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1 Giovanna Brito 2019.2 Reparo: Restauração da arquitetura tecidual e da função após uma lesão. Regeneração: Restituição completa do tecido lesado, substituição de estruturas perdidas por novas normais. Cicatrização: Restituição incompleta do tecido lesado, substituição apenas de algumas estruturas perdidas e gera cicatrizes devido à deposição de colágeno. A regeneração envolve a proliferação celular, a qual é impulsionada por fatores de crescimento e depende criticamente da integridade da matriz extracelular e do desenvolvimento de células maduras a partir de células- tronco. Vários tipos celulares proliferam durante o reparo tecidual: Remanescentes do tecido lesionado (que tentam restaurar a estrutura normal); Células endoteliais vasculares (para criar novos vasos); Fibroblastos (a fonte do tecido fibroso que forma a cicatriz). A capacidade dos tecidos de se reparar é determinada, em parte, por sua capacidade proliferativa intrínseca. Os tecidos do corpo são divididos em três grupos: Lábeis -> Regeneração quase sempre Tecidos que se dividem continuamente: Epitélios, células hematopoiéticas. Quiescentes / Estáveis -> Regeneração ou Cicatrização Atividade replicativa mínima: Parênquima do fígado, rim, músculo liso, tecido ósseo e cartilaginoso, endotélio. Permanentes -> Cicatrização quase sempre. Não proliferativas na vida pós natal: Neurônios, células musculares cardíacas, musculares esqueléticas. Os fatores de crescimento são normalmente produzidos por células próximas ao local do dano. As fontes mais importantes desses fatores de crescimento são os macrófagos ativados pela lesão tecidual, células epiteliais e estromais. Todos os fatores de crescimento ativam vias de sinalização que induzem a produção de proteínas envolvidas na condução de células através do ciclo celular e outras proteínas que liberam bloqueios no ciclo celular (pontos de verificação). Além de responder a fatores de crescimento, as células usam integrinas para se ligarem às proteínas da MEC, e os sinais das integrinas também podem estimular a proliferação celular. No processo de regeneração, a proliferação de células residuais é suplementada pelo desenvolvimento de células maduras a partir de células-tronco. Essas células tronco vivem em nichos especializados, e acredita-se que a lesão desencadeia sinais nesses nichos que ativam as células-tronco quiescentes para proliferar e se diferenciar em células maduras que repovoam o tecido lesionado. Ex. epitélios do trato intestinal e da pele; Células lesadas são rapidamente substituídas pela proliferação de células residuais e pela diferenciação das células-tronco dos tecidos, desde que a membrana basal subjacente esteja intacta. Os fatores de crescimento envolvidos nesses processos não estão definidos. A perda de células sanguíneas é corrigida pela proliferação de células-tronco hematopoiéticas na medula óssea e em outros tecidos, impulsionada por 2 Giovanna Brito 2019.2 fatores de crescimento chamados fatores estimuladores de colônias (LCR), produzidos em resposta ao número reduzido de células sanguíneas. Com exceção do fígado, esse geralmente é um processo limitado. Pâncreas, adrenal, tireoide e pulmão têm alguma capacidade regenerativa. A remoção cirúrgica de um rim provoca no rim restante uma resposta compensatória que consiste em hipertrofia e hiperplasia das células do ducto proximal. Os mecanismos subjacentes a essa resposta não são entendidos, mas provavelmente envolvem a produção local de fatores de crescimento e interações das células com o ECM. A restauração da estrutura normal do tecido pode ocorrer apenas se o tecido residual estiver estruturalmente intacto, como após ressecção cirúrgica parcial. Se todo o tecido é danificado por infecção ou inflamação, a regeneração é incompleta e é acompanhada de cicatrizes. Começa na inflamação. A reação inflamatória iniciada pela lesão: Contém o dano; Elimina o estímulo nocivo; Remove o tecido lesionado; Inicia a deposição de componentes da matriz extracelular (MEC). Obs: Para que ocorra a CURA de um tecido lesado, independentemente do mecanismo utilizado, é necessário que ocorra proliferação e crescimento celular. Após 24h -> Proliferação de fibroblastos e células endoteliais vasculares. É uma resposta tecidual a: Ferimento mais profundos (comumente na pele), processos inflamatórios nos órgãos internos, necrose celular em órgãos incapazes de regeneração. Hialinização do tecido conjuntivo fibroso. Cicatrizes antigas decorrentes de organização de processos inflamatórios. Acúmulo de fibrina para o local de uma lesão prévia. Hiperprodução de colágeno para o reparo da lesão -> queloide. O reparo por deposição de tecido conjuntivo consiste em processos sequenciais que seguem a lesão do tecido e a resposta inflamatória: Angiogênese: formação de novos vasos sanguíneos. Os vasos recémformados apresentam vazamento devido a junções endoteliais incompletas e porque o VEGF, o fator de crescimento que impulsiona a angiogênese, aumenta a permeabilidade vascular. Isso explica em parte o edema que pode persistir na cicatrização de feridas muito tempo após a resposta inflamatória aguda ter sido resolvida. Formação de tecido de granulação: migração e proliferação de fibroblastos e deposição de tecido conjuntivo frouxo, juntamente com os vasos e leucócitos intercalados, formam tecido de granulação. 3 Giovanna Brito 2019.2 Remodelação do tecido conjuntivo: maturação e reorganização do tecido conjuntivo (remodelação) produzem a cicatriz fibrosa estável. MEC (colágeno, elastina, fibrina) na área da lesão. Tecido indicador de reparo e cicatrização. Invade progressivamente o local da cicatrização * Róseo, liso e granular na superfície da ferida; Formação de pequenos vasos sanguíneos (angiogênese) e proliferação de fibroblastos; Colágeno em azul -> Corante tricrômio. Colágeno abundante corado em azul com canais vasculares espalhados. Maioria lesões cutâneas cicatrizam eficientemente. Sequelas: perda de anexos epidérmicos, cicatriz de tecido conjuntivo. Dividida em três fases: Primeira intenção: as bordas são apostas ou aproximadas, havendo perda mínima de tecido, ausência de infecção e mínimo edema. A formação de tecido de granulação não é visível (Ex: cirurgias). Segunda intenção: ocorre perda excessiva de tecido com a presença ou não de infecção. A aproximação primária das bordas não é possível. As feridas são deixadas abertas e se fecharão por meio de contração e epitelização. Terceira intenção: envolve limpeza, debridamento e formação de tecido de granulação saudável para posterior coaptação das bordas da lesão. Isto ocorre principalmente quando há presença de infecção na ferida, que deve ser tratada primeiramente, para então ser suturada posteriormente. Cicatrização por Primeira Intenção: Ferimentos com margem opostas 4 Giovanna Brito 2019.2 Cicatrização por Segunda Intenção: Ferimentos com margens separadas Processo reparativo mais complicado; • Reação inflamatória mais intensa; Grandes lesões teciduais geram grandes coágulos de fibrina. Quantidade maior de tecido de granulação; Em feridas grandes: Fenômeno de contração da ferida. Formação de uma rede de fibroblasto contendo actina na margem da ferida – miofibroblastos. Após sua deposição, o tecido conjuntivo da cicatriz continua sendo modificado e remodelado. A degradação de colágenos e outros componentes da MEC é realizada por uma família de metaloproteinases da matriz (MMPs). As MMPs são produzidas por vários tipos de células (fibroblastos, macrófagos, neutrófilos, células sinoviais e algumas células epiteliais), e sua síntese e secreção são reguladas por fatores de crescimento, citocinase outros agentes. Deposição extensiva de colágeno nos tecidos. Substituição do parênquima necrosado por grande concentrado de fibras de colágeno. Consequência de inflamação crônica ou lesão isquêmica. Microscopia: Apenas feixes espessados de colágenos: Alargamento, fusão e compactação das fibras colágenas; praticamente acelular (poucos fibroblastos); corados em e róseo pela HE (aspecto eosinofílico, hialinizada). A cicatrização é influenciada por fatores locais e sistémicos que podem reduzir, retardar ou impedir o processo. Infecção e corpos estranhos (talco, pedaços de gaze, fios de sutura pouco absorvíveis) retardam o processo cicatricial porque mantêm a reação inflamatória em atividade. Desnutrição, especialmente a deficiência de proteínas, de vitamina C ou de zinco, retarda a cicatrização por interferir diretamente nos processos de síntese do colágeno; o zinco é componente importante de muitas enzimas (metaloenzimas), inclusive as que participam da síntese do DNA. Por interferir nas mitoses, irradiação tem efeito anticicatricial, podendo até originar úlceras crónicas. Baixa perfusão tecidual decorrente de lesões vasculares (ex. aterosclerose) ou perturbações hemodinâmicas (estase venosa, como nas varizes) retardam ou impedem a cicatrização porque reduzem o fornecimento de nutrientes e oxigênio. As úlceras crónicas dos varicosos ou dos pacientes com aterosclerose dos membros inferiores não se cicatrizam ou o fazem de forma lenta devido à baixa perfusão do tecido lesado. 5 Giovanna Brito 2019.2 As úlceras de decúbito que ocorrem em pacientes acamados (calcanhares, nádegas, região sacrococcígea) decorrem da baixa perfusão tecidual induzida pela compressão do corpo sobre o leito: nesses casos, em geral a cicatrização é dificultada também pelo mau estado nutricional do paciente. Diabetes: Lesões vasculares (hipóxia). Alterações nas células fagocitárias que favorecem a instalação de infecções. Neuropatia diabética também prejudica a cicatrização, devido à redução de estímulos (mediadores) da inflamação liberados por terminações nervosas. Grande glicosilação de proteínas, formando os produtos terminais originados de glicação (AGE: Advanced Glycation Endproducts). Células endoteliais, fibroblastos e macrófagos possuem receptores específicos (da superfamília das Ig) para as glicoproteínas hiperglicadas (AGE).Tais receptores, quando ativados, induzem citocinas pró-inflamatórias e proteases, diminuindo a expressão de moléculas anti-inflamatórias e antiproteases naturais, favorecendo a ampliação da lesão inflamatória nos processos cicatriciais, dificultando a cicatrização. Nos idosos, a cicatrização é mais lenta devido à redução na capacidade proliferativa das células. Neutropenias, neutropatias (defeitos intrínsecos dos neutrófilos) e deficiência na síntese de moléculas de adesão no endotélio ou nos fagócitos acompanham-se de retardo na cicatrização também por facilitar as infecções. Corticoides: inibidores da síntese do colágeno in vitro: A administração pode resultar em fraqueza da cicatriz devido à inibição da produção de TGF-β e diminuição da fibrose. Em alguns casos, no entanto, os efeitos anti-inflamatórios dos glicocorticóides são desejáveis. Por exemplo, em infecções da córnea, às vezes são prescritos glicocorticoides sistêmicos (junto com antibióticos) para reduzir a probabilidade de opacidade que pode resultar da deposição de colágeno. A formação excessiva dos componentes do processo de reparo pode dar origem a cicatrizes hipertróficas e queloides. Cicatriz hipertrófica: Acúmulo de quantidades excessivas de colágeno. Não estão associadas à raça ou hereditariedade, mas a gravidade das cicatrizes pode diminuir com a idade. A cicatriz é confinada dentro das margens da ferida, e o desenvolvimento da cicatriz é frequentemente associado a estresse mecânico não aliviado. Costumam ter uma aparência avermelhada indicativa de hipervascularização e são pruriginosas, o que sugere a ativação de mastócitos que produzem histamina. A formação excessiva dos componentes do processo de reparo pode dar origem a cicatrizes hipertróficas e queloides. Queloides: Cicatrizes exuberantes que tendem a progredir além do local da lesão inicial e se repetem após a excisão, tendo assim propriedades semelhantes a um tumor benigno. As tentativas de reparo cirúrgico são sempre problemáticas, o resultado provavelmente é um queloide ainda maior. São geralmente associados à adolescência e início da idade adulta e ao tronco superior, pescoço e cabeça, com exceção do couro cabeludo. Esse aspecto reflete a heterogeneidade (epigenética) das populações de fibroblastos em diferentes locais. Pessoas afrodescendentes são afetadas com mais frequência, sugerindo uma base genética para essa condição. Ao contrário das cicatrizes normais, esses queloides não reduzem a síntese de colágeno se forem administrados glicocorticoides. 6 Giovanna Brito 2019.2 Morfologia: Ambos os tipos de cicatrizes apresentam feixes de colágeno amplos e irregulares, com mais capilares e fibroblastos do que o normal para uma cicatriz da mesma idade. A taxa de síntese de colágeno e o número de ligações cruzadas redutíveis permanecem altos. Essa situação sugere uma “parada de maturação”, ou bloqueia, no processo de cicatrização, uma hipótese apoiada pela superexpressão da fibronectina. É outro desvio na cicatrização de feridas, que consiste na formação de quantidades excessivas de tecido de granulação, que sobressaem acima do nível da pele circundante e bloqueiam a reepitelização (esse processo foi chamado, com mais fervor literário, carne orgulhosa). A granulação excessiva deve ser removida por cauterização ou excisão cirúrgica para permitir a restauração da continuidade das modificações do epitélio. Raramente, cicatrizes incisionais ou lesões traumáticas podem ser seguidas por proliferação exuberante de fibroblastos e outros elementos do tecido conjuntivo que podem, de fato, recorrer após a excisão. Chamadas desmoides, ou fibromatoses agressivas, essas neoplasias estão na interface entre tumores benignos e malignos (embora de baixo grau). Uma diminuição no tamanho de uma ferida depende da presença de fibroblastos e miofibroblastos, desenvolvimento de contatos célula-célula e contração celular sustentada. Um exagero desses processos é denominado contratura e resulta em deformidade grave de uma ferida e dos tecidos circundantes. As contraturas são particularmente propensas a se desenvolver nas palmas das mãos, nas plantas dos pés e face anterior do tórax (regiões que normalmente mostram contração mínima da ferida). As contraturas são particularmente evidentes quando queimaduras graves curam e podem ser graves o suficiente para comprometer o movimento das articulações. No trato alimentar, uma contratura (estenose) pode obstruir a passagem de alimentos no esôfago ou bloquear o fluxo do conteúdo intestinal. Várias doenças são caracterizadas por contratura e fibrose irreversível da fáscia superficial, incluindo contratura de Dupuytren (contratura palmar), doença de Lederhosen (contratura plantar) e doença de Peyronie (contratura dos tecidos cavernosos do pênis). Nessas doenças, não há lesão precipitada conhecida, embora o processo básico seja semelhante à contratura na cicatrização de feridas. 7 Giovanna Brito 2019.2
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