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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS FACULDADE DE VETERINÁRIA DISCIPLINA DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO ÁREA: INSPEÇÃO E CONTROLE DE QUALIDADE DOS PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO Lenise Machado Alves Pelotas, RS, Brasil 2017 Relatório apresentado à disciplina de Estágio Curricular Supervisionado do curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal de Pelotas, como requisito parcial para a obtenção do título de Médico Veterinário. _____________________________________ Orientador acadêmico: Profa. Dra. Fernanda de Rezende Pinto _____________________________________ Acadêmico: Lenise Machado Alves Orientadores de estágio: Fiscal Estadual Agropecuário Sandra Vieira de Moura Responsável Técnico Ânderson Amauri da Costa Guarise Locais de estágio: Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Irrigação, 12ª Supervisão Regional de Pelotas, RS, Brasil Cooperativa Mista dos Pequenos Agricultores da Região Sul Ltda - COOPAR - Pomerano Alimentos, São Lourenço do Sul, RS, Brasil ii AGRADECIMENTOS Não faria sentido iniciar esse agradecimento sem primeiramente agradecer ao meu Deus, por estar me permitindo realizar mais um dos meus maiores sonhos: ser Médica Veterinária! Aos meus amados pais e ao meu irmão que sempre foram a minha referência e por sempre estarem comigo independente das dificuldades. No tão sonhado dia de minha formatura estarão levantando aquele belo canudo juntamente comigo! Ao ser humano incrível: minha orientadora acadêmica Prof.ª Fernanda de Rezende Pinto, que sempre acreditou em mim, me ajudou a crescer profissionalmente sempre com muito amor e respeito. Serei eternamente grata por termos nos encontrado nessa estrada da vida. Aos meus amados colegas da graduação e agora colegas da melhor profissão: Priscila, Alice, Henrique, Emmanuelle, Camila, Clarissa, Juliana e Wesley. O meu “muito obrigada” por toda a força nos estudos, puxões de orelha e gargalhadas. A minha família acadêmica do Laboratório do Centro de Controle de Zoonoses da Universidade Federal de Pelotas, obrigada pela paciência, conselhos e o aprendizado que cada um me proporcionou. A minha querida orientadora de estágio, Drª Sandra Vieira de Moura, que me contagiou não somente pelo seu amor pela profissão, mas por ser uma pessoa incrível, que conseguiu abrir um mundo cheio de possibilidades à minha frente e que se tornou um dos presentes que a vida me deu. Ao querido orientador de estágio Ânderson da Costa Guarise, obrigada pelos conselhos, pela tua simplicidade e respeito. Desejo-te todo o sucesso! As minhas amigas Larissa, Calita e Rafaella que estiveram comigo todos esses anos na torcida, tendo toda a paciência do mundo! Por fim, agradeço à Faculdade de Veterinária e a todos os mestres que ajudaram com cada “pedrinha” a construir meu caminho. iii SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS ............................................................................................vi RESUMO..............................................................................................................vii 1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................8 1.1. O papel do Médico Veterinário na segurança de produtos de origem animal.....................................................................................................................8 1.2. Descrição dos locais de estágio......................................................................9 2. ATIVIDADES REALIZADAS............................................................................13 2.1. Atividades realizadas na Secretaria de Agricultura, Pecuária e Irrigação – SEAPI...................................................................................................................13 2.2. Estabelecimentos de inspeção permanente..................................................14 2.2.1. Abatedouro - Frigorífico de bovinos............................................................14 2.2.2. Abatedouro - Frigorífico de suínos..............................................................15 2.2.3. Inspeção ante-mortem................................................................................16 2.2.4. Liberação de abate.....................................................................................18 2.2.5 Boas Práticas de Fabricação.......................................................................22 2.2.6. Procedimento Operacional Padrão (POP)..................................................25 2.2.6.1. POP – Manutenção das instalações e equipamentos.............................25 2.2.6.2. POP – Água de abastecimento................................................................25 2.2.6.3. POP – Águas residuais............................................................................26 2.2.6.4. POP – Controle integrado de pragas.......................................................26 2.2.6.5. POP – Procedimento padrão de higiene operacional..............................27 2.2.6.6. POP – Higiene e saúde dos funcionários................................................28 2.2.6.7 POP - Procedimento sanitário das operações..........................................28 2.2.6.8. POP – Controle de matérias-primas, ingredientes e material de embalagens .............................................................................................................................29 2.2.6.9. POP – Controle de temperaturas, calibração e aferição de instrumentos..........................................................................................................30 2.2.6.10. POP – Testes microbiológicos e físico-químicos....................................31 2.2.6.11. POP – Abate humanitário....................................................................... 31 2.2.6.12. POP – Recall...........................................................................................32 2.2.6.13. POP – Treinamento dos funcionários......................................................33 2.2.6.14. POP – Controle de fraudes......................................................................33 iv 2.7. Inspeção periódica..........................................................................................34 2.7.1. Laticínio 1.....................................................................................................34 2.7.2. Laticínio 2.....................................................................................................35 2.7.3. Laticínio 3.....................................................................................................35 2.7.4. Fábrica de Pescados....................................................................................35 2.8. Coletas oficiais................................................................................................35 2.8.1. Análises de água..........................................................................................36 2.8.2. Análises de produtos de origem animal.......................................................36 2.9. Outras atividades............................................................................................38 2.10. Lesão mais frequente nas linhas de inspeção..............................................38 2.11. Atividades realizadas na Cooperativa Mista dos Pequenos Agricultores da Região Sul Ltda – COOPAR – Pomerano Alimentos...............................................................................................................392.11.1. Laboratório de recepção de leite...............................................................40 2.11.2. Laboratório de microbiologia e físico-química de produtos prontos...................................................................................................................42 2.11.3. Programa de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC)................................................................................................................43 2.11.4. Assistência técnica a produtores aos produtores......................................45 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................46 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................46 ANEXOS Anexo A - Registro de atividades Anexo B - Relatório parcial Anexo C - Nota fiscal do produtor Anexo D - Requisição para análise de água Anexo E - Requisição para análise de carnes Anexo F- Folder educativo para produtores de leite - COOPAR v LISTA DE FIGURAS Figura 1. Entrada de acesso às instalações da unidade COOPAR - Pomerano Alimentos, Bairro Pedrinhas, 2017.....................................................................12 Figura 2. Alguns derivados produzidos nas Unidades da COOPAR - Pomerano Alimentos, São Lourenço do Sul........................................................................13 Figura 3. Queijo de porco produzido na Fábrica de Embutidos, situada na cidade de Pelotas, RS........................................................................................15 Figura 4. Linguiça calabresa defumada produzida na Fábrica de Embutidos, situada na cidade de Pelotas, RS......................................................................15 Figura 5. Suínos que foram encaminhados para a pocilga de sequestro devido à presença de prolapso retal no Abatedouro – Frigorífico de suínos em Pelotas, RS......................................................................................................................15 Figura 6. Suíno apresentando sinais de insensibilização (fase tônica), em um Abatedouro – Frigorífico de suínos na cidade de Pelotas, RS...........................20 Figura 7. Procedimentos realizados nos abates de bovinos e suínos pelos Abatedouros-Frigoríficos acompanhados em Arroio Grande e Pelotas, respectivamente.................................................................................................21 Figura 8. Quadro da frequência de análises físico – químicas e microbiológicas exigidas (SEAPI,2016) ......................................................................................36 Figura 9. Lesão de Hidatidose no pulmão (A) e lesão de Hidatidose no fígado (B).......................................................................................................................39 vi RESUMO Alves, Lenise Machado. Inspeção e Controle de Qualidade dos Produtos de Origem Animal. 2017. 50 f. Relatório de Estágio Curricular Supervisionado, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal de Pelotas. O estágio curricular foi realizado na área da inspeção e controle de qualidade dos produtos de origem animal, totalizando 450 horas. De 28 de agosto a 13 de outubro de 2017, o estágio foi realizado na Secretaria da Agricultura, Pecuária e Irrigação, 12ª Supervisão Regional de Pelotas - RS, supervisionado pela Fiscal Estadual Agropecuário Drª Sandra Vieira de Moura, totalizando 254 horas. Na oportunidade foram acompanhadas atividades referentes à inspeção sanitária e fiscalização de produtos de origem animal em Abatedouros - Frigoríficos, laticínios e fábrica de pescados na cidade de Pelotas e região. O acompanhamento de auditorias de Boas Práticas de Fabricação, atividades relacionadas com defesa e fiscalização sanitária animal, além da participação em eventos como feiras e exposições animais em atividades de fiscalização e admissão de animais e de treinamentos de colaboradores. A partir de 16 de setembro a 01 de dezembro de 2017, o estágio foi realizado na Cooperativa Mista dos Pequenos Agricultores da Região Sul Ltda - COOPAR - Pomerano Alimentos, São Lourenço do Sul - RS, junto ao controle de qualidade da indústria de laticínios, sendo supervisionado pelo Médico Veterinário Ânderson Amauri da Costa Guarise, responsável técnico pela indústria. Foram realizadas assistências aos produtores cooperados, além do acompanhamento de todas as atividades realizadas no laboratório de análises físico-química de recepção do leite e laboratório de análise físico-química e microbiológica de produtos prontos. O estágio curricular foi de grande valia pois pode-se traçar um paralelo entre o Serviço Oficial Veterinário e os diversos processos que envolvem o funcionamento de uma indústria de laticínios para que a mesma consiga autocontrolar-se. Além de proporcionar-me a oportunidade de compreender de forma mais detalhada o grande papel que o Médico Veterinário possui, não somente no âmbito da saúde animal, mas também em relação à segurança alimentar. Palavras-chave: Medicina Veterinária, produtos de origem animal, saúde pública. vii 8 1. INTRODUÇÃO 1.1. O papel do Médico Veterinário na segurança de produtos de origem animal Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), entre diversos fatores, a valorização de um produto no mercado está diretamente relacionada com a qualidade e com a ausência de agentes patogênicos que podem causar doenças à população. Com isso, a segurança alimentar é de grande importância para a promoção da saúde pública e para a expansão de mercados (BRASIL, 2016). Os produtos de origem animal (POA) compõem-se de uma variedade de nutrientes e de uma alta atividade de água. Formando assim, um ambiente favorável para o desenvolvimento microbiológico indesejável, levando por consequência a contaminação do leite, carne e seus derivados (DUARTE, 2011; WELKER, 2010). A contaminação do leite pode ser oriunda desde o processo inicial de ordenha até o beneficiamento pela indústria. Esta contaminação pode ocorrer devido às más condições de higiene na obtenção do leite, a higiene de utensílios e equipamentos, a saúde dos animais, o tempo e a temperatura de estocagem, além do transporte e das condições de estocagem industrial. (RIEDEL, 1992; SILVA et al., 2010). Processo semelhante ocorre com a carne, que mesmo obtida de animais com controle sanitário adequado, pode oferecer riscos de origem biológica, química e física provenientes dos processos de produção, transformação, armazenamento, transporte e condições de comercialização. É importante ressaltar que em todo o processo de produção ocorre a manipulação por indivíduos que podem colaborar para a contaminação da carne e seus derivados (ABRAHÃO et al., 2005). De acordo com a Food Agriculture Organization (FAO, 2013), houve o aumento da produção e consumo de POA e consequentemente a expansão econômica, evoluindo a comercialização desses alimentos não somente em nível nacional, mas também com direcionamento para o comércio exterior. Entretanto, desde a década de 1940 até o momento atual, foi constatado que 70% das enfermidades são oriundas de POA. Assim, o Médico Veterinário possui um papel importante na segurança alimentar e exerce sua função através de três órgãos competentes: MAPA, o qual 9 executa o Serviço de Inspeção Federal (SIF); Secretarias Estaduais de Agricultura, que exercem o Serviço de Inspeção Estadual (SIE) através da Divisão de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA) e Secretarias Municipais de Agricultura, que atuam no Serviço de InspeçãoMunicipal (SIM), cada um com suas devidas legislações (BRASIL, 1989). O SIF é responsável por garantir a qualidade, a segurança e o cumprimento das legislações dos POA, fiscalizando os estabelecimentos destinados ao comércio interestadual e/ou internacional. É de competência da DIPOA que anterior a março de 2017 era norteada pelo principal documento de normatização da inspeção e fiscalização de POA no Brasil, o chamado Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de POA (RIISPOA) aprovado pelo Decreto nº 30.691 de 29 de março de 1952 (BRASIL, 1952). Porém, este documento foi regulamentado e sofreu alterações pelo Decreto nº 9.013, de 29 de março de 2017. Outra função importante do SIF é a coordenação do Sistema Brasileiro de Inspeção de POA (SISBI-POA), que torna possível a comercialização dos produtos oriundos de estados e municípios distantes de sua área abrangência e que tem como objetivo a integralização do SIF, DIPOA e SIM, havendo a implantação, o monitoramento e o gerenciamento dos procedimentos de inspeção, além de padronizar as ações entre os poderes executivos. A inserção ao sistema é de forma voluntária, contudo, para ingressar é necessário atestar que o serviço de inspeção irá avaliar a qualidade e inocuidade dos produtos com a mesma eficiência do MAPA (BRASIL, 2011). Portanto, o estágio curricular supervisionado teve como objetivo acompanhar a atuação do Médico Veterinário, tanto no âmbito da inspeção quanto no controle de qualidade de produtos de origem animal. 1.2. Descrição dos locais de estágio O estágio curricular supervisionado foi realizado em dois locais, primeiramente na Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Irrigação (SEAPI), 12ª Supervisão Regional de Pelotas, localizada na Rua Barão de Santa Tecla, 469, Pelotas-RS, na Divisão de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA) e na 10 Defesa Sanitária Animal (DSA), no período de 28 de agosto a 14 de outubro, totalizando 254 horas. A DIPOA e a DSA estão inseridas em um dos nove departamentos que compõem a SEAPI, o Departamento de Defesa Animal (DDA). O DDA atua em defesa sanitária nas áreas animal, vegetal, inspeção de produtos e insumos agropecuários. Suas ações são decorrentes de programas de políticas federais e estaduais possuindo como base a vigilância, o monitoramento e a inspeção sanitária, de acordo com os parâmetros técnicos recomendados pelos organismos nacionais e internacionais, de forma a promover a sanidade e a agregação de valor aos produtos agropecuários, tornando-os mais valorizados. Levando assim, a uma capacidade de competitividade e atendendo as exigências sanitárias dos mercados que estão cada vez mais rigorosos. Entre seus diversos objetivos, pode-se citar a promoção da saúde pública com o consumo de produtos de origem animal de qualidade e segurança alimentar; estímulo à conscientização sanitária dos produtores e consumidores; coordenação e fiscalização do apoio ao fomento da genética animal e fisiologia da reprodução; gerenciamento e fiscalização de todos os variados produtos de origem animal processados em estabelecimentos industriais do Rio Grande do Sul; aprovação do registro de empresas, produtos e rótulos; desenvolvimento de programas de sanidades suinícola, avícola, apícola, de animais aquáticos, de ovinos, caprinos e equinos; desenvolvimento de programas de prevenção e erradicação da febre aftosa, de controle e erradicação da brucelose e tuberculose, de controle da raiva herbívora e outras encefalopatias e doenças parasitárias; gerenciamento da inspeção e manutenção do padrão sanitário de todos os rebanhos e plantéis de animais no Rio Grande do Sul como bovinos, ovinos, equinos, suínos, caprinos, aves, etc.; emissão de permissões de trânsito animal; realização do agendamento de eventos agropecuários de destaque do estado, organizando o calendário oficial das exposições e feiras; recebimento e conferição da documentação dos animais participantes dos eventos agropecuários; fiscalização dos animais durante os eventos em todas as suas etapas de admissão, julgamento, comercialização e emissão de Guia de Trânsito Animal (GTA); criação de histórico e informações durante e ao final das feiras e exposições (RIO GRANDE DO SUL, 2017). No Rio Grande do Sul, o DDA é representado regionalmente pela Inspetoria Veterinária e Zootécnica (IVZ), sendo denominada como Inspetoria de Defesa 11 Agropecuária (IDA), ou Posto Veterinário e Zootécnico, servindo como unidades locais da SEAPI. Constituem-se de 248 IDA’s, distribuídas em 19 supervisões regionais que são coordenadas pelo seu nível central, localizada em Porto Alegre. O nível central do DDA compõe-se de seis divisões: Inspeção de Produtos de Origem Animal; Defesa Sanitária Animal; Controle e Informações Sanitárias; Defesa Sanitária Vegetal; Inspeção de Produtos de Origem Vegetal; Insumos e Serviços Agropecuários. A Supervisão Regional de Pelotas tem ação em 24 municípios, sendo que desses, 17 possuem IDA, três encontram-se instalados em postos Veterinários e 4 possuem atendimento realizado por IDAs de cidades vizinhas (RIO GRANDE DO SUL, 2017). No período inicial do estágio até a primeira semana do mês de outubro, as atividades de estágio concentraram-se no acompanhamento da Médica Veterinária e Fiscal Estadual Agropecuário Claudia Simoni, responsável por um Matadouro- Frigorífico de bovinos, suínos e Fábrica de Embutidos, situado na cidade de Pelotas, RS. Posteriormente, as atividades de estágio ocorreram sob a orientação da Médica Veterinária e Fiscal Estadual Agropecuário Sandra Vieira de Moura, na sede regional de Pelotas, na Divisão de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA) e no Departamento de Defesa Animal, lotação em Arroio Grande. Atualmente, a IDA de Arroio Grande é composta por um Técnico Agrícola, um Auxiliar Agropecuário, três Guardas Sanitários, um Médico Veterinário responsável pela defesa sanitária animal e uma Médica Veterinária responsável pela fiscalização de cinco estabelecimentos em cidades próximas: um Matadouro Frigorífico (Arroio Grande, RS), uma fábrica de conservas de pescados (Arroio Grande, RS) e três laticínios (localizados nas cidades de Herval - RS, Pedras Altas - RS e Piratini - RS). Assim, as atividades realizadas no DIPOA ocorreram nestes estabelecimentos anteriormente citados. O segundo local do estágio curricular supervisionado foi realizado na Cooperativa Mista dos Pequenos Agricultores da Região Sul Ltda – COOPAR – Pomerano Alimentos, unidade do Bairro Pedrinhas totalizando 196 horas. A COOPAR surgiu devido a sua ligação ao trabalho do Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor (CAPA), em São Lourenço do Sul e região onde há 25 anos possui suas atividades direcionadas à produção de grãos. A Cooperativa teve início no ano de 1982, porém, intensificou-se a partir de 1985 com a instalação de um escritório em São Lourenço do Sul (COOPAR, 2017). 12 Atualmente, possui duas fábricas de laticínios onde a primeira iniciou suas atividades em 2010 e está localizada na colônia Boa Vista, à 19 quilômetros da BR 116, no interior da cidade de São Lourenço do Sul. Nesta unidade, são produzidas uma variedade de queijos: queijo prato, queijo lanche, queijo gouda e queijo colonial. Além de bebida láctea, creme de leite pasteurizado (nata), doce de leite e leite UHT. A segunda unidade da COOPAR, inaugurada no ano de 2012 situa-se na rodovia BR 116, quilômetro 116, número 462, S/N- Bairro Pedrinhas, possui 32 hectares de extensão onde são arrendados do grupo Lactalis do Brasil (reúne marcas de produtos lácteos – entre elas as nacionais Balkis, Batavo, BoaNata, Cotochés, DaMatta, DoBon, Elegê, Poços de Caldas e Santa Rosa e as internacionais Président, Parmalat e Galbani), onde a unidade da COOPAR é utilizada para a captação do leite que é encaminhado para a cidade de Teutônia– RS. A unidade da COOPAR, situada no Bairro Pedrinhas, recebe diariamente um fluxo médio de 30 caminhões de leite à granel totalizando 230 mil litros de leite, onde 100 mil litros são utilizados como matéria-prima à produção, no período de segunda- feira à sexta-feira (Figura 1). Figura 1. Entrada de acesso às instalações da unidade COOPAR- Pomerano Alimentos, Bairro Pedrinhas, 2017. Possui cerca de 1000 cooperados distribuídos ao longo de 20 cidades do Rio Grande do Sul. Nesta unidade são produzidos queijo mussarela em peças e fatiado, queijo fundido, leite pasteurizado, leite a granel pré – beneficiado integral, bebida láctea, nata em baldes de três quilos e potes de 300 gramas, requeijão cremoso de 200 gramas além de creme de leite a granel de uso industrial. Alguns produtos seguem ilustrados conforme (Figura 2). O soro oriundo da produção é comercializado para outras indústrias como matéria-prima para a fabricação de 13 bebida láctea além de ser comercializado para produtores de suínos da região. A COOPAR – Pomerano Alimentos está registrada no SIF sob o número 850, assim, os variados produtos Pomerano são comercializados para 90 cidades, sendo 88 localizadas no estado do RS e as demais localizadas nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Figura 2. Alguns derivados produzidos nas Unidades da COOPAR-Pomerano Alimentos, São Lourenço do Sul-RS. 2. ATIVIDADES REALIZADAS 2.1 Atividades realizadas na Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Irrigação - SEAPI A DIPOA é o órgão da SEAPI responsável pela inspeção de produtos de origem animal do Estado do RS. Através deste órgão, são desenvolvidas atividades de verificação da qualidade da água utilizada pela indústria, higiene do estabelecimento, manutenção das instalações e equipamentos, uso de aditivos e controle da formulação de produtos, implantação e verificação das Boas Práticas de Fabricação (BPF), análise dos rótulos utilizados nos produtos e se estes obedecem as exigências estabelecidas pela legislação. Somado a isso, há a fiscalização do manejo, abate humanitário e a saúde dos animais, coleta de amostras tanto dos produtos de origem animal quanto de amostras de água para a certificação de que os mesmos estão dentro dos padrões. Estes estabelecimentos funcionam sob fiscalização do Serviço de Inspeção Oficial Estadual, sendo obrigatória a inspeção permanente de um Médico Veterinário Oficial (MVO). Segundo o art. 9º do Decreto Estadual nº 39688/1999 e o Art. 11 do Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal 14 (RIISPOA), a inspeção estadual é permanente em estabelecimentos que realizam abate, logo, o responsável pela inspeção local deve estar presente previamente ao início das atividades para realizar a inspeção ante - mortem dos animais, além da verificação e liberação dos diversos setores da indústria já mencionados, para que haja a realização das atividades referentes ao processo de abate. Nos estabelecimentos processadores como laticínios, fábricas de conserva e entrepostos, a sua presença é periódica e realizada por meio de supervisões (BRASIL, 2017; RIO GRANDE DO SUL, 1999). 2.2. Estabelecimentos de inspeção permanente 2.2.1. Abatedouro - Frigorífico de bovinos De acordo com o art. 17 do RIISPOA, Abatedouro – Frigorífico é definido como “o estabelecimento destinado ao abate dos animais produtores de carne, à recepção, à manipulação, ao acondicionamento, à rotulagem, à armazenagem e à expedição dos produtos oriundos do abate, dotado de instalações de frio industrial, podendo realizar o recebimento, a manipulação, a industrialização, o acondicionamento, a rotulagem, a armazenagem e a expedição de produtos comestíveis e não comestíveis” (BRASIL, 2017). Durante seis semanas, foram acompanhadas as atividades em um Abatedouro - Frigorífico, localizado na cidade de Arroio Grande, que possui a capacidade de abate de 30 bovinos e 30 ovinos por dia e capacidade horária de 10 bovinos e 30 ovinos, onde a frequência de abate varia de 2 a 3 vezes por semana. O Abatedouro – Frigorífico em questão é definido como um estabelecimento de pequeno porte, com administração familiar e conta com cerca de 14 colaboradores, um Médico Veterinário responsável técnico e equipe responsável pelo controle de qualidade e desenvolvimento de BPF. Possui 6 produtos aprovados: carne resfriada de bovino com osso e sem osso, carne resfriada de ovino com osso, miúdos resfriados de bovino e de ovino, carne industrial (carne de cabeça). A empresa é registrada no Serviço de Inspeção Estadual, sob número 125 e comercializa seus produtos na cidade de Arroio Grande e cidades vizinhas, sendo habilitado para comércio em todo o Estado do RS. 15 2.2.2. Abatedouro - Frigorífico de suínos Durante nove dias, foram acompanhadas as atividades em um Abatedouro – Frigorífico, localizado na cidade de Pelotas, onde possui 2 câmaras de resfriamento com capacidade de 126 e 90 carcaças, respectivamente. No período de acompanhamento das atividades, foram abatidos cerca de 120 animais diariamente. Possui 50 colaboradores, equipe responsável pelo desenvolvimento e implantação das BPF e Médico Veterinário responsável técnico pelo estabelecimento. O abate ocorre no período da manhã e as atividades da fábrica de embutidos iniciam à tarde, que por sua vez, é inspecionada de forma periódica pela Fiscal Estadual Agropecuário. A fábrica possui 21 produtos aprovados, como diversos tipos de linguiças, cortes de carne, queijo de porco, morcela, bacon, entre outros produtos (Figura 3 e 4). A empresa é registrada no Serviço de Inspeção Estadual sob o número 117 e comercializa seus produtos na cidade de Pelotas e cidades vizinhas, sendo habilitado para comércio em todo o Estado do RS. Figura 3. Queijo de porco produzido na Fábrica de Embutidos, situada na cidade de Pelotas, RS. Figura 4. Linguiça calabresa defumada produzida na Fábrica de Embutidos, situada na cidade de Pelotas, RS. 16 2.2.3. Inspeção ante-mortem A inspeção ante mortem era de responsabilidade da Médica Veterinária do serviço oficial (MVO) que realizava o exame visual dos animais, onde era observado o comportamento e estado geral dos mesmos, identificando aqueles que poderiam apresentar alguma enfermidade que comprometesse seu bem-estar ou conferissem riscos à saúde pública. Nesses casos, os animais eram separados do lote, e encaminhados para o curral de observação, para realização de um exame clínico mais especifico pela MVO. No momento da chegada dos animais aos estabelecimentos anteriormente mencionados, era realizada a conferência da Guia de Trânsito Animal (GTA) e da Nota Fiscal do Produtor (NFP) (Anexo C) por um Médico Veterinário ou funcionário treinado, conforme está previsto no Art. 5 do RIISPOA (BRASIL, 2017). Assim, era observado se a procedência, destino, número da GTA, quantidade, sexo e idade estimada dos animais havia concordância com o que estava carregado no caminhão e com os dados descritos na respectiva GTA, também era verificado se a validade da GTA e os certificados sanitários estavam de acordo com a idade e espécie animal. Além disso, em casos de terapia medicamentosa exigia-se a especificação do medicamento e se os períodos de carência eram respeitados de acordo com o princípio ativo utilizado. As documentações estando adequadas, os animais eram separados por lote onde aguardavam nova inspeção ante mortem minutos anteriores ao abate pelo serviço oficial. A conferência e a exigência destes documentos são de grande importância, pois, assim é possível combater fraudes comuns a essa atividade como o abigeato, abate clandestino, sonegação de impostos. Além do controle da sanidade dos animais que evitam a disseminação de doençase auxiliam no processo de segurança dos alimentos de origem animal (AGRICULTURA, 2015). Após o descarregamento dos animais nos currais ou pocilgas de chegada, era acompanhada a verificação da sanidade dos lotes feita pela fiscal do serviço oficial. Se algum animal apresentasse qualquer sinal clínico fora dos padrões fisiológicos (prolapso retal, prostração, dispneia, entre outros), ele era encaminhado ao curral ou pocilga de sequestro, para ser observado de forma mais precisa, conforme (Figura 5). Os demais animais permaneciam no curral ou pocilga de 17 descanso. Se ocorresse alguma fratura ou algum fator que afetasse o bem-estar do animal, este, apresentando normotermia, era submetido ao abate de emergência sendo retirados os Materiais Específicos de Risco (MER), (medula espinhal, olhos, cérebro), eram inspecionadas as vísceras vermelhas, abdominais e cabeça. Apresentando alteração na temperatura corpórea, este era encaminhado ao abate de emergência e também havia a inspeção ante-mortem, porém, a carcaça e as vísceras eram descartadas, conforme o Art. 96 do RIISPOA (BRASIL, 2017). Figura 5. Suínos que foram encaminhados para a pocilga de sequestro devido presença de prolapso retal no Abatedouro – Frigorífico de suínos em Pelotas, RS. Em relação aos currais e pocilgas, era observado pela MVO se a estrutura apresentava bom estado de conservação e higiene, obedecendo às particularidades de cada espécie animal, quantidade suficiente de bebedouros em relação ao número de animais, água em quantidade e qualidade adequadas. Além disso, era verificado se o tempo de jejum e dieta hídrica estavam no intervalo máximo de 24 horas, não podendo ultrapassar esse tempo sem alimentação pois os frigoríficos acompanhados seguem obedecendo as normas estabelecidas pelo RIISPOA (1952), embora a Legislação vigente (2017), não exija período mínimo ou máximo para o descanso. Também era observada a postura dos funcionários quanto ao manejo realizado na condução dos animais ao abate, utilizando primeiramente bandeiras ou chocalhos, havendo extrema necessidade, era utilizado o bastão de choque que deveria ser utilizado somente abaixo dos jarretes dos animais. Para realizar o controle adequado das atividades mencionadas nos Abatedouros - Frigoríficos acompanhados havia o preenchimento semanal de uma planilha de abate 18 humanitário e bem-estar animal e assim era gerado relatórios de não conformidades pela Fiscal Estadual Agropecuário, havendo necessidade. 2.2.4. Liberação de abate Após o exame ante mortem, a Fiscal Estadual Agropecuário aguardava que a funcionária responsável pelo controle de qualidade chamasse-a para acompanhar a liberação do abate. Na liberação, pôde-se acompanhar a fiscalização das Boas Práticas de Fabricação (BPF) e Procedimentos Padrões de Higiene Pré-Operacional e Operacional (PPHO) que de acordo com a Portaria n° 368, de 4 de setembro de 1997 do MAPA, prevê cuidados com a matéria prima, produtos originários do estabelecimento e todos os procedimentos relacionados à higiene das instalações, equipamentos e funcionários e que devem estar adequadas para que haja segurança alimentar e o abate possa ser liberado (BRASIL, 1997). Assim, sempre era verificado se os estabelecimentos acompanhados apresentavam câmara fria em condições estruturais e higiênico-sanitárias adequadas para receber o volume total de abate diário, além de ser realizada a verificação das condições higiênico-sanitárias de todos os setores da indústria, através do preenchimento da planilha de PPHO. Na verificação desta planilha, há três fatores fundamentais a serem observados e que atendem à Portaria 2.914 de 12 de dezembro de 2011 do Ministério da Saúde: a aferição da temperatura dos esterilizadores de facas e serras em três pontos aleatórios, que devem estar com no mínimo 85ºC, a aferição da concentração de cloro residual na água utilizada em todos as atividades realizadas nos setores do estabelecimento, que estará em conformidade, apresentando valores no intervalo de 0,2 e 2 partes por milhão (p.p.m.) (BRASIL, 2011). Somado a isso, verificava-se, de maneira minuciosa, as condições higiênicas do estabelecimento, onde não é aceita a presença de sujidades, como resíduos do abate anterior em facas, mesas e paredes, além do acúmulo de água ou condensação. Caso houvesse alguma não conformidade, esta era anotada na planilha de PPHO, constando o horário da verificação, conduta do fiscal e a ação corretiva realizada pelo estabelecimento (CORTESE, 2016). 19 Durante a avaliação da planilha, era permitida somente a presença da funcionária responsável pelo controle de qualidade e do funcionário responsável pela higienização, este último, para a realização das ações corretivas. Posteriormente, uma nova inspeção era feita, e estando tudo em conformidade, a MVO retirava o lacre colocado ao final do abate anterior e autorizava o funcionário o funcionário responsável pelos currais/pocilgas a dirigir os animais para o banho de aspersão que deve possuir pressão não inferior a 3 atm e água na concentração de cloro de 15 ppm com a finalidade de diminuir o estresse pré-abate e a carga microbiana, devido as sujidades presentes na superfície corpórea do animal e assim possibilitando o processo de esfola de forma higiênica (STEINER, 1983). Após o banho de aspersão, os animais eram dirigidos à seringa e por fim adentravam ao box de atordoamento onde ocorria a insensibilização de acordo com a espécie a ser abatida. No matadouro-frigorífico de bovinos, o método utilizado é a pistola pneumática de dardo penetrativo. A pistola deve ser posicionada no plano frontal da cabeça do animal, no ponto do cruzamento entre duas linhas imaginárias, traçadas entre o olho e a base do chifre oposto. Assim, a força causada pelo impacto do dardo contra o crânio do animal produzirá concussão cerebral, assegurando que o mesmo não realize a transdução do estímulo doloroso e assim haja ausência da dor (LUDTKE et al., 2012). Os sinais de correta insensibilização é a flexão dos membros posteriores, membros dianteiros estendidos, ausência de respiração rítmica, pupilas dilatadas, mandíbula relaxada e língua protusa, além da ausência do reflexo de endireitamento da cabeça e ausência de vocalização. Os membros posteriores podem movimentar- se de forma incoordenada sendo um sinal fisiológico, chamado pedaleio (LUDTKE et al., 2010a). Para a insensibilização ou atordoamento no Abatedouro-Frigorífico de suínos, o método utilizado é a insensibilização de dois pontos, chamada de eletronarcose onde dois eletrodos são colocados entre os olhos e a inserção das orelhas (região das têmporas) posicionados lateralmente à cabeça do animal. Esses eletrodos transmitem uma corrente elétrica através do cérebro do animal, impedindo sua atividade e promovendo a despolarização imediata dos neurônios, provocando a inconsciência e impedindo que haja tradução do estímulo da dor. 20 Ocorrendo correta insensibilização, o animal apresentará duas fases distintas: a fase tônica que dura cerca de 10 a 20 segundos, onde ocorre a contração muscular, flexão do membros posteriores e extensão dos membros anteriores, ausência de respiração rítmica na região do focinho e flanco, ausência de reflexo corneal, midríase e ausência de reflexo à sensibilidade à estímulos dolorosos (Figura 6). Logo após, inicia-se a fase clônica que dura cerca de 15 a 45 segundos, onde o animal apresenta ausência de reflexo palpebral e de respiração rítmica, reflexo de pedaleio e relaxamento da musculatura (LUDTKE et al.,2010b). Todos estes sinais descritos, eram observados pela Fiscal Estadual Agropecuário (FEA) para avaliar a eficiência da insensibilização, em caso de não conformidades, estas eram corrigidas imediatamente. Figura 6. Suíno apresentando sinais de insensibilização(fase tônica), em um Abatedouro – Frigorífico de suínos na cidade de Pelotas, RS. Os animais ao caírem na área do vômito, eram içados e percorriam a canaleta da sangria e assim havia o corte dos grandes vasos (veias jugulares e artérias carótidas), que para os bovinos deve ocorrer no máximo 1 minuto após a insensibilização e 30 segundos para os suínos (BRASIL, 2000). Havendo sinais que sugiram má insensibilização, o estabelecimento deve possuir equipamento de emergência em local de rápido e fácil acesso e de acordo com a espécie abatida para que a insensibilização seja realizada novamente. Nos dias de acompanhamento do abate, foi observado um bovino apresentando sinais de insensibilização (como a tentativa de reerguer o corpo e vocalização) e por consequência foi utilizada a pistola de emergência. Estes métodos de insensibilização estão previstos na Instrução normativa nº 3 de 2000, que rege o abate humanitário de animais de açougue (BRASIL, 2000). As demais atividades 21 realizadas no decorrer dos fluxogramas de abate de bovinos e suínos seguem de forma sucinta na (Figura 7): Figura 7. Procedimentos realizados nos abates de bovinos e suínos pelos Abatedouros-Frigoríficos acompanhados em Arroio Grande e Pelotas, respectivamente. Após o início das atividades de abate, a Fiscal Estadual Agropecuário adentrava novamente às instalações e preenchia uma nova planilha chamada de Procedimento Padrão de Higiene Operacional que contém as mesmas informações da planilha de PPHO, com o objetivo de observar se os parâmetros estabelecidos estavam sendo obedecidos pelos funcionários durante as atividades no Abatedouro - Frigorífico. O mesmo era realizado pela funcionária do controle de qualidade, porém, ela realizava as aferições diversas vezes durante as atividades. A planilha de PPHO e a de Inspeção ante mortem eram preenchidas antes da liberação do abate, porém, somada a elas eram utilizadas mais nove planilhas: Controle de temperaturas e cloro residual (preenchimento diário); abate humanitário Fluxograma de Abate de Suínos Fluxograma de Abate de Bovinos 22 e bem estar animal (preenchimento semanal); treinamento, saúde e higiene dos funcionários; águas residuais; controle de pragas (preenchimento mensal); recebimento e expedição de produto pronto e matéria prima (preenchimento trimestral); instalações, equipamentos e ambiente (preenchimento quadrimestral) e controle de rotulagem (preenchimento semestral). Todas as não conformidades eram compiladas mensalmente e enviadas em forma de notificação para a empresa, que ficava com a responsabilidade de retornar com ações corretivas por um prazo máximo de cinco dias. A qualquer momento, a fiscalização local poderá notificar e/ou emitir autos de infração quando ocorrer não conformidades nos procedimentos de abate ou falhas nas condições higiênico- sanitárias da empresa. Além das atividades de inspeção, também houve o acompanhamento do processo de inserção e fiscalização do Manual de Boas Práticas de Fabricação e implantados por Laticínios e Fábrica de Pescados. 2.2.5. Boas Práticas de Fabricação Com a publicação da Portaria 368/1997 – MAPA e considerando a Resolução Mercosul GMC n° 80/1996, foi aprovado o regulamento técnico sobre condições higiênico-sanitárias e de BPF para estabelecimentos que industrializam alimentos sob Inspeção Federal. E em 2007, com a publicação da Portaria Estadual n° 406/2015, tornou-se obrigatória a implantação das BPF em todos os estabelecimentos registrados na DIPOA. No manual de BPF de cada empresa, o processo de fabricação, instalações, equipamentos e procedimentos de abrangência geral são descritos de forma detalhada. Junto ao manual de BPF, são descritos os procedimentos operacionais padrão (POP), que consistem na descrição minuciosa e de fácil compreensão a qualquer indivíduo que consultá-los, sobre as instruções, técnicas e operações rotineiras a serem utilizadas que objetiva a proteção, a garantia de preservação da qualidade e da inocuidade desde a matéria-prima ao produto final, além da segurança dos manipuladores. As BPF são ferramentas necessárias para que sejam atingidos níveis adequados de segurança alimentar, pois entende-se como processos e procedimentos que visam controlar as condições operacionais dentro de um 23 estabelecimento desde a recepção da matéria-prima até o momento em que o produto final é expedido e chega à mesa do consumidor. São também definidas como um conjunto de normas e de procedimentos destinados a garantir a elaboração de produtos inócuos e que tenham sido manipulados em todas as suas etapas de preparo e armazenados em condições sanitárias adequadas. Nesse método é indicado de forma clara o que é correto de se fazer, com o objetivo de diminuir os riscos de contaminação dos alimentos, motivo pela qual um programa adequado de BPF incluirá os procedimentos de controle, monitoramento e frequência, ações corretivas, verificação, registro e responsável. A elaboração do Manual de BPF deve atender a realidade de cada empresa, permanecendo à disposição dos órgãos oficiais fiscalizadores e dos manipuladores caso haja a necessidade de consulta (AGRICULTURA, 2017). Os Laticínios e a Fábrica de Pescados ainda estão em processo de implantação do Manual de BPF. Ao contrário, os Abatedouros – Frigoríficos acompanhados possuem manual de BPF onde atendem aos requisitos pertencentes às Boas Práticas de Fabricação e aos Procedimentos Operacionais Padrão referentes ao: abate humanitário, água de abastecimento, águas residuais, controle de pragas, higiene e saúde dos funcionários, treinamento dos funcionários, procedimento padrão de higiene operacional, controle de temperaturas, calibração e aferição de instrumentos, manutenção das instalações e equipamentos, controle de matérias-primas, ingredientes e material de embalagens. Segundo a Portaria da SEAPI n° 152/2016, além dos procedimentos descritos anteriormente, três novos POP’s passaram a serem obrigatórios em todos os estabelecimentos nas auditorias realizadas a partir de 01 de janeiro de 2017, sendo eles: manutenção das instalações e equipamentos, procedimento sanitário das operações (PSO), recall e testes microbiológicos e físico-químicos. Além destes, para laticínios, usinas e micro usinas de beneficiamento e industrialização de leite, frigoríficos de aves, fábricas de conservas e entrepostos de pescados o POP 14 passou a ser obrigatório (LEGISWEB, 2016). Ambos estabelecimentos possuem uma equipe de controle de qualidade, onde há funcionários responsáveis pelo monitoramento dos procedimentos e ações corretivas imediatas, uma pessoa do setor administrativo responsável pela manutenção dos registros, notificações e verificação de prazos para a execução de melhorias, Médico Veterinário responsável técnico, funcionária responsável pela 24 qualidade, que fazem a verificação dos registros e atuam na execução das ações corretivas e tomada de decisões para melhorias dos processos da empresa. Essa equipe realiza o acompanhamento e asseguram o cumprimento das BPF, além dos POPs. As MVO responsáveis pelos estabelecimentos descritos possuem a obrigação de comparecer ao Abatedouro - Frigorífico todos os dias que houver a realização de abate, realizar a verificação de todos os setores para a liberação do abate (PPHO), ter conhecimento, acompanhar e avaliar o processamento de todos os produtos, preencher as planilhas de verificação, notificações e autos de infração. Além dessas diversas responsabilidades pertencentes ao Serviço Veterinário Oficial, esses profissionais também promovem vistorias e auditorias com o objetivo de determinar o cumprimento dos requisitos higiênico-sanitários e tecnológicos previstos no Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem AnimalEstadual, leis, decreto-lei, resoluções, portarias, regulamentos técnicos, instruções normativas, instruções de serviço e POPs do serviço de inspeção estadual. Durante as vistorias são avaliadas se as condições estruturais das instalações e equipamentos estão de acordo com as normas técnicas estabelecidas pelo DIPOA e se a empresa está cumprindo os prazos estabelecidos em casos do SVO julgar necessário a manutenção de instalações e equipamentos. Nas auditorias é observado in loco se há a correspondência entre as atividades realizadas pelo estabelecimento com o que é descrito no Manual de BPF da empresa além da verificação de documentações (licenças do organismo oficial do meio ambiente e prefeitura, plantas baixas, memoriais, atestado de saúde dos funcionários, entre outros). As auditorias são realizadas de acordo com as frequências definidas pelo DIPOA, onde deve ser realizada com no mínimo dois auditores fiscais (não incluindo o MVO responsável pelo estabelecimento a ser avaliado). A inspeção local, além das atividades anteriormente mencionadas, realiza a verificação oficial dos programas de autocontrole, cabendo ações fiscais, como a emissão de notificações, autos de infração, interdições de seções, equipamentos ou processos, paralização ou suspensão de atividades da empresa, quando detectadas não conformidades (BRASIL, 1989). 25 Os POP’s são de grande importância, assim, os procedimentos exigidos pela DIPOA serão descritos a seguir: 2.2.6. Procedimento Operacional Padrão (POP) 2.2.6.1. POP – Manutenção das instalações e equipamentos Este procedimento tem por função preservar as características originais das instalações e equipamentos do estabelecimento, que deve apresentar acabamento adequado e instalações e equipamentos de formas funcionais. Este POP torna-se necessário por possuir grande importância e influência para a inocuidade dos produtos. Assim, há o controle da manutenção de cada equipamento utilizado de acordo com a necessidade específica do mesmo, verificação e correção em casos de equipamentos e utensílios que apresentam mau funcionamento ou quebra (luminárias, serras, pasteurizadores, entre outros). A rapidez do reparo está diretamente relacionada com o impacto que irá gerar sobre a inocuidade dos produtos (falha no clorador, pasteurizador, câmaras de estocagem), assim, nesses casos ocorre paralisação ou isolamento das atividades pelo SVO até que o reparo seja realizado. Em contrapartida, no caso de falhas em equipamentos que não entrem em contato com o alimento é registrada em planilha e agenda-se a ação corretiva que será efetuada pela equipe responsável pela manutenção do estabelecimento. A empresa deve possuir um cronograma de manutenção de acordo com a necessidade de cada equipamento e estrutura. O FEA local também realiza a verificação e fiscalização dos procedimentos e havendo alguma não conformidade este realiza ações fiscais ao estabelecimento em questão. 2.2.6.2. POP – Água de abastecimento De acordo com o MAPA, “o Matadouro – Frigorífico deve dispor de rede de abastecimento de água para atender suficientemente as necessidades do trabalho industrial e as dependências sanitárias, e, quando for o caso, de instalação para o tratamento da água” (BRASIL, 1952). Além disso, a água utilizada na indústria deve 26 conferir segurança para ser utilizada direta ou indiretamente com os produtos, sendo este, o objetivo deste POP. Neste procedimento ocorre a avaliação da concentração de cloro da água, pH, se o clorador automático apresenta estado de conservação e funcionalidade adequados, conservação e higiene dos reservatórios e se está sendo realizado o monitoramento, verificação e ações corretivas pela empresa. O SVO além de verificar o POP, realiza coletas oficiais onde é observado os padrões físico-químicos (análise semestrais) e padrões microbiológicos (análises bimestrais) estão de acordo com a Portaria n°2.914 de 12 dezembro de 2011 do Ministério da Saúde (BRASIL, 2011). 2.2.6.3. POP – Águas residuais Apresenta o intuito de descrever os procedimentos de tratamento de águas residuais, efluentes líquidos e resíduos sólidos gerados na empresa, de modo a garantir o fluxo das águas decorrentes do processo, sem que esta venha conferir riscos à segurança dos produtos produzidos. É avaliado se o sistema de escoamento das águas residuais está tendo a capacidade de drenar de forma eficiente o volume produzido, se as águas residuais oriundas das atividades de abate estão sido removidas de forma constante, além da drenagem das pias e equipamentos que deve estar de acordo com o volume produzido. É avaliada as tubulações, se estas permitem a condução da água residual até o esgoto além da observação do local onde sangue, efluentes líquidos, resíduos sólidos, esterco e lixo estão sendo destinados. O monitoramento, verificação e ações corretivas são realizadas pela empresa e a verificação oficial é realizada através do fiscal da inspeção. 2.2.6.4. POP - Controle integrado de pragas Visa assegurar a redução ou a eliminação da contaminação por vetores e pragas urbanas através de técnicas desenvolvidas e de um programa completo de controle desses nas instalações de produção, armazenagem e transporte dos produtos. Avalia-se o estado de conservação de telas nas janelas, o fechamento das portas que deve ser automático e eficiente, a presença de vestígios e o controle de 27 pragas nas áreas interna e externa das instalações. A armazenagem dos resíduos produzidos que devem estar armazenados e protegidos adequadamente afim de evitar a atração de pragas, se não há a aglomeração de entulhos e se o porta – iscas estão colocados e distribuídos conforme a disposição prevista pelo programa. Normalmente, as empresas contratam serviços terceirizados para realizar o controle de pragas, porém, as atividades de monitoramento, verificação e ações corretivas seguem sendo responsabilidade da empresa contratante. A verificação oficial neste caso também é de responsabilidade do SVO. As empresas acompanhadas durante o estágio, contavam com empresa terceirizada para o controle de roedores e insetos, sendo as visitas realizadas mensalmente nos estabelecimentos. Posteriormente às visitas, era gerado um relatório compreendendo as atividades realizadas e os produtos utilizados. 2.2.6.5. POP – Procedimento padrão de higiene operacional Tem como objetivo garantir a higiene pré-operacional e operacional de instalações, equipamentos e utensílios, assegurando a qualidade higiênico–sanitária das operações industriais. Na higiene pré-operacional é avaliada as condições higiênico-sanitárias de todas as seções, equipamentos e utensílios utilizados no frigorífico, não permitindo qualquer tipo de sujidade, resíduos do abate anterior, acúmulo de água e condensação. Visando manter essas condições de higiene, os estabelecimentos acompanhados realizavam a limpeza (retirada de resíduos e sujidades macroscópicas de origem orgânica e inorgânica), lavagem (procedimento que envolve água, sabão ou detergente e esponjas ou fibras para a melhor remoção das sujidades) e sanitização (eliminação ou redução de micro-organismos com a utilização de desinfetantes ou sanitizantes) adequadas para cada equipamento ou utensílio, todos os produtos utilizados no processo de higienização deverão possuir registros nos órgãos competentes, e a empresa deverá dispor de todas as fichas técnicas com as especificações, dosagens e aplicações de cada produto. Em contrapartida, a higienização operacional compreende a higiene durante as atividades (acúmulo de sujidades no piso ou equipamentos), onde para manter as condições mínimas de limpeza, os resíduos sólidos são constantemente removidos e as águas originárias dos processos de produção são removidascom o auxílio de rodos até chegarem às calhas e ralos. Em casos de intervalos entre as operações, é 28 feita a retirada das sujidades com água e com o auxílio de rodos. As atividades de monitoramento, verificação, ações corretivas somadas aos procedimentos de higienização e escolha de produtos e equipamentos utilizados são de responsabilidade da empresa, em contrapartida, a verificação oficial é realizada diariamente (anteriormente e após o início das atividades) pelo fiscal local, cabendo suspensão das atividades em casos de não conformidades. 2.2.6.6. POP – Higiene e saúde dos funcionários Neste POP, inclui os procedimentos que envolvem a admissão de funcionários na empresa além dos procedimentos que garantem a higiene pessoal e os hábitos apropriados durante a execução das atividades nas áreas de produção, visando a segurança alimentar dos produtos finais por parte dos funcionários e visitantes. Também há a garantia de avaliação médica dos colaboradores sendo exigidos que cada manipulador de alimento apresente atestado de saúde que conste como “apto para manipular alimentos”. Ocorre a observação dos funcionários que devem apresentar os uniformes devidamente completos e limpos, utilizarem equipamentos de proteção individual (EPI’s) e se estes estão sendo descartados ou higienizados adequadamente após o uso. Também é verificado se os funcionários e as demais pessoas utilizam de forma correta a barreira sanitária antes de ingressar no interior da indústria. São avaliados hábitos de higiene e postura adequada que serão citados a seguir: unhas curtas, limpas e sem esmalte; ausência de adornos, homens adequadamente barbeados; funcionários com postura adequada enquanto trabalham (não espirrar ou tossir sobre os alimentos por exemplo); lavagem as mãos sempre que necessário ou quando manipulam alimentos contaminados; utilização de seus utensílios de forma a não gerar contaminação; utilização de uniformes somente dentro do estabelecimento; colaboradores adequadamente protegidos em casos de lesões; EPI’s e uniformes são guardados de maneira que evite sua contaminação. Os procedimentos de monitoramento, verificação e ações corretivas são realizados pela própria empresa sendo a verificação oficial realizada pelo SVO. 2.2.6.7 POP - Procedimento sanitário das operações 29 Este procedimento tem por função manter as condições higiênico-sanitárias adequadas nas operações realizadas na indústria com o intuito de evitar contaminações cruzadas entre utensílios e equipamentos e produtos com os alimentos a serem manipulados. Para isso, a superfície dos equipamentos e dos instrumentos utilizados durante as operações de trabalho, deve estar higienizada e sofrer processo de sanitização. Assim, nos Abatedouros- Frigoríficos, Fábrica de Pescados e Laticínios realizam o controle da troca das facas, tábuas e outros instrumentos utilizados durante o período de produção, a cada uma hora de atividade ou de acordo com a necessidade específica de cada utensílio utilizado. Os estabelecimentos normalmente utilizam facas e tábuas de colorações diferentes ou identificam os utensílios de outras formas a fim de facilitar a visualização e o cumprimento desse POP. O controle desse procedimento também é realizado pelo SVO e havendo alguma não conformidade este realiza ações fiscais ao estabelecimento em questão. 2.2.6.8. POP – Controle de matérias-primas, ingredientes e material de embalagens Este POP tem como objetivo proteger todos os produtos envolvidos na produção dos alimentos de origem animal e suas respectivas embalagens dos perigos sejam eles químicos, físicos ou microbiológicos. Para que isso seja possível, o estabelecimento deve possuir o controle de todas as matérias-primas. No caso dos Abatedouros-Frigoríficos há o controle da GTA, em contrapartida, nos laticínios esse controle ocorre através dos registros em planilhas de controles da entrada de leite (testes de plataforma, aferição de temperatura). Além disso, deve ser levado em consideração o estado geral de conservação interna e externa dos veículos utilizados para transporte. No caso das embalagens, estas são controladas através da planilha de controle de insumos e os fornecedores devem atender às BPF. Sendo as embalagens primárias (as que apresentam contato direto com o produto) tratadas da mesma forma que os produtos alimentares, a fim de evitar contaminações cruzadas ao produto final. As embalagens secundárias (caixas de papelão) devem apresentar bom estado de conservação, onde não é permitida sua reutilização. É importante 30 ressaltar que deve haver o controle do estado de conservação dos veículos transportadores de embalagens. Em relação ao armazenamento, as embalagens e rótulos devem ser acondicionados em uma sala específica para este fim, apresentando condições higiênico-sanitárias adequadas onde os mesmos devem ser organizados em cima de estrados de plástico não havendo contato direto com o solo. Esses controles são realizados através de planilhas, estando sujeitas à fiscalização pelo SVO. 2.2.6.9. POP – Controle de temperaturas, calibração e aferição de instrumentos Possui por função, controlar a temperatura dos locais que tenham atividades de temperatura, verificar as condições de temperatura dos produtos durante o turno de trabalho, estabelecer o plano de aferição e calibração dos instrumentos de controle dos processos nas devidas condições além de registrar e acompanhar regularmente as aferições e calibragem de instrumentos utilizados nos estabelecimentos. É avaliado o nível de cloro residual livre coletado em um ponto da rede clorada do estabelecimento e verificadas todas as temperaturas de equipamentos e produtos (esterilizadores, tanques de escaldagem devem estar com temperatura não produtos no interior da câmara fria com temperatura no serem expedidos). De forma a assegurar a eficiência da aferição de temperaturas, os Abatedouros-Frigoríficos realizavam a aferição de todos os termômetros utilizados na produção (mensalmente), e para isto, é mantido um termômetro padrão, calibrado, utilizado somente para esta finalidade. Os serviços de calibração e ajuste de termômetros padrão eram executados por empresas especializadas e devidamente credenciadas. Posteriormente a execução dos serviços, era fornecido um certificado de manutenção e calibração dos equipamentos com data de validade específica de cada tipo de equipamento. Somado a isso, a empresa monitora a temperatura dos esterilizadores durante os procedimentos de abate, sendo feita pelo menos uma aferição por turno de trabalho e registrado na planilha de controle de temperaturas. Também é realizado diariamente o controle de temperatura das câmaras frias. Este controle também é realizado pelo SVO através da verificação das 31 temperaturas anteriormente mencionadas e em casos de não conformidades são executadas ações fiscais. 2.2.6.10. POP – Testes microbiológicos e físico-químicos Este procedimento tem por objetivo promover o controle da qualidade microbiológica e físico-química tanto da matéria-prima quanto dos produtos prontos. Assim, de acordo com a Portaria n° 406/2015 de 18 de novembro de 2015 da SEAPI, os estabelecimentos registrados na DIPOA não poderão utilizar somente as análises oficiais físico-químicas e microbiológicas como a única forma de controle de qualidade de seus produtos (RIO GRANDE DO SUL, 2015). Portanto, cada estabelecimento deve estabelecer um cronograma de modo a analisar todos os seus produtos aprovados, encaminhando as amostras para análise em laboratório de sua preferência, podendo solicitar análises que não estejam inseridas nas análises oficiais realizadas pelo FEA. 2.2.6.11. POP – Abate humanitário Possui a função de estabelecer e padronizaros métodos humanitários relacionados ao transporte, manejo e insensibilização dos animais destinados ao abate, assim como a conduta dos funcionários da empresa em relação ao manejo dos animais no interior das instalações do estabelecimento. Neste procedimento, é avaliada a higienização dos currais de recepção, permanência e emergência além do abastecimento dos mesmos com água potável. Os animais que apresentam alguma patologia são isolados dos demais e abatidos ao final das atividades de abate e os animais fraturados ou em alguma situação de sofrimento são dirigidos ao abate de emergência. Também é verificado se o tempo de jejum está dentro do limite exigido, o método e a eficiência da insensibilização. Além da verificação de troca das facas no momento da sangria e se há um sistema de insensibilização auxiliar disponível ao funcionário responsável pela sangria dos animais. O monitoramento dos procedimentos é realizado pela funcionária responsável pelo controle de qualidade, a qual tem a função de assegurar que as atividades de 32 bem-estar animal e abate humanitário estão adequados, ficando responsável pelas ações corretivas, preventivas e registros através de planilhas. A verificação pela empresa tem o objetivo de observar se o plano previsto está sendo funcional, corrigir as falhas que são observadas frequentemente além das possíveis falhas, assim, possibilitando o correto funcionamento do estabelecimento. Em contrapartida, a verificação realizada pelo SVO compreende a avaliação articulada e a verificação do cumprimento dos requisitos determinados no Manual de BPF da empresa em questão e dos requisitos higiênico – sanitários estabelecidos no RIISPOA, leis, decreto – lei, regulamentos técnicos, instruções normativas e instruções de serviço. 2.2.6.12. POP – Recall Este procedimento tem por objetivo estruturar um plano organizado de informações para facilitar o recolhimento de um produto em casos de não conformidade com o mesmo. Para isso, o estabelecimento deve manter o controle constante da quantidade total da produção através dos registros realizados em planilhas de produção. Nos casos de laticínios, também se realiza o controle dos romaneios (planilha de controle de carregamento) para que em casos de não conformidades com algum produto, possa ser identificado o destino (cliente) do lote afetado. Somado a isso, os estabelecimentos devem possuir rastreabilidade interna, possuir o controle de estoque e das quantidades vendidas de cada lote. Também os responsáveis por cada etapa do processo de produção devem realizar uma investigação desde o manejo inicial dos animais realizado a campo até a chegada do produto à mesa do consumidor, para que haja a identificação da causa da não conformidade a fim de realizar medidas adequadas. O responsável pelo estabelecimento realiza o levantamento das quantidades de produtos existentes nos clientes para providenciar a retirada do produto o mais rapidamente possível. No final do recall, deve-se preencher a planilha de registro de recall, especificando o destino final do produto recolhido, avaliando o lote afetado e registrando o destino dado ao lote. Assim, no caso de haver não conformidades em algum produto o mesmo 33 apresentará um plano estruturado para que haja um procedimento de recall eficiente, lembrando que, todas estas ações estão sujeitas à avaliação do SVO. 2.2.6.13. POP – Treinamento dos funcionários Possui a função de estabelecer treinamentos internos para os funcionários do estabelecimento de forma sistemática. É avaliado se funcionários realizaram treinamentos que abordem as BPF. Os funcionários dos Abatedouros - Frigoríficos acompanhados durante o período de estágio recebiam treinamento na admissão e anualmente ou sempre que se julgasse necessário, onde alguns itens principais eram abordados: procedimentos relativos ao abate humanitário, importância da manutenção dos programas de qualidade e segurança alimentar, não manter posturas inadequadas que pudessem comprometer a segurança e a qualidade dos alimentos, manter os uniformes sempre higienizados e em bom estado de conservação, não utilizar adornos e barba, manter unhas curtas e com ausência de esmalte, não fumar ou entrar com alimentos e bebidas na área industrial, entre outras condutas inapropriadas. O FEA realiza a avaliação dos hábitos higiênicos dos funcionários, através de planilha mensal ou sempre que julgar necessário. 2.2.6.14. POP – Controle de fraudes Este procedimento de controle é obrigatório em Laticínios e em Fábricas de Pescado e tem por objetivo evitar a ocorrência de alterações na composição das matérias-primas e que podem conferir riscos à segurança de alimentos. No caso do leite, são realizadas diversas análises anteriores à sua coleta pela indústria: análises que identificam adição de água, reconstituintes, conservantes e neutralizantes. Todos estes resultados devem ser registrados em planilhas e em casos de não conformidades realiza-se a análise individual de cada produtor a fim de identificar e penalizar o fraudador. No caso dos pescados, as fraudes mais comuns são pela absorção de água, troca de espécies e excesso de glaceamento. 34 2.7. Inspeção periódica Os estabelecimentos de inspeção periódica compreendem os laticínios, fábricas de embutidos, fábricas de conserva de pescados, ovos e mel. O MVO responsável pela inspeção local de estabelecimentos com inspeção periódica em indústrias de laticínios, deve comparecer em cada estabelecimento sob sua inspeção ao menos uma vez por semana. O MVO possui conhecimento das etapas de processamento de todos os produtos de cada estabelecimento de sua responsabilidade devendo, dessa forma, realizar o acompanhamento e avaliação rotineira destes processos. Além disso, possuir conhecimento e acesso à matéria-prima e insumos utilizados na produção do estabelecimento. Com o auxílio de planilhas específicas, o FEA acompanhava as análises laboratoriais e realizava o controle das temperaturas, embalagem e rotulagem, validade, utilização e qualidade dos insumos. Também era realizado o controle higiênico-sanitário e estrutural dos equipamentos, instrumentos e instalações. Em relação à Fábrica de pescados, além do que foi anteriormente mencionado, eram realizados controles de hipercloração da água utilizada na produção, análises sensoriais e observação das características organolépticas dos pescados recebidos além da classificação dos mesmos por espécies. Somado a isso, realizava-se o preenchimento das planilhas de verificação, notificações e autos de infração. Todas essas ações são realizadas com o intuito final de diminuir ou evitar a ocorrência de problemas sanitários e de fraudes. 2.7.1. Laticínio 1 Caracteriza-se por uma indústria de pequeno porte, localizada no município de Herval – RS, com produção de 2000 litros, com aprovação de produtos citados a seguir: leite pasteurizado integral, bebida láctea fermentada sabor morango com polpa de frutas e sabor sala de fruta com polpa de frutas, queijo mussarela, queijo minas frescal, queijo prato e bebida láctea pasteurizada sabor chocolate. O estabelecimento comercializa estes produtos na cidade de 35 Herval e região. Possui três funcionários, Medica Veterinária responsável técnica e de qualidade. 2.7.2. Laticínio 2 Caracteriza-se por uma indústria de pequeno porte, localizada em um assentamento no município de Piratini – RS, classificado como Usina de Beneficiamento de Leite, apresenta cerca de 20 mil litros de produção de leite mensalmente, possuindo como produto aprovado o leite pasteurizado integral. 2.7.3. Laticínio 3 Caracteriza-se poruma indústria de pequeno porte, localizada em um assentamento no município de Pedras Altas – RS, com produção média de 10 mil litros mensalmente e possui os seguintes produtos aprovados: queijo tipo colônia, iogurte integral com polpa de morango, bebida láctea fermentada sabor morango com polpa de frutas. 2.7.4. Fábrica de Pescados Caracteriza – se por ser uma Fábrica de Pescados de pequeno porte, localizada na Colônia Santa Isabel, 3° Distrito de Pelotas, RS, com produção média de 5000 kg de filé de peixe e peixe eviscerado fresco. Os pescados são oriundos de pesca artesanal local de onde o produto chega em barcos e acondicionados em caixas com gelo. Posteriormente, esses pescados são encaminhados para processamento em forma de filés. 2.8. Coletas oficiais Dentre as diversas atividades desenvolvidas no período de estágio, também se pode acompanhar as coletas para análises oficiais, onde foram colhidas amostras de produtos de origem animal e da água de abastecimento interno de cada estabelecimento acompanhado para a realização das análises – 36 físico – químicas e microbiológicas exigidas pela Resolução 001/2015 da SEAPI e que através da Resolução 001/2016 sofreu ajustes de ordem técnica onde foram alteradas as alíneas “c” e “e” da Tabela 1 da Resolução 001/2016. Assim, a frequência exigida de coletas tornou-se a seguinte (Figura 8): Figura 8. Quadro da frequência de análises físico – químicas e microbiológicas exigidas (LEGISWEB, 2016). 2.8.1. Análises de água A água de abastecimento interno foi coletada pelo SVO em um ponto aleatório de cada estabelecimento, onde se tomou o cuidado de realizar a coleta das amostras de forma correta. A requisição era preenchida pela FEA e encaminhado para laboratório credenciado ou oficial, conforme Anexo D. 2.8.2. Análises de produtos de origem animal De acordo com o Artigo 4° da Resolução 001/2016 da SEAPI, cada estabelecimento deve encaminhar as amostras de seus produtos de acordo com a determinação do DIPOA através do cronograma de análises que será enviado ao FEA responsável pelo estabelecimento sendo as coletas oficiais realizadas a) Análises físico – químicas da água de abastecimento interno - A cada 6 meses b) Análises microbiológicas da água de abastecimento interno - A cada 2 meses c) Análises microbiológicas dos produtos e subprodutos de origem animal - Mensalmente d) Análises físico – químicas dos produtos de origem animal e pesquisa de antibióticos e de fraudes no leite (produto pronto) - A cada 6 meses e) Análises físico – químicas e pesquisa de antibióticos e de fraudes no leite cru - Diariamente na plataforma de recebimento - A cada 2 meses em laboratório credenciado ou oficial (Exceto antibiótico) f) Análises de CCS e CPP em leite cru -Mensalmente em laboratório da rede RBQL 37 pelo FEA, na presença do mesmo ou por servidor da SEAPI (RIO GRANDE DO SUL, 2016). No período de estágio, foi acompanhada a coleta de amostras tanto nos estabelecimentos de inspeção permanente quanto nos de inspeção periódica, onde os produtos coletados foram analisados conforme as exigências da Resolução de 001/2015 da SEAPI e dos Regulamentos Técnicos de Identidade e Qualidade (RTQI). De acordo com os laboratórios oficiais, as amostras deveriam conter no mínimo 300 gramas, serem acondicionadas em embalagem previamente esterilizada. Posteriormente, estas amostras foram lacradas e acondicionadas em caixa isotérmicas juntamente com a requisição preenchida pela FEA, sendo esta requisição específica para cada produto a ser analisado e enviado para laboratório credenciado ou oficial, conforme Anexo E. Na ocorrência de alguma amostra apresentar resultados em desacordo com os padrões estabelecidos pela legislação, a empresa recebia um auto de infração, informado à Seção de Qualidade e Registro de Produtos e Rótulos (SQRPR) da DIPOA onde o estabelecimento era notificado a fim de que suspendesse a produção do produto em questão. Quando o lote do produto ainda não havia sido expedido, o mesmo era inutilizado e descartado, em contrapartida, se já estivesse sido distribuído para comercialização, era realizado o recall no mercado. Por outro lado, havendo não conformidades com a análise de água, o estabelecimento também recebia um auto de infração, porém, a produção não era suspensa e era realizada a análise novamente. No caso da segunda análise permanecer não conforme, novamente a empresa recebe um auto de infração e toda a produção do estabelecimento era suspensa. Para que haja o retorno das atividades no estabelecimento, o mesmo deve apresentar uma análise conforme no prazo de 30 dias. Para a liberação da produção, a empresa deve enviar para o laboratório oficial três amostras consecutivas e de lotes diferentes. Se as três análises estiverem em conformidade, realiza-se o pedido de liberação, enviando para a central do DIPOA na cidade de Porto Alegre – RS, os resultados conformes juntamente com o plano de ação desenvolvido pelo Médico Veterinário Responsável Técnico ou pelo profissional responsável pelo setor do Controle de 38 Qualidade da empresa, com o intuito de evitar que o problema ocorra novamente além do parecer do FEA responsável pela fiscalização local. Entretanto, se após as três análises realizadas o produto ainda apresentar- se inadequado, a empresa não recebe auto de infração e a produção do produto continuará suspensa. 2.9. Outras atividades Durante o período de estágio, também foi acompanhado o abate de ovinos no Abatedouro-Frigorífico de Arroio Grande-RS e abates de suínos e bovinos em Abatedouros-Frigoríficos de Pelotas-RS. Também foi acompanhado um abate sanitário de 30 bovinos positivos para tuberculose em um Abatedouro- Frigorífico situado na cidade do Capão do Leão-RS e o abate sanitário de um bovino positivo para tuberculose realizado em uma propriedade particular na cidade de Jaguarão- RS. Além disso, houve o desenvolvimento de atividades no DDA, na IVZ de Arroio Grande-RS, como o acompanhamento da admissão de equinos para o desfile Farroupilha para a 91ª Expofeira de Pelotas (verificação de documentos oficiais - GTA, exames obrigatórios e conferência das resenhas dos animais) e participação de reunião com colaboradores de uma Fábrica de Pescados para esclarecimento de dúvidas e orientações sobre procedimentos e participação de auditoria de BPF em uma Micro Indústria de Laticínios na cidade de Turuçu-RS. 2.10. Lesão mais frequente nas linhas de inspeção No período de estágio no Abatedouro-Frigorífico de bovinos situado em Arroio Grande-RS, foi acompanhado o abate de 246 bovinos. Onde nas linhas de inspeção, quando encontradas lesões que resultavam na condenação do órgão ou de vísceras, havia o registro em um quadro marcador específico para cada órgão acometido. Das doenças que não estavam relacionadas com a carcaça, porém, ocorria apenas condenação do órgão afetado na linha de inspeção, a mais frequente foi a Hidatidose apresentando 47,15% (n=116) das lesões observadas. A Hidatidose é definida como uma zoonose (doenças de animais capazes 39 de ser em transmitidas para os seres humanos), causada pelo estágio larval de cestódeos como Echinococcus granulosus. Este parasita apresenta ciclo de vida indireto e necessita de dois hospedeiros mamíferos onde em seu período de fase adulta, alberga o intestino delgado do hospedeiro definitivo (canídeos) e na fase larval alberga órgãos e vísceras de bovinos e ovinos (hospedeiros intermediários) (AMARANTE, 2014). As lesões observadas seguem na Figura 9: Figura 9. Lesão de Hidatidose no pulmão (A) e lesão de Hidatidose no fígado (B). De acordo com o Ministério da Saúde, a Hidatidose é uma doença de grande relevância na saúde
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