Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Óptica da visão Mariana Tiemi Okamoto Kamei tiemikamei@gmail.com 22 de janeiro de 2021 Retina → sensível à luz Possui cones (visão em cores) e bastonetes (penumbra). Anatomia e função dos elementos estruturais da retina Camadas da retina (de fora para dentro): 1. Camada pigmentar; 2. Camada de bastonetes e cones que se projeta para a camada pigmentar; 3. Camada nuclear externa; (contendo os corpos nucleares dos bastonetes e cones); 4. Camada plexiforme externa; 5. Camada nuclear interna; 6. Camada plexiforme interna; 7. Camada ganglionar; 8. Camada de fibras do nervo óptico; 9. Membrana limitante interna; Depois que a luz passa pelo sistema de lentes do olho e atravessa o humor vítreo, ela entra na retina por sua camada mais interna, ou seja, de 9 para 1. Região da fóvea retiniana e sua importância para visão acurada Fóvea→ pequena área no centro da retina. É bastante importante na visão acurada e detalhada. Fóvea central → 0,3 mm de diâmetro, composta quase inteiramente por cones que têm estrutura especial que auxilia na detecção de detalhes na imagem visual. Ou seja, esses cones são mais longos e delgados do que os periféricos, além disso, na região da fóvea, os vasos sanguíneos, células ganglionares, camadas nucleares internas e plexiformes são deslocados lateralmente para deixar livre passagem para a luz até os cones. Bastonetes e cones Fotorreceptor → bastonetes ou cones Principais segmentos funcionais dos cones e bastonetes: 1. Segmento externo → presença de discos (até 1.000 dobras da membrana). 2. Segmento interno → citoplasma usual, com organelas citoplasmáticas. 3. Núcleo 4. Corpo sináptico → parte do bastonete ou cone que se liga às células neuronais subsequentes, as células horizontais e bipolares. Substância fotoquímica: proteínas conjugadas incorporadas aos discos sob forma de proteínas transmembrana em grandes quantidades. Bastonetes → rodopsina Cones → pigmentos coloridos (subs. coloridas) Camada pigmentar da retina Melanina contida na camada pigmentar impede a reflexão da luz por todo o globo ocular, sendo de grande importância para a visão nítida. Sem ela, não haveria o contraste normal entre o claro e o escuro. Albinos possuem baixa acuidade visual. Essa camada também armazena grandes quantidades de vitamina A que se difunde livremente pelas membranas celulares dos segmentos externos dos fotorreceptores. Suprimento sanguíneo da retina - a artéria central da retina e a coroide A artéria central da retina entra no globo ocular pelo centro do nervo óptico e depois se divide para suprir toda a superfície da retina interna. A camada mais externa é mais aderente à coróide que é um tecido altamente vascularizado situado entre a retina e a esclera. De maneira que os tecidos mais externos dependem desse suprimento de O2. Descolamento da retina Lesão do globo ocular → líquido ou sangue se acumula entre a retina neural e o epitélio pigmentar. Também pode ser causado pela contração das fibras de colágeno no humor vítreo que puxa a retina para o interior do globo. Em casos como esse, a retina deve ser recolocada cirurgicamente sob o epitélio pigmentar para que não ocorra a degeneração. Fotoquímica da visão Fotorreceptores contêm substância fotoquímicas que se decompõem pela exposição à luz e, no processo, excita as fibras do nervo óptico. A rodopsina e os pigmentos coloridos possuem os mesmos princípios de funcionamento. Ciclo visual rodopsina-retinal e excitação dos bastonetes Rodopsina e sua decomposição pela energia luminosa Rodopsina = púrpura visual Proteína escotopsina + pigmento carotenoide retinal (11-cis retinal) Rodopsina → atingida por energia luminosa → fotoativação de elétrons → mudança da forma cis para a forma toda-trans do retinal → forma-se batorrodopsina (instável) → lumirrodopsina → metarrodopsina I → metarrodopsina II → escotopsina e retinal todo-trans Metarrodopsina II ou Rodopsina ativada que provoca alterações elétricas nos bastonetes que manda as imagens visuais para o SNC sob forma de potencial de ação do nervo óptico. Nova formação de rodopsina Reconverter o retinal todo-trans em 11-cis retinal. Esse processo requer energia metabólica e é catalisado pela enzima retinal isomerase. Uma vez formado o 11 cis retinal, ele se junta automaticamente com a escotopsina para a formação da rodopsina até que seja novamente atingido pela energia luminosa. Papel da vitamina A para a formação de rodopsina Há uma segunda via pela qual o retinal todo-trans pode ser convertido em 11-cis retinal: Retinal todo trans → retinol todo-trans (que é uma forma da vitamina A)→ 11-cis retinol → 11-cis retinal. Vitamina A está presente no citoplasma dos bastonetes e na camada pigmentar da retina, estando sempre disponível para a formação do 11-cis retinal. Da mesma forma, quando houver excesso de retinal será convertido em vitamina A. Cegueira noturna Deficiência grave de vitamina A pois as quantidades de retinal e de rodopsina que podem ser formadas ficam muito diminuídas de forma que a luz durante a noite é muito pequena para que uma pessoa com essa condição consiga enxergar. O fígado armazena grandes quantidades de vitamina A então é raro que essa patologia ocorra. Excitação do bastonete quando a rodopsina é ativada pela luz O potencial receptor do bastonete é hiperpolarizante e não despolarizante. Excitação do bastonete causa aumento da negatividade do potencial de membrana intrabastonetes. Processo inverso ao que ocorre em quase todos os outros receptores sensoriais. Isso é causado porque quando a rodopsina se decompõe, diminui a condutância da membrana dos bastonetes para os íons sódio no segmento externo do bastonete e isso causa hiperpolarização de toda a membrana do bastonete. Na escuridão, os níveis de GMPc são altos, o que permite que íons sódio com carga positiva se difunda continuamente para o interior do bastonete e assim neutralizam grande parte da negatividade, de maneira que na escuridão, ocorre redução da eletronegatividade na face interna das membranas do bastonete. 1. Luz absorvida pela rodopsina → fotoativação dos elétrons 2. Rodopsina ativada estimula a proteína G (transducina) que ativa a fosfodiesterase do GMPc: catalisa a quebra do GMPc em 5´-GMPc. 3. Redução do GMPc fecha os canais dependentes de GMPc e reduz a corrente de influxo de sódio. Os íons de sódio continuam a ser bombeados para fora, através da membrana do segmento interno. → Mais íons sódio saem do que entram → maior eletronegatividade. Duração do potencial receptor e relação logarítmica do potencial receptor com a intensidade da luz. Potencial receptor → Hiperpolarização transitória que ocorre quando um pulso da luz de curta duração atinge a retina. Isso atinge o pico em 0,3s e pode durar mais de 1s. Nos cones, essa alteração ocorre mais 4x mais rapidamente do que nos bastonetes. O potencial receptor é aprox. proporcional ao logaritmo da intensidade da luz. Isso é importante porque permite que haja uma maior discriminação de intensidade de luz. Mecanismo pelo qual a decomposição da rodopsina diminui a condutância ao sódio na membrana - a “cascata” de excitação Quantidades muito pequenas de energia luminosa causam grandes excitações nos fotorreceptores. Isso ocorre porque eles possuem uma cascata química muito sensível que amplifica os efeitos estimulatórios por cerca de um milhão de vezes. 1. fóton ativa um elétron→ formação de metarrodopsina II 2. Rodopsina ativada funciona como uma enzima para ativar muitas moléculas de transducina 3. Transducina ativada ativa muitas moléculas de fosfodiesterase. 4. Fosfodiesterase ativada é outra enzima que hidrolisa imediatamente muitas moléculas de GMPc, destruindo-as. Isso faz com que os canais de sódio se fechem → maior eletronegatividade 5. Em um segundo, a rodopsinocinase inativa a rodopsina ativada e a cascata inteira reverte ao estado normal com os canais de sódio aberto. Os cones são cerca de 30 a 300 vezes menos sensíveis que os bastonetes mas mesmo assim permitem a visão colorida em qualquer condição daluz, exceto na penumbra extrema. Fotoquímica da visão em cores pelos cones Cones tem quase a mesma composição química do que os bastonetes, a diferença é que as porções proteicas (fotopsinas dos cones) é ligeiramente diferente da escotopsina dos bastonetes. Regulação automática da sensibilidade da retina - adaptação à luz e ao escuro Luz intensa por muitas horas → muitas substâncias fotoquímicas terão sido reduzidas a retinal e opsinas. O retinal dos bastonetes terá sido convertido em vitamina A. Isso faz com que a sensibilidade do olho seja reduzida → fenômeno conhecido como adaptação à luz. Inversamente, se uma pessoa ficar no escuro por muito tempo e tiver esses compostos aumentados → adaptação ao escuro. Os cones se adaptam muito mais rapidamente, mas como a sensibilidade dos bastonetes é muito maior, mesmo depois da curva de adaptação dos cones já ter acabado, a dos bastonetes ainda continua por um longo período, podendo levar horas. Outros mecanismos de adaptação à luz e ao escuro Além do mecanismo de concentração de rodopsina ou de substâncias fotoquímicas para cores, o olho tem duas outras formas de adaptação: 1. Alteração do diâmetro pupilar 2. Adaptação neural → Quando a intensidade da luz aumenta pela primeira vez, os sinais transmitidos são todos intensos, mas depois vai diminuindo nos estágios da transmissão no circuito neural, levando apenas frações de segundos. Valor da adaptação à luz e ao escuro na visão Entre os limites de máxima luz e escuridão total, o olho pode variar sua sensibilidade por até 500.000 a 1 milhão de vezes. Como o registro de imagens pela retina exige detecção de manchas claras e escuras, é essencial que a sensibilidade da retina sempre seja ajustada. Visão colorida Diferentes cones são sensíveis a diferentes cores da luz. Mecanismo tricromático de detecção de cores O ser humano consegue detectar quase todas as graduações de cores, quando apenas luzes monocromáticas azuis, vermelhas e verdes são misturadas em diferentes combinações. Sensibilidades espectrais dos três tipos de cones As sensibilidades espectrais para essas três cores são essencialmente as mesmas curvas de absorção da luz para os três tipos de pigmentos encontrados nos cones. Interpretação da cor no sistema nervoso Laranja 99:42:0 (vermelho, verde, azul) → O sistema nervoso interpreta como sensação de laranja. Percepção da luz branca Branco → estimulação aproximadamente igual entre as três cores leva a sensação de ver branco. Cegueira para cores Cegueira para vermelho - verde Quando um único grupo de cones receptivos à cor está faltando no olho, a pessoa é incapaz de distinguir algumas cores de outras. Protanopia → não possui cones vermelhos Deuteranopia → não possui cones verdes A cegueira para vermelho e verde ocorre majoritariamente entre o sexo masculino pois os genes do cromossomo X feminino codificam os respectivos cones. Fraqueza para azul Só raramente faltam os cones azuis Função Neural da Retina Circuito neural da retina Diferentes tipos celulares neuronais: 1. Fotorreceptores → bastonetes e cones - transmitem sinais para a camada plexiforme externa, onde fazem sinapse com células bipolares e células horizontais. 2. Células horizontais → transmissão de sinais para a camada plexiforme externa de bastonetes e cones 3. Células bipolares → transmissão de sinais verticais dos bastonetes, cones, células horizontais para a camada plexiforme interna, onde ocorre sinapse com as células ganglionares e amácrinas. 4. Células amácrinas → transmitem sinais em duas direções, diretamente de células bipolares para as células ganglionares ou horizontalmente, dentro da camada plexiforme interna, dos axônios das células bipolares ou para os dendritos das células ganglionares ou outras células amácrinas. 5. Células ganglionares → transmitem sinais eferentes da retina pelo nervo óptico para o cérebro. 6. Célula interplexiforme → transmite sinais na direção retrógrada, da camada plexiforme interna para a externa. Esses sinais são inibitórios e acredita-se que controlem a propagação lateral de sinais visuais pelas células horizontais na camada plexiforme externa. Seu papel pode ser de ajudar no controle do grau de contraste na imagem visual. A via visual dos cones às células ganglionares funciona diferentemente da via dos bastonetes A retina tem um tipo antigo de visão, com base nos bastonetes e um tipo mais recente com base na visão dos cones. Os neurônios e fibras neurais que conduzem os sinais visuais para a visão dos cones, são consideravelmente maiores do que os que conduzem os sinais visuais para a visão dos bastonetes. Além disso, os sinais são conduzidos duas a cinco vezes mais rapidamente. Neurotransmissores liberados pelos neurônios retinianos Bastonetes e cones liberam glutamato em suas sinapses com as células bipolares. As células amácrinas secretam pelo menos oito tipos de neurotransmissores como ácido gama-aminobutírico, glicina, dopamina, acetilcolina e indolamina, todos esses atuam como inibitórios. A transmissão da maioria dos sinais ocorre nos neurônios da retina por condução eletrotônica e não por potenciais de ação. A condução eletrotônica significa fluxo direto de corrente elétrica, e não potenciais de ação, no citoplasma neuronal e nos axônios nervosos do ponto de excitação por todo o trajeto até as sinapses de eferência. A importância dessa forma é porque permite a condução graduada da força do sinal. Deste modo, para os bastonetes e cones, a magnitude da hiperpolarização está diretamente relacionada com a intensidade da iluminação, o sinal não é tudo ou nada, como seria o caso para cada potencial de ação. Inibição lateral para aumentar o contraste visual - função das células horizontais As saídas das células horizontais são sempre inibitórias. Isso ajuda a dar o contraste visual apropriado e permite alta precisão visual para transmitir bordar de contraste na imagem visual. Algumas das células amácrinas provavelmente fornecem inibição lateral adicional também na camada plexiforme interna da retina, realçando o contraste visual. Excitação de algumas células bipolares e inibição de outras - as células bipolares despolarizantes e hiperpolarizantes Dois tipos de células bipolares são responsáveis por excitar ou inibir a via visual: 1. Célula bipolar hiperpolarizante; 2. Célula bipolar despolarizante; Enquanto algumas células bipolares se despolarizam quando os bastonetes e cones são excitados, outros se hiperpolarizam. Isso ocorre porque essas células são muito diferentes, uma respondendo ao neurotransmissor glutamato e outra respondendo pela hiperpolarização. Outra possibilidade é que uma das células bipolares receba um sinal direto, enquanto que outra recebe um o sinal de uma das células horizontais. A importância desse fenômeno é que permite que metade das células bipolares transmita sinais positivos e a outra metade transmita sinais negativos. Isso ainda permite um segundo mecanismo para inibição lateral, além das células horizontais. Células amácrinas e suas funções Há cerca de 30 tipos de células amácrinas. Há pelo menos seis funções diferentes, uma para cada tipo de célula. São interneurônios que ajudam a analisar os sinais visuais antes que eles deixem a retina. Resposta forte e rápida a um sinal visual contínuo Desligamento de sinais visuais Resposta quando uma luz é acesa ou apagada, sinalizando mudança de iluminação Resposta a um movimento de mancha através da retina, em direção a luz. Células ganglionares e fibras do nervo óptico 60 bastonetes e dois cones convergem sobre cada célula ganglionar e fibra do nervo óptico, que conecta a célula ganglionar ao cérebro. No entanto, existem grandes diferenças entre a retina periférica e a retina central. Fóvea - menos bastonetes e cones convergem em cada fibra óptica, e os os fotorreceptores ficam mais delgados Fóvea central - só existem cones mais delgados e nenhum bastonete. O número de fibras ópticas é igual ao número de cones, o que justifica a acuidade visual. Retina periférica- sensibilidade a luz fraca muito maior Três tipos de células ganglionares da retina e seus respectivos campos Existem três tipos diferentes de células ganglionares: 1. W → transmissão da visão de bastonetes. 40% das células ganglionares. Transmitem sinais por suas fibras do nervo óptico com baixa velocidade. Amplos campos na retina periférica. Especialmente sensíveis para detectar movimento direcional no campo da visão e são importantes para a visão menos acurada dos bastonetes, sob a escuridão. 2. X → transmissão da imagem visual e da cor. 55% das células ganglionares. Têm velocidade intermediária. Pequenos campos. Principal meio com que os detalhes finos das imagens são transmitidos. É provavelmente responsável por toda imagem colorida. 3. Y → transmissão de mudanças instantâneas na imagem visual. Maior e mais veloz de todas. Menos numerosa apenas 5%, mas tem uma grande área devido aos campos dendríticos. Respondem, como muitas glândulas amácrinas, a alterações rápidas na imagem visual - movimento rápido ou alteração rápida da intensidade luminosa. Excitação das células ganglionares Potenciais de ação espontâneos e contínuo nas células ganglionares. São os axônios das células ganglionares que formam as longas fibras do nervo óptico que se dirigem para o cérebro. Devido a distância envolvida, o método eletrotônico não é mais eficaz, sendo substituído por potenciais de ação repetitivos. Transmissão de mudanças na intensidade luminosa - resposta liga-desliga Quando a luz vai piscando, ocorre o processo de liga-desliga das células ganglionares. As direções das respostas são causadas pelas células bipolares despolarizantes e hiperpolarizantes. Transmissão de sinais que caracterizam contrastes na cena visual - O papel da inibição lateral Muitas células ganglionares respondem principalmente às bordas de contraste na cena visual. Quando a luz está uniforme, a célula ganglionar do tipo contraste não é nem estimulada e nem inibida. Isso ocorre porque os sinais transmitidos diretamente são excitatórios e os que são transmitidos lateralmente são inibitórios, de forma que a via é neutralizada. Quando há um contraste e um fotorreceptor seja estimulado pela luz e um dos receptores laterais fique no escuro, ocorre um realce do ponto brilhante. Transmissão de sinais coloridos pelas células ganglionares Uma célula ganglionar pode ser estimulada por vários cones ou por apenas alguns. Quando todos os tipos de cones - vermelho, azul e verde - estimulam a mesma célula ganglionar, ocorre o sinal branco, que não tem papel na detecção de cores. Entretanto, algumas das células ganglionares são excitadas por apenas um tipo de cone, mas inibidas por outro tipo. Ex: verde e vermelho → um excita e o outro inibe ou vice-versa. O mecanismo desse efeito oposto é o seguinte: um tipo de cone colorido excita a célula ganglionar pela via excitatória ou por célula bipolar despolarizante, enquanto o outro tipo de cor inibe a célula por via inibitória indireta por célula bipolar hiperpolarizante. A análise da cor começa na retina e não é inteiramente função do cérebro.
Compartilhar