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Manejo e Cuidado de Feridas e Queimaduras Autora Lorena Campos Santos Apresentação Caro aluno, No decorrer desse processo de aprendizado, disponibilizaremos a você um material organizado de forma interativa para que seu estudo sobre esse conteúdo seja prazeroso e enriquecedor. Para falarmos sobre o manejo e cuidado de feridas e queimaduras, faz-se necessária a realização de uma revisão básica de conhecimentos do seu curso de enfermagem. Sabe qual é? O conhecimento sobre procedimentos de Enfermagem e anatomia do sistema tegumentar! De uma forma bem didática, você relembrará todos esses conceitos e, assim, iniciaremos o estudo sobre o manejo com feridas e queimaduras. Estudaremos o processo de cicatrização, classificação das feridas, lesão por pressão, lesão por fricção, fasceíte necrotizante, pé diabético, avaliação das feridas, cuidados ao paciente queimado e curativos. Está preparado? Pegue seu caderno para anotações, lápis, caneta e borracha: vamos dar início à aventura do conhecimento científico no ambiente das feridas e queimaduras! Profa. Mestra Lorena Campos Videoaula - Anatomia e fisiologia da pele Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou clique aqui [https://player.vimeo.com/video/462973960] . https://player.vimeo.com/video/462973960 Introdução1 Segundo Kawamoto (2018), durante a formação do embrião, três folhetos germinativos são formados: o ectoderma, o mesoderma e o endoderma. Cada folheto tem a função de formar, através da diferenciação, órgãos e sistemas do corpo humano. O ectoderma e o mesoderma são responsáveis pela constituição da pele humana e de seus anexos. A formação da pele se dá por duas camadas: a epiderme e a derme. O tecido subcutâneo é considerado, didaticamente (ou seja, apenas para fins de aprendizagem), a terceira camada da pele. A epiderme possui em sua formação uma camada de células epiteliais sobrepostas e não contém vasos sanguíneos, mas contém terminações nervosas. Já a derme é uma densa camada de fibras colágenas e elásticas entrelaçadas, sobre a qual se apoia a epiderme. Ela dá suporte a vasos, nervos, gânglio linfáticos, glândulas sebáceas, sudoríparas e folículos pilosos. Já o tecido subcutâneo situa-se entre a derme e a fáscia muscular. Ele é formado principalmente por um tecido conjuntivo frouxo (colágeno e elastina) e tecido adiposo (como se observa na Figura 1) (KAWAMOTO, 2018). As células que compõem a epiderme são: Ceratinócitos: sintetizam a ceratina, que é uma proteína fibrosa que dá firmeza a epiderme, garante a impermeabilização da camada externa e protege da desidratação. A renovação total da epiderme ocorre. em média, a cada 25 a 50 dias, com variância de acordo com a idade (KAWAMOTO, 2018). Melanócitos: produzem a melanina, pigmento escuro que tem a função de proteção contra raios ultravioleta liberados pelo sol. As sardas (efélides) são decorrentes de uma hiperpigmentação fotorreativa em alguns pontos da pele (Figura 2) (TORTORA; DERRICKSON, 2017). Células de Langerhans: auxiliam no processo imunológico da pele, são produzidas na medula óssea e migradas até a pele (KAWAMOTO, 2018). Revisão anatomia e fisiologia da pele1.1 Figura 1 – Estrutura da pele. Fonte: tienp / pixabay.com http://localhost/PDF_generator/img/01.png Células ou discos de Merkel: atuam como receptores do tato e de pressão e estão presentes entre a epiderme e a derme (TORTORA; DERRICKSON, 2017). Figura 2 – Efélides (sardas na pele). Fonte: OpenClipart-Vectors / pixabay.com http://localhost/PDF_generator/img/02.png A derme é formada pelo tecido conjuntivo, que possui subcamadas, conforme apresentado a seguir: Camada derme papilar: está localizada abaixo da membrana basal da epiderme, é rica em células, capilares sanguíneos, fibras nervosas e corpúsculos táteis. Encontram-se, também, células especiais, como colágeno, fibras elastina e a fibronectina. Os fibrócitos são responsáveis pela síntese para formação do tecido conjuntivo da derme (KAWAMOTO, 2018). Camada derme reticular: apresenta-se mais densa e rica em colágeno, elastina, fibronectina, fibroblastos, histiócitos e líquido intercelular, além de vasos sanguíneos, glândulas sebáceas e sudoríparas, receptores de pressão e células fagocitárias que auxiliam no processo imunológico da pele (TORTORA e DERRICKSON, 2017). Camada derme profunda: penetra no tecido subcutâneo e tem em sua composição grandes feixes de fibras colágenas, além de fibras musculares lisas e músculos eretores dos pelos (KAWAMOTO, 2018). Na derme, também são encontrados os anexos cutâneos: folículos pilosos, glândulas sebáceas e glândulas sudoríparas (TORTORA e DERRICKSON, 2017). A hipoderme – ou tecido subcutâneo – mantém-se aderida à derme graças às fibras de colágeno e elastina, que conferem a ela uma estrutura de extrema maleabilidade. É constituída de células especializadas no armazenamento de gordura (os adipócitos), que têm a função de reserva lipídica, proteção contra traumas e variações de temperatura (KAWAMOTO, 2018). Temos glândulas sudoríparas: Apócrinas, que excretam o suor com compostos gordurosos e estão presentes em locais mais comuns como axilas e região genital. Écrinas, excretam suor mais líquido e contém por exemplo proteínas, ureia, amônia e auxilia na hidratação e controle da temperatura. Videoaula - Funções da pele Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou clique aqui [https://player.vimeo.com/video/462975410] . https://player.vimeo.com/video/462975410 Introdução1 Quando falamos em pele, devemos lembrar que ela é considerada uma cobertura que proporciona impermeabilidade para o corpo. Suas principais funções são a regulação da temperatura do corpo, proteção contra a desidratação, proteção contra a infecção e coleta de informações sensitivas (ORANGES; DINI; ROMANELLI, 2015). Proteção mecânica: a proteção mecânica deve-se, principalmente, à camada gordurosa (tecido subcutâneo), que funciona como se fosse um amortecedor, reduzindo impactos ou lesões aos órgãos internos. Proteção diminuída aos recém-nascidos e idosos (KAWAMOTO, 2018). Absorção da radiação ultravioleta: a radiação ultravioleta (Figura 3) propicia a formação de radicais livres, situação que eleva o número de lesões oxidativas não reparadas, alterando principalmente o metabolismo celular dos melanócitos, ceratinócitos e células de Langerhans, e provoca envelhecimento precoce e aumento do risco de câncer cutâneo. A pele, quando não agredida pelo sol, caracteriza-se por ter um aspecto sem manchas, pigmentação homogênea e textura macia; quando agredida, o aspecto é bem diferente (TORTORA; DERRICKSON, 2017). Manutenção do equilíbrio hidroeletrolítico e das funções físico-química e imunológica: existe na pele o que chamamos de população de linfócitos T residentes, que interagem com as células epidérmicas e, por sua vez, atraem os linfócitos em fase de maturação, que passam pelo timo e terminam a sua especialização na pele por meio da influência dos ceratinócitos. Dessa forma, a pele é um componente integrante do sistema imunológico (KAWAMOTO, 2018). Já as células de Langerhans cumprem a função de apresentar antígenos às células imunológicas, bem como de ativar os linfócitos T pela secreção da interleucina 1. Os ceratinócitos são a fonte de muitos mediadores, como interleucinas, interferons, fator Funções da pele1.2 Figura 3 – Radiação ultravioleta. Fonte: ChadoNihi / pixabay.com http://localhost/PDF_generator/img/03.png estimulador de colônias, fator de necrose tumoral, fatores de crescimento, entre outros (KAWAMOTO, 2018). A variação do pH da pele contempla os intervalos entre 4 e 6,5 e, em determinadas áreas do corpo, permitirá a coesão tissular e a integralidade, fazendo com que a pele seja menos permeável à água e menos suscetível a patógenos. O manto hidrolipídico, produzido na pele é uma mistura de gordura e água produzidos pelas glândulas sebáceas e sudoríparas, tem ação antimicrobiana, que impede a penetração de micro-organismosque causam doenças, além de agir como lubrificante da pele e dos pelos (TORTORA; DERRICKSON, 2017). Conforme Kawamoto (2018), o uso constante de produtos solventes, utilizados para lavagens da pele, retira ou modifica o manto hidrolipídico, prejudicando as funções da camada córnea e o pH da pele, que vão requerer mais de 14 horas para serem restaurados. Termorregulação e hemorregulação: A regulação da temperatura corporal através da pele ocorre da seguinte forma: controle do débito circulatório, vasoconstrição e vasodilatação, atuação das glândulas sudoríparas écrinas e ereção dos folículos pilosos que retardam as trocas de calor (Figura 4) (KAWAMOTO, 2018). Figura 4 – Sudorese. Fonte: OpenClipart-Vectors / pixabay.com http://localhost/PDF_generator/img/04.png Metabolismo: As funções metabólicas da pele são diferentes e peculiares. O hormônio testosterona induz a produção de sebo e acne na pele, e pode gerar alopecia (Figura 5); a progesterona juntamente ao estrogênio é responsável pela textura feminina da pele, distribuição da gordura corporal, síntese de sebo e estímulo à produção de fibroblastos e colágeno; o hormônio cortisol (glicocorticoides) reduz a proliferação de ceratinócitos, tornando mais lenta a reparação de ferimentos, e ainda pode diminuir a atividade dos fibroblastos, predispondo as estruturas da pele a traumatismos e lesões; além disso, a pele atua na sintetização da vitamina D, que tem como função interferir no processo de morte celular e a proteção contra infecções (TORTORA; DERRICKSON, 2017). Sensibilidade e percepção: Elas são determinadas pelos estímulos dos neurotransmissores cutâneos, que são chamados de terminações nervosas livres, compostas pelos corpúsculos de Vater-Pacini (detectam estímulos de pressão), receptores de Krause e Ruffini (detectam estímulos de temperatura) e receptores de Meissner (estímulos táteis). Todos esses receptores auxiliam, também, como forma de defesa do organismo (KAWAMOTO, 2018). Figura 5 – Alopecia (queda de cabelo). Fonte: OpenClipart-Vectors / pixabay.com http://localhost/PDF_generator/img/05.png Alguns fatores, como idade, exposição a raios solares, hidratação, tensoativos, nutrição, tabagismo e medicamentos, alteram o funcionamento normal da pele. Caro aluno, observe as alterações que ocorrem na estrutura da pele com a mudança de idade, no Quadro 1. Quadro 1 – Características da pele nas fases da vida. Parâmetros morfológicos Criança/Jovem Adulto Idoso Espessura da pele total Maior superfície em relação ao peso. Espessura completa. 65% a 70% da espessura da pele do adulto. Periderme Ausente Ausente Ausente Epiderme Tamanho das células é mais uniforme; produção de melanina é reduzida, por causa da formação de grânulos imaturos de melanina. Estrato córneo maduro; integridade juncional; células imunológicas e produção de melanina compatível com o fotótipo cutâneo (cor da pele). Espessura da epiderme é mínima (10 a 50%); aumento da superfície que contém os corneócitos; diminuição de 10% a 20% no número ativo de melanócitos a cada década; tempo aumentado para troca epidermal; perda da população de células-tronco epidérmicas; aumento da apoptose abaixo da camada granulosa. Junção entre derme e epiderme Pouco desenvolvida ao nascimento. Madura e com total integridade funcional. Diminuída; a superfície apresenta perda da derme papilar. Características da pele nas fases da vida1.3 Parâmetros morfológicos Criança/Jovem Adulto Idoso Derme Competência celular muito mais elevada, em comparação com a pele do adulto; proporção de colágeno do tipo I segue mais elevada quando comparada a do tipo III; fibroblastos mais abundantes na derme reticular. Matriz madura de colágeno e fibras de colágeno mais densas e maiores; 1% de colágeno solúvel; fibras de elastina amadurecida no tamanho e na distribuição; fibroblastos mais abundantes na derme papilar; nível de glicação avançado, e produto final começa a aumentar aos 35 anos de idade. Matriz de mataloprotease aumentada; aumento avançado nos produtos finais de glicação da matriz extracelular; geração de radicais livres e danos oxidativos; acúmulo de proteínas disfuncionais; capacidade limitada de divisão celular; mudanças mais acentuadas na derme papilar do que na derme reticular. Subcutâneo Mais espesso Maduro Perda Vascularização Não estão totalmente organizadas após o nascimento. Organização e maturação dos vasos sanguíneos da pele em nível de derme papilar e reticular. 30% redução das vênulas; 60% redução da circulação cutânea; diminuição da resposta arteriolar, fator de crescimento endotelial e permeabilidade da célula endotelial. Fonte: Domansky e Borges (2012, p. 26-27). Caso você queira saber mais sobre o tema, leia o artigo “Avaliação e cuidados com a pele no final da vida” disponível no link indicado a seguir. Link: wp.ufpel.edu.br [https://wp.ufpel.edu.br/francielefrc/files/2019/04/artigopeleefinaldevida.pdf] Recapitulando1.4 https://wp.ufpel.edu.br/francielefrc/files/2019/04/artigopeleefinaldevida.pdf Nesta subseção, caro aluno, você foi apresentado a uma revisão sobre o sistema tegumentar, as funções da pele, as características da pele e suas estruturas. É importante reforçar que as idades diferenciadas modificam a estrutura fisiológica da pele. Estruturalmente, a pele é dividida em epiderme, a camada mais superficial, e derme, a camada intermediária, com diversas funções. Na derme, localizam-se as terminações nervosas, os vasos sanguíneos, as glândulas sudoríparas e as glândulas sebáceas. Já o tecido subcutâneo, ou hipoderme, considerado como uma terceira camada para fins didáticos, é composto em sua maioria por lipídeos e tem a função estrutural de proteção mecânica, entre outras. Dentre as funções da pele, incluem-se proteção, termorregulação, nutrição, sensibilidade e percepção, metabolismo, regulação do pH e de distúrbios hidroeletrolíticos e absorção. Fique atento, pois o conhecimento sobre a fisiologia e anatomia da pele será essencial para compreender as alterações decorrentes de lesões na pele e o uso adequado das coberturas. Exercícios de fixação A pele possui apenas uma camada principal. Verdadeiro Falso As células que compõem a epiderme são: ceratinóticos e as de Langerhans. Verdadeiro Falso O tecido que forma a derme recebe a denominação ‘tecido conjuntivo’ e divide-se em três camadas: derme papilar, derme reticular e derme profunda. Verdadeiro Falso Uma das funções da pele é a absorção da radiação ultravioleta. Verdadeiro Falso Videoaula - Conceito e classificação de feridas Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou clique aqui [https://player.vimeo.com/video/462977775] . https://player.vimeo.com/video/462977775 Conceito e classificação das feridas2 Ferida ou lesão é “[...] uma interrupção ou rompimento na integridade normal da pele e dos tecidos, o que pode variar de um corte pequeno até uma extensão maior, pode resultar de forças mecânicas ou físicas” (TAYLOR et al., 2007, p. 1085). As lesões são classificadas de diversas formas: cirúrgicas ou traumáticas; abertas ou fechadas; aguda ou crônica; com espessura parcial ou total e complexas (CHEEVER, 2016). Feridas cirúrgicas (Figura 6): decorrentes de tratamento invasivo ou procedimento cirúrgico. Nesse caso, as bordas das feridas estão limpas, e o sangramento costuma estar controlado. Causadas sob condições estéreis, com material estéril e preparação da pele, o risco de infecção é diminuído, e a cicatrização é facilitada (POTTER; PERRY, 2018). Feridas traumáticas: lesões involuntárias ou não intencionais que resultam de trauma inesperado, como, por exemplo, acidentes por arma branca. Como ocorrem em ambiente não estéril, a contaminação é provável. As bordas das lesões costumam se mostrar rompidas, e o sangramento não é controlado. Esses fatores geram alto risco de infecção e período de cicatrização mais longo (POTTER; PERRY, 2018). Um exemplopode ser observado a seguir na Figura 7. Classificação das feridas2.1 Figura 6 – Ferida cirúrgica. Fonte: stux / pixabay.com http://localhost/PDF_generator/img/06.jpg Feridas abertas e fechadas: uma lesão aberta (Figura 8) pode ocorrer em razão de cirurgia ou trauma, quando a superfície da pele é rompida, fornecendo uma porta de entrada para micro- organismos. Ocorre maior sangramento, dano aos tecidos e risco de infecção, além de causar um retardo no processo de cicatrização. Já na lesão fechada, resultante de um trauma ou queda, agressão, a superfície da pele não é rompida, mas o tecido interno é danificado, podendo ocorrer lesão e hemorragia internas (POTTER; PERRY, 2018). Figura 7 – Ferida traumática. Fonte: Maza_Fight_Gallery / pixabay.com http://localhost/PDF_generator/img/07.jpg A classificação das feridas considera, também, a sua característica fisiopatológica: aguda ou crônica. Tratando-se de lesões agudas, podemos citar as incisões cirúrgicas, que costumam cicatrizar em dias ou semanas. As extremidades da lesão aproximam-se rapidamente, o que diminui o risco de infecção. Conforme Potter e Perry (2018), as lesões crônicas, ao contrário das agudas, não evoluem ao longo da sequência normal de reparação, e suas extremidades não costumam se aproximar. Aumenta o risco de infecção e o tempo normal de cicatrização é retardado. Lesões crônicas incluem lesões profundas de pressão e úlceras periféricas vasculares, venosas ou arteriais. Quanto ao grau de contaminação, as feridas podem ser: Limpas: ausência de infecção ou processo inflamatório, como nos casos de cirurgias eletivas, nas quais teremos cicatrização por primeira intenção. Excluem-se, também, cirurgias que abordam o trato respiratório, digestório e geniturinário, sem quebras de técnicas assépticas (SOBECC, 2017). Feridas potencialmente contaminadas: presença de colonização por flora bacteriana residente, em pequena quantidade e, principalmente, em locais de difícil descontaminação (SOBECC, 2017). Figura 8 – Ferida aberta. Fonte: nutznutzer / pixabay.com http://localhost/PDF_generator/img/08.jpg Feridas contaminadas: presença de colonização de flora bacteriana em grande quantidade, com descontaminação difícil, inflamação ou infecção não purulenta e – muito importante – trauma penetrante em menos de 4 horas e feridas crônicas abertas (SOBECC, 2017). Feridas infectadas: presença de secreção purulenta, tecido necrótico ou corpo estranho, trauma penetrante com mais de 4 horas, com tecido de esfacelo ou necrose (desvitalizado) ou contaminação por fezes (SOBECC, 2017). Na Figura 9, é possível observar os diferentes tipos de lesões e suas causas. Figura 9 –Tipos de lesões. Fonte: elaborado pela autora (2020). http://localhost/PDF_generator/img/09.png Videoaula - Fases da cicatrização Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou clique aqui [https://player.vimeo.com/video/462979845] . https://player.vimeo.com/video/462979845 Conceito e classificação das feridas2 A cicatrização de lesões é um processo de reação tissular a uma lesão. Tecidos lesionados são reparados por mecanismos fisiológicos que regeneram células que funcionam e substituem as de tecido conectivo por tecido cicatricial. O processo de cicatrização preenche o espaço causado pela destruição dos tecidos, restaurando a integridade estrutural do tecido danificado pela liberação ordenada de fatores de crescimento e mediadores químicos. Essas substâncias ajudam a aumentar o suprimento de sangue à área lesionada e a separar e remover resíduos de células e de material estranho, além de iniciarem o desenvolvimento celular. O processo de cura ocorre, normalmente, sem ajuda. Intervenções, entretanto, podem apoiar o processo (POTTER; PERRY, 2018). A cicatrização de uma lesão, que termina com a formação de tecido cicatricial, envolve processos que preenchem, cobrem ou fecham (epitelização) e encolhem a ferida (contração). Seu fechamento e sua cicatrização ocorrem por primeira intenção ou segunda intenção (Figura 10), dependendo da quantidade de tecido perdido. Lesões cirúrgicas, com perda mínima de tecido e as bordas aproximadas por sutura, costumam cicatrizar por primeira intenção. Já as lesões grandes ou abertas, como as de queimaduras ou traumas maiores, que precisam de mais reposição de tecido e, normalmente, contaminam, costumam cicatrizar por segunda intenção (CHEEVER, 2016). Se uma lesão que está cicatrizando por primeira intenção infectar, cicatrizará por segunda intenção. Aquelas que cicatrizam por segunda intenção levam mais tempo para o processo e formam mais tecido cicatricial. Cicatrização e reparo de tecido conectivo passam pelas mesmas fases de cicatrização, ainda que haja diferenças na quantidade de tempo necessária em cada fase e na quantidade de tecido de granulação que se forma (POTTER; PERRY, 2018). Fases da cicatrização de lesões2.2 As fases de cicatrização são as seguintes: Figura 10 – Cicatrizações por primeira e por segunda intenção. Fonte: Tazima et al. (2008, p. 262). Fase inflamatória דInicia-se no exato momento da lesão. O sangramento traz consigo plaquetas, hemácias e fibrina, selando as bordas da ferida, ainda sem valor mecânico, mas facilitando as trocas” (TAZIMA et al., 2008, p. 259). Imediatamente após a lesão, os vasos sanguíneos envolvidos comprimem-se e inicia a coagulação do sangue, pela ativação das plaquetas e de seu agrupamento. Após um período curto de compressão, esses mesmos vasos sanguíneos dilatam- se e aumenta a permeabilidade capilar, possibilitando, assim, que o plasma e seus componentes cheguem à área lesionada, formando um líquido chamado de exsudato. O acúmulo de exsudato causa inchaço e dor. O aumento da perfusão resulta em calor e vermelhidão e se forma uma crosta dura para protegê-la (POTTER; PERRY, 2018). http://localhost/PDF_generator/img/10.png A resposta inflamatória, que perdura cerca de três dias, e na qual ocorre a migração sequencial das células para a ferida é facilitada por mediadores bioquímicos que aumentam a permeabilidade vascular, favorecendo a exsudação plasmática e a passagem de elementos celulares para a área da ferida. Os mediadores bioquímicos de ação curta são a histamina e serotonina e as mais duradouras são a leucotaxina, bradicinina e prostaglandina. A prostaglandina é um dos mediadores mais importantes no processo de cicatrização, pois além de favorecer a exsudação vascular, estimula a mitose celular e a quimiotaxia de leucócitos O pico de atividade dos polimorfonucleares ocorre nas primeiras 24-48 horas após o trauma, seguindo- se deum maior aporte de macrófagos durante os dois a três dias seguintes. O macrófago, também ativa os elementos celulares das fases subsequentes da cicatrização tais como fibroblastos e células endoteliais. (TAZIMA et al., 2008, p. 259) Fase proliferativa ×A fase proliferativa possui início por volta de 2 a 3 dias de lesão, e em até 2 a 3 semanas em lesões que cicatrizam por primeira intenção. Tal fase é construída por tecido novo para preencher o espaço da lesão, basicamente, pela ação dos fibroblastos. Essas são células do tecido conectivo que sintetizam e secretam colágeno e produzem fatores de crescimento especializados, responsáveis pela indução da formação de vasos sanguíneos, bem como pelo aumento da quantidade e da movimentação de células endoteliais. Crescem capilares por toda a lesão, trazendo oxigênio e nutrientes necessários para a manutenção da cicatrização. Fibroblastos formam fibrina, que se estende pelo coágulo. Uma camada fina de células epiteliais forma-se na lesão e é restituído o fluxo sanguíneo em toda a área. O novo tecido, chamado de tecido de granulação, forma a base para o desenvolvimento do tecido cicatricial. É altamente vascularizado, avermelhado e sangra com facilidade. Nas lesões que cicatrizam por primeira intenção, as células epidérmicas fecham a lesão de 24 a 48 horas (POTTER; PERRY, 2018). A partir do 8º dia, a atividademitótica do fibroblasto declina, reduzindo a secreção proteica e iniciando a produção dos componentes da substância fundamental e do colágeno. A substância fundamental é composta por mucopolissacarídios, os glicosaminoglicanas, material gelatinoso que contém água e eletrólitos. Os mucopolissacarídios estão associados à produção, à orientação e ao tamanho das fibras colágenas. O colágeno é uma proteína fibrosa produzida pelo fibroblasto, responsável pelo preenchimento do espaço da ferida com uma estrutura densa capaz de unir firmemente os tecidos lesados. Nessa fase, o colágeno é o principal componente do tecido conjuntivo reposto – consequentemente a vitamina C passa a ser importante auxiliar no processo metabólico da cicatrização da ferida. (TAZIMA et al., 2008, p. 269) Fase de remodelagem ×O estágio final de cicatrização começa cerca de três semanas após a lesão e pode continuar por até seis meses caso se trate de uma lesão maior. A densidade celular e a vascularização da ferida diminuem, enquanto ocorre a maturação das fibras colágenas. O tecido cicatricial previamente formado sofre remodelação, e o alinhamento das fibras é reorganizado para aumentar a resistência do tecido e diminuir a espessura da cicatriz, reduzindo a deformidade. (GAMBA et al., 2016, p. 49) Videoaula - Tipos de tecidos nas feridas Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou clique aqui [https://player.vimeo.com/video/462981057] . https://player.vimeo.com/video/462981057 Conceito e classificação das feridas2 Podemos classificar os tipos de tecidos no leito da ferida através da coloração dos tecidos com o mnemônico “RYB”, em inglês, R: red (vermelho), Y: yellow (amarelo) e B: black (preto), conforme mostra a Figura 11. A observação do leito da ferida com a identificação do tipo de tecido é essencial para o tratamento. Assim, temos: Tipos de tecidos no leito da ferida e drenagem2.3 Classificação dos tipos de tecidos no leito da ferida2.3.1 Figura 11– Mnemônico RYB para classificação dos tecidos no leito da ferida aberta. Fonte: elaborado pela autora (2020). Granulação: “Tecido viável de coloração avermelhada ou rósea, composto por vasos e fibroblastos. Comumente brilhante” (UFRGS, 2017, p. 6). Veja na Figura 12 as características do leito da ferida aberta. http://localhost/PDF_generator/img/11.png Figura 12 – Tecido de granulação. Fonte: UFRGS (2017, p. 6). Tecido de esfacelo ou necrose de liquefação: “Tecido de coloração amarela ou branca, consistência macia e delgada. Pode estar solto ou aderido ao leito da lesão” (UFRGS, 2017, p. 6). Observe a presença de tecido de esfacelo no leito na Figura 13. Figura 13 – Tecido de esfacelo ou necrose de liquefação. Fonte: UFRGS (2017, p. 7). Tecido de necrose ou necrose coagulativa ou escara: “Tecido de cor cinza, preta ou marrom, com consistência dura e seca. Pode estar solto ou aderido ao leito da lesão” (UFRGS, 2017, p. 6). Veja http://localhost/PDF_generator/img/12.jpg http://localhost/PDF_generator/img/13.jpg a característica da necrose na Figura 14. Figura 14 – Tecido de necrose ou necrose coagulativa ou escara. Fonte: UFRGS (2017, p. 7). A reação inflamatória resulta na formação de exsudato, que, em seguida, é secretado pela lesão. Ele é composto de líquido e células que saem dos vasos sanguíneos e são depositados nas superfícies dos tecidos. Os tipos de drenagem podem ser classificados como sérico, sanguíneo ou purulento. O objetivo da utilização dos drenos nas cirurgias é exatamente para evitar a formação desse exsudato próximo ao leito da ferida, o que diminui o processo de cicatrização quando em excesso. É importante observar as características do exsudato: o volume, cor, dor e consistência (POTTER; PERRY, 2018). A dor, associada ao excesso de volume de exsudato drenado, pode indicar cicatrização retarda ou infecção. A dor de ferida operatória, fisiologicamente, dura em torno de 2 a 3 dias, depois vai diminuindo lentamente (CHEEVER, 2016). Veja no Quadro 2 os tipos de drenagem que ocorrem nas lesões e suas características. Quadro 2 – Tipos de drenagem de lesões. Sérica Composta, em sua maior parte, da porção transparente e sérica do sangue, com origem nas membranas serosas, a coloração é transparente e aquosa. Drenagem2.3.2 http://localhost/PDF_generator/img/14.jpg Sanguínea Composta por quantidades de células vermelhas do sangue. Drenagem sanguínea. Vermelho-claro indica sangramento recente, já a escura indica sangramento tardio. Em sua maioria, as lesões cirúrgicas têm em sua drenagem uma mistura entre o exsudato seroso e sanguinolento, chamado de sero-sanguinolento. Purulenta Composta de células brancas, fragmentos de tecidos mortos liquefeitos e bactérias, têm em sua composição purulenta e espessa, com presença de odor fétido, com coloração que varia entre amarelo-escuro ou verde, dependendo da causa. Fonte: adaptado de Gamba et al. (2016). Caro(a) aluno, Qual a diferença entre exsudato e transudato? Exsudato é um líquido formado por células que saem dos vasos sanguíneos e são depositados nas superfícies dos tecidos ou lesão. Transudato formação de líquido decorrente da formação do edema, com coloração transparente e sem odor. A cicatrização é influenciada por vários fatores, como idade, circulação local e oxigenação dos tecidos, estado nutricional, condição da lesão e saúde geral do paciente. Perfusão e oxigenação dos tecidos: algumas patologias podem alterar a circulação sanguínea, afetando a distribuição normal dos nutrientes das células, assim como da composição das células do sistema imunológico. Além disso, a dificuldade de transporte influencia na absorção de antibióticos, o que interfere no processo de cicatrização. A oxigenação dos tecidos é diminuída nas pessoas com anemia ou distúrbios respiratórios crônicos e naquelas que fumam (POTTER; PERRY, 2018). Localização da ferida: “Áreas mais vascularizadas e de menores mobilidade e tensão possibilitam cicatrização mais rápida do que regiões menos irrigadas ou de maiores tensão e mobilidade” (GAMBA et al., 2016, p. 50). Fatores que afetam a cicatrização da lesão2.4 Existência de corpo estranho: a presença de qualquer material estranho, como drenos, cateteres e materiais de curativo; por serem inertes, dificultam o processo de cicatrização (POTTER; PERRY, 2018). Medicamentos e radioterapia: medicamentos como corticosteroides, quimioterápicos e radioterapia retardam o processo de cicatrização, por diminuírem a resposta do sistema imunológico. Eles “interferem na síntese proteica ou na divisão celular, afetando diretamente a produção do colágeno, aumentam a atividade da colagenase, tornando a cicatriz mais frágil” (GAMBA et al., 2016, p. 50). Estado nutricional: a cicatrização de lesões requer quantidades adequadas de vitaminas, proteínas, carboidratos, gorduras, vitaminas e minerais. Calorias e proteínas são necessárias à reconstrução de células e tecidos. Vitaminas A e C são essenciais à epitelização e à síntese de colágeno. O zinco, por sua vez, desempenha um papel na proliferação celular. Dessa forma, o estado nutricional e de hidratação são fatores importantes do processo de cicatrização (CHEEVER, 2016). Sangramento: a hemorragia favorece a junção de células mortas e pode causar hematomas e isquemia, o que retarda a cicatrização. A presença de edema e a obstrução linfática causam a diminuição do fluxo sanguíneo e do metabolismo tecidual, gerando inflamação e deposição de catabólitos (POTTER; PERRY, 2018). Idade: Os idosos, em comparação com as crianças, têm um processo de cicatrização lento, em razão de alterações fisiológicas que ocorrem na pele, fazendo com que ocorra uma diminuição na atividade fibroblástica e circulatória diminuída, além das doenças crônicas presentes nos idosos, como hipertensão e diabetes (CHEEVER, 2016). Hiperatividade: “A hiperatividade dificulta a aproximação das bordas da ferida, e o repouso favorece a cicatrização” (GAMBA et al., 2016, p.50). Deiscência e evisceração: são complicações graves do pós-operatório. A deiscência (Figura 15) é uma ruptura parcial ou total de camadas da lesão. A evisceração é a protrusão de vísceras Infecção: A colonização de uma ferida não deve ser confundida com infecção. Ocorre colonização quando a ferida se mantém livre de tecido necrótico e/ou material estranho e é controlada pela ação de neutrófilos e macrófagos. A infecção é caracterizada pela alta concentração bacteriana, comprometimento local do tecido (necrose ou corpo estranho) e comprometimento do estado geral do paciente (GAMBA et al., 2016, p. 50). através da área incisional. Pacientes com maior risco para o desenvolvimento dessas complicações são obesos, idosos, desnutridos e apresentam lesão infectada, tosse excessiva e/ou vômito. Uma elevação da saída de exsudato sero-sanguinolento no leito da lesão entre o 4º e 5º dia de pós-operatório indica deiscência iminente (SOBECC, 2017). Fístula: passagem anormal de um órgão interno até a pele, ou de um órgão interno a outro. Essa formação dificulta o processo de cicatrização, pois aumenta ao risco de infecção, de alterações hidroeletrolíticas e de rupturas da pele (CHEEVER, 2016). Figura 15 – Deiscência da ferida operatória. Legenda: cicatrização de segunda intenção (em uma deiscência). Fonte: Tazima et al. (2016, p. 264). Videoaula - Lesão por pressão Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou clique aqui [https://player.vimeo.com/video/462972002] . http://localhost/PDF_generator/img/15.jpg https://player.vimeo.com/video/462972002 Conceito e classificação das feridas2 Os cuidados de enfermagem com a pele também envolvem o manejo de lesões por pressão (LP) (observe a fisiopatologia da formação da lesão por pressão na Figura 16), que são decorrentes de fricção, cisalhamento, tempo prolongado do procedimento cirúrgico, imobilidade, vasoconstrição periférica (uso de anestésicos, drogas vasoativas, antibióticos profiláticos, entre outros), comorbidades (hipertensão, diabetes mellitus, doença pulmonar obstrutiva crônica etc), idade avançada, percepção sensorial diminuída (sedativos e analgésicos), umidade, avaliação do estadiamento (estágio 1, 2, 3, 4 e não classificável). No ano de 2016, o NPUAP (National Pressure Ulcer Advisory Panel) realizou uma atualização da nomenclatura referente à úlcera por pressão: a partir daí, começou a ser considerada lesão por pressão, o que indica a extensão do dano tissular. Lesão por pressão2.5 Figura 16 – Fisiopatologia da lesão por pressão. Fonte: elaborado pela autora (2020). Conforme Cavalcanti (2018), o sistema de classificação atualizado inclui as seguintes definições: “Lesão por pressão é um agravo situado na pele e nos tecidos moles subjacentes, pode acometer proeminências ósseas ou relacionadas a um dispositivo médico ou outro. A lesão pode apresentar- se como pele intacta ou uma úlcera aberta e pode ser dolorosa”. Para explicar sua ocorrência, é imprescindível observar a pressão ou o cisalhamento que a pele pode ter sofrido. A tolerância para este tipo de dano pode ser influenciada por alterações de umidade, nutrição, perfusão, hidratação ou ressecamento, entre outras condições que acometem o tecido mole (NPUAP, 2016). Na Figura 17, podemos observar os principais locais nos quais se forma a LP, em razão dos pontos de proeminência óssea. http://localhost/PDF_generator/img/16.jpg Ainda sobre a classificação das lesões por pressão, Cavalcanti (2018) menciona: Na LP estágio 1 [Figura 18], a pele está íntegra com eritema não branqueável. Podem ocorrer alterações na temperatura. A pele torna-se mais sensível, com a compacidade e resistência diminuída. Esses fatores podem surgir antes da visualização local. Quando as alterações não contiverem o descoramento púrpuro ou castanho, também pode haver dano tissular profundo. Conforme Cavalcanti (2018), na Lesão por pressão no estágio 2, há a característica do rompimento da primeira camada da pele, a epiderme. Pode também ser observado, no leito da Figura 17 – Principais locais de formação de LP. Fonte: UFRGS (2017, p. 7). Figura 18 – Lesões por pressão estágio 1 com presença de edema. Legenda: Lesão por pressão estágio 1 com presença de edema. Fonte: NPUAP (2016, p. 12). http://localhost/PDF_generator/img/17.jpg http://localhost/PDF_generator/img/18.jpg ferida, tecido viável (não se observam granulação, esfacelo e escara), de coloração rosa ou vermelha, com umidade moderada, podendo conter flictena intacta (contendo exsudato seroso) ou com rotura (Figura 19). Pode surgir devido a alterações na umidade e o cisalhamento em regiões da pele, como pélvis e calcâneo. Importante ressaltar que, nesse estágio, não se deve associar essa umidade a lesões decorrentes de dermatite associada à incontinência (DAI), dermatite intertriginosa, queimaduras e abrasões (NPUAP, 2016). Mediante a demonstração de Cavalcanti (2018), observam-se as seguintes características na lesão por pressão estágio 3: Figura 19 – Lesão por pressão estágio 2 e estágio 3. Legenda: (A) Lesão por pressão estágio 2; (B) Lesão por pressão estágio 3. Fonte: NPUAP (2016, p. 12). Rompimento das três camadas da pele (epiderme, derme e tecido subcutâneo). A profundidade da lesão tissular depende da localização anatômica e do tecido adiposo; apresenta tecido de granulação, com bordas irregulares, podendo conter esfacelo ou escara, descolamento e tunelização da pele [Figura 19]. Importante observar que uma grande quantidade de esfacelo ou escara pode mascarar a extensão da perda tissular, dessa forma tem que classificar a lesão como LP não classificável. Em relação à LP estágio 4, você observará o rompimento das três camadas da pele e a perda tissular com visualização ou palpação direta das camadas profundas: fáscia, músculo, tendão, ligamento, cartilagem ou osso (Figura 20). O tecido em questão pode ser esfacelo ou também escara. As bordas são irregulares, com descolamento e tunelização do tecido. Grande quantidade de esfacelo ou escara pode mascarar a extensão da perda tissular, sendo necessário considerar a lesão como LP não classificável (NPUAP, 2016; BLACK et al., 2013). http://localhost/PDF_generator/img/19.jpg Outra classificação que não existia nas atualizações anteriores era a LP Não Classificável, onde se observa o rompimento das três camadas da pele, com perda tissular não visível, o que influencia na confirmação da extensão do dano, devido à grande quantidade de esfacelo e escara que recobre o tecido. Quando se realiza a remoção dos tecidos inviáveis (esfacelo e escara), pode ser possível a classificação em estágios 3 ou 4 (conforme visto nas Figuras 19 e 20). Quando presente escara estável (seca, aderente, sem eritema ou flutuação) em membro isquêmico ou calcâneo, ela não deve ser removida (NPUAP, 2016; BLACK et al., 2013). Cavalcanti (2018) elucida sobre a LP tissular profunda, sendo: Algumas definições adicionais são importantes: você deve considerar que a Lesão por pressão relacionada a dispositivo Médico (LPRDM), conforme visto na Figura 21, é decorrente da pressão exercida por dispositivos utilizados para diagnósticos e tratamento médicos, e a lesão resultante se mostra parecida ou idêntica ao dispositivo utilizado. Outro tipo de lesão associada a dispositivos médicos é a que ocorre nas membranas mucosas: lesão por pressão em membranas mucosas. Há dificuldade na classificação das lesões, decorrente da anatomia dos tecidos lesados (NPUAP, 2016). Figura 20 – Lesão por pressão estágio 4 e LP não classificável. Legenda: (A) Lesão por pressão estágio 4; (B) Lesão por pressão não classificável. Fonte: NPUAP (2016, p. 12). Indicativo que a pele pode está intacta ou não, com área localizada e resistente, de coloração vermelho-escuro, marrom ou púrpura que não embranquece, ou acantólise epidérmica, sendo observada lesão com leito escurecido ou flictena com exsudato sanguinolento. Essas alterações podem preceder dor e mudançasna temperatura. Pressão prolongada e intensa, e cisalhamento na interface osso-músculo resultam neste tipo de lesão. A evolução da ferida depende da extensão atual, da rapidez ou da resolução sem perda tissular. Ressalta-se que LP tissular profunda, não pode ser descrita nas condições vasculares, traumáticas, neuropáticas ou dermatológicas. http://localhost/PDF_generator/img/20.jpg Figura 21 – Lesão por pressão relacionada a dispositivo médico. Fonte: NPUAP I(2017, p. 18). Para diferenciar as lesões por pressão que estão relacionadas à imobilidade, pressão e proeminência óssea, das lesões por pressão relacionadas a dispositivos médicos, é preciso considerar que “a lesão se espelha a forma e a localização de um dispositivo médico, como o material dos dispositivos são em sua maioria de plástico rígido, produzem uma fonte de pressão externa que desencadeiam as lesões” (CAVALCANTI, 2018, p. 24). Por meio de escalas, podemos avaliar o risco de o paciente desenvolver LP, entre as quais podemos destacar a escala de Braden (Quadro 3). Temos outras escalas, como a Norton e a Waterlow, que também auxiliam na avaliação do risco para formação de LP. Quadro 3 – Escala de Braden. ESCALA DE BRADEN PERCEPÇÃO SENSORIAL 1.Completamente Limitada 2. Muito limitada 3. Levemente limitada 4. Nenhuma limitação UMIDADE 1.Constantemente Úmida 2. Muito úmida 3.Ocasionalmente Úmida 4. Raramente úmida ATIVIDADE FÍSICA 1. Acamado 2. Restrito à cadeira 3. Caminha ocasionalmente 4. Caminha frequentemente MOBILIDADE 1.Completamente Imobilizado 2. Muito limitada 3. Levemente limitada 4. Nenhuma limitação NUTRIÇÃO 1. Muito pobre 2.Provavelmente inadequada 3. Adequada 4. Excelente FRICÇÃO e CISALHAMENTO 1. Problema 2. Potencial para problema 3. Nenhum problema aparente TOTAL: http://localhost/PDF_generator/img/21.jpg ClassificaçãoClassificação Elevado risco <=12 Moderado risco (13 e 14) Baixo risco (15 e 16 se < 75 anos) (15 e 18 se > 75 anos) Sem risco (>17) Fonte: Borghardt et al. (2015, p. 33). É uma infecção grave e rara, que acomete a fáscia, o tecido subcutâneo e até o músculo, de maneira agressiva e rápida, e decorre de uma necrose em toda a extensão desse tecido, causando lesão vascular e liberação de interleucinas inflamatórias, trombose e isquemia, causada por contaminação bacteriana, mais comum pelo Streptococcus pyogenes ou, mais raramente, pelo Staphylococcus sp (Figura 22) (SOARES et al., 2008). Segundo Costa et al. (2004, p. 5): Fasceíte necrotizante (FN)2.6 Figura 22 – Descrição da evolução clínica da fasceíte necrotizante. Legenda: fases da evolução clínica da fasceíte necrotizante. (A) Pele intacta com ponto de necrose; (B) após realização de fasciectomia; (C) formação de necrose na extensão inferior dorsal. Fonte: Soares et al. (2008, p. 31). http://localhost/PDF_generator/img/22.jpg A forma de tratamento é, inicialmente, cirúrgica com o debridamento e uso de antibióticos; após identificação da bactéria causadora, o curativo diário e uso de coberturas também auxiliam no processo de cicatrização e na melhora clínica. A FN inicia como área eritematosa, dolorosa e localizada, que aumenta em horas ou dias, associada a edema tecidual importante. Em seguida, ocorre cianose local e formação de bolhas de conteúdo amarelado ou avermelhado-escuro. A área envolvida torna-se rapidamente demarcada, circundada por borda eritematosa e recoberta por tecido necrótico. Nesse momento, desenvolve-se anestesia da pele que recobre a lesão devido à destruição do tecido subcutâneo subjacente e trombose dos vasos nutrientes, causando necrose das fibras nervosas. A definição do pé diabético é descrita como a presença de um processo de infecção com úlcera ou destruição de tecidos mais profundos, o que inclui alterações neurológicas e vasculares periféricas decorrentes do diabetes mellitus (SOARES et al., 2008; BRASIL, 2016). Essas alterações neurológicas e vasculares causam deformidades anatômica e fisiológica nos membros inferiores, conforme observamos na Figura 23. A musculatura sofre uma atrofia, que pode exacerbar pontos de pressão nas falanges. Além disso, há um processo de ressecamento da pele, com perda de elastina e colágeno, diminuindo a circulação periférica e a cicatrização da ferida (BRASIL, 2016, p. 30). Pé diabético2.7 Uma das alterações é a Artropatia de Charcot, quando as “úlceras surgem na área intermediária da região plantar, iniciando com um calo ou espessamento do estrato córneo, evoluindo com hemorragia local, formação de bolha e, por fim, ulceração do tecido na região do calo” (BORGES, 2011, p. 119). No Quadro 4, podemos identificar os fatores para diagnóstico diferencial entre úlceras neuropáticas e isquêmicas (Figura 24), assim, o enfermeiro terá mais facilidade para início do tratamento com o uso das coberturas. Figura 23 – Alterações anatômicas no pé diabético. Legenda: (A) Aumento das proeminências dos metatarsos, dedos em garra; (B) Dedos em martelo, joanetes); (C) Perda do arco plantar, também chamada de Artropatia de Charcot. Fonte: Brasil (2016, p. 18). Figura 24 – Úlcera neuropática e úlcera isquêmica. Legenda: (A) úlcera neuropática; (B) úlcera isquêmica. Fonte: Borges (2011, p. 41). http://localhost/PDF_generator/img/23.jpg http://localhost/PDF_generator/img/24.jpg Quadro 4 – Diagnóstico diferencial de úlceras neuropáticas e isquêmicas. Isquêmica Neuropática Aspecto Forma irregular, leito pálido, necrose úmida ou seca Forma redonda ou elíptica com bordas uniformes e hiperceratóticas, profunda (pode apresentar túneis), leito pálido Localização Distal, especialmente artelhos, interdigitais e calcanhares ou em outros locais onde ocorrer oclusão arterial Regiões plantar e dorsal, prevalecendo a região plantar do hálux, cabeça do 1o metatarsiano e região dorsal dos dedos, seguido das regiões plantares dos outros dedos, cabeças dos demais metatarsianos, arco do pé e calcanhar, ou seja, áreas sob pressão e atrito frequente Dor Presente, aliviada quando as pernas ficam pendentes. Dor em repouso. Dor no ponto da ferida Nenhuma, mas pode ocorrer disestesia ou hiperestesia Deformidade Ausente Presente, como dedo em garra, proeminência da cabeça de metatarsiano, arco plantar acentuado ou plano Temperatura da pele do pé́ Fria Quente Cor do pé́ Pálido, quando elevado, ou cianótico e rubor quando pendente Róseo Unhas Atrofiadas Atrofiadas Pulsos Diminuídos ou ausentes, ITB (índice tornozelo braço) < 9 Pulsos palpáveis e amplos, ITB normal ou superior a 1,1 a 1,4, vasos dorsais distendidos Pele Atrofiada (fina e lustrosa), sem pelos rarefeitos ou ausentes Seca, com rachaduras/fissuras nos pés e alterações osteoarticulares (Charcot) Calos/ calosidades Ausentes Presente, especialmente na região plantar e dorsal dos dedos Fonte: Borges (2011, p. 121). Importante Caro(a) aluno, Conheça as classificações de risco para formação de úlcera diabética, classificação de Wagner e classificação de Edmonds, bem como, deve ser realizado o ITB (índice tornozelo braço), para avaliação da pulsação no pé diabético. Leia o artigo: “Pé diabético”. Link: .scielo.mec.pt [http://www.scielo.mec.pt/pdf/ang/v7n2/v7n2a02.pdf] Videoaula - O QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE A ESCALA DE BRADEN Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou clique aqui [https://www.youtube.com/embed/qiE4T31NO04] . http://www.scielo.mec.pt/pdf/ang/v7n2/v7n2a02.pdf https://www.youtube.com/embed/qiE4T31NO04 Conceito e classificação das feridas2 Nesta segunda Unidade, caro aluno, você aprendeu sobre a classificação dos tipos de feridas (por exemplo, cirúrgica, aberta, fechada e traumática); as fases de cicatrização da ferida, que são as fases inflamatória, proliferativa e remodelagem; os tipos de tecidos observados no leito da ferida por meio do mnemônico RYB, com o qual é possível observar as cores dos principais tecidos no leito da ferida, como granulação, esfacelo e necrose.O conhecimento sobre as lesões por pressão, seus estágios e principais causas, além das alterações que ocorreram na literatura sobre a inclusão de lesão por pressão relacionada a dispositivo médico e membrana mucosa. Você conheceu as diferenças entre úlcera neuropática e isquêmica que são observadas em pacientes com diabetes mellitus, que desenvolvem o pé diabético. O manejo com a fasceíte necrotizante, lesão rara na pele decorrente da infecção por bactérias. Fique atento, pois o aprendizado está em construção e vamos precisar desse conteúdo nas próximas unidades. Faça uma revisão. Aguardo você na próxima unidade! Recapitulando2.8 Exercícios de fixação Na lesão por pressão estágio 1, a pele se torna mais insensível, com a compacidade e a resistência diminuídas. Verdadeiro Falso Por meio de escalas, podemos avaliar o risco de o paciente desenvolver LP, entre as quais podemos destacar a escala de Glasgow. Verdadeiro Falso A fasceíte necrotizante é, geralmente, causada por contaminação bacteriana pelo Streptococcus pyogenes ou, mais raramente, pelo Staphylococcus sp. Verdadeiro Falso Uma das alterações neurológicas e vasculares que causam deformidade anatômica e fisiológica nos membros inferiores é a Artropatia de Charcot. Verdadeiro Falso Feridas e coberturas3 A avaliação das feridas é necessária para identificar o número e localização das lesões, verificar o tempo de evolução da lesão, identificar a causa e os fatores de risco (comorbidades, estado nutricional, mobilidade, vulnerabilidade), quais coberturas ou medicamentos estão sendo utilizados; avaliar a presença de dor ou a necessidade de analgesia, realizar uma avaliação detalhada do tipo de tecido no leito da ferida e as bordas e, também, se tem presença de infecção (POTTER; PERRY, 2018). Dando continuidade aos cuidados de enfermagem nas lesões, segundo UFRGS (2017, p. 10): Por meio do diagrama a seguir observado na Figura 25, podemos identificar o tipo de cobertura após uma avaliação concisa. Avaliação das feridas3.1 Proceder com a irrigação/limpeza da ferida; Medir e anotar o tamanho da(s) lesão(ões): comprimento; largura e profundidade; presença de tunelização; Avaliar necessidade/possibilidade de desbridamento mecânico e/ou instrumental de tecido necrótico; Repetir a irrigação/limpeza do leito da ferida; Identificar, novamente, quais tecidos estão presentes após o desbridamento; Identificar se a ferida é seca ou exsudativa; Escolher cobertura adequada; Combinar, com o paciente e/ou cuidador/familiar, frequência de troca do curativo e reavaliação na unidade de saúde e/ou domicílio. É importante mensurar o tamanho da ferida por meio de uma régua limpa e descartável (Figura 26). A mensuração deve ser realizada do maior cumprimento cefalocaudal à largura perpendicular (90º); já a profundidade deve ser verificada por meio de um instrumento estéril. O uso da fotografia auxilia na comparação entre as imagens (POTTER; PERRY, 2018). Figura 25 – Critérios e indicação de coberturas. Fonte: Cunha, Dutra e Salomé (2018, p. 8). http://localhost/PDF_generator/img/25.png Figura 26 – Mensuração da ferida com régua descartável. Fonte: Aragón-Sánchez et al. (2017, p. 31). Geralmente dispostos em uma bandeja retangular, os materiais para limpeza da ferida são: Luva de procedimento. Gazes. Pacote de curativo estéril contendo: 1 pinça tipo “dente de rato”, 1 tesoura, 1 pinça hemostática tipo kelly ou Kocher, 1 pinça anatômica e gazes esterilizadas. Solução fisiológica a 0,9%. Adesivo apropriado (não é indicado para fixação esparadrapo ou adesivo microporoso, devido ao risco de contaminação e lesão na pele por adesivo). Cuba rim ou saco plástico para lixo. Bacia. Máscara, gorro e óculos de proteção. Para o procedimento, primeiramente calce as luvas de procedimento (proteção individual); proceda com todo o cuidado na manipulação do campo estéril, dispondo as pinças com os cabos voltados para borda proximal do campo; coloque gazes em quantidade suficiente sobre o campo esterilizado; faça as dobraduras da gaze com as pinças anatômicas e hemostática; retire o curativo anterior, no sentido descendente em relação ao plano da ferida (para esse procedimento, remova o adesivo com a pinça “dente de rato” na mão dominante e, com o auxílio da pinça hemostática, remova o excesso de adesivo utilizando solução fisiológica); despreze o curativo no lixo, observando o aspecto da secreção drenada; despreze a pinça “dente de rato” na cuba rim (ALVES et al., 2014). Em seguida, forre o local com um impermeável sob o paciente; proceda a irrigação em jatos da ferida com o frasco de solução fisiológica na mão dominante; faça a limpeza do leito da ferida (caso haja tecido desvitalizado), utilizando gazes embebidas em solução fisiológica montada na Limpeza da lesão e aplicação de curativo estéril3.2 http://localhost/PDF_generator/img/26.jpg pinça hemostática. Proceda a limpeza de fora para dentro e do lado mais distante para o mais próximo, utilizando as duas fazes da gaze; caso haja tecido de granulação no leito da ferida ou bordas, nunca esfregue gazes ou pinças, apenas proceda a irrigação desse tecido (ALVES et al. 2014). Depois, seque as bordas da ferida com movimentos de toques; com o auxílio da pinça hemostática na mão dominante, oclua a ferida com material adequado (cobertura primária ou secundária). Quando se aplicar, fixe uma pequena tira de adesivo sobre o local do curativo e identifique com a data da troca e assinatura de quem fez o procedimento. Despreze as pinças no expurgo, organize o material, deixe o leito organizado e higienize as mãos (ALVES et al., 2014). Observações importantes: Manipular as pinças com as pontas voltadas para baixo, evitando que a solução escorra para o cabo contaminado e retorne para a ponta. Não falar próximo à ferida e ao material, e orientar o paciente para que também não o faça. Expor o material de curativo e a ferida o mínimo possível. Quando o paciente apresentar mais de uma lesão, iniciar os curativos pelas lesões limpas, depois as abertas não infectadas e, por último, as infectadas. Não depositar material contaminado no leito, mesa de cabeceira ou recipiente de lixo do paciente. Utilizar, nos curativos com gazes aderidas, soro fisiológico para facilitar sua retirada. Levar o material em bandeja, evitando-se utilizar o carro de curativo como meio de prevenir infecções cruzadas. Caso a ferida esteja drenando grande quantidade de secreção, a troca de curativo deve ser feita tantas vezes quantas forem necessárias. Em feridas com tecido de granulação, é indicada apenas a limpeza em jatos com solução fisiológica e nunca o esfregaço do tecido, que é viável e significa que a ferida está em processo de cicatrização (ALVES et al., 2014). Para auxiliar na identificação e na maneira adequada para a realização do curativo, pode ser utilizado o mnemônico TIME (T: Tissue non-viable or deficient, I: Infection/Inflammation, M: Moisture imbalance, E: Edge of wound non-advancing or undermined). Confira a tradução do mnemônico a seguir, na Figura 27. Figura 27 – Avaliação do leito da ferida. Fonte: adaptado de Brasil (2020). Para o manejo das lesões na pele, é importante promover o reparo tecidual e a regeneração com a formação de novos tecidos (granulação e neogênese). Os dois métodos para cuidado das lesões são o aberto (sem cobertura) e o fechado (com cobertura). O ambiente úmido no leito da ferida aberta favorece os processos de granulação e de cicatrização da ferida. Assim, as coberturas promovem conforto físico, psicológico e estético; auxiliam na remoção do tecido desvitalizado, na prevenção, eliminação ou controle de infecção; absorvem a drenagem; mantém o leito úmido e protegem contra novas lesões e, também, as bordas da ferida (POTTER; PERRY, 2018). Em relação aos agentes de limpeza, após consenso na literatura, entende-se que o mais utilizado seja a solução fisiológica 0,9% estéril, por não causar danos aos tecidos presentesno leito da ferida. A quantidade e o tipo de curativos utilizados vão depender da localização e do tamanho da lesão (CHEEVER, 2016). A seguir, os tipos de coberturas (UFRGS, 2017). Composição: óleo vegetal composto por ácido linoleico, vitamina A, E e lecitina de soja. Mecanismo de ação: promove quimiotaxia (atração de leucócitos) e angiogênese (formação de novos vasos sanguíneos), mantém o meio úmido e acelera o processo de granulação. Indicação: prevenção de úlceras de pressão e tratamento de feridas abertas. Tipos de feridas: Lesões abertas. Contraindicações: feridas com cicatrização por primeira intenção. Periodicidade de troca: até 24 horas ou até a saturação da cobertura secundária (UFRGS, 2017, p. 22). Coberturas para feridas3.3 Cobertura: Ácidos graxos essenciais (AGE)3.3.1 http://localhost/PDF_generator/img/27.jpg Composição: colagenase, clostridiopeptidase A e enzimas proteolíticas. Mecanismo de ação: age seletivamente degradando o colágeno nativo da ferida (UFRGS, 2017, p. 22). Indicação: desbridamento enzimático suave e não invasivo de lesões. Tipos de feridas: feridas com tecido desvitalizado. Contraindicações: feridas com cicatrização de primeira intenção, reação alérgica em pessoas sensíveis a substâncias bovinas. Periodicidade de troca: a cada 24 horas. Composição: camada externa de espuma de poliuretano, e outra interna composta de gelatina, pectina e carboximetilcelulose sódica. Mecanismo de ação: barreira térmica aos gases, a líquidos, mecânica e microbiana; estimula a angiogênese e o desbridamento autolítico; acelera o processo de granulação. Indicação: prevenção e tratamento de feridas abertas e não infectadas. Tipos de feridas: feridas abertas e não infectadas com leve a moderado exsudado; prevenção ou tratamento de LP não infectada. Contraindicações: feridas infectadas; feridas com tecido desvitalizado e queimaduras de 3º grau. Periodicidade de troca: sempre que o gel extravasar, curativo descolar ou, no máximo, em sete dias. Composição: fibras de não tecido, derivados de algas marinhas composto por ácidos gulurônicos e manurônicos com íons de cálcio e sódio incorporados em suas fibras. Mecanismo de ação: o sódio presente no exsudato e no sangue interage com cálcio presente no curativo de alginato. A troca iônica auxilia no desbridamento autolítico, tem alta capacidade de absorção, formação de gel mantendo meio úmido para cicatrização e induz hemostasia (UFRGS, 2017, p. 24) Indicação: feridas abertas; sangrantes; altamente exsudativas com ou sem infecção, até redução do exsudato (UFRGS, 2017, p. 24) Tipos de feridas: feridas abertas altamente exsudativas com ou sem infecção; lesões cavitárias com necessidade de estímulo rápido do tecido de granulação. Contraindicações: utilizar em lesões superficiais ou feridas com pouca exsudação e lesões por queimaduras. Periodicidade de troca: em relação a feridas infectadas, máximo de 24 horas; em relação a feridas limpas com sangramento, a cada 48 horas ou quando saturado; em relação a feridas limpas altamente exsudativas, quando saturar. Composição: cobertura de contato de baixa aderência, envolta por camada de falso tecido, almofada impregnada por carvão ativado e prata a 0,15%. Mecanismo de ação: o carvão ativado absorve o exsudato e filtra o odor. A prata exerce ação bactericida. Indicação: feridas infectadas exsudativas com ou sem odor. Tipos de feridas: neoplásicas fétidas e demais feridas infectadas. Contraindicações: feridas limpas e lesões de queimadura. Periodicidade de troca: cobertura secundária sempre que saturada; cobertura de carvão ativado no início a cada 48 ou 72 horas, dependendo da capacidade de absorção; quando a ferida não estiver Colagenase3.3.2 Placa de hidrocoloide3.3.3 Alginato de cálcio3.3.4 Carvão ativado3.3.5 mais infectada, pode ser trocado a cada cinco dias. Composição: gel transparente incolor composto por 77,7% de água, 2,3% de carboximetilcelulose e 20% de propilenoglicol. Mecanismo de ação: amolece e remove o tecido desvitalizado por meio de desbridamento autolítico; H2O mantém meio úmido, facilita reidratação celular e o desbridamento e estimula a liberação de exsudato. Indicação: remover crostas e tecidos desvitalizados das feridas abertas (crostas, tecidos desvitalizados ou necrosados). Tipos de feridas: feridas com crosta, esfacelo e tecidos desvitalizados e necrosados. Contraindicações: utilizar em pele íntegra e incisões cirúrgicas fechadas. Periodicidade de troca: em relação a feridas infectadas, máximo a cada 24 horas; em relação à necrose, no máximo a cada 72 horas. Hidrogel3.3.6 Composição: filme de poliuretano transparente, elástico e semipermeável. Mecanismo de ação: proporciona ambiente úmido favorável à cicatrização; permeabilidade seletiva, permitindo a difusão gasosa e a evaporação da água; impermeável a fluidos e micro-organismos. Indicação: fixação de cateteres; proteção da pele íntegra e escoriações; prevenção de úlceras de pressão; coberturas de incisões cirúrgicas limpas sem nenhum exsudato; cobertura de queimaduras de 1º e 2º graus; cobertura de área doadora de enxerto. Tipos de feridas: incisões cirúrgicas, lesões superficiais, áreas doadoras de enxerto, escoriações, inserções de cateter vasculares. Contraindicações: quando perder a transparência, descolar da pele e/ou se houver sinais de infecção. Periodicidade de troca: feridas com muito exsudato e infectadas. Composição: sulfadiazina de prata a 1% hidrofílica. Mecanismo de ação: o íon prata causa precipitação de proteínas e age diretamente na membrana citoplasmática da célula bacteriostática, exercendo ação bactericida imediata e ação bacteriostática residual pela liberação de pequenas quantidades de prata iônica (UFRGS, 2017, p. 25) Indicação: prevenção de colonização e tratamento de queimaduras. Tipos de feridas: queimaduras. Contraindicações: hipersensibilidade ao produto. Periodicidade de troca: no máximo a cada 12 horas ou quando a cobertura secundária estiver saturada. Composição: curativo primário não aderente e estéril, indicado para lesões nas quais é necessário evitar a aderência do curativo ao leito da ferida. Mecanismo de ação: compressa com emulsão de petrolatum, constituída por tecido de acetato de celulose (Rayon). O tecido possui estrutura porosa (não oclusiva) que auxilia na não aderência do curativo ao leito da ferida e facilita o fluxo do exsudato para o curativo secundário de absorção. A emulsão de petrolatum mantém o meio úmido, auxiliando no processo cicatricial. Indicação: é indicado para feridas secas ou exsudativas que necessitam de curativo não aderente. Tipos de feridas: feridas superficiais e limpas. Contraindicações: feridas com cicatrização por primeira intenção e infectadas. Membranas ou filmes semipermeáveis3.3.7 Sulfadiazina de prata3.3.8 Cobertura não aderente estéril (ADAPTIC)3.3.9 Periodicidade de troca: sempre que apresentar aderência à lesão ou de acordo com saturação do curativo secundário. Composição: é uma enzima proteolítica retirada do látex do vegetal mamão papaia (Carica papaya). Pode ser utilizada em forma de pó ou em forma de gel. Mecanismo de ação: provoca dissociação das moléculas de proteínas, resultando em desbridamento químico. Tem ação bactericida e bacteriostática, estimula a força tênsil da cicatriz e acelera a cicatrização. Indicação: lesões com presença de granulação (concentração 2%), necrose de liquefação/esfacelo (4- 6%) e necrose de coagulação/escara (8-10%). Tipos de feridas: feridas abertas, desvitalizadas, necróticas ou infectadas. Contraindicações: contato com metais (oxidação). Periodicidade de troca: no máximo a cada 24 horas ou quando houver saturação da cobertura secundária. Composição: óxido de zinco, glicerina, água destilada e gelatina. Mecanismo de ação: auxilia o retorno venoso, diminui o edema, promove a proteção e favorece a cicatrização da úlcera. Indicação: úlcera venosa (estase) de perna e edema. Tipos de feridas: úlceras venosas e edema linfático. Contraindicações: úlceras arteriais e mistas (arteriovenosa). Não deveser utilizada em indivíduos com sensibilidade conhecida ao produto ou seus componentes (UFRGS, 2017, p. 25). Periodicidade de troca: semanal. Papaína3.3.10 Bota de Unna3.3.11 Algumas feridas podem desencadear devido infecção o biofilme no leito da ferida. Conheça mais sobre biofilme! Leia o artigo: “Biofilme e feridas crônicas: reflexões para o cuidado de enfermagem”. revistaenfermagematual.com [Link:https://revistaenfermagematual.com/index.php/revista/article/view/324] Para a retirada do tecido desvitalizado e a formação do tecido de granulação e, posteriormente, o tecido de epitelização para cicatrização completa da ferida, é necessário o desbridamento da ferida. Pode ser retirado de três formas: desbridamento autolítico (coberturas como hidrogel), Técnica de desbridamento3.4 link:https://revistaenfermagematual.com/index.php/revista/article/view/324 desbridamento químico ou enzimático (coberturas como colagenase ou papaína) e o desbridamento cirúrgico ou instrumental (POTTER; PERRY, 2018). No desbridamento (Quadro 5) autolítico ou enzimático, pode ser utilizado como auxílio a técnica Square: “[...] utiliza-se lâmina de bisturi para a realização de pequenos quadrados (2 a 5 mm) no tecido necrótico que poderão ser removidos. Também utilizada para facilitar a penetração de substância desbridante no tecido necrótico” (UFRGS, 2017, p. 15). Quadro 5 – Técnica para realização do desbridamento. 1-Material: Bandeja contendo pacote de curativo (duas pinças), cabo de bisturi, uma cuba pequena, lâmina de bisturi e soro fisiológico. 2-Lavar as mãos com água e sabão; reunir o material, e levá-lo próximo ao paciente; explicar ao paciente o que será feito; fechar a porta para privacidade do paciente; colocar o paciente em posição adequada expondo apenas a área a ser tratada; abrir o pacote com técnica asséptica. 3-Colocar sobre o campo estéril, gaze em quantidade suficiente, a lâmina de bisturi (com cabo de preferência); colocar gazes, compressas ou lençol próximos à ferida para reter a solução drenada; calçar luvas; remover o curativo anterior com uma das pinças usando soro fisiológico 0,9%; com a mesma pinça, pegar uma gaze e umedecê-la com soro fisiológico; começar a lavar a ferida da parte menos contaminada para a mais contaminada. 4-Lavar o leito da ferida com grande quantidade de soro fisiológico 0,9%, através de pequenos jatos com a seringa e agulha (a seringa com a agulha poderá ser substituída, se não tiver, fazer um pequeno corte na abertura do frasco de SF % o invés de abri-lo totalmente, ou colocando a seringa diretamente no frasco). 5-Iniciar o desbridamento da área desvitalizada pela borda, com auxílio da outra pinça, fazendo cortes superficiais ao redor do tecido desvitalizado. O desbridamento deve ser interrompido na presença de vascularização (sangramento é sinal de tecido vivo ou reação de sensibilidade à dor). 6-Limpar o local com SF 0,9% com auxílio da mesma pinça; embeber a gaze com pomada desbridante quando a ferida apresentar pouca quantidade de exsudato, espalhado por toda a área que ainda apresentar necrose ou fibrina residual. 7- Ocluir a ferida ou gaze estéril e coxim, se a ferida for muito exsudativa utilizar compressa e fixar com esparadrapo ou atadura quando necessário; colocar o setor em ordem; lavar as mãos; fazer evolução da ferida e anotações de materiais na papeleta do paciente. Fonte: Potter e Perry (2018, p. 415). De acordo com a Resolução COFEN nº 567/2018, o enfermeiro tem autorização para realizar o desbridamento cirúrgico conservado, ou seja, desbridamento superficial da ferida, utilizando pinças, tesoura e bisturi, desde que tenha habilidades técnicas e conhecimento científico para tal. Ufa, chegamos até aqui! Nesta unidade, você aprendeu como deve ser realizado a avaliação das feridas, a forma correta da limpeza, e o uso adequado das coberturas. Temos diversas coberturas que devem ser utilizadas a partir de uma avaliação criteriosa, coberturas para feridas secas e coberturas para feridas exsudativas ou úmidas, a depender do tipo de tecido presente no leito da ferida, como granulação, esfacelo e necrose. Exemplos de coberturas: Alginato de cálcio, sulfadiazina de prata, colagenase, hidrogel, AGE, petrolatum, carvão ativado e placa de hidrocoloide. Percebe-se que o conhecimento teórico se faz necessário para o tratamento adequado das feridas. Caso seja necessário, o enfermeiro pode realizar o processo de desbridamento do tecido desvitalizado, de forma superficial. Vamos para a próxima unidade? Recapitulando3.5 Exercícios de fixação Em tecido de granulação com exsudato, pode-se utilizar, EXCETO: Hidropolímeros com prata. Hidrogel. Prata nanocristalina. Ácidos graxos essenciais. Carvão ativado com prata. Em tecido desvitalizado com necrose seca, pode-se utilizar, EXCETO: Hidrocoloide. Hidrogel. Papaína. Colagenase. Prata nanocristalina. Avaliação, classificação e tratamento das queimaduras4 De acordo com Tortora e Derrickson (2017, p. 112), a queimadura é uma lesão... No momento de avaliação do paciente com queimadura, é essencial identificar possíveis lesões térmicas nas vias respiratórias, em razão de inalação de gases tóxicos ou lesão direta. Assim, é importante avaliar a face, para identificar obstrução progressiva e possível parada cardiorrespiratória (DUCAN et al., 2013). Após avaliação geral dos riscos de emergência, segue-se a coleta de dados por meio da história clínica e do exame físico dirigido. Colhem-se informações sobre a causa da queimadura: se ocorreu em ambiente fechado ou aberto; qual foi o mecanismo causador (líquido inflamável, explosivo, contato); qual o tempo de exposição, profundidade, extensão da área afetada; localização; presença de lesões ao redor ou em outros locais; fatores de risco; comorbidades e quais os primeiros socorros que já tenham sido inicializados (POTTER e PERRY, 2018). Avaliação inicial do paciente4.1 [...] tecidual produzida por calor excessivo, eletricidade, radioatividade ou por produtos químicos corrosivos que desnaturam (destroem) as proteínas das células da pele. As queimaduras destroem algumas das importantes contribuições da pele para a homeostasia – proteção contra invasão microbiana e desidratação, bem como regulação da temperatura do corpo. As queimaduras são classificadas de acordo com o grau de gravidade. As queimaduras são classificadas de acordo com a profundidade e os tecidos afetados, em primeiro, segundo e terceiro grau, conforme podemos observar a seguir. Inclui apenas a epiderme. É caracterizada por dor moderada e eritema (vermelhidão), mas não apresenta pápulas. As funções da pele permanecem intactas. Limpeza imediata com água fria pode diminuir a dor e a lesão produzida por uma queimadura de primeiro grau. Geralmente, a cicatrização de uma queimadura de primeiro grau ocorre de três a seis dias e pode ser acompanhada por descamação. Um exemplo de queimadura de primeiro grau é a queimadura moderada de sol. Classificação das queimaduras4.2 Queimadura de 1º grau4.2.1 Figura 28 – Queimadura de 1º grau. Fonte: Tumisu / pixabay.com Destrói a epiderme e parte da derme. Algumas das funções da pele são perdidas. Como resultado de uma queimadura de segundo grau, observam-se vermelhidão, formação de pústulas, edema e dor. Em uma pústula, a epiderme se separa da derme em decorrência do acúmulo de fluido entre as camadas. Estruturas associadas, como folículos pilosos, glândulas sebáceas e glândulas sudoríferas, geralmente não são prejudicadas. Se não existir infecção, queimaduras de segundo grau cicatrizam sem enxerto de pele, em aproximadamente três a quatro semanas, mas cicatrizes podem ocorrer. As queimaduras de primeiro e segundo graus são chamadas de queimaduras de espessura parcial. Queimadura de 2º grau4.2.2 http://localhost/PDF_generator/img/28.jpg Figura 29 – Queimadura de 2º grau. Fonte: Ducan et al. (2013, p. 1822). De espessura total, destrói a epiderme, derme e tela subcutânea. A maioriadas funções da pele é perdida. Essas queimaduras têm aparência diversificada, variando de feridas com colorações branco mármore a avermelhadas, e a carbonizadas e secas. Existe um edema pronunciado, e a região queimada fica insensível, porque as terminações nervosas sensitivas foram queimadas. A regeneração ocorre lentamente e muito tecido de granulação se forma antes de ser coberto por epitélio. Pode ser necessário enxerto de pele para promover a cicatrização e minimizar as cicatrizes. Queimadura de 3º grau4.2.3 Figura 30 – Queimadura de 3º grau profunda com exposição de tecido muscular e ósseo. Fonte: Ducan et al. (2013, p. 1822). O efeito da queimadura inicialmente se dá em nível da pele, mas pode gerar alterações sistêmicas e que ameaçam a vida do paciente. Elas incluem: http://localhost/PDF_generator/img/29.jpg http://localhost/PDF_generator/img/30.jpg Para avaliação da gravidade da queimadura, faz-se necessário determinar a profundidade e a extensão da área atingida, além da idade e a condição clínica geral. Segundo a American Burn Association, uma queimadura é grave quando atinge 10% da superfície corpórea do indivíduo, ou, se classificada como segundo grau, atingir 25% da superfície corpórea; além de qualquer queimadura que ocorra na face, mãos, pés ou períneo, incluindo órgãos genitais. Devemos ter atenção quando a área de queimadura ultrapassar 70% do corpo: é iminente o óbito do paciente (DUCAN et al, 2013). A regra de Walace – ou regra dos 9 – é mais utilizada para mensurar o tamanho das áreas afetadas, conforme é possível observar na Figura 31. (1) grande perda de água, plasma e proteínas do sangue, o que provoca choque; (2) infecção bacteriana; (3) redução da circulação sanguínea; (4) diminuição na produção de urina; e (5) diminuição das respostas imunes. (TORTORA; DERRICKSON, 2017, p. 113) Uma maneira rápida de estimar a área afetada por uma queimadura em um adulto é a regra dos nove: 1. Considere 9% se as superfícies anterior e posterior da cabeça e do pescoço foram afetadas. 2. Considere 9% para as superfícies anterior e posterior de cada membro superior (18% para ambos os membros). 3. Considere 4 vezes 9, ou 36%, para as superfícies anterior e posterior do torço, incluindo as nádegas. 4. Considere 9% para a superfície anterior e 9% para a superfície posterior de cada membro inferior até as nádegas (total de 36% para ambos os membros inferiores). 5. Considere 1% para o períneo. (TORTORA; DERRICKSON, 2017, p. 113) Figura 31 – Determinação da superfície queimada. Fonte: Tortora e Derrickson (2017, p. 114). Inicialmente, é essencial o resfriamento da pele para diminuir uma profundidade ou extensão maior da queimadura, em até dois minutos após ao acidente, com água corrente entre 8 e 15°C, em média 20 minutos. Não pode se colocar nada sobre a queimadura, devido ao risco de prender a pele e lesionar mais no momento da retirada. Não colocar gelo, pois o gelo causa, também, queimadura, caso a queimadura seja por agente cáustico. como soda cáustica. É importante retirar as roupas. Quando a região ocular for afetada, o ideal é lavar a área com solução fisiológica (POTTER; PERRY, 2018). Na internação hospitalar, o foco será na reposição volêmica, pois a queimadura pode gerar um choque hipovolêmico e realizar punção de um acesso calibroso. O ideal é m acesso central quando possível, e iniciar a infusão de Ringer Lactado, passagem de sonda vesical de demora para controle da diurese (normal entre 30 a 50 ml/h em adultos) (CHEEVER, 2016). Posteriormente, administrar analgesia. As queimaduras são muito dolorosas, pois agridem a derme, o local de vascularização e terminações nervosas. O medicamento comumente prescrito são os opiódes, que são potentes. Manejo clínico das queimaduras4.3 http://localhost/PDF_generator/img/31.jpg A fasciotomia também é um procedimento utilizado no manejo do queimado, consiste em uma incisão linear e longitudinal da fáscia muscular, ocorre em grandes queimados (queimadura elétrica), e pode gerar edema muscular. Caso não seja realizada a fasciotomia, o caso do paciente pode evoluir para rabdomiólise (necrose muscular e nervosa) (POTTER; PERRY, 2018). A lesão inalatória consiste em uma lesão térmica direta das vias aéreas. Quando gera edema da mucosa e obstrução glótica, será necessária intubação orotraqueal para prevenir uma parada cardiorrespiratória (CHEEVER, 2016). A limpeza mecânica direta é a melhor opção para promover a retirada das bactérias e do tecido desvitalizado no leito da ferida. Por ser um procedimento muito doloroso, é importante o uso de analgesia para realização do curativo. Os flictenas devem ser rompidos caso tenham exsudato purulento em seu interior, o ideal é a proteção do local para rompimento espontâneo. A cobertura de primeira escolha para as queimaduras é a sulfadiazina de prata, nos períodos iniciais. Após a formação de tecido desvitalizados, faz-se necessário o uso de coberturas desbridantes, além do uso intravenoso de antibioticoterapia nos casos de queimaduras grau 2 e 3, que são mais profundas (POTTER; PERRY, 2018). Em queimaduras de espessura total e distribuição circular nas extremidades, no pescoço ou no tórax podem causar comprometimento da circulação ou dificuldade respiratória. Constatando o problema é realizado pelo cirurgião a escarotomia, este procedimento consiste em uma incisão do tecido queimado, em toda a sua profundidade, não exigindo anestesia, apenas técnica asséptica, o sangramento e desconforto são mínimos. (DUCAN et al, 2013, p. 1826) Os cuidados ambulatoriais em pequena queimadura, onde a princípio qualquer lesão que reepiteliza em até duas semanas tem bom prognóstico funcional e estético. Lesões que cicatrizam entre duas e três semanas resultam em discromias e/ou retrações leves e já exigem uso preventivo de malhas compressivas. Lesões que ainda não cicatrizaram após três semanas certamente irão requer tratamento cirúrgico, devendo ser encaminhadas ao cirurgião plástico (DUCAN et al, 2013, p. 1826). Videoaula - Queimaduras: O que fazer? Que Providências tomar? Como fazer o Curativo? Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou clique aqui [https://www.youtube.com/embed/YG9p1yXrEjE] . https://www.youtube.com/embed/YG9p1yXrEjE Avaliação, classificação e tratamento das queimaduras4 Chegamos ao fim do nosso estudo. Nesta unidade você aprendeu sobre a classificação das queimaduras, o manejo do paciente com queimaduras profundas, na face ou na inalação, que geram lesão nas vias aéreas. Inicialmente, o manejo do paciente queimado envolve ações emergenciais, como umedecer o local com águas corrente ou soro fisiológico. Chegando em ambiente hospitalar, classificar o tipo e extensão da queimadura de acordo com o grau: quanto mais profundo, mais danos em musculatura, ligamentos e riscos de choque hipovolêmico. Posteriormente, é realizado o curativo com o desbridamento dos tecidos desvitalizados. Para auxiliar a regeneração tecidual, a pomada de sulfadiazina de prata; é a cobertura inicial básica. Nas queimaduras, o paciente sente extrema dor, por isso é importante o uso de analgésicos. Recapitulando4.4 Exercícios de fixação Sobre o manejo clínico nas queimaduras, marque a alternativa incorreta. Resfriamento da pele para diminuir uma profundidade ou extensão maior da queimadura. Não colocar nada sobre a queimadura. Realizar reposição volêmica. Aquecimento da pele para diminuir uma profundidade ou extensão maior da queimadura. Administrar analgesia. A fasciotomia: Consiste em uma incisão irregular e longitudinal da fáscia muscular. Consiste em uma incisão linear e longitudinal da fáscia muscular. Consiste em uma incisão vertical da fáscia muscular. Consiste em uma incisão linear e vertical da fáscia muscular. Consiste em uma incisão linear e longitudinal da fáscia patelar. Considerações finais5 Estamos finalizando nosso aprendizado e esperamos que você tenha aprendido os principais conceitos
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