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MEDCURSO: Cirurgia 22/04/2020 Aula 4: Hérnias da Parede Abdominal 1. Hérnia umbilical É toda vez que há o não fechamento do anel umbilical. É dividida em 2 padrões, acontecendo na criança ou no adulto. Ligeiramente mais comum nas mulheres. 1.1 Na criança · É um defeito congênito, com tendência ao fechamento espontâneo até os 2 anos de idade · Tratamento: conservador fechamento espontâneo · Cirurgia: deve ser indicada em 4 situações · Quando concomitante a hérnia inguinal: aproveitamos o ato cirúrgico para corrigir a hérnia umbilical · Defeito > 2 cm · Associada a DVP (derivação ventrículo peritoneal) para evitar complicações · Não fechamento com 4-6 anos 1.2 No adulto · Defeito adquirido por aumento da pressão intra-abdominal, com gestação, cirrose, entre outros · Tratamento: à princípio é conservador · Cirurgia: paciente sintomático (dor) ou ascite volumosa (risco de ruptura – a pele que recobre o conteúdo herniário fica muito fina) 2. Hérnia epigástrica É a hérnia formada na linha alba/linha média, localizada entre a cicatriz umbilical e o apêndice xifoide. 3. Hérnia incisional É a hérnia que se forma em um local de incisão cirúrgica prévia. 3.1 Fatores de risco · Técnica incorreta · Infecção do sítio cirúrgico, hematoma, seroma · Desnutrição, idade mais avançada, uso crônico de corticoide · Aumento da pressão intra-abdominal, obesidade 4. Hérnia de Spiegel É toda e qualquer hérnia formada entre a borda lateral do reto abdominal e linha de Spiegel (semilunar) – é a linha da junção da musculatura mais lateral do abdome. · Se forma sobre ou abaixo da linha arqueada ou de Douglas: acontece mais frequentemente abaixo da cicatriz umbilical · Avaliar imagem para o diagnóstico: é mais difícil de detectar por exame físico 5. Hérnias lombares São de 2 tipos, aquelas formados no triângulo lombar superior ou inferior. · Hérnia no triângulo lombar superior: hérnia de Grynfelt · Limite anatômico: abaixo da 12ª costela · Hérnia no triângulo lombar inferior: hérnia de Petit · Limite anatômico: acima da crista ilíaca 6. Hérnia inguinal 6.1 Aspectos anatômicos a) De dentro para fora · Primeira estrutura: alças intestinais – conteúdo da hérnia · Segunda estrutura: peritônio, recobrindo as alças · Terceira estrutura: gordura pré-peritoneal, fáscia transversalis = primeiro elemento que compõe a parede posterior do canal inguinal, é esburacada e delgada/fina/frágil Quase que no mesmo plano da fáscia transversalis temos mais duas estruturas, sendo a primeira um pouco mais posterior que ela, o músculo transverso do abdome e a outra um pouco mais anterior, o músculo oblíquo interno. Parede posterior do canal inguinal = fáscia transversalis, músculo transverso e músculo oblíquo interno Na fáscia transversalis temos um orifício maior, correspondente ao anel inguinal interno ou profundo que marca o início do canal inguinal e além dele, temos um orifício duplo, o canal femoral, anunciado abaixo do ligamento inguinal. Parede anterior do canal inguinal = aponeurose do músculo oblíquo externo (é uma especialização do músculo que tem como função a fixação deste a uma estrutura óssea) A parede anterior também apresenta um orifício, que é o anel inguinal superficial ou externo e marca o final do canal inguinal. No final da aponeurose há um espessamento, que chamamos de ligamento inguinal ou de Poupart. Recobrindo a aponeurose temos o subcutâneo e por fim a pele do paciente. b) Canal inguinal O canal inguinal nada mais é do que um caminho, uma “rampinha” que começa no anel inguinal interno e termina no anel inguinal externo, indo de superior para inferior, lateral para medial e posterior para anterior. · Estruturas no homem · Funículo espermático = músculo cremaster, vasos deferentes, plexo pampiniforme... · Conduto peritônio-vaginal obliterado · Estruturas na mulher = ligamento redondo do útero 6.2 Hérnias da “região da virilha” = hérnias inguinais e hérnia femoral a) Hérnia inguinal indireta É a hérnia mais comum de todas, e ela se anuncia através do anel inguinal interno. A única maneira de se desenvolver essa hérnia é por um defeito congênito, sendo esse a patência/não fechamento do conduto peritônio-vaginal. Se o caminho está aberto, a alça intestinal pode passar e nos casos de patência completa, a alça pode imitar o caminho que o testículo fez até o escroto gerando uma hérnia inguino-escrotal. · Causa: defeito congênito = não fechamento do conduto peritônio-vaginal · É a hérnia típica da infância · Risco de encarceramento b) Hérnia inguinal direta É um defeito adquirido, em que há um enfraquecimento da parede posterior do canal inguinal, na fáscia transversalis, especificamente no trígono de Hatsselbach = ligamento inguinal, vasos epigástricos inferiores e borda lateral do reto abdominal. É nele que se forma a hérnia direta, ela se anuncia através do trígono. Tem poucas chances de sofrer encarceramento. Hérnia direta x hérnia indireta · Relação com vasos epigástricos inferiores · Hérnia direta: medial aos vasos epigástricos inferiores · Hérnia indireta: lateral aos vasos epigástricos inferiores · Pelo exame físico: colocar o dedo no canal inguinal associada a Valsalva · Conteúdo bate na polpa do dedo: hérnia inguinal direta · Conteúdo bate na ponta do dedo: hérnia inguinal indireta c) Hérnias femorais ou crurais É aquela hérnia que se anuncia abaixo do ligamento inguinal. · Mais comum em mulheres · Mais comum à direita: do lado esquerdo temos o sigmoide, que quando faz a reflexão peritoneal para posterior tampona aquela região e dificulta a ocorrência da hérnia · Maior risco de encarceramento: se anuncia pelo canal femoral, que é estreito e inelástico Classificação de Nyhus Tipo I Indireta com anel inguinal interno normal Geralmente encontrada na criança Tipo II Indireta com anel inguinal interno dilatado (> 2 cm) Tipo III Toda vez que tem defeito na parede posterior IIIa: direta IIIb: indireta – parede posterior destruída IIIc: crural Tipo IV Recidivante IVa: direta IVb: indireta IVc: crural IVd: mista d) Tratamento das hérnias inguino-femorais · Hérnia redutível: é aquela que se move sem problemas = cirurgia eletiva · Hérnia encarcerada: é aquela que vai para fora e NÃO volta · O ideal é tentar redução manual (manobra de Taxe): pouco tempo de encarceramento, o paciente está bem Quando não reduzir? · Sofrimento isquêmico – começamos a pensar em hérnia estrangulada · Tempo de evolução: quanto maior o tempo de encarceramento, maior o risco de sofrimento isquêmico daquele segmento – então quando > 6-8h não é recomendado tentar a redução · Obstrução? Distensão segmentar · Irritação peritoneal, hiperemia, hipotensão · Hérnia estrangulada: sofrimento isquêmico do segmento · O tratamento será cirurgia de emergência · Inguinotomia · Se redução espontânea = laparotomia para identificação da alça Técnicas operatórias 1- Abordagem anterior O que muda de uma técnica para outro é o modo de realizar o reforço da parede posterior. · Herniorrafia anterior + reforço da parede posterior: padrão, seja uma hérnia direta ou indireta · Técnica de Shouldice: reforço da parede posterior através da imbricação de músculos – sutura-se um músculo em cima do outro, não se utiliza tela e há tensão nos pontos · Técnica de Lichtenstein: colocação de tela livre de tensão, é o padrão-ouro sendo mais rápida e com baixos índices de recidiva – faz-se uma sutura contínua ao longo do ligamento inguinal para fixar a tela · Técnica de Mc Vay: boa para hérnia femoral 2- Abordagem posterior Nessa abordagem, vamos de dentro para fora, através de um acesso pré-peritoneal. · Indicações: recidivas – o ideal agora é mudarmos a técnica, caso a técnica prévia tenha sido a anterior · Hérnias bilaterais · Técnicas · Técnica de Stoppa: colocação de tela bilateral gigante – fazemos uma incisão infra-umbilical e vamos descolando até o pré-peritôniona região pré-ingual associada a redução do conteúdo e colocação de tela · Videolaparoscopia: abordagem inicial; de escolha nas mulheres – recuperação mais rápida, melhor esteticamente TAPP: transabdominal pré-peritoneal – penetra a cavidade abdominal TEP: totalmente extraperitoneal – não penetra a cavidade abdominal, com um balão dissector chega-se ao espaço pré-peritoneal 6.3 Denominações especiais a) Hérnia de Richter · Pinçamento da borda antimesentérica de um conteúdo: é só uma partezinha do intestino, a maior parte da alça continua patente · Isquemia SEM obstrução b) Hérnia de Littré – é o paciente azarado · Hérnia cujo conteúdo é o divertículo de Meckel c) Hérnia de Amyand · O apêndice na hérnia inguinal d) Hérnia de Garangeot · O apêndice na hérnia femoral