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1 INSTITUTO SUPERIOR E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS LICENCIATUARA EM DIREITO História do Direito Na Idade Media Adelaide Júlio Jorge Maxixe, 21 de Junho de 2021 2 INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA DEPARTAMENTO DE ECONOMIA E GESTÃO LICENCIATURA EM DIREITO História do Direito Na Idade Media Trabalho de Campo a ser submetido na Coordenação do Curso de Licenciatura em Direito do ISCED. Adelaide Júlio Jorge Maxixe, 21 de Junho de 2021 3 Índice Introdução .............................................................................................................................. 4 Objectivos .............................................................................................................................. 4 CAPITULO I: HISTÓRIA DO DIREITO NA IDADE MEDIA ............................................. 5 1. Direito Canónico ................................................................................................................ 5 1.1. Jurisdição Eclesiástica: Competência na Época do apogeu (Séculos X a XV) .................. 5 1.2. Formação do Direito Canónico ........................................................................................ 6 1.3. Desenvolvimento do Direito Canónico ............................................................................ 6 1.4 Colecções de Cânones ...................................................................................................... 7 1.5 O Decreto de Graciano ..................................................................................................... 8 1.6 O Corpus Iuris Canonici ................................................................................................... 9 1.2. Direito Hebraico ............................................................................................................ 10 1.2.1. O Direito Hebraico Antigo: Características ................................................................. 10 1.2.2. Fontes da Lei .............................................................................................................. 10 1.2.2.1.Talmud ..................................................................................................................... 10 1.2.2.2 Torah ........................................................................................................................ 11 1.3. Direito no Egipto e na Mesopotâmia.............................................................................. 11 1.3.1. O Direito no Antigo Egipto ........................................................................................ 11 1.3.2. O Direito na Mesopotâmia: Características Gerais ...................................................... 12 Conclusão ............................................................................................................................ 14 Referencias Bibliográficas ................................................................................................... 15 4 Introdução O Direito revela-se de várias formas, isso depende de cada época em que foi formado. Por sua vez, caracteriza-se pelas características específicas. Portanto, o presente trabalho versa sobre a história do direito na idade média. A idade média teve o seu início com a queda do Império Romano no Ocidente, no século V, precisamente no ano de 476 d.C. Terminou com a decadência do Império Romano no Oriente, que marcou a queda de Constantinopla no ano de 1453 d.C, no século XV. Nesta ordem de ideia, este trabalho objectiva compreender a contribuição das tecnologias de informação e comunicação para a sociedade. Este propósito será alcançado por meio de uma análise dos campos sociais por onde as tecnologias de informação e comunicação actuam veementemente. Objectivos Geral: Compreender a história do Direito na idade média. Específicos Identificar os tipos de direito existentes na idade média; Apresentar as características do direito canónico, hebraico e egípcio; Descrever a formação do direito canónico, hebraico e egípcio. 5 CAPITULO I: HISTÓRIA DO DIREITO NA IDADE MEDIA 1. Direito Canónico 1.1. Jurisdição Eclesiástica: Competência na Época do apogeu (Séculos X a XV) Nesta época, as jurisdições laicas estão em plena decadência na sequência do enfraquecimento do poder real pelo feudalismo. A igreja na maior parte da Europa ocidental, atinge o seu apogeu e teve a possibilidade de conhecer um largo domínio de poder judicial, mesmo em relação ao leigos. Segundo Jorge (2016:84), os tribunais eclesiásticos eram competentes para julgar em razão da Personalidade ou em razão da matéria. Em razão da personalidade os tribunais eclesiásticos eram competentes para julgar: Os eclesiásticos, tanto clérigos regulares como clérigos seculares; Os cruzados (aqueles que tomaram a cruz, que partem em cruzadas); Os membros da universidade (professores e estudantes), uma vez que as universidades eram eclesiástica até então; As viúvas e órfãos quando pediam protecção a igreja. Em razão da matéria eram competentes em (Idem): Em certas matérias penais e civis, julgavam todas as pessoas, leigos e clérigos. Em matéria penal julgam todas as pessoas: Em caso de alguma outras infracções, desde que atentassem contra as regras canónicas. Ex. Adultério, usura. Em caso de infracções contra a religião (heresia, feitiçaria, etc) Para Jorge (2016:84), em matéria civil, as jurisdições eclesiástica são competentes para julgar todas constatações que digam respeito á: Benefício eclesiástico (rendimentos atribuídos a um eclesiástico sobre os bens da igreja para permitir exercer a sua missão); Aos testamentos (quando estes continham um legado pio a favor de uma instituição eclesiástica). 6 1.2. Formação do Direito Canónico Desde as decisões do Concílio de Jerusalém (Act. 15, 1-33), e perante os problemas surgidos no decorrer da sua expansão, a Igreja viu-se na necessidade de definir a doutrina e de estabelecer regras de conduta (Cunha, 2004). Do Século I ao Século IV, os membros da Igreja sofreram perseguições e torturas. Cada comunidade cristã era dirigida por um Bispo. O Bispo e os seus colaboradores formavam o Clero, que se reunia em Concílios ecuménicos, universais e regionais. As decisões desses Concílios receberam o nome de Cânones8 ou Decretos. Com a oficialização da Religião Cristã no Império Romano (a. 380), deu-se a cristianização das instituições jurídicas, por um lado, e a romanização das instituições jurídicas da Igreja, por outro. A Igreja passou a ser uma instituição do Império Romano; daí que as organizações eclesiásticas se tenham adaptado ao sistema de organização do próprio Império. (p. e., diocese era uma circunscrição administrativa do Império Romano e é uma circunscrição eclesiástica administrada por um bispo ou por um arcebispo.) O Direito Divino (Ius Divinum) contido nas Sagradas Escrituras já não era suficiente para o governo da Igreja e das relações com os povos que constituíam ou vinham chegando ao Império. (Jorge, 2016:85). A Igreja, espalhada pelo vasto Império, teve que legislar sobre muitas situações concretas, leis que algumas vezes foi alterando e adaptando às diversas regiões do mesmo Império. Apareceram heresias que se tornou necessário combater. 1.3. Desenvolvimento do Direito Canónico A partir dos séculos VII e VIII, com as invasões dos povos que possuíam um direito consuetudinário, a Igreja sofreu grande impacto e no século XI começou a acentuar-se uma certa tendência paraa centralização na pessoa do Papa. Essa centralização contribuiu para que as Cartas Decretais do Bispo de Roma tivessem ainda maior importância. Lembremos, a esse propósito, a importância da chamada Reforma Gregoriana que se deve ao Papa Gregório VII. O poder espiritual e pontifical do Papa atingiu, então, o seu apogeu, suplantando, muitas vezes, o poder dos Reis das Nações da Europa. (Jorge, 2016:87). O Direito da Igreja, em constante construção e produzido em função das necessidades que iam surgindo, passou a ser o Direito Novo que mantinha a ideia de unidade nos povos da Europa Ocidental, já que o Direito Romano, com a queda do Império Romano do Ocidente, em 476, e 7 com a pulverização de Estados, perdera o seu vigor e passou a ser considerado o Direito Antigo. Pinto (2002), a subsistência do Direito Romano e da sua influência ao longo dos tempos deve- se à sua recepção pelo próprio Direito Canónico e ao seu estudo nas Universidades. Por influência do Cristianismo, o antigo Direito Romano foi suavizado e modificadas algumas das suas prescrições menos conformes com a doutrina cristã. Foram os próprios canonistas que estudaram o direito civil romano e iniciaram o movimento de formação do Ius Commune ou Utrumque Ius, ao longo do século XII, considerado o Direito Comum da Cristandade e da Europa pós-clássica ou medieval. Podemos referir que também dos Povos invasores do Império e nele fixados, por direito de conquista ou acordo com os Romanos, provieram algumas normas, embora de reduzida projecção, como, por exemplo, do direito germânico acerca do regime beneficial (benefícios eclesiásticos) e o cômputo dos graus de parentesco, ou do Código Visigótico ou Liber Iudicialis para a Península Ibérica. Com efeito, o Utrumque Ius formado pelo Direito Romano e pelo Direito Canónico era o direito comum pelo qual se regia a Cristandade do Ocidente. “As pessoas eram simultaneamente súbditas dos Estados e membros da Igreja. Por isso, podemos afirmar que a ideia de unidade, nomeadamente ao nível espiritual, não desapareceu graças à Igreja e ao próprio Direito Canónico” (Jorge, 2016:88). Nessa época, o Direito Canónico era integrado por um conjunto de princípios e doutrinas que foram passando para os direitos modernos dos Estados, sobretudo latinos, como o reconhecimento da liberdade e igualdade de todos os cidadãos, a regulamentação do casamento e muitas normas do direito processual civil e criminal. Assim, para uma completa compreensão e interpretação do conteúdo desses direitos, tem que se ter em conta aquele elemento básico da sua formação histórica, já pelas relações com o Direito Canónico, já pelo papel que a Igreja desempenhou ao longo dos tempos. Através dos textos legislativos eclesiásticos conhecem-se os principais factos da vida social dos povos. 1.4 Colecções de Cânones Sabe-se que desde os tempos da Igreja primitiva se estabeleceu o costume de coligir os sagrados cânones, a fim de os tornar conhecidos e mais facilmente poderem ser aplicados, 8 nomeadamente pelos ministros sagrados a quem não era lícito ignorar os cânones, como advertia o Papa Celestino em carta aos Bispos da Apúlia e da Calábria (dia 21 de Julho de 429). O Clero estudava as Sagradas Escrituras, os Cânones e as Cartas Decretais. O IV Concílio de Toledo (a. 633) prescreveu "os sacerdotes saibam as sagradas escrituras e os cânones" porque "se deve evitar, principalmente nos sacerdotes de Deus, a ignorância, mãe de todos os erros" (cân. 25; Mansi, X, col.627). Cunha (2004), os primeiros códigos de leis estão datados dos tempos antes da entrada da era cristã. As leis do Antigo Testamento foram sendo codificadas ao longo dos séculos, figurando especialmente no Pentateuco (a Thorah). O mais importante deste código é o Decálogo (Ex 20,2-17; Dt 5,6-21; cf. Mt 5,17-48), seguindo-se o "Código da Aliança" (Ex 20,22-23,19), o "Código Deuteronómico" (Dt 11,29 a 26,15), o "Código da Santidade" (Lv 17,1 a 26,46) e o "Código Sacerdotal" (Lv 1,1 a 16,34). As colecções de normas escritas na Igreja surgiram logo de início com o objectivo de transmitir ciência a todos sobre a existência dessas normas e zelar pela sua uniformidade. Há sinais de codificação destas leis desde o Papa Celestino (século V) e do Concílio de Toledo do ano 633. Ao longo dos séculos foram aparecendo diversas colecções de cânones. 1.5 O Decreto de Graciano Dada a diversidade de normas e colecções, o Clero, que devia conhecer os Cânones dos Concílios e as Cartas Decretais, sentia alguma dificuldade. Havia, na verdade, várias colecções de Cânones e de Cartas Decretais já compiladas. Essas colecções eram necessárias para o ensino dos Cânones nas escolas e nas Universidades que a Igreja ia fazendo desabrochar por toda a Europa. (Cunha, 2004). Pessoas interessadas na conservação dessas colecções foram fazendo compilações das mesmas. Porém, para além da sua conservação e estudo, era necessário harmonizá-las, sistematizá-las e codificá-las, dar-lhes uma nova e coerente organização. Segundo (Jorge, 2016:93): Ora, no século XII, o monge camaldulense João Graciano, mestre de Teologia que ensinava Direito Canónico em Bolonha, no Mosteiro de S. 9 Félix e Nabor, tomou a iniciativa de compilar de novo o acervo destas colecções e normas existentes. Uniu as diversas compilações de normas, harmonizou-as e deu-lhes uma organização que até aí não tinham, ou seja, para além de compilar os cânones conciliares, as decretais e outros textos patrísticos, introduziu simultaneamente comentários de natureza consuetudinária com que procurava encontrar um sentido de coerência entre os vários cânones. A esses comentários aos cânones estabelecidos chamou "Dictum". A essa obra deu o título de Concordia Discordantum Canonum, mas é vulgarmente conhecida por Decretum ou Decreta. Bolonha já era célebre pelos estudos de Direito Romano, mas os teólogos ainda não tinham uma codificação como os romanistas. O Decreto de Graciano, colecção privada que alcançou notoriedade no foro e nas escolas, veio marcar o início de uma nova época na história do Direito Canónico. O seu êxito fez esquecer todas as colecções canónicas existentes. Trata-se, na verdade, de um trabalho de grande valor intrínseco e perfeição, uma séria concordância de leis e de colecções. O Decreto de Graciano foi dividido pelos seus comentadores em três partes. A primeira compreende 101 distinções que tratam de uma maneira geral das fontes do Direito Canónico, dos clérigos e da disciplina eclesiástica. A segunda divide-se em 36 causas subdivididas em questões sobre direito patrimonial, procedimento judicial, simonia, direito matrimonial e um tratado sobre a Penitência. A terceira, denominada De consecratione, compreende 5 distinções e trata de matéria sacramental e matéria litúrgica. 1.6 O Corpus Iuris Canonici De acordo com (Jorge, 2016:95): O Corpus Iuris Canonici constitui o direito clássico da Igreja Católica. Contém as normas mais antigas, ou seja: o "Decreto de Graciano"; o "Livro Extra" de Gregório IX; o Liber Sextus de Bonifácio VIII; a colecção de Clemente V, conhecida por "Clementinas" e promulgada por João XXII pela Bula Quoniam nulla (25.10.1317); as Decretais "Extravagantes" de João XXII e as Decretais "Extravagantes Comuns" de vários Romanos Pontífices nunca reunidas numa colecção autêntica, que são colecções meramente privadas começadas a organizar por professores de Direito Canónico e, finalmente, dispostas em duas colecções sistemáticas pelo editor João Chappuis, em 1500. Contudo, cada volume continuou a manter o título das colecções respectivas até que o Papa Gregório XIII, depois de ter mandado fazer uma revisão, aprovou o texto emendado pelo 10 Breve Quum pro munere pastorali (1.7.1580). Só a partir dessa data se passou a usar a expressão Corpus Iuris Canonici. A 1.ª edição é a de Lião,1671. 1.2. Direito Hebraico 1.2.1. O Direito Hebraico Antigo: Características O Direito Hebraico Antigo tem base religiosa, foi dado por Deus ao seu povo através de Moisés. As suas normas são, portanto, imutáveis. Encontramos essa mesma característica também do direito canónico e no direito muçulmano, nos quais os rabinos ou sacerdotes dotados de autoridade interpretavam-no, adaptando as leis de acordo com a evolução social. Segundo Jorge (2016:98), o Direito Hebraico Antigo possuía um sistema judiciário complexo, composto por três tribunais, com funções específicas: Tribunal dos três: julgava alguns delitos e todas as causas de interesse financeiro; Tribunal dos vinte e três: Julgava as apelações e processos relativos a crimes punidos com pena de morte; Tribunal dos Setenta: Magistratura suprema dos hebreus. Tinha a incumbência de interpretar a lei e julgar senadores, profetas, chefes militares e tribos rebeldes. Além das Leis Mosaicas, um amplo conjunto de normas régia a sociedade hebraica, presentes no Torah (Pentateuco), cuja escrita é atribuída a Moisés e é composto por cinco livros: Géneses; Êxodo; Levítico; Números; Deuteronômio. 1.2.2. Fontes da Lei 1.2.2.1.Talmud O Talmud é “a compilação de toda a tradição oral dos Hebreus, foi transmitida por Moisés aos seus sacerdotes e sábios, que transmitiram de geração em geração. Observamos que, enquanto o Torah consiste basicamente em um código de leis, o Talmud é muito mais uma compilação de preceitos e costumes da sociedade hebraica antiga” (Jorge, 2016:100). 11 A Estrutura do Tamud é dividida em sei Ordens, cada Ordem se subdivide em tratados e os tratados se dividem em Capítulos. Ao todo são 63 tratados que abordam assuntos de naturezas diversas como crimes, família e moral. Apresentamos a seguir alguns trechos do Talmud: 1.2.2.2 Torah Apesar de ser a única fonte disponível para o estudo do direito Hebraico, o Torah é originalmente um livro de relatos históricos. Em alguns trechos encontramos especificamente os códigos de leis, principalmente no livro Êxodo e em alguns trechos de Deuteronômio. a) O Decálogo O Decálogo constitui o cerne do direito hebraico, é composto pelas leis gravadas em pedra e entregue por Deus a Moisés. 1. Então falou Deus todas estas palavras, dizendo: 2. Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. 3. Não terás outros deuses diante de mim. 4. Não farás para ti imagem esculpida, nem figura alguma do que há em cima no céu, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. 5. Não te encurvarás diante delas, nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam. 17. Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo. (Êxodo 20:1-17). 1.3. Direito no Egipto e na Mesopotâmia 1.3.1. O Direito no Antigo Egipto No Egipto Antigo a manifestação do dever ser estava ligado à moral, à religião e à magia. Os princípios morais orientavam tanto o elaborador quanto o aplicador da norma. Esta era legitimada pela crença de que emanava da divindade, e a conduta contrária à prevista era 12 considerada não só anti-jurídica mas também herética, pois assim descumpria-se a vontade dos deuses. A arte de fazer direito é mágica assim como sua interpretação e aplicação. Ritualística tal qual a cultura jurídica mesopotâmica, o Direito entre os egípcios seguia sob o símbolo de Maet. Este princípio divino de ordem protegia a sociedade do caos e da destruição. Não é a toa que o controle omnipresente de Maet (ou Maat) era tido como a razão para o Egipto ter-se constituído como o mais duradouro império da antiguidade oriental, quando por volta de 3000 a.C. constituiu-se como Estado soberano e unificado, sob méritos de Menés. Esta simbologia, também compreendida como um princípio jurídico e filosófico actuava não só entre os vivos como também na vida post mortem. (Cunha, 2004:13). Na Mesopotâmia o campo jurídico restringia-se à experiência em vida, até porque os mesopotâmicos não acreditavam na vida pós-morte. No Egipto a experiência pós túmulo também pretendia o controle da ordem, pois na cultura egípcia acreditava-se que o mundo dos vivos e o mundo dos mortos mantinham estreita relação. “A normatividade pré-jurídica da Civilização do Nilo além de ser indissociável do mito e da religião, também se mostra sintonizada com o poder. A cultura jurídica desse povo favorecia o domínio do Estado sobre o indivíduo e, por consequência, do social, pois como esclareceu Weber a sociedade é feita de indivíduos portadores da unidade compreensível da acção que mantém referência à conduta de outrem” (Jorge, 2016:113). Vale referir que, a promulgação de uma sentença não carecia de apelação haja vista ter-se definido-a em cooperação com os deuses, omnipresentes e omniscientes. Eles vêem e sabem de tudo, logo, suas decisões são verdadeiras e justas. Mas esta constatação não pode ocultar o fato de que possivelmente em algumas situações uma decisão jurídica tenha sido questionada e o réu tenha solicitado o veredicto do próprio Faraó. O poder divino dessa figura podia ser considerado a “Constituição” do Egipto Antigo. Daí porque para uma segurança jurídica ele deveria ser evocado. 1.3.2. O Direito na Mesopotâmia: Características Gerais Segundo Jorge (2016:113): Na Mesopotâmia encontraremos um direito menos fragmentário e uma ideologia normativa mais consolidada. Naquela região banhada pelos rios Tigres e Eufrates desenvolveu-se não uma civilização, mas 13 civilizações das quais as mais importantes foram os sumérios e acádios (2800-2000 a.C), paleobabilônio (amoritas; 2000-1600 a.C), assírios (1300-612 a.C) e neobabilônios (caldeus; 612- 539 a.C). Caracterizada por um território frequentemente invadido e de uma instabilidade política, Ciro, em 539 antes de nossa era, comandou os persas na invasão e domínio definitivo sobre a região. No que tange à cultura (na qual está inserido o direito) sua essência não foi destruída pelos invasores, tendo estes na verdade incorporado-a às suas próprias expressões culturais. O sistema jurídico mesopotâmico, por exemplo, apresentou uma influência para muito além de sua época e espaço. Para se ter ideia, muitas das questões normatividades no nosso actual Código Penal estabelecem uma equivalência comparativa com o Código de Hamurrabi: o papel da testemunha; o furto; a difamação; o estrupo; a vingança etc. Este código jurídico antigo, promulgado aproximadamente em 1750 a.C, compõe-se de três partes: introdução, texto propriamente dito e conclusão. Há nos 282 artigos determinações respeitantes aos delitos, à família, à propriedade, à herança, às obrigações, muitos artigos de direito comunitário e outros relativos à escravatura. (Cunha, 2004). Essas leis defendiam, especialmente, os direitos e interesses de cúpula da sociedade babilónica. Esta, à época de Hamurábi, estava dividida em três classes sociais: Awilum (homens livres, cidadãos); Muskênum (funcionários públicos); Wardum (escravos, prisioneiros de guerra). No topo da pirâmide social estava o Imperador e sua família, seguidos pelos nobres, sacerdotes, militares e comerciantes. (Jorge, 2016:115). Haja vista a divisão da sociedade em classes e o desejo de poder dos líderes políticos, não seria difícil constatar o princípio da desigualdade perante a lei. Mas não podemos esquecer que este conjunto de leis sistematizadas apresentou algumas tentativas primeiras de garantias dos direitos humanos. Outros estudiosos preferem afirmar que o referido rei foi não o legislador mas o compilador. Tudo indica, na verdade, que se trata de uma grande compilação de normasanteriormente dispostas em outros documentos e de decisões tomadas em casos concretos, que serviram de base para a elaboração dos artigos. 14 Conclusão O Direito na idade média era caracterizado pela existência do direito canónico, direito hebraico e direito egípcio. O Direito Canónico era integrado por um conjunto de princípios e doutrinas que foram passando para os direitos modernos dos Estados, sobretudo latinos, como o reconhecimento da liberdade e igualdade de todos os cidadãos, a regulamentação do casamento e muitas normas do direito processual civil e criminal. Assim, para uma completa compreensão e interpretação do conteúdo desses direitos, tem que se ter em conta aquele elemento básico da sua formação histórica, já pelas relações com o Direito Canónico, já pelo papel que a Igreja desempenhou ao longo dos tempos. Através dos textos legislativos eclesiásticos conhecem-se os principais factos da vida social dos povos. No Egipto Antigo a manifestação do dever ser estava ligado à moral, à religião e à magia. Os princípios morais orientavam tanto o elaborador quanto o aplicador da norma. Esta era legitimada pela crença de que emanava da divindade, e a conduta contrária à prevista era considerada não só anti-jurídica mas também herética, pois assim descumpria-se a vontade dos deuses. A arte de fazer direito é mágica assim como sua interpretação e aplicação. Ritualística tal qual a cultura jurídica mesopotâmica, o Direito entre os egípcios seguia sob o símbolo de Maet. O Direito Hebraico Antigo tem base religiosa, foi dado por Deus ao seu povo através de Moisés. As suas normas são, portanto, imutáveis. Encontramos essa mesma característica também do direito canónico e no direito muçulmano, nos quais os rabinos ou sacerdotes dotados de autoridade interpretavam-no, adaptando as leis de acordo com a evolução social. 15 Referencias Bibliográficas COSTA, Elder Lisboa Ferreira Da (2009). História do Direito de Roma à Historia do Povo Hebreus e Muçulmano: A Evolução do Direito Antigo à Compreensão do Pensamento Jurídico Contemporâneo. Belém. CUNHA, S. (2004). História da Antiguidade. Grécia. 2º vol. Trad. João Cunha de Andrade. São Paulo: Martins Fontes. JORGE, Edmar Gerúsio Barrecto. História de Direito Moçambicano. Beira, Moçambique, 2016. PINTO, F. M. (2002). História de Direito: Origem e Formação. Lisboa. Objectivos CAPITULO I: HISTÓRIA DO DIREITO NA IDADE MEDIA 1. Direito Canónico 1.1. Jurisdição Eclesiástica: Competência na Época do apogeu (Séculos X a XV) 1.2. Formação do Direito Canónico 1.3. Desenvolvimento do Direito Canónico 1.4 Colecções de Cânones 1.5 O Decreto de Graciano 1.6 O Corpus Iuris Canonici 1.2. Direito Hebraico 1.2.1. O Direito Hebraico Antigo: Características 1.2.2. Fontes da Lei 1.2.2.1.Talmud 1.2.2.2 Torah 1.3. Direito no Egipto e na Mesopotâmia 1.3.1. O Direito no Antigo Egipto 1.3.2. O Direito na Mesopotâmia: Características Gerais Conclusão Referencias Bibliográficas
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