ao dia ou conforme saturação do curativo. PLACA DE HIDRO COLOIDE - impermeável à água e bactérias e vírus, isola o leito da ferida do meio externo evitando o seu ressecamento e a perda de calor. Mantém ambiente úmido, está indicado em abrasões, lacerações, cortes superficiais, queimaduras, rachaduras de pele, lesão por pressão e úlceras diabéticas, feridas cirúrgicas. É indicada também para prevenção de lesões de pele.Deve ser trocado a cada 7 dias ou quando houver presença de fluido na ferida. SULFADIAZINA DE PRATA - exerce ação bactericida imediata e ação bacteriostática residual pela liberação de pequenas quantidades de prata iônica está indicada em caso de queimaduras; lesões infectadas ou com tecido necrótico. Deve ser trocado no máximo a cada 12 horas ou quando a cobertura secundária estiver saturada, a cada troca toda a pomada deve ser removida.
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