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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/334836552 Leite no Brasil: aspectos gerais de qualidade Article in Revista Brasileira de Farmacia · July 2019 CITATIONS 0 READS 1,484 6 authors, including: Some of the authors of this publication are also working on these related projects: Physico-chemical characteristics of flour produced from Jackfruits (Artocarpus heterophyllus) seeds View project Antimicrobial compounds on inhibition of bacterial pathogens View project Jane Mary Lafayette Neves Gelinski 49 PUBLICATIONS 103 CITATIONS SEE PROFILE Cesar Baratto Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC) 32 PUBLICATIONS 119 CITATIONS SEE PROFILE Gustavo Graciano Fonseca UFGD - Universidade Federal da Grande Dourados 133 PUBLICATIONS 1,136 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Gustavo Graciano Fonseca on 01 August 2019. The user has requested enhancement of the downloaded file. https://www.researchgate.net/publication/334836552_Leite_no_Brasil_aspectos_gerais_de_qualidade?enrichId=rgreq-9f936b562be110f21562aba49ff30769-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzNDgzNjU1MjtBUzo3ODcwOTgwMTM1MzIxNjFAMTU2NDY3MDE5ODc4MQ%3D%3D&el=1_x_2&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/publication/334836552_Leite_no_Brasil_aspectos_gerais_de_qualidade?enrichId=rgreq-9f936b562be110f21562aba49ff30769-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzNDgzNjU1MjtBUzo3ODcwOTgwMTM1MzIxNjFAMTU2NDY3MDE5ODc4MQ%3D%3D&el=1_x_3&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/Physico-chemical-characteristics-of-flour-produced-from-Jackfruits-Artocarpus-heterophyllus-seeds?enrichId=rgreq-9f936b562be110f21562aba49ff30769-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzNDgzNjU1MjtBUzo3ODcwOTgwMTM1MzIxNjFAMTU2NDY3MDE5ODc4MQ%3D%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/Antimicrobial-compounds-on-inhibition-of-bacterial-pathogens?enrichId=rgreq-9f936b562be110f21562aba49ff30769-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzNDgzNjU1MjtBUzo3ODcwOTgwMTM1MzIxNjFAMTU2NDY3MDE5ODc4MQ%3D%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/?enrichId=rgreq-9f936b562be110f21562aba49ff30769-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzNDgzNjU1MjtBUzo3ODcwOTgwMTM1MzIxNjFAMTU2NDY3MDE5ODc4MQ%3D%3D&el=1_x_1&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Jane-Mary-Neves-Gelinski?enrichId=rgreq-9f936b562be110f21562aba49ff30769-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzNDgzNjU1MjtBUzo3ODcwOTgwMTM1MzIxNjFAMTU2NDY3MDE5ODc4MQ%3D%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Jane-Mary-Neves-Gelinski?enrichId=rgreq-9f936b562be110f21562aba49ff30769-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzNDgzNjU1MjtBUzo3ODcwOTgwMTM1MzIxNjFAMTU2NDY3MDE5ODc4MQ%3D%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Jane-Mary-Neves-Gelinski?enrichId=rgreq-9f936b562be110f21562aba49ff30769-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzNDgzNjU1MjtBUzo3ODcwOTgwMTM1MzIxNjFAMTU2NDY3MDE5ODc4MQ%3D%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Cesar-Baratto-2?enrichId=rgreq-9f936b562be110f21562aba49ff30769-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzNDgzNjU1MjtBUzo3ODcwOTgwMTM1MzIxNjFAMTU2NDY3MDE5ODc4MQ%3D%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Cesar-Baratto-2?enrichId=rgreq-9f936b562be110f21562aba49ff30769-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzNDgzNjU1MjtBUzo3ODcwOTgwMTM1MzIxNjFAMTU2NDY3MDE5ODc4MQ%3D%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/institution/Universidade_do_Oeste_de_Santa_Catarina_UNOESC?enrichId=rgreq-9f936b562be110f21562aba49ff30769-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzNDgzNjU1MjtBUzo3ODcwOTgwMTM1MzIxNjFAMTU2NDY3MDE5ODc4MQ%3D%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Cesar-Baratto-2?enrichId=rgreq-9f936b562be110f21562aba49ff30769-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzNDgzNjU1MjtBUzo3ODcwOTgwMTM1MzIxNjFAMTU2NDY3MDE5ODc4MQ%3D%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Gustavo-Fonseca-15?enrichId=rgreq-9f936b562be110f21562aba49ff30769-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzNDgzNjU1MjtBUzo3ODcwOTgwMTM1MzIxNjFAMTU2NDY3MDE5ODc4MQ%3D%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Gustavo-Fonseca-15?enrichId=rgreq-9f936b562be110f21562aba49ff30769-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzNDgzNjU1MjtBUzo3ODcwOTgwMTM1MzIxNjFAMTU2NDY3MDE5ODc4MQ%3D%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/institution/UFGD-Universidade_Federal_da_Grande_Dourados?enrichId=rgreq-9f936b562be110f21562aba49ff30769-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzNDgzNjU1MjtBUzo3ODcwOTgwMTM1MzIxNjFAMTU2NDY3MDE5ODc4MQ%3D%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Gustavo-Fonseca-15?enrichId=rgreq-9f936b562be110f21562aba49ff30769-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzNDgzNjU1MjtBUzo3ODcwOTgwMTM1MzIxNjFAMTU2NDY3MDE5ODc4MQ%3D%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Gustavo-Fonseca-15?enrichId=rgreq-9f936b562be110f21562aba49ff30769-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzNDgzNjU1MjtBUzo3ODcwOTgwMTM1MzIxNjFAMTU2NDY3MDE5ODc4MQ%3D%3D&el=1_x_10&_esc=publicationCoverPdf ARTIGO DE REVISÃO /REVIEW Leite no Brasil: aspectos gerais de qualidade Wilton Lazarotto1, Jane Mary Lafayette N. Gelinski2*, Fabiana Andréia S. De Martini Soares3, César Milton Baratto4, Fernanda Megiolaro5 & Gustavo Graciano Fonseca6 1Mestre em Ciência e Biotecnologia - Programa de Pós-graduação em Ciência e Biotecnologia-Unoesc-PPGC&B, Universidade do Oeste de Santa Catarina-Unoesc 2* Doutora em Ciência dos Alimentos -USP -Professora-Programa de Pós-graduação em Ciência e Biotecnologia- PPGC&B-Unoesc; 3Doutora em Ciência dos Alimentos -USP- Professora - PPGC&B-Unoesc; 4Doutor em Biologia Molecular – UFRGS -Professor Programa de Pós-graduação em Ciência e Biotecnologia-Unoesc; 5Fernanda Megiolaro- Mestre em Ciência e Biotecnologia PPGC&B-Unoesc; 6Doutor em Biotecnologia-USP- Professor Universidade Federal da Grande Dourados-MS, bolsista Pós-Doc.- PPGC&B-Unoesc. *Autora de Correspondência -E-mail: jane.gelinski@unoesc.edu.br - Rua Paese, 198 – Núcleo Biotecnológico – Videira, SC 89.560-000. Fone: +55 (49) 35334435. mailto:jane.gelinski@unoesc.edu.br ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW 3051 Lazarotto, W. et al Rev. Bras. Farm. 100 (1): 3050 – 3075, 2019 RESUMO O Brasil está entre os maiores produtores mundiais de leite com mais de 30 bilhões de litros/ano. A Região Sul do Brasil vem liderando a produção nacional de leite. Nesta revisão o objetivo foi abordar sobre os aspectos relacionados à qualidade do leite cru, bem como sobre o sistema de pagamento por qualidade. Nesta revisão sistemática foram utilizados métodos explícitos e sistematizados de busca e análise crítica de dados. Cento e sessenta trabalhos científicos foram obtidos para a revisão. No entanto, após conclusão do processo de captura de artigos e leitura, restaram setenta e dois trabalhos que atenderam aos critérios de inclusão ao tema da pesquisa. O pagamento por qualidade é uma bonificação ao produtor que consegue excelência na produção de leite. Contudo, os padrões envolvendo qualidade do leite são estabelecidos com base em parâmetros relativos ao conteúdo de proteínas, gordura, contagem de células somáticas; temperatura de armazenamento; contagem bacteriana; características sensoriais considerando odor, aspectos e sabor; adulterações por aditivo de resíduos, água ou antibióticos. Esses parâmetros estão na dependência de fatores que interferem diretamentena composição físico-química e microbiológica do leite. Portanto, embora o pagamento por qualidade do leite venha se tornando uma realidade no Brasil, os fatores que imprimem qualidade ao produto leite são múltiplos e complexos. E ainda, geografia, clima, tamanho da propriedade, incentivo a cooperados, programas de treinamento em boas práticas, etc., são questões que ainda precisam ser definidas e avaliadas para o país avançar em produtividade e qualidade. Palavras-chaves: Boas práticas. Higiene, Pagamento. Propriedade rural. ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW 3052 Lazarotto, W. et al Rev. Bras. Farm. 100 (1): 3050 – 3075, 2019 ABSTRACT Brazil is among the world's largest producers of milk with more than 30 billion litters / year. The Southern Region of Brazil has been leading the national milk production. In this review the aim was to address aspects related to the quality of raw milk and payment per quality in Brazil. In this review we used explicit and systematized methods of searching and critical analysis of data. One hundred and sixty scientific papers were obtained for the review. However, after completing the process of capturing articles and reading, seventy two scientific papers remained that met the inclusion criteria for the research theme. The payment per quality is a bonus to the producer who achieves excellence in milk production. However, standards involving milk quality are established based on parameters relating to protein content, fat, somatic cell count; storage temperature; bacterial count and sensory characteristics, considering flavour, appearance and taste; adulterations by waste additive, water or antibiotics. These parameters are dependent on factors that directly interfere in the physical-chemical and microbiological composition of milk. Therefore, although payment for milk quality is becoming a reality in Brazil, the factors that give quality to the milk product are multiple and complex. Also, geography, climate, size of property, incentive to cooperative, programs of training in good practices, etc., are issues that still need to be defined and evaluated for the country to advance in productivity and quality. Keywords: Good practices. Hygiene, Payment. Rural property. ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW 3053 Lazarotto, W. et al Rev. Bras. Farm. 100 (1): 3050 – 3075, 2019 INTRODUÇÃO Em 2015 o Brasil se colocou na sexta posição como o maior produtor mundial de leite, atingindo a marca de 35 bilhões/L/ano, com o valor da produção de R$ 34,71 bilhões. A Região Sul liderou o ranking com 35,2% de toda a produção nacional. O Paraná e Rio Grande do Sul produziram 75,2% de toda a produção da região Sul, representando 26,5 % da produção de leite nacional (IBGE, 2015). Em termos de produção por animal, Santa Catarina apresentou média de 2.755 litros/vaca/ano com uma pequena variação de 2,3%, permaneceu atrás apenas do Rio Grande do Sul e Paraná, que apresentaram 3.073 e 2.840 litros/vaca/ano respectivamente (Embrapa, 2017). De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento-Conab (Brasil, 2017), o Brasil foi o quinto maior produtor mundial no ano de 2016, alcançando um aumento de produtividade de 2,7% ao ano no período entre 2012 – 2015. Contudo, a produção de leite inspecionado, que compreende cerca de 70,0% de toda a produção do país, diminuiu aproximadamente 2,8% em 2015 e cerca de 3% em 2016. Para 2017-2018, a projeção foi de um aumento de 1,0% na produção total de leite, ficando em torno de 36 bilhões de litros (Brasil, 2017). No entanto, a produção de leite nos próximos 10 anos deverá apresentar um crescimento anual entre 2,1 e 3,0%, atingindo a valores entre 43,0 e 48,0 bilhões de litros até 2026/27 (Brasil, 2017). Dos mais diversos tipos de leites e dos animais que o produzem, o leite de vaca é o mais usado na alimentação humana. Arqueólogos encontraram evidências de ordenhas de vacas para obtenção de leite, datados de 9000 a.C; sendo possivelmente, os povos sumérios os primeiros a criarem gado de corte e desenvolver atividades de ordenha, utilizando o leite na alimentação e para produção de manteiga (Roque, Schumacher & Pavia 2003). O Brasil do inicio do Século XX comercializava o leite sem qualquer tipo de tratamento industrial, sendo um produto de risco ao consumidor. A mudança só veio a partir da implementação da tecnologia da cadeia de frio e melhores condições de transporte (Alves, 2001). O leite e seus derivados são constituídos por uma grande quantidade de proteínas, além de minerais e vitaminas (Muniz, Madruga & Araujo, 2013). Mas, a riqueza de nutrientes do leite também favorece o desenvolvimento de micro-organismos durante os processos de ordenha e armazenamento. Tais condições estão intimamente relacionadas à procura contínua da melhoria da qualidade do leite (Mendonça, 2001; Brasil et al., 2012; Silva et al., 2016). ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW 3054 Lazarotto, W. et al Rev. Bras. Farm. 100 (1): 3050 – 3075, 2019 OBJETIVO GERAL O objetivo desta pesquisa foi realizar uma revisão sistemática sobre os principais aspectos relacionados à qualidade do leite no Brasil. METODOLOGIA Trata-se de uma revisão sistemática, utilizando como fonte de dados a literatura sobre aspectos relacionados à qualidade do leite cru, bem como sobre o pagamento por qualidade. Nesta revisão foram utilizados métodos explícitos e sistematizados de busca e análise crítica de dados (Sampaio & Mancini, 2007; Jung & Matte Júnior, 2017). As referências bibliográficas obtidas do Portal de periódicos da Coordenação de Pessoal de Nível Superior - Capes foram obtidas a partir de busca em “Assunto” e incluíram: Google acadêmico, Pesquisa Agropecuária – Embrapa, o Directory of Open Access Journals (DOAJ), Scielo (Brasil) e Sumários.org. (Brasil, 2018). Os critérios de inclusão a partir dos artigos reunidos para estudo foram: a) ter as palavras no título ou resumo do trabalho: leite e/ou leiteiro, produção rural, pagamento, qualidade microbiológica. Essas foram definidas com base nos descritores em Ciências da Saúde (DeCS, 2018). Os principais descritores solicitados dentro do assunto leite foram: composição, microbiologia, análise físico-química e pagamento; b) publicação cientifica, preferencialmente nacional (em idioma português, ingles ou espanhol) e com data de publicação do ano 2000 até o presente ano de 2018. Foram utilizados como critérios de exclusão: a) trabalhos obtidos de fontes não confiáveis na rede mundial internet e/ou sem identificação de autoria. A Legislação brasileira relacionada à produção leiteira no Brasil foi contemplada e obtida diretamente dos respectivos endereços eletrônicos de web sites do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Brasil, 2002; 2011). FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA COMPOSIÇÃO DO LEITE Gordura do leite As células epiteliais alveolares são as responsáveis pela síntese da gordura do leite. São revestidas em sua superfície por um material composto de lipídeos polares e proteínas (Mansson, 2008). A gordura encontrada no leite cru bovino possui cerca de 400 ácidos graxos diferentes, o que lhe dá oARTIGO DE REVISÃO / REVIEW 3055 Lazarotto, W. et al Rev. Bras. Farm. 100 (1): 3050 – 3075, 2019 valor de produto com a mais complexa composição de gorduras naturais. Os ácidos graxos do leite surgem de duas fontes principais: alimentação e atividade microbiana do rúmen dos animais (Mansson, 2008). Conforme Wattiaux (2014) a gordura do leite é composta em sua maior quantidade por triglicerídeos que tem sua formação por ligação de glicerol com ácidos graxos. As diferenças dos comprimentos dos ácidos graxos determinam a consistência da manteiga que surge após essa fusão. Os ácidos graxos de cadeia curta com menos de oito átomos de carbono se destacam em maior quantidade que provem da fermentação no rúmen. Está característica é única em relação às gorduras quando comparada a outras animais e vegetais. Os lipídios do leite constituem de 98% de triacilgliceróis e 2% de diacilglicerol. Os lipídeos de animais saudáveis, bem alimentados, servem também para carrear vitaminas lipossolúveis. São compostos também por colesterol tendo menos de 0,5%, fosfolipídios 1% e menos de 0,1% de ácidos graxos livres. Considerando este último 70% deles são saturados como os esteáricos, palmítico, mirístico e os de cadeia curta, o butírico e o caproico. Os ácidos graxos insaturados absorvem os outros 30% tendo como seus principais os ácidos α-linolênico, linoleico e oleico (FAO, 2013; Mansson, 2008). Proteínas, Minerais e Vitaminas O leite produzido através da ordenha de rebanhos bovinos sempre foi considerado uma importante fonte de obtenção de proteína para a alimentação dos seres humanos, já que possuí aproximadamente 32 g de proteína por litro, ou cerca de 6,4 g em 200 mL (Pereira, 2014). Essas proteínas possuem um elevado teor e são consideradas de grande valor biológico, por possuírem os aminoácidos essenciais nas quantidades que suprem as necessidades biológicas dos seres humanos e, ainda, apresentam boa biodisponibilidade (FAO, 2013). Conforme Wattiaux (2014) o nitrogênio encontrado no leite está na forma de proteína. Os aminoácidos são considerados os conglomerados de construção da proteína e nas proteínas são encontrados vinte tipos de aminoácidos. E as ordens que os aminoácidos se encontram conferem a ela uma função em específico. Vários estudos reforçam sobre a importância da composição do leite na nutrição humana (FAO, 2013; Haug, Hostmark & Harstad, 2007). As proteínas encontradas no leite apresentam apenas 3% de sólidos. A quantidade porcentual de proteína sofre influência devido à raça do animal e a quantidade de gordura encontrada no leite. A caseína (2 a 3,5%) é uma das três proteínas encontradas no leite. A lactoglobulina, a menos significativa (0,2 a 0,3%), a lactalbumina (0,4 a ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW 3056 Lazarotto, W. et al Rev. Bras. Farm. 100 (1): 3050 – 3075, 2019 0,7%) compreendem as três proteínas que compõem as características do leite (Pereira, 2014). A caseína é principal proteína possui alta qualidade nutricional e é um ingrediente importante para a confecção de queijos de qualidade. Aproximadamente 95% de toda a caseína são encontradas em forma de micelas, agrupamentos de caseína com cálcio, fósforo e outros tipos de sais. Essas micelas formadas com a constituição desses nutrientes juntamente com os glóbulos de gordura são os causadores da consistência da cor que os produtos oriundos do leite adquirem (Brito et. al. 2016). As proteínas do leite podem ser classificadas em solúveis e insolúveis. Com 80% da composição das proteínas insolúveis estão às caseínas (β-caseína, κ-caseína e α-caseína), enquanto 20% são compostas por proteínas solúveis no leite (Haug, Hostmark & Harstad, 2007). A composição de aminoácidos é um dos fatores que serve como diferença para as proteínas que são encontradas no leite, também se considera a velocidade de absorção deles e a síntese de massa muscular ocorrida no organismo. Segundo Block (2000) 95,1% do nitrogênio total é constituído por proteína verdadeira, e a maior concentração é composta por ureia, 77% de nitrogênio total são constituídos por caseína ou 82% da proteína verdadeira. Mas, conforme Wedholm (2008) reforça, ocorre muita variação na característica proteica do leite de vaca, podendo essa variação ser negativa ou positiva quando comparado ao resultado que causa na sua destinação, como por exemplo, na qualidade do leite cru usado na produção de derivados como queijo, iogurtes e demais derivados. Associados com a caseína o cálcio e o fósforo adquirem digestibilidade extremamente alta. Como consequência o leite tornou-se um alimento fundamental não apenas quando criança para a formação óssea pela fonte de cálcio que oferece, mas também para adultos mantendo a integridade óssea depois dela formada (Quadro 1). Outro mineral encontrado no leite e possuí importância por suas características é o ferro. A baixa concentração dele na composição do leite já é suficiente para suprir a necessidade dos animais jovens, e por possuir quantidades baixas limita o crescimento bacteriano no leite, já que o ferro é essencial para o desenvolvimento e proliferação de diversas bactérias (Wattiaux, 2014). Quadro 1. Concentração de minerais e vitaminas no leite (mg/100mL) MINERAIS - mg/100 mL VITAMINAS - mg/100 mL Potássio 138 A 30.00 Cálcio 125 D 0.06 Cloro 103 E 88.00 Fósforo 96 K 17.00 Sódio 58 B1 37.00 Sulfato 30 B2 180.00 Magnésio 12 B6 46.00 Microminerais <0.1 B12 0.42 C 1.70 Fonte: Wattiaux (2014). ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW 3057 Lazarotto, W. et al Rev. Bras. Farm. 100 (1): 3050 – 3075, 2019 O leite sendo lipossolúvel possui uma considerável concentração de vitamina A e com concentrações menos significativas vitaminas D e E, e entre as hidrossolúveis tem o complexo B. Por motivo de concentração e mesmo baixo em ferro e fosfato, o leite de vaca oriundo de ordenha deve ser evitado para consumo de crianças com idade menor que um ano (FAO, 2013; Gaucheron, 2011). Segundo Pereira (2014) a riboflavina ou a vitamina B2 é um dos nutrientes encontrados no leite bovino, ela atua como coenzima na cadeia respiratória nos processos metabólicos. Também se encontra no leite a vitamina A com quantidades significativas e são essenciais para multiplicação celular e saúde dos olhos. Em termos de comparação ela é encontrada em quantidades muito inferiores nos leites semidesnatados e desnatados quando comparados ao leite integral. Carboidratos Segundo Wattiaux (2014) apesar de ser o principal carboidrato encontrado no leite, a lactose, não apresenta sabor doce mesmo sendo um açúcar. Ela é originaria da galactose 12mg/100g e glicose 14mg/100g, também encontradas no leite, mas em combinações muito menores. Considera-se que cada micrograma de lactose de leite de vaca carrega cerca de 10 vezes o peso em água (Fonseca & Santos, 2000). Ela é usada nos processos industriais para a fabricação dos produtos vindos de fermentação, a exemplo do iogurte. A lactose compõe cerca de 45 gramas por litro de leite produzido. É um açúcar que contribui para a absorção de fósforo, cálcio e magnésio no intestino e utiliza a vitamina D para ser absorvida pelo organismo. Sendo esses nutrientes de extrema importância para a formação óssea (FAO, 2013; Hunt Jr, Johnson & Roughead, 2009). A lactose entre todos os mais amplamente difundidos contribuindo com metade de todos os sólidos dispersos não gordurosos do leite.A fermentação e a maturação estão relacionadas diretamente a importância da lactose, porque em vários processos fermentativos a acidificação decorrente contribui para a textura e o valor nutritivo desempenhando também influência sobre a cor e o sabor (Saccaro, 2008). ORDENHA – CONDIÇÕES DE MANEJO O ato de ordenhar é a retirada de leite do úbere através de um processo mecânico usando uma ordenhadeira ou manual quando o ordenhador usa as mãos para pressionar o teto e causar o derrame do leite; ambas as técnicas simulam a forma natural de o terneiro realizar sua amamentação. O procedimento de ordenha seja ela manual ou mecânica é feito com atenção e priorizando a higienização por que quando executada de modo correto o leite tem maior qualidade, ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW 3058 Lazarotto, W. et al Rev. Bras. Farm. 100 (1): 3050 – 3075, 2019 aumenta-se a quantidade e evitam-se contaminações (Miguel et al., 2012; Netto, Brito & Figueiró, 2006). Conforme Netto, Brito & Figueiró (2006), na rotina antes de iniciar o procedimento de ordenha nos animais é necessária que ocorra a higienização, organização, limpeza e conferência dos equipamentos e utensílios utilizados durante o processo. E depois que a ordenha seja concluída todos os equipamentos devem ser lavados, higienizados e colocados em local limpo e seguro. Deve ser evitado usar muita água para desinfecção dos tetos, pois o excesso em partes altas do úbere leva ao seu escoamento, podendo misturar-se ao leite no momento da ordenha, contamina- lo (Fonseca & Santos, 2000). Numa propriedade com enfoque em produção de leite é no momento da ordenha que o proprietário deve se ater com atenção, é na ordenha que o seu plantel leiteiro dará o retorno de todo o investimento. Cuidados como higiene, limpeza, manutenção de equipamentos precisam ser levados a sério, acompanhamento veterinário acabam sendo fatores predominantes para se evitar contaminações, doenças e a perda de todo o leite coletado (Netto, Brito & Figueiró (2006). A Embrapa (2012) indica a limpeza diariamente das instalações, removendo todas as fezes das vacas. Após a retirada devem ser destinadas a um ambiente adequado: a esterqueira e posteriormente pode ser transformada em adubo orgânico e ser usado na lavoura. Não se deve esquecer a limpeza dos comedouros e bebedouro dos animais, realizar a desinfecção usando se necessários produtos comerciais com base de fenol, benzol e cresol, e produtos com solução a base de hidróxido de sódio conhecido como soda cáustica a 2%. Um plantel de vacas sadias e bem alimentadas produz leite com maior qualidade proteica. Assim, a assistência de veterinários se torna apenas para acompanhamento e prevenção e não de intervenção em doenças, evitando a perda de leite nos laticínios, diminuindo doenças como mamites e redução de sacrifício de animais doentes (Araújo et al., 2013; Netto, Brito & Figueiró, 2006). A manutenção do leite cru sob refrigeração por vários dias pode levar a proliferação bacteriana, entre as quais as mais comuns são: Lactococcus, Lactobacillus, Bacillus, Micrococcus, Propionobacterium, Enterococcus, Leuconostoc, Proteus, Listeria, Microbacterium, Streptococcus e as Pseudomonas, como podem também se proliferar alguns coliformes (Jay, 2005). A qualidade do leite cru está diretamente relacionada às condições de higiene no processo de ordenha e no de acondicionamento, também influência a sanidade das vacas ordenhadas. Esses procedimentos de adoção das boas práticas na produção são determinantes para conseguir um leite com concentrações de contagens microbianas baixas e de bons indicadores de qualidade (Yamazi et al., 2010). ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW 3059 Lazarotto, W. et al Rev. Bras. Farm. 100 (1): 3050 – 3075, 2019 Assim, a ordenha deve se manter ininterrupta, contínua, com horários padrões. Os procedimentos devem ser rotineiros, sem presenças de outros tipos de animais, para que se mantenha a produção. Isto porque as interrupções diminuem a produção e podem causar problemas ao animal. Considerando que os casos de interrupção sejam frequentes, o leite se acumulará no úbere e formará um meio de cultura favorável ao desenvolvimento de patógenos causadores de mastite (Netto, Brito & Figueiró, 2006). Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa, 2001), o procedimento de ordenha é o momento mais propício à contaminação quanto a fatores externos, principalmente pelo manejo do ordenhador. O monitoramento dos animais deve ser constante, dando prioridade de ordenha para aquelas que estão sadias, deixando as doentes para o final, em um ambiente separado para evitar a proliferação da doença (Ribeiro & Brito, 2006). A sala onde é realizada a ordenha deve conter o chão com alvenaria, com quantidade de água disponível que permita o ordenhador lavar os tetos das vacas. O pavimento de ordenha deve ser adequado, o piso deve ser higienizado regularmente, e, em relação aos casos clínicos deve-se imediatamente a identificação de doenças como a mastite subclínica e realizar terapia da vaca seca para reduzir a incidência e prevalência de mastite (Rahman et al.,2009). O pré-dipping é a antissepsia dos tetos antes da ordenha e tornou-se um mecanismo importante para diminuir a proliferação de micro-organismos da pele que envolve os tetos, tornando evidente o potencial de risco que apresenta a contaminação do leite quando a técnica não é empregada (Miguel et al., 2012). Quando a ordenha for concluída os tetos devem ser lavados e desinfetados, colocando-os em solução de desinfetante composta com glicerina e iodo. Este procedimento é importante para se evitar que ocorra contaminação, até mesmo no fechamento do canal do teto a solução age evitando que ocorra contaminação por micro-organismos patogênicos (Netto, Brito & Figueiró, 2006). Características correlatas à sanidade das vacas vêm ao encontro de produtos seguros e saudáveis para os consumidores. Na produção não podem existir substâncias nocivas que tenham a capacidade de afetar a qualidade do leite. Ainda, o leite deve estar sempre preservado da presença de secreções, excrementos ou até mesmo dos resíduos de origem animal (Zafalon et al., 2008). Deve-se priorizar a higienização dos tetos, desinfecção e limpeza das mãos de quem realiza a ordenha e do ambiente onde é realizada, incluindo teteiras, tanques, ordenhadeira e pisos são fundamentais para diminuir a proliferação e contaminação por micro-organismos patogênicos e deteriorantes do leite. Essas medidas acarretam na melhora das condições higiênicas finais do produto (Amaral et al., 2004). ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW 3060 Lazarotto, W. et al Rev. Bras. Farm. 100 (1): 3050 – 3075, 2019 As doenças mamárias estão intimamente relacionadas ao número da quantidade de patógenos causadores da mastite encontrados nas extremidades dos tetos. Por isso, a forma de limpeza dos tetos é importante na prevenção de mastite. A higienização pré-ordenha estimula a secreção do leite e auxilia na redução da contagem de bactérias do leite e nos próprios tetos. Higienizar previamente os tetos com água e enxugar com papel toalha ajuda na prevenção de doenças como mastite e possuí, além disso, o papel importante na qualidade do leite diminuindo a quantidade de micro-organismos (Rahman et al., 2009;Amaral et al., 2004). A limpeza e higienização do sistema de ordenhadeira reduz a quantidade de bactérias e o leite excretado, pois mesmo em um sistema com baixo número de micro-organismos acaba contaminado quando os equipamentos ou a higiene são inadequados (Saran Netto et al., 2009). Com procedimentos e práticas corretas pelos manipuladores das ordenhas e com equipamentos adequados é possível reduzir a quantidade de micro-organismos da ordenhadeira (Cavalcanti et al., 2010). QUALIDADE DO LEITE O leite é um alimento que possui todas as características de qualidade nutricionais essenciais para o desenvolvimento do organismo humano. É também dependente dos processos de conservação devido a susceptibilidade à decomposição, quando não acondicionado sob condições adequadas (Ye 2011; Haug et al., 2007). Dentre os mais variados tipos de alimentos consumidos diariamente, o leite quando observado por seus padrões físico-químicos é considerado o alimento com maior composição de cálcio, nutriente fundamental para formação óssea e condição básica de alimentação para o homem (FAO, 2013). O leite bovino pode ser fonte de anticorpos gerados para proteger o bezerro, agindo como atividade inibidora e de combate à ação de bactérias e vírus, e quando isolados, esses anticorpos específicos são usados na produção de medicamentos e manipulações farmacêuticas e para produção de alimentos (Van Hooijdonk, Kussendrager & Steijns, 2000). Constituído principalmente de proteínas o leite de fornece aos mamíferos aminoácidos que são essenciais para o crescimento e formação óssea quando relacionado ao cálcio. A composição do leite está ligada diretamente às características do animal e do meio onde vive e na formação dos produtos lácteos na indústria. Isto porque é através da composição do leite que a fabricação de queijo e outros derivados adquirirão rendimento na produção, trarão benefícios nutricionais e propriedades estruturais e físico-químicas únicas (Ye, 2011). ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW 3061 Lazarotto, W. et al Rev. Bras. Farm. 100 (1): 3050 – 3075, 2019 O leite de vaca possui aproximadamente 3% de proteínas e 87% de água. Nesse meio aquoso encontram-se materiais dispersos e do total aproximadamente 13% é composto de materiais sólidos, 4,5% de carboidratos, lipídeos compõem de 3% a 4% sendo em sua maioria saturado, 0,8% de minerais e apenas 0,1% de vitaminas (Haug, Hostmark & Harstad, 2007). É rico em cálcio e fósforomas, há ainda outros minerais em menores quantidades como ferro, cobre, zinco, potássio, magnésio, flúor e sódio (Tronco, 2013). Pelos vários componentes necessários para a subsistência humana o leite é considerado um dos alimentos consumidos mais completos por apresentar caseína, albumina, componente para formação de tecidos e de sangue, sais minerais, fornece cálcio para formação óssea, e ainda, vitaminas, diástases, fermentos láticos que facilitam a digestão e protegem o intestino da ação nociva de bactérias patogênicas (Mesquita et al., 2004). Pensando na manutenção da qualidade do leite recém ordenhado é necessário que o mesmo seja armazenado em resfriador à 5°C para condicionamento e conservação (Galvão Júnior et al., 2010). O controle rigoroso dessa temperatura de refrigeração é condição essencial para um produto com níveis baixos de proliferação bacteriana (Marcondes et al., 2014). O leite como um líquido viscoso, estável de glóbulos constituídos de gordura e micélios de caseína suspensos. A lactose é considerada o componente do leite com menor variação, desde que os animais estejam sadios, bem alimentados e sem condições de estresse, mesmo quando submetidos a variações de temperatura e clima nas diferentes estações do ano (Heck et al., 2009). O leite de vaca sadia em plenas condições de ordenha tem pH médio de 6,7. A medida do pH é uma ferramenta para parâmetro de qualidade do leite, uma vez que quando ocorrem doenças, a exemplo de uma mastite grave, o pH se altera, podendo atingir pH 7,5 ou, quando houver colostro no leite, o pH diminui para 6,0 (Venturine et al., 2007). O leite possui em geral uma acidez de 0,16 gramas de ácido lático/100g. Se houver a proliferação bacteriana o nível de acidez pode ultrapassar os valores normais de 0,18 gramas, devido à transformação de lactose em ácido lático, causado pelo metabolismo bacteriano. Outros fatores como níveis de fosfatos, citratos e proteínas são componentes que interferem na composição do leite causando variação na acidez (Fonseca; Santos, 2000). A busca pela produtividade, eficiência e aumento da produção de leite ocorre pela adequação das técnicas de manejo, e a correta produção de leite reflete na qualidade do produto e dos seus derivados (Martins, 2012). Segundo Alvares & Paim (2013) a aparência do leite não pode ser usada como parâmetro para sua qualidade. Devem ser usadas técnicas laboratoriais sensíveis e eficazes para a detecção de substâncias que podem causar adulterações no produto, a contaminação por microrganismos ou até mesmo alterações na estrutura físico-químicas do leite. Priorizando a qualidade e a segurança do produto ofertado é necessário que o leite quando conservado esteja em ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW 3062 Lazarotto, W. et al Rev. Bras. Farm. 100 (1): 3050 – 3075, 2019 local adequado e sejam realizadas análises que garantam com eficiência a ausência de microrganismos nocivos, patogênicos, no produto oferecido ao consumo humano. Segundo Teixeira et al. (2010) atingir maiores níveis de produção de leite visando a rentabilidade, qualidade e surgimento de novos produtos é o objetivo dos produtores. A pecuária, especificamente de leite, sofreu nesses últimos anos modificações em sua estrutura, além de mudanças na forma de gerir as propriedades, na escolha das raças, nas técnicas empregadas, na infraestrutura usadas e na rentabilidade econômica (Ribeiro et al., 2013). São vários os fatores que interferem diretamente na composição físico-química e microbiológica do leite (Walstra, Wouters & Geurts, 2006); fatores genéticos: espécie, raça dos animais, individualidade animal; fatores intrínsecos: idade, estágio de lactação, número de lactações; fatores nutricionais: tipo de alimento e disponibilidade, forma de conservação, adequação da dieta às exigências do animal; fatores ambientais: condições ambientais, estresse, estação do ano, manejo; fatores extrínsecos: sanidade animal, contaminação bacteriana. Quando são considerados os parâmetros usados por programas com foco na qualidade industrial do leite, ganha destaque a gordura apresentada, composição de sólidos totais e proteínas, assim como, contagem de células somáticas (CCS) (Noro et al., 2006). De importância também são os fatores fisiológicos e ambientais que refletem na contagem de CCS do leite, e nenhum deles deve ser deixado de lado, são todos relevantes. A utilização de CCS é um padrão mundial de critério para indústrias e produtores para acompanhar e monitorar a mastite, uma doença infecciosa que atinge as glândulas mamárias, podendo atingir um rebanho inteiro com centenas de animais ou até mesmo uma única vaca dentre centenas de um rebanho. É também um padrão de qualidade, pode implicar em prejuízos para a produção leiteira (Souza et al. 2005). Conforme Zardoks et al. (2000) para um diagnóstico preliminar de qualidade higiênica do produto é necessário o monitoramento microbiológico do leite quanto a presença de micro- organismos causadores de doença. A contaminação bacteriana por Staphylococcusaureus é uma das principais causas de mastite nos rebanhos leiteiros. Infectando principalmente o úbere do animal, tornando-o principal meio de transmissão para outros animais do rebanho, por isso, a necessidade de prevenção da transmissão de agentes patógenos e o combate com boas práticas para reduzir a incidência de mastite. Ainda de acordo com Zardoks et al. (2000), existem diversas formas de contaminação por Staphylococcus aureus dentre elas materiais usados na ordenha, habitação, forragens, equipamentos de vacinação e a pele do animal e transmissão por meio do contato humano, porque a pele é um importante reservatório de patógenos. ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW 3063 Lazarotto, W. et al Rev. Bras. Farm. 100 (1): 3050 – 3075, 2019 Dados indicam que as boas práticas de produção aplicadas para a melhoria da qualidade do leite levam ao retorno de investimentos na propriedade, cuja estrutura física também esteja adequada para a produção de leite de qualidade (Paixão et al., 2014). Na legislação vigente a definição do leite pela IN nº 62, de 29 de dezembro de 2011 (Brasil, 2011) tem por base o Regulamento técnico de produção, qualidade e identificação de Leite tipo A. Regulamenta, portanto, sobre a qualidade do leite após ordenha e refrigeração. Mas, também regulamenta sobre o transporte para a indústria e a qualidade do leite após os processos industriais de pasteurização, Conforme Gracindo & Pereira (2009) de forma básica o leite para ser considerado dentro dos padrões de qualidade é necessário que esteja seguro para a saúde dos consumidores, além de apresentar algumas características como: contagens bacterianas baixas, microrganismos patogênicos ao homem devem ser ausentes; não deve ser encontrado resíduos de medicamentos veterinários; o mínimo possível de contaminação por produtos de composição química ou de toxinas de origem microbianas. Os principais fatores associados à composição do leite são animais da mesma raça, a variação genética dentro da raça, potencial produtivo, consumo de matéria seca, qualidade, digestibilidade da fibra e relação energia/dieta proteica, a saúde, o ambiente, as práticas de manejo, e outros (Marcondes et al., 2014). O leite ao passar pelo processo de ordenha pode ser contaminado ou sofrer contaminação posteriormente a sua coleta, durante os processos industriais, transporte, acondicionamento, até a chegada às prateleiras (Fagundes, 2007). Conforme Araújo et al. (2013), o leite ordenhado apresenta algumas características quando proveniente de vacas sadias: sem proliferação de micro- organismos, baixa contagem de células somáticas, sem sedimentos ou matérias solidas no leite, sabor deve ser levemente adocicado e atendendo os padrões de legislação. As atitudes higiênicas tomadas ou dispensadas no processo de ordenha, manutenção, acondicionamento e transporte para a indústria determinam a quantidade de contaminação ou quando realizada de forma correta não há contaminantes. A composição nutricional do leite pode sofrer degradação quando existem microrganismos em seu meio, reduzindo o seu valor e sua qualidade para industrialização e muitas vezes nem sendo possível seu uso para consumo. Quando o leite é atingido por organismos alheios a sua composição natural os efeitos causados podem variar, sejam por redução de vida útil, redução de sua estabilidade nutricional, além de rancidez. As perdas, os custos para descontaminação, o processo empregado e todos os gastos envolvidos para tornar o leite próprio para distribuição são revertidos ao valor final do produto. ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW 3064 Lazarotto, W. et al Rev. Bras. Farm. 100 (1): 3050 – 3075, 2019 Segundo Tronco (2013) o leite pode sofrer contaminação de diversas formas, o autor cita duas delas como sendo a endógena, processo de contaminação que ocorre com animais que sofrem de alguma doença e a forma exógena que é uma contaminação externa, de contato com o ambiente de fora do úbere. Essas duas formas de contaminações levam à proliferação de milhares de micro- organismos no leite, inclusive patogênicos. Contaminações por bactérias psicotróficas dos gêneros Alcaligenes, Aeromonas e Pseudomonas ocorrem no leite quando o ordenhador não utiliza água de qualidade na limpeza dos tetos e teteiras, ocasionando o aumento das chances de contaminação por bactérias. Neste sentido, Brito,Verneque & Brito (2000) consideram a possibilidade de ocorrer contaminação por meio de micro-organismos na parte externa dos tetos dos animais selecionados e colocados no mesmo ambiente, mas em condições de higiene diferentes. Quando foi usada água potável para a limpeza dos tetos notou-se a redução de dez vezes a quantidade de micro-organismos quando comparada à limpeza de um teto sem o procedimento de imersão ao iodo, secagem com papel toalha e lavagem com água potável. Conforme Brito, Arcuri & Brito (2002), quando é realizada a retirada do leite por procedimentos corretos, acondicionado e refrigerado a temperatura de 4°C a quantidade de micro- organismos tendem a atender os requisitos dos órgãos internacionais. Provando que as baixas temperaturas dificultam a proliferação de bactérias e o processo de degradação de algumas enzimas que prejudicam a qualidade do leite. Assim, o resfriamento do leite a 4°C são procedimentos que ajudam a preservar as características e a qualidade do leite para ser levado para a indústria. Como um novo incentivo aos produtores surgiu o pagamento do leite com base principalmente nas boas práticas de manejo. Mas, no Brasil, há discrepâncias regionais na produção de leite (IBGE, 2015). E, ainda existem dois tipos de produtores, os que investem em tecnologia e melhoramento genético do rebanho e os que não investem na produção leiteira (Araújo et al., 2013, Lopes, Consoli & Neves, 2006). Estes últimos ficam à margem de um pagamento por qualidade e são os que mais necessitam de orientação técnica. Portanto, a orientação técnica aos produtores em todo o país ainda é uma necessidade, conforme observado por dados apresentados em diferentes estados brasileiros. (Sequetto et al., 2017; Araújo et al., 2013; Yamazi et al., 2010). Controle de Qualidade No ano de 2002 ocorreu a aprovação da IN 51 (Brasil, 2002) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Em seu bojo esta Instrução Normativa traz regulações técnicas sobre o leite. Padrões internacionais de monitoramento, qualidade e controle de leite também foram adaptados à referida IN51. Como padrões para analisar a qualidade, higiene e manipulação do leite ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW 3065 Lazarotto, W. et al Rev. Bras. Farm. 100 (1): 3050 – 3075, 2019 incluem-se a contagem de células somáticas (CCS) e a contagem de bactérias totais (CBT), conforme apresentado no Quadro 2. Quadro 2. Requisitos microbiológicos e de contagem de células somáticas avaliados pela Rede Brasileira de Laboratórios de Controle da Qualidade do Leite. Índice medido (por propriedade rural ou por tanque comunitário): Até 01.07. 2005 Regiões: S/SE/CO Até 01.07. 2007 Regiões: N/NE De 01.07. 2005 Até 01.07. 2008 Regiões: SE/CO De 01.7. 2007 até 01.7.2010 Regiões: N / NE A partir de 01.0.7 2008 Até 01.7.2011 Regiões:S/SE/CO A partir de 01.07. 2010 até 01.7.2012 Regiões: N / NE Apartir de 010.7.2011 Regiões: S/SE/CO A partir de 01.07. 2012 Regiões: N/NE Contagem Padrão em Placas (CPP), expressa em UFC/mL Máximo 1,0 x 106 Máximo 1,0 x 106 Máximo 7,5 x105 Máximo de 1,0 x 105 (individual) Máximo de 3,0 x 105 (leite de conjunto) Contagem de Células Somáticas (CCS), expressa em CCS/mL Máximo 1,0 x 106 Máximo 1,0 x 106 Máximo 7,5 x 105 Máximo de 4,0 x 105 Fonte: Adaptada do Anexo IV da IN 51 (BRASIL, 2002). Analisando esses dois parâmetros é possível identificar as condições de saúde do rebanho, por exemplo, a existência de alguma vaca com mastite, conforme informa Fagundes (2007). A qualidade do leite é colocada à prova de suas estruturas físico-químicas quando ainda no início do processo na indústria, encontrando desta maneira seu teor de gordura, acidez, extrato seco desengordurado, densidade, extrato seco total e o seu ponto de congelamento (Tronco, 2013). Quando a retirada do leite do úbere é realizada ele não possuiu nenhuma fermentação até esse momento, logo em seguida, ao contato com novas temperaturas, sem os inibidores naturais que o protegiam, começa a receber influências e sofre leves fermentações e a acidez é o meio usado para identificar e medir a quantidade de fermentação que um leite sofreu. A indústria considera o limite máximo de 18 graus Dornic, 1,8 gramas por litro de leite, de acidez. Quando esse limite é ultrapassado o leite precisa ser descartado (Embrapa, 2012). RESULTADOS E DISCUSSÃO O pagamento por qualidade deve estar inserido no contexto da cadeia produtiva a qual está proposto. A sua implantação parte da conscientização do setor leiteiro, até a compreensão de como ocorre o pagamento. A implantação de um Sistema de Pagamento pela Qualidade vai além de estabelecer os padrões e o valor do leite em litros, ela surge para bonificar a produção. Considerando os parâmetros estabelecidos pelas Instruções Normativas 51 e 62 (Brasil, 2011; 2002). ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW 3066 Lazarotto, W. et al Rev. Bras. Farm. 100 (1): 3050 – 3075, 2019 Para esta revisão cento e sessenta trabalhos científicos foram extraídos dos bancos de dados. No entanto, após conclusão do processo de captura de artigos e leitura foram separados 72 trabalhos que atenderam aos critérios de inclusão da pesquisa. Um resumo desses trabalhos é apresentado no Quadro 3. Quadro 3. Características principais por assunto, abordagem e métodos de pesquisa do referencial bibliográfico da revisão sobre Leite no Brasil: aspectos gerais de qualidade. A melhoria de qualidade do leite cru tem sido adotada por países desenvolvidos há muito tempo, a exemplo do Canadá e dos Estados Unidos Contagem de Células Somáticas, gordura e proteínas são os parâmetros de análises que o Canadá adotou para remunerar o produtor de leite, assim a proteína ganhou destaque em remuneração pela sua maior valorização em relação da qualidade na produção de derivados (Machado, 2008). A indústria é fundamental para este tipo de processo, realizando o pagamento do leite por padrões de qualidade incentiva os produtores a aprimorarem suas práticas. Isto torna atrativa a profissionalização ao mesmo tempo que a busca por tecnologias instiga os produtores a se adequarem aos parâmetros estabelecidos nas Instruções Normativas (Brasil, 2011, 2002), ou seja, priorizando a qualidade higiênica e sanitária do seu plantel. ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW 3067 Lazarotto, W. et al Rev. Bras. Farm. 100 (1): 3050 – 3075, 2019 A Instrução Normativa 51 estabeleceu padrões de higiene, saúde e nutrição animal e refrigeração (Brasil, 2002). O leite cru colocado na indústria deve ser produzido por meio de um processo de ordenha higiênica realizada com vacas sadias, bem alimentadas e livres de estresse, ser submetido à refrigeração em seguida da ordenha na propriedade rural, com transporte a granel em tanques isotérmicos até a indústria. Segundo Fonseca & Carvalho (2004) um dos sucessos da atividade leiteira em países desenvolvidos está relacionado ao pagamento do leite com base na qualidade. Isso porque a gordura extra resultante é bonificada, pois para a indústria ela resulta em maior produção de derivados agregando valor ao creme de leite e a produção de manteiga. A gordura é para a indústria o parâmetro de eficiência na produção de derivados é por esta importância nas suas características que rendem na produção de derivados lácteos. A proteína vem também recebendo destaque por pagamento diferenciado de leite pois leva a um crescimento considerável para a indústria de queijo, essa valorização da proteína do leite é um dos fatores que estão diretamente ligados ao pagamento. A empresa consegue produzir mais queijos por litros adquiridos ou com melhor qualidade com uma mesma quantidade de leite normal (Fonseca & Carvalho 2004). Conforme Block (2000) o cenário mundial traz uma visão de maior importância para a proteína e o processo de obtenção do leite, visando a remuneração do leite conforme for apresentada sua estrutura percentual de proteínas. Devido à importância que a proteína vem recebendo tem-se analisado o processamento do leite e indicado essa forma de pagamento por proteína verdadeira. Tornando isso para o produtor rural relevante considerando que podem ocorrer variações na porcentagem de nitrogênio proteico devido às condições de alimentação que o animal teve acesso refletindo diretamente no leite. Conforme Brito, Nobre & Fonseca (2009), a qualidade do leite tem grande influência sobre o valor da bonificação recebida pelo leite, como punição pelo produto que não contempla os padrões necessários. Os programas de pagamento sofrem variação conforme a cooperativa que recebe o produto, tendo uma melhor bonificação quando há ausência de resíduos de antibióticos ou não ocorra fraude por acréscimo de água. Os padrões que normalmente são adotados quanto a essa forma de bonificação atendem a critérios próprios, muitas vezes mais exigentes que o padrão da legislação (Brito, Nobre & Fonseca, 2009). Segundo Horta (2006 apud Okano, 2010), muitas indústrias em algumas regiões pagavam apenas considerando o volume coletado de leite. As empresas consideravam que quanto mais o produtor conseguir entregar por coleta melhor seria o pagamento, pois pela logística de entrega do leite, quanto mais fosse acondicionado nos caminhões por viagem, melhor seria o rendimento das ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW 3068 Lazarotto, W. et al Rev. Bras. Farm. 100 (1): 3050 – 3075, 2019 suas viagens. Mas, Machado (2008) cita que várias indústrias no Brasil já haviam se adequado à bonificação por qualidade de leite naquele ano. O Conselho Brasileiro de Qualidade de Leite (CBQL), considerando estudos de 2005, entre as 15 empresas de maior porte na área leiteira do setor Brasileiro, doze delas afirmaram que realizavam o pagamento bonificando com melhores preços os leites com padrões de qualidade e higiene. Em determinadas propriedades rurais em Aracaju-SE, o produtor recebe o pagamento do leite com base no volume produzido e sólidos totais (gordura e proteína do leite), sendo o teor mínimo de gordura e proteína de 3,5 e 3,0%, respectivamente (Oliveira et al., 2014) Nas regiões com as maiores concentrações leiteiras no Brasil o pagamentorelativo à qualidade recebe mais atenção. A diferença no valor pago pode atingir até 20% no valor do preço do litro de leite, como não é regra para o Brasil, ela não é totalmente difundida. Para o produtor o benefício trazido é apenas monetário (Canziani & Guimarães, 2003). Os indicadores do leite são requisitos estabelecidos para um leite tipo “padrão”, que se estenda aos padrões de legislação e aos da indústria. Quando o leite estiver com parâmetros abaixo do “padrão” haverá redução do preço de referência, quando o leite possuir parâmetros de melhor qualidade que o padrão acumularia pontos e teria um retorno financeiro melhor que o preço de referência (Canziani & Guimarães, 2003). Conforme a Nestlé (2005), em meados de janeiro de 2005 a empresa iniciou no mercado lácteo Brasileiro o Sistema de Valorização do Leite (SVL). Com o intuito de valorizar o produtor rural que traz em seu produto leite uma melhor qualidade, a empresa remunera conforme um padrão adicional de valores ao leite que se apresenta com baixa contagem bacteriana total (CBT), baixa contagem de células somáticas e teores elevados de proteína e gordura. Desta forma, é possível incentivar e valorizar os esforços dos produtores que investem no aperfeiçoamento da genética, nutrição e manejo, o SVL objetiva aumentar a competitividade dos produtos lácteos Brasileiros no mercado internacional. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os padrões envolvendo qualidade do leite são estabelecidos com base em parâmetros relativos ao conteúdo de proteínas, gordura, contagem de células somáticas; temperatura de armazenamento; contagem bacteriana; características organolépticas considerando odor, aspectos e sabor; adulterações por aditivo de resíduos, água ou antibióticos. Esses parâmetros estão na dependência de fatores que interferem diretamente na composição físico-química e microbiológica do leite. São os fatores intrínsecos, genéticos, nutricionais e ambientais e/ou os fatores extrínsecos relacionados à sanidade animal e à contaminação bacteriana. ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW 3069 Lazarotto, W. et al Rev. Bras. Farm. 100 (1): 3050 – 3075, 2019 Os parâmetros principais indicadores de qualidade nutritiva também estão relacionados à composição do leite no que diz respeito à quantidade de proteínas, gorduras, carboidratos, minerais, entre outros. Parâmetros físicos também são relevantes e precisam estar dentro dos padrões exigidos pela legislação atual. Em relação à qualidade microbiológica do leite, esta se constitui numa condição primária para um produto de qualidade e deve estar afinada com as boas práticas de produção e rigoroso sistema de controle de temperatura de refrigeração durante armazenamento. Embora o pagamento por qualidade do leite venha se tornando uma realidade no Brasil, os fatores que imprimem qualidade ao produto leite são múltiplos e complexos. E ainda, geografia, clima, tamanho da propriedade, incentivo a cooperados, programas de treinamento em boas práticas, entre outros, são questões que precisam ser levadas em consideração e trabalhadas para o país avançar em produtividade e, principalmente, em qualidade. O leite continua sendo o alimento com mais alto valor nutritivo de grande importância econômica e social. Apesar de tudo, o Brasil tem se colocado com um dos mais importantes produtores mundiais de leite. Contudo, com o advento da globalização e a evolução dos mercados, a cobrança dos consumidores sobre a qualidade e a segurança dos alimentos, a não adequação de requisitos de boas práticas pode ser um fator limitante ao produtor, ficando a cadeia produtiva prejudicada. O pagamento por qualidade do leite tem sido uma abordagem frequente. E, apesar de existir há mais de uma década, deverá nortear a produção de leite nos próximos anos. O objetivo é bonificar o produtor pela qualidade do produto. Contudo, excelência de qualidade ainda não é uma realidade para todo o Brasil, mas está tomando espaço, principalmente nas regiões em que o plantel de vacas leiteiras e as grandes indústrias são maiores. ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW 3070 Lazarotto, W. et al Rev. Bras. Farm. 100 (1): 3050 – 3075, 2019 Referências: Alvares C & Paim M. 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