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DIREITO, ECONOMIA E EMPRESAS NA DIMENSÃO HUMANA DO DESENVOLVIMENTO Professores: Dr. Oscar Ivan Prux Me. Mariane Helena Lopes Diretoria de Design Educacional Débora Leite Diretoria de Pós-graduação e Graduação Kátia Coelho Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho Head de Pós-graduação e Extensão Fellipe de Assis Zaremba Gerência de Produção de Conteúdos Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo Projeto Gráfico Thayla Guimarães Designer Educacional Lilian Vespa e Rossana Costa Giani Editoração Arthur Murilo Heicheberg e Ellen Jeane da SIlva Qualidade Textual Meyre Barbosa da Silva DIREÇÃO Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná | unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site shutterstock.com C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; PRUX, Oscar Ivan; LOPES, Mariane Helena. Direito Empresarial, Governança Corporativa e Responsabilidade Social. Oscar Ivan Prux; Mariane Helena Lopes. Maringá-Pr.: UniCesumar, 2018. 39 p. “Pós-graduação Universo - EaD”. 1. Direito. 2. Social. 3. EaD. I. Título. CDD - 22 ed. 347 CIP - NBR 12899 - AACR/2 01 02 03 sumário 12| DESENVOLVIMENTO DO DIREITO 07| CORRELAÇÃO ENTRE DIREITO E ECONOMIA 19| INTER-RELAÇÃO ENTRE DIREITO EMPRESARIAL E O DESENVOLVIMENTO VOLTADO À PRIORIZAÇÃO DO SER HUMANO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Proporcionar elementos para que seja possível visualizar as inter-relações entre Direito e Economia. • Expor o conhecimento a respeito da existência de um direito ao desen- volvimento e referenciar as complexidades relacionadas à sua verdadeira concepção. • Apontar a dimensão humana inerente às atividades econômicas, incluindo no aspecto empresarial a inter-relação com aspectos ambientais e sociais. PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Correlação entre Direito e Economia • Desenvolvimento do Direito • Inter-relação entre Direito Empresarial e o desenvolvimento voltado à prio- rização do ser humano DIREITO, ECONOMIA E EMPRESAS NA DIMENSÃO HUMANA DO DESENVOLVIMENTO INTRODUÇÃO introdução Caro(a) aluno(a), o Direito Empresarial tem evoluído em resposta às modificações que vão acontecendo no meio social, relacionado às atividades das empresas. Surgiram enormes transformações desde o descobrimento do Brasil até o pro- cesso denominado de globalização. Houve a superação do universo composto, inicialmente, de empresas meramente artesanais. Hoje, além dos milhares de pequenas e médias empresas, há grandes corporações com atuação no terri- tório nacional e, muitas vezes, em diversos países. Neste contexto, ao longo dos tempos, as relações empresariais e as relações das pessoas que interagem e são afetadas pelas empresas mudou radicalmen- te, assim como a visão das influências das empresas no meio social. Por isso, em diálogo que envolve, necessariamente, elementos do Direito e da Economia, existe a necessidade de uma nova visão em termos de como deve ser a empresa e de como ela deve se relacionar interna e externamente. Objetivamente, do desenvolvimento em sua verdadeira conformação, que supera a simples geração e acumulação de riqueza (mero crescimento econô- mico) e engloba desde a denominada justiça distributiva até outros aspectos essenciais para que realmente cumpra sua função social de beneficiar os seres humanos envolvidos. Tratar-se-á do desenvolvimento social, do desenvol- vimento sustentável (tanto sob o viés econômico quanto ambiental) e dos demais aspectos tendentes a propiciar mais inclusão social e proteção aos di- reitos fundamentais das pessoas. Assim, será incluída a interação da Economia com o Direito enquanto instrumento indutor de autêntico desenvolvimento, em especial, no tocante à participação da área empresarial (consideradas suas formas de governança corporativa), pois, devido à aplicação dos direitos fun- damentais às relações privadas, é indubitável que a atividade das empresas se revela decisiva para existência desse processo construtivo de um “desenvolvi- mento humanizado”. INTRODUÇÃO introdução Abordar-se-á conceitos basilares e teorias tradicionais da Economia e do Direito e, principalmente, os princípios e os aspectos gerais dos principais dis- positivos constitucionais que, para esta área, regem a ordem econômica e financeira nacional (artigos 170 a 181). Com textos instigantes, postados para leitura e reflexão, assim como estudos de casos que apresentam questões reais versadas em Tribunais pátrios, tem-se a fórmula para aliar teoria e prática, bem como a estratégia para integrar e complementar os conhecimentos relaciona- dos a essa problemática que é tão atual e fundamental para o conteúdo do presente curso de pós-graduação. Pós-Universo 7 CORRELAÇÃO ENTRE DIREITO E ECONOMIA Pós-Universo 8 Em 26 de março de 1967, o Papa Paulo VI apresentou ao mundo (e não só aos católicos) a Carta Encíclica intitulada Populorum Progressio, na qual se utilizou a significativa frase: “Desenvolvimento é o novo nome da paz!” (CARTA ENCÍCLICA, 2014, on-line)1, expressou sua preocupação no sentido de que o progresso deve estar impregnado, substancialmente, de justiça social. De fato, o desenvolvimento tem sido preocupação milenar em todas as nações organizadas e, na verdade, o Sumo Pontífice verbalizou em de sua visão de mundo, o que anteriormente à Declaração das Nações Unidas de 1946 já havia assentado em específico, no caso: a existência de um direito ao de- senvolvimento (SURASKY, 2010). Naturalmente, um desenvolvimento que tenha um sentido mais integral voltado ao ser humano. Caro(a) aluno(a), não se trata de um ideal utópico ou de mera pretensão ilusória, mas de um direito do Estado soberano ter a oportunidade de se desenvolver, direito este reconhecido, mundialmente, para o contexto das nações e suas relações, em especial, considerando-se que seus efeitos diretos e indiretos, indubitavelmente, al- cançam o todo das populações envolvidas. Observe-se que é secular a concepção de que quando se fala de “justiça” ou da ideia da verdadeira “justiça”, ela seja associada à igualdade de oportunidades. Entretanto essas oportunidades que podem ser ofertadas para os particulares de- correm não apenas de circunstâncias individuais de cada pessoa, mas da conjuntura institucional instaurada no país. Há necessidade, então, de se observar o “desenvol- vimento” não apenas como um crescimento econômico, dissociado da distribuição da riqueza, da redução da pobreza e da institucionalização da igualdade. Não se trata unicamente de discutir ideologia relacionada com opções políticas, mas de ir além da ideia de Rawls (2002) e sua teoria da justiça por equidade e aproveitar o ideal da igualdade de oportunidades para ligar o econômico ao social e, nessa conjuntura, manter presente a indelével importância do direito. Afinal, como diz Benfatti (2014, p. 17) em sua obra “Direito ao desenvolvimento”: “ Desenvolvimento é mais que uma palavra que possui vários significados, várias acepções: entende-se Desenvolvimento em seu sentido Social, Político, Jurídico, Industrial, Ambiental e, especificamente, Econômico, em seus “rostos de janus”, na alegoria romana. O Desenvolvimento Econômico e a repercus- são jurídica, ou, como se verá, o jurídico com repercussão economia. Pós-Universo 9 Ao se estabelecer premissasdo que seja “desenvolvimento” em seu sentido mais completo e apropriado, há que se levar em conta as repercussões provocadas por ele no dia a dia das pessoas, dentre outros aspectos, em especial quanto ao exercício da cidadania, ao respeito à dignidade da pessoa humana, à consecução dos valores sociais do trabalho e da livre-iniciativa (BENFATTI, 2014). Esta preocupação com o “desenvolvimento” e suas concepções (incluindo as decorrências dele ou de sua falta) está inserida nas reflexões de importantes pensa- dores, de filósofos e economistas. Antes da Idade Moderna, o desenvolvimento era visto como sendo de cunho eminentemente econômico, quase um sinônimo de acumular metais preciosos (e ter ouro e prata era o mais importante). O objetivo na- cional daquela época consistia não apenas em obter riqueza, mas, sobretudo, tê-la para alcançar maior poderio entre os Estados soberanos cujos resquícios ainda não desaparecem por completo. Atualmente, entretanto, percebe-se uma evolução que foi iniciada no século passado, pois o enfoque deste tipo de progresso passou a ser direcionado para aspectos que dizem respeito às condições (ao menos básicas, de mínimo existencial) proporcionadas para a proteção e bem-estar do ser humano. Em vários pontos de sua substanciosa obra acadêmica, em que se destacam “Desenvolvimento como liberdade”, “A ideia de justiça” e “As pessoas em primeiro lugar: a ética do desenvolvimento e os problemas do mundo globalizado”, o econo- mista indiano Sen (2010, p. 17), fez seguidas advertências a esse respeito, sendo que em uma delas assim expressou: “ O enfoque nas liberdades humanas contrasta com visões mais restritas de de- senvolvimento, como as que identificam desenvolvimento com crescimento econômico do Produto Nacional Bruto (PNB), aumento de rendas pessoais, industrialização, avanço tecnológico, ou modernização social. O crescimen- to do PNB ou das rendas individuais obviamente pode ser muito importante com um meio de expandir as liberdades desfrutadas pelos membros da so- ciedade. Mas as liberdades dependem também de outros determinantes, como as disposições sociais, e econômicas (por exemplo, os serviços de edu- cação e saúde) e os direitos civis (por exemplo, a liberdade de participar de discussões e averiguações públicas). Pós-Universo 10 Estas singelas, mas expressivas considerações mostram, sem maiores sofisticações, que crescimento econômico enquanto simples aumento de riqueza nem sempre é sinônimo de real avanço ou progresso em termos civilizatórios. Um dos exemplos que se pode citar, caro(a) aluno(a), é o que tem acontecido com muitas das nações, que são grandes produtoras e exportadoras de petróleo, e, apesar de amealhar enormes receitas, não se desenvolvem em termos institucionais a ponto de que essa riqueza realmente beneficie por inteiro a sua população, que fica relegada a estágios atra- sados em termos de qualidade de vida (é a chamada “maldição do petróleo”). Se o valor dessa receita oscila, ou se reduz, o povo padece mais ainda. Portanto, o termo “desenvolvimento” não apresenta significado unívoco que esteja ligado somente ao viés econômico (de geração e acumulação de riqueza), que é deveras importante, mas requer complementação ligada ao cumprimento dos direitos fundamentais das pessoas. Em sentido mais aprimorado, esse termo deve englobar o conjunto de condições que reúne avanços em diversos campos como o econômico, o político e o social, for- mando conjuntura suficiente, eficiente e eficaz para que as instituições promovam, tanto quanto possível, a melhora de condições materiais com- binada com o aperfeiçoamento rumo a um processo que propicie efetivos benefícios para os seres humanos envolvidos. Neste ponto, o desenvolvi- mento imbrica-se com o que se denomina justiça distributiva. Fonte: os autores. atenção Com certeza, o desenvolvimento no sentido de evolução, possui um ponto de partida que é o estágio no qual o país está e, naturalmente, pode ter uma meta fixada. Todavia, embora se deva considerar as influências ditadas pelas limitações decorrentes do estágio da ciência, não há, rigorosamente, um ponto de chegada ou uma linha final adiante da qual uma nação não possa avançar. Nesse processo também não existe um rol taxativo daquilo que deve estar incluído nesta trajetória. O certo é que as medidas a serem tomadas para o verdadeiro desenvolvimento precisam partir de uma tomada de consciência quanto às imperfeições constatáveis no contexto social existente no ponto de partida. Pós-Universo 11 A partir de então, considerando esta realidade assumida, ser desencadeado um processo transformador, que deverá reunir o sentido de eliminar carências econômi- cas e, igualmente, promover melhoras na justiça social. Há que se ir além do aumento do Produto Interno Bruto (PIB), que pode ser volumoso apenas em razão de tratar-se de país de população numerosa e grande território. Mesmo a renda per capita, que, apesar de ser um bom indicador, não deixa de ser uma média, podendo haver pessoas que vivam abaixo da linha de pobreza (sobrevivendo com menos de dois dólares por dia), ou que não tenham acesso aos mínimos instrumentos para exercício de sua ci- dadania. Faz-se necessário gerar avanços nas instituições e na qualidade das relações humanas, colocando o aumento da riqueza ao serviço da igualdade (incluindo de oportunidades) e da inclusão social. Esse processo deve ser sustentável considerando o curto, médio e longo prazo, no sentido de que não seja intermitente, não sofra osci- lações ou interrupções que comprometam a eficiência e eficácia que dele se espera. Vale referir que esta concepção não é absolutamente inédita, já que, desde o final da Segunda Guerra Mundial acentuaram-se as preocupações com estes aspec- tos importantes para o exercício da cidadania e o respeito aos direitos humanos. Modernamente, então, a concepção mais aprimorada de desenvolvimento em sentido amplo (mais global e essencialmente verdadeiro), consiste na somatória resultante da integração de espécies ou ramos, tais como o desenvolvimento social, o desen- volvimento sustentável (econômico, ambiental) etc. E mais, envolve não somente aquilo que diz respeito às estruturas estatais, mas alcança o tecido social em toda a sua amplitude. Neste ponto, principalmente após as revoluções comercial, indus- trial e tecnológica (que ainda se opera), emergiu a importância das empresas como agentes de desenvolvimento. Sabidamente, o Estado não é suficiente para, isolada- mente, gerar desenvolvimento. Existem muitos servidores que executam tarefas para a Administração Pública, e há pessoas que realizam trabalhos sem constituírem empresas, mas, indiscutivelmen- te, está nestas organizações (empresas) a maior parte da geração de riqueza. Está no formato que elas adotam para a execução de suas atividades, ou seja, nas condutas efetivadas rotineiramente por elas, internamente e no mercado, um diferencial fun- damental para que o desenvolvimento aconteça com resultados positivos para seus proprietários, empregados, fornecedores, concorrentes, consumidores de seus pro- dutos ou serviços, enfim, para o contexto da sociedade. Pós-Universo 12 DESENVOLVIMENTO DO DIREITO Pós-Universo 13 Prezado(a) aluno(a), um ambiente favorável para negócios é essencial para haver pro- gresso e evolução nesta área (desenvolvimento, seja empresarial, seja social) e, para isso, se faz necessário a existência de um marco legal adequado (é neste ponto que se sobressai mais acentuadamente a substancial importância do Direito Empresarial), apto a contribuir para a consolidação de boas instituições a impulsionar o verda- deiro progresso. Não são suficientes a conjugação do empreendedorismo, com a pujança empresarial, o intento em investir, a fartura de riquezas naturais e uma po- pulação integrada por pessoas comprometidas com o trabalho, se de outro modo, o país carece de instituiçõesbem estruturadas/constituídas (políticas, econômicas etc.) e normas que garantam aos agentes econômicos a possibilidade de atuarem em ambiente estável, seguro e propício para a atividade empresarial. Percebe-se que como características similares encontrados nos países pobres estão a existência de: a) instituições deficientes; governos mal estruturados (marcados pela má gestão ou pela instabilidade); b) burocracia complexa e com muitas exigências despropositadas ou mal operacionalizadas, integradas por registros e requerimentos complexos demais ou sem utilidade prática (que poderiam ser substituídos por téc- nicas mais avançadas de controle ou operacionalização), implicando dispendiosas tarefas claramente dispensáveis (perda de tempo útil e gastos), tudo criando dificul- dades que induzem os agentes públicos a “venderem” facilidades; c) custos elevados para a atividade produtiva; d) carência de regras ou regulação adequada (conjunto de normas integrado por número desmesurado de leis e regulamentos, muitos deles mal concebidos e/ou confusos) e outras condições que favorecem a ineficiência; e) existência de elevado nível de corrupção, incluindo significativo tráfico de influên- cias pessoais nos negócios públicos, de falta de honestidade e ética nos negócios privados (dentro das empresas, nas relações entre elas, com clientes e terceiros); f ) falta de incentivo para investimentos; g) insegurança jurídica etc. A constatação é que, entre outros fatores, está no direito e sua aplicação, um importante indutor de atraso ou de progresso, no desenvolvimento de um país. Pós-Universo 14 É sabido que as decisões alocativas dos agentes privados são fundamentais para o processo de desenvolvimento, e também não remanesce dúvida de que as decisões nesta área não resultam somente das vontades arbitrariamente liberadas pela auto- nomia privada. Forma-se um arranjo que é produto do ambiente institucionalizado no país em relação aos negócios e interesses dos agentes econômicos (públicos e privados), sendo o direito um co-partícipe deste contexto. O direito segmentado em seus ramos e como sistema, naturalmente, participa desta interação. Advirta-se que não se está a aderir quaisquer teses marxistas que visualizam o direito como parte da superestrutura que sustenta processo pelo qual opressores submetem oprimidos (a luta de classes como justificativa para uma revolução que leve para uma ditadu- ra do proletariado, algo inaceitável para o Brasil), mas de identificar, oportunamente, que as normas integrantes deste arcabouço institucional, no caso deste estudo, em especial as de Direito Empresarial, são cruciais no processo de desenvolvimento. Elas interferem, decisivamente, nas atividades das empresas, no desenvolvimento delas e também do país. Ferraz, Crocco e Elias (2003, p. 16), ao tecerem suas considerações e observações críticas, narram que “ Recentemente a discussão sobre desenvolvimento foi ampliada para in- corporar a dimensão ‘institucional’, principalmente no âmbito de agências internacionais localizadas em Washington. Como resultado, agências como o Banco Mundial defendem a necessidade de ‘boas’ instituições para o desenvolvimento. Como se pode ver abaixo, a relação com o modelo nor- te-americano é direta. Tais instituições seriam: Democracia consolidada. A democracia ajudaria o desenvolvimento e, portanto, deve ser encarada como seu pré-requisito. No entanto, como ar- gumenta Chang (2002, p. 72), a democracia pode ser um resultado, não uma pré-condição de processos de desenvolvimento. Boa burocracia. Embora não existam dúvidas sobre a necessidade de uma burocracia eficaz, o que seria considerado bom pode ser objeto de disputa. Durante parte significativa do século passado esse conceito significou me- ritocracia e carreiras generalistas e de longo prazo. Em contraposição, a literatura de ‘New Public Management’ propõe relações de curto prazo, carreiras específicas, incentivos monetários, em um estilo de administração próximo ao do setor privado. Poder judiciário independente. Pós-Universo 15 Proteção aos direitos de propriedade, incluindo a propriedade intelectual. Estrutura de governança corporativa transparente e orientada para o mercado. Saudáveis instituições financeiras” (FERRAZ; CROCCO; ELIAS, 2003, p. 16, grifos nossos). É inegável, portanto, a participação do direito, principalmente, o ramo empresarial contando com a governança corporativa, incluída no elenco de elementos essenciais para “alimentar”, construtivamente, esse processo necessário ao desenvolvimen- to. Assim, o eixo temático “direito e desenvolvimento” encontra e demonstra sua justificação e real dimensão. A disciplina “Direito empresarial, governança corporativa e responsabilidade social” apresenta suas razões maiores para apro- fundamento e denodado estudo. Tomadas as considerações já expostas, transparece, nitidamente, a relevância de se ingressar no exame das questões que envolvem estas temáticas, desvelar suas nuances específicas (teóricas e práticas), a legislação respectiva e os contributos da doutrina e da jurisprudência. Como visto, caro(a) acadêmico(a), trata-se de problemá- tica que vai além de uma análise centrada na geração de riqueza e na acumulação dela, deve incluir a questão de como os bens obtidos contribuem para a melhoria das condições de vida do ser humano (a propriedade - em sentido amplo, incluin- do tudo o que tem valor econômico e pode ser apropriado, material ou imaterial, corpóreo ou incorpóreo - deve cumprir função social). Sem essa característica fun- damental, prejudica-se, ou se inviabiliza para as pessoas o exercício da cidadania e a melhora na sua qualidade de vida. Quando se diz que o bem-estar do ser humano é a razão maior de existência e manutenção de toda a estrutura estatal e organização social, não se pode olvidar que as empresas (públicas e privadas) exercem um papel fundamental nessa conjuntura. Note-se que as empresas sob controle estatal (públicas ou de economia mista), nor- malmente, são de grande porte e se centram em atuar no fornecimento de insumos ou produtos e serviços essenciais para a população. Em paralelo, não há como ignorar o poder socialmente exercido por parte das grandes corporações privadas, em tantos casos, mais “poderosas” economicamente do que certas empresas públicas e, se somadas, até que o próprio Estado, o qual, na maioria das vezes, resta com poucos recursos e en- fraquecido (economicamente), ou com seus agentes políticos cooptados em prol dos interesses desta ou daquela organização empresarial privada. Pós-Universo 16 Então, são muitos os motivos para que as organizações empresariais atuem me- diante boas práticas sintetizadas pelo termo compliance, a significar nesse caso, a aderência completa à lei e à ética empresarial, não apenas no âmbito interno da empresa, mas nas suas condutas voltadas para o universo externo formado por concorrentes, consumidores e demais partícipes do “tecido social” que possam ser afetados. Inclusive, vários são os doutrinadores que vão além e chegam a ressaltar a vinculação do poder público e dos particulares às normas instituidoras de direitos e garantias fundamentais (reconhecida como eficácia dos direitos fundamentais nas relações privadas). Ao examinar esse tema e conclamar mais estudo (enfrentamento do tema) por parte da doutrina nacional, o constitucionalista Sarlet (2012, p. 383), em obra con- sagrada pela doutrina nacional, refere como comumente utilizadas as designações “eficácia privada”, “eficácia externa” (ou “eficácia em relação a terceiros”) ou “horizontal” dos direitos fundamentais e assevera que “para além de vincularem todos os poderes públicos, os direitos fundamentais exercem sua eficácia vinculante também na esfera jurídico privada, isto é, no âmbito das relações jurídicas entre particulares”. Este posicionamento está conforme com o previsto no § 1º, do Art.5º, da Constituição Federal (1988, on-line), e por si só estabelece limites para o exercício da autonomia privada, incluindo o que é pertinente à organização e consecução das atividades empresariais. Inicialmente, foi por conta de respeito aos direitos trabalhistas que a questão relacionada à eficácia dos direitos fundamentais nas relações privadas adentrou a seara empresarial. Objetivamente, a gestão de uma empresa não pode, por exemplo, sujeitar os obreiros à condição análoga de escravo. Acrescente-se, entretanto, que o rol de direitos fundamentais é extenso, de modo que a estrutura das empresas, sua gestão e práticas de governança corporativa ex- pandem consequências que podem refletir em muitas outras áreas que vão além das relações de trabalho e emprego e incluem questões relacionadas aos fornece- dores, aos consumidores, aos concorrentes e até com determinadas comunidades, por exemplo, quando a empresa causa dano ambiental etc. As empresas contratam entre si e interagem no mercado, assim como mantêm e influenciam enorme quan- tidade de outras questões da realidade cotidiana, fazendo-se imperioso haver um padrão ético em suas condutas, tudo sempre em prol dos valores estabelecidos pri- mordialmente em nossa Carta Magna. Pós-Universo 17 Até com certo tom de advertência, Steinmetz (2004, p. 23-24) menciona a razão (os fundamentos) para que os direitos fundamentais individuais, sociais, transindivi- duais e de outros tipos tenham de ser respeitados nas relações sociais, ressaltando que: “ Adotam-se como premissas três ‘ideias-força’: (i) a Constituição, especifica- mente a CF, é uma estrutura normativa básica – uma Lei Fundamental – do Estado e da sociedade. Assim, o princípio da supremacia constitucional – também denominado princípio da constitucionalidade – se projeta não somente sobre as relações intra-estatais e as relações verticais indivíduo-Es- tado, mas também sobre relevantes âmbitos materiais da vida social, nos quais os particulares mantém relações intersubjetivas de interação (coorde- nação, cooperação e conflito); (ii) a dignidade da pessoa humana é princípio jurídico- constitucional e valor ético fundante e fundamental da República Federativa do Brasil (CF, art. 1º, III); (iii) os direitos fundamentais, na República Federativa do Brasil, ocupam posição referencial (CF, art. 5º, § 1º, e art. 60, § 4º, IV) e, por força dessa preferencialidade, devem ser tomados a sério. Portanto, trata-se de algo inafastável, inclusive, nas relações negociais, embora seja uma temática relativamente nova no Direito brasileiro e passível de constatar algumas dificuldades (mas não vedações) que são percebidos nessa problemática, dificuldades estas apontadas pelo consagrado constitucionalista Jorge Miranda (apud SOMBRA 2011, p. 37), a importância do respeito aos direitos e garantias fundamentais elencados no Título II da Constituição Federal vai além do prescrito no Artigo 5º do texto cons- titucional, inclusive, se espraiando por vários outros dispositivos da nossa Lei Maior. Então, constata-se uma ordem objetiva de valores direcionada para o respeito aos direitos fundamentais, tal como explicita Duque (2013, p. 58-59), quando doutrina: Pós-Universo 18 “ O simples reconhecimento de uma meta desejável do ponto de vista po- lítico-social não significa, por si só, já a elaboração de um correspondente preceito jurídico de caráter vinculante. Todavia, quando esse reconhecimen- to é extraído da constituição, passa a ter incontestável valor jurídico. Isso se deve ao fato de que os direitos fundamentais proclamam uma determinada cultura e um sistema de valores, que deve ser o sentido da vida estatal ex- pressa na constituição. Assim, o reconhecimento de uma meta com amparo constitucional pode servir como fundamento para a interpretação de leis, atos administrativos e até mesmo de negócios privados, pois na dúvida pode-se tomar como hipótese que esse reconhecimento insere-se no sistema de valores geral aceito pela coletividade. Esse mesmo reconhecimento pode, em determinadas circunstâncias, servir como último limite à liberdade con- tratual, no sentido de cláusula geral de bons costumes. O cumprimento dos direitos fundamentais deve impregnar as condutas das empre- sas em todos os seus aspectos internos e externos. Há que se ressalvar, entretanto, que não se pode inferir que essas organizações tenham a obrigação de atuar à se- melhança ou como substitutas do Estado naquilo que cabe para este último prover em termos de direitos fundamentais (exemplos: direito à saúde, à moradia etc.), mas de terem a organização e as práticas de governança corporativa que lhes confiram atuação benéfica e primam pela conduta empresarial respeitadora desses direitos, ditos fundamentais. Afinal, trata-se de um sistema de valores a ser cumprido, indis- tintamente, por pessoas físicas e jurídicas. Pós-Universo 19 INTER-RELAÇÃO ENTRE DIREITO EMPRESARIAL E O DESENVOLVIMENTO VOLTADO À PRIORIZAÇÃO DO SER HUMANO Pós-Universo 20 Em lições técnicas inspiradas, afirmam Marques e Miragem na obra “O novo direito privado e a proteção dos vulneráveis” (2012, p. 91-92) (que foi uma das obras laurea- das no Prêmio Jabuti de 2013, Categoria Direito) afirmam: “ As novas normas não podem engessar a economia e seus empresários. Todavia, se o novo Código Civil de 2002 revolucionou o direito privado bra- sileiro, unificando o direito das obrigações, e definiu empresário (art. 966), a sociedade empresária (art. 982) e o estabelecimento comercial (art. 1.142), não definiu – assim como também não o fez o Código Civil italiano de 1942 – o elemento unificador: a empresa, matéria confiada a doutrina. Do domínio deste elemento unificador depende a própria compreensão sobre a aplica- ção da nova lei e seus conflitos ou diálogos, com as leis especiais anteriores. Em resumo, o Código Civil de 2002 é um código para as relações entre iguais, relações entre civis e relações entre empresários, ambas agora pontuadas pelas diretrizes da ‘eticidade, socialidade e operabilidade’ e dominadas pelo princípio da boa-fé nas relações obrigacionais. Esta temática remete à qualidade da estrutura organizacional e das políticas de go- vernança corporativa praticadas pela empresa (pública, privada ou de economia mista), em razão de que a eticidade, a socialidade e a operabilidade o requerem. Em especial, com relação ao cumprimento da missão que lhes é confiada de movimen- tar positivamente a economia e atender à sua responsabilidade e função social com vistas à eliminação dos fatores de desequilíbrio, desigualdade e injustiça que afetam as pessoas com relacionamento direto ou indireto com as mesmas (empresas). Por evidente, o contexto social é complexo, e o universo empresarial tem a mesma característica, mas esta complexidade deve ser desafiadora para a pesquisa e melhora das técnicas respectivas, evoluindo o processo que pode colocar o direito a laborar, construtivamente, em favor do ser humano. Reiterando, muito se tem propalado e reconhecido a respeito da importância da inclusão social, da igualdade entre as pessoas, da aplicação dos direitos fundamentais nas relações privadas e do respeito à dignidade da pessoa humana. E sobre a função social do contrato e da empresa, incluindo sua responsabilidade para com os sócios, com seus colaboradores, com outras empresas e com terceiros, de modo que mais não se precisa explanar para demonstrar a importância dessa temática. Pós-Universo 21 Tendo em vista estas premissas iniciais, menciona-se que, em termos genéricos, nossa abordagem para estudo centrará-se nas ementas específicas escolhidas como disciplinas, no caso: - o direito empresarial e a governança corporativa; - a governança corporativa e suas implicações; - a responsabilidade social, ambiental e a governança corporativa; - e, a controladoria e finanças corporativas. Com esse conjunto, abre-se a possibilidade de entender emnível interessante, diga-se até cativante, os princi- pais aspectos dessa problemática. Na seara empresarial, por conta de parte da legislação mais específica ser relati- vamente recente (o Código Civil entrou em vigência em 2003, decorrendo tempo exíguo em se tratando de Direito), ainda possui aspectos que a doutrina segue de- senvolvendo em teoria e que a jurisprudência está enfrentando, gradativamente, em processo de consolidação. Outro detalhe: o direito empresarial faz parte de uma realidade dinâmica. Novidades surgem no universo das empresas e no mercado (glo- balizado) como um todo, impelindo para que negócios fluam em velocidade muito além do que o direito consegue antecipar, mas que não podem ficar à margem do marco legal (devendo ser abrangidos pelo direito enquanto sistema) e, em caso de conflito, solucionados pela Justiça. Em paralelo, nas últimas décadas, aos poucos foi ingressando no ambiente interno das empresas a valorização da governança corporativa. Ela surgiu com a finalidade de integrar no ambiente empresarial boas práticas em áreas como a gestão, implican- do controle e monitoramento proativo por parte dos sócios ou acionistas, sempre tendo como base a transparência, a fidedignidade das informações e a adoção de condutas práticas caracterizadas pela ética e honestidade. Esta realidade veio com o sentido de transformar o ambiente interno da empresa bem como seus relacio- namentos externos. A governança corporativa integra o devido cumprimento das normas legais e a assimila na conduta empresarial, o que se pode chamar de “fair play” (empresarial), ou seja, o “jogo limpo”, honesto, ético e contributivo/construtivo no cumprimento de sua função social. Pós-Universo 22 Naturalmente, a prática da boa governança corporativa apresenta muitas im- plicações merecendo disciplina autônoma, já que a visão a ser empregada inclui o cumprimento da legislação, mas procura integrar muitos outros elementos valiosos para o cumprimento da função social da empresa. Há que se ressaltar ser perceptível que a boa governança corporativa traz vantagens econômicas e vantagens sociais para o meio em que ela está posicionada. Além de conter o cumprimento dos deveres relacionados à ética e honestidade nas relações sociais, uma adequada governança corporativa é fator decisivo para atração de investimentos, confiança de parte dos demais fornecedores, consumidores, concorrentes e comunidade. Prosseguindo nesta senda, para identificar o verdadeiro desenvolvimento, que não se limita à geração de riqueza e sua acumulação (aspecto meramente econô- mico), tem-se que a função social da empresa (e da propriedade em si) apresenta relacionamento importante com as questões de ordem ambiental. O encadeamen- to das disciplinas nominadas anteriormente, revela-se um procedimento apto para que o pesquisador do direito compreenda os principais aspectos que envolvem as temáticas do direito empresarial, do direito ambiental relacionado à atuação das em- presas e das práticas eficientes para uma boa governança corporativa, portanto, algo que merece ser estudado de forma aprofundada. Como é de conhecimento até por parte de pessoas leigas, definir “direito” de forma incontestável, é algo ainda não alcançado pela comunidade jurídica haja vista as inú- meras teorias existentes a este respeito e nenhuma delas tendo alcançado adesão suficiente para que, solitariamente, prepondere sobre todas as demais. Por isso não entraremos neste tópico que justifica um tratado jurídico (restringindo-nos em nosso estudo, basicamente, ao que está relacionado à esfera do Direito Empresarial em si). Quem pesquisar a respeito, poderá encontrar destacadas concepções ela- boradas por reconhecidos doutrinadores como Hans Kelsen, John Rawls, Paul Ricoeur, Norberto Bobbio, Miguel Reale, dentre outros, mas sem que exista unanimidade suficiente para estabelecer, majoritária e definitivamen- te, o que seja “direito”. Fonte: os autores. saiba mais Pós-Universo 23 São muitas as dificuldades em conceituar o que seja “direito” e o que seja “desen- volvimento”, no entanto, pode-se encontrar substanciosa doutrina que estampa caracterização a partir das formas pelas quais, na prática, eles podem ser constata- dos, em suas características, efeitos e consequências. O economista Paulo Sandroni, que em seu conceituado “Dicionário de Economia do Século XXI” não apresenta de modo isolado, a definição ou a conceituação do termo “desenvolvimento”, optou por abordar como verbetes: “desenvolvimentismo”, “desenvolvimento autônomo”, “desenvolvimento econômico” e “desenvolvimento sustentável” (SANDRONI, 2005, p. 242). Foi nesse contexto que, ao tratar do “de- senvolvimento econômico”, chegou à conclusão de que se trata de “crescimento econômico” (aumento do Produto Nacional Bruto per capita) acompanhado da me- lhoria do padrão de vida da população e por alterações fundamentais na estrutura de sua economia” (SANDRONI, 2005, p. 242). Mais à frente, afastando-se um tanto do estritamente econômico e adentrando elementos também relacionados ao social, Sandroni (2005) advertiu que: “ A organização das Nações Unidas usa os seguintes indicadores para classi- ficar os países segundo o grau de desenvolvimento: índice de mortalidade infantil, expectativa de vida média, grau de dependência econômica externa, nível de industrialização, potencial científico e tecnológico, grau de alfabeti- zação, instrução e condições sanitárias (SANDRONI, 2005, p. 242-243). Vê-se, nestes critérios adotados pela ONU, que as empresas têm papel relevante, principalmente quando estão envolvidas nas questões relacionadas ao nível de in- dustrialização, ao potencial científico e tecnológico, ao grau de dependência externa (no sentido de que o país depende de suas empresas para não ter que importar tudo o que precisa) e porque não dizer, até no que se relaciona com a expectativa de vida média das pessoas, pois ela não deixa de depender também do respeito que as em- presas concedem à proteção do meio ambiente, incluindo a segurança e sanidade presente nas condições de trabalho que proporcionam para seus empregados. Em obra francesa reconhecida internacionalmente e traduzida para o portu- guês (de Portugal), os professores Bremond e Gélédan (1988), ao dissertarem sobre o desenvolvimento como processo e como resultado, de modo um tanto asse- melhado, valem-se de outro prestigiado doutrinador e afirmam: Pós-Universo 24 “ Para F. Perroux, ‘o desenvolvimento é a combinação das mudanças mentais e sociais que tornam uma população apta a fazer crescer, cumulativa e du- radouramente, o seu produto real e global’ (L’économie du XX siècle, PUF). O desenvolvimento é, em suma, um feixe de transformações que modifica comportamentos, integra os progressos do conhecimento, melhora as qua- lificações e o saber-fazer industrial, modifica as antecipações no sentido de acumulação (BREMOND; GÉLÉDAN, 1988, p. 340). Nesta referida obra, os autores destacam a importância da acumulação para haver aumento do Produto Nacional Bruto (podendo presumir que, em especial, se deve dar maior importância para a sua apuração per capita), porém não descuram dos aspectos sociais (1988). Ou seja, ao centrar seus posicionamentos em um viés mais ligado ao econômico, não relegaram, entretanto, a importância dos aspectos sociais, fórmula que não deixa de inferir para uma relação intensa com a atividade das em- presas e seu relevante papel dentro dessa conjuntura. Como, apropriadamente, expressaram Ferraz, Crocco e Elias (2003, p. 19): “ O resgate da temática do desenvolvimento implica utilizar uma aborda- gem identificada com a economia política do desenvolvimento. Isto impõe aceitar a multidisciplinariedade do tema, o que demanda reconhecer suas facetas econômicas, políticas, institucionais, sociais e culturais, como também entendê-lo como processo historicamente determinado. Isto porque ‘desen-volvimento é o resultado de um processo político cultural, que não se resume à manipulação de variáveis econômicas’. Tem-se, então, um cenário no qual cada vez mais se assentam os postulados de que a mera geração e acumulação de riqueza (ou capital) não significam verdadeiramente desenvolvimento, visto que este deve estar intrinsecamente vinculado ao bem-es- tar dos seres humanos afetados, incluindo, em especial, a proteção da dignidade e cidadania deles. Pós-Universo 25 Naturalmente, a forma ou modelo a ser adotado para se alcançar este deside- rato tem sido um debate interminável e se principiou há milênios, muito antes de termos Estados e empresas nos moldes que conhecemos atualmente, podendo-se citar, na Grécia da antiguidade, o sistema “socialista” propugnado por Platão, o “inter- vencionismo” defendido por Aristóteles e o “individualismo” (que, modernamente, estaria representado pelo “liberalismo”) de Hípias e Protágoras (1984, p. 30-40). E este debate perdura por séculos, muitas vezes, imbricando intensamente o sistema eco- nômico com sistema político (naturalmente, com o sistema jurídico fazendo parte deste contexto), mesmo contando com contribuições de pensadores exponenciais, podendo-se citar, dentre muitos outros Adam Smith, David Ricardo, Karl Marx, John Maynard Keynes (BRUE, 2005). A respeito, recomenda-se consultar: No que tange às correntes clássicas da economia, veja-se em Hugon (1984, p. 30-40) “História das doutrinas econômicas”. A referida obra, com grande reconhecimento a ponto de ser reeditada dezenas de vezes e que, por décadas, costumava ser livro texto em muitas escolas de economia, inclu- sive, até alguns anos após o falecimento de seu autor, ocorrido em 1973. E no que tange ao desenvolvimento, consulte-se Brue, Stanley L., “História do pensamento econômico” (tradução Luciana Penteado Miquelino), São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005. Fonte: os autores. saiba mais Observando a relação de países que ostentam a condição de possuírem PIB entre os 20 maiores do mundo, veja e compare quantos deles, efetiva- mente, proporcionam qualidade de vida para a população, considerado o Índice de Desenvolvimento Humano, renda per capita, nível educacional, condições de saúde e outros fatores. reflita Pós-Universo 26 Percebe-se que o aumento da renda nacional, mediante o crescimento industrial, a aceleração das trocas comerciais, a geração de tecnologia e/ou a maior exploração de recursos naturais (principalmente quando aumentam os preços das commodi- ties) geram uma impressão de desenvolvimento, mas podem ser apenas acréscimo desprovido do melhor sentido humano. Ou seja, resumem-se tão somente a uma parte dele (desenvolvimento) que é representada pelas condições materiais, porém nem sempre suficientes para o todo mais fundamental. Em pensamento que se pode afirmar ser muito apropriado para se aplicar à rea- lidade brasileira, o professor Sachs (2008, p. 13-14), mediante texto que merece ser citado na íntegra, devido à relevância, traduz, com profundidade, esta concepção quando diz: “ O desenvolvimento, distinto do crescimento econômico, cumpre esse re- quisito, na medida em que os objetivos do desenvolvimento vão além da mera multiplicação da riqueza material. O crescimento é uma condição ne- cessária, mas de forma alguma suficiente (muito menos é um objetivo em si mesmo), para se alcançar a meta de uma vida melhor, mais feliz e mais completa. No contexto histórico em que surgiu, a ideia de desenvolvimen- to implica a expiação e a reparação de desigualdades passadas, criando uma conexão capaz de preencher o abismo civilizatório entre as antigas nações metropolitanas e a sua antiga periferia colonial, entre as minorias ricas modernizadas e a maioria atrasada e exausta de trabalhadores pobres. O desenvolvimento traz consigo a promessa de tudo – a modernidade in- clusiva propiciada pela mudança estrutural. 2. Outra maneira de encarar o desenvolvimento consiste em reconceituá-lo em termos de apropriação efetiva de três gerações de direitos humanos: * direitos políticos, civis e cívicos; * direitos econômicos, sociais e culturais, entre eles o direito ao trabalho digno, criticamente importante, por motivos intrínsecos e instrumentais; * direitos coletivos ao meio ambiente e ao desenvolvimento (Sem, 1999; Sengupta, 2001 e 2002). Igualdade, equidade e solidariedade estão, por assim dizer, embutidas no conceito de desenvolvimento, com consequências de longo alcance para que o pensamento econômico sobre o desenvolvimento se diferencie do economicismo redutor. Pós-Universo 27 Em vez de maximizar o crescimento do PIB, o objetivo maior se torna pro- mover a igualdade e maximizar a vantagem daqueles que vivem nas piores condições, de forma a reduzir a pobreza, fenômeno vergonhoso, porquan- to desnecessário, no nosso mundo de abundância. a- O crescimento, mesmo que acelerado, não é sinônimo de desenvol- vimento se ele não amplia o emprego, se não reduz a pobreza e se não atenua as desigualdades, conforme o enfatizado, desde os anos 1960, por M. Kalecki e Dudley Seers. De acordo com o mesmo raciocínio, não é suficiente promover a eficiência alocativa. O desenvolvimento exige, con- forme o mencionado, equilíbrio de sintonia fina entre cinco diferentes dimensões. Ele também exige que se evite a armadilha da competitividade espúria e, em última instância, autodestrutiva, com base na depreciação da força de trabalho e dos recursos naturais. b- A equidade, traduzida em termos operacionais, significa o tratamento desigual dispensado aos desiguais, de forma que as regras do jogo favo- reçam aos participantes mais fracos e incluem ações afirmativas que os apoiem. Segundo a referida obra, a sintonia fina de que fala o citado doutrinador, tida como elemento basilar para o desenvolvimento sustentável, transparece ser representada por pilares de endogeneidade (oposta ao crescimento mimético) que consistem em: - autoconfiança (oposta à dependência), orientação por necessidades (em oposição à orientação pelo mercado), harmonia com a natureza e abertura à mudança institucional. A questão, neste caso, é que: - a dependência subjuga e limita a eliminação de desigualdades e a melhora para os menos favorecidos; - a orientação pelos estritos interesses do mercado, quando estes não são pautados pela ética, desconsidera a importância e normalmente produz prejuízos no tocante aos aspectos humanos envolvidos; - que o avanço sem preservação da natureza conduz para degrada- ção do meio ambiente, fator que inviabiliza melhoras futuras e fatalmente atingirá muitas pessoas; - e que, sem mudança institucional, não se consegue gerar condu- tas proativas e dessa forma alterar positivamente a conjuntura rumo ao verdadeiro desenvolvimento (SACHS, 2008). Pós-Universo 28 Advirta-se, entretanto, que quanto a esses aspectos remanesce um debate antigo, sensivelmente conflituoso e verdadeiramente ideológico (e que parece interminá- vel), envolvendo a busca da melhor receita que se revele pronta, definitiva e estável o suficiente para definir, conclusivamente, o que seja de fato “desenvolvimento” e como alcançá-lo. Em síntese: uma fórmula perfeitamente estabelecida que aponte, de forma inconteste, qual o sistema eficiente e suficiente para determinado país chegar ao desenvolvimento. É nesse contexto multidisciplinar no qual a atividade empresarial está inserida que se destaca o direito. O direito não restrito à concepção clássica de ser um “sistema de normas por si mesmas obrigatórias, estabelecidas para reger a vida em socieda- de” (SACHS, 2008), conceito que merece ser ampliado em nível de transpor os limites mais estreitos do que é positivado na lei. Há que se compreender o direito como um todo, inclusive, não se restringir ao estritamente jurídico, vendo-o com instrumento fundamental para a transformação social apta para a pacificação social. Quando Maria Helena Diniz (1998,p. 94), em seu reconhecido “Dicionário Jurídico”, identificou o sentido do termo “desenvolvimento” como sendo: “a) progresso econô- mico, social e político de um país; b) passagem gradual de um estágio inferior a um mais aperfeiçoado; c) grau de civilização”, implicitamente deixou caminho aberto para se entender o quanto o direito, em sua dimensão mais ampla, pode coadunar-se com esse desiderato evolutivo. Expôs, portanto, algo bastante complexo que não é somente pertencente à dimensão econômica ou apenas relacionado à seara jurídica, mas uma simbiose que abarca ambas as áreas, bem como vários outros aspectos multidiscipli- nares. Afinal, o direito é produto cultural e que, principalmente, no tocante à esfera empresarial, a par de prescrever (no sentido de pré-escrever) as determinações que impõe, paralelamente, é comum ter de se adaptar, posteriormente, às mudanças que surgem pela criatividade dos agentes econômicos envolvidos nas relações negociais. O fato é que o Direito integra este cenário e, naquilo que é pertinente ao presen- te trabalho focado, basicamente, nas questões relacionadas à atividade empresarial, há uma gama de disposições, com destaque para os princípios que são objetos, prin- cipalmente, do Direito Constitucional, do Direito Civil e do Direito Comercial (que na nomenclatura do Código Civil brasileiro - Lei nº 10.406/2002 - passou a ser, preferen- cialmente, denominado Direito Empresarial). Pós-Universo 29 As atividades praticadas por empresas públicas, privadas e de economia mista - de reconhecida importância para o bem-estar social - têm, na legislação, não apenas normas repressoras ou destinadas a impor limites, mas, igualmente, uma sinalização institucional e uma indução para incentivar boas condutas empresariais. Por isso, a importância de que a atuação empresarial, além de ser conforme a ordem jurídica, seja balizada por princípios da ética empresarial, conjunto que, institucionalmente, representa fator positivo e decisivo no atingimento destes melhores objetivos (parte de sua função social). No Art. 170, da Constituição Federal, estão arrolados, para a ordem econômica, um total de nove princípios e, mesmo quando não apontam conduta perfeitamente defini- da, devem ser recepcionados como diretriz marcada pela ótica da conhecida expressão que diz: “violar um princípio é muito mais grave do que transgredir uma norma!”. Outro detalhe: caracterizadamente, os princípios estabelecidos para a ordem eco- nômica afinam-se com os estabelecidos para a República. Veja-se que, no Art. 1º da Lei Maior brasileira destacam-se os valores sociais do trabalho (repetidos no Art. 6º), a livre iniciativa, a cidadania e a dignidade da pessoa humana, tudo para que, conforme o elencado no Art. 3º sejam, satisfatoriamente, alcançados os objetivos fundamen- tais da República, no caso: - construir uma sociedade livre, justa e solidária; - garantir o desenvolvimento nacional; - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; - e promover o bem estar de todos, sem precon- ceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. É natural esta conformidade entre objetivos tão grandiosos (fundamentos gerais e fundamentos para ordem econômica), haja vista que nestas prescrições normativas estão as raízes e a sinalização do que essencialmente a nação pretende para seu povo, afinal, neste conjunto estão inseridas as indicações e diretrizes para a consecução do direito ao desenvolvimento. Não se ignorem os naturais percalços decorrentes de limitações materiais (um país não se torna desenvolvido de um dia para o outro) e até das dificuldades em precisar objetivos, tais como o que seja efetivamente “bem- -estar social”, algo carregado de subjetividade. Entretanto o fato de alguém imaginar existir uma espécie de “reserva do possível” no plano social, circunstância capaz de afastar ou amainar expectativas quanto ao que seja esse bem-estar, não pode consti- tuir um fator limitador para a omissão em se tomar (e de exigir) as melhores posturas/ condutas para viabilizar o que preconiza o texto constitucional. Pós-Universo 30 Prezado(a) acadêmico(a), o que é bem-estar social? É aquele estágio que con- siste no que de melhor podemos fazer como sociedade, no sentido proporcionar às pessoas que compõem a população de nosso país condições dignas de vida. O ato de “ganhar o sustento com o suor do próprio rosto” não apenas é bíblico, mas condiz com a realidade de esforço cotidiano da maioria do povo trabalhador e, neste sentido, mencione-se que as empresas têm importante papel para desem- penhar, por exemplo, proporcionando condições dignas (inclusive seguras) para a execução do trabalho, não contratando mão de obra infantil ou em condição análoga a de escravo ou, ainda, para trabalhar sob condições degradantes. Observe que o texto constitucional inscrito no caput do Art. 170 vai além e estabelece como desi- derato a valorização do trabalho humano. Essa condição caracteriza que não se trata apenas de assegurar patamares mínimos de dignidade para o trabalhador quanto à sua contratação e submissão a determinadas condições de trabalho, mas de, efetiva- mente, valorizá-lo, ou seja, de considerar o trabalho como algo socialmente valioso e, com justiça, transferir para os trabalhadores a devida parte que merecem dos ganhos alcançados com o processo econômico empresarial. Além de melhores condições de trabalho, o direito de ter participação (mesmo que delimitada) nas decisões que os afetam e de receberem ao menos uma parte dos ganhos (lucros) obtidos também com seu esforço, e não apenas o do empresá- rio. Há que se cumprir o previsto nos Artigos 6º a 9º da Constituição Federal (BRASIL, 1988, on-line), inclusive, regulamentando os dispositivos que ainda não contam com esta indispensável complementação, tudo independentemente de outras vantagens que cada empresa, em termos de sua governança, pode proporcionar àqueles com quem contratam relação de trabalho ou emprego. Vale ressaltar que não significa va- lorização do trabalho humano e justiça nesta área, limitar-se somente a cumprir a lei que estabelece patamares mínimos do que fazer, ou não fazer, tal como se compor- tam as organizações que praticam capitalismo que se pode denominar selvagem. Valorização mediante compliance significa não apenas adotar o que a lei impõe em padrão mínimo, mas integrar e incorporar acréscimos voluntários para fazer melhor sob o ponto de vista ético e moral. Pós-Universo 31 Então, a empresa na qual existe esta consciência concentra esforços para valori- zar (acrescer valor) ao trabalho humano, tendo como limite a viabilidade empresarial. Não se trata de comprar pelo mínimo a força de trabalho, mas de, pelo máximo possível, conquistar para ter o trabalho humano ao seu lado, como parceiro contra- tual e aliado no processo empresarial. Esta postura ora descrita, não vem se alinhar às concepções ideológicas propugnadas por Karl Marx e Friedrich Engels, mas sim, alinha-se às medidas de inteligência direcionadas para fazer funcionar mais eficien- temente e com melhores resultados aquelas empresas que atuam em ambiente democrático liberal, como o brasileiro. Percebe-se que as empresas eleitas como as melhores para se trabalhar nem por isso costumam ser as que enfrentam dificul- dades econômico-financeiras, enquanto aquelas que são piores classificadas neste ranking, principalmente devido à alta rotatividade de funcionários, reconhecidamen- te, perdem muito em termos de produtividade. Por isso, na estrutura da empresa, dentre outros elementos, uma governança corporativa que leva em conta esta visão revela-se importantíssima. Por sua vez, a livre iniciativa deve dar vazão à criatividade, ao empreendedoris- mo e à profissionalidade, funcionando como propulsora da atividade empresarial, sendo indispensável, para isso, que seja incentivada,protegida e preservada, pois o Estado não é suficiente e eficiente para prover tudo o que a sociedade precisa. No texto constitucional, fica explícito que os valores sociais do trabalho e da livre inicia- tiva devem condizer com o asseguramento do direito ao exercício da cidadania e o respeito à dignidade da pessoa humana. Portanto, as normas de Direito Empresarial devem estar predispostas para incen- tivar e propiciar apoio ao desenvolvimento nacional (um dos objetivos da República), mas esse desenvolvimento deve ser “humanizado” na medida em que se está em busca de construir uma sociedade livre, justa e solidária, capaz de reduzir (em nosso ideal: eliminar) a pobreza, a marginalização, as discriminações nas quais o discrímen seja injustificado e as desigualdades provenham de relações injustas. Pós-Universo 32 São metas pretensiosas e de dimensão extremamente difícil de alcançar in- tegralmente, pois construir o bem-estar social tal como o estabelecido no texto constitucional não é tarefa simples, até por conta de que, tal como no mito grego do “tonel de danaides”, nunca se completará integralmente (como a ciência vem demonstrando, o “céu” é o limite quando se trata de bem-estar). Bem-estar é uma expressão eivada da subjetividade existente em cada ser humano individualmente considerado. Todavia, caro(a) estudante, o Direito familiarizou a comunidade jurí- dica com concepções, como o asseguramento do mínimo existencial, garantia de exercício da cidadania e respeito ao princípio da dignidade humana, que informam suficientemente a determinação do que se pode entender por bem-estar social para a média da população. Ou seja, há que se prosseguir em busca deste horizonte iden- tificável, pois quanto mais uma sociedade se aproximar desse ideal (de proporcionar bem-estar para toda sua população), mais desenvolvida será. Note-se que, mesmo optando por classificar os mencionados textos constitucio- nais como sendo espécie de normas programáticas, certo é que eles se constituem em uma escala de valores e que determinam parâmetros que a Lei Maior estabeleceu para cumprimento obrigatório, seja no âmbito individual, seja nas demais relações sociais em território brasileiro. atividades de estudo 1. Concretizar a igualdade e justiça econômica é problema que atormenta a huma- nidade, desde tempos imemoriais. A produção, a circulação e o consumo de bens (produtos e serviços) incluem-se neste contexto. Em sua opinião, considerados ideais e viabilidade, as verdadeiras igualdade e justiça econômica podem ser representa- das pela seguinte afirmação: a) Todos são iguais perante a Lei. b) A cada um, segundo suas obras. c) Dar a cada um o que é seu. d) A cada um, segundo suas necessidades. e) Todos estão sujeitos ao decidido nos Tribunais e devem respeitar. 2. Saramago (2004, quando, em sua obra “Ensaios sobre a lucidez”, refere-se ao que entende como “ilusão do mundo democrático” e diz: “Os governos que elegemos, no fundo, são correias de transmissão das decisões e das necessidades do poder eco- nômico”. Na sua visão, quem exerce maior poder atualmente? a) O Estado nacional. b) O mercado dominado pelas empresas transnacionais. c) Os blocos econômicos, como a União Europeia, o Mercosul e o Nafta. d) A população pelo voto. e) Os investidores e especuladores nacionais e internacionais. 3. Para assegurar equilíbrio e justiça no mercado, em sua opinião, revela-se mais ade- quada e eficiente a utilização simplesmente de: a) Legislação, regrando detalhadamente a atividade. b) Legislação penal econômica punitiva. c) Ampla liberdade. d) Intervenção corporativa ou por autorregulamentação. e) Intervenção estatal direta, por meio da atuação de empresas sobre as quais o Estado detém o domínio. resumo Caro(a) aluno(a), como pudemos observar, o direito ao desenvolvimento é ínsito à ordem mundial e pertencente a cada nação. Sua concepção, entretanto, supera o nível elementar de crescimento econômico enquanto simples geração e acumulação de riqueza para incluir, também, a humani- zação das atividades econômicas, ou seja, os seres humanos serem realmente beneficiados por este processo. Embora haja dificuldades em estabelecer o que é igualdade, o sistema deve laborar para isso, inclusive, no contexto empresarial. Há necessidade de uma espécie de justiça distributiva im- pregnando o sistema e sua operacionalização, segundo o direito pátrio, o que deve acontecer pelo cumprimento dos princípios constantes, principalmente, nos artigos 1º e 3º da Constituição Federal e nos subprincípios elencados no art. 170, também do texto constitucional (naturalmen- te contando com a aplicação dos direitos e garantias fundamentais e, assim, também com os demais dispositivos da ordem econômica). Neste contexto, cabe destaque para a valorização do trabalho humano e para a livre iniciativa, intimamente ligadas à atividade empresarial e aliadas com o fim de assegurar existência digna e conforme os ditames da justiça social. Objetivamente, portanto, trata-se de, nos termos da escala de valores estabelecida pela Lei Maior, colocar as atividades econômicas, em especial, as em- presariais a serviço do ideal de realizar um processo de inclusão e, com busca do desiderato da igualdade, de humanização das atividades econômicas e de valorização das pessoas. material complementar Direito e Economia no Brasil Autor: Luciano Benetti Timm (Org.) Editora: Atlas Sinopse: este livro propõe-se a ser um guia introdutório da Análise Econômica do Direito, podendo ser lido até por aqueles que não têm qualquer iniciação à Economia. Pela sua intrínseca interdisciplinaridade, podemos chamar esse diálogo profícuo entre os dois campos do saber - Direito e Economia - de Law and Economics, como fazem os norte-americanos. Não é por acaso que esse é o método mais em voga no circuito acadêmico daquele país que, sabida- mente, conta com o melhor sistema universitário do mundo. Ganham com isso os leitores, que terão acesso a teorias que dialogam com o que há de mais moderno no mundo e por ter contato com o pragmatismo da teoria jurídica e econômica norte-americana. Juristas e operadores do Direito, bem como economistas que se interessam por regulação e políticas públicas podem se valer dos conhecimentos desenvolvidos e aprofundados nesta obra para sua pesquisa ou para sua prática profissional, seja para compreender a racionalidade eco- nômica das normas jurídicas, seja para compreender o impacto dessas mesmas normas na atividade econômica. Leitura complementar para as disciplinas Direito Concorrencial, Direito Econômico, Introdução à Economia para o Direito e Análise Econômica do Direito. referências BENFATTI, F. F. N. Direito ao desenvolvimento. São Paulo: Saraiva, 2014. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Disponível em: < http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 23 out. 2018. BREMOND, J.; GÉLÉDAN, A. Dicionário Económico Social. Trad. Henrique Barros, Lisboa: Livros Horizonte Ltda., 1988. BRUE, S. L. História do pensamento econômico. Trad. Luciana Penteado Miquelino. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005. DUQUE, M. S. Direito privado e constituição: drittwirkung dos direitos fundamentais, constru- ção de um modelo de convergência à luz dos contratos de consumo. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013. DINIZ, M. H. Dicionário jurídico vol. 2. São Paulo: Saraiva, 1998. FERRAZ, J. C.; CROCCO, M.; ELIAS, L. A. (Org.). Liberalização econômica e desenvolvimento. São Paulo: Futura, 2003. HUGON, P. História das doutrinas econômicas. São Paulo: Editora Atlas, 1984. MARQUE, C. L.; MIRAGEM, B. O novo direito privado e a proteção dos vulneráveis. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012. RAWLS, J. Justiça e democracia. São Paulo: Martins Fontes, 2002. SACHS, I. Desenvolvimento: includente, sustentável, sustentado. Rio de Janeiro: Garamond, 2008. 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