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Instituto Três Rios – ITR - Faculdade De Direito Disciplina Direito Penal III Profª Drª Júlia Gomes Pereira Maurmo Aluna: Ana Carolina Souza Magalhães - Matrícula: 2018770029 Atividade Assíncrona QUESTÕES: ABORTO 1. Para que se caracterize o aborto, é necessário que a morte do feto ocorra ainda no ventre materno. Se a morte se der após a expulsão do feto, haverá homicídio? Quando ocorre a morte do feto em decorrência de realização de aborto, ainda que após a expulsão do mesmo, é considerado como consumado, portanto da mesma forma considera-se crime previsto no Art. 124 do CP se realizado por si mesma, ou ainda no Art. 125 do CP se for realizado por terceiro sem consentimento da gestante, e por fim, previsto no Art. 126 do CP se realizado com o consentimento da gestante. Somente será considerado homicídio, ou infanticídio dependendo das condições físico e psíquicas da mãe, se o agente matar o recém-nascido sem prévia tentativa de aborto que venha decorrer na morte do mesmo. 2. Segundo o STJ feminicídio de grávida e provocação ao aborto geram dupla valoração? De acordo com a jurisprudência e o entendimento consolidado do STJ, o feminicídio de grávida e provocação de aborto não geram dupla valoração, não ocorrendo bin in idem, portando podendo ser aplicados, uma vez que se trata de tutela de bens jurídicos diferentes, o Art.125 do CP protege a vida do feto quanto a violência contra a sua própria vida sem a autorização da gestante, enquanto o Art. 121 do CP protege a vida da mulher em situação de vulnerabilidade. Deste modo, cabe a aplicação da qualificadora de feminicídio mencionada no Art. 121, inciso agravante genérica presente no Art. 61, inciso II, alínea h, onde o agente comete o crime contra mulher grávida Cabe ressaltar que poderá ocorrer a qualificação do crime de aborto tendo como base o Art. 127, que ressalta a duplicidade da pena caso venha ocorrer a morte da gestante. 3. Quem encoraja a gestante a praticar um aborto e a acompanha à clínica médica responde como partícipe do aborto provocado por terceiro com o consentimento da gestante? Diante do induzimento à gestante para realização do aborto, caberá ao agente a condenação como partícipe do crime que fora realizado pela gestante, conforme o Art.124 do Código Penal, uma vez que pela natureza do crime não pode se considerar que haja coautoria. Deste modo responderá como quem induz, instiga ou auxilia na infração penal, de acordo com o Artigo 29 do Código Penal. 4. No que tange ao aborto legal expresso no CP, adota-se o sistema das indicações, abrigando-se tão somente a terapêutica e a sentimental com restrições? O Código Penal Brasileiro adota o sistema das indicações, onde considera-se como regra a vida do nascituro como bem jurídico a ser tutelado, entretanto diante de situações específicas em confronto com direitos da mulher grávida, há a ponderação das tutelas e em casos excepcionais, ou seja, nos casos expressamente indicados pelo código penal poderão prevalecer os direitos da gestante. Portanto, estes casos estão dispostos no Art.128 do Código Penal, em que o seu inciso I trata do aborto necessário, também chamado de aborto terapêutico, o qual decorre quando não há outra forma de salvar a vida da mulher, enquanto o inciso II descreve o aborto sentimental, tal qual a gravidez decorre de estupro e há consentimento para realização do aborto da gestante ou do representante legal, quando trata-se de incapaz. No caso do aborto terapêutico, o mesmo deverá ser avaliado por no mínimo dois profissionais médicos, um clinico e um obstetra pois precisa-se comprovar a efetiva necessidade da realização do mesmo e que esta é a única forma de preservar a vida da mulher. Cabe a necessidade de um acompanhamento psicológico para a gestante, que precisará dar a autorização ou o consentimento de que tal aborto seja realizado, salvo em situações onde não há a possibilidade de manifestação de vontade. Já no caso do aborto sentimental, para que se possa efetivar o aborto legal, caberá a necessidade de seguir as normas indicadas na Portaria 1.508/GB/MS de 2005 que regula os procedimentos que irão justificar e autorizar tal procedimento através do SUS. Assim, os profissionais de saúde responsáveis pela efetivação do aborto legal deverão seguir os seguintes passos junto à mulher que deseja efetivar o aborto: (i)Termo Relato Circunstanciado; (ii) Parecer Técnico; (iii) Aprovação de procedimento de interrupção da gravidez; (iv) Termo de responsabilidade (assinado pela mulher); e (v) Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. 5. O aborto com consentimento da gestante e a violação de sepultura são exemplos de crimes vagos? De acordo com o Código Civil em seu Artigo 2ª, a personalidade jurídica surge com o nascimento com vida, portanto o nascituro ainda que possua seus direitos resguardados ainda não a possui, classificando desta forma o crime de aborto com consentimento da gestante, previsto no Artigo 126 do Código Penal, como um crime vago, já que o bem jurídico tutelado não possui personalidade jurídica. De mesmo modo ocorre com a violação de sepultura, Art. 210 do Código Penal, onde o bem jurídico tutelado é o valor social compartilhado, ou seja, a coletividade, portanto também desconstituído de personalidade jurídica. 6. Dependem de autorização judicial, no caso concreto, o aborto decorrente de estupro e o de feto anencefálico Tanto o aborto decorrente de estupro, previsto no Art. 128 do Código Penal, quanto o aborto de feto anencefálico, realizado de acordo com as diretrizes definidas pelo CFM, com avaliação e laudo devidamente assinado, quanto realizado por médico não depende de autorização para sua realização. 7. O aborto sentimental (gravidez resultante de estupro) pode ser praticado pela própria vítima. O aborto autorizado pela gravidez decorrente de estupro somente poderá ser realizado por profissional médico, conforme expressamente disposto no Artigo 128 do Código penal, capacitando apenas o agente habilitado em medicina. 8. Qual a diferença entre a lesão corporal qualificada pelo aborto e o aborto majorado pela lesão corporal grave? A grande diferença entre os dois crimes está na intenção do agente, pois no crime de lesão corporal qualificada pelo aborto, descrita no Art. 129, parágrafo segundo, inciso V, é a violência dolosa, uma lesão corporal como crime autônomo, que causa o aborto de forma culposa, ou seja gerando características próprias a fim de qualificar, portanto sendo um crime preterdoloso, uma vez que a conduta menos gravosa gera a consumação de um fato mais gravoso. Já no que se fala de aborto majorado pela lesão corporal, definido no Art. 127 primeira parte, decorre quando o crime de aborto, sendo este um crime autônomo descrito entre uma das variáveis dos Artigos 125 e 126, é praticado de forma dolosa e dele decorre a lesão corporal da gestante de forma culposa, possuindo assim sua pena aumentada mediante situações específicas. 9. O que se entende por dissenso presumido no crime de aborto? O dissenso presumido ocorre quando o consentimento é dado por pessoa que não possui capacidade para tal, portanto, o mesmo não é válido. Esta situação é disposta pelo parágrafo único do Artigo 126 do Código Penal que dispõe: Parágrafo único - Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência. Portanto, torna-se claro que no caso em tela se deverá aplicar o Art. 125 que define o crime de aborto sem o consentimento da grávida, uma vez que a situação é entendida como se não tivesse ocorrido consentimento pela incapacidade da gestante. 10. Quais as cláusulas supralegais que autorizamo aborto segundo a jurisprudência dos Tribunais Superiores? Conforme disposto pela jurisprudência dos tribunais superiores existem hipóteses que não estão dispostas especificadamente em lei que cabem a autorização da realização do aborto, sendo elas: (i) aborto de fetos anencéfalos: onde durante o decurso da gestação é possível identificar o não desenvolvimento completo do cérebro do feto. Como entende-se por morte o fim da atividade cerebral, entende-se que a vida se dá com o início de tal atividade, portanto quando não há o desenvolvimento do sistema nervoso central do feto, inibe-se a possibilidade de o nascituro de fato nascer com vida. A fim de garantir a dignidade da gestante para não dar à luz e em seguida sofrer com a morte do recém-nascido que não possuiria capacidade de vida extra uterina, autoriza-se a efetivação do aborto. Entretanto, há o requisito de tal problema ser identificado no primeiro trimestre de gravidez para que se possa ser efetivado, tal autorização ficou consolidada pela ADPF 54; (2) interrupção da gravidez até o terceiro mês de gestação: o STJ recentemente adotou a linha permitiva de aborto até o terceiro trimestre de gravidez, portanto considerando um feto de até 12 semanas de gestação, isto ocorreu pela comprovação cientifica de que até esse período não existe ainda atividade cerebral, seguindo a mesma linha de raciocínio utilizada para a morte, conforme disposto no caso anterior. Assim, no HC 124306/RJ o STF consolidou a jurisprudência de que não ocorreu delito diante do consentimento da mulher devido ao fato do feto possuir menos de 12 semanas. (3) Síndrome de Body Stalk: outro caso que inviabiliza a vida extra uterina, tal como o feto anencéfalo, a Síndrome de Body Stalk é identificada pelo cordão umbilical curto que causa má formação no feto, uma vez que o mesmo não possui sua parede abdominal fechada e seus órgãos permanecem expostos. De mesmo modo, a prolongação de tal gestação e um parto que resultará em morte não faz sentido com base no direito fundamental a dignidade humana. A grande diferença é que aqui prevalece o direito a dignidade mais do que a questão de atividade cerebral, portanto este entendimento se deu pela 3ª do STJ.
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