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1 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP Hérnias na Parede Abdominal Introdução Definição: As hérnias são protrusões de um órgão ou tecido interno através da parede abdominal em que a porção exteriorizada se encontra recoberto por um saco peritoneal. Diferentemente do que muitos pensam, a cirurgia por vezes é complexa e não devem ser realizadas por médicos iniciantes. A hérnia decorre de ruptura da parede abdominal, principalmente por orifícios naturais, que são 2 na região inguinal e 1 na região umbilical. Epidemiologia: Corresponde a meio milhão de operados/ano nos EUA, sendo que cerca de 50% dos casos são hérnias inguinais indiretas, 25% de hérnias inguinais diretas, 10% de hérnias incisionais, 6% hérnias femorais e 3% umbilicais. As hérnias da parede abdominal são: - Hérnia femoral; - Hérnia inguinal: direta ou indireta; A hérnia inguinal indireta (+ frequentes): é oriunda lateralmente dos vasos epigástricos inferiores Passa indiretamente pelo canal inguinal; Direta: saem medialmente aos vasos epigástricos inferiores, dentro do trígono de Hesselback. Ocorre devido à fraqueza da parede abdominal, sendo mais comum em idosos. Passa diretamente pela parede abdominal. - Hérnia umbilical: representa o não fechamento do anel umbilical. Pode ser dividido em 2 padrões: Criança: a origem desta hérnia na criança representa um defeito congênito, de modo que há uma tendência é o fechamento espontâneo (até 2 anos de idade). Dessa forma, o tratamento é conservador. A cirurgia é indicada em: Concomitante a hérnia inguinal, uma vez que a inguinal não fecha espontaneamente; Defeito > 2 cm; Associado à DVP: já que é uma comunicação do SNC com o abdome; Não fechamento com 4-6 anos. Adulto: a origem desta hérnia no adulto é um defeito adquirido. O tratamento é conservador a princípio. A cirurgia é indicada em: Sintomáticos; Ascite volumosa. - Hérnia epigástrica: representa uma hérnia que se forma na linha alba entre a cicatriz umbilical e apêndice xifoide. - Hérnia incisional: é uma hérnia que se forma em uma área cirúrgica prévia. Os principais fatores de risco para este tipo de hérnia são: Técnica incorreta; Infecção do sítio cirúrgico, hematoma ou seroma no local; Desnutrição; Idade avançada; Uso crônico de corticoide; Obesidade. - Hérnia lombar: pode ser de 2 tipos: ou se forma no triângulo lombar superior, a chamada de Hérnia de Grynfelt (abaixo da 12ª costela) OU no triângulo lombar inferior, a chamada Hérnia de Petit (acima da crista ilíaca). VERMELHO: TRÍGONO LOMBAR SUPERIOR E AZUL: TRÍGONO LOMBAR INFERIOR. - Hérnia semilunar; - Hérnia obturatória. Fatores de risco: Os principais fatores de risco são: - História familiar; - Sexo masculino; - Idade: 70-80 anos; - Aumento da pressão intrabdominal, como DPOC, HPB, Ascite; - Doenças colagenosas; - Obesidade; 2 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP - Fumo. Para as hérnias incisionais temos: - Fatores cirúrgicos: como a técnica empregada, complicações da ferida e presença de cirurgias de emergência; - Obesidade; - Desnutrição; - Uso de corticoide. Revisão da Anatomia: Lembre-se que na região supraumbilical temos estruturas musculares e aponeuroses anteriormente e posteriormente ao reto abdominal, enquanto na região infraumbilical temos apenas anteriormente. Neste sentido, a região infraumbilical é uma área de maior fragilidade. Já o canal inguinal no homem é composto pelo funículo espermático (composto por: conduto peritônio-vaginal obliterado, fibras do músculo cremastérico, ducto deferente com sua artéria e veia, veia e artéria testiculares, artéria e veia espermáticas externas, processo vaginalis obliterado, plexo pampiniforme, ramo genital do nervo genitofemoral, nervo cremastérico e vasos linfáticos) enquanto nas mulheres pelo ligamento redondo do útero. OBS: Limites do canal inguinal: anterior: aponeurose do músculo oblíquo externo (nesta aponeurose há um orifício chamado de Anel Inguinal externo- marca o final do canal inguinal); superior: tendão conjunto; inferior: ligamento inguinal/Poupart e posterior: fáscia transversalis, músculo transverso e músculo oblíquo interno. Na fáscia transversalis há o anel inguinal interno (marca o início do canal inguinal) e canal femoral. RESUMINDO: ANEL INGUINAL INTERNO ANEL INGUINAL EXTERNO. OBS1: Trígono inguinal de Hesselback: delimitado pelo músculo reto abdominal, vasos epigástricos inferiores e ligamento inguinal. Está presente na fácies transversalis. Classificação: - Quanto à localização: Umbilical; Incisional; Epigástrica; Inguinais; Raras: Spiegel: ocorrem através da aponeurose de Spiegel, que compreende a região de aponeurose do músculo transverso; Lombares; Obturador; Perineais; Diafragmáticas. - Quanto ao conteúdo: Redutível: representa aquela que quando realizamos a pressão sobre a hérnia, há retorno do conteúdo para dentro da região abdominal; Encarcerada: a hérnia se projeta da parede abdominal e permanece exteriorizada, de modo que a irrigação ainda está mantida; Estrangulada: a hérnia se projeta da parede abdominal e permanece exteriorizada, além de comprimir os vasos, o que gera necrose; Por deslizamento: desliza ao lado de uma alça intestinal. Hérnias Quadro Clínico: A maioria delas são oligossintomáticas, mas podem apresentar-se com: - Abaulamento regional; - Dor vaga e de peso na região, de modo que se ocorrer dor intensa e aguda devemos suspeitar de alguma complicação. OBS: Hérnia gigante: são hérnias que tem um volume de saco herniário maior que 25% do volume abdominal. Geralmente ocorrem em hérnias incisionais de pacientes obesos. Diagnóstico: O diagnóstico é clínico, através de: - História clínica; 3 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP - Exame físico: Importante realizar a manobra de Valsalva; Palpação do anel inguinal: Manobra de Landivar: consiste na colocação das pontas dos dedos na parede abdominal sobre a região inguinal e pede-se para o paciente repetir a manobra de Valsalva. A seguir, coloca-se a ponta do dedo no canal inguinal e a manobra de Valsalva é repetida. A protrusão que avança na ponta do dedo é mais característico de hérnia inguinal indireta, uma vez que esta hérnia passa pelo anel inguinal interno. - Os exames de imagem devem ser deixados em casos de dúvida diagnóstica ou para planejamento cirúrgico. Tratamento: No caso de hérnia umbilical podemos proceder com tratamento cirúrgico, contudo em hérnias pequenas, ou seja, menores que 2 cm, pode-se proceder com a Herniorrafia à Mayo sem tela, já as hérnias maiores recebem a hernioplastia umbilical com tela. Já a hérnia incisional é tratada com hernioplastia incisional com colocação de tela de polipropileno pré-aponeurótica, isto é, colocação da tela anteriormente à aponeurose. OBS: Em casos de suspeita de estrangulamento não devemos reduzir e realizar uma cirurgia de urgência. Enquanto na encarcerada podemos realizar a redução e fazer uma cirurgia eletiva. Complicações: - Dor crônica; - Infecção crônica; - Sangramento; - Orquite isquêmica. Hérnia Inguinal Definição: São hérnias mais frequentes e mais prevalentes em homens, no lado direito e na forma indireta. Costuma ocorrer em uma região denominada de Orifício Miopectíneo de Fruchaud, que contém fraquezas potenciais para hérnias: - Femorais; - Indiretas; - Diretas. OBS: Limites do Orifício Miopectíneo de Fruchaud: Classificação: - Hérnias diretas: ocorrem diretamente através da parede abdominal, através de trígono de Hasselbach, onde essa parede é composta apenas pela fáscia transversalis (parede posterior). Causa: é um defeito adquirido, onde há um enfraquecimento da paredeposterior do canal inguinal, ou seja, um defeito no triangulo de Hesselback da fáscia transversalis; Passa medialmente aos vasos epigástricos inferiores. - Hérnias indiretas: ocorrem desde o anel inguinal interno, passando pelo canal inguinal até o anel inguinal externo, podendo alcançar até o saco escrotal. Ou seja, passa indiretamente pelo canal inguinal e por isso tem maior risco de encarceramento. Causa: é congênita, uma vez que não há um fechamento do conduto peritônio-vaginal É uma hérnia típica da infância; Passa lateralmente aos vasos epigástricos inferiores. Classificação de Nyhus: É baseada em critérios anatômicos, como tamanho do canal inguinal e integridade da parede posterior. 4 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP Tratamento: - Eletivo (feito em hérnia redutível): a hérnia inguinal é classicamente tratada pela Hernioplastia inguinal de Liechtenstein (técnica livre de tensão com uso de tela de poliupropileno), embora existam outras técnicas como a Cirurgia de Stoppa (utilizada principalmente com hérnias inguinais volumosas que apresentam comprometimento de anatomia da região) e as laparoscópicas (TEP- Totalmente extraperitoneal e TAAP- Transabdominal pré-peritoneal). TÉCNICA DE LICHTENSTEIN - Urgência: Encarceramento: se manifesta por um abaulamento não redutível com desconforto local. Pode-se REDUZIR APENAS se estiver dentro da janela de 6-8 horas Manobra de Taxe. O tratamento é cirúrgico e consiste em uma inguinotomia (exploração inguinal) para a avaliação do saco herniário, de modo que não havendo estrangulamento, segue-se com a redução cirúrgica do conteúdo, seguida de hernioplastia inguinal de Liechtenstein. Estrangulamento: uma hérnia estrangulada sob isquemia, manifesta-se por dor intensa e sinais flogísticos na pele. O tratamento é cirúrgico e consiste em INGUINOTOMIA para avaliação do saco herniário, de modo que havendo conteúdo viável, procede-se à REDUÇÃO e hernioplastia como no encarceramento. Contudo, se não tenha conteúdo viável, devemos seguir com ENTERECTOMIA SEGMENTAR LOCAL. Por fim, caso haja perfuração e contaminação cavitária, devemos seguir com LAPAROTOMIA mediada para limpeza e avaliação do conteúdo. Obstrução intestinal: deve ser tratada de forma semelhante a um encarceramento com avaliação do seu conteúdo, seguida de redução e hernioplastia. OBS: Técnicas operatórias: abordagem anterior (acessa de fora para dentro): herniorrafia anterior + reforço posterior (técnica de Shouldice- imbricação de músculos, ou seja, não se usa tela; técnica de Liechtenstein - com uso de tela fixada no ligamento inguinal padrão-ouro; Mc Vay- boa para hérnia femoral); abordagem posterior (acessa de dentro para fora): são indicadas em hérnias recidivadas e hérnias bilaterais (Técnica de Stoppa- utiliza-se tela bilateral; Técnica Videolaparoscópica). Hérnia Femoral ou Crural São hérnias que se anuncia abaixo do ligamento inguinal. São hérnias raras mais frequentes em mulheres e mais comumente à direita, uma vez que no lado esquerdo há o sigmoide que dificulta a formação da hérnia. Clinicamente se manifestam como abaulamento do ligamento inguinal. É uma hérnia que possui maior risco de encarceramento, inclusive mais que a hérnia inguinal indireta, uma vez que o canal femoral é mais estreito. O tratamento é cirúrgico através da Cirurgia de Mcvay: utiliza- se o ligamento de Cooper (ligamento pectíneo) para fazer a correção. Hérnias Especiais Hérnia de Spiegel: A hérnia de Spiegel ocorre na linha semilunar de Spiegel, ou seja, entre a borda lateral do reto abdominal e a linha de Spiegel (mostra a junção da musculatura mais lateral do abdome). O paciente apresenta-se clinicamente com abaulamento redutível dos quadrantes inferiores direito ou esquerdo, ou seja, sobre ou abaixo da linha arqueada de Douglas (que passa na cicatriz umbilical). É importante avaliar imagem para diagnóstico. Hérnia de Richter Representa um pinçamento da borda antimesentérica, ocorrendo isquemia sem obstrução. Hérnia Littré Representa uma hérnia cujo conteúdo é o Divertículo de Meckel. Hérnia Amyand Representa quando há o apêndice na hérnia inguinal. Hérnia de Garengeot Representa quando há o apêndice na hérnia femoral.
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