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CONCEITOS BÁSICOS EM CUIDADOS PALIATIVOS POR Rebeca Zilli O objetivo principal do cuidado paliativo é a “melhora da qualidade de vida de pacientes e familiares” e é realizado através “da prevenção e alívio de sofrimento físico, psíquico, social e espiritual”. É um cuidado realizado por uma equipe multiprofissional e em todos os níveis de atenção, durante o período do diagnóstico, adoecimento, finitude e luto. ● Princípios norteadores 1. Iniciar o mais precocemente possível o acompanhamento; 2. Reafirma a vida e sua importância; 3. Compreender a morte com processo natural sem antecipar nem postergá-la; 4. Promover avaliação, reavaliação e alívio impecável da dor e de outros desconfortos; 5. Perceber o indivíduo em toda sua completude; 6. Oferecer o melhor suporte ao paciente focando na melhora da qualidade de vida; 7. Compreender os familiares e entes queridos como parte importante do processo; ● Avaliação do paciente Além do exame clínico habitual, utilizam-se escalas que são ferramentas que auxiliam na avaliação objetiva da Condição Funcional (PPS) e Estratificação da Intensidade dos Sintomas (ESAS) ESAS: indicadores visuais e numéricos que variam de 0 – 10, sendo 0 a ausência de sintomas e 10 sintomatologia em sua maior intensidade. Faço essa escala em qualquer âmbito da abordagem ao paciente em cuidados paliativos. ► sintomas subjetivos e objetivos; ► se paciente não puder, cuidador pode preencher; (nesse caso, deixar os sintomas subjetivos em branco) ● Critérios de terminalidade Para a tomada de decisões, previsão prognóstica e diagnóstica, é importante a avaliação funcional do paciente, de forma a observar a curva evolutiva da doença e os níveis de dificuldades e dependência que a acompanham, principalmente ligados à Atividade Básica da Vida Diária (ABVDs): 1. Não conseguir controlar fezes e urina sozinho necessitando de fraldas; 2. Não conseguir engolir os alimentos sozinho necessitando de tubos de alimentação; 3. Não conseguir andar nem se sentar sozinho ficando apenas deitado (o que mais leva ao sofrimento) Geralmente, pacientes com déficit nessas ABVDs apresentam maior sofrimento, sendo um marcador importante para àqueles que necessitam de um cuidado maior, o paliativo (por exemplo, restrito ao leito). Essas principais dependências funcionais ao lado são preditores de que o paciente tem cerca de 6 meses de vida. PPS: é uma escala com 11 níveis de performance, de 0 a 100, dividida em intervalos de 10, que deve ser feita em todos os contatos com o paciente (internação – todos os dias) uma vez que auxilia na tomada de decisões e pode, até mesmo, ter valor prognóstico. → a partir daqui já encaminhamos para consulta em CP. → Confusão → Sonolência → Coma ● Impressão e prognóstico PPS 10%: horas a dias (perfil de últimas 48h); PPS 20-30%: dias a semanas; PPS 40-50%: semanas a meses (6 meses de vida); PPS 60-100%: meses a anos (superior a 6 messes); ● Abordagem Dimensão física: controle de sintomas, alocar adequadamente recursos, diretrizes avançadas, não prolongar vida artificialmente, morte digna e pacífica. Dimensão social e familiar: focar no binômio paciente – família, organizar testamento/ benefícios, regularizar questões financeiras, providenciar funeral/atestado, ser cuidado por alguém, amparar o cuidador/família, definir local de óbito. Dimensão psíquica: ressignificar mágoas, medos e culpas, resgatar e reforçar mecanismos de enfrentamento, aceitação da morte, ressignificação da vida, prevenir luto patológico. Dimensão espiritual e religiosa: estar em paz com o criador, receber o perdão de Deus, receber ritos de sua tradição, sentimento de transcendência, síntese de vida, legado espiritual. Em suma, essa abordagem desse ser realizada por equipe multidisciplinar treinada e capacitada, com foco no sofrimento do paciente, da família e da equipe responsável pelo caso. ● Cuidados Paliativos na demência Demência é um prejuízo adquirido e permanente da capacidade intelectual que afeta áreas da cognição: memória, linguagem, capacidade visoespacial, emoção e personalidade. As principais causas de demência são a Doença de Alzheimer e as demências vasculares, por corpos de Lewy e frontotemporal. Demência pela Doença de Alzheimer pode ser dividida em 4 fases evolutivas, que aumentam progressivamente o grau de dependência para as ABVD’s: • Fase inicial: 2 – 5 anos, dificuldade de adaptação a novas situações e confusão espacial. • Fase intermediária/moderada: 2 – 10 anos, agitação, insônia, afasia e apraxia, com confusão mental cada vez mais acentuada. É nessa fase que a família tende a procurar especialistas. • Fase avançada: duração imprecisa, prejuízos mais graves de linguagem, incontinência e dificuldades de alimentação. Nessa fase a familia necessita de suporte diário da equipe de CP. • Fase Final: 1 – 3 anos, mutismo, disfagia, desnutrição e imobilidade. OBS: nas duas últimas fases que atuam os profissionais de Cuidados Paliativos. A demência é uma doença que submete a família ao processo de luto antecipatório de uma pessoa que ainda vive, sendo importante uma rede de apoio à família. Usamos essa classificação com a equipe, nunca com a família ou paciente. ● Últimas 48h de vida Compreendem o conjunto de condutas e cuidados com o paciente que se encontra em rápido declínio funcional, por causa irreversível, nos seus momentos finais, de modo a oferecer qualidade de vida mesmo nos instantes finais desta. Geralmente é o paciente com PPS 10%. Quando todos os sintomas que são apresentados se exacerbam e começa a emergir, o quadro de morte próxima é irreversível, sendo a sobrevida média do doente é de horas a dias: ANOREXIA: impacto na ingesta de alimentos/líquidos; sondagem pode ser considerado iatrogenia, sendo a via subcutânea (SC) a melhor escolha em enfermaria hospitalar (hipodermólise); devemos também hidratar os lábios com gaze molhada ou cubo de gelo. SONOLÊNCIA: embora ainda possa ser despertado e se comunicar, mesmo que precariamente, o paciente dorme praticamente todo o tempo no final do curso de sua doença (não suspendo sedativos). ALTERAÇÕES DA COGNIÇÃO: memória e o raciocínio se deterioram, sendo as respostas demoradas, inadequadas ou inexistentes, podendo surgir experiências sensoriais diferentes; podem surgir quadro de Delirium e agitação motora, ou simplesmente um rebaixamento progressivo do nível da consciência, caracterizando o coma que antecedem a morte. OBS: Instituir uma hidratação de até 1000 ml/dia pode prevenir a instalação do quadro. MIOCLÔNUS: abalos musculares involuntários, frequentes e indicativos de neurotoxicidades, precursores de convulsões, devendo ser controlados rapidamente. DISPNÉIA: controlamos pelo afastamento de causas reversíveis (Derrames Pleurais, Infecções, Ascite) sendo o medicamento de escolha a morfina em infusão contínua e parenteral (dose inicial para alívio de 10mg/24h). Se a dispneia for causada por hipersecreção brônquica (sororoca, ronco, broncorréia), alivio com uso de anticolinérgicos (Hioscina em doses de 10 a 20mg a cada 4/6 horas). EXACERBAÇÃO DA DOR: os sintomas já recorrentes podem se exacerbar nos últimos dias de vida e tornam-se refratários à terapêutica habitual; devemos manter o tto para estes at[e o final, mesmo quando se instala coma e não se saiba mais a dimensão do sintoma. → manter analgésicos, optar por via SC. → infusão contínua pode ser mantida IV. → controle álgico, optar por opióides. → suspender coadjuvantes, evitar efeitos adversos (antidepressivos). OBS: a Morfina é o de escolha pois faz controle de outros sintomas (tosse, dispneia, fadiga), pode ser administrados por várias vias e não possui dose teto. ● Drogaspara alívio de sintomas (via SC) Hidratação Analgesia Antieméticos Anticolinérgico Esteróides Diurético Antitérmico Protetor gástrico Neuroléptico Sedativos SF 0,9% SG 5% SR Tramadol Morfina Metadona Ondasetron Dimenidrinato Metoclopramida Hioscina Dexametazona Furosemida Dipirona Ranitidina Omeprazol Haloperidol Clorpromazina Midazolam Clonazepam Fenobarbital ● Doenças crônicas e critérios para abordagem em CP Câncer: o Qualquer pacientes com CA metastático ou inoperável serão abordados pelo Cuidados Paliativos. Doenças Cardiovasculares: o FE < 20% o Nova disritmia o AVC, IAM, síncope o Sintoma em repouso o Idas frequentes ao PSA por sintomas Doenças Pulmonares: o Dispneia em repouso o IC direita o Sat O2 < 88% o PCO2 > 50 o Perda de peso não-intencional Demência: o Incapacidade de andar o Incontinência o Menos de 6 palavras inteligíveis o Albumina < 2,5 o Idas frequêntes ao PSA Doenças Hepáticas: o TP > 5 segundos o Albumina < 2,5 o Ascite refratária o Peritonite Bacteriana Espontânea (PBE) o Icterícia o Desnutrição ou perda de massa muscular Doenças Renais: o Não candidato à diálise o Depuração da creatinina <15ml/min o Creatinina sérica > 6,0 Síndrome de Fragilidade: o Idas frequentes ao PSA o Albumina < 2,5 o Perda de peso não intencional o Úlceras de decúbito o Confinamento ao leito ● Choosing Wisely 1. Não indique alimentação artificial no contexto da terminalidade problemas: não previne broncoaspiração, não melhora marcadores nutricionais, pode induzir agitação e aumentar o risco de lesões de pele por imobilidade. conduta: discutir com a família a proposta de alimentação de conforto, em que o paciente recebe alimentos de sua preferência pela via oral, até o final da vida, conforme aceitação, na consistência mais segura para deglutição, preferencialmente com o suporte de profissionais da fono e da nutrição. 2. Não indique IOT como medida de conforto para tratar dispneia ao final da vida problemas: dependência do tubo, pode não resolver a dispneia. conduta: tratamento da dispneia com opioides, titulados da forma correta, que podem ser associados a fármacos anticolinérgicos que reduzem as secreções respiratórias. 3. Não prescreva infusão de líquidos por via parenteral como medida de conforto A reposição volêmica parenteral é dolorosa e desnecessária. 4. Não promova controle glicêmico rigoroso em idosos em final de vida Conduta de acordo com as condições clínicas, funcionais e até mesmo sociais; medicações hipoglicemiantes podem ser descontinuadas. 5. Não institua medidas de suporte avançado de vida em pessoas com doenças incuráveis sem ter conversado previamente sobre seus valores e preferências Registro de uma Diretiva Antecipada de Vontade é a forma de proteger a pessoa, com o potencial de manter o foco do tratamento, ao final da vida, naquilo que realmente importa para ela. 6. Não indique rastreio, tratamento ou intervenção invasiva sem antes considerar o estado funcional, expectativa de vida e compartilhamento de decisão Sugere-se que tais entendimentos sejam pelos resultados da “Avaliação Geriátrica Ampla”. 7. Não prescreva medicamentos com intuito de atingir alvos de hemoglobina glicada <7,5% em idosos diabéticos com declínio funcional e/ou cognitivo problemas: pode trazer mais dano do que benefícios; risco de evento nocivo de hipoglicemia. conduta: Propostas razoáveis seriam 7,0 - 7,5 % em idosos saudáveis com expectativas de vida longa; 7,5 - 8,0% naqueles com expectativa de vida <10 anos; 8,0 - 8,5% naqueles com várias morb. e ↓ expectativa de vida; OBS: a Metformina deve ser considerada com primeira escolha para monoterapia na maioria dos idosos, quando o tratamento farmacológico estiver indicado, sobretudo pelo menor risco de hipoglicemia. 8. Não recomenda rastreio para câncer de próstata, mama ou colorretal para pessoas com expectativas de vida inferior a 10 anos problemas: alguns testes podem expor o paciente a possíveis danos imediatos. conduta: rastreio de câncer de próstata, mama e colorretal na população idosa deve ser baseada na individualização clínica e na expectativa de vida do idoso.
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