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Aula 07 (2)

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Responsabilidade pelo 
vício do produto ou serviço
A insuficiência da figura dos vícios 
redibitórios na tutela dos consumidores
O Código Civil (CC) brasileiro, amparado na tradição romana, positivou a figura vícios redibitórios, 
expressão oriunda da palavra redibir, querendo significar a possibilidade dada ao adquirente de reaver, 
restaurar, retomar, recuperar o preço pago pela coisa (AZEVEDO, 2002, p. 94), solução que está prevista 
naquele diploma legislativo ao lado da possibilidade de redução do valor pago pela coisa, quando 
estiver seu valor ou sua utilização diminuídos por conta do defeito oculto que a acompanha.
De acordo com aquele diploma legislativo, vício redibitório é defeito oculto que afeta a coisa e 
que a torna imprópria ao uso a que se destina ou lhe prejudica sensivelmente o valor (PEREIRA, 2004, 
p. 123), ideia essa também defendida por José Fernando Simão (2003, p. 62), para quem, consiste no 
defeito cuja existência não se revela aos olhos senão mediante exames ou testes, desvalorizando a coisa 
ou tornando-a imprestável ao uso pretendido.
Pelo regime instituído pelo CC, os vícios redibitórios se desenvolvem no campo dos contratos 
comutativos, ou seja, naqueles contratos que impõem prestações recíprocas e com valores equitativos 
a ambas as partes, não se limitando aos negócios translativos de propriedade, como ocorre na compra 
e venda, pois é perfeitamente possível admitir que sejam observados também em negócios em que há 
a transmissão de posse, como é caso dos contratos de arrendamento rural ou de locação.
Outro requisito necessário à caracterização dessa figura é a necessidade do vício ser oculto, pois 
se ostensivo, no regime imposto pelo CC, presume-se aceito pelo credor que recebe a coisa, e dessa 
forma não se reputa oculto o defeito não observado ou detectado em razão de negligência do credor, 
mas apenas aquele que não poderia ser averiguado no momento do desempenho da prestação, como 
poderá ocorrer no caso de compra ou locação pactuada em período de estiagem, de um imóvel que 
alaga na época das chuvas.
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O defeito deve ainda preexistir ao momento da transferência de posse ou propriedade, e perdurar 
quando da reclamação, e desse modo os defeitos supervenientes e os que, existindo, desaparecerem, 
não poderão ser reclamados (DINIZ, 2002, p. 120). 
Por fim, não é qualquer defeito que autoriza a redibição do contrato ou a redução do preço ajus-
tado, mas exclusivamente aqueles que prejudiquem a utilidade da coisa, tornando-a inapta às suas 
finalidades ou diminuindo seu valor, podendo ser lembrado, como exemplo, o touro comprado para 
reprodução e que se mostra estéril.
É importante destacar que no regime instituído pelo CC, parece lícito o ajuste de cláusula contra-
tual limitando a responsabilidade do alienante pela indenização, ou mesmo, com o escopo de afastá-la 
completamente, desde que esse desconheça o vício, haja vista que as regras inerentes à matéria são 
de natureza supletiva, portanto, não cogentes, podendo ser alteradas pela vontade das partes (SIMÃO, 
2003, p. 125).
O lesado deve observar os prazos estipulados pelo legislador, de natureza manifestamente 
decadencial, eis que visam à extinção ou modificação da relação originária (SIMÃO, 2005, p. 359). Prazo 
esse que é de 30 dias se a coisa for móvel e de um ano se for imóvel, iniciando-se com a entrega do bem 
e reduzindo-se pela metade se o bem já estava em poder daquele que adquire a posse (como ocorre 
na locação ou no leasing) ou a propriedade (como se dá na compra e venda) do objeto, regra aplicável 
quando o defeito é aferido logo após a entrega da coisa; sendo que se o defeito demorar a surgir, o 
prazo se inicia com o aparecimento do mesmo, desde que se manifeste no prazo máximo de 180 dias, 
em se tratando de bens móveis; e de um ano, para os imóveis, consoante se extrai do parágrafo 1.º 
do artigo 445 do CC; e surgindo nesse lapso temporal, o lesado terá os prazos citados no início desse 
parágrafo para propor a ação cabível.
A teoria do vício do produto ou serviço
A figura dos vícios redibitórios não foi suficiente para tutelar os consumidores que, diante da 
velocidade em que as relações jurídicas se manifestam nessa seara, seriam certamente injustiçados se 
tivessem que recorrer à mesma, como restará claro ao longo das linhas desta aula. 
Desse modo, visando corrigir distorções nos efeitos das contratações ocorridas no âmbito das 
relações de consumo e surgindo a partir da constatação de inúmeros problemas ocorridos em razão do 
fenômeno da contratação em massa, a teoria do vício do produto e do serviço dita que os fornecedores 
respondem pelos defeitos de qualidade que tornem o objeto adquirido ou serviço contratado impró-
prio ou inadequado ao consumo a que se destina, pelos vícios de quantidade, e ainda, pelas informa-
ções que estejam em disparidade com a destinação e utilidade esperada pelo consumidor.
Como pode-se observar, o fornecedor está obrigado a garantir que o objeto do contrato satisfaça 
integralmente às necessidades do consumidor, e em princípio, a não ser que este seja o único responsável 
pelo problema, se este realmente existir, como se afere de recente decisão do Tribunal de Justiça do 
Distrito Federal (TJDFT), que dita que “incomprovado o mau uso do veículo pelo consumidor, impõe-
-se à concessionária o dever de indenizar pelos defeitos decorrentes de má fabricação do automóvel” 
(Ac 3448695), o fornecedor deverá solucionar o problema nos moldes delineados pelo Código de Defesa 
do Consumidor (CDC). 
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Ao contrário do que ocorre no CC, cumpre destacar com Paulo Lôbo (1995, p. 37) que mesmo que 
o vício seja aparente no momento da entrega do produto ou da execução do serviço, o fornecedor será 
responsável pela solução daquele, dever este que se impõe em razão do “caráter impessoal, desigual e 
massificado” das relações negociais que se aperfeiçoam sob a égide da lei especial.
Resta claro que os vícios que afetam os bens de consumo, ao contrário daqueles previstos no CC, 
não precisam ser ocultos, bastando que existam, e em princípio, o fornecedor tem o direito de substituir o 
produto viciado em até 30 dias após a reclamação, sob pena de abrir-se ao consumidor o direito de: 
a) pedir a troca do produto por outro da mesma qualidade; 
b) a restituição da quantia paga, devidamente corrigida; ou a seu critério; 
c) o abatimento proporcional do preço.
Por consequência, não se impõe ao consumidor o ônus de agir de modo diligente no momento 
da aquisição do produto, até porque, a velocidade em que as relações comerciais são praticadas impe-
diria a consecução adequada de atos dessa natureza, e ainda porque quando se adquire um produto no 
mercado é razoável esperar que este funcione adequadamente e que eventual problema seja exceção.
O prazo de 30 dias previsto em lei para a solução do problema que é dado ao fornecedor pode 
ser reduzido pelas partes, não podendo ser inferior a sete, nem superior a 180 dias; salientando-se que 
no contrato pactuado por adesão, ou seja, aquele em que o consumidor se limita a aceitar as cláusulas 
antecipadamente predispostas pelo fornecedor, que pode ser ajustado verbalmente, pois a lei não exige 
forma escrita, a cláusula de ampliação de prazo deverá ser convencionada em separado, por meio de 
manifestação expressa do consumidor, sob pena de nulidade.
Em relação à existência do dever do consumidor de notificar o fornecedor, para que, na esfera 
privada, solucione o problema, antes de ser compelido a trocar o produto, devolver o dinheiro ou 
reduzir o preço do bem viciado, há dúvida se tal procedimento é obrigatório, ou seja, se consiste em um 
direito do fornecedor (CINTRA, 1993, p. 124), ou se é facultativo,ou seja, consiste em mais uma via dada 
pelo sistema ao consumidor que busca a solução do problema (LÔBO, 1996, p. 75). Aparentemente, o 
Superior Tribunal de Justiça (STJ) comunga do primeiro entendimento, como se observa neste julgado: 
“não sanado o vício de qualidade, cabe ao consumidor a escolha de uma das alternativas previstas no 
art. 18, §1.º, do CDC [condenando-se] a fabricante a substituir o automóvel” (REsp 185.836/SP); linha 
esta seguida também por José Fernando Simão (2003, p. 189), ao destacar que no que pertine ao vício 
de qualidade do produto o consumidor tem o dever de permitir que o fornecedor solucione o problema 
sob pena de não poder exercitar seu direito à garantia.
Ademais, é importante destacar que o consumidor está autorizado a fazer uso imediato do 
direito de postular a substituição do produto ou a devolução do dinheiro pago, sempre que, em razão 
da extensão do vício, a substituição da parte viciada puder comprometer a qualidade ou característica 
do objeto, como na hipótese de automóvel entregue pela concessionária com problema de concepção, 
ou da casa cuja construção foi contratada junto a um empreiteiro e que apresenta graves defeitos 
estruturais que não serão facilmente sanados. 
A mesma solução se impõe quando se tratar de produto essencial, como é o caso de aquisição 
de produtos alimentícios comprados com prazo de validade vencido ou que estejam deteriorados, até 
porque, tais produtos, nos termos do parágrafo 6.º do artigo 18 do CDC são considerados impróprios ao 
consumo, ao lado de produtos que estejam alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, 
fraudados, que sejam nocivos à saúde ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas regulamentares 
de fabricação, distribuição ou apresentação.
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Mas, efetivamente, o que é vício? Vício, para o CDC, é qualquer alteração das características de 
qualidade ou quantidade que: 
a) tornem o produto ou serviço impróprio ou inadequado ao fim a que se destina; 
b) que lhe diminua o valor; ou que, 
c) nasça da disparidade de informação entre a finalidade esperada e a utilidade concreta.
A noção de vício, como se denota, é plurissignificativa, mas que em princípio está atada a uma 
característica intrínseca ao produto, que causa um mau funcionamento ou funcionamento inadequado 
para o fim a que se destina o objeto. 
A partir dessas premissas, e considerando que a noção de vício de quantidade se explica por si só, 
eis que pode ser aferido no plano da proporcionalidade aritmética, em linhas gerais, pode sustentar-se 
que os vícios de qualidade e de informação podem ser divididos em três grandes grupos, a saber: 
a) vícios de durabilidade; 
b) vícios de desempenho; 
c) vícios por inadequação.
Na primeira hipótese pode ser enquadrada a aquisição de um computador junto à empresa espe-
cializada e que dura por pouco mais de um ano ou dois, pois se espera que esses produtos funcionem 
adequadamente um período certamente maior; na segunda, a contratação de uma viagem de lua de mel 
nas ilhas caribenhas, mas que não é usufruída como esperado porque a empresa de turismo se “esqueceu” 
de informar que aquele período escolhido pelas partes é o da temporada de furacões; e na terceira, reto-
mando um exemplo na área da informática, a compra de um programa complexo e que somente pode ser 
operado por um especialista na área, muito embora, comercializado sem essas ressalvas.
Dessa feita, no vício de durabilidade, o objeto perece ou se deteriora antes do esperado, no de 
desempenho, não tem a eficácia esperada, e no vício por inadequação, haverá uma alteração na quanti-
dade, na qualidade, ou que nasce da falta de informação sobre o uso do produto ou serviço, e que acaba 
por implicar na frustração do consumidor por não poder usufruir o objeto contratado do modo por ele 
esperado (GRASSI NETO, 2007, p. 37).
O fornecimento de informação adequada, como se denota, é deveras importante na análise 
da teoria estudada, e desse modo, também serão considerados vícios, os decorrentes da disparidade 
existente entre as indicações constantes do recipiente, embalagem, rotulagem, oferta ou mensagem 
publicitária, sendo que autores como Cláudia Lima Marques (1998, p. 599-600) sustentam até mesmo a 
existência da teoria dos vícios da informação.
Como antecipado, mais simples é a intelecção do artigo 19 da Lei 8.078/90 que versa sobre os 
vícios de quantidade, já que, uma vez detectado o fato de ter havido entrega de quantia inferior a 
contratada, autoriza-se o consumidor a postular o abatimento proporcional do preço; a complemen-
tação do peso ou medida; a substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo, 
sem os aludidos vícios ou a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem 
prejuízo de eventuais perdas e danos.
Afere-se de modo explícito a atuação nessa seara dos princípios da transparência e da confiança. 
O primeiro é lido a partir da imposição, ao fornecedor, de observar o dever lateral de informação, dever 
esse qualificado pela ideia de clareza, que se divide em três esferas: a) a que impõe o uso de termos 
acessíveis a todos; b) a que determina a utilização dos canais adequados de informação; e enfim, 
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c) a obrigação de redigir no vernáculo (GRASSI NETO, 2007, p. 39); e o segundo, na preocupação do 
sistema em tutelar a expectativa depositada pelo consumidor na adequação dos objetos adquiridos 
no mercado de consumo, de modo que esses devem ser úteis ao fim a que se destinam. Retomando as 
manifestações do princípio da transparência, alguns exemplos, citados a seguir, ilustram as assertivas 
formuladas.
Na primeira hipótese, o princípio será desrespeitado quando da utilização de expressões 
complexas e linguagem excessivamente técnica, ou mesmo, de linguagem ininteligível, como é o caso 
das famosas prescrições médicas redigidas à mão; no segundo, quando da ausência de informações 
sobre a quantidade e qualidade do objeto na própria embalagem; e no último, na utilização de rótulos 
em idioma estrangeiro.
Convém distinguir que existem produtos e serviços defeituosos, sem que sejam inseguros. Por 
exemplo, uma roupa pode apresentar alguma deformidade de design, sem trazer risco à saúde. Na mesma 
linha, existe produto ou serviço com deficiência e que pode causar sérios prejuízos, exemplificando: 
um medicamento com a validade expirada, e que continua exposto à venda; um portão que é fixado 
irregularmente, e que pode cair ferindo um transeunte ou um veículo cujo sistema de freios não funciona 
adequadamente.
É importante destacar ainda que o CDC dispensa a gravidade do vício por impropriedade ou 
por inadequação, bastando que tal produto se apresente viciado para ser suscetível de cobertura da 
garantia (QUEIROZ, 1998, p. 114). 
Desse modo, a gravidade do defeito é irrelevante (QUEIROZ, 1993, p. 162), pois a Lei 8.078/90, a 
partir do princípio da confiança, considerando que produtos e serviços impróprios ou inadequados não 
atendem à expectativa do consumidor, autoriza que esse opte pelas já destacadas alternativas, e dessa 
forma, basta que o produto se apresente viciado para ser suscetível de ser coberto pela garantia legal 
(QUEIROZ, 1998, p. 114).
É importante destacar ainda que ao contrário do que ocorre no CC, não prevalecerá cláusula que 
preveja isenção ou redução de responsabilidade do adquirente, pois de acordo com o artigo 1.º da 
Lei 8.078/90, as normas que compõe o CDC são de ordem pública, e, portanto inderrogáveis pela 
vontade das partes.
Enfim, ao ditar o CDC que os fornecedores respondem solidariamente pelos aludidos vícios, quis 
dizer que o consumidor poderá dirigir seu pedido em face de qualquer um daqueles, sendo que essa 
responsabilidadese estende até mesmo aos prepostos e representantes autônomos. 
Assim, cada responsável pela cadeia de consumo está obrigado a responder pelo problema como 
um todo, e uma vez provocado pelo consumidor, deverá atender à pretensão desse, e tendo solucio-
nado o problema do consumidor, terá ação de regresso em face do verdadeiro responsável pelo vício 
(LÔBO, 1995, p. 39-40).
Nesse contexto, cabe lembrar um problema frequente suportado pelos consumidores de 
telefones celulares, que quando verificam um vício em seus aparelhos e procuram a revendedora, 
sempre se deparam com a alegação de que o problema é de fábrica. À luz do que foi analisado até aqui, 
afere-se que esse argumento não procede.
Enfim, salienta-se que as soluções até aqui analisadas aplicam-se também aos fornecedores de 
serviços, logicamente, cabendo ao consumidor, no caso do serviço não ser desempenhado adequada-
mente, exigir alternativamente e à sua escolha: 
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a) a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível; 
b) a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais 
perdas e danos; ou, 
c) o abatimento proporcional do preço, destacando-se que, nesse caso, a reexecução dos serviços 
poderá ser confiada a terceiros devidamente capacitados, por conta e risco do fornecedor.
A respeito desse tema, é importante salientar ainda que no fornecimento de serviços que visem 
à reparação de qualquer produto, considera-se implícita a obrigação do fornecedor de empregar 
componentes de reposição originais e novos.
Dos prazos para o exercício 
dos direitos assegurados pelo legislador
O CDC também prevê prazos para que o consumidor exercite seus direitos em juízo, concedendo 
30 dias no caso de bens não duráveis e 90 dias no caso de produtos duráveis, prazos esses que podem ser 
dilatados pela convenção das partes por meio da concessão de garantia convencional, que deverá 
ser somada a legal para efeito de cômputo de prazo. Assim, se a incorporadora vender um imóvel para 
um consumidor e conceder o prazo de garantia de um ano para a solução de vícios aparentes, o mesmo 
deverá ser somado o de 90 dias previsto na lei.
Cumpre informar que bem não durável é aquele que desaparece no primeiro ou logo após pouco 
uso, como é o caso de alimentos e produtos de higiene como sabonete e pasta de dente; enquanto, 
bem durável é o que tem maior utilidade, como imóveis e veículos automotores.
Os prazos antes destacados podem ser suspensos, ou seja, podem ser paralisados, ou como 
quer o CDC, obstados. Isso se dá com a reclamação feita junto ao fornecedor, que deverá ser provada 
pelo consumidor, muito embora não se exija forma escrita, ou quando dirigida a órgão de proteção ao 
consumidor, como é o caso do Programa de Orientação e Proteção ao Consumidor (Procon).
Após a paralisação, voltará a fluir a partir da resposta negativa que deve ser transmitida de forma 
inequívoca ao consumidor, e desse modo excluem-se os dias que transcorreram antes da reclamação 
e conta-se apenas o prazo restante, tese esta defendida por José Fernando Simão (2003, p. 121), mas 
refutada por Odete Novais Carneiro Queiroz (1998, p. 165), que entende que há interrupção do prazo, 
ou seja, que o prazo é devolvido por completo. Diante da dúvida na doutrina, por cautela, sugere-se que 
na prática, observe-se o primeiro entendimento.
Por sua vez, tudo o que se disse até aqui refere-se ao vício aparente, porque se oculto, os prazos 
de 30 ou de 90 dias serão contados a partir do seu surgimento, não havendo na lei momento temporal 
limitativo da responsabilidade do fornecedor nesses casos, havendo de se ter em conta a vida útil do 
produto (CINTRA, 1993, p. 142). 
Salienta-se que o princípio da boa-fé objetiva terá suma importância quando houver um vício 
oculto, pois enquanto critério hermenêutico integrativo, ou seja, como regra de interpretação que 
determina que o juiz deva analisar o caso concreto a partir do comportamento esperado de cada uma das 
partes, permitirá ao magistrado buscar a solução mais justa em cada situação que lhe seja apresentada.
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Como exemplo dessa afirmação, um recente julgado proferido pelo Tribunal de Justiça do Rio 
Grande do Sul (TJRS) ampliou a garantia legal para além dos prazos fixados no CDC, fazendo isso em 
razão da necessidade de proteção da confiança depositada no cumprimento do contrato de modo ade-
quado, que no caso específico, não se encerra com a entrega do bem, mas sim na certeza de que esse 
será usufruído por prazo razoável, pois cada produto carrega consigo uma expectativa de durabilidade, 
a ser aferida em caso concreto (Ap. Cível 70014964498).
Atividades
1. Por que a figura dos vícios redibitórios não é apta a resolver os problemas ligados à aquisição de 
produtos e serviços defeituosos? 
2. O fornecedor está obrigado a garantir a qualidade dos produtos que vende. Caso desconheça o 
problema, ainda sim assume essa obrigação? 
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