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Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2020.2 – 3º semestre INTRODUÇÃO Restauração da arquitetura tecidual e da função, parcial ou completa, após uma lesão. Ocorre de dois tipos: ▪ Regeneração do tecido lesionado: Restituição completa do tecido lesado, ou seja, quando alguns tecidos são capazes de substituir células lesadas e retornar ao estado normal. A regeneração ocorre pela proliferação de células residuais (não lesadas) que retêm a capacidade de divisão e por substituição de células-tronco teciduais; o Resposta típica a lesão em epitélios que se dividem rapidamente, como na pele e nos intestinos e em alguns órgãos, principalmente no fígado. ▪ Cicatrização: Restituição incompleta do tecido lesado, ou seja, caso os tecidos lesados são incapazes de regeneração ou se as estruturas de suporte do tecido são gravemente lesadas, o reparo ocorre por deposição de colágeno – tecido conjuntivo – que resulta em cicatriz. Embora a cicatriz fibrosa não possa realizar as funções das células perdidas no parênquima, a mesma fornece estabilidade estrutural suficiente para tornar o tecido lesado mais hábil em suas funções, e seus principais problemas são retrações e a estética; o A depender do grau de cicatrização, geralmente não tem folículo piloso e nem suor. Figura 1: Mecanismos de reparo tecidual: Regeneração e formação de cicatriz. A resolução ocorre por regeneração após lesão leve, que lesa o epitélio, mas não o tecido conjuntivo adjacente subjacente. Na lesão mais severa, com dano ao tecido conjuntivo, o reparo é por formação de cicatriz. Ambos os processos envolvem a proliferação de várias células e interações estreitas entre células e matriz extracelular (MEC). FASES DA REPARAÇÃO TECIDUAL De maneira geral, tanto na regeneração quanto na cicatrização, existem 4 fases no processo de reparo: 1. Hemostática: Independentemente de qual seja o tipo de reparo (cicatrização ou regeneração), o primeiro episódio é o controle da perda de sangue – formação do tampão fibrinoplaquetário; 2. Inflamatória: Vasodilatação, chegada das células e remoção dos restos celulares e possíveis patógenos; 3. Proliferativa: Proliferação das células dos tecidos em volta da lesão para repor o tecido perdido; ➢ Se é a proliferação das células originais ou proliferação de fibroblasto para fazer cicatriz, vai depender do tipo de lesão. 4. Remodelamento: Maturação e reorganização do tecido; ➢ Geralmente é produzido colágeno em excesso, logo, intimamente ligado a cicatrização. Figura 2: Fases do reparo tecidual. O reparo tecidual começa no final da fase de inflamação, e para que, ocorra a CURA de um tecido lesado, independentemente do mecanismo utilizado, é necessário que ocorra proliferação e crescimento celular. ▪ Geralmente após 24h se tem um início de proliferação de fibroblastos e células endoteliais vasculares, a depender da lesão. REGENERAÇÃO CELULAR E TECIDUAL A regeneração envolve a proliferação celular, que é orientada por fatores de crescimento e depende criticamente da integridade da matriz extracelular – estabilidade e manutenção –e do desenvolvimento de células maduras a partir de células tronco- teciduais. ▪ Vários tipos celulares proliferam durante o reparo do tecido, e são guiadas por proteínas chamadas de fatores de crescimento. Alguns tipos de células: Patologia Patologia Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2020.2 – 3º semestre o Células remanescentes originais do tecido lesionado que tentam restaurar a estrutura normal; o Células endoteliais vasculares para criar novos vasos; o Fibroblastos (a fonte do tecido fibroso que forma a cicatriz para preencher os defeitos que não podem ser corrigidos por regeneração). O tamanho normal das populações celulares é determinado por um equilíbrio entre proliferação celular, morte celular por apoptose e diferenciação de novas células a partir de células-tronco. ▪ A maioria dos fatores de crescimento são proteínas que estimulam a sobrevivência e a proliferação de várias células e podem promover migração, diferenciação e outras respostas celulares; o São normalmente produzidos por células próximas ao local do dano. As fontes mais importantes desses fatores de crescimento são os macrófagos ativados pela lesão tecidual, células epiteliais e estromais; o Todos os fatores de crescimento ativam vias de sinalização que induzem a produção de proteínas envolvidas na condução de células através do ciclo celular e outras proteínas que liberam bloqueios no ciclo celular (pontos de verificação – momentos os quais o processo de divisão do ciclo celular é pausado para que haja uma verificação no ciclo – se está acontecendo de maneira certa ou se aconteceu algum erro no processo, como ex.: proliferação em excesso costuma levar a neoplasia); o Quanto mais fatores de crescimento, mais intensa é a proliferação, menos pontos de verificação vão acontecer, logo mais propensos ao erro. ▪ Além de responder a fatores de crescimento, as células usam integrinas para se ligarem às proteínas da MEC, e os sinais das integrinas também podem estimular a proliferação celular. ▪ No processo de regeneração, a proliferação de células residuais é suplementada pelo desenvolvimento de células maduras a partir de células-tronco, essas vivem em nichos especializados, e acredita-se que a lesão desencadeia sinais nesses nichos que ativam as células-tronco quiescentes para proliferar e se diferenciar em células maduras que repovoam o tecido lesionado. ▪ A capacidade dos tecidos de se autorreparar é determinada, em parte, por sua capacidade proliferativa intrínseca. Para isso, existe a divisão dos tecidos em três grupos: o Lábeis; o Estáveis; o Permanentes. LÁBEIS (TECIDOS DIVIDEM-SE CONTINUAMENTE) Tipos de células que conseguem se regenerar quase sempre e rapidamente após a lesão, pela alta atividade mitótica, então, as células lesadas são rapidamente substituídas pela proliferação de células residuais e pela diferenciação das células-tronco dos tecidos, desde que a membrana basal subjacente esteja intacta. ▪ Os fatores de crescimento envolvidos nesses processos não estão definidos porque depende do tecido; o Ex.: Células hematopoiéticas na medula óssea e a maioria dos epitélios de superfície: ➢ No caso de tecido hematopoiético, a perda de células sanguíneas é corrigida pela proliferação de células tronco hematopoiéticas na medula óssea e em outros tecidos impulsionada por fatores de crescimento chamados fatores estimuladores de colônias (LCR), produzidos em resposta ao número reduzido de células sanguíneas. o É possível ter formação de cicatriz quando a lesão for muito profunda e que se perca uma região inteira de MEC que não tenha reposta, logo esse local será substituído por colágeno. QUIESCENTES/ESTÁVEIS Regeneração ou cicatrização. As células desses tecidos possuem atividade replicativa baixa; entretanto pode ser aumentada a depender da situação e estímulo; ➢ Parênquima da maioria dos tecidos sólidos, como fígado, rim e pâncreas, também no músculo liso, tecido ósseo e cartilaginoso e no endotélio – devido as células endoteliais, os fibroblastos e as células musculares lisas. PERMANENTES: São tecidos que não tem atividade proliferativa na vida pós-natal, resultando em cicatriz. Hoje, sabe-se que essas células possui uma taxa de replicação, porém muito baixa. ➢ Neurônios, células musculares cardíacas, musculares esqueléticas (capacidade mínima de reorganização e preservação da função pelas células adjacentes que sobreviveram e que assumirão a função das células que foram perdidas). ÓRGÃOS PARENQUIMATOSOS ▪ Com exceção do fígado, esse geralmente é um processo limitado de regeneração; Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2020.2 – 3º semestre o O fígado, caso retirado cerca de 70%, o mesmo conseguese regenerar de forma a voltar a estabelecer sua função; o A remoção cirúrgica de um rim provoca no rim restante uma resposta compensatória que consiste em hipertrofia e hiperplasia das células do ducto proximal. ▪ Pâncreas, adrenal, tireoide e pulmão têm alguma capacidade regenerativa, mas é relativamente pequena; o O que acontece muito nesses órgãos, é que no lugar da regeneração acontece a compensação. Os mecanismos subjacentes a essa resposta não são entendidos, mas provavelmente envolvem o tipo de sustentação, ou seja, a MEC que existe no órgão e suas interações com as células, além de produção local e resposta de fatores de crescimento. o A MEC sequestra água, proporcionando turgor aos tecidos moles e minerais que dão rigidez ao osso. Ela regula também a proliferação, o movimento e a diferenciação das células que vivem no seu interior, fornecendo um substrato para a adesão e a migração celulares, e funcionando como reservatório para os fatores de crescimento. ▪ A restauração da estrutura normal do tecido pode ocorrer apenas se o tecido residual estiver estruturalmente mantido, como após ressecção cirúrgica parcial, para que possa regenerar; ▪ Se todo o tecido é danificado por infecção ou inflamação, a regeneração é incompleta e é acompanhada de cicatrizes; o Ex.: Fibrose hepática: Extensa destruição do fígado com o colapso da estrutura da reticulina, como ocorre em uma infecção crônica ou abscesso hepático, que leva à formação de cicatrizes, embora as células hepáticas restantes tenham a capacidade de se regenerar. CICATRIZAÇÃO Caso a lesão do tecido é grave ou crônica e resulta em danos às células do parênquima e do tecido conjuntivo ou se células que não se dividem forem lesadas, ocorre o reparo por substituição das células não regeneradas por tecido conjuntivo (colágeno), levando à formação de uma cicatriz, ou seja é uma resposta tecidual a: o Ferimento mais profundos (comumente na pele); o Processos inflamatórios nos órgãos internos; o Necrose celular em órgãos incapazes de regeneração. Figura 3: Demonstra uma característica da cicatriz: Tecido conjuntivo fibroso com característica hialina (rosa). ▪ Deposição de colágeno: Leva ao acúmulo de fibrina para o local de uma lesão prévia ou a uma hiperprodução de colágeno para o reparo da lesão (cicatrizes hipertróficas e queloides). O reparo por deposição de tecido conjuntivo consiste em processos sequenciais que seguem a lesão do tecido e a resposta inflamatória: I. Angiogênese: Formação de novos vasos sanguíneos. Os vasos recém-formados de vasos pré-existentes, primariamente vênulas, apresentam vazamento devido a junções endoteliais incompletas e porque o VEGF, o fator decrescimento que impulsiona a angiogênese, aumenta a permeabilidade vascular; ➢ Isso explica em parte o edema que pode persistir na cicatrização de feridas muito tempo após a resposta inflamatória aguda ter sido resolvida. Figura 4: Mecanismo da angiogênese. No reparo tecidual, a angiogênese ocorre principalmente pelo crescimento do endotélio residual induzido por fatores de crescimento, pelo brotamento de novos vasos e recrutamento de periquitos para formar novos vasos. II. Formação de tecido de granulação: Migração e proliferação de fibroblastos e deposição de tecido conjuntivo frouxo, que juntamente com os vasos e leucócitos intercalados, tem a aparência granular e rósea, sendo chamado de tecido de granulação: ➢ É um tecido temporário para o tecido que foi perdido. Invade progressivamente o local da lesão e serve como uma estrutura para que se tenha a deposição de colágeno para cicatriz e sustentação de vasos; ➢ É composto por MEC (colágeno, elastina, fibrina) na área da lesão; ➢ Tecido indicador de reparo e cicatrização. Recrutamento de fibroblastos Síntese de fibras colágenas Desaparecimento dos fibroblastos Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2020.2 – 3º semestre Figura 5: A: Tecido de granulação mostrando numerosos vasos sanguíneos, edema e MEC frouxa contendo algumas células inflamatórias. O colágeno está corado em azul pro corante tricômico; nesse ponto pode ser vista quantidade mínima de colágeno maduro. Aspecto róseo, liso e granular na superfície da ferida. B: Corante tricômico de cicatriz madura, mostrando o colágeno denso com apenas canais vasculares espalhados. III. Remodelação do tecido conjuntivo: Maturação e reorganização do tecido conjuntivo (remodelação) produzem a cicatriz fibrosa estável; ➢ Emigração e proliferação de fibroblastos. Ocorre uma redução dos vasos sanguíneos e das células inflamatórias, por substituição de um tecido conjuntivo denso e presença de poucos fibroblastos. Esse tecido tende a reduzir de volume e, por isso, não se deve mexer em cicatriz logo que ela é formada. Figura 6: Etapas do reparo por cicatrização. A lesão a um tecido que possui capacidade limitada de regeneração, primeiro, induz a inflamação que remove células mortas e micróbios, se algum. Isso é seguido pela formação de um tecido de granulação vascularizado e depois deposição de MEC para formar cicatriz. CICATRIZAÇÃO DE FER IDA CUTÂNEA Maioria das lesões cutâneas cicatrizam de maneira eficientemente simples. Porém pode-se ter de sequela: ▪ Perda de anexos epidérmicos, caso seja destruído na lesão – mais frequente quando atinge uma área profunda; ▪ Formação de uma cicatriz de tecido conjuntivo. Pode ser dividida em três fases: TIPOS DE CICATRIZAÇÃO A cura de uma ferida cutânea é um processo que envolve a regeneração do epitélio e a formação de cicatriz de tecido conjuntivo. Dependendo da natureza e do tamanho da ferida, a cura de feridas cutâneas pode ocorrer por primeira, segunda ou terceira intenção. 1. Primeira intensão: As bordas são opostas ou aproximadas, havendo perda mínima de tecido, ausência de infecção e mínimo edema; ▪ A formação de tecido de granulação não é visível porque como a perda na superfície é pequena, o que se torna visível é o tampão (Ex.: cirurgias, corte); Nas primeiras 24 horas da ferida: 3º ao 7º dia: No 5º dia: Epiderme recupera a espessura normal. 2ª semana: No final do 1º mês: Cicatriz é composta por tecido conjuntivo desprovido de infiltrado inflamatório, praticamente desprovida de células, apenas poucos fibroblastos, e coberto por epiderme intacta. • Fatores de crescimento e citocinas liberadas na lesão Inflamação (precoce e tardia) •AngiogêneseFormação de tecido de granulação e reepitelização • Emigração e proliferação de fibroblastos no local da lesão Contração da ferida, deposição da MEC e remodelagem Neutrófilos na margem de incisão se movem em direção ao coágulo de fibrina Estimulação pelos fatores de crescimento das células epiteliais para mover-se das bordas da ferida Deposição dos componentes de membrana basal Fusão abaixo da crosta produzindo uma fina camada epitelial Fechamento da ferida do tecido transitório (estrutura delicada) Acúmulo contínuo de colágeno e proliferação de fibroblastos Regressão dos canais vasculares Infiltrado inflamatório e edema desaparecem Substituição de neutrófilos por macrófagos Tecido de granulação invade o espaço incisional Neovascularização máxima (qualquer trauma leva a sangramento) Abundância de fibra colágena que começam a unir a incisão Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2020.2 – 3º semestre E por que o tatuador só tatua a cicatriz depois de um ano? Para ter certeza que a maturação está completa, e não haver mais contratura da cicatriz. 2. Segunda intenção: Ocorre perda excessiva de tecido com a presença ou não de infecção. A aproximação primária das bordas não é possível. As feridas são deixadas abertas e se fecharão por meio de contração e epitelização, ou seja, é feita de baixo (derme) para cima (epiderme); ▪ Processoreparativo mais complicado, pois a reação inflamatória é mais intensa devido as grandes lesões teciduais que geram grandes coágulos de fibrina; ▪ Possui maior quantidade de tecido de granulação; ▪ Em feridas grandes possui o fenômeno de contração da ferida que é a formação de uma rede de fibroblasto contendo actina na margem da ferida – miofibroblastos: o Fibroblastos que sofrem processo de diferenciação, possuem filamentos de actina no citoesqueleto e conseguem gerar uma tensão mecânica. Juntos, se ligam ao colágeno da superfície que origina a lesão e os filamentos de actina presentes farão a contração. Figura 7: Etapas na cura de ferida por primeira intenção (esquerda) e por segunda intenção (direita). Nota-se que a cicatrização por segunda intenção, a grande quantidade de tecido de granulação e a contração da ferida. 3. Terceira intenção: Envolve a necessidade de limpeza e debridamento para formação de tecido de granulação saudável para posterior coaptação das bordas da lesão. Isto ocorre principalmente quando há presença de infecção ou necrose na ferida, que deve ser tratada primeiramente, para então ser suturada posteriormente. Figura 8: A: Úlcera por pressão da pele, comumente encontrada em pacientes diabéticos. B:Úlcera cutânea com grande lacuna entre as bordas da lesão. C: Delgada camada de reepitelização epidérmica e formação de abundante tecido de granulação na derme. D: Continuação da reepitelização da epiderme e contração da ferida. REMODELAMENTO Acontece após deposição do colágeno e o tecido conjuntivo da cicatriz continua sendo modificado e remodelado. ▪ O remodelamento pode acontecer pela contração da ferida pelos miofibroblastos, mas principalmente pela degradação de excesso de colágenos e outros componentes da MEC, realizada por uma família de metaloproteinases da matriz (MMPs): o Colagenases intersticiais, que clivam o colágeno fibrilar (MMP1, 2 e 3); o Gelatinases (MMP2 e 9), que degradam colágeno amorfo e fibronectina; o Estromelisinas (MMP3, 10 e 11), que degradam uma variedade de constituintes da MEC, incluindo proteoglicanos, laminina, fibronectina e colágeno amorfo. As MMPs são produzidas por vários tipos de células (fibroblastos, macrófagos, neutrófilos, células sinoviais e algumas células epiteliais), e sua síntese e secreção são reguladas por fatores de crescimento, citocinas e outros agentes. FIBROSE O termo fibrose é usado para denotar a deposição excessiva de colágeno e de outros componentes da MEC em um tecido, principalmente quando se fala de substituição do parênquima necrosado por grande concentrado de fibras de colágeno. É uma consequência de inflamação crônica ou lesão isquêmica (como lesão de hepatite crônica). Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2020.2 – 3º semestre ▪ Figura 9: Microscopia: o Feixes espessados de colágenos; Alargamento, fusão e compactação das fibras colágenas; o Praticamente acelular (quando tem células, são poucos fibroblastos); o Corados em e róseo pela HE (aspecto eosinofílico, hialinizada). DEFICIÊNCIA DA CICATRIZAÇÃO A cicatrização é influenciada por fatores locais e sistêmicos que podem reduzir, retardar ou impedir o processo: ▪ Infecção e corpos estranhos (talco, pedaços de gaze, fios de sutura pouco absorvíveis) retardam o processo cicatricial porque mantêm a reação inflamatória em atividade; ▪ Desnutrição, especialmente a deficiência de proteínas, de vitamina C ou de zinco, retarda a cicatrização por interferir diretamente nos processos de síntese do colágeno: o O zinco é componente importante de muitas enzimas (metaloenzimas), inclusive as que participam da síntese do DNA, logo, por interferir nas mitoses, tem efeito anticicatricial, podendo até originar úlceras crônicas. ▪ Baixa perfusão tecidual decorrente de lesões vasculares (ex. aterosclerose) ou perturbações hemodinâmicas (estase venosa, como nas varizes) retardam ou impedem a cicatrização porque reduzem o fornecimento de nutrientes e oxigênio para o local: o As úlceras crônicas dos varicosos ou dos pacientes com aterosclerose dos membros inferiores não se cicatrizam ou o fazem de forma lenta devido à baixa perfusão; o As úlceras de decúbito que ocorrem em pacientes acamados – está sempre na cama – (calcanhares, nádegas, região sacrococcígea) decorrem da baixa perfusão tecidual induzida pela compressão do corpo sobre o leito e mau estado nutricional do paciente. ▪ Diabetes: o Pela presença de lesões vasculares (hipóxia); alterações nas células fagocitárias que favorecem a instalação de infecções – sofrem com o excesso de ácidos graxos livres –; Neuropatia diabética também prejudica a cicatrização, devido à redução de estímulos (mediadores) da inflamação liberados por terminações nervosas e a grande glicosilação de proteínas, formando os produtos terminais originados de glicação (AGE): ➢ Afetam principalmente células endoteliais, fibroblastos e macrófagos possuem receptores específicos (da superfamília das Ig). Esses receptores, quando ativados, induzem citocinas pró inflamatórias e proteases, diminuindo a expressão de moléculas anti-inflamatórias e antiproteases naturais, favorecendo a ampliação da lesão inflamatória nos processos cicatriciais, dificultando a cicatrização. ▪ Nos idosos, a cicatrização é mais lenta devido à redução na capacidade proliferativa das células – processo normal de envelhecimento. Além disso, neutropenias (baixa quantidade de neutrófilos), neutropatias (defeitos intrínsecos dos neutrófilos) e deficiência na síntese de moléculas de adesão no endotélio ou nos fagócitos acompanham-se de retardo na cicatrização também por facilitar as infecções; ▪ Corticoides, pois são inibidores da síntese do colágeno in vitro: o A administração pode resultar em fraqueza da cicatriz devido à inibição da produção de TGF-β e diminuição da fibrose; o Em alguns casos, no entanto, os efeitos anti-inflamatórios dos glicocorticoides são desejáveis, pois reduzem a destruição inflamatória. Logo, o que é preciso dos corticoides é um equilíbrio. CICATRIZES HIPERTRÓFICAS E QUELÓIDES A formação excessiva dos componentes do processo de reparo pode dar origem a cicatrizes hipertróficas e queloides, que representam um crescimento exagerado de tecido fibroso que surge com uma resposta a uma lesão cutânea. Acontece a deposição excessiva de colágeno X degradação de colágeno. ▪ Cicatriz hipertrófica: Acúmulo de quantidades excessivas de colágeno, mantem-se dentro dos limites da cicatriz inicial, e o desenvolvimento é frequentemente associado a estresse mecânico não aliviado. Costumam ter uma aparência grande – cordões enrijecidos – e avermelhada indicativa de hipervascularização e são pruriginosas, o que sugere a ativação de mastócitos que produzem histamina; o Não estão associadas à raça ou hereditariedade, mas a gravidade das cicatrizes pode diminuir com a idade pela redução da capacidade proliferativa. ▪ Queloides: Cicatrizes exuberantes que tendem a progredir além do local da lesão inicial, além de caso poder retornar após a excisão, ou seja, as tentativas de reparo cirúrgico são problemáticas, pois o resultado provavelmente é um queloide maior; sendo assim semelhante a um tumor benigno; Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2020.2 – 3º semestre o São geralmente associados à adolescência e início da idade adulta e é mais frequente em tronco superior, pescoço e cabeça, com exceção do couro cabeludo. Esse aspecto reflete a heterogeneidade (epigenética) das populações de fibroblastos em diferentes locais. O queloide tem sido associado à presença de melanócitos, melanina por ser mais frequentes em negros, orientais e hispânicos; o Ao contrário das cicatrizes normais, os queloides não reduzem a síntese de colágeno se forem administrados glicocorticoides. Figura 10: Respectivamente,hipertrófica e queloide. Diferenças clínicas Queloide Hipertróficas Incidência Menos comum Mais comum Sempre precedida por lesão Não Sim Associação anatômica Orelha, ombro e pré-esternal Não Resolução espontânea Não Sim Recorrência após cirurgia Maioria Raro Associação com contratura Não Sim ▪ Morfologia: Ambos os tipos de cicatrizes apresentam feixes de colágeno amplos e irregulares, com mais capilares e fibroblastos do que o normal para uma cicatriz da mesma idade; o Essa situação sugere uma “parada de maturação”, ou bloqueio no processo de cicatrização, uma hipótese apoiada pela superexpressão da fibronectina nos tecidos; o A taxa de síntese de colágeno e o número de ligações cruzadas redutíveis permanecem altos. GRANULAÇÃO EXUBERANTE Desvio na cicatrização de feridas, que consiste na formação de quantidades excessivas de tecido de granulação, que sobressaem acima do nível da pele circundante e bloqueiam a reepitelização (popularmente conhecida como carne orgulhosa); ▪ A granulação excessiva deve ser removida por cauterização ou excisão cirúrgica para permitir a restauração da continuidade das modificações do epitélio, pois, o excesso de tecido de granulação impede a formação do epitélio; ▪ Raramente, cicatrizes incisionais ou lesões traumáticas podem ser seguidas por proliferação exuberante de fibroblastos e outros elementos do tecido conjuntivo que podem, de fato, recorrer após a excisão; ▪ Chamadas desmoides, ou fibromatoses agressivas, essas neoplasias estão na interface entre tumores benignos e malignos (embora de baixo grau). CONTRAÇÃO EXCESSIVA Um exagero da presença de fibroblastos e miofibroblastos, desenvolvimento de contatos entre as células e contração celular sustentada, é denominado contratura e resulta em deformidade grave de uma ferida e dos tecidos circundante, podendo levar a perda da função do local de onde a contração se encontra. ▪ Propensas a se desenvolver nas regiões que normalmente mostram contração mínima da ferida, como palmas das mãos, nas plantas dos pés e face anterior do tórax; ▪ São particularmente evidentes quando queimaduras graves curam e podem ser graves o suficiente para comprometer o movimento das articulações: o No trato alimentar, uma contratura (estenose) pode obstruir a passagem de alimentos no esôfago ou bloquear o fluxo do conteúdo intestinal. ▪ Várias doenças são caracterizadas por contratura e fibrose irreversível da fáscia superficial, incluindo contratura de Dupuytren (contratura palmar), doença de Lederhosen (contratura plantar) e doença de Peyronie (contratura dos tecidos cavernosos do pênis). Nessas doenças, não há lesão precipitada conhecida, embora o processo básico seja semelhante à contratura na cicatrização de feridas.
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