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1 Módulo 2: Febre OBJETIVOS 01) Estudar a forma de apresentação clínica do abdômen agudo inflamatório e suas causas. 02) Estudar as complicações da peritonite difusa. 03) Estudar as repercussões sistêmicas das infecções abdominais. 04) Avaliar o resultado do emprego do esquema inicial de antimicrobianos e quais as bactérias pretendiam dar cobertura. E por que não foi colhido material para cultura na primeira cirurgia? 05) Avaliar o resultado do antibiograma da bactéria isolada do abscesso periseplênico e o fundamento da conduta antibiótica adotada. Etiologia e Apresentação Clínica Abdômen Agudo Inflamatório Abdome agudo→ dor aguda e súbita, que leva paciente a procurar imediatamente serviço de emergência → requer tto clínico ou cirúrgico de urgência ou emergência. Tem alta incidência e elevado risco de gravidade, podendo levar a óbito, muitas vezes por dificuldade de estabelecer o diagnóstico (o específico deve ser buscado) correto; em alguns casos, devido gravidade, não há tempo para realização de muitos exames e a principal decisão é se o paciente deve ou não ser operado. Etiologia Abdome Agudo A etiopatogenia é classificada em 5 grupos: • Inflamatório: Abdome agudo + comum, é um processo inflamatório intra-abdominal. Causas: o apendicite aguda - causa + comum de abdome agudo inflamatório, causada por obstrução do apêndice por fecalitos/ neoplasias/ hiperplasias/ corpo estranho (parasitos, sementes); dor tem intensidade continuamente progressiva. A princípio, dor periumbilical não muito intensa, acompanhada de náusea, anorexia e febre não muito alta→ Após 6 a 8 horas de evolução dor desloca-se para a FID (no ponto de McBurney) e mostra sinais de comprometimento peritoneal (dor aos movimentos bruscos, ao tossir ou espirrar e à descompressão), certa rigidez da musculatura local e hipersensibilidade da pele. o colecistite aguda – inflamação da vesícula biliar; dor constante em hipocôndrio direito espontânea e a palpação, irradia p/ ombro direito e escápula direita, sinal de Murphy positivo, febre, náuseas, vômitos. o diverticulite – perfuração do divertículo e inflamação pericolônica; suspeitar em idosos; dor tem intensidade continuamente progressiva, dor em FIE contínua, espontânea e à palpação, febre não muito alta, náuseas, anorexia, alterações do hábito intestinal. o pancreatite aguda – dor intensa no epigástrio, em 50% dos casos há a dor em faixa (irradiada para o dorso), náuseas e vômitos, a posição que o paciente prefere é com o tronco fletido sobre o corpo (genupeitoral). Não necessita cirurgia. Diagnóstico exige no mín. 2 dos seguintes: dor abdominal típica, lipase e amilase com até 3x o limite superior e achados na TC. o Peritonite: piora com movimentação; comum paciente imóvel no leito evitando se movimentar. Pesquisar irritação peritoneal (descompressão dolorosa após palpação profunda com dedos estendidos; desnecessária se defesa abdominal involuntária e localizada) e defesa muscular (abome em tábua). o outras. • Perfurativo: úlcera perfurada, diverticulite perfurada e outras perfurações intestinais. • Vascular: obstrução arterial e venosa de artérias mesentérica superior ou inferior. • Hemorrágico: gravidez ectópica rota, traumas hepático, esplênico e intestinal. • Obstrutivo: obstrução intestinal secundária a tumores benignos e malignos, volvos, bridas e aderências intestinais Quadro clínico abdome agudo Nociceptores→ receptores de dor. Estimulados por fatores mecânicos, térmicos ou químicos (ex. bradicinina, serotonina, histamina, acetilcolina, prostaglandina, substância P). Sobre a dor abdominal, há 3 tipos principais: • Dor somática (parietal)→ originada da pele e do peritônio parietal→ dor aguda, bem localizada e percebida nos dermátomos da área que recebeu estímulo. • Dor visceral→ originada do estímulo aos nociceptores viscerais (sensíveis à tensão, distensão, inflamação e isquemia e não p/ cortes, lacerações ou queimaduras) → dor mal localizada, insidiosa e persistente. No TGI é geralmente percebida na linha média – devido inervação bilateral dessas vísceras; dores +lateralizadas se relacionam a órgãos de inervação unilateral, ex.: rim, ureter, ovários. • Dor referida: dor percebida longe do estímulo de origem. Ex.: dor no ombro quando diafragma é lesionado porque estímulo do músc. diafragmático é captado nos mesmos segmentos medulares – C3 a C5 – em que chega estímulo dos dermátomos no ombro. Em virtude da complexa rede sensorial visceral e parietal dupla que inerva a área abdominal, a dor não é localizada com tanta exatidão quanto nos membros. Problema 4: Complicação pós-operatória 2 Módulo 2: Febre Mas alguns padrões gerais emergem, fornecendo indícios para o diagnóstico. Quando o peritônio parietal é atingido pela inflamação, a dor (inicialmente do tipo visceral, epi ou mesogástrica) localiza-se exatamente na região superficial correspondente a lesão→ ex., na apendicite aguda, quando apenas o apêndice está acometido a dor é pouco precisa na região periumbilical; depois torna-se + intensa e localizada na fossa ilíaca direita quando envolve o peritônio, às vezes em poucas horas. Dor aguda em geral anuncia o início da inflamação visceral. Na maioria das vezes, ele pode não permitir localizar a víscera inflamada durante o exame físico. Na evolução do quadro, a inflamação visceral compromete o peritônio parietal → ricamente inervado pelos nervos da parede abdominal adjacente → presente defesa e contratura muscular (defesa muscular involuntária). Além disso, a inflamação do peritônio faz que o paciente apresente dor imediata, a qualquer estímulo de manipulação, palpação e descompressão do abdome. → essa altura da evolução da doença, a dor à palpação abdominal localiza com eficiência a origem da irritação peritoneal e a provável víscera envolvida. As regiões anterior e lateral do abdome são mais sensíveis à dor, ao passo que a parede posterior e a região pélvica são menos, o que se explica pela diferença de inervação. Sinais e sintomas que devem ser valorizados e pesquisados no abdome agudo inflamatório: dor súbita ou insidiosa com agravamento e localização com o tempo. Sinais sistêmicos como febre (baixa na diverticulite, apendicite e colecistite) e taquicardia, intervalo entre o início dos sintomas e o atendimento médico, sinais de infecção ou sepse, quadro abdominal de peritonite evidente. Exames subsidiários: hemograma e radiografias simples do abdome. Alguns sinais que devem ser investigados durante o exame físico: • Sinal de Blumberg: Dor a compressão com piora a descompressão do quadrante inferior direito do abdome, relacionado com apendicite aguda. • Sinal de descompressão brusca: Dor a descompressão brusca do abdome, relacionado com peritonite no local da dor. • Sinal de Giordano: Dor a punho percussão lombar à direita ou esquerda, indicativo de processo inflamatório renal. • Sinal de Muphy: Consite na dor à palpação do bordo inferior do fígado durante uma inspiração forçada, indicativo de colecistite aguda. • Sinal do Psoas: Dor em quadrante inferior do abdome direito a elevação contra resistência da coxa ipsilateral, relacionado com apendicite, pielonefrite e abcesso em quadrante inferior do abdome. • Sinal de Rovsing: Compressão do quadrante inferior esquerdo do abdome com dor no quadrante inferior direito, indicativo de apendicite aguda. • Sinal de Dunphy: dor na FID que piora com a tosse, indica apendicite aguda. O mais importante p/ alcançar diagnóstico (abdome agudo) preciso é a história clínica detalhada. Os exames laboratoriais e de imagem fornecerão subsídios para comprovar ou não a hipótese diagnóstica. • A anamnese detalhada é muito importante – a idade do paciente, o sexo, características da dor (local, qualidade,irradiação, evolução, intensidade, fatores de melhora ou piora), doenças e cirurgias prévias, alterações intestinais, febre, vômitos. o Grande intensidade e duração > 6 horas→ ↑chance de laparotomia; se melhora em poucas horas→ ↓chance de laparotomia o Súbita sem sintomas prévios→ dor incapacitante, sugere isquemia, perfuração de vísceras ou rotura de aneurimas abdominal. o ↑progressivo da intensidade→ colecistite aguda, pancreatite aguda; frequentemente associado a náuseas e vômitos. o Desconforto vago e depois se localica e ↑ intensidade→ apendicite aguda, hérnia encarcerada, diverticulite... • O exame físico específico avalia o local da dor, a irradiação, a presença ou não de rigidez da parede abdominal, a dor de descompressão à palpação e a distensão. Palpação→ abdome em “tábua” (rigidez abdominal difusa, comum na peritonite) • Diagnóstico diferencial: várias afecções podem simular abdome agudo: o pleuropulmonares (pneumonia de base, pleurite e derrame pleural); o geniturinárias (infecção de vias urinárias, pielonefrite aguda, calculose urinária); o cardíacas (infarto agudo do miocárdio, angina e pericardite constritiva); o gastrointestinais (gastroenterocolite, tuberculose peritoneal e febre tifoide); o processos infecciosos (herpes zóster e tabes dorsalis); o metabólicas (diabete melito, uremia, saturnismo, anemia e porfria aguda); Classificação anatômica da dor abdominal conforme as doenças: • Hipocôndrio direito: doenças biliares (ex.: colecistitete aguda, colangite); doenças hepáticas (ex.: hepatite), doenças renais (ex.: pielonefrite), doenças do cólon (ex.: colite, diverticulite, apendicite). • Epigástrio: doenças pancreáticas (ex. pancreatite), doenças biliares, doenças cardíacas (ex. IAM). • Hipocôndrio esquerdo: doenças pancreáticas, renais, do cólon. • Quadrante inferior direito: apendicite aguda, colite, gastroenterite, diverticulite, doenças renais, doenças ginecológicas. • Periumbilical: apendicite (quadro inicial), gastroenterite. • Quadrante inferior esquerdo: colite, gastroenterite, diverticulite, doenças renais 3 Módulo 2: Febre o hematológicas (anemia falciforme e outras neoplasias); o colagenoses (lúpus sistêmico e poliarterite nodosa) o outras (pacientes portadores de HIV, com regime de quimioterapia, com doenças neurológicas e intoxicações exógenas) Complicações Peritonite Difusa Peritonite é uma inflamação do peritônio, representa uma emergência médica, pode ser (importante a diferenciação p/ escolha do tto, são patógenos diferentes): • primária (peritonite bacteriana espontânea)→ ocorre principalmente nos cirróticos e nos portadores de síndrome nefrótica. As manifestações clínicas e laboratoriais são discretas e o tratamento é baseado em antibióticos, sem cirurgia; ou • secundária→ forma + frequente, pode ser causada pela inflamação, perfuração ou gangrena de estruturas intra-abdominais e retroperitoneais (ex.: pancreatite, colecistite, úlcera perfurada). Geralmente está associada a uma apresentação clínica e laboratorial mais exuberante (sinais de defesa, leucocitose, etc.). Abordagem sempre é cirúrgica (p/ eliminar foco contaminante, drenar abscessos estabelecidos, lavagem da cavidade); ou • terciária→ patógenos resistentes, difíceis de erradicar, provocam inflamação persistente na cavidade peritoneal. Os procedimentos terapêuticos disponíveis não conseguiram reverter a mortalidade. As peritonites associam-se com disfunções de órgãos graves. As infecções intra-abdominais complicadas (IIAc; peritonites) são tipicamente infecções polimicrobianas pode ocorrer resistência a múltiplos fármacos (RMF). RMF é particularmente problemática em pacientes hospitalizados e em pacientes que foram expostos a antibióticos antes ou para o tratamento do quadro atual de IIAc. Alterações farmacocinéticas dos antibióticos – há evidência que é diferente em pacientes críticos, principalmente por ↑ do volume de distribuição e modificações na eliminação do fármaco – se encontra aumentadas na peritonite por outros desafios. Frequentemente pacientes necessitam de cirurgia (uma complicação): • perda sanguínea e reposição volêmica→ podem diminuir concentração do antibiótico; • sangramento da ferida cirúrgica pode persistir e afetar a farmacocinética; • perdas de fluidos → +perda de antibióticos via drenos abdominais ou paciente com terapia de abdome aberto a pressão negativa ativa pode induzir perdas de fluidos pela cavidade abdominal; → concentrações de antibióticos no líquido peritoneal, no foco da infecção, são altamente imprevisíveis. O aumento das infecções por cepas resistentes a múltiplos fármacos é a ameaça mais iminente aos pacientes com peritonite. A peritonite difusa não tratada é quase sempre fatal. Sepse Resposta inflamatória sistêmica secundária à infecção. É um estado em que pode ocorrer uma incapacidade do sistema circulatório em fornecer fluxo sanguíneo adequado para atender às necessidades metabólicas dos tecidos e órgãos vitais (oxigênio e nutrientes), causada por exacerbação da resposta inflamatória sistêmica (vasodilatação, aumento da permeabilidade dos vasos e acúmulo de leucócitos), que resulta em incapacidade de manter a pressão arterial e consequente diminuição na perfusão sanguínea para os órgãos vitais. Essas alterações acontecem em todo o organismo e são observadas mesmo nos locais onde o agente infeccioso não está presente. Clinicamente: ↓ na pressão arterial, sinais de redução de fluxo sanguíneo nos órgãos ou lesões de outros órgãos (sonolência ou confusão mental, diminuição da produção de urina, queda nas plaquetas, alterações na coagulação sanguínea, distúrbios respiratórios e disfunção cardíaca podem estar presentes). Marcador usado para ajudar no diagnóstico deste desequilíbrio do fluxo sanguíneo é a dosagem de lactato no sangue venoso ou arterial – ele é um produto do metabolismo anaeróbio e quando está aumentado significa que o organismo está tendo dificuldade em perfundir adequadamente seus tecidos e fornecer a quantidade de oxigênio mínima para o bom funcionamento dos órgãos. Requer tratamento rápido e preciso→ encontrar o foco infeccioso (exames de rotina, culturas de sangue, urina e secreções) ao mesmo tempo que tto é instituído. Imediata instituição de antibiótico de acordo com o foco infeccioso e correção dos distúrbios de fluxo sanguíneo aos órgãos e pressão arterial (iniciar infusão de fluidos por via IV). • Choque séptico: estágio mais avançado e mais grave da sepse; acontece quando apesar das medidas tomadas, o paciente não recupera a pressão arterial e não adequa o fluxo sanguíneo aos órgãos e sistemas → usar medicamentos (vasoativo- noradrenalina) para manter PA e perfusão adequadas. Esses pacientes devem ser tratados em UTI. A sepse e o choque séptico não tratados ou que não respondem bem ao tto podem levar ao óbito por falência de múltiplos órgãos. Outras complicações da peritonite: • Sequestro de fluidos e eletrólitos, devido ao extravasamento de líquido para o abdome e suas consequências. • Se a infecção não for rapidamente debelada, a evolução do processo infeccioso se disseminará por 4 Módulo 2: Febre todo o organismo, causando uma septicemia (infecção generalizada). • Abscesso peritoneal e sepse podem se desenvolver, por isso as culturas de sangue devem ser obtidas. • O líquido acumulado no abdome pode comprimir o diafragma, causando dificuldades respiratórias. • Íleo paralítico Repercussões sistêmicas das infecções abdominais As infecções intra-abdominais são geralmente resultado da invasão e multiplicação das bactérias entéricas na parede das vísceras ocas. Quando a infecção estende na cavidade peritoneal ou em uma outra região da cavidade abdominal, elapode ser descrita como uma complicada da infecção intra-abdominal. A agressão intra-abdominal provoca sequência de respostas envolvendo a membrana peritoneal, os intestinos, os compartimentos dos líquidos orgânicos com subsequentes respostas cardíacas, respiratórias, renais, neuroendócrinas e metabólicas. Irritação do peritônio visceral→ dor visceral (caráter difuso e mal definida) e transitória hipermotilidade gastrintestinal, q após curto intervalo torna-se progressivamente deprimida e logo abolida→ consequência imediata→ distensão dos intestinos pelo acúmulo de líquidos e de gases p/ lúmen intestinal. Juntamente a farta produção de água rica em proteínas e eletrólitos, pela membrana peritoneal inflamada que, quando extensamente comprometida, contribui com o acúmulo regional de cerca de 4 a 6 litros de líquido, em 24 horas. Inflamação do peritônio + dor + resposta intestinal (íleo paralítico, distensão e derrame de líquido p/ luz) + hipovolemia => respostas primárias à peritonite. Peritonite leva a alterações de parâmetros bioquímicos e fisiológicos denunciadores da reação inflamatória sistêmica No abcesso, o espectro das repercussões sistêmica da infecção é amplo, podendo não ocorrer nenhuma sintomatologia quando suprimido pela imunidade e antibióticos até o choque séptico Sepse: resposta imune exagerada que produz inflamação auto-destrutiva generalizada; ou presença de microrganismos patogênicos ou de suas toxinas na corrente sanguínea ou nos tecidos. Sepse e Síndrome da Reação inflamatória sistêmica são comuns. Respostas precoces variadas podem ocorrer entre os linfócitos, antes de sinal clínico, levando pacientes a quadro de recuperação sem complicações ou infecção aguda podendo levar a óbito. Bacteremia: presença de bactérias na corrente sanguínea, diagnostica em exames laboratoriais. Hemoculturas devem ser realizadas em todo paciente com suspeita de infecção de corrente sanguínea. Sinais como febre, hipotermia, calafrios, leucocitose, desvio à esquerda, neutropenia e choque são os mais citados na literatura como sugestivos de bacteremia e sugerem a necessidade de coleta de hemoculturas Eficácia do esquema antimicrobiano usado e quais as bactérias alvo; quando colher material para cultura O uso adequado de antibióticos é fundamental para o controle mais rápido da infecção e reduzir a possibilidade de falha no tratamento. Os agentes infecciosos associados às infecções intra- abdominais são os da flora do TGI. Perfuração do trato gastrointestinal e extravasamento da sua flora para a cavidade abdominal causam peritonite secundária. O nº e as espécies de agentes infecciosos aumentam ao longo do trato gastrointestinal de 102 a 103 bactérias por mL no estômago para 1011 a 1012 no intestino grosso. Na presença de obstrução intestinal, de tumores e corpo estranho, o número de bactérias aumenta expressivamente. A flora do TGI consiste de bactérias anaeróbias facultativas e obrigatórias, bactérias aeróbicas gram- negativas e bactérias aeróbicas gram-positivas. Infecções hospitalares são causadas por flora mais resistente, que incluem Pseudomonas aeruginosa, Enterobacter sp., Proteus sp., Staphylococcus aureus resistente à meticilina, enterococos e Candida sp. A maioria das infecções intra-abdominais (como apendicite aguda, úlcera péptica perfurada, abscesso pancreático) necessita de intervenção cirúrgica ou de drenagem percutânea para resolução do processo infeccioso. O uso de antibióticos, entretanto, é fundamental para reduzir a possibilidade de falha no tratamento através da diminuição na incidência de infecção intra-abdominal persistente ou recorrente. Também reduz a incidência de septicemia, endocardite bacteriana e infecção de ferida operatória Objetivos da antibioticoterapia: eliminação do microrganismo, redução da chance de recidiva e diminuição do tempo de rsolução dos sinais e sintomas infecciosos. Os antibióticos selecionados devem ser baseados nos agentes infecciosos + prováveis no local de infecção (bactérias anaeróbicas e bactérias entéricas gram- negativas) e se necessário, modificados após obtenção de resultado da cultura e antibiograma. São prescritos com finalidade profilática ou curativa. A seleção do esquema de antibióticos deve ser baseada: a) no agente infeccioso mais provável b) na eficácia c) na segurança (toxicidade e efeitos colaterais, indução de resistência) d) no custo e) na comodidade posológica 5 Módulo 2: Febre O espectro deve ser escolhido eficaz contra a flora a ser encontrar e que não confronte com a sensibilidade bacteriológica do hospital em questão (microflora do sítio cirúrgico é variável de hospital para hospital). Infecções oriundas do estômago, duodeno, via biliar e delgado proximal podem ser causadas por germes aeróbios gram-positivos e negativos e organismos facultativos. A Escherichia coli é a bactéria gram- negativa facultativa mais comum encontrada nas infecções intra-abdominais. Nas infecções comunitárias intra-abdominais, o uso de antibióticos empíricos deve ser contra gram-negativos aeróbios entéricos, bacilos facultativos e cocos gram-positivos betalactâmicos susceptíveis (categoria A e grau 1 de recomendação do Quadro 1). Em pacientes com infecções comunitárias leves a moderadas devem ser empregados antimicrobianos de menor espectro como ampicilina/sulbactam, cefazolina ou cefuroxima/ metronidazol, ticarcilina/clavulanato e ertapenem devido ao custo e menor risco de toxicidade (categoria A e grau 1 de recomendação do Quadro 1). Aminoglicosídeos não são recomendados como rotina em infecções comunitárias intra-abdominais (categoria A e grau 1 de recomendação da Quadro 1), eles devem ser reservados para pacientes alérgicos a beta- lactâmicos e como segunda escolha nos esquemas de quinolonas. Em pacientes de alto risco (escore de APACHE alto, desnutridos, doenças cardiovasculares, irresponsivos ao controle da infecção, imunodeprimidos como transplantados, neoplasias e doenças infl amatórias) devem ser utilizados esquemas antibióticos de amplo espectro como meropenem, imipenem/cilastatina, piperacilina/ tazobactan, ciprofl oxacina mais metronidazol, ou cefalosporinas de terceira ou quarta geração associadas ao metronidazol (categoria C e grau 3 de recomendação do Quadro 1) A ameaça da RMF inevitavelmente representa problemas para o tratamento empírico das IIAc, e o uso de múltiplos antibióticos de amplo espectro é uma consequência lógica, o que alimenta o círculo vicioso. A antibioticoterapia empírica deve basear-se no conhecimento da epidemiologia local, e se deve preferir o antibiótico com o menor espectro. Em razão do mesmo problema de RMF, é obrigatório colher culturas intraoperatórias nos casos de infecções nosocomiais; a redução de antibióticos pode ser realizada com segurança quando se dispõe de culturas. A Surgical lnfection Society (sociedade de infecção cirúrgica)apresentou recomendações para antibióticos no tratamento da infecção intra-abdominal, com base em trabalhos clínicos e no conhecimento da farmacocinética e do perfil de segurança dos antibióticos; quadro 2. • Não se justifica um tratamento (tto) específico para cândida em peritonite secundária; é recomendada para imunossuprimidos e portadores de peritonite terciária. • Não se recomenda tto específico p/ Enterococcus sem sua identificação. • Utilização inadequada de antibióticos pode determinar infecção por patógenos multirresistentes e liberação maciça de endotoxinas → relacionado ao ↑mortalidade Ampicilina Betalactâmicos são inibidores da Beta-lactamase: inclui as penicilinas, o grupo de penicilinas de 2ª geração, penicilinas de espectro ampliado → uso efetivo frente a muitas bactérias gram-negativas (Haemophilus influenzae,E. coli, proteus, salmonella, shigella, etc.), dentro deste grupo desatacam-se as aminopenicilinas, como a ampicilina ou a amoxicilina. As de 3ª geração são ativas contra cocos G+ e G-. As de 4ª geração→ indicadas contra antipseudomonas. Não devem ser utilizadas empiricamente, a menos que combinadas com outros agentes efi cazes, devido a cobertura bacteriana inadequada. Gentamicina: Um aminoglicosídeo (inibem síntese protéica) com espectro de ação sobre G+ estafilococos e G- enterobacteriaceae. Aminoglicosídeos não são recomendados como rotina em infecções comunitárias intra-abdominais (categoria A e grau 1 de recomendação da Quadro 1), eles devem ser reservados para pacientes alérgicos a beta- lactâmicos e como segunda escolha nos esquemas de quinolonas. Aminoglicosídeos não devem ser utilizados isoladamente por não apresentarem atividade anaerobicida adequada. Metronidazol Um antiprotozoário que forma compostos citotóxicos reduzidos que se ligam a proteínas e DNA – morte da célula do parasita, possui seletividade tóxica. Agende escolha para tratar amebíase (E. histolytica), giardíase, trocomoníase. Não deve ser utilizado isoladamente por não apresentar cobertura adequada contra bactérias entéricas facultativas. Cefepima 6 Módulo 2: Febre Antibióticos beta lactâmicos incluem também as cefalosporinas, a cefepima é uma cefalosporina de 4ª geração, é comparável aos agentes de 3ª geração (útil contra enterobacteriaceae, Pseudomonas aeruginosa, Neisseria gonorrhoeae, S. aureus. Streptococcus pneumoniae e Streptococcus pyogenes) porém + resistente a algumas betalactamases (mecanismo de resistência dos agentes patológicos). É eficaz contra amplo espectro de microrganismos gram-positivos e gram-negativos. Geralmente reservada p/ infecções graves envolvendo bacilos gram negativos, inclusive SNC (excelente penetração no líquido cefalorraquidiano) e suspeita de Pseudomonas. Amicacina Antibiótico da classe dos aminoglicosídeos, maior atuação sobre bactérias gram-negativas. Espectro de ação sobre G+ estafilococos e G- enterobacteriaceae. Hemoculturas Hemocultura é o exame realizado com o objetivo de isolar e identificar microorganismos patogênicos no sangue de um paciente que se supõe ter uma infecção. É um exame auxiliar relevante, pois seu resultado reflete diretamente na terapêutica. Devem ser realizadas em quadros infecciosos, mas NÃO é necessária em todo e qualquer quadro infeccioso. Idealmente, a coleta deve ser feita antes do início da antibioticoterapia de pacientes que configurem quadro clínico sugestivo de infecção e suficiente para serem submetidos à internação e que apresentem febre (> 38ºC) ou hipotermia (< 36ºC), leucocitose (> 10.000/mm3, especialmente com desvio à esquerda) ou granulocitopenia absoluta (< 1000 leucócitos/mm3). Hemoculturas não são recomendadas para pacientes com infecções comunitárias por não fornecerem informações relevantes (categoria A e grau 1 de recomendação do sistema de graduação dos guidelines clínicos da Sociedade Americana de Doença Infecciosa). A realização do gram nos materiais coletados de infecções comunitárias também não tem valor (categoria B e grau 2). Por outro lado, em infecções nosocomiais ou pós- operatórias, a realização do gram pode ser importante para determinar a terapia específica para os germes gram-positivos meticilino-resistentes. Em infecções comunitárias intra-abdominais, a fl ora bacteriana encontrada é quase sempre susceptível aos regimes antimicrobianos recomendados empiricamente, portanto não há necessidade de se realizar cultura e antibiograma de rotina. São 72 horas ou mais para obter o resultado. Perfuração do trato gastrointestinal alto: a administração de antibióticos deve ser de até 24 horas nas lesões intestinais devido a trauma penetrante, fechado ou iatrogenia, que são corrigidos dentro de 12 horas e com contaminação do campo operatório por conteúdo enteral (categoria A e grau 1 de recomendação do Quadro 1). O emprego de antibióticos também deve ser profilático nas perfurações agudas do estômago, duodeno e jejuno proximal na ausência de terapia antiácida ou neoplasia maligna. Nas perfurações com mais de 24 horas de evolução, deve-se utilizar antibioticoterapia, geralmente uma combinação de cefalosporina de terceira geração com metronidazol. Avaliar antibiograma da bactéria isolada do abscesso periseplênico e fundamento da conduta antibiótica adotada Antibiograma→ Técnica destinada à determinação da sensibilidade (vulnerabilidade ou resistência) bacteriana in vitro frente a agentes antimicrobianos, também conhecido por Teste de Sensibilidade a Antimicrobianos (TSA). • Geralmente realizados com amostra de sangue ou urina, mas também pode com catarro, fezes, saliva ou células contaminadas. • Podem ser determinados por várias técnicas: disco difusão (Kirby e Bauer), sistemas automatizados, microdiluição em caldo, diluição em ágar e fitas de gradiente. Ex.: O espécime coletado é cultivado em meio favorável ao seu desenvolvimento e multiplicação→ colônias de bactérias já estarão formadas após cerca de 48h após início da cultura→ são expostas aos antibióticos p/ reconhecer sensibilidade→ a substância que inibir e matar as bactérias é a mais potente p/ indivíduo em questão. • Resultado fica disponível 3-5 dias após coleta. Geralmente é iniciada antibioticoterapia empírica quando não se pode esperar o resultado p/ intervenção. • tratamento torna-se mais eficiente e rápido Klebsiella sp resistente: Klebsiella pneumoniae é um bacilo Gram-negativo, membro da família Enterobacteriaceae, produtora da enzima carbapenemase (a sua forma resistente) que inativam os carbapenêmicos (Ertapenem, Imipenem, Doripenem e Meropenem) e outros beta-lactâmicos. A Klebsiella pneumoniae KPC tem capacidade de hidrolisar todas as cefalosporinas de 1ª, 2ª e 3ª geração e o aztreonam. Além disso, é comum entre as bactérias que expressam genes para a produção de KPC, a presença também de genes de resistência a outros antibióticos, principalmente aos da classe dos macrolídeos e aminoglicosídeos, totalizando resistência a 95% dos antibióticos existentes no mercado farmacêutico. As opções de tratamento para infecções por KPC não estão definidas e estão baseadas na suscetibilidade das bactérias aos antimicrobianos. Os principais antibióticos usados são polimixina B, tigeciclina e amicacina. Referências http://www.scielo.br/pdf/rbti/v30n1/0103-507X-rbti-30-01- 0009.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbti/v30n1/0103-507X-rbti-30-01-0009.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbti/v30n1/0103-507X-rbti-30-01-0009.pdf 7 Módulo 2: Febre https://cbc.org.br/wp-content/uploads/2013/05/Ano1- III.Sepse-abdominal.pdf JOAMEL BRUNO DE MELLO. Peritonites https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS- 99VGDH/1/universidade_federal_de_minas_gerais....pdf https://www.einstein.br/doencas-sintomas/sepse- hemodinamica http://www.scielo.br/pdf/ag/v44n1/18.pdf SELEÇÃO E USO DE ANTIBIÓTICOS EM INFECÇÕES INTRA-ABDOMINAIS https://cbc.org.br/wp-content/uploads/2013/05/Ano1-III.Sepse-abdominal.pdf https://cbc.org.br/wp-content/uploads/2013/05/Ano1-III.Sepse-abdominal.pdf https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-99VGDH/1/universidade_federal_de_minas_gerais....pdf https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-99VGDH/1/universidade_federal_de_minas_gerais....pdf https://www.einstein.br/doencas-sintomas/sepse-hemodinamica https://www.einstein.br/doencas-sintomas/sepse-hemodinamica http://www.scielo.br/pdf/ag/v44n1/18.pdf
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