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Resenha - Do Livro Úrsula de Maria Firmina dos Reis

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( MACHADO, Maria Helena Pereira Toledo. Maria Firmina dos Reis: invisibilidade e presença de uma romancista negra no Brasil do século XIX ao XXI. )
Na introdução do romance Úrsula segundo a autora Maria Helena Pereira que foi na década de 1860 , que a obra havia sido anunciada em resenhas de jornais da época resenhas pouco apreciativas, mas só em 1975 que Úrsula começou a receber a devida atenção. Uma obra escrita por uma mulher bastarda mulata e intelectual professora, e de família pobre, sem nenhum apadrinhamento masculino de prestígio( homem, branco, aristocrata, intelectual com posses) conseguiu publicar um romance apesar da gritante barreira social e racial, numa época onde o poder de fala e escrita tinha cor posição social e gênero. Nos Estados Unidos, Europa, mesmo com empecilhos diversas mulheres ousaram a escrever ainda que sob pseudônimo, sociedades mais desenvolvidas ainda resistiam à ver a mulher como intelectual cidadã capaz de decisões políticas, não era diferente aqui no Brasil, até pior, acesso a escolas limitado uma mulher escritora era algo extremamente raro, ainda sendo moradora de província e com todas as limitações, sem escolas jornais ou demais meios educativos, portanto foi nesse meio que Firmina lançou seu primeiro livro ainda se desculpava por escrever que é notável no início da obra. Tendo Úrsula um valor histórico, cultural e literário sendo o primeiro romance do Maranhão escrito por uma mulher, apesar do seu anonimato que durou mais de um século, é considerado o primeiro romance abolicionista brasileiro. Além de romancista também era poetisa, participou da antologia poética Parnaso Maranhense além de compor letras e partituras de músicas, pode-se destacar: "Hino da Libertação dos Escravos" , entre outras. Possuiu um diário que perdeu uma parte significativa num assalto, entretanto outra explicação é que para evitar constrangimentos a própria família teria censurado as anotações de Firmina, o que era muito comum na época. Teve filhos adotivos, filhos de escravos, mas não sabe-se de envolvimentos amorosos. Alguns autores já publicaram estudos a respeito do pioneirismo de Firmina acerca da literatura afro-brasileira, tanto que aparece como tema de uma tese abolicionista defendida na Universidade de Coimbra, entre trabalhos de mestrados o fato de autora ter feito uma relação da sua obra com a época, da escravidão com os personagens do romance apresentando as narrativas de suas vidas opressivas, dando voz ao sofrimento dessas pessoas. “Firmina, assim ressurge no século XXI como um ícone feminino da resistência”. 
Além de escritora Maria Firmina foi uma famosa professora, conhecida e admirada, portanto era negra e essa condição produziu invisibilidade acerca de sua vida e obra. Pois apesar de haver professores negros na época, mostrando que não contribuíram só no trabalho braçal, mas também na educação foi ocultado de registros da história, pois a sociedade da época não reconhecia essa ascensão, apesar de conviver segundo Maria Helena Toledo. Em algumas obras da época no texto é citado A cabana do Pai Tomás é possível notar um abolicionismo humanitário cristão, técnica para convencer os senhores de que a escravidão era um pecado, algo injusto. No texto ainda é citada Nísia Floresta autora de Páginas de uma vida obscura sendo este talvez tenha sido o primeiro romance abolicionista brasileiro, uma literatura abolicionista sentimentalizada. 
Estudiosos da obra Úrsula segundo o texto já ressaltaram que o romance trabalha com um contexto de supremacia da vontade senhorial. O enredo se desenvolve em torno do par romântico Úrsula e Tancredo, ambos pessoas boas vítimas da autoridade do patriarcado, do pai autoritário de Tancredo que acaba levando a esposa a morte por tristeza e decepção acerca das altitudes do marido e Úrsula é órfã de pai, com uma mãe doente e com dívidas ao irmão Fernando que se mostra impiedoso para com a irmã e o casal ao decorrer de toda a história. A ambição e egoísmo de Fernando leva Úrsula e Tancredo á morte, por causa da sua paixão desenfreada pela sobrinha, um homem branco que possui escravos e muitos bens de valor, mata por egoísmo e maldade produz um verdadeiro sofrimento para com seus escravos e é impune sobre a justiça. Ainda no livro temos Túlio, escravo de Luiza B, mãe de Úrsula e que salva o romântico Tancredo da morte. Como agradecimento o jovem lhe presenteia com a carta de alforria, a partir de então ao invés de ir embora para gozar de sua liberdade Tulio fica e como gratidão passa a servir de forma fiel por satisfação à Tancredo. Observa-se que mesmo com o documento que lhe concede liberdade Tulio permanece ao lado do seu senhor, o escravo teve sua família destruída por causa da escravidão e o senhor branco passa a ser tudo que lhe resta, sem trabalho, dinheiro, família viver com os seu senhor seja por gratidão ou a falta de rumo, de ter pra onde ir, é tudo que lhe resta. Mãe Suzana, a escrava acaba se tornando mãe adotiva de Tulio lembra com amor da sua vida na África, família cultura e costumes, e que apesar de tudo que passaram e passam seus corações são repletos de generosidade e altruísmo, vítimas então da fúria mal de Fernando por serem fiéis à Úrsula e Tancredo. Observa-se na história como a figura de Fernando Comendador e tio de Úrsula é presente e impactante na vida dos personagens de como essa figura de senhor era estabelecida e respeitada apesar das atrocidades cometidas. É a situação de submissão em que se encontrava a mulher e o escravo, bem retratada na obra de Maria Firmino dos Reis.

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