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ANAIS IV CONACIR 2019 VERSÃO PDF

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ANAIS DO IV CONACIR 
ANO 4 – VOL II 
 
ISSN 2447-7184 
 
IV CONGRESSO NACIONAL DE CIÊNCIA DA RELIGIÃO 
“RELIGIÃO E DEMOCRACIA: DESAFIOS NO ESPAÇO 
PÚBLICO” 
8 A 10 DE OUTUBRO DE 2019 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANAIS CONACIR 
 
 
 
 
ANO 4 – VOL II 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
JUIZ DE FORA 
2019
 
Organização 
Comissão Organizadora do IV CONACIR 
 
A revisão textual dos manuscritos originais é de responsabilidade de seus 
respectivos autores, com anuência dos coordenadores dos Grupos de Trabalho. 
 
Realização: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FICHA CATALOGRÁFICA 
 
 
C743 CONACIR – Congresso Nacional de Ciência da Religião (4.: 2019: 
Juiz de Fora, MG) 
 
Anais do CONACIR: IV Congresso Nacional de Ciência da Religião: 
Religião e democracia: os desafios no espaço público. Universidade Federal 
de Juiz de Fora (MG), 8 a 10 de outubro de 2019 / Coordenação Geral: 
Emerson José Sena da Silveira, Rafael de Souza Bertante e Renan da Cruz 
Maciel – Juiz de Fora: PPCIR-UFJF, 2020. 
 
798p. 
 
ISSN 2447-7184 
 
1. Ciência da Religião 2.Teologia 3.Anais do IV CONACIR 
 
CDD: 200.291 
CDU: 2(291) 
 
 
 
COMISSÃO ORGANIZADORA 
 
Presidente 
Dr. Emerson José Sena da Silveira 
 
Coordenação discente 
Rafael de Souza Bertante 
Renan da Cruz Maciel 
 
Comissão científica 
Docentes 
Dr. Emerson José Sena da Silveira 
Dr. Volney J. Berbenbrock 
Dr. Humberto Araújo Quaglio 
Discentes 
Ana Beatriz Vilhena 
Bruno do Carmo Silva 
Maiara Rúbia Miguel 
 
Tesouraria 
Raquel Turetti Scotton 
Maria Luiza Igino Evaristo 
 
Secretaria 
Dartagnan Abdias Silva 
Douglas Willian Ferreira 
 
Infraestrutura 
Siloeh Cerqueira 
Giovanna Sarto 
Maria Luiza Igino Evaristo 
Mara Bontempo Reis 
 
Edição 
Luís Gabriel Provinciatto 
Raquel Turetti Scotton 
 
Comunicação 
Raquel Turetti Scotton 
Vitor de Lima Campanha 
 
Arte 
Ana Luisa Morais Barbosa 
 
Lançamento de livros 
Jéssica Freire Pereira de Aquino 
 
Organização dos Grupos de Trabalho (GTs) 
Luís Gabriel Provinciatto 
Vinícius Lara da Costa
 
5 
SUMÁRIO 
 
Apresentação 6 
Objetivo Geral 7 
Principais Contribuições 7 
GT 1 – Catolicismo e democracia: diálogos e rupturas nos espaços públicos e virtuais 8 
GT 2 – Espiritualidades, ateísmo e as tecnologias de comunicação 39 
GT 3 – Filosofia da religião 61 
GT 4 – Gênero, raça e poder nas religiões de matriz africana 86 
GT 5 – Identidade, conservadorismo e modernidade: discussões a respeito do pensamento 
conservador em grupos religioso 94 
GT 6 – Religião e arte 115 
GT 7 – Religiões afro-indígenas brasileiras: perspectivas educacionais, culturais, religiosas, 
econômicas e políticas 142 
GT 8 – Religião e cidadania 181 
GT 9 – Cristianismo e espaço público: aspectos políticos e sociais 192 
GT 11 – Espiritualidades contemporâneas, (neo)paganismo, esoterismo, Nova Era 321 
GT 12 – Religião, espiritualidade e mística 370 
GT 14 – Religião e Relações Internacionais 414 
GT 16 – Estado, religião e poder: conflitos de motivação religiosa e mobilizações civis 424 
GT 17 – Tradições e religiões asiáticas 437 
GT 18 – Contemporaneidade (pós-modernidade) e espiritualidades 474 
GT 19 – Religião, mídia e discursividades 519 
GT 20 – Movimentos religiosos na política contemporânea: articulações conservadoras, laicidade 
e dilemas éticos 550 
GT 21 – Religiões e religiosidades ameríndias: regimes de saber, diversidade e mediações na 
experiência religiosa em contextos indígenas 586 
GT 22 – Além dos muros dos templos: novas formas de se cultuar o sagrado na 
contemporaneidade 595 
GT 23 – Interfaces entre literatura, religião e história 624 
GT 24 – Experiências negras, artes e religiosidades afro-brasileiras no espaço urbano 652 
GT 27 – Religião e gênero em espaços plurais 688 
GT 29 – Teosofia e religião comparada 729 
GT 33 – Novos movimentos religiosos e espiritualidades laicas 778 
GT 35 – Religiões e religiosidades na Pan-amazônia: encontros culturais e ressignificações 
identitárias 787 
 
6 
 
 
APRESENTAÇÃO 
O Congresso Nacional de Ciência da Religião (CONACIR) é um evento que reúne estudos sobre 
a religião que alunas e alunos do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião (PPCIR) da 
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) organizam sob a supervisão e ajuda dos docentes, da 
coordenação do PPCIR e do Departamento de Ciência da Religião (DCR). Nosso objetivo é reunir 
pesquisadores nacionais e internacionais para estimular reflexões sobre o tema da religião e suas variantes, 
promovendo e divulgando pesquisas desta área. Em 2019, o evento ocorre entre 8 e 10 de outubro no 
Instituto de Ciências Humanas (ICH) da UFJF com o tema Religião e Democracia: desafios no espaço público. É 
importante compreender a relação entre religião e política diante do avanço das pautas regressivas e do 
neoliberalismo que ferem a educação pública, os direitos humanos, as minorias sociais e sexuais, o meio-
ambiente, a solidariedade e a previdência social. Temos um panorama social e político marcado pelo 
avanço de alguns grupos religiosos que se tornaram poderosos e avançam sobre o espaço público e 
político. A reflexão sobre as consequências dessas relações entre democracia e religião é urgente e 
necessária, uma vez que seus desdobramentos afetam diretamente o povo brasileiro. 
Em sua quarta edição, o CONACIR teve duas conferências e três mesas-temáticas importantes. 
A conferência de abertura, de título A nova face da religião brasileira, será ministrada pela professora Dra. 
Brenda Carranza (PUC-Campinas). A primeira mesa-temática trabalhará o tema Religião, democracia e direitos 
humanos, sendo constituída pelos professores Dr. Fernando Altemeyer (PUC-SP) e Dr. Marcelo Camurça 
(UFJF). A segunda mesa temática, composta pelos professores Dr. Glauco Barsalini (PUC-Campinas) e 
Dr. Humberto Quaglio (UFJF) se debruçará sobre o tema Religião e violência estatal na sociedade 
contemporânea. A terceira mesa temática debaterá Religião, gênero e violência simbólica e envolverá a professora 
Dra. Joana Bahia (UERJ) e o professor Dr. André Musskopt (UFJF). Por fim, a conferência de 
 
7 
encerramento será proferida pela professora Dra. Hauwa Evelyn Yusuf, de Kaduna, Nigéria, com o 
título The nexus between religion, politics and criminality (O nexo entre religião, política e criminalidade).
 
7 
OBJETIVO GERAL 
Com o tema Religião e Democracia: desafios no espaço público, nosso objetivo principal é provocar e 
realizar o debate sobre como o nexo entre religião e democracia influencia alianças partidárias e decisões 
políticas no espaço público brasileiro, fazendo perceber que, não raras vezes, privilegia-se uma tradição 
religiosa particular em um Brasil de diversidade religiosa e cultural. Diante das configurações políticas, do 
desempenho de candidatos nas Eleições de 2018 e das configurações das bancadas parlamentares, 
pretende-se também pensar sobre como a interação entre religião e democracia implica na abordagem de 
uma gama pautas que se dão nesse contexto: 
1. As influências de tradições religiosas no debate político; 
2. A polarização política e o cerceamento de direitos básicos fundamentados por pressupostos de 
uma determinada tradição religiosa; 
3. O futuro do ensino religioso nas escolas públicas brasileiras; 
4. A configuração de bancadas e alianças de lideranças religiosas nos9 espaços públicos e de decisões 
políticas, tais como o Congresso Nacional. 
Em suma, as consequências acerca de decisões que intentam conciliar religião e democracia 
importam tanto ao cidadão que exerce seu direito democrático quanto à comunidade científica abrangida 
pela área Ciências da Religião e Teologia. Além disso, esse debate ilumina outros dentro das 
Universidades brasileiras. 
 
PRINCIPAIS CONTRIBUIÇÕES 
Abrindo espaço para a tematização da religião em suas múltiplas formas, o IV CONACIR procura 
abranger estudos que vêm sendo trabalhadosna UFJF e em outras instituições de ensino superior (IES), 
notadamente voltadas para o estudo da religião e das religiosidades. Para tanto, o evento traz a 
contribuição de pesquisadores nacionais e internacionais na forma de conferências, mesas redondas e 
apresentações de trabalhos. O IV CONACIR espera ser um espaço de articulação e diálogo entre 
pesquisadores e contribuir junto aos programas de Pós-Graduação em Ciência(s) da(s) Religião(ões) e 
Teologia para o fortalecimento e crescimento dos estudos desta área no Brasil. 
Em suas edições anteriores, o evento incentivou a melhoria da qualidade das produções científicas 
desenvolvidas na UFJF e abriu um importante canal de discussão, compartilhamento e fluxo de 
informações com outras IES do país. Por ser um evento realizado por um programa de pós-graduação 
em Ciência da Religião de uma universidade pública, sua relevância e produtividade tende a exercer um 
importante papel na promoção e consolidação de outros programas de pós-graduação no país voltados 
para a área Ciência da Religião e Teologia.
 
8 
 
 
GT 
1 
CATOLICISMO E DEMOCRACIA: DIÁLOGOS E 
RUPTURAS NOS ESPAÇOS PÚBLICOS E VIRTUAIS 
 
 
Coordenação 
Paulo Victor Zaquieu-Higino (UFJF) 
Thiago Luiz de Sousa (UFMG) 
 
Ementa 
O GT compreende o Catolicismo como uma vertente cristã, cuja expressão se dá de modo 
plural na sociedade ao longo da história. É inegável a participação da Igreja Católica na constituição 
do Ocidente, especialmente no Brasil, ainda que para negar-lhe legitimidade. Apesar de uma pretensa 
uniformidade, o orbi católico possui uma diversidade de interpretações e identidades, e, por 
conseguinte, diferentes modos de compreender e participar da vida na polis. Tal presença nem sempre 
se dá de modo harmônico, mas recorrentemente marcada por disputas intraeclesiais, entre grupos 
ditos conservadores e progressistas, e extras eclesiais, relacionadas a outras expressões religiosas 
cristãs, não cristãs, e não religiosas. A partir de tais pressupostos, este grupo de trabalho objetiva unir 
pesquisadores interessados em discutir as diversas temáticas relacionadas à Igreja Católica e sua 
participação nos espaços públicos e virtuais, particularmente aquelas que manifestam as tensões o 
processo democrático em suas muitas interfaces. Deste modo, o GT propõe, entre outros, as 
percepções de democracia no Catolicismo Romano, Organização e Hierarquia Eclesiástica; no 
Catolicismo Popular; nas Teologias e Filosofias; e representações de grupos, tradicionalistas e 
neoconservadores; Relações da Igreja com a política, artes, teologias dissidentes e movimentos sociais 
católicos. 
Palavras-chave: Catolicismo. Democracia. Espaços Públicos. Mídias Sociais. Expressões do 
catolicismo nas sociedades. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
O EPISCOPADO DE DOM JUSTINO FRENTE AOS ASPECTOS 
SECULARES NO INÍCIO DO SÉCULO XX 
 
Rosiléa Archanjo de Almeida  
rosileaarchanjo@yahoo.com.br 
 
Resumo 
O cenário de Juiz de Fora (MG) no início do século XX é perpassado por características de uma 
secularização tardia que o Brasil vivenciou com o advento da modernidade, caracterizada por um 
“processo histórico-cultural complexo de transformação de mentalidade no Ocidente” (ZILLES, 
1993) entre o século XVII e meados do século XX. O Renascimento Cultural e a Reforma 
Protestante provocaram a afirmação do indivíduo moderno promovendo uma ruptura com a 
tradição medieval através da descoberta do Novo Mundo. Esse modelo de modernidade se 
contrapõe ao conservadorismo da Igreja, ao defender a secularização e a liberdade religiosa. Em 
meio a esse panorama temos a figura do primeiro bispo da Diocese mineira de Juiz de Fora. Dom 
Justino José de Sant’Ana chega à cidade que carrega traços seculares em 1925, e tenta organizar o 
território diocesano sob traços romanizadores frente à forte industrialização e à pluralidade religiosa 
e cultural. Com o intento que a Igreja estivesse mais próxima da sociedade, objetivando a 
recuperação de sua autoridade e hegemonia frente à secularização, Dom Justino promove várias 
ações episcopais, reafirmando a influência da Igreja Católica na cidade, a preocupação com a 
retomada dos fiéis aos preceitos do tradicionais do Catolicismo e da observância aos dogmas da 
Igreja. Neste artigo, questionamos como podemos interpretar as ações de Dom Justino em meio a 
uma sociedade industrializada, religiosamente plural e cultural no início do século XX. Nos 
baseamos em pesquisa bibliográfica e na internet para metodologia deste artigo que inclui uma 
breve apresentação das características da secularização. 
 Palavras-Chave: Catolicismo; Dom Justino; Diocese de Juiz de Fora; Ações Episcopais; 
Expressões do Catolicismo nas Sociedades. 
Introdução 
Exibimos neste artigo um apanhado histórico-analítico com foco na atuação do primeiro 
bispo de Juiz de Fora (MG), Dom Justino José de Sant’Ana, entre os anos de 1925 a 1958, através 
de suas ações episcopais na então nova Diocese mineira. Nosso objetivo é analisar as ações 
promovidas por Dom Justino na cidade de Juiz de Fora, sede da região eclesiástica da Diocese, 
numa época em que traços seculares permeavam a cidade mineira, pluralmente cultural, religiosa, e 
com ascensão industrial. 
Partimos do seguinte questionamento: como interpretar as ações episcopais de Dom 
Justino em meio a uma sociedade industrializada, religiosamente plural e cultural no contexto do 
início do século XX? Com o intento que a Igreja estivesse mais próxima da sociedade, objetivando 
a recuperação de sua autoridade frente à secularização, Dom Justino promove várias ações. 
 
 
 Mestranda em Ciência da Religião. UFJF – Universidade Federal de Juiz de Fora. Instituição Financiadora: 
CAPES. E-mail: rosileaarchanjo@yahoo.com.br. 
 
10 
Diversos autores já abordaram o tema e aplicação na esfera pública e religiosa, como 
demonstra Paula Montero. 
[...] os processos de secularização podem ser pensados como produto do próprio trabalho 
religioso: alguns estudos, como veremos a seguir, têm chamado nossa atenção para a 
profissionalização dos agentes religiosos em política pública. Também a transformação 
da compreensão internacional do que são os direitos democráticos têm incorporado as 
religiões ao campo dos direitos específicos a serem respeitados. Finalmente, quando se 
desloca o foco de observação dos fenômenos religiosos das instituições para as práticas, 
percebesse um descompasso entre os modelos teóricos fundados nos comportamentos 
e nas crenças e aquilo que efetivamente fazem os indivíduos (MONTERO, 2012, p. 170). 
 
Em relação ao mote religião católica em Juiz de Fora abordado tomamos como referencial 
para esta análise, os autores Riolando Azzi e Mabel Salgado Pereira que retrataram fragmentos do 
recorte temporal analisado em nosso artigo. Eles apresentam a Romanização, e traços do 
episcopado de Dom Justino. Já Cônego F. Max de Oliveira oferece um cenário geral da formação 
da Diocese e de seus primeiros anos. 
Retomamos ao tema com o intuito de acrescentar questionamentos e opiniões equivalentes, 
ou até mesmo diferentes das já pesquisadas acerca da discussão sobre secularização e seus aspectos 
na sociedade juiz-forana. 
Iniciamos nosso texto apresentando as características do movimento secular, que terá seus 
aspectos presentes no panorama sociocultural e político de Juiz de Fora na época da posse de seu 
primeiro Bispo. Expomos como foi sua chegada à cidade, e por fim, como as ações de Dom Justino 
foram incorporadas à tal sociedade pluralista. 
 
Traços de uma secularização brasileira 
O século XVII, marcou a filosofia e a sociologia de forma concreta, a partir de aforismos 
funcionalistas que colocavam em questionamento a função da religião para/na sociedade. Esta 
dúvida originou um horizonte de secularização onde possibilitou a separação de Igreja e Estado, a 
automização das instituições sociaise o declínio gradual das religiões. “Isto é, a plausibilidade das 
definições religiosas tradicionais da realidade é posta em questão por pessoas comuns sem nenhum 
conhecimento ou mesmo interesse por teologia” (BERGER, 1985). Com o Estado mais forte, as 
políticas tomaram a cena e se distinguiram da linguagem religiosa, estabelecendo o declínio da 
mística e da fé e colocando em ascensão a razão. 
A modernidade secularista, produto de mudanças incitadas pela ciência e pela tecnologia, 
foi caracterizada pelo anti-sincretismo, com aspectos iluministas da “razão”, oferecendo ao 
indivíduo a oportunidade de escolha, algo que o afastaria da religião. 
Sabemos que o pluralismo religioso no Brasil está presente desde sua gênese. No período 
colonial com os índios e católicos, na sequência com a inserção dos africanos, e mais recentemente 
 
11 
com as denominações protestantes, do oriente e dos neopentecostais. 
A Igreja Católica encontrou maior rivalidade no campo religioso com o aumento de tais 
denominações pois mesmo em anos passados, tais religiões não ofereciam grande ameaça, dada a 
hegemonia católica. Entretanto, após a secularização, as fronteiras religiosas tornaram- se cada vez 
mais tênues. “Pode-se observar um deslocamento importante na alocação política da Igreja Católica 
que ‘aceitou desengajar-se da sociedade propriamente política’ e passou a centrar-se na sociedade 
civil (MONTERO, 2018, p. 12). Acrescentamos a isso a possibilidade de o fiel não ter 
pertencimento institucional, mas manter a sua fé individual no transcendente. Segundo Alfred 
Stepan (apud MONTERO, 2018, p. 12), “acompanhando o declínio do anticlericalismo na Europa, 
a Igreja Católica cessara de buscar o controle da sociedade por meio de sua volta ao aparato do 
Estado” 
A partir desses cenários, chamamos a atenção para uma crescente individualização de 
grupos religiosos no processo de homogeneização da secularização. Com o crescimento e 
fortalecimento de instituições religiosas neotradicionais, também advém o processo de 
desinstitucionalização da identidade religiosa, isto é, estão ocorrendo trocas entre valores culturais 
e os indivíduos reagem de formas distintas. 
 
As pessoas firmemente enraizadas numa tradição podem permitir-se uma certa margem 
de tolerância em relação àqueles que não partilham a tradição. Os neotradicionalistas não 
conseguem permitir esta tolerância. Para eles, a tradição não é simplesmente dada, eles a 
escolheram – não podem esquecer isto (BERGER, 2017, p. 35). 
 
O declínio das instituições religiosas no Brasil, assim como em outros países, provém 
principalmente do ideal de modernidade, que baseou a teoria da secularização. No âmbito de 
relação Igreja e Estado, Jürgen Harbermas propõe um filtro institucional, para que as pautas 
religiosas não atinjam diretamente a política. Este filtro, “estabelecido entre o fluxo comunicativo 
da esfera pública e as deliberações formais nos corpos políticos, deveria ser capaz de traduzir os 
discursos religiosos antes de seu ingresso na agenda parlamentar, nas cortes e nos corpos 
administrativos” . (PERLATTO, 2011, p. 3). 
Dessa forma, no país, ocorrem duas formas diferentes da religiosidade responder ao 
processo de secularização sendo uma proposta ética, mas também sua abertura para o diferente. 
 
 
 
 
 
12 
O cenário local antes da chegada do primeiro Bispo 
Tomamos o catolicismo como núcleo deste trabalho, por ser a principal religião presente 
na composição histórica e social do município, que a partir da devoção de seus fiéis nomeou o 
antigo arraial de Santo Antônio do Parahybuna, também conhecido popularmente por Morro da 
Boiada, onde se ergueu a primeira capela da região em honra a Santo Antônio de Pádua, e mais 
tarde, em 1850, se emancipou sob a alcunha de Juiz de Fora. 
A presença da Igreja em Juiz de Fora é apresentada no documento local mais antigo, que 
se encontra no Arquivo Municipal, datado do ano de 1741. Tal escrita faz referência ao pedido de 
construção da capela primária, remetida pelo luso-espanhol Antônio Vidal à Diocese do Rio de 
Janeiro, reforçando também a importância do culto aos santos na implantação da fé católica na 
região. 
A hierarquia da Igreja Católica de Juiz de Fora, antes da chegado do primeiro Bispo era 
subordinada à Diocese de Mariana, onde Dom Antônio Ferreira Viçoso seguia as diretrizes da 
Romanização Católica1. 
Como traços seculares, a conjuntura da cidade nos apresenta a criação de vias locais de 
relevância no traçado urbano, além da implantação de rodovias e da iluminação pública, episódios 
que tornaram a cidade pioneira, e a colocavam na vanguarda das cidades brasileiras, como a 
primeira experiência com energia elétrica e sua iluminação pública, obra de Bernardo Mascarenhas 
inaugurada no dia 05 de setembro de 1889 (PEREIRA, 2002). 
A partir de 1858 a cidade recebeu os primeiros imigrantes, que vieram auxiliar na 
constituição urbana, em especial na construção da Estrada União e Indústria2. Havia entre os 
colonos, fiéis católicos e protestantes, que além do setor industrial, fortaleceram o desenvolvimento 
cultural da Manchester Mineira3. “Ora, a modernidade, com a aplicação da ciência à técnica, 
promove a industrialização, transferindo a população do campo para a cidade”, consequentemente, 
os que viviam em área rural e frequentavam a Igreja por tradição cultural, agora se dispersam em 
outras atividades. 
A presença positiva dos imigrantes composta também de italianos, portugueses, turcos, 
espanhóis e outros, influenciados por doutrinas europeias, vão ser quarado de reclamações por 
parte da Igreja. Padre Júlio Maria, por exemplo, ao dirigir-se aos operários, 
 
1 A Reforma Católica Ultramontana teve início no Brasil a partir de meados do século XIX. Os reformadores se 
dirigiam em relação à definição da ortodoxia católica na doutrina e a reforma dos costumes morais da Igreja, a 
restauração da santidade e observância do celibato eclesiástico. 
2 Maior obra da engenharia em seu tempo na América Latina, deu-se a 7 de agosto de 1852, quando Mariano Procópio 
Ferreira Lage idealizou a 1ª estrada macadamizada (pedras compactadas) do país, ligava a província de Minas Gerais à 
corte do Rio de Janeiro. 
3 Alcunha dada por Rui Barbosa, comparando Juiz de Fora à cidade inglesa, referência nos aspectos industriais e 
culturais. 
 
13 
acusa Juiz de Fora de ser uma nova Nínive: “Quantos são os operários que nesta cidade procuram 
a Igreja já não digo para a confissão e comunhão, mas simplesmente para a assistência à missa? [...] 
Quantos são os proletários que procuram a Igreja? Pelas ruas veremos muitos; na Igreja nenhum 
(BEOZZO, 1981). 
Em 1873, Dom Viçoso manifestava sua objeção contra o progresso. “Que progressos são 
estes modernos, com que tanta gente enche a boca? [...] Progressos, progressos! [...] Muitos 
progressistas abstêm-se destas coisas [os sacramentos] nem nelas cuidam, e se riem ao ouvir estas 
palavras!” (VIÇOSO, 1873). 
Aliado a isso, a cidade foi fundada à margem do estilo de vida barroco, sem possuir 
características dessa época, herdando poucas qualidades pertinentes ao catolicismo devocional das 
cidades mineiras barrocas. 
 
No lugar de catedrais, fábricas. Sem a opulência do barroco, o estilo neoclássico e eclético 
de seus prédios e a racionalidade da arquitetura industrial, que opõe chaminés às torres 
devotas. Sem a marca da cultura colonial mineira, Juiz de Fora distingue-se pelo 
cosmopolismo – urbana, moderna. [...] Cidade de operários, imigrantes e pioneiros que, 
no ritmo das engrenagens dos teares, fizeram-na ingressar no progresso da nova 
civilização que se anunciava nas metrópoles europeias (ÁLBUM, 1996, p. 1). 
 
Alguns historiadores acreditam que por esses e outros motivos, alguns juiz-foranos 
professavam de maneira diferente sua experiência religiosa, sendo pouco assíduos dos templos, 
pastorais e movimentos católicos. Como lembra o escritor natal PedroNava na obra “Baú de 
Ossos”, citada no livro “As Origens da Universidade de Juiz de Fora” da pesquisadora Lola 
Yazbeck. “Ser muito de Deus e pouco de padre. Muito de céu e pouco de igreja, muita prece e 
pouca missa” (apud YAZBECK, L.1999, p. 38). 
Em resumo, os principais ‘inimigos’ do catolicismo em Juiz de Fora eram: “[...] a falta de 
catequese, a instrução religiosa, os escândalos do clero, o indiferentismo religioso, a falta de 
militância dos católicos, acomodados e adormecidos, embalados pelo Padroado” (AHMJF apud 
PEREIRA, 2002, p. 68). Caberá ao novo Bispo, reforçar ainda mais a função que lhe é própria, de 
ser guardião e defensor da doutrina católica (ROBINSON, 1967, p. 7). 
 
As ações episcopais de Dom Justino frente aos aspectos seculares no início 
do século XX em Juiz de Fora 
 
Remontando a trajetória de Justino José de Sant’Ana, primeiro Bispo de Juiz de Fora, 
verificamos que seu nascimento aconteceu em Aramary, município de Alagoas (BA) em 12 de 
dezembro de 1878. De família humilde, optou por seguir o sacerdócio após sua educação básica 
em escola Católica. 
 
14 
Em 1898, ao completar vinte anos, entrou para o Seminário Arquidiocesano de Salvador 
(BA), ordenando-se sacerdote em 1° de novembro de 1904. Em seguida, foi nomeado vigário no 
município de Saúde de Jacobino, sendo depois transferido para a Paróquia de Barracão e Nazaré. 
Foi promovido para a freguesia da Rua dos Passos em Salvador, em 1912. Na sequência, 
transferido para a Paróquia de Canavieira, atualmente Diocese de Ilhéus, onde desenvolveu o 
apostolado da imprensa, fundando e mantendo o periódico “A Verdade”, demonstrando conforme 
Monsenhor Miguel Falabella (2019), a predileção do Bispo pela comunicação. Quando estava nessa 
Paróquia recebeu em 24 de julho de 1924 o anúncio de sua eleição para Bispo de Juiz de Fora. Sua 
sagração episcopal ocorreu no Convento dos Franciscanos do Rio de Janeiro, em 20 de Janeiro de 
1925. 
Com a fundação da Diocese de Juiz de Fora em 1º de fevereiro de 1924, sob a Bula 
Pontifícia “Ad Sacrosancti Apostolatus Officium” do Papa Pio XI a Igreja passou a ter liderança no 
município. Entretanto, a instalação canônica só ocorreu em 1º de fevereiro de 1925, com a chegada 
de Dom Justino, seu primeiro Bispo (ARQUIDIOCESE, 2011). 
A viagem [de Dom Justino] do Rio a Juiz de Fora, foi feita no trem rápido da Central do 
Brasil, em vagão especial, o que demonstrava o prestígio que a hierarquia católica 
conquistava junto ao poder público. [...] Na praça João Penido , junto à estação 
ferroviária, o bispo foi aclamado por uma multidão que o aguardava, recebendo em 
seguida as boas vindas das autoridades civis, militares e eclesiásticas. No salão nobre da 
Associação Comercial revestiu-se dos paramentos pontificais, seguindo em cortejo para 
a nova sé episcopal [...]. Espalhada pelas calçadas das ruas, a multidão atirava flores, 
pétalas e papel colorido. A banda militar fechava o cortejo, atrás da qual se apinhavam as 
pessoas, até a entrada na igreja de Santo Antônio, agora transformada em catedral. Após 
o ritual de posse do novo bispo diocesano [...], a sociedade local ofereceu um banquete 
ao bispo no salão nobre do Clube Juiz de Fora, enquanto o povo permanecia nas ruas 
iluminadas, e a banda militar tocava no Parque Halfeld. Realizava-se na cidade a chegada 
de um príncipe da igreja, digno de todo o respeito por parte do povo e das demais 
autoridades; era essa a imagem criada pelo evento (AZZI, 2000, p. 199). 
 
Dom Justino expressava uma forte representação social na sociedade juiz-forana, que pode 
ser entendida pela “modalidade de conhecimento particular que tem por função a elaboração de 
comportamentos e a comunicação entre indivíduos” (MOSCOVICCI, , traduzem sua 
representação social para a sociedade juiz-forana, ciente de Aspectos observados na literatura local 
nos apresenta traços do episcopado de Dom Justino, que tinha como lema: “O Senhor é a minha 
fortaleza”, que os impressos “O Lampadário” e “Lar Católico”, são publicações da Igreja onde 
encontramos várias diretrizes aplicadas pelo Bispo, principalmente em relação a formação moral 
dos fiéis juiz-foranos. 
As tendências papais instruíam as ações de diversos prelados do mundo no intento que a 
Igreja estivesse mais próxima da sociedade, objetivando a recuperação de sua autoridade frente à 
secularização, como é o caso do nosso objeto de pesquisa. 
Analisamos algumas ações episcopais de Dom Justino, que logo em sua chegada, enfrentou 
 
15 
dificuldades para organizar a diocese juiz-forana. A aproximação entre Igreja e Estado, a 
reafirmação do clero, a fundação da imprensa católica na cidade, do Seminário Santo Antônio e o 
controle moral da sociedade explicitados no Sínodo Diocesano e nos Congressos Eucarísticos 
Diocesanos são alguns traços do episcopado em questão. 
Como sabemos, “o pluralismo relativiza e com isso enfraquece muitas das certezas com as 
quais os seres humanos costumam viver” (BERGER, 2017, p. 33), dessa forma, a vinda de colégios 
protestantes que inseriam uma nova educação cristã, diversa da católica, ameaçava o tradicional 
ensino confessional, onde a Academia de Comércio, coordenada por padres da Congregasse-o do 
Verbo Divino destacava na formação acadêmica. 
 
O número de protestantes em toda diocese, mais ou menos, avalia-se em uns três mil, 
existindo em Juiz de Fora o famoso colégio Granbery formando outrossim futuros 
pastores daquela seita; os espíritas que já estão passando de dois mil; há ainda lojas 
maçônicas em várias cidades do bispado (CAMURÇA, 2001, p. 98). 
 
Em termos de regulamentação moral, a Igreja Católica continuava defendendo o 
predomínio de valores tradicionais, perpassados pelas famílias cristãs, tentando impedir alterações 
mais significativas no código ético, apregoadas pelos promotores da modernidade, inclusive por 
colégios protestantes, na vida e na organização da sociedade (AZZI, 2000, p. 189). 
Como ressaltado pelo Bispo, aqui conviviam além dos protestantes, espíritas, republicanos, 
monarquistas, membros da maçonaria, fundada na cidade em 12 de março de 1870, representando 
perigo ao catolicismo com seu ideal liberal, próprio da secularização. 
 
[...] só o desconhecimento da natureza e dos fins da Maçonaria tem levado pessôas, até 
católicos, a defender e mesmo a filiar-se à “terrível seita anti-cristã” que é a Maçonaria. A 
Maçonaria é profundamente anti-cristã: Sua principal finalidade é “destruir” a Religião 
Católica, instituida por Nosso Senhor Jesus Cristo. Como póde portanto um católico 
ligar-se a uma sociedade “essencialmente má na sua constituição, nos seus fins” no 
procedimento e na execução dos seus tenebrosos planos? (O LAMPADÁRIO, nº1104, 
02/08/1947, p.2). 
 
Visando a formação de novos presbíteros para combater o avanço positivo e protestante 
liberal, foi inaugurado em 1º de março de 1926, o Seminário Santo Antônio, previsto na bula de 
criação da Diocese dois anos antes. Conforme Monsenhor Falabella (FALABELLA, 2019), o 
Seminário era a “menina dos olhos de Dom Justino”, recebendo maior empenho episcopal para 
sua fundação e manutenção. 
Destacamos em 1º de março de 1926, a primeira publicação do jornal impresso católico “O 
Lampadário”, que aliás, recebia o subtítulo “Pro Deo et Patria” (“Por Deus e pela Pátria”), reforçando 
o ideal de ordem nacional, e salientando nitidamente o fortalecimento de sua afinidade com o 
âmbito político. O veículo serviria para a coerção dos fiéis, que mesmo sendo indireta continuaria 
 
16 
sendo eficaz (DURKHEIM, 2007, p. 3). 
Já na primeira edição do impresso, verificamos o objetivo de sua circulação e sua oposição 
em relação à publicação de matérias polêmicas que, conforme sua linha editorial, “[...] arruinam e 
matam, promovendo o mal e não o bem da sociedade que desejamos acima de tudo” (O 
LAMPADÁRIO, 1926, p. 1). A publicação ainda orientava os leitores, contra a imprensa laica 
abordando a moralidade de filmese da leitura, como previa a Encíclica papal Miranda Prorsus. 
“Católicos, repeli com desprezo o mau jornal, as revistas indecorosas... os costumes exóticos que 
vão arrancando a pureza dos corações e proclamando a hegemonia da matéria plástica sobre a 
Beleza do Espírito!” (O LAMPADÁRIO nº1097, 14/06/47, p.1). 
Entre os anos de 1930 e 1950, achou-se necessário por Dom Justino a realização do 1º 
Sínodo Diocesano (1950), que focava no reforço da doutrina Católica aos padres, para aplicação à 
sociedade. O Documento Sinodal de 1950, alertava especialmente para a educação católica, a 
relação entre clérigos com o sexo feminino, e as outras denominações religiosas. Em analogia aos 
padres e as mulheres, observamos: 
 
Abstenham-se os clérigos de manter mulheres quaisquer familiaridades, ainda que 
justificadas por motivos legítimos, como ensino de canto, escrituração paroquial, arranjo 
de igrejas e outros maximamente, se sacerdotes, em se tratando de suas penitentes ou 
dirigentes espirituais. 
Quando viajarem, não conduzam senhoras em sua companhia, exceto sua mãe, suas irmãs 
reconhecidas como tais, por onde houverem de passar (apud AZZI, 2000, p. 304)4. 
 
Em relação as outras denominações, em especial às evangélicas, Dom Justino pede aos 
sacerdotes que eduquem seus fiéis para que os mesmos evitem participar de qualquer ocasião em 
que estejam os protestantes. 
Os pastores da alma alertem os fiéis e os imunizem contra a atividade aberta ou disfarçada 
dos agentes das seitas protestantes disseminadas nesta Diocese, maximamente dos 
metodistas, dos batistas, dos adventistas, dos testemunhas de Jeová, da Assembléia de 
Deus e da igreja nacional brasileira, os quais dispõem ampla e insidiosa propaganda em 
todo o país5 (AZZI, 2000, p. 304). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 Sínodo Diocesano – 1950 – Art. 21-24. 
5 Sínodo Diocesano – 1950 – Art. 178-179.
 
17 
Já a realização dos dois Congressos Eucarísticos Diocesanos (1939 e 1949), objetivavam a 
participação massiva dos fiéis, “a fim de promover medidas vantajosas à vida religiosa de nossa 
amada diocese” (AZZI, 2000), onde observamos a concepção Eucarística como principal “fato” 
da vida religiosa social. 
 
É fato social toda maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo 
uma coerção exterior; ou, ainda, toda maneira de fazer que é geral na extensão de uma 
sociedade dada e, ao mesmo tempo, possui uma existência própria, independente de suas 
manifestações individuais (DURKHEIM, 2007, p. 13). 
 
A realização dos Congressos Eucarísticos Diocesanos, mobilizou milhares de fiéis da 
cidade, demonstrando mais uma vez a autoridade e penetração das convocações episcopais feitas 
por Dom Justino. O primeiro Congresso foi realizado entre os dias 14 e 18 de junho de 1939. As 
solenidades públicas aconteceram na praça de desportos cedida pelo Alto Comando da Quarta 
Região Militar, contígua à praça Doutor Antônio Carlos. “A celebração do congresso devia colocar 
m evidência para a população e as autoridades de Juiz de Fora a presença e a força da instituição 
católica dentro da vida social” (AZZI, 2000, p. 310). 
Verificamos na obra de Oliveira (1978, p.106), o trecho da carta pastoral de Dom Justino 
que apresenta a logomarca e o convite à sociedade juiz-forana para o 1º Congresso Eucarístico 
Diocesano, conforme Dom Justino se refere, evento “eminentemente social”. 
 
No dia 1º de maio em que todo mundo comemora a festa do trabalho, tivemos 
o prazer de falar da participação de todos os trabalhadores nesta assembléia 
eminentemente social, que é o Congresso Eucarístico. O Congresso Eucarístico vai 
realizar-se na cidade do trabalho. Juiz de Fora, o orgulho de possuir este título: ‘cidade 
do trabalho e da instrução’ 
Contemplemos de relance o cartaz de propaganda do Congresso: As grandes 
chaminés das nossas fábricas significam a vida laboriosa de nossa cidade. A vida de 
trabalho que glorifica nossa gente. Uma cúpula a direita representa o edifício da 
Prefeitura, o governo que preside os destinos da vida cívica deste povo ardoroso e ativo. 
Ao lado, um pouco acima, os vultos e silhuetas das torres de duas igrejas, 
Catedral e Glória, simbolizando a vida religiosa, a vida espiritual de Juiz de Fora. 
No alto da montanha, o monumento de fé, de esperança e de amor do povo 
desta terra a Cristo Redentor. 
A estatua de Cristo, no pedestal magnifico da montanha sobrepaira a cidade do 
trabalho e da vida. 
Ao alto, sobre um cálice em ouro, a hóstia branca, o sol eucarístico, o mistério 
da fé, ilumina toda cidade, enchendo-a de luz e de vida. 
Eis a síntese do Congresso Eucarístico Diocesano de Juiz de Fora. 
Eis um contexto mais sintético, mais vital da significação desse grande certame 
de fé (OLIVEIRA, 1978, p.106-108, grifo nosso). 
 
Tomando como base esses eventos, notamos que a pertença do indivíduo junto à religião 
no início do século XX (DURKHEIM, 2007), intentava ainda que subjetivamente, reconhecimento 
social a partir da participação em celebrações litúrgicas ou até mesmo a partir de doações à Igreja. 
 
18 
 
[...] uma piedade exemplar fazia chover sobre todos as bênçãos da Igreja e os juros das 
apólices. Deste modo, tocar num só era por en branle e a favor, o executivo, o legislativo, 
o judiciário, os correligionários, os compadres, os afilhados, os primos de primos dos 
primos, os contraparentes, Guy de Fongaland, Santa Teresinha do Menino Jesus, nossa 
Senhora do perpétuo Socorro, a dos Navegantes, a dos aflitos, a de Lourdes, o Padre, O 
Filho, e o Espirito Santo... desses degraus – não precisava esforço para dominar 
politicamente [...] (MUSSE, 2008, p. 87). 
 
Dez anos após o Primeiro Congresso, no dia 27 de maio de 1949, por ocasião das 
solenidades do centenário de Juiz de Fora, realizou-se o Segundo Congresso Eucarístico que se 
encerrou no dia 31, data de comemoração do aniversário da cidade. Além da imprensa católica, a 
imprensa laica divulgou a grande manifestação de católicos no Congresso. 
 
Dentre as numerosas solenidades com que se comemoram o nosso centenário, 
não se podem ter passado desapercebidas as solenidades do segundo Congresso 
Eucarístico Diocesano, um espetáculo de fé cristã, que marcou indelevelmente o 
importante papel desempenhado pela Igreja Católica no nosso meio (DIÁRIO 
MERCANTIL, 1950). 
 
A imprensa noticiou que Dom Justino José de Sant’Ana morreu em 09 de julho de 1958 
vítima de um colapso cardíaco, três meses a antes do falecimento do Papa Pio XII. Entretanto, 
Monsenhor Falabella (2019), acredita que o Bispo morreu em decorrência de um câncer intestinal, 
que na época não era noticiado e não provia de tratamento “avançado” como nos dias de hoje. O 
corpo de dom Justino encontra-se enterrado em um mausoléu na Catedral Metropolitana de Juiz 
de Fora. 
 
Conclusão 
 
Para Monsenhor Falabella (2019) o episcopado de Dom Justino significou para cidade um 
avanço do catolicismo e sua presença junto a sociedade local, através da fundação do Seminário, 
da comunicação social através da imprensa e da sua presença como Bispo. “Ele foi um Bispo 
muito presente, muito presente... Ele não passava um domingo sem ir a uma paróquia. Não ficava 
só na Catedral não”. Eu diria, parece que ele antecedeu Papa Francisco a igreja em saída 
(FALABELLA, 2019). 
Se nos basearmos apenas na abordagem de Durkheim sob a religião como fato 
eminentemente social, veremos que nossa análise pode cair no reducionismo, por isso, sem nos 
esgotarmos no tema, apresentamos apenas uma das possibilidades de análise do episcopado de 
Dom Justino, que assim como outros no país foi de fundamental importância para a reaproximação 
da Igreja com a sociedade. 
Tentamos demonstrar que Juiz de Fora, mesmo atraída por ideias cosmopolitas, sempre 
 
19 
manteve sua mentalidade conservadora, permeada por traços do catolicismo, que até os dias atuais 
mantem raízes na cidade e muitas vezes dificulta seu crescimento. 
Inicialmentepropomos utilizar o termo “restauração”, para qualificar o primeiro bispado 
da cidade, entretanto, vimos no meio de nossa pesquisa que Dom Justino seria um Bispo entre a o 
período de Romanização e Restauração6, já que carregava muito das ideias romanizadoras. 
Achamos que nossa pesquisa nos coloca em diálogo com outras análises, para que talvez, mais 
adiante se possa chegar a um consenso sobre a real influência da Igreja Católica em Juiz de Fora na 
primeira metade do século XX. 
 
Referências 
Livro 
 
AZZI, Riolando. Sob o báculo episcopal: A Igreja católica em Juiz de Fora (1850-1950). Juiz de 
Fora, Centro da Memória da Igreja de Juiz de Fora, 2000. 
 
BEOZZO, José Oscar. Pe. Júlio Maria. In: História da Teologia na América Latina. São 
Paulo, Ed. Paulinas, 1981, p. 118. 
 
BERGER, Peter. O dossel sagrado. elementos para uma teoria sociológica da religião. São Paulo: 
Paulus, 1985. 
 
 . Os múltiplos altares da modernidade. Rumo a um paradigma da religião numa época 
pluralista. Petrópolis: Vozes, 2017. 
 
BONHOEFFER, Dietrich. Resistência e submissão, cartas e anotações escritas na prisão. São 
Leopoldo: Sinodal, EST, 2003. 
 
DURKHEIM, Emile. As formas elementares de vida religiosa. São Paulo, Paulinas, 1989. 
 
 . As regras do método sociológico. 3. ed. Traduzido por Paulo Neves. São Paulo: 
Martin Fontes, 2007. 
ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano. São Paulo: Martins Fontes Editora Ltda., 2008. 
MAUSS, Marcel. Sociologia e antropologia. São Pulo: Cosac Naify, 2003 
OLIVEIRA, F. Max de. Sinais da igreja no Juiz de Fora. Juiz de Fora: Esdeva, 1978 Vol II. 
 
6 Movimento pós Romanização pautado pela intensa presença da Igreja junto ao Estado e à sociedade para a 
reinserção do tradicionalismo católico. 
 
20 
ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano. São Paulo: Martins Fontes Editora Ltda., 2008. 
MAUSS, Marcel. Sociologia e antropologia. São Pulo: Cosac Naify, 2003 
OLIVEIRA, F. Max de. Sinais da igreja no Juiz de Fora. Juiz de Fora: Esdeva, 1978 Vol II. 
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ROBINSON, John A. T. Um Deus diferente, HonesttoGod. Lisboa: Livraria Morais Editora, 1967. 
 
YAZBECK, Ivanir. (ed.). Eu me lembro: 350 fatos, curiosidades e personagens que marcaram 
as últimas décadas da História de Juiz de Fora, extraídos da memória de 28 cidadãos. Juiz de 
Fora: Templo, 2005. 
 
YAZBECK, Lola. As origens da Universidade de Juiz de Fora. Juiz de Fora: Editora UFJF, 1999. 
 
ZILLES, Urbano. A modernidade e a igreja. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1993. 
Artigo: 
 
CAMURÇA, Marcelo Ayres. A carta pastoral de Dom Justino e o “Juramento de fidelidade à Igreja”: 
controle do rebanho face às ameaças do “lobo voraz” espírita! In: Miranda, Beatriz V. Dias & 
PEREIRA, Mabel Salgado. Memórias eclesiásticas: Documentos Comentados. Juiz de Fora: centro de 
Memória de Igreja de Juiz de Fora. DIÁRIO Mercantil, Ano XXXIX, nº 11270, 28 de maio de 1950. 
 
MOSCOVI, S. A representação social: um conceito perdido. In: MOSCOVICI, S. A Representação 
Social da Psicanálise. Rio Janeiro: Zahar Editora, 1978 
Dissertação 
Documentos eletrônicos: 
 
DNDFM . Pode um católico ser maçom? NÃO! O Lampadário, Juiz de Fora, n. 1104, p. 2, 2 ago. 
1947. Arquivo Arquidiocesano de Juiz de Fora. 
 
PEREIRA, Mabel Salgado. Romanização e reforma católica ultramontana da igreja de Juiz de Fora: projeto 
e limites (1890-1924). Disponível em: <http://livros01.livrosgratis.com.br/cp000142.pdf>. 
Acesso em 10 Out. 2018. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
http://livros01.livrosgratis.com.br/cp000142.pdf
 
21 
 
O ESTADO EM LEÃO XIII 
 
Estela Maria Frota da Costa 
estela.mfc@puc-campinas.edu.br 
 
Resumo 
Leão (XIII) e seu pontificado nos anos finais do século (XIX), até os dias de hoje, é fortemente associado 
ao pensamento social da Igreja Católica, porém as encíclicas políticas abriram caminho para a solução do 
problema representado pelas condições precárias dos operários. Em meio à secularização, as ideias 
leoninas repensaram o lugar da Igreja na sociedade, propondo a conciliação de tendências da época com 
o projeto de modernidade católico, conservando sempre seus principais aspectos doutrinários. Por meio 
da Análise de Discurso Religioso e utilizando a História Religiosa como referencial teórico, este trabalho 
tem por objetivo demonstrar como Leão (XIII) articula, de maneira inovadora, o pensamento católico 
com a realidade circundante, contrariando a formulação weberiana sobre a sociedade secularizada, onde 
a religião, ao deixar de ser a instância ordenadora do social, restringir-se-ia ao âmbito privado. Observa-
se de que forma a doutrina política de Leão (XIII), registrada nas encíclicas Immortale Dei, Sapienciae 
Christianae e Graves de Communi, expressa a leitura da Igreja sobre a sociedade moderna ocidental, unindo 
a esta princípios doutrinários considerados irrecusáveis. Como resultado, espera-se contribuir com a 
compreensão de que a Igreja Católica, fazendo uso dos pronunciamentos, procurou ser agente da 
secularização. 
Palavras-chave: Igreja Católica. Secularização. Leão XIII. 
 
Introdução 
Em meio aos diagnósticos sobre o tumultuado século XIX, a leitura do Papa Leão XIII emerge 
como uma nova luz a respeito da sociedade e sua relação com a religião. Detentor do comando da 
instituição considerada por muitos “contrária aos interesses da sociedade civil" (LEÃO XIII, 2005, p. 
237), o Sumo Pontífice, sem proferir anátemas em suas encíclicas, articula o pensamento católico às 
principais demandas da época, tais como a condição dos operários, de forma a elaborar "uma 
reconfiguração do religioso na modernidade, que conduz a novos arranjos entre Estado, religião e 
sociedade” (RANQUETAT JÚNIOR, 2012, p. 24). Portanto, ao refletir sobre o Estado enquanto 
instituição constituída por cidadãos, muitos destes professando a fé católica, Leão XIII estabelece as 
bases segundo as quais as diferentes esferas que constituem a sociedade trabalharão, cada qual segundo 
sua tarefa e com vistas ao bem-comum. 
As encíclicas Immortale Dei, Sapienciae Christianae e Graves de Communi, a serem trabalhadas nas 
próximas páginas, colocam novas questões acerca da origem, do papel, das obrigações e finalidades do 
Estado, como também os mecanismos de articulação entre as instituições que constituem a sociedade 
com vistas à solução dos problemas que Leão XIII identifica como de frutos da modernidade. 
 
 Mestranda no Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica de 
Campinas. 
 
22 
Esta comunicação insere-se nas pesquisas realizadas no interior do Programa de Pós-Graduação 
em Ciências da Religião da PUC Campinas e constitui um dos capítulos da dissertação que está em 
desenvolvimento a respeito da concepção eclesial que emerge na encíclica Rerum Novarum, documento de 
maior repercussão do pontificado Leonino. Para facilitar a exposição dos resultados, dividimos essa 
comunicação em três partes que, embora sejam correlatos aos subtítulos dos documentos que tomamos 
como base, são assuntos debatidos nos três documentos. São eles: Estado: origem, obrigações e 
finalidade; Os deveres dos cidadãos cristãos; e Uma possível preferência pela democracia? 
 
Estado: origem, obrigações e finalidade 
 
Leão XIII assume a cátedra petrina em 1878, após a morte de Pio IX, considerado uma figura 
polêmica devido à série de condenações1 que proferiu contra o mundo moderno, causando um crescente 
isolamento da Igreja Católica. O clima de hostilidade que levou a Igreja a se afastar do mundo moderno 
é considerado por esta fruto do “espírito de XVI” (LEÃO XIII, 2005), século que assistiu a ascensão do 
protestantismo e do humanismo renascentista e o início dos questionamentos ao catolicismo enquanto 
detentor dos princípios norteadores da sociedade. Por esta razão, as dificuldades que a sociedade do 
século XIX enfrentava sãoassociadas pelos pontífices ao desvio das normas, atitudes e valores, os quais 
a Igreja Católica é “a verdadeira mestra da virtude e a guardiã dos costumes” (LEÃO XIII, 2005, p. 254). 
 Embora grande parte da bibliografia sobre o pensamento leonino ressalte os avanços das 
tentativas de conciliação com a modernidade no campo do pensamento social, concordamos com 
Ildefonso Camacho que, em relação à doutrina política, “aparece de forma mais dramática, naqueles 
tempos, a radical incompatibilidade da Igreja com a sociedade moderna” (CAMACHO, 1995, p. 76). 
Desta forma, Leão XIII, em seus pronunciamentos, opõe duas formas de Estado: a em voga neste 
contexto, que denomina “Direito Novo”, e a concepção Cristã elaborada segundo a doutrina Católica. 
Cabe ressaltar quatro pontos essenciais sob os quais a grande indústria moderna se desenvolveu2: 
o amoralismo econômico, a livre concorrência, o absenteísmo estatal e o individualismo (MARTINA, 
2005, p. 29), os quais além de isentar a economia da interferência do Estado, pauta as relações econômicas 
“por outros valores isentos de matiz teológico” (RANQUETAT JÚNIOR, 2012, p. 17). 
O Estado moderno exaltava o fenômeno sociocultural da secularização, transpondo para o plano 
político a desvinculação dos valores religiosos, a chamada “laicidade”; desta forma, o Estado “caracteriza-
se fundamentalmente pela autonomia do político frente ao religioso, e pela ideia de que a soberania e a 
legitimidade do poder derivam do povo e não do sagrado” (BLANCARTE, apud, RANQUETAT 
JÚNIOR, Op. Cit., p. 21). Nascido dos questionamentos ao poder absoluto e “divino” dos reis, o Estado 
 
1 80 condenações estão reunidas no anexo Syllabus, editado juntamente com a Encíclica Quanta Cura, em 08 de dezembro de 
1864. 
2 Segundo as doutrinas econômicas do século XVIII, elaboradas por Adam Smith e David Ricardo. 
 
23 
pós-Revolução Francesa, criado pelos homens e para os homens, busca a descentralização política, de 
forma a coibir privilégios, sejam eles de credo, origem ou, a princípio, renda. Porém, lembra-nos 
Ranquetat que a ideia de um Estado imparcial, tal como os movimentos revolucionários buscavam, não 
corresponde à realidade, pois pretender assumir a postura neutra em relação a religião é colocar em prática 
uma visão de mundo, que carrega consigo outros valores em substituição aos princípios religiosos, a fim 
de “forjar um ‘homem novo’, o cidadão, imbuído de virtudes cívicas” (RANQUETAT JÚNIOR, Ibidem.). 
Em contraposição, Leão XIII apresenta não só a origem, mas a razão de existir do Estado; no 
parágrafo 7 da Immortale Dei, apresenta o homem constituído enquanto “ser social” pela Providência, 
destinado a “se unir aos seus semelhantes, numa sociedade tanto doméstica como civil única capaz de 
fornecer o que é preciso para a perfeição da existência.” (LEÃO XIII, 2005, p. 239). Esta sociedade, no entanto, 
não é isenta de hierarquia; a regência exercida por um só governante, por sua vez, é derivada de Deus “o 
verdadeiro e soberano Senhor das coisas; todas, quaisquer sejam, devem necessariamente ser-lhes sujeitas 
e obedecer-lhes; de tal sorte que todo aquele que tem o direito de governar só o recebe de Deus. Chefe 
supremo de todos. “Todo poder vem de Deus.” [Rm 13,1] (LEÃO XIII, Ibidem) 
Pode-se dizer que não apenas o Estado reveste-se de um caráter divino, mas a própria autoridade 
possui “algum reflexo e semelhança da majestade divina” (LEÃO XIII, 2005, p. 387) e por esta razão e 
natureza ambos, segundo o Sumo Pontífice, estão submetidos à Deus, ao qual devem oferecer uma série 
de honras, cujo respeito à religião “verdadeira” corresponde ao maior dos tributos. Porém, outra razão 
que leva Leão XIII a defender a reverência à religião é justamente o papel que a sociedade moderna 
atribui a esta, considerando-a igual ou mesmo inferior às outras esferas sociais. Neste ponto da doutrina 
católica sobre o Estado, emerge um dos principais aspectos dos pontificados do século XIX: a defesa da 
Igreja enquanto Sociedade Perfeita, dotada de privilégios, distinta e diferente da sociedade civil devido aos 
fins sobrenaturais e espirituais das quais é encarregada; “assim o seu poder prevalece sobre todos os 
outros poderes, e de modo algum pode ser inferior ou sujeita ao poder civil” (LEÃO XIII, 2005, p. 243). 
Desta forma, devido ao crescente questionamento dos valores religiosos enquanto fundamentos 
das esferas sociais e a procura de outros ideais, como a tríade liberdade, igualdade e fraternidade; tornados 
“novos dogmas” (RANQUETAR JÚNIOR, 2012, p. 29), a Igreja Católica reivindica sua autoridade em 
matéria espiritual, a qual, “não é sem uma disposição particular da Providência de Deus que essa 
autoridade foi munida de um principado civil, como da melhor salvaguarda da sua independência” 
(LEÃO XIII, 2005, p. 244). A defesa das posses territoriais constitui um dos temas recorrentes nos 
debates entre os Estados e a Igreja, desde as conquistas napoleônicas até os anos finais do século XIX, 
quando, após a unificação italiana, a cidade de Roma torna-se capital do novo país. 
Porém, cabe ressaltar que ao mesmo tempo em que advoga pela primazia do domínio da Igreja 
em questões religiosas, Leão XIII opera a diferenciação das esferas civis da religiosa. Utilizando 
referências bíblicas, considera que: 
 
 
24 
Deus dividiu, pois, o governo do gênero humano entre dois poderes: o poder eclesiástico e o 
poder civil; o primeiro para as coisas divinas, e o segundo para as coisas humanas. Cada um deles 
no seu gênero é soberano; cada um está encerrado em limites perfeitamente determinados, e 
traçados em conformidade com sua natureza e com seu fim especial. Há, pois, como que uma 
esfera circunscrita em que cada um exerce sua ação por “direito próprio”. Todavia, exercendo-
se sua autoridade sobre os mesmos súditos, pode suceder que uma e a mesma coisa, posto que 
com um título diferente, mas uma e mesma coisa, esteja sujeita à jurisdição e ao juízo de um e 
outro poder. Era, pois, digno da sábia Providência de Deus, que os estabeleceu a ambos, traçar-
lhes o caminho e regular suas relações. “os poderes que existem foram dispostos por Deus” [Rm 
13,1] (LEÃO XIII, Ibidem). 
 
Tendo em vista o pensamento leonino sobre as esferas sociais e a tarefa da Igreja, retomemos, 
pois, as teorias a respeito da secularização, influentes nas Ciências Sociais, as quais consideram que dado 
a perda da função axial da religião na modernidade, o destino para os exercícios espirituais seria o âmbito 
privado da sociedade. Carregadas de um viés normativo, essas teorias vem sendo problematizadas quando 
contrapostas à realidade, pois: 
 
se é verdade que a religião perdeu sua função cultural como eixo integrador da vida social como 
um todo, tal ruptura não fez que a religião rendesse necessariamente e nos mais variados 
contextos e momentos históricos, à periferia na vida social. Dados empíricos mostram 
fartamente a presença das religiões na esfera pública, onde muitas vezes tem conseguido impor 
suas considerações normativas sobre vários itens das agendas econômicas e Políticas das nações 
(MONTERO, 2003, p. 44). 
 
De fato, se considerarmos a secularização como um fenômeno que relegou a religião ao âmbito 
privado, isentando-a de influência enquanto esfera constitutiva da sociedade, corremos o risco de não só 
efetuar uma leitura errônea da história dos últimos séculos, como também da realidade que nos circunda, 
enquanto sociedade moderna ocidental, ignorando a relação díade entre o religioso e o secular “que estão 
em constante tensão e interrelação” (TAYLOR, apud, RANQUETAT JÚNIOR, p. 26). Leão XIII, não 
só admite a plenitude dos poderes de cada uma das esferas, como aconselha que: 
 
Nas questões do direito misto, é plenamente conforme à natureza, bem como aos desígnios de 
Deus, não separar um poder do outro, e ainda menos pô-los em luta, mas sim estabelecer entreeles essa concórdia que está em harmonia com os fins especiais que deram origem a ambas as 
sociedades (LEÃO XIII, 2005, p. 255s). 
 
Entre os pontos que competem tanto à Igreja quanto ao Estado, estão os cidadãos que se 
denominam católicos; a maneira de agir destes em meio à sociedade moderna é o assunto que veremos 
neste próximo item. 
Os deveres dos cidadãos – cristãos 
 
É de conhecimento que as relações entre a Igreja Católica e o Estado italiano ficaram estremecidas 
desde os movimentos de unificação nacional, resultando no chamado Non Expedit, a proibição aos fiéis 
de participarem das eleições políticas (ZAGHENI, 1999, p. 135). Este caso, no entanto, representa a 
exceção no que diz respeito à participação dos católicos nos negócios políticos; devido às questões graves 
 
25 
e não menos justas, tais como as disputas territoriais entre a recém unificada Itália e o papado, exercer 
funções em Estados cismáticos torna-se desaconselhável, segundo o Magistério da Igreja. Porém, de 
maneira geral, o envolvimento dos fiéis na máquina pública, no que tange à doutrina que professam, 
reveste-se de um dever, pois “não querer tomar parte alguma nos negócios públicos seria tão repreensível 
como não querer prestar auxílio algum ao bem comum” (LEÃO XIII, Op. Cit., p. 260). 
É vista com bons olhos a obediência à autoridade civil, também relacionada a origem divina do 
poder de mando na sociedade. Considerando que ambas as esferas sociais convergem para o bem comum, 
sem que haja concorrência entre as obrigações que o cidadão/cristão deve desempenhar, Leão relembra 
que: 
[...] todo o bom cidadão esteja pronto a arrostar até a morte pela sua pátria, com muito maior 
razão devem os cristãos animar-se de iguais sentimentos a respeito da Igreja, que é a cidade santa 
de Deus vivo. (...) Amemos, pois, e muito a nossa pátria terrena que nos deu a vida mortal: mas 
amemos ainda mais a Igreja à qual somos devedores da vida imortal da alma, porque é justo 
preferir os bens da alma aos do corpo. (...) O amor sobrenatural da Igreja, e o amor da pátria são 
dois afetos que procedem do mesmo princípio eterno, de ambos é o mesmo Deus autor e causa, 
e por isso nunca poderá um ir de encontro ao outro (LEÃO XIII, 2005, p. 386). 
 
Portanto, o católico é visto como portador de uma dupla função, de fiel e de cidadão, que deve 
ser colocada em prática “na conjuntura concreta em que tem de viver: uma sociedade que se organiza 
conforme critérios diferentes daqueles manifestados pela doutrina da Igreja” (CAMACHO, 1995, p. 86). 
Desta forma, para Leão XIII a solução dos problemas que a sociedade apresenta, devido ao 
abandono dos valores cristãos, também perpassa o papel do cristão e sua contribuição na sociedade; este 
é um dos diferenciais do pontífice em relação a seus antecessores: a ideia de propor ações concretas e 
conjuntas entre as partes que compõem a sociedade. O fiel funciona como um ponto de articulação com 
o poder civil e o poder eclesiástico. 
Para isso cabe a união entre os católicos na defesa da fé e praticando ações além dos limites da 
religião para o auxílio do povo, na mesma linha proposta pela Rerum Novarum, pois, embora as doutrinas 
laicistas afirmassem a independência do plano religioso da vida social, os problemas do século XIX não 
se restringem ao plano econômico, mas a questão “é principalmente moral e religiosa, e, por este mesmo 
motivo, deve ser sobretudo resolvida em conformidade com as leis da moral e da religião” (LEÃO XIII, 
2005, p. 767). 
Esta unidade de ação dos católicos foi por muito tempo chamada “democracia cristã”, nome que 
muitas vezes associou a beneficência cristã à ação na esfera política, ou a preferência por esta forma de 
governo; no próximo item, veremos com mais atenção a encíclica Graves de Communi, cuja proposta é 
responder ao “sentido ambíguo e perigoso” (LEÃO XIII, 2005, p. 763) que o termo suscita. 
 
Uma possível preferência pela democracia? 
Para Leão XIII, o problema que o termo “democracia” levanta, refere-se tanto a restrição ao 
plano político das medidas desenvolvidas pelos católicos, quanto à possível defesa ao governo 
 
26 
comandado pelo povo. Lembremos aqui o que o pontífice ressalta sobre as diversas formas de gestão 
governamental e a opção indicada pelo catolicismo: no parágrafo 56 da Immortale Dei, o Papa afirma que 
os princípios apontados pela Igreja a respeito da origem, obrigações e finalidade do Estado “não 
reprovam em si nenhuma das diferentes formas de governo, desde que estas nada contenham que 
repugne à doutrina católica, e, quando sendo empregadas com sabedoria e justiça, possam garantir a 
prosperidade pública” (LEÃO XIII, 2005, p. 256). 
 Este pensamento é retomado no número 41 da Sapienciae Christianae, onde devido à natureza da 
instituição católica enquanto “sociedade perfeita”, ela se abstêm a seguir partidos políticos ou de apontar 
determinada forma de governo, “antes aprova todos os diversos sistemas políticos, contanto que 
respeitem a religião e a moral cristã”. (LEÃO XIII, Op. Cit., p. 398). Importa, pois, que devido a sua 
origem divina, o Estado e suas autoridades tenham em Deus o exemplo de regência, seja pela justiça que 
incorpora a suas ações em prol a todos, seja no cuidado característico um Pai que busca o bem comum 
(LEÃO XIII, Op. Cit., p. 239). 
Outra questão a ser levada em conta diz respeito ao uso de “democracia” enquanto poder que 
emerge do povo e a concepção que a Igreja Católica tinha em relação a origem da autoridade. 
Amplamente defendido pelo “direito novo”, a noção de soberania popular, propunha, na visão do 
pontífice, a igualdade entre todos os homens e liberdade absoluta, onde a vontade do povo e seu juízo 
ilusório governam independente da autoridade divina (LEÃO XIII, 2005). Interessante notar que 
enquanto o pontífice afirma a incapacidade do povo em governar segundo o próprio direito natural, 
considerando-o propício a distúrbios e guiado por devaneios, o secularismo associa a religião a “um 
assunto e uma prática ligada às emoções e às paixões” (RANQUETAT JUNIOR, 2012, p. 25), sendo 
inapropriada para ocupar o espaço público por “apresentar-se como uma força passional, destrutiva e 
desestabilizadora, originados de conflitos e violência” (ASSAD, apud, RANQUETAT JUNIOR, Ibidem). 
Outro propósito para o esclarecimento do termo diz respeito à comparação com a “democracia 
social”, encabeçada pelos socialistas; esta crítica acompanha o esforço da Igreja Católica de combate ao 
socialismo, presente em diversas encíclicas leoninas (tanto voltadas para a doutrina política quando 
social), principalmente na Rerum Novarum; nesta encíclica, a qual estamos desenvolvendo nossas 
pesquisas, torna-se claro, através das orientações do pontífice para a ação dos católicos, a diferenciação 
entre a doutrina cristã e o socialismo como também a ação conjunta das diversas esferas da sociedade na 
preservação do bem comum. 
 
Conclusão 
Após esta exposição do pensamento leonino a respeito do Estado, inserindo-o nas condições que 
o século XIX assiste, concluímos, juntamente com Camacho que a leitura de Leão XIII apesar de 
condicionada pelo passado, apresenta caminhos realistas para o bom convívio social, entre eles o 
 
27 
princípio da tolerância religiosa por parte dos governantes, no qual o pontífice não condena “os chefes 
de Estado que por quaisquer motivos justos ou de conseguir o bem ou de evitar o mal, toleram na prática 
que existam diversos cultos no Estado” (LEÃO XIII, Op. Cit., p.256). 
Com isso, Leão advoga um Estado em favor de todos, buscando o equilíbrio entre as ações: não 
invade outros âmbitos da vida, mas não se omite; não absorve outras instituições, ao contrário, submete-
as ao bem comum, da mesma forma como afirma que o Estado não deve ser absorvido por nenhuma 
instituição. 
A audácia de Leão rompeu a rigidez dos últimos pontífices, construindo pontos de articulação 
entre as esferas dasociedade que permitiram “à Igreja levar adiante sua tarefa, em benefício de toda a 
sociedade” (CAMACHO, 1995, p. 75). 
Juntamente com a Rerum Novarum, as encíclicas políticas contribuem para “a tomada de 
consciência por parte da Igreja, não de uma missão nova a respeito do mundo, mas de uma nova maneira 
de desempenhar sua missão eterna” (BIGO, 1969, p 58), em um mundo em constante transformação. 
 
Referências 
BIGO, Pierre. A Doutrina Social da Igreja. São Paulo: Loyola, 1969. 
 
CAMACHO, Ildefonso. Doutrina Social da Igreja: abordagem histórica. São Paulo: Loyola, 1995. 
 
LEÃO XIII. Papa. Encíclica Immortale Dei: A constituição cristã dos Estados. São Paulo: Paulus, 2005. 
 
______. Encíclica Graves de Communi: A democracia cristã. São Paulo: Paulus, 2005. 
 
______. Encíclica Sapientiae Christianae: Os deveres fundamentais dos cidadãos cristãos. São Paulo: 
Paulus, 2005. 
 
MARTINA, Giácomo. História da Igreja- de Lutero a nossos dias. Vol 4: a era contemporânea. São Paulo: 
Loyola, 2005. 
 
MONTERO, Paula. Max Weber e os dilemas da secularização. Revista Novos Estudos CEBRAP, n. 65, março 
(2003), pp. 34- 44. 
 
RANQUETAT JUNIOR, César Alberto. Laicidade à Brasileira: um estudo sobre a controvérsia em torno da 
presença de símbolos religiosos em espaços públicos. 2012. 310 f. Tese (Doutorado em Antropologia Social). 
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 
 
ZAGHENI, Guido. A Idade Moderna: curso de história da Igreja. São Paulo: Paulinas, 1999. 
 
 
 
 
 
 
 
 
28 
APARIÇÃO DA SANTA E ADORAÇÃO EM NATIVIDADE (RJ) 
 
Márcia Aparecida de Souza* 
 
Henrique Cunha Junior** 
 
Resumo 
Este estudo apresenta um fenômeno religioso que aconteceu na cidade de Natividade, interior do Estado 
do Rio de Janeiro, entre os anos de 1967 a 1978. O prodígio ocorrido foram aparições de uma santa ao 
médico Dr. Fausto de Faria, na localidade atualmente denominada de Santuário das Aparições de Nossa 
Senhora de Natividade. No local há forte peregrinação, entre outras manifestações de religiosidade, e no 
dia 12 de julho de todos os anos é realizada uma festa religiosa, que a princípio tinha de fato somente 
caráter religioso. Atualmente, em meio ao evento religioso também ocorre a comercialização de diversos 
produtos, alterando de certa forma o sentido da festa religiosa. Além do dia 12 de julho, quando o fluxo 
é mais intenso, durante todo o ano, principalmente aos finais de semana, o santuário recebe visitas 
turísticas. A reflexão sobre esse fenômeno religioso é importante especialmente por possibilizar pensar 
sobre como, em um período em que se vê a diminuição da importância das peregrinações, devido ao 
acentuado crescimento das igrejas pentecostais e das formas eletrônicas de culto no Brasil, cresce o 
número de romeiros em Natividade (RJ), estabelecendo o município como referência no cenário religioso 
e turístico da região. 
Palavras-chave: Religiosidade popular. Natividade (RJ). Santuário das Aparições de Nossa Senhora de 
Natividade. 
 
Introdução 
Romaria e festas de romeiros foram fenômenos muito fortes no século passado do cristianismo 
das populações brasileiras, tem-se como grandes exemplos desses fluxos as festividades relacionadas a 
Padre Cícero no Ceará, Círio de Nazaré no Pará e Nossa Senhora da Aparecida em São Paulo. São 
fenômenos que apresentam novas localidades e formas de realização com grande força do comércio e de 
formação de feiras de produtos diversos e muitos não relacionados com os atos de fé cristã. 
Existem os paradigmas do século da informação, da globalização e do predomínio do 
conhecimento científico que funcionariam em tese como contra cultura da importância da cultura 
religiosa e dos fenômenos de grandes fluxos religiosos como peregrinações e romarias e atos de fé 
coletivos a lugares considerados santos. Era de se esperar um arrefecimento dos fenômenos religiosos e 
de um modo geral não é o que se observa. Também existem forças dentro da igreja católica que procuram 
uma romanização da igreja e consequentemente menor influência dos fatos locais de fluxos de 
peregrinações e concentrações de fluxos de fiéis pelo mundo. 
Tivemos em meados do século passado e início do presente, um acentuado crescimento das 
igrejas pentecostais e das formas eletrônicas de culto no Brasil. Também como as formas de 
 
* Mestre em Ensino. Professora da Secretaria Estadual de Educação (SEEDUC 
/RJ).Email:profmarciasouza2016@gmail.com 
** Doutor em Engenharia Elétrica. Professor titular da Universidade Federal do Ceará (UFC). 
Email:racismoantinegro@gmail.com 
 
29 
posicionamento da maioria evangélica são contra as adorações em torno de imagens e locais de 
referências a Santas e Santos católicos era de se esperar uma diminuição ou mesmo o desaparecimento 
das romarias e agrupamentos de romeiros. O aparecimento de Nossa Senhora em Natividade-RJ e o 
fluxo de romeiros que frequentam o local contradiz essa hipótese. 
Num período com evidências de declínio da importância das peregrinações é que surge os 
aparecimentos e o crescimento romeiro em Natividade-RJ. É fato regional, portanto ainda de pouca 
divulgação juntos às escalas maiores de profissões de fé, de turismo e de comércio. Também é um 
agravante o fato das aparições terem ocorrido em localidade pequena, município de 15 mil habitantes, 
sem poder de influência no estado em termos de promoção das suas festividades. No entanto é cada ano 
maior o número de visitantes, há um crescente fluxo de turistas, devotos e fiéis naquela localidade e como 
essa realidade pouco aparece registrada na literatura sobre religião, justifica o registro e estudo 
apresentado nesse artigo. 
 
Dados da cidade 
Para contextualizar Natividade é importante destacar que o município está localizado no Noroeste 
Fluminense do Estado do Rio de Janeiro. Possui uma área de 387 km², situado a uma altitude de 182 
metros, abriga uma população de 15.092 habitantes e é formado por três distritos: Natividade (sede), 
Ourânia e Bom Jesus do Querendo (IBGE, 2010). E faz limite com os Estados de Minas Gerais e Espírito 
Santo. O município já teve vários nomes, o primeiro foi Nossa Senhora da Natividade, depois passou a 
denominar-se Natividade do Carangola e a partir de 1938, Natividade. 
É um município no qual é visível a forte presença da religiosidade, principalmente do Catolicismo, 
seja pelo números de igrejas, pelos nomes de bairros, por perpetuar a tradição religiosa católica ou pela 
permanência de práticas tradicionais como romarias, procissões e festas religiosas. 
A população natividadense, em sua maioria se declara católica, (constituindo 73%), enquanto que o 
restante se divide em: evangélicos, 18%; sem definição religiosa, 4% e outras crenças, 5%. 
A história singular da aparição de Nossa Senhora pode ter contribuído para que o município se 
desenvolvesse culturalmente no sentido da religiosidade. Inclusive, como já citado anteriormente, é 
curioso os nomes religiosos que denominam muitos dos bairros da cidade: Nossa Senhora Aparecida, 
Nossa Senhora das Graças, Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora de Lourdes, Nossa Senhora do 
Rosário, Santa Terezinha, São Luiz Gonzaga, Ladeira São Cristóvão e Morro São Pedro. (MEDEIROS, 
2012) 
Nos meses de julho de cada ano o município se transforma e uma nova organização é elaborada em 
função da Festa no Santuário das aparições de Nossa Senhora da Natividade, que seduz centenas de 
caravanas de fiéis em peregrinação à cidade. A paisagem e o cotidiano local são modificados e na primeira 
semana do mês já inicia toda uma organização e preparação para receber os visitantes. A prefeitura 
 
30 
municipal cede funcionários para auxiliarem nos trabalhos necessários além de cuidar da verificação e 
melhorias no que for preciso, como por exemplo, zelo em relação ao asfalto que dá acesso ao Santuário 
das Aparições.O Santuário Diocesano Nossa Senhora da Natividade organiza e realiza as missas que são 
celebradas no Santuário das aparições no dia 12 de julho. 
Vale a pena fazer a distinção entre os santuários da cidade de Natividade-RJ, em 2003, a Paróquia 
Nossa Senhora de Natividade (Igreja matriz do Centro da cidade) foi elevada à Categoria de Santuário 
Diocesano. E passou a ser chamada de Santuário Diocesano de Nossa Senhora de Natividade em 
reverência a Nossa Senhora de Natividade, padroeira da cidade. Enquanto que o Santuário das 
aparições de Nossa Senhora da Natividade localiza-se na mesma cidade, porém na zona rural e faz 
referência às aparições da Santa naquele local, que é o lócus desse estudo. 
Nos dias 11 e 12 de julho, há uma movimentação diferente do dia a dia da cidade, no dia 12, 
normalmente é feriado municipal. A Prefeitura municipal estima que nesses dias passem pela cidade cerca 
de 50 mil pessoas, número muito superior ao quantitativo de habitantes do município. 
Natividade não dispõe de tamanha infraestrutura para receber esse número de visitantes, mas como 
o evento é temporário, grande parte das caravanas se organizam para retornarem às suas cidades de 
origem no mesmo dia, ao término do festejo religioso. Outros, vêm preparados para pernoitarem no 
ônibus e alguns pousam nos poucos hotéis da cidade. Os visitantes chegam ao Santuário utilizando-se de 
bicicletas, à pé, de moto, vans, carros de passeio, ônibus de excursão e até em caminhões. São oriundos 
do próprio município, de municípios vizinhos e também de outras regiões e Estados do país, como 
Espírito Santo, São Paulo e Minas Gerais, entre outros. 
Nesse dia, vê-se novos elementos no cenário de Natividade, trânsito intenso nas ruas e estradas que 
dão acesso cidade, muitas pessoas nas ruas, visitas em romaria ao Santuário Diocesano, enfim é um dia 
totalmente diferente no cotidiano local. 
 
Sobre o Santuário das aparições de Nossa Senhora da Natividade 
As aparições 
As aparições atribuídas a Nossa Senhora aconteceram na zona rural da cidade de Natividade-RJ, 
nos anos de 1967 a 1978, num total de cinco aparições recebidas pelo Dr. Sebastião Fausto Barreira de 
Faria, que foi médico, funcionário público da Secretaria de Segurança do Estado do Rio, deputado 
estadual, advogado e proprietário de fazendas em Natividade-RJ. 
 O fenômeno aconteceu nas seguintes datas, 9 e 17 de maio de 1967; 12 de julho de 1967; 12 de 
julho de 1968 e 12 de julho de 1978 (REINALDO,2008). Segundo Faria (2005), a primeira aparição foi 
em uma tarde de muito calor no dia 09 de maio de1967, quando Dr. Fausto inspecionava um córrego 
que estava sendo construído em uma de suas fazendas. Nessa aparição, que durou apenas alguns 
segundos, Nossa Senhora haveria dito: “Não se assuste, volte”. A segunda aparição, também foi rápida e 
 
31 
ocorreu na tarde de 17 de maio de 1967. Nessa aparição o vidente estava acompanhado por 2 amigos, 
que testemunharam a forte emoção do vidente, mas não viram a Santa. Em 12 de julho de 1967 aconteceu 
a terceira aparição, que durou em média 10 minutos e Nossa senhora teria ditado a primeira mensagem: 
 
Os meus símbolos tem vários nomes, mas eu sou uma única criatura. Para os céticos e incrédulos, 
Eu sou a mensageira das verdades divinas. Esta água passa por uma Cefas que há muitos anos 
caiu de onde eu venho. Quem dela beber, penitenciando-se, conhecerá os milagres da fé e do 
Amor. Não deixe que o meu templo seja incendiado, o templo do meu primeiro símbolo. Apanhe 
esta Cefas de ferro, minério do qual o Brasil é muito rico. Guarde-a íntegra em Natividade e, 
todos os anos, traga-a para ser colocada nesta água. Volte à sua vida e ao seu destino. Ponha as 
mãos assim, como estão as minhas dentro d’água, junto aos meus pés. (FARIA, 2013 p. 17-18). 
 
E ao final desapareceu deixando uma pedra nas mãos do médico, que estava acompanhado por 
sua esposa e mais 4 companheiros que viram o momento em que a pedra apareceu nas mãos de Dr. 
Fausto. 
Na quarta aparição datada de 12 de julho de 1968, nossa Senhora teria se identificado 
declaradamente e ditou a Dr. Fausto uma segunda e longa mensagem, a qual continha uma frase sigilosa. 
Ao final do fenômeno que durou em torno de uma hora, sob forte emoção o vidente avisou aos presentes 
que a santa estava dando uma benção e se despedindo. E uma nuvem escura que estava isolada no céu 
claro, naquele momento pairou sobre o lugar, e caiu uma neblina, logo após uma aragem, que deixou 
emocionadas as pessoas que presenciaram o acontecido. 
Ainda segundo Faria (2005), na quinta aparição que aconteceu em 12 de julho de 1978, Dr. Fausto 
viu a Santa, contemplou seu rosto e emocionado ajoelhou-se quando levantou os olhos ela teria 
desaparecido. Nesse dia ele havia levado a pedra para para molhar nas águas do regato, conforme fora 
pedido na terceira aparição. 
Todas as aparições aconteceram em um mesmo lugar em um único ponto do córrego que havia 
no sítio de propriedade de Dr. Fausto, próximo à Fazenda Coqueiro, que dista aproximadamente 6 km 
da área central de Natividade-RJ. 
 Nos anos que se passaram entre as aparições, o local popularizou-se e houve outros relatos de 
experiências de fiéis que somados às aparições tornaram o referido sítio em um lugar sagrado, inclusive 
muitos jornais publicaram notícias sobre as aparições descritas pelo Dr. Fausto de Faria. 
 
 Réplica da casa de Nossa Senhora 
 
Após a quarta aparição Dr. Fausto pesquisou sobre Éfeso, palavra que ouviu em uma das 
aparições, e descobriu que Maria morou em uma casa em Éfeso. O médico viajou para a Turquia e 
estudou cuidadosamente a referida casa e mandou construir uma réplica no sítio onde aconteceram as 
visões. Em 1974, a réplica ficou pronta e tem apenas uma única diferença da obra original, as pedras, 
“pois na original foram utilizadas pedras irregulares do local, enquanto na réplica foram utilizados 
paralelepípedos. A réplica é única no mundo, o que torna aquele templo um local especial para devoção 
 
32 
mariana.”(LANES, 2015). O local passou a ser denominado de Santuário das Aparições de Nossa 
Senhora da Natividade ou Sítio dos Milagres. 
Ao adentrar na parte interna da casa, há uma sala de visitas com um cofre no qual se pode ver a 
Cefas (Pedra) que apareceu nas mãos do Dr. Fausto de Faria; no fundo do cofre vê-se uma cópia do 
retrato falado original de Nossa Senhora. Seguindo em frente há um oratório com a imagem da santa. À 
esquerda fica uma denominada sala dos milagres e no lado direito outra sala chamada de sala particular 
da Santa. 
 No local exato onde aconteceram as aparições foi construído um nicho, a alguns metros 
de distância da casa citada acima; nesse há uma imagem da virgem, feita de bronze. O regato, onde Nossa 
Senhora apareceu passa na frente do referido nicho. Logo abaixo há uma fileira de bicas, afim de facilitar 
aos fiéis recolherem da água do regato, considerada milagrosa. Tanto que essa localidade também é 
conhecida como Água Santa. 
 
Espaço interno do Santuário 
 
Os visitantes dispõem de um amplo ambiente gramado e arborizado nas laterais e com calçamento 
central de paralelepípedo em toda a extensão do Santuário. Na lateral esquerda próximo à réplica da casa 
há um estacionamento para carros de passeio. Não há estacionamento interno para ônibus de turismo, 
esses ficam estacionados na parte externa. 
Há também uma pequena loja de lembrancinhas no local, na qual os turistas podem adquirir 
diversos artigos religiosos e recordação de Natividade e do Santuário. As arrecadações recolhidas são 
revertidas para conservação do próprio santuário. Além dessa loja há um grande e moderno varandão 
coberto estruturado para realização de eventos religiosos (Rincão). Encontra-se também amplos 
banheiros femininos e masculinos com várias cabines sanitárias e chuveiro, estruturados para atender as 
necessidades de turistas de municípios distantes.

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