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Tratamento psicológico de esquizofrenia na abordagem cognitivo comportamental_ Um estudo de caso no estágio profissionalizante

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Tratamento psicológico de esquizofrenia na abordagem cognitivo
comportamental: Um estudo de caso no estágio profissionalizante
www.nucleodoconhecimento.com.br
ARTIGO ORIGINAL
DESIDÉRIO, Bárbara Monique Alves [1], GONÇALVES, Diego Macedo [2]
DESIDÉRIO, Bárbara Monique Alves. GONÇALVES, Diego Macedo. Tratamento psicológico de
esquizofrenia na abordagem cognitivo comportamental: Um estudo de caso no estágio
profissionalizante. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 11,
V o l . 0 6 , p p . 9 1 - 1 1 2 . N o v e m b r o d e 2 0 2 0 . I S S N : 2 4 4 8 - 0 9 5 9 , L i n k d e
acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/psicologia/tratamento-psicologico
Contents
RESUMO
1. INTRODUÇÃO
2. TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL
2.1 NÍVEIS BÁSICOS DO PROCESSAMENTO COGNITIVO
2.2 ESTRATÉGIAS E TÉCNICAS COGNITIVAS E COMPORTAMENTAIS
2.2.1 PSICOEDUCAÇÃO
2.2.2 AUTOMONITORAMENTO
2.2.2.1 REGISTRO DE PENSAMENTOS DISFUNCIONAIS – RPD
2.2.2.2 MONITORAMENTO DAS DISTORÇÕES COGNITIVAS
2.2.3 REESTRUTURAÇÃO COGNITIVA
2.2.3.1 TÉCNICAS PARA IDENTIFICAÇÃO DE COGNIÇÕES
2.2.3.1.1 MUDANÇAS DE HUMOR NA SESSÃO
2.2.3.1.2 PENSAMENTO X SENTIMENTO
2.2.3.1.3 CONSTRUÇÃO DE IMAGENS
2.2.3.1.4 DESCOBERTA GUIADA
2.2.3.2 TÉCNICAS PARA MODIFICAÇÃO DE COGNIÇÕES
2.2.3.2.1 QUESTIONAMENTO SOCRÁTICO
2.2.3.2.2 EXAME DE EVIDÊNCIAS
2.2.3.2.3 CARTÕES DE ENFRENTAMENTO
2.2.3.2.4 REATRIBUIÇÃO OU TÉCNICA DA TORTA
2.2.3.2.5 FLECHA DESCENDENTE
2.2.4 PROGRAMAÇÃO DE ATIVIDADES
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comportamental: Um estudo de caso no estágio profissionalizante
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2.2.5 DESSENSIBILIZAÇÃO SISTEMÁTICA
2.2.6 ENSAIO COMPORTAMENTAL OU ROLE-PLAY
2.2.7 RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS
2.2.7.1 TÉCNICA PARA PROCRASTINAÇÃO
2.2.7.2 TÉCNICA PARA TOMADA DE DECISÃO – TÉCNICA BALANÇA DECISIONAL
3. TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL NO TRATAMENTO DA ESQUIZOFRENIA
3.1 ESQUIZOFRENIA
3.2 TRATAMENTO DA ESQUIZOFRENIA
3.3 RELATO DE EXPERIÊNCIA
3.3.1 CONCEITUAÇÃO COGNITIVA DO CASO
3.3.2 RELATO DAS SESSÕES
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
RESUMO
O artigo objetiva relatar a experiência de estágio, em Psicologia Clínica, desenvolvido no
Centro Integrado da Saúde, serviço escola de saúde da Universidade Potiguar. Trata-se de
um relato em nível descritivo sobre a experiência do uso da terapia cognitivo-
comportamental (TCC) no tratamento da esquizofrenia em uma jovem de 16 anos. Após
quase um ano e seis meses de terapia, sendo o último semestre exclusivamente sob
orientação da terapia cognitivo-comportamental, ficaram evidentes as limitações já
conhecidas cientificamente que a TCC apresenta no tratamento da esquizofrenia em uma
paciente não medicada e sem acompanhamento psiquiátrico. Entretanto, ao longo do último
semestre de atendimento observou-se uma evolução positiva significativa na paciente com o
uso de três técnicas específicas: a técnica de normalização, a técnica dos módulos e a
técnica do reforço das estratégias de enfrentamento. Uma melhora relevante foi observada
principalmente no que tange à psicoeducação, de forma que a paciente desenvolveu uma
melhor compreensão sobre o transtorno psicótico e a formação dos sintomas positivos;
adquiriu habilidades para autorregulação dos sintomas; apresentou diminuição dos sintomas
negativos, menor risco de recaídas e redução importante das perturbações emocionais; e
redução da interferência das vivências psicóticas na sua vida cotidiana e melhor convivência
com o transtorno; além de ter adquirido atitudes relevantes de aceitação do tratamento
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comportamental: Um estudo de caso no estágio profissionalizante
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psiquiátrico, compreensão e adesão às técnicas de enfrentamento.
Palavras-chave: Terapia cognitivo-comportamental, esquizofrenia, estágio, clínica.
1. INTRODUÇÃO
O estágio profissionalizante em psicologia e saúde foi realizado com base na terapia
cognitivo-comportamental (TCC).
Aaron T. Beck, em 1960 deu início ao desenvolvimento da terapia cognitiva (TC) para
resolver problemas atuais e modificar pensamentos e comportamentos disfuncionais (BECK,
1997). Daquela época em diante, essa terapia vem sendo adaptada para atender as mais
variadas desordens psíquicas e transtornos psicológicos, além das problemáticas rotineiras e
usuais da sociedade como sofrimento por perdas, traumas e fobias. Ela se tornou, então, um
conjunto de técnicas que combinam o cognitivismo e procedimentos comportamentais.
Knapp e Beck (2008) afirmam que a abordagem cognitivo-comportamental constitui-se da
integração da terapia cognitiva padrão com combinações ateóricas de estratégias cognitivas
e comportamentais.
Vestígios do cognitivismo data dos primórdios, em falas de filósofos de mais de 2 mil anos
atrás.
Os componentes comportamentais que integram a TCC começaram a ser exploradas quando
pesquisadores como Joseph Wolpe (1958) e Hans Eysenck (1966) começaram a aplicar na
clínica as ideias de Pavlov, Skinner e outros behavioristas experimentais no início dos anos
de 1950 e 1960.
Com a expansão da terapia comportamental, vários investigadores proeminentes, como
Meichenbaum (1977) e Lewinsohn e colaboradores (1985), começaram a fazer uso das
teorias e técnicas cognitivas em seus tratamentos. “Eles observaram que a perspectiva
cognitiva acrescentava contexto, profundidade e entendimento às intervenções
comportamentais.” (WRIGHT; BASCO e THASE, 2008).
Apesar de haver vários traços das terapias que englobam a abordagem cognitivo-
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comportamental antes mesmo dos experimentos de Aaron T. Beck, foi ele quem unificou as
formulações cognitivas e comportamentais na psicoterapia; e desde o início de seu trabalho,
ele reconheceu que os métodos comportamentais aliados à terapia cognitiva eram eficazes
para reduzir sintomas, considerando um relacionamento estreito entre cognição e
comportamento (WRIGHT; BASCO e THASE, 2008).
Grandes filósofos, como Epiteto, e teóricos como Karen Horney, Alfred Adler, George Kelly,
Albert Ellis, Richard Lazarus e Albert Bandura, foram utilizados como fontes por Aaron T.
Beck, quando este desenvolveu essa forma de psicoterapia, que alia os conceitos do
cognitivismo e do comportamentalismo.
Segundo Knapp e Beck (2008), as terapias podem ser divididas em terapias de habilidades
de enfrentamento, terapia de solução de problemas e terapias de reestruturação. A terapia
de habilidades de enfrentamento objetiva fornecer instrumentos aos pacientes a fim de que
eles possam enfrentar emoções como medo e fuga em uma série de situações problema. A
terapia de solução de problemas objetiva que o paciente possa lidar com dificuldades
pessoais e tomada de decisões. E, por fim, a terapia de reestruturação que tem como
objetivo reformular pensamentos distorcidos e promover pensamentos adaptativos.
As terapias cognitivo-comportamentais que derivam do modelo cognitivo desenvolvido por
Aaron T. Beck são baseadas na formulação cognitiva do transtorno psicológico e na aplicação
deste à conceituação cognitiva e ao entendimento particular do paciente, fazendo com que o
terapeuta busque, através desses pressupostos, uma variedade de técnicas que produzam a
mudança cognitiva adequada. E, apesar de considerar a individualidade da terapia cognitiva
para cada paciente, Beck (1997) afirma que existem dez princípios sobre a terapia cognitiva
que devem ser seguidos e são necessários para todos os pacientes. Sãoeles: 1) A TC (terapia
cognitiva) se baseia em uma formulação em contínuo desenvolvimento do paciente e de seus
problemas em termos cognitivos. 2) A TC requer uma aliança terapêutica segura. 3) A TC
enfatiza colaboração e participação ativa. 4) A TC é orientada em meta e focalizada em
problemas. 5) A TC inicialmente enfatiza o presente. 6) A TC é educativa, visa ensinar o
paciente a ser seu próprio terapeuta e enfatiza prevenção de recaída. 7) A TC visa ter um
tempo limitado. 8) As sessões de TC são estruturadas. 9) A TC ensina os pacientes a
identificar, avaliar e responder a seus pensamentos e crenças disfuncionais. 10) A TC utiliza
uma variedade de técnicas para mudar pensamento, humor e comportamento.
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2. TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL
Aaron T. Beck deu início ao desenvolvimento da TCC através da busca por tratamento para
depressão, em contrapartida aos estudos de melancolia de Freud. A partir das suas
observações, Aaron T. Beck constatou a existência de três principais áreas de distorção
cognitiva na depressão, conhecida como tríade cognitiva que são: a visão si mesmo, a visão
do ambiente vital e a visão do futuro.
O modelo cognitivo de Aaron T. Beck, base da terapia cognitiva, está firmado nos princípios
básicos de que nossas cognições influenciam de forma controladora nossas emoções e
comportamentos, e que o modo como agimos e nos comportamos afeta nossos padrões de
pensamentos e nossas emoções, ou seja, nossas respostas emocionais e comportamentais
são influenciadas pela percepção que temos dos eventos, pelas interpretações que fazemos
dessas situações ou pelo significado que atribuímos a elas; ao mesmo tempo em que a forma
como nos comportamos diante de um determinado evento pode reforçar cada vez mais a
forma como pensamos e nos sentimos diante daquela situação. (WRIGHT; BASCO e THASE,
2008; STALLARD, 2007).
Figura 1
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Fonte: (Wright, Basco e Thase, 2008, p. 17)
2.1 NÍVEIS BÁSICOS DO PROCESSAMENTO COGNITIVO
De acordo com o modelo Beck, existem níveis básicos de processamento cognitivo baseados
em três elementos principais da TCC que são: os pensamentos automáticos, as crenças
intermediárias e as crenças centrais/nucleares.
Os pensamentos automáticos “surgem espontaneamente, parecem válidos e estão
associados a comportamentos problemáticos ou emoções perturbadoras. […] podem ser
verdadeiros ou falsos […]” (LEAHY, 2006).
Sobre as crenças intermediárias, Beck (1997) considera que elas sejam como regras que
influenciam a visão do indivíduo sobre uma situação, e que, consequentemente, influencia
seus pensamentos, sentimentos e comportamentos.
As crenças centrais, conforme consta no livro intitulado Psicoterapias:
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São pensamentos absolutos sobre como o paciente vê a si mesmo, aos outros e
ao mundo. Elas representam o nível mais profundo das crenças da pessoa e com
frequência não são identificadas pelos pacientes. Esses esquemas se caracterizam
por serem pensamentos globais, rígidos e super generalizados. São estruturados,
desde a infância, a partir de experiências com os pais, irmãos e outros modelos
socializadores. Os esquemas funcionam como orientações gerais para a seleção e
organização de diferentes dados, para a evocação de memórias e para a
interpretação de cada situação. (CORDIOLI, 1998, p. 210)
De forma gráfica, atribuímos uma imagem como a de uma lupa ao enxergar a hierarquia dos
níveis de processamento.
Figura 2
Fonte: (GIOVANNA PETRUCCI, 2017)
A abordagem cognitivo-comportamental é diretiva e estruturada, sendo assim, as terapias,
que a utilizam, seguem uma estrutura básica de início, meio e fim.
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No início se reforça a aliança terapêutica, cumprimentando o paciente e restabelecendo o
vínculo; realiza-se a checagem de humor e logo após se discute questões relacionadas à
sessão anterior através da verificação da agenda e cumprimento da tarefa de casa.
Durante a terapia (meio), realiza-se a coleta de informações através do modelo cognitivo;
planeja-se e implementa-se a estratégia aplicável ao caso verificado e avalia o melhor modo
de aplicar, iniciando sempre a aplicação das tarefas durante a sessão.
Ao final da sessão, é importante solicitar ao paciente um resumo/feedback da sessão,
verificando a importância de determinados pontos da sessão; e revisão do plano de ação.
2.2 ESTRATÉGIAS E TÉCNICAS COGNITIVAS E COMPORTAMENTAIS
As estratégias e técnicas cognitivas e comportamentais são, de forma geral, estruturadas,
diretivas, de fácil acesso e simples compreensão, possibilitando a participação ativa e
colaborativa do paciente que, por sua vez, ao aprendê-las pode aplicá-las a si mesmo com
pouca intervenção do terapeuta.
É importante frisar que todas as estratégias, técnicas e métodos (inclui-se aqui as tarefas de
casa) utilizados pela abordagem cognitivo-comportamental devem ser ensinados ao paciente
e iniciadas durante a sessão terapêutica pelo terapeuta
2.2.1 PSICOEDUCAÇÃO
A psicoeducação é uma estratégia psicoterápica que é utilizada continuamente, para
informar ao paciente sobre a abordagem cognitiva-comportamental, o modelo cognitivo, e
também sobre as problemáticas (situação ou psicopatologia) que surgem ou são abordadas
ao longo da terapia, de forma a auxiliar os pacientes a desenvolverem habilidade de
enfrentamento frente ao conhecimento mais profundo sobre as questões que os envolvem,
fazendo com que eles possam construir uma estratégia efetiva e segura para enfrentar os
eventos de forma mais adaptativa, aumentando assim a eficácia da terapia.
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2.2.2 AUTOMONITORAMENTO
Trata-se também de uma estratégia psicoterápica relacionado à metacognição, que tem o
objetivo de fazer com que o indivíduo/paciente possa identificar/observar suas cognições e
consiga monitorá-las e controlá-las com um objetivo terapêutico específico.
A estratégia de automonitoramento concentra várias técnicas que podem ser utilizadas de
acordo com a especificidade de cada caso. Umas das técnicas mais utilizadas no
automonitoramento são o Registro de Pensamentos Disfuncionais (RPD) e o Monitoramento
das Distorções Cognitivas (que faz parte do RPD).
2.2.2.1 REGISTRO DE PENSAMENTOS DISFUNCIONAIS – RPD
O RPD é uma técnica em que se utiliza um formulário estruturado para registras as situações
mais relevantes relacionadas à mudança de humor ou eventos que trazem sofrimento
emocional/psíquico. No formulário são registrados emoções e pensamentos automáticos
relacionados aos eventos que os geraram. Através desses registros é possível identificar
distorções cognitivas e propor pensamentos mais funcionais.
2.2.2.2 MONITORAMENTO DAS DISTORÇÕES COGNITIVAS
A técnica do Monitoramento das Distorções Cognitivas faz parte do RPD e também se utiliza
de formulário estruturado que informa aexistência de erros cognitivos persistentes no
pensamento do paciente, possibilitando a identificação dos erros mais recorrentes e
nomeação das distorções, que podem ser verificadas em uma lista que deve ser entregue ao
paciente. Atualmente são onze as distorções cognitivas conhecidas: pensamento “tudo ou
nada”, catastrofização, personalização, pensamento emocional, rotulação, maximização e
minimização, filtro mental, leitura mental, supergeneralização, chegar a conclusões
precipitadas e ditar as leis.
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2.2.3 REESTRUTURAÇÃO COGNITIVA
A reestruturação cognitiva é uma das principais estratégias psicoterápicas utilizadas na
terapia cognitivo-comportamental. Objetiva identificar e modificar cognições em diferentes
níveis, possibilitando ao terapeuta ensinar ao paciente que pode haver mais de uma maneira
de interpretar um evento ou situação e que a forma distorcida ou disfuncional vista pelo
paciente pode ser modificada. A estratégia de reestruturação cognitiva é dividida em duas
categorias: técnicas para identificação de cognições e técnicas para modificação de
cognições. Algumas dessas técnicas serão descritas a seguir.
2.2.3.1 TÉCNICAS PARA IDENTIFICAÇÃO DE COGNIÇÕES
2.2.3.1.1 MUDANÇAS DE HUMOR NA SESSÃO
Essa técnica deve ser utilizada continuamente, desde as sessões iniciais até a última, quando
forem observadas mudanças de humor do paciente durante a sessão. A técnica consiste na
formulação de perguntas que visem identificar “cognições quentes”, pensamentos
automáticos e sentimentos do paciente durante a sessão psicoterapêutica.
2.2.3.1.2 PENSAMENTO X SENTIMENTO
A técnica de Pensamento x Sentimento serve para o monitoramento do/pelo paciente dos
seus pensamentos automáticos e sentimentos negativos durante a semana. Deve ser
utilizada junto à psicoeducação acerca da diferença entre pensamento e sentimento. Pode
ser realizada através de um formulário simples de duas colunas em que se relacionamentos
pensamentos que geraram sentimentos negativos, que possibilita a elaboração de plano de
ação para posterior uso de técnicas para modificação dos pensamentos disfuncionais ou
desadaptativos.
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2.2.3.1.3 CONSTRUÇÃO DE IMAGENS
A construção de imagens é utilizada com a finalidade de identificar pensamentos
automáticos através de imagens mentais, auxiliando os pacientes a reviverem,
imaginariamente, eventos relevantes, com estímulo para lembrança de detalhes, de forma
que possam entrar em contato com as emoções e pensamentos que tiveram naquela
situação.
2.2.3.1.4 DESCOBERTA GUIADA
A descoberta guiada consiste no uso de perguntas aos pacientes que os auxiliam a verificar
os padrões de pensamentos que fazem parte de sua situação problema, possibilitando aos
pacientes a identificação de suas cognições em diferentes níveis.
2.2.3.2 TÉCNICAS PARA MODIFICAÇÃO DE COGNIÇÕES
2.2.3.2.1 QUESTIONAMENTO SOCRÁTICO
Trata-se de um intenso questionamento, baseado na relação empírica colaborativa, de forma
a tornar perceptível ao indivíduo as falhas em sua cognição. Essa técnica estimula a
metacognição, ou seja, ao indivíduo pensar sobre o que ele pensa e poder modificar seu
pensamento automático através de sua própria avaliação sobre um evento, tema ou situação
específicos.
2.2.3.2.2 EXAME DE EVIDÊNCIAS
Consiste em um formulário de duas colunas em que se listam as evidências a favor e contra
determinada cognição, possibilitando o paciente a avaliar essas evidências e participar
ativamente na modificação da cognição.
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2.2.3.2.3 CARTÕES DE ENFRENTAMENTO
São cartões construídos pelos próprios pacientes, a partir de seus pensamentos e crenças,
que contém frases curtas e objetivas que, estando sempre ao alcance do paciente, os
auxiliam a recordar e reforçar os pensamentos alternativos racionais e modificações
cognitivas trabalhadas durante as sessões.
2.2.3.2.4 REATRIBUIÇÃO OU TÉCNICA DA TORTA
É uma técnica para representação gráfica de visualização de tempo ou responsabilidade
ideal e real, para alcançar determinado objetivo. Para a construção desse gráfico, o paciente
pode verificar o tempo ou responsabilidade real com o qual se implica para alcançar tal
objetivo, e visualizando a real proporção, possa retribuir proporcionalmente seu tempo ou
responsabilidade, determinando a proporção ideal necessária para alcançar a meta desejada.
Essa técnica visa possibilitar ao paciente o auto perdão quando da verificação de sua
responsabilidade total do erro ou a reparação dos erros cometidos por ele.
2.2.3.2.5 FLECHA DESCENDENTE
A flecha descendente trata-se de um questionamento gradual que evidencia níveis cada vez
mais profundos e complexos de pensamentos, até chegar à crença central. Nessa técnica são
identificados os pensamentos automáticos mais relevantes e realizadas perguntas a fim de
identificar cognições acerca da tríade cognitiva (visão de si, visão de mundo e visão de
futuro).
2.2.4 PROGRAMAÇÃO DE ATIVIDADES
A técnica é baseada em um formulário estruturado que consiste em uma tabela de todos os
dias da semana nas colunas e cada hora útil diária nas linhas. Essa técnica objetiva a prática
de atividades diárias que trazem recompensas (prazer) ao paciente. Inicialmente, terapeuta e
paciente monitoram quais as atividades mais dão prazer ao paciente ou quais ele mais tem
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habilidade para realizar, a partir disso, é combinada a realização diária dessas atividades. Um
registro hora a hora deve ser realizado de forma que o paciente possa monitorar quais
atividades foram realizadas e qual grau de satisfação/habilidade ele teve para realizá-la.
2.2.5 DESSENSIBILIZAÇÃO SISTEMÁTICA
É uma técnica que se baseia no condicionamento clássico de Pavlov e constitui-se pelo
processo de inibição da ansiedade provocada por fobias. Nessa técnica se faz necessário
seguir o procedimento à risca, antes que ocorra a exposição do paciente ao objeto de fobia.
Inicia-se o procedimento com técnicas de relaxamento (relaxamento de Jacobson, respiração
diafragmática, construção de imagens mentais agradáveis, etc.; logo após é utilizada a
escala de unidades subjetivas de desconforto (USDs), que classificam a ansiedade em
nenhuma (0), moderada (50) ou pior (100); e, finalmente, a exposição, combinada a uma
resposta profunda de relaxamento, fazendo com que, cognitivamente, a presença do
estímulo que provoca ansiedade passe estar condicionada a provocar relaxamento.
2.2.6 ENSAIO COMPORTAMENTAL OU ROLE-PLAY
É um treinamento realizado através de representação teatral em que são vividas diversas
situações hipotéticas que simulam situações reais da vida do paciente as quais ele apresenta
dificuldades para enfrentar. O objetivo dessa técnica é aprimorar ou gerar novos
comportamentos para enfrentamento das dificuldades verificadas.
2.2.7 RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS
É um conjunto de estratégias que utilizam a ênfase no aqui e agora, que torna disponível
uma variedade de respostas alternativas para uma situação problemática, possibilitando ao
paciente selecionara resposta mais efetiva possível. Dentre esse conjunto de técnicas estão
as seguintes técnicas: técnica para procrastinação, técnicas para tomada de decisão e
técnicas para tomada de decisão (que contém entre outras técnicas, a técnica balança
decisional).
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Tratamento psicológico de esquizofrenia na abordagem cognitivo
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2.2.7.1 TÉCNICA PARA PROCRASTINAÇÃO
Consiste em listar, atividades que estão sendo procrastinadas, mas que precisam ser
realizadas, em um formulário, baseadas em seu grau de importância e urgência de forma
que o paciente possa visualizar as atividades com maior prioridade para serem realizadas.
2.2.7.2 TÉCNICA PARA TOMADA DE DECISÃO – TÉCNICA BALANÇA DECISIONAL
É uma técnica que auxilia o paciente na tomada de decisão em situações de impasse
causado pela ambivalência de vantagens e desvantagens, querer e não querer. Em um
formulário são colocadas duas situações exatamente opostas e abaixo de cada uma delas
são colocadas as vantagens e desvantagens da decisão por cada situação.
Muitas outras técnicas são utilizadas na terapia baseada na abordagem cognitivo-
comportamental, porém, pela sua vastidão e complexidade, torna-se inviável trazer todas
nesse relatório, visto que elas já são objeto de estudo em vários livros que falam sobre a
matéria especificada.
3. TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL NO TRATAMENTO DA ESQUIZOFRENIA
3.1 ESQUIZOFRENIA
A esquizofrenia é uma psicopatologia relacionada a um transtorno cerebral grave, crônico,
permanente, disfuncional e debilitante. É uma das principais formas de psicose em que os
sintomas apontam para uma cisão ou relação desajustada entre o sujeito afetado, seu
pensamento, suas emoções e seus comportamentos. Landeira-Fernandez e Silva (2007)
indica que “os aspectos mais característicos da esquizofrenia são alucinações e delírios,
transtornos de pensamento e da fala, perturbação das emoções e do afeto, déficits
cognitivos e avolição.”.
A doença costuma apresentar seus primeiros sinais e sintomas durante a adolescência ou no
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início da idade adulta, porém, no início do século XIX, segundo afirmam Nardi, Quevedo e
Silva (2015), ela foi descrita em crianças e adolescentes pela primeira vez. Há alguns anos a
esquizofrenia em crianças e adolescentes era categorizada com muita proximidade ao
autismo, porém hoje cada uma ocupa uma categoria distinta e específica.
As alucinações auditivas se apresentam em, aproximadamente, 80% dos casos
descritos […]. As alucinações visuais ocorrem, geralmente, em crianças que
apresentam alucinações auditivas e são menos frequentes com as alucinações
táteis […], assim como as gustativas e olfativas. (NARDI; QUEVEDO; SILVA, 2015,
p. 212)
Para diagnóstico dessa psicopatologia são utilizados critérios do DSM 5 – Manual Diagnóstico
e Estatístico de Transtornos Mentais (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2015). O
paciente precisa apresentar dois ou mais sintomas, devendo pelo menos um deles ser o (1),
(2) ou (3), por uma quantidade significativa de tempo durante o período de um mês. Os
sintomas podem ser 1. Delírios, 2. Alucinações, 3. Discurso desorganizado, 4.
Comportamento grosseiramente desorganizado ou catatônico e 5. Sintomas negativos
(expressão emocional diminuída ou avolia).
Apesar dos critérios diagnósticos utilizados pelo DSM 5, as descrições originais de Kraepelin e
Bleuler apontam para a existência de um déficit cognitivo generalizado, com múltiplos
déficits neuropsicológicos nos pacientes com esquizofrenia. Esses déficits foram encontrados
através de vários testes de raciocínio conceitual complexo, velocidade psicomotora, memória
de aprendizagem nova e incidental e habilidades motoras, sensoriais e perceptuais. Os
pacientes com esquizofrenia podem apresentar ainda alterações cognitivas seletivas que
incluem déficits em atenção, memória e resolução de problemas. (LANDEIRA-FERNANDEZ E
SILVA, 2007).
Segundo Ebert, Loosen e Nurcombe (2002), a esquizofrenia pode ser ainda subtipificada a
partir de seu curso e da resposta ao tratamento. São elas: a esquizofrenia paranoide, a
esquizofrenia indiferenciada, a esquizofrenia desorganizada, a esquizofrenia residual e a
esquizofrenia catatônica. A forma mais comum e mais frequente é a esquizofrenia paranoide
que “se caracteriza por delírios persistentes de grandeza ou de perseguição.” (EBERT;
LOOSEN E NURCOMBE, 2002)
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Landeira-Fernandez e Silva (2007) falam que apesar das causas da esquizofrenia serem
ainda desconhecidas, é possível atribuir alguns sintomas a determinadas teorias etiológicas.
A teoria genética trata a esquizofrenia como uma desordem hereditária que ocorre devido à
concordância da carga genética entre parentes de primeiro grau, ou seja, quanto mais
próximo o grau de parentesco, maior o risco de desenvolver a doença. Dentre as várias
teorias neuroquímicas existentes a mais importante é a da hiperfunção dopaminérgica
central que fala basicamente do estímulo da neurotransmissão da dopamina através de
drogas psicoestimulantes, o que acarreta o surgimento de sintomas semelhantes às da
esquizofrenia paranoide, podendo levar a algum erro diagnóstico. Existe ainda uma teoria
que considera a esquizofrenia um distúrbio do neurodesenvolvimento, que ocorre devido a
eventos de ocorrência precoce durante a vida intrauterina ou logo após o nascimento, como
má nutrição do feto (redução no suprimento de oxigênio, iodo, glicose e ferro) ou o parto
prematuro extremo, causando prejuízo no desenvolvimento do sistema nervoso central (SNC)
do bebê. Outra teoria é a das alterações estruturais, que concluiu, através de estudos, que
alguns pacientes com esquizofrenia possuem cérebros mais leves e menores que os
indivíduos não acometidos por essa patologia. E, por fim, as teorias psicológicas que hoje se
apresentam em duas frentes mais importantes; uma referente ao conceito de emoção
expressa (EE) no ambiente familiar, em que se defende que determinados tipos de atitudes
hostis ou o excesso de envolvimento emocional por familiares dos pacientes com
esquizofrenia aumentam significativamente a taxa de recaída e reinternação hospitalar dos
pacientes; e a segunda frente que se relaciona à influência de “eventos estressores
psicossociais” no curso da doença, ou seja, pacientes com esquizofrenia podem apresentar
pioras sintomatológicas diante de estresses como perda de familiares, mudança de moradia,
exames escolares, etc.
3.2 TRATAMENTO DA ESQUIZOFRENIA
O tratamento para esquizofrenia se dá através de uso de antipsicóticos e tratamento
psicoterapêutico. É importante enfatizar que as psicoterapias psicodinâmicas são pouco
recomendadas para o tratamento de episódios psicóticos esquizofrênicos (LANDEIRA-
FERNANDEZ e SILVA, 2007). Mas dentre as várias abordagens psicoterápicas, a que mais
apresenta robustez em técnicas e melhores resultados no tratamento à esquizofrenia é a
terapia cognitivo-comportamental (TCC), que vem aprofundando suas técnicas à psicose e
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sintomas psicóticos muito recentemente.
Para Nardi; Quevedo e Silva (2015), a TCC propõe estabelecer diálogo com os pacientes
psicóticos, tratandoo delírio como uma crença e fazendo com que o mundo delirante possa
ser aberto e compartilhado. Os princípios básicos da relação entre pensamento, emoção e
comportamento permanecem no tratamento da esquizofrenia, compreendendo como o
paciente pensa sobre seus sintomas e abordando o conteúdo delirante de forma sutil a ponto
de não desafiar nem alimentar o delírio.
Entre as várias técnicas da TCC, três delas têm sido mais descritas na literatura: a técnica de
normalização, a técnica dos módulos e a técnica do reforço das estratégias de
enfrentamento. Essas técnicas possuem objetivos comuns, todas elas buscam a
compreensão pelo paciente do transtorno psicótico para que, compreendendo-se, ele possa
adquirir habilidades para autorregulação dos sintomas e diminuição dos riscos de recaídas;
reduzir as perturbações emocionais, abordando crenças disfuncionais; e reduzir a
interferência das vivências psicóticas na vida do paciente.
A técnica de normalização (NARDI; QUEVEDO; SILVA, 2015) é utilizada considerando-se que a
concepção delirante mantém uma conexão com a história de vida do paciente, e busca
ajudar o paciente a compreender os transtornos dos seus pensamentos e a relação deste
com seus sentimentos e comportamentos, objetivando adaptar toda desadaptação gerada
pelas vivências psicóticas.
Nardi; Quevedo e Silva (2015) apontam que a técnica de módulos é realizada em seis etapas
que passam pela aliança terapêutica, avaliação dos sintomas psicóticos e uso de técnicas
cognitivas e comportamentais para lidar com os sintomas. Tem como objetivo principal o
encontro do paciente com uma nova perspectiva para os seus problemas.
E, finalmente, a técnica do reforço das estratégias de enfrentamento, que nada mais é que
uma entrevista semiestruturada que visa resgatar e aperfeiçoar os mecanismos (estratégias
cognitivas como distração, autoinstrução, focalização da atenção; além das estratégias
comportamentais como aumento ou início de interações sociais, aumento de estimulação
sensitiva, uso de relaxamento e respiração abdominal; são as mais relatadas) já utilizados
pelo paciente para lidar com seus sintomas.
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3.3 RELATO DE EXPERIÊNCIA
3.3.1 CONCEITUAÇÃO COGNITIVA DO CASO
A fim de preservar o sigilo da paciente, será utilizado o pseudônimo Flor.
Paciente: Flor, 16 anos, sexo feminino.
Diagnóstico/sintomas: Sintomas de estresse pós-traumático. Prognóstico, segundo o DSM V,
de esquizofrenia devido a episódios de delírios persecutórios e alucinações visuais e
auditivas.
Influências do desenvolvimento: Gestação com intercorrências, placenta descolada,
sangramento e risco de aborto. Parto prematuro aos 8 meses devido ao baixo nível de líquido
amniótico e placenta caduca. Isolamento social desde a infância. Alucinações visuais e
auditivas desde a infância.
Questões situacionais: Vítima de tentativa de sequestro aos 5 anos, presenciar
arrombamento e destruição de sua casa aos 12 anos e vítima de violência física e verbal por
parte de parentes paternos aos 15 anos.
Fatores biológicos, genéticos e médicos: pai, tia e primo paternos com diagnóstico de
esquizofrenia; não faz uso de psicofarmacológicos.
Pontos fortes/recursos: Apoio da família nuclear, projetos de vida futura, vaidade, aceitação e
forte vínculo terapêutico com postura empírica colaborativa.
Objetivos do tratamento: redução de sintomas de raiva e rejeição da família paterna após
violências; superação de estados ansiosos ou fóbicos aos delírios e alucinações e de estado
fóbico pela visão de um sofá da sala, além de redução e limitação do impacto das
alucinações; convivência com o transtorno sem maiores danos.
EVENTO
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Ao ter uma alucinação.
PENSAMENTOS AUTOMÁTICOS
“Medo do que a pessoa pode fazer comigo”
EMOÇÕES
Medo, ansiedade, tensão.
COMPORTAMENTOS
Esconder-se.
CRENÇA CENTRAL
“Tenho medo de ser morta”.
Hipótese de trabalho:
a) Ela possui pré-disposição genética à esquizofrenia, sendo essa psicopatologia causada por
um desequilíbrio neuroquímico que gera, no paciente, episódios de delírios e alucinações.
b) As situações traumáticas às quais passou reforçaram os delírios persecutórios,
principalmente em relação a estar sendo observada ou que estão tentando matar a ela ou a
família.
c) O fato de presenciar as crises de seu pai gera em Flor um sentimento repulsivo quanto à
esquizofrenia e ao pensar muito sobre o assunto de forma crítica, isso pode reforçar o
surgimento de mais delírios e alucinações, além da fobia crônica que a impede de ter uma
vida social mais intensa e independente.
Plano de tratamento:
a) Psicoeducação sobre a esquizofrenia e a formação de imagens na crise;
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b) Exame de evidências para se certificar sobre a existência real das pessoas as quais diz
ver;
c) Método de construção de imagem e relaxamento, de forma a desaparecer as vozes e
visões ou torná-las menos amedrontadoras. O paciente também pode se beneficiar com a
elaboração de uma lista de atividades que pioram as vozes. Ele pode então desenvolver um
plano comportamental para aumentar os comportamentos úteis e diminuir as atividades que
amplificam as alucinações.
d) Devido não estar em tratamento medicamentoso, não aprofundamos as técnicas para não
haver piora do quadro psicótico.
3.3.2 RELATO DAS SESSÕES
O caso de Flor é bem característico do prognóstico até o momento delineado de
esquizofrenia, as características, sinais, sintomas e queixas são evidentes na literatura. O
prognóstico foi delineado a partir das características do DSM V, apesar de não haver ainda a
conclusão definitiva do psiquiatra, as técnicas utilizadas na psicoterapia foram baseadas no
que a literatura aponta para o tratamento de esquizofrenia.
Para o prognóstico de esquizofrenia, consideramos os sintomas de delírios, alucinações e
sintomas negativos (expressão emocional diminuída ou avolia) por mais de dois meses, mais
especificamente desde agosto de 2016.
O relato que segue será realizado tomando como base os atendimentos do segundo
semestre de 2017.
Em agosto de 2017, durante o primeiro atendimento do semestre, a mãe de Flor relata que
as visões de sua filha permanecem, são visões de vultos brancos e pretos e de pessoas, mas
reforça que ela tem se mantido calma na ocorrência das visões. Flor relata que refletiu sobre
o incômodo ao ter as visões, concluindo que se incomodava pelo medo que sente do que
essas “pessoas” ou “vultos” poderiam fazer de mal contra ela. Foi um avanço inicial muito
bom, pois ela sequer conseguia racionalizar as visões.
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Na sessão seguinte, ela falou sobre os sintomas negativos, a falta de vontade para realizar
algumas atividades e o baixo desempenho nos seus relacionamentos interpessoais são os
sintomas mais frequentes.
A primeira técnica utilizada se baseia na Técnica de Normalização, em que fizemos
conjuntamente uma reflexão sobre as situações traumáticas já vivenciadas e em como isso
podia corroborar com as alucinações e delírios. Aliado a isso, utilizamos a psicoeducação de
forma colaborativa, estudamos juntas algumas literaturas básicas sobre a projeção de
imagensmentais, para que ela pudesse realizar uma metacognição sobre seus sintomas
persecutórios.
Na sessão posterior, Flor fala que refletiu sobre a possibilidade de as imagens que ela vê
serem projeção da mente, afirmando que compreende em partes, no tocante aos vultos, mas
ainda está resolutamente crédula sobre as pessoas que vê serem reais.
Posteriormente, na sessão seguinte, foi apresentado o modelo cognitivo a Flor, de forma que
ela compreendesse que o medo era uma crença central muito presente em sua vida, pois
afirmava não saber o que as pessoas poderiam fazer contra ela, ou seja, de forma profunda,
ela tinha medo de tudo e de todos, tendo isso sido reforçado pelas situações traumáticas
pelas quais ela passou. De forma a aproveitar as literaturas lidas, reforcei a importância do
psiquiatra para o caso dela e como seria indispensável que ela pudesse também ser
acompanhada por um profissional da psiquiatria, de forma que pudéssemos também realizar
técnicas da abordagem cognitivo-comportamental de forma mais assertiva e sem piora do
quadro clínico de Flor. Sua mãe também recebeu as orientações sobre o psiquiatra. Não foi
possível uma vaga no psiquiatra para Flor no serviço escola, porém elas se dispuseram a
buscar na rede pública de saúde, apesar de, até o último atendimento de 2017, ela ainda não
ter iniciado seu tratamento.
Na sessão posterior, Flor também foi orientada a realizar o exame de evidências sempre que
fosse acometida pelas visões e delírios, tendo essa técnica se mostrado muito positiva para
que ela compreendesse a origem mental das visões. Durante a mesma sessão ela relata uma
situação que um sofá da sala de sua casa a incomodava. Ela fala que o sofá fica de frente ao
seu quarto e que ela tem medo do que pode ter no escuro que se apresenta sobre o sofá
durante a noite. Ela relatou também sobre um brinquedo de sua irmã, o cavalinho upa upa,
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que ela relata temer porque acredita que o cavalo fica encarando-a. Nesse momento,
incluímos na agenda terapêutica o uso de técnicas de relaxamento, como focalização,
construção de imagens e respiração diafragmática para que pudéssemos utilizar a técnica da
dessensibilização sistemática. Posteriormente realizamos na sessão terapêutica um ensaio
da dessensibilização sistemática para que ela pudesse fazer em casa. Consiste em conseguir
ficar no sofá ou utilizar o cavalo durante o dia, acompanhada de outras pessoas, por vários
dias; logo depois, realizar o passo anterior à noite; depois fazê-lo com menos pessoas até
conseguir fazê-lo sozinha; posteriormente fazê-lo com uma fonte de luz cada vez menor
sucessivamente até conseguir estar no sofá ou em contato com o cavalinho no escuro,
sempre se certificando do exame de evidências e da racionalização sobre as suas ideias
mentais que poderiam se projetar externamente em forma de delírios ou alucinações devido
ao medo e à ansiedade. Reforçada a necessidade do uso das técnicas de relaxamento para
evitar crises ansiosas durante a dessensibilização.
Observa-se que durante vários atendimentos já começamos a utilizar a técnica de módulos,
em que passamos pela aliança terapêutica, avaliação dos sintomas psicóticos e uso de
técnicas cognitivas e comportamentais para lidar com os sintomas, com o principal objetivo
de colaborar com Flor a aprender a conviver com seus sintomas de forma não desadaptativa.
Na sessão posterior, Flor relata não haver conseguido iniciar a dessensibililzação sistemática
em relação ao sofá e ao cavalinho, pois ainda não conseguiu controlar a ansiedade ao pensar
sobre se submeter à técnica. Ela relata, então, que sua ansiedade aumentou porque durante
a semana viu um homem na cerca ao lado de sua casa a observando, e que ele tinha uma
aparência de pessoa mal-encarada e explicou que mal-encarada seria uma pessoa que
aparenta que vai lhe fazer mal. Ela falou que não conseguiu racionalizar sobre o evento na
hora e simplesmente correu para casa. Questionei se ela havia feito o exame de evidências,
porém ela reforça não ter conseguido racionalizar na hora e só queria se esconder.
Na sessão seguinte, realizei a sessão com a mãe de Flor e solicitei a participação
colaborativa dela quanto ao uso das técnicas ensinadas em casa. Ensinei à mãe todas as
técnicas já ensinadas à filha e ela reforçou o interesse em ajudar.
Durante os demais atendimentos foi trabalhada a prevenção de recaídas, e em acordo com
Flor e seus pais, a paciente foi encaminhada para permanecer em terapia, visto que
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acreditamos que haverá uma melhora muito mais significativa quando e se for iniciado o
tratamento medicamentoso por parte do psiquiatra, conforme esperamos, visto que o
prognóstico de esquizofrenia aponta para a necessidade do uso de psicofarmacológicos para
amenizar as crises e assim possibilitar a utilização das técnicas cognitivo-comportamentais
de forma mais abundante.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar de Flor ainda ter apresentado medo quanto às pessoas que vê, é importante verificar
que seu medo quanto aos vultos, a intensidade e a frequência com que tem sido acometida
pelas alucinações e delírios tem diminuído gradativamente. Articulando a evolução de seu
caso com os sintomas atuais, podemos concluir que as imagens que ela passou a acreditar
ser projeção de sua mente, não lhe amedrontam mais, porém, a visão das pessoas, as quais
ela acredita serem reais, ainda lhe causa medo e dúvidas. Ela tem aprendido a conviver com
os objetos de seus antigos medos e, apesar de não estar em tratamento farmacológico, já
mostra uma evolução importante na redução dos sintomas que apresenta desde o início de
seu quadro clínico.
De início, o objetivo era trabalhar no controle dos sintomas positivos. Entretanto, com a falta
da intervenção psiquiátrica, e a fim de não estimular nenhum gatilho disparador de novas
crises, mudamos a abordagem no tratamento da esquizofrenia, com opções mais
abrangentes, agora objetivando fornecer alívio em todos os sintomas, melhorar a adesão
quanto às técnicas e ao tratamento psiquiátrico, a convivência com os sintomas,
principalmente as visões, e evitar a recaída.
Finalmente, o estágio sob a orientação da terapia cognitivo-comportamental permitiu
perceber as possibilidades de tratamento até para os transtornos mentais mais graves,
trazendo ao terapeuta uma maior segurança para lidar com o outro, com seu sofrimento, de
forma objetiva e diretiva, trazendo sempre estratégias que auxiliem o sujeito a se tornar
ativo e protagonista em sua vida e no seu próprio processo terapêutico.
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comportamental: Um guia ilustrado. Porto Alegre: Artmed, 2008. 224 p.
[1] Pós-graduação em Neuropsicologia pela Universidade Potiguar – Junho 2020. Graduação
em Psicologia pela Universidade Potiguar – Fevereiro/2018. Formação em Terapia Cognitivo-
comportamental pela Camboim & Petrucci – Junho/2018.
[2] Orientador. Doutor em Psicobiologia.
Enviado: Outubro, 2020.
Aprovado: Novembro, 2020.
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