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Aula 10 (1)

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Contratos por adesão
O contrato por adesão, normalmente denominado de contrato de adesão, deve ser entendido 
como o negócio cuja minuta ou clausulado vem previamente estipulado por um dos contratantes, 
conteúdo ao qual se tem a opção de aderir ou não, ou como quer Cláudia Lima Marques (1998) são 
aqueles contratos que têm seu conteúdo preestabelecido por uma das partes, restando à outra a 
possibilidade de aceitar em bloco as cláusulas estipuladas unilateralmente sem poder modificá-las 
substancialmente, ou recusar o contrato e procurar outro fornecedor de bens ou serviços.
Nesse mesmo sentido, reafirme-se que:
[...] contrato [por] adesão é aquele cujas cláusulas são preestabelecidas unilateralmente pelo parceiro contratual 
economicamente mais forte (fornecedor) ne varietur, isto é, sem que o outro parceiro (consumidor) possa discutir 
ou modificar substancialmente o conteúdo do contrato escrito [e desse modo] o contrato de adesão é oferecido ao 
público em um modelo uniforme, geralmente impresso, faltando apenas preencher os dados referentes à identificação 
do consumidor-contratante, do objeto e do preço [e consequentemente] aqueles que, como consumidores, desejarem 
contratar com a empresa para adquirirem produtos ou serviços, já receberão pronta e regulamentada a relação 
contratual e não poderão efetivamente discutir, nem negociar singularmente os termos e condições mais importantes 
do contrato. (MARQUES; BENJAMIN; MIRAGEM, 2003, p. 714)
Tais premissas são extraídas em solo tupiniquim da dicção do artigo 54 do Código de Defesa do 
Consumidor (CDC), que dispõe que “contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas 
pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, 
sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo”.
Salienta-se que nesse trabalho é utilizada a expressão contrato por adesão em vez de contrato 
de adesão, haja vista que não se trata em verdade de um tipo contratual, de uma espécie determinada de 
contrato como é o caso da compra e venda, da locação, da empreitada, do mútuo e do comodato, entre 
tantos outros existentes no direito brasileiro, mas sim como é ululante, de uma forma de contratação. 
Aliás, em verdade, adere-se mesmo é às condições gerais do contrato como quer Paulo Lôbo (2006, 
p. 111), entretanto, não há espaço nessa obra para que a análise científica desse problema seja esmiuçada 
e, caso haja interesse do leitor, poderá compreender melhor o assunto lendo a obra aqui destacada.
Ato contínuo, cumpre informar que se pode afirmar sem qualquer dúvida que os contratos por 
adesão constituem-se como uma modalidade de formação do contrato que se coloca em oposição à 
noção de contrato paritário, ou seja, de negócio minudentemente discutido pelos parceiros negociais, 
já que na formação daqueles não existe liberdade de convenção, uma vez que o aderente se limita a 
aceitar ou não as cláusulas e condições preestabelecidas pelo proponente (EFING, 2004, p. 232), como 
visto, tendo no máximo o poder de discutir a forma de pagamento ou outros aspectos diminutos.
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Tal modalidade de contratação, em verdade, se faz necessária, e se justifica por diversos fatores, 
entre eles: a velocidade em que as negociações se desenvolvem na atualidade; a escassez de tempo 
causada pelo ritmo da vida moderna; a redução dos custos na fase pré-negocial; a uniformidade de 
tratamento das relações, cada vez mais impessoalizadas; forma de contratar essa que, como visto, surge 
em oposição ao clássico contrato paritário, que se sintetiza como aquele em que as partes negociam as 
cláusulas detalhadamente.
Aliás, fato é que a maior parte dos contratos pactuados no âmbito das relações de consumo se 
aperfeiçoa por adesão, que se de um lado é capaz de, como visto, agilizar o aperfeiçoamento dos negó-
cios jurídicos, de certo modo, possibilitando que um maior número de contratantes tenha acesso aos 
bens, por outro lado, acaba “democratizando” e “socializando” as injustiças e os abusos, eis que a mesma 
minuta carregada de preceitos particulares viciados na concepção, será imposta a milhares, às vezes, 
milhões de consumidores, sem que estes possam previamente se insurgir contra esses abusos.
Exatamente por conta desses problemas, como bem ensina Federico de Castro y Bravo (1987, 
p. 20), mais precisamente, visando evitar que uma classe fortaleça seu poder (os fornecedores) aprovei-
tando-se e usurpando a liberdade e as garantias dos membros de outra, que aos olhos deste trabalho 
seriam os consumidores é que o legislador acabou determinando que alguns limites sejam observados 
quando se contrata desse modo.
Interessante destacar aqui com Luiz Antônio Rizzatto Nunes (2005, p. 598), na medida em que 
nessa modalidade de contratação não se pode falar em livre manifestação de vontade, tambem há de 
se pensar na extensão dos efeitos do princípio da pacta sunt servanda, no vernáculo, força obrigatória 
dos contratos, sendo ululante que se ela existir, encontrar-se-á bastante mitigada, se comparada aos 
efeitos dos contratos pactuados após a existência de uma fase em que tenha ocorrido negociação das 
cláusulas contratuais.
No intuito de sistematizar a matéria, é interessante destacar que um contrato por adesão pode 
ser concebido a partir de algumas das suas características, entre elas: a bilateralidade, a generalidade, 
a uniformidade e a abstração das cláusulas (RESTIFFE NETO; RESTIFFE, 2004, p. 63) e, ainda, a relativa 
inalterabilidade e a eficácia concreta dependente de integração.
Uma rápida explicação do que seja cada uma dessas características se faz necessária: 
a) bilateralidade – implica na necessidade de que para a formação de um contrato, impõe-se a 
presença de pelo menos duas declarações de vontade; 
b) generalidade – quer dizer que as cláusulas não são elaboradas tendo em conta a pessoa do 
consumidor, mas sim um sem número de pessoas na mesma situação fática; 
c) uniformidade – significa que analisando várias minutas, será observado que seguem um 
mesmo padrão, se é que não se pode afirmar que são idênticas; 
d) abstração das cláusulas – implica na existência das condições gerais do contrato, 
independentemente da existência de um parceiro negocial concreto; 
e) relativa inalterabilidade – traduz a ideia do pequeno poder dado ao aderente de alterar o 
conteúdo das cláusula contratuais; 
f) eficácia concreta dependente de integração – consiste no fato de que o contrato só produzirá 
efeitos a partir do momento em que o aderente externa sua vontade de contratar.
Mas será efetivamente que o consumidor, dentro desse quadro que se apresenta, tem alguma 
vantagem nessa forma de contratação, especialmente quando se analisa sua situação sob o prisma da 
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necessidade de contratar, à qual muito bem alude em suas aulas o professor Flávio Tartuce, quando 
lembra as situações de prestacão de serviços essenciais como água, energia elétrica, fornecimento de 
gás, e mesmo hipóteses como as ligadas à alimentação, ao vestuário, à moradia e à saúde, mormente 
porque a saúde pública no Brasil é, com a devida vênia, um caso de polícia.
Diante do quadro que se apresenta, resta evidente, como quer Teresa Negreiros (2002, p. 370), 
que a manifesta desigualdade entre os contratantes legitima a imposição de medidas que tutelem 
o aderente que não pôde negociar os termos do contrato pactuado, e por conta disso, a cada dia, 
observa-se o nascimento de novas regras que buscam o reequilíbrio das relações externadas por tal 
forma de contratação.
Muito embora os contratos por adesão sejam mais frequentes no âmbito das relações de 
consumo, não se confundem com esses, daí que também poderão surgir na esfera das relações civis, 
como em regraocorre no caso dos contratos de locação, de leasing e como também pode ocorrer nos 
casos de compromisso de compra e venda de imóveis pactuado entre particulares, e ainda, em todos 
os demais em que as condições negociais sejam preestabelecidas por uma das partes.
Um belo exemplo da situação destacada observa-se nos contratos de aquisição de safra 
pactuados entre agricultores e fecularias no estado do Paraná, haja vista que as empresas elaboram 
as minutas de modo detalhado e posteriormente colhe a assinatura dos pequenos agricultores, 
alterando-se apenas, em cada instrumento, a quantidade esperada do produto comprado em razão 
da extensão das áreas cultivadas, aproveitando-se ainda, para além da vasta experiência e do quadro 
de profissionais que desenvolvem a atividade mercantil e conhecem os segredos de sua área, no mais 
das vezes, da necessidade dos pequenos agricultores em comercializarem a safra a ser colhida no 
futuro para que possam alimentar seus rebentos.
Cumpre destacar que o legislador não fechou os olhos para o problema, e ainda que timidamente, 
positivou a matéria nos artigos 423 e 424 do vigente Código Civil (CC), tratando o primeiro da 
interpretação mais favorável ao aderente e o segundo vedando a renúncia antecipada a direito inerente 
ao contrato e nesse condão, quando o intérprete vier a se defrontar com contradições ou obscuridades 
nas cláusulas negociais ou mesmo quando vier a se deparar com flagrante desequilíbrio, com amparo 
nas aludidas regras e, especialmente, tendo como fonte o texto constitucional e princípios como o da 
função social, equilíbrio das prestações e boa-fé objetiva, deverá executar sua missão em busca da 
solução mais justa, remediando a patologia existente; restando evidente que os contratos regrados 
pelo CC também poderão ser infectados por cláusulas abusivas.
Também no CDC se afere a preocupação do legislador quando a construção de soluções para 
o caso de problemas surgidos no âmbito hermenêutico, ditando, por exemplo, no artigo 47, que “as 
cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor”.
Trazendo o problema para o campo da práxis, decidiu recentemente o Tribunal de Justiça do Rio 
Grande do Sul (TR-RS) que:
[...] havendo dissonância entre a proposta (pré-contrato) e o contrato de promessa de compra e venda em efetivo 
prejuízo ao consumidor, restam feridos os princípios da informação e da força cogente da proposta inscritos no CDC 
[e] é dever de todo o fornecedor prestar as informações claras e precisas dos produtos e serviços postos à disposição 
dos consumidores, [pois] as declarações de vontade constantes de escritos particulares, recibos, pré-contratos relativos 
às relações de consumo vinculam o fornecedor [e dessa forma], o estabelecimento de reajustamento de parcela de 
contrato de forma diversa do estatuído no pré-contrato traduz-se em evidente lesão aos direitos do consumidor. [...] 
(Ap. Cível 70018566604)
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Como se afere desse julgado, a contradição se deu não na minuta contratual, mas sim entre o 
conteúdo dessa e o das propostas preliminares, e mesmo assim, tutelando-se a boa-fé do consumidor, 
vulnerável, como amplamente demonstrado ao longo de trabalho, promovendo-se a interpretação que 
pôde ser mais favorável a ele.
Ademais, no que pertine às cláusulas que limitam direitos do consumidor, há de se destacar que 
sua interpretação deve ser promovida sistematicamente e nunca literalmente ou de modo isolado, 
posto que uma vez eleito esse caminho, dificilmente será possível demonstrar que tais cláusulas foram 
redigidas de modo ininteligível, posto que lidas uma a uma, em regra, é possível aferir a clareza de seu 
conteúdo e, por consequência, poderiam aparentar uma pseudovalidade (EFING, 2004, p. 235). 
Vale lembrar ainda que, consoante o artigo 46 do CDC “os contratos que regulam as relações de 
consumo não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento 
prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a 
compreensão de seu sentido e alcance” e, por consequência, se qualquer das cláusulas que compõe o 
contrato não for apresentada ao aderente e seu conteúdo adequadamente esclarecido, o consumidor 
não estará obrigado a respeitá-la.
Merece destacar nesse contexto que os contratos por adesão devem ser escritos em termos claros 
e com caracteres ostensivos e legíveis, de modo a facilitar sua compreensão pelo consumidor e que 
as cláusulas que limitem direitos devem ser redigidas com destaque, permitindo sua imediata e fácil 
compreensão. 
Em verdade, cumpre afirmar que o fornecedor não só está obrigado a redigir suas minutas de 
modo claro e em linguagem acessível, mas também, no que tange às cláusulas que limitam ou restrigem 
direitos do consumidor, tem o dever de destacá-las, seja utilizando negrito ou itálico, seja grafando-as 
com uma letra maior que o padrão na minuta, seja, enfim, utilizando outra cor em tais cláusulas quando 
do processo de impressão, sob pena de tais cláusulas, ainda que não possam ser caracterizadas como 
abusivas e, portanto, nulas, não obrigarem o consumidor. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) ratifica 
essa tese, dando razão ao consumidor não informado do conteúdo do clausulado limitativo de seus 
direitos, como se observa no julgado agora transcrito: 
[...] nos contratos de adesão as cláusulas que implicarem limitação de direito do consumidor deverão ser redigidas com 
destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão [pois] se assim não está redigida a cláusula limitativa, não tem 
força para alcançar o consumidor, presente flagrante violação, que merece reconhecida. [...]. (REsp 255064 / SP)
O mesmo tribunal deu razão ao fornecedor que informou o consumidor de modo expresso 
sobre uma limitação lícita no contrato que pactuavam, esclarecendo que os contratos de adesão são 
permitidos em lei [e deste modo] o CDC impõe, tão somente, que:
[...] as cláusulas que implicarem limitação de direito do consumidor deverão ser redigidas com destaque, permitindo 
sua imediata e fácil compreensão [e] ainda que se deva, em princípio, dar interpretação favorável ao adquirente de 
plano de saúde, não há como impor-se responsabilidade por cobertura que, por cláusula expressa e de fácil verificação, 
tenha sido excluída do contrato. [...] (REsp 319707 / SP)
Assim, como quer Luiz Antônio Rizzatto Nunes (2005, p. 592) ”é o contexto que dirá do destaque 
[e assim] se todo o texto estiver impresso num tipo gráfico corpo 8 e nele surgir uma palavra no tipo 
gráfico corpo 20 em negrito, então o vocábulo estará destacado [entretanto] se todo o texto estiver 
escrito no tipo 20 negrito, não haverá destaque algum, pois tudo se mistura”.
Ratificando essa tese, recentemente o TJ-RS decidiu que:
[...] a inscrição, em letras miudíssimas, na primeira página do vultoso encarte publicitário, de que o consumidor deveria 
consultar os produtos disponíveis para a condição de pagamento noticiada, não tem o condão de escusar a fornecedora 
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que no mesmo encarte, anuncia três produtos (dois dos quais adquiridos pela autora) em grupo separado e destacado 
por uma mesma cor de fundo (laranja), constando à direita a inscrição de que o 1.º pagamento seria somente em 
agosto. [...] (Ap. Cível 71001043942)
Desse modo, como se afere, impôs-se ao fornecedor o dever de conceder prazo maior que o 
pretendido pelo credor para pagamento.
Quando se pensa em contrato por adesão, vale lembrar que “a inserção de cláusula no formulário, 
por exemplo, sobre o preço, condições, data de entrega e outras, não desfigura a natureza de adesão 
do contrato” (MARQUES; BENJAMIN; MIRAGEM, 2003, p. 714) e, desse modo, o fato de em um contrato 
de compromisso de compra e vendade imóvel loteado haver discussão sobre o preço e o prazo para 
pagamento não desfigura a forma em que tais negócios jurídicos são pactuados, assertiva essa que é 
ratificada pelo conteúdo do parágrafo 1.º do artigo 54 do CDC.
Salienta-se, enfim, que eventual inserção de cláusula resolutiva expressa somente pode ser aposta 
nos contratos por adesão, caso beneficie exclusivamente o consumidor, ou seja, a cláusula que dita que 
no caso de não cumprimento da obrigação, autoriza-se a parte lesada a pôr fim ao contrato, exigindo 
o retorno ao estado anterior ao da contratação, bem como a ser ressarcida dos prejuízos que possa ter 
sofrido, só poderá ser pactuada em benefício do consumidor.
Atividades
1. Como se identifica um contrato por adesão?
2. Quais as características que se repetem constantemente e que permitem identificar um contrato 
por adesão?
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