Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
BIANCA ABREU-MD3 1 OBJETIVOS 1. Relacionar suficiência cardíaca com trabalho cardíaco com débito cardíaco com fração de ejeção. 2. De onde vem a energia que o coração utiliza para o seu trabalho? 3. Para que serve a capa de gordura que existe no coração? 4. Conceituar Hipertrofia Excêntrica e Hipertrofia Concêntrica 4.1 Caracterizar ambas histologicamente 4.2 Exemplos de ocorrência de cada uma 4.3 Como se encontra a Pré-carga, pós-carga, debito cardíaco, fração de ejeção, volume diastólico final, e volume sistólico final em cada uma. 4.5 Qual delas leva ao aumento da área do coração? 5. De que maneira a atividade física previne as doenças cardiovasculares? 6. Identificar os fatores de risco para insuficiência cardíaca e como ela se desenvolve 7. Quais os mecanismos compensatórios na insuficiência cardíaca? 7.1 Imediatos 7.2 Longo prazo 8. Explicar a formação do edema na insuficiência cardíaca 8.1. Qual o papel do sistema renina-angiotensina-aldosterona na formação desse edema? 8.2. Qual a ação das forças de Starling na formação do Edema? 8.3. Como se aplica o mecanismo de Frank-Starling na insuficiência cardíaca? 9. Quais os tipos de insuficiência cardíaca? 9.1 Em qual deles ocorre o edema de MMII e porquê? 10. Explicar a dispneia no paciente com insuficiência cardíaca. 11. Qual o mecanismo de ação desses medicamentos e porque são utilizados na IC: 11.1 Betabloqueador 11.2 IECA 11.3 BRA 11.4 Antagonistas da Aldosterona 11.5 Cardiotônicos (além dos Digitálicos) 11.6 Diuréticos (Hidroclorotiazida e Furosomida) 12. O que é o remodelamento cardíaco? E Qual medicamento atua nesse remodelamento cardíaco? 13. Palavras que merecem ser esclarecidas: a. O que é essa gordura? Qual a importância dela para o coração? b. Por que o VE hipertrofia? → A disfunção ventricular esquerda pode ocorrer em consequência de: fraqueza da contração ventricular (disfunção sistólica), relaxamento ventricular anormal (disfunção diastólica) ou espessamento anormal do ventrículo (obstrução da via de saída) c. Como o VD tenta ajudar? → Ocorre principalmente sob a forma de disfunção sistólica e a causa mais comum é a sobrecarga pressórica secundária à elevação da pressão da artéria pulmonar, a causa mais comum deste quadro é a própria insuficiência cardíaca esquerda, pelo aumento das pressões de enchimento do lado esquerdo, que é transmitido através da vasculatura pulmonar até o lado direito. d. Se o CD não manda sangue para o pulmão, onde fica esse sangue? e. Diminui a quantidade de sangue circulante? BIANCA ABREU-MD3 2 Trabalho Cardíaco Trabalho é relativo à propriedade de determinar um volume cardíaco/minuto em relação a uma resistência à saída do coração (pressão arterial sistêmica). Trabalho (W), sob o ponto de vista físico, será o produto gerado entre força (F) e distância (D) percorrida. W=FxD Então, aplicando esta fórmula geral de trabalho ao coração, a força poderia ser substituída pelo volume cardíaco/minuto (VCM), ou seja, o débito cardíaco (DC), o qual deve ser ejetado contra uma certa pressão, ou pressão arterial média (Pam). Assim sendo, o trabalho cardíaco (Wc) ficaria: Wc = VCM x Pam Os ventrículos direito e esquerdo têm diferentes trabalhos, não pela diferença no VCM, que é similar para ambos os ventrículos, mas pela variação na pressão arterial média. No esforço, como no exercício muscular, aumenta o trabalho cardíaco, porque aumenta o VCM, e a pressão arterial média pode estar exagerada. O incremento do trabalho cardíaco se acompanha de acentuação do metabolismo e do consumo de oxigênio pelo coração Eficiência Cardíaca Denomina-se coração suficiente aquele que é capaz de determinar um débito cardíaco adequado às necessidades metabólicas do organismo, ou seja, um débito cardíaco variável segundo os requerimentos. Eficiência (Ec), ou rendimento cardíaco é a relação que existe entre o trabalho realizado pelo coração (Wc) em relação ao consumo de O2 (QO2) no mesmo tempo. Por outro lado, sabe-se que o consumo de 02 (Q0) depende basicamente do índice tensão X tempo (tempo de duração da tensão miocárdíca, própria da contração isovolumétrica). O índice tensão-tempo depende da duração da sístole e da frequência cardíaca (maior tempo total de tensão), e da pressão arterial média. Porque maior pressão significa maior tensão pelo princípio de Laplace. T= P x 2R Deste modo, a eficiência do coração será maior quanto menor for o índice de tensão X tempo, ou seja, quanto maior for a fase de ejeção da sístole (há realização de trabalho efetivo), quando a tensão é relativamente menor, enquanto está havendo ejeção sanguínea (trabalho cardíaco). BIANCA ABREU-MD3 3 Quando a frequência cardíaca é baixa e o vigor da contração alto, consegue-se a melhor situação para aumentar o rendimento cardíaco, como ocorre nos bons atletas. Por outro lado, a eficiência é baixa quando a frequência cardíaca é alta (taquicardia) e o vigor contrátil, baixo, reduzindo- se o trabalho e aumentando o consumo de 02, situação que pode ser observada mais frequentemente na insuficiência cardíaca Insuficiência Cardíaca Na insuficiência cardíaca há uma eficiência baixa, porque o coração está consumindo muito 02, em relação a um volume cardíaco/minuto reduzido. Denomina-se, então, insuficiência cardíaca a incapacidade do coração para adequar seu volume cardíaco/ minuto porque sua reserva cardíaca está limitada. O elemento que limita a reserva cardíaca é uma cardiopatia. A maioria dos casos de insuficiência cardíaca resulta de disfunção sistólica — função contrátil inadequada do miocárdio, caracteristicamente consequência da cardiopatia isquêmica ou da hipertensão. Por outro lado, a ICC também pode resultar de disfunção diastólica — incapacidade do coração de relaxar e se encher de modo adequado, como ocorre na hipertrofia maciça do ventrículo esquerdo, na fibrose do miocárdio, na deposição de amiloide e na pericardite constritiva. A ICC SURGE QUANDO O CORAÇÃO NÃO CONSEGUE PRODUZIR DÉBITO SUFICIENTE PARA SATISFAZER AS DEMANDAS METABÓLICAS DOS TECIDOS OU APENAS CONSEGUE SATISFAZÊ-LAS SOB PRESSÕES DE ENCHIMENTO SUPERIORES ÀS NORMAIS Na ICC, o coração em falência não consegue mais bombear de modo eficiente o sangue levado até ele pela circulação venosa. O resultado é o aumento do volume ventricular diastólico final, que provoca elevação das pressões diastólicas finais e, por fim, das pressões venosas também. Assim, o débito cardíaco inadequado — denominado insuficiência anterógrada — é quase sempre acompanhado de congestão da circulação venosa, ou seja, de insuficiência retrógrada. Como consequência, embora a raiz do problema na ICC normalmente seja a função cardíaca deficiente, com o tempo praticamente todos os órgãos são afetados por uma combinação de insuficiência anterógrada e retrógrada Fatores de Risco • Pressão alta (hipertensão) • Ataque cardíaco (infarto do miocárdio) • Válvulas cardíacas anormais • Aumento do coração (cardiomiopatia) • Histórico familiar de doença cardíaca • Diabetes BIANCA ABREU-MD3 4 Tipos de IC Insuficiência Cardíaca Esquerda As causas mais comuns da insuficiência cardíaca esquerda são a cardiopatia isquêmica (CI), a hipertensão sistêmica, a doença da valva da aorta ou da valva atrioventricular esquerda (mitral) e as doenças primárias do miocárdio (p. ex., amiloidose). Os efeitos morfológicos e clínicos da ICC esquerda provêm da diminuição da perfusão sistêmica e da elevação das pressões de retorno dentro da circulação pulmonar. Características clínicas A dispneia (falta de ar) aos esforços é geralmente o sintoma mais precoce e significativo da insuficiência cardíaca esquerda, tendo em vista que ocorre uma congestão pulmonar devido ao aumento da Pressão Média de Enchimento Pulmonar; a tosse também é comum e resulta da transudação de líquido parao interior dos espaços aéreos. À medida que a insuficiência progride, os pacientes passam a sentir dispneia quando estão deitados (ortopneia); isso ocorre porque a posição supina aumenta o retorno venoso proveniente das extremidades inferiores e também eleva o diafragma. Normalmente, a ortopneia diminui de intensidade quando o paciente senta ou fica em pé; por essa razão, os pacientes geralmente dormem sentados com o tronco ereto. A dispneia paroxística noturna é uma forma particularmente drástica de falta de ar, na qual os pacientes acordam com dispneia intensa que chega às raias do sufocamento. As outras manifestações da insuficiência do ventrículo esquerdo incluem coração de tamanho aumentado (cardiomegalia), taquicardia, presença de terceira bulha cardíaca (B3) e estertores finos na base dos pulmões causados pela abertura dos alvéolos pulmonares edematosos. À medida que a dilatação ventricular progride, os músculos papilares são deslocados para fora, o que causa regurgitação mitral e sopro sistólico. A subsequente dilatação crônica do átrio esquerdo pode causar fibrilação atrial, que se manifesta como um batimento cardíaco “irregularmente irregular”. Essas contrações atriais descoordenadas, caóticas, reduzem o volume sistólico ventricular e também podem causar estase. O sangue estagnado tende a formar trombos (particularmente no apêndice atrial) que podem liberar êmbolos que, por sua vez, causam acidentes vasculares cerebrais e manifestações de infarto em outros órgãos. Do ponto de vista sistêmico, a diminuição do débito cardíaco causa redução da perfusão renal que, por sua vez, ativa o sistema renina-angiotensina-aldosterona, que eleva o volume e as pressões intravasculares. Infelizmente, esses efeitos compensatórios exacerbam o edema pulmonar. Uma redução adicional da perfusão renal poderá provocar azotemia pré-renal, com excreção deficiente de resíduos nitrogenados e aumento do distúrbio metabólico. Na ICC grave, a diminuição da perfusão cerebral pode se manifestar na forma de encefalopatia hipóxica, com irritabilidade, diminuição da cognição e inquietação, que podem progredir para estupor e coma. Insuficiência Cardíaca Direita A insuficiência cardíaca direita geralmente é a consequência da insuficiência cardíaca esquerda, visto que qualquer aumento de pressão na circulação pulmonar produz inevitavelmente aumento da carga do lado direito do coração. A insuficiência cardíaca direita isolada também pode ocorrer em algumas doenças. A mais comum é a hipertensão pulmonar BIANCA ABREU-MD3 5 grave, que provoca uma patologia do lado direito do coração denominada cor pulmonale. No cor pulmonale, a hipertrofia e a dilatação do miocárdio geralmente estão confinadas ao átrio e ventrículo direitos, embora a projeção do septo ventricular para a esquerda possa causar uma disfunção do ventrículo esquerdo. A insuficiência direita isolada também pode ocorrer em pacientes com doença primária da valva atrioventricular direita ou da valva do tronco pulmonar, ou naqueles com cardiopatia congênita, como nos shunts da esquerda para a direita que provocam sobrecarga crônica de volume e pressão. Os principais efeitos morfológicos e clínicos da insuficiência cardíaca direita pura diferem daqueles da insuficiência cardíaca esquerda, já que, na falência direita, o ingurgitamento dos sistemas venosos sistêmico e portal normalmente é pronunciado, o que determina o edema nos membros inferiores e turgescência na jugular, e a congestão pulmonar é mínima. Características clínicas Ao contrário da insuficiência cardíaca esquerda, a insuficiência cardíaca direita pura normalmente produz poucos sintomas respiratórios. Em vez disso, as manifestações clínicas estão relacionadas com a congestão venosa portal e sistêmica, que causa aumento de tamanho do fígado e do baço, edema periférico, derrame pleural e ascite. A congestão venosa e a hipóxia dos rins e do encéfalo que resultam da insuficiência cardíaca direita produzem alterações comparáveis àquelas provocadas pela hipoperfusão associada à insuficiência cardíaca esquerda. Vale destacar que, na maioria dos casos de descompensação cardíaca crônica, os pacientes apresentam ICC biventricular, que abrange as síndromes clínicas de ambas as formas de insuficiência cardíaca. À medida que a insuficiência cardíaca congestiva progride, os pacientes podem se tornar claramente cianóticos e acidóticos, como consequência da redução da perfusão tecidual que advém da diminuição do fluxo anterógrado e da crescente congestão retrógrada. Insuficiência Cardíaca Sistólica Representa 50% a 60% dos casos. O problema está na capacidade contrátil do miocárdio (diminuição da fração de ejeção). Na maioria das vezes causa dilatação ventricular (cardiopatia dilatada) e tem como marco laboratorial uma redução significativa na fração de ejeção (≤50%). São descritas duas consequências principais: 1. Redução do Débito Cardíaco; 2. Aumento do Volume de Enchimento (VDF) e, portanto, da Pressão de Enchimento Ventricular, a qual será transmitida aos átrios e sistema venocapilar (congestão). Exemplos: IAM, isquemia miocárdica, fase dilatada da cardiopatia hipertensiva e a Miocardiopatia Dilatada Idiopática. Insuficiência Cardíaca Diastólica Representa 40% a 50% dos casos. A contração miocárdica está normal (com fe≥50%), mas existe restrição patológica ao enchimento diastólico, causando elevação nas pressões de enchimento e, consequentemente, aumento da pressão venocapilar (congestão). O mecanismo pode ser uma alteração no relaxamento muscular e/ou uma redução da complacência ventricular (“ventrículo duro” por excesso de tecido conjuntivo). Na maioria das vezes existe hipertrofia BIANCA ABREU-MD3 6 muscular Concêntrica, com redução da cavidade. Exemplos: A Fase Hipertrófica da Cardiopatia Hipertensiva e a Cardiomiopatia Hipertrófica. Insuficiência Cardíaca de Baixo Débito Representa a maioria dos casos. A disfunção sistólica do ve reduz o débito cardíaco (dc) causando hipoperfusão tecidual. Nas fases inicias, o dc pode se manter normal no estado de repouso, mas durante o esforço físico o aumento fisiológico do dc não acontece. Na fase avançada, o dc estará reduzido mesmo em repouso, trazendo constantes limitações ao paciente. Já na ic diastólica também se observa uma limitação do dc, especialmente durante a atividade física: não há como elevá-lo sem aumentar a pressão de enchimento. Além disso, a taquicardia sinusal que acompanha o esforço físico encurta o tempo de diástole, comprometendo ainda mais a capacidade de enchimento ventricular. Insuficiência Cardíaca de Alto Débito Ocorre nas condições que exigem um maior Trabalho Cardíaco, seja pra atender a demanda metabólica (Tireotoxicose, Anemia Grave) ou pelo desvio de sangue do leito Arterial para o Venoso, através de Fístulas Arteriovenosas (Beribéri, Sepse, Cirrose, Doença de Paget Óssea, Hemangiomas). Em todos esses casos, apesar do Débito Cardíaco estar alto, ele está abaixo do desejado em face da alta requisição da função cardíaca. Por exemplo, se na Tireotoxicose o organismo precisa de um DC>15L/min, mas o coração só consegue chegar a 7L/min, tornando- se, portanto, sobrecarregado, o que leva ao aumento da Pressão de Enchimento e à Dilatação Ventricular. Insuficiência Cardíaca Crônica É a mais comum. Os sintomas aparecem lentamente e agravam-se gradualmente. Insuficiência Cardíaca Aguda Desenvolve-se repentinamente e os sintomas são graves inicialmente. Normalmente a insuficiência cardíaca aguda segue-se a um ataque cardíaco/enfarte do miocárdio que causou lesões numa área do coração ou, mais frequentemente, é causada por uma incapacidade súbita do corpo em compensar a Insuficiência Cardíaca Crônica. Insuficiência Cardíaca Compensada Ocorre quando o organismo dispõe de eficiência nos Mecanismos Compensatórios e restauração do Débito Cardíacoem repouso, porém a capacidade máxima de bombeamento está diminuída. Nesse tipo, a pessoa não sabe que há uma IC por conta de múltiplas e pequenas lesões que foram compensadas simultaneamente. Qualquer tentativa de exercícios causa retorno imediato dos sintomas de IC pois o coração não é capaz de aumentar a capacidade de bombeamento (Reserva Cardíaca Diminuída ou Reduzida). Insuficiência Cardíaca Descompensada BIANCA ABREU-MD3 7 Situação clínica em que nenhum tipo de Reflexo de Compensação pode fazer o coração voltar a bombear normalmente. Consequentemente, o Débito Cardíaco não pode aumentar o suficiente para fazer com que os rins excretem quantidades normais de líquido (urina). Assim, o líquido continua sendo retido e a pessoa desenvolve mais edema. Além disso, há uma elevação progressiva da Pressão Média de Enchimento Sistêmico. Esse declínio da função cardíaca é ocasionado por distensão excessiva do coração, edema do músculo cardíaco e outros fatores que diminuem o desempenho do bombeamento do coração. Alterações hemodinâmicas • Pré-Carga: Aumentada; • Pós-Carga: Aumentada; • Fração de Ejeção: Reduzida; • Débito Cardíaco: Reduzido -> depois surgem mecanismos para aumentá-lo; • Volume Sistólico Final (VSF): diminuído-> Pós-Carga aumentada; • Volume Diastólico Final (VDF): aumentado-> Pré-Carga aumentada; • Retorno Venoso: Aumentado, devido à ativação do SRAA. Análise das funções cardíacas • Inotropismo: aumentada (inicialmente); • Cronotropismo: diminui; • Batmotropismo: aumentada; • Lusitropismo: diminui. Mecanismos Compensatórios O sistema cardiovascular tenta compensar a redução da contratilidade miocárdica ou o aumento da carga hemodinâmica utilizando vários mecanismos homeostáticos. Mecanismo de Frank-Starling É a capacidade intrínseca do coração de se adaptar a volumes crescentes de afluxo sanguíneo que afirma que quanto mais o miocárdio for distendido durante o enchimento, maior será a Força da contração e maior será a quantidade de sangue bombeada para a Circulação. O aumento do Volume de Enchimento Diastólico Final (EDF) promove o alongamento das Fibras Musculares e, portanto, o aumento da Contração Muscular, que aumenta o Débito Cardíaco (DC). Aplicação: quando o ventrículo dilatado é capaz de manter o Débito Cardíaco, diz-se que o paciente tem Insuficiência Cardíaca Compensada. Porém, a Dilatação Ventricular ocorre à custa de aumento na tensão das paredes e intensifica as necessidades de oxigênio de um miocárdio já comprometido. Com o tempo, o músculo em falência não consegue mais impelir sangue suficiente para satisfazer as necessidades do corpo, e então o paciente desenvolve Insuficiência Cardíaca Descompensada. PORÉM, O ESTRESSE HEMODINÂMICO QUE NÃO PODE SER TOTALMENTE COMPENSADO PELO MECANISMO DE FRANK-STARLING, ESTIMULANDO SISTEMAS DE SINALIZAÇÃO QUE DÃO INÍCIO A ALTERAÇÕES ESTRUTURAIS EM NÍVEL CELULAR, PROCESSO CONHECIDO COMO REMODELAGEM DO MIOCÁRDIO. Se o Mecanismo de Frank-Starling e os Mecanismos de Remodelagem forem incapazes de restabelecer o Débito Cardíaco Anterógrado Adequado, OS SISTEMAS NEURO-HUMORAIS BIANCA ABREU-MD3 8 SERÃO ENTÃO ATIVADOS. Esses sistemas modulam o Volume Intravascular e o Tônus Vasomotor para manter o aporte de oxigênio aos órgãos críticos. Ativação de Sistemas Neuro-Humorais: Reflexos Simpáticos Em poucos segundos, há grande estimulação Simpática, a qual age sobre o próprio coração e na Circulação Periférica. Por exemplo, quando o DC cai para um nível precariamente baixo, muitos Reflexos Circulatórios são ativados, tais como: Reflexo Barorreceptor (ativado pela baixa PA) e Reflexo Quimiorreceptor (em resposta isquêmica ao SNC). A liberação do neurotransmissor Norepinefrina pelo SNA Simpático eleva a Frequência Cardíaca e aumenta a Contratilidade do Miocárdio e a Resistência Vascular. Além disso, a Estimulação Simpática tem efeito sobre as Fibras Musculares Cardíacas lesionadas. Se toda a musculatura ventricular for difusamente lesionada, mas ainda estiver funcional, a Estimulação Simpática fortalecerá a musculatura danificada. Se parte do músculo estiver não funcional e outra parte ainda for normal, a musculatura normal será estimulada, de forma muita intensa, pela Resposta Simpática, compensando, desse modo, pelo menos em parte, a musculatura não funcional. Assim, o coração de um modo ou de outro torna-se uma bomba mais forte como resultado da Estimulação Simpática. A Estimulação Simpática também aumenta o Retorno Venoso por aumentar o tônus (vasoconstringe) da maior parte dos vasos sanguíneos da circulação, especialmente das veias, elevando a Pressão Média de Enchimento Sistêmico de 12 para 14 mmHg. Ativação do SRAA Estimula a retenção renal de sal e água (o que aumenta o volume circulatório) e eleva o Tônus Vascular. A princípio a retenção de liquido e o aumento do volume sanguíneo são benéficos para manter o Débito Cardíaco adequado, porém a longo prazo sabe-se que a retenção de liquido aumenta a Carga de Trabalho do coração já danificado, e isso implica desenvolvimento de Edema intenso por todo o corpo, podendo levar a morte. Com isso fica claro que com um volume de líquido maior além do aumento da Carga de Trabalho do coração danificado, há uma distensão excessiva do coração, filtração de líquidos pelos pulmões causando Edema Pulmonar. A liberação do Peptídeo Natriurético Atrial (PNA) Equilibra o SRAA pois promove diurese e relaxamento do Músculo Liso Vascular. O papel dos Peptídeos Natriuréticos na IC é no sentido de contrabalançar os efeitos de retenção de sal e água e vasoconstrição estimulados pelo SNS, SRAA e Vasopressina (ADH). Apesar de ser um mecanismo compensatório importante, os Peptídeos Natriuréticos são insuficientes para superar a intensa Vasoconstrição instalada na IC. Vasopressina Arginina (AVP) É um Hormônio Pituitário que age na regulação da água livre e osmolaridade plasmática. Em pacientes com IC, o nível desse hormônio é, constantemente, elevado e, apesar da osmolaridade BIANCA ABREU-MD3 9 normal ou baixa sentida pelos Osmorreceptores Centrais, está associado com elevação dos níveis de Renina e Catecolaminas, que desempenham o papel de estimular a secreção da Vasopressina pela Neurohipófise. Essa secreção não-osmótica de AVP é desencadeada pelo estímulo dos Barorreceptores Arteriais que sentem a redução do enchimento do Leito Arterial na IC. A Vasopressina causa Vasoconstrição Periférica, retenção de água livre por meio de sua ação nos Túbulos Coletores Renais e, consequentemente, Hiponatremia Dilucional (concentração anormalmente baixa de Na+ no sangue). Endotelina É um potente Peptídeo Vasoconstritor liberado pelas Células Endoteliais. Três subtipos já foram identificados: Endotelina-1, Endotelina-2 e Endotelina- 3, todos potentes vasoconstritores. A Angiotensina II, Noradrenalina, Vasopressina Arginina (VAP) e a Interleucina-1 estimulam a produção da Endotelina, que, por sua vez, ativa Receptores de Endotelina tipo A, que causam vasoconstrição da musculatura lisa. A endotelina também tem potencial de estimular o crescimento e atuar no Remodelamento Cardíaco. Ativação de Citocinas Pró-Inflamatórias A Insuficiência Cardíaca pode ser considerada um estado de ativação imune e inflamação persistente expressa pelo aumento dos níveis de várias Citocinas Pró Inflamatórias, tais como: o Fator de Necrose Tumoral (TNF-α), a Interleucina 1 (IL-1) e a Interleucina 6 (IL-6), as quais estão aumentados na IC. Forças de Starling As forças de Starling são as responsáveis pelo movimento de fluido entre os compartimentos. Entre as forças de Starling existe a pressão hidrostática e a pressão oncótica. A pressão hidrostática é uma força exercida pelos líquidos que tende a expulsar o líquido de seu compartimento. A pressão oncótica é uma força que atrai água para o compartimento.Ambas as pressões existem nos dois compartimentos: intravascular e intersticial. A resultante entre elas é que determina se o líquido irá entrar ou sair de cada compartimento. Na primeira metade do capilar, a resultante dessas forças faz com que o líquido tenda a extravasar para o interstício, processo chamado de ultrafiltração. Na segunda metade do capilar, a resultante das pressões é tal que o líquido tende a voltar para o interior do vaso – reabsorção. O principal objetivo do deslocamento de fluido pela parede capilar é o de levar nutrientes aos tecidos e dele retirar produtos do metabolismo da célula – como o CO2. Mecanismos de formação do edema - alteração das forças de Starling O desequilíbrio entre as forças de Starling é o mecanismo que desencadeia a formação de todo o tipo de edema. Esse desequilíbrio pode ser devido: BIANCA ABREU-MD3 10 1. Aumento da pressão hidrostática no interior do capilar: o que determina uma maior saída de fluido do capilar para o interstício. A partir do momento em que a capacidade de os vasos linfáticos de retornar o líquido em excesso para a circulação sanguínea é ultrapassada, teremos o desenvolvimento de edema. 2. Aumento da pressão oncótica intersticial: Se a pressão oncótica intersticial aumentar haverá uma maior atração de água para o interstício – maior ultrafiltração. Se o acúmulo de ultrafiltrado ultrapassar a capacidade de drenagem dos capilares linfáticos, teremos, também, o desenvolvimento de edema. • Dispnéia: ⬆ na pré-carga-> ⬆ volume do VE que não consegue bombear o sangue direito -> ⬆ pressão AE -> ⬆ pressão hidrostática nos capilares -> força passagem de líquidos para espaços interticiais e alveolares -> EDEMA PULMONAR -> dispnéia. • Fadiga: menor oferta de O2. • Edema (membros inferiores): SRAA em constante ação-> vasoconstrição-> ⬆ PA -> extravazamento de líquido para porção intersticial-> EDEMA • 3a e 4a bulhas: Ocorrem devido ao enchimento ventricular anormal. Além disso, a longo prazo, a estimulação simpática causa uma desensibilização dos receptores B1 e diminuição no depósito de NE, contribuindo para a formação de arritmias. Farmacologia da Insuficiência Cardíaca Inibidores da enzima conversora de angiotensina II (IECA) MECANISMOS DE AÇÃO Os mecanismos de ação dos inibidores da enzima de conversão da angiotensina (IECA) são complexos. As ações que mais imediatamente se associam aos seus efeitos cardiovasculares resultam da diminuição da formação de angiotensina II e do acúmulo de bradicinina. As conseqüências diretas da diminuição da angiotensina II incluem a redução do efeito vasoconstritor, do efeito retentor de sódio (via aldosterona), e do efeito trófico na musculatura lisa de vasos, nas células miocárdicas e fibroblastos. Outros efeitos potencialmente benéficos resultam da diminuição da ativação simpática, restauração de barorreflexos pela ativação parassimpática, normalização da função do endotélio, redução do inibidor do ativador do plasminogênio, diminuição da endotelina e da arginina-vasopressina. O acúmulo de bradicininas, possivelmente, se relaciona à síntese de prostaglandinas vasodilatadoras e à maior geração de óxido nítrico141. BENEFÍCIOS CLÍNICOS Os IECA constituem um grupo de fármacos com comprovados benefícios na evolução de pacientes com IC, tanto em relação à morbidade, como à mortalidade. Esta afirmação baseia-se em numerosos ensaios randomizados, placebo-controlados ou comparativos, que atestaram os benefícios dos IECA nos diferentes estágios evolutivos da IC, e de disfunção ventricular sistólica, inclusive na assintomática BIANCA ABREU-MD3 11 O uso de IECA está fundamentado nas diferentes etiologias de IC bem como em pacientes com disfunção ventricular esquerda pós-infarto do miocárdio. CONTRA-INDICAÇÕES São contra-indicações para o uso de IECA: potássio sérico > 5,5 mEq/l, estenose de artéria renal bilateral, história de angioedema documentado com uso prévio de IECA, hipotensão arterial sistêmica sintomática, estenose aórtica grave. Precauções devem ser tomadas ao iniciar IECA em pacientes com nível de creatinina sérica > 3 mg/dl ou hipotensão arterial sistêmica sistólica persistente inferior a 80 mmHg EFEITOS ADVERSOS Os efeitos adversos mais comumente observados são tosse, hipotensão arterial, angioedema e insuficiência renal. No caso de tosse, a substituição pelos bloqueadores de angiotensina II está indicada. A combinação hidralazina-isossorbida é preferencialmente indicada nos casos de insuficiência renal, uma vez que apresenta benefício comprovado em pacientes com IC sistólica148. Embora a hipotensão arterial venha a ser um efeito adverso relativamente comum, somente em caso de estar associada a sintomas ou piora da função renal é que se torna uma indicação de redução ou suspensão. Beta-bloqueadores (BB) MECANISMO DE AÇÃO Os BB apresentam diversas atuações na fisiologia e metabolismo do cardiomiócito de pacientes com IC em decorrência de sua ação no antagonismo da atividade simpática, que cronicamente apresenta efeitos deletérios à função e geometria ventricular. Os benefícios da redução do antagonismo da atividade simpática se traduzem pela melhora clínica e da função ventricular com aumento da sobrevida dos pacientes com IC Os BB com eficácia clínica comprovada no tratamento da IC são: carvedilol, bisoprolol e succinato de metoprolol. PROPRIEDADES FARMACOLÓGICAS Os BB apresentam diferentes propriedades farmacológicas na β1-seletividade. O bisoprolol e o nebivolol151 têm maior seletividade, seguidos pelo succinato de metoprolol. No que se refere à atuação lipofílica, o BB que apresenta esta atividade é o carvedilol e, portanto, maior atuação sobre o sistema nervoso central e maior metabolismo hepático, com conseqüente menor meia- vida. O bisoprolol, o nebivolol e o succinato de metoprolol apresentam uma atuação lipofílica menor, com consequente reduzida ação central e menor metabolismo hepático, o que os confere a propriedade de posologia uma vez ao dia. Outros aspectos são as atuações de α-bloqueio do carvedilol, ocasionando atividade vasodilatadora moderada e propriedades anti-oxidantes em BIANCA ABREU-MD3 12 nível endotelial e o nebivolol apresenta propriedades vasodilatadoras secundárias ao seu efeito modulador sobre o óxido nítrico. O carvedilol pode determinar um remodelamento reverso da função simpática nervosa cardíaca. BENEFÍCIOS CLÍNICOS Os BB apresentam benefícios clínicos comprovados de melhora da classe funcional, redução da progressão dos sintomas de IC e redução de internação hospitalar, em pacientes com IC com disfunção sistólica, classe funcional I a IV da NYHA. Não se observou melhora na capacidade ao exercício, em decorrência ao seu efeito cronotrópico negativo. Os benefícios terapêuticos dos BB foram observados de forma consistente em pacientes com miocardiopatia dilatada de origem isquêmica ou não, sem influência da raça, sexo, idade e do ritmo sinusal ou fibrilação atrial. Quando associados aos IECA ou BRA, aumentam sobrevida por redução na mortalidade global e cardiovascular. A redução da mortalidade cardiovascular deve-se a uma redução de cerca de 20% na morte por progressão do IC e de 36% a 44% na morte súbita. OS BB APRESENTAM AÇÃO (TRÊS A SEIS MESES) DE REMODELAMENTO REVERSO E MELHORA DA FUNÇÃO VENTRICULAR QUANDO COMPARADOS COM IECA E BRA SUSPENSÃO OU CONTRA-INDICAÇÃO Na fase inicial da introdução dos BB, cerca de 15% dos pacientes poderão apresentar algum grau de piora do quadro clínico. No desenvolvimento de hipotensão arterial, o excesso de diurético ou doses elevadas de vasodilatadores, IECA ou BRA, podem ser os responsáveis. Nestas situações, a prioridade é a manutenção ou aumento da dose do BB, devendo-se modificar a dose de outros medicamentos. O desenvolvimento ou agravamento da dispnéia e/ou edema, usualmente são contornadoscom o aumento da dose do diurético. Em outras situações não toleráveis ou que determinem risco (bradicardia importante, alargamento do P-R com bloqueio A-V, hipotensão arterial importante) devemos reduzir a dose do BB para a posologia anterior ou avaliar a sua suspensão. Em pacientes internados por IC descompensada, não se deve suspender os BB de uso prévio, exceto na presença de choque cardiogênico, bloqueio átrio-ventricular ou sino-atrial avançados ou de bradicardia sintomática. Em pacientes com pressão arterial sistólica inferior a 85 mmHg ou com sinais de hipoperfusão periférica devemos reduzir inicialmente a posologia dos BB em 50% e reavaliar a resposta. Bloqueadores dos receptores de angiotensina II (BRA) MECANISMO DE AÇÃO BIANCA ABREU-MD3 13 A angiotensina II provoca efeitos adversos no coração, sistema arterial, glomérulo renal e na coagulação. Os BRA atuam de forma seletiva no bloqueio dos receptores do subtipo AT1 da angiotensina II, liberando a ação da AT-2, promovendo redução dos níveis de aldosterona e catecolaminas, vasodilatação arterial com consequente diminuição da resistência vascular periférica. Apresentam ainda, atividade antiproliferativa, com pouco efeito no cronotropismo e inotropismo. Não interferem na degradação da bradicinina, reduzindo a incidência de tosse. BENEFÍCIOS CLÍNICOS De forma geral, os BRA têm sua principal indicação em pacientes portadores de IC crônica com fração de ejeção (FE) reduzida intolerantes aos IECA, reduzindo morbi-mortalidade. EFEITOS ADVERSOS Os efeitos adversos mais frequentes são hipotensão arterial, piora da função renal e hiperpotassemia. O angioedema e a tosse também são observados com uma freqüência menor que os IECA. CONTRA-INDICAÇÕES As contra-indicações são semelhantes às dos IECA. Antagonista de Aldosterona MECANISMOS DE AÇÃO Níveis elevados de aldosterona estimulam a produção de fibroblastos e aumentam o teor da fibrose miocárdica, perivascular e perimiocítica, provocando rigidez muscular e disfunção. Além disso, a aldosterona provoca dano vascular por diminuição da complacência arterial, modula o equilíbrio da fibrinólise por aumentar o PAI-1(inibidor do ativador do plasminogênio), predispondo a eventos isquêmicos. Pode ocasionar disfunção de barorreceptores, ativação simpática, agravar a disfunção miocárdica e, por consequência, fazer progredir a IC. Por outro lado, acarreta retenção de Na+ e água, determinando perda de K+ e Mg++, aumentando a liberação de neuro-hormônio adrenérgico e o risco para arritmias cardíacas e morte súbita. Assim, seu bloqueio pode reduzir a síntese e o depósito do colágeno, melhorando a função miocárdica. BENEFÍCIOS CLÍNICOS Neste grupo de medicamentos, temos a espironolactona (com maior tempo de uso e com estudos que comprovaram sua eficácia) e o eplerenone (recentemente comercializado, porém ainda não disponível no Brasil), e ambos antagonizando a ação da aldosterona. A espironolactona tem eficácia comprovada na redução de mortalidade em pacientes com classe funcional III-IV e FEVE<35%169. Em pacientes assintomáticos pós IAM com FEVE<40%, o eplerenone reduziu mortalidade geral e cardiovascular, hospitalização e morte súbita BIANCA ABREU-MD3 14 EFEITOS ADVERSOS Hiperpotassemia, ginecomastia e mastodínia (ginecomastia dolorosa) são efeitos adversos encontrados principalmente com espironolactona. CONTRA-INDICAÇÕES Não está recomendado em pacientes com creatinina >2,5 mg/dl ou potássio sérico > 5,0 mEq./l. Diuréticos MECANISMO DE AÇÃO Promovem natriurese, contribuindo para a manutenção e melhor controle do estado volêmico. Tiazídicos Seu mecanismo de ação se faz no começo do túbulo distal, ao bloquear o co-transporte de Na+-Cl-. A ação natriurética dos tiazídicos é modesta em relação a outros diuréticos e perdem sua efetividade em pacientes com função renal comprometida (clearance de creatinina < 30 ml/min). Os principais representantes são a hidroclorotiazida e a clortalidona Diuréticos de alça Esses diuréticos determinam aumento da excreção da carga de sódio e mantém sua eficácia, a não ser que a função renal esteja gravemente comprometida. Os principais representantes dessa classe são a furosemida e a bumetamida. Esses agentes aumentam o fluxo sangüíneo renal sem aumentar a taxa de filtração, especialmente após administração intravenosa. BENEFÍCIOS CLÍNICOS Na IC os diuréticos são raramente utilizados como monoterapia, sendo de preferência associados com IECA e BB. Os diuréticos de alça são frequentemente utilizados nos pacientes com classes funcionais mais avançadas (III/IV), em decorrência das suas ações: 1) maior excreção de água para o mesmo nível de natriurese; 2) manutenção da sua eficácia, a despeito da BIANCA ABREU-MD3 15 disfunção renal que frequentemente se observa na IC; 3) ação diurética diretamente relacionada à dose utilizada. Por outro lado, os diuréticos tiazídicos têm sido utilizados nas formas brandas de IC (classe funcional II), com boa eficácia na melhora clínica dos pacientes. Alguns estudos clínicos demonstraram melhora dos sintomas de congestão, aumento da capacidade ao exercício, e redução do risco de descompensação. Os seus efeitos sobre a mortalidade não estão bem definidos, em função da ausência de ensaios clínicos com esta finalidade EFEITOS ADVERSOS De maneira geral, sabe-se que o uso de diuréticos de alça promove ativação adicional do eixo renina-angiotensina, agravando efeitos neuro-humorais deletérios. Distúrbios eletrolíticos (hipocalemia, hipomagnesemia, hiponatremia) e metabólicos (hiperglicemia, hiperlipidemia, hiperuricemia), hipovolemia e ototoxidade, este último menos frequente na forma oral, são também observados na terapia diurética Nos pacientes com disfunção renal subjacente e/ou hipovolemia, o uso de diurético poderá agravar a função renal. Cardiotônicos Digitálicos Esses fármacos atuam como Agentes Inotrópicos Positivos ao se ligarem às membranas dos Cardiomiócitos e inibirem a enzima Na+K+ATPase. Essa inibição, consequen-temente, aumenta a concentração de Na+ intracelular, que, por sua vez, através da lentificação do Sistema Trocador de Ca+2Na+, aumenta a concentração plasmática do íon Ca+2. Além disso, modulam a ativação neuro-hormonal por meio da redução da Atividade Simpática, estimulando a Ação Vagal e aumentando a sensibilidade dos Reflexos Barorreceptores e Cardiopulmonares, com consequente diminuição do consumo de oxigênio. O maior exemplo é a Digoxina. Esses medicamentos estão indicados aos pacientes com IC com Disfunção Sistólica. EFEITOS ADVERSOS Arritmias (doses altas podem gerar Arritmias, principalmente por Fibrilação Ventricular) distúrbios gastrointestinais (anorexia, náuseas e vômitos), neurológicos –os neurônios também são atingidos- (confusão mental, xantopsia-perturbação visual que deixa os objetos visualizados amarelos). Digoxina BIANCA ABREU-MD3 16 A digoxina está indicada em pacientes com IC com disfunção sistólica, associado à frequência ventricular elevada na fibrilação atrial, com sintomas atuais ou prévios. Em pacientes com ritmo sinusal e disfunção sistólica, principalmente se sintomáticos, o emprego da digoxina se associa à redução de hospitalizações, sem impacto na mortalidade. A suspensão do digital em pacientes com IC com fração de ejeção reduzida pode levar a piora sintomática e aumento nas hospitalizações. Os digitálicos não estão indicados para o tratamento da IC com fração de ejeção preservada (FEVE > 45%) e ritmo sinusal CONTRA-INDICAÇÕES O uso da digoxina está contra-indicado em pacientes que apresentem bloqueio AV de segundo grau Mobitz II e terceiro grau; doença do nó sinusal sem proteção de marcapasso e em síndromes de pré-excitação192. Deve ser administrado com precaução em idosos, portadores de disfunção renal e pacientes com baixo peso. Cuidado adicionaldeve ser tomado em relação a interações medicamentosas (amiodarona, quinidina, verapamil, diltiazem, quinolônicos) que podem elevar os níveis séricos da digoxina. DIURÉTICOS POUPADORES DE K+ OU ANTAGONISTA DE ALDOSTERONA Esses fármacos inibem a ação da Aldosterona no Ducto Coletor dos rins. Níveis elevados de Aldosterona estimulam a proliferação de Fibroblastos e aumentam o teor da Fibrose Miocárdica, Perivascular e Perimiocítica, provocando Rigidez Muscular e disfunção. Além disso, a Aldosterona provoca dano vascular por diminuição da Complacência (disposição habitual) arterial, modulando o equilíbrio da Fibrinólise por aumentar o PAI-1 (Inibidor do Ativador do Plasminogênio), predispondo a eventos Isquêmicos. Pode ocasionar disfunção de barorreceptores, Ativação Simpática, agravar a Disfunção Miocárdica e, por consequência, fazer progredir a IC. Por outro lado, acarreta retenção de Na+ e água, determinando perda de K+ e Mg++, aumentando a liberação de Neuro-Hormônio Adrenérgico e o risco para Arritmias Cardíacas e morte súbita. Assim, seu bloqueio pode reduzir a síntese e o depósito do Colágeno, melhorando a Função Miocárdica. Exemplo: Espironolactona. BLOQUEADORES DOS RECEPTORES DE ANGIOTENSINA II (BRA) Eles antagonizam a ação da Angiotensina II por meio do bloqueio específico dos Receptores AT1, responsáveis pelas ações vasoconstritoras, proliferativas e estimuladoras da liberação de Aldosterona, próprias da Angiotensina II. Os BRA têm sua principal indicação em pacientes BIANCA ABREU-MD3 17 portadores de IC Crônica com Fração de Ejeção Reduzida intolerantes aos IECA, reduzindo morbimortalidade. Exemplo: Valsartana. BETABLOQUEADORES Esses fármacos possuem ação Antagonista à Atividade Simpática, inibindo as respostas Cronotrópicas, Inotrópicas e vasoconstritoras à ação das catecolaminas Adrenalina e Noradrenalina nos Receptores Beta-Adrenérgicos. Os benefícios da redução do antagonismo da atividade simpática se traduzem pela melhora clínica e da Função Ventricular, pois reduzem o Remodelamento Miocárdico, com aumento da sobrevida dos pacientes com IC. Os BB com eficácia clínica comprovada no tratamento da IC são: Carvedilol, Bisoprolol e Succinato de Metoprolol. GLICOSÍDEOS DIGITÁLICOS MECANISMO DE AÇÃO Efeito Inotrópico Positivo: inibição da Na/K ATPase. O transporte transmembrana de Ca2+ está ligado ao de Na+. Existe um trocador Na/Ca na membrana. Se Na/K ATPase é inibida, o Na+ intracelular começa a se acumular, aumentando seu efluxo pelo trocador Na/Ca, em troca da entrada de Ca2+ no miócito -> aumento de Ca2+ -> inotropismo + (melhora da função sistólica); Também, modulam a ativação neuro-hormonal por meio da redução da atividade simpática, estimulando a ação vagal e aumentando a sensibilidade dos reflexos barorreceptores e cardiopulmonares, com consequente diminuição do consumo de oxigênio. São preconizadas dozes menos elevadas pois possuem níveis terapêuticos próximos aos tóxicos (janela terapêutica estreita) EFEITOS COLATERAIS BIANCA ABREU-MD3 18 Sintomas gastrointestinais e neurológicos; arritmias ventriculares; bradirritmias; bloqueio atrioventriculares em idosos e no IAM. INDICAÇÃO Pacientes sintomáticos com ICS (fração de ejeção comprometida), e nos assintomáticos com fibrilação atrial e resposta ventricular elevada; Não há efeitos comprovados na contenção da progressão da IC, mas são efetivos na descompensação da IC; INIBIDORES DA ENZIMA CONVERSORA DE ANGIOTENSINA (IECA) MECANISMO DE AÇÃO Inibem a enzima conversora (peptidildipeptidase) que hidrolisa a angiotensina I em II (que é um vasocontritor) e inativa a bradicinina, um potente vasodilatador, que atua ao estimular a liberação de óxido nítrico e de prostaciclina. Estudos atuais vêm demonstrando que os IECA não inibem por completo o sistema renina angiotensina-aldosterona, e que o seu uso continuado pode gerar "escape" da conversão de angiotensina II e da ativação da aldosterona. Portanto, um bloqueio na via final do SRAA poderia proporcionar um bloqueio mais efetivo do sistema. Energética Cardíaca Para que o coração funcione adequadamente, deve ter um suprimento adequado de energia química na forma de adenosina trifosfato (ATP). O conteúdo relativamente baixo de ATP do tecido cardíaco combinado com uma taxa relativamente alta de hidrólise do ATP em repouso sugere que a reserva miocárdica de ATP apresenta um tumover completo a cada 10 s. Os substratos a partir dos quais o ATP é formado pelo coração dependem em parte de quais são mais ofertados em determinado momento. Corações de fetos e recém-nascidos derivam em sua maior parte do seu ATP do metabolismo da glicose e lactato, enquanto, algumas semanas após o nascimento, uma mudança em direção à oxidação do ácido graxo ocorre de forma que, na idade adulta, 60 a 90% do ATP cardíaco são derivados dos ácidos graxos. Uma mudança de volta para o fenótipo fetal é observada na insuficiência cardíaca grave. O glicogênio é armazenado nas células miocárdicas como um suprimento de energia de reserva e pode ser mobilizado através da via glicolítica para fornecer substrato extra sob condições de aumento da estimulação simpática. O produto final do metabolismo do glicogênio, glicose, ácidos graxos, triglicerídios, piruvato e lactato é a acetil CoA, que entra no ciclo do ácido cítrico (Krebs) BIANCA ABREU-MD3 19 nas mitocôndrias, onde, por um processo de fosforilação oxidativa, as moléculas são degradadas em dióxido de carbono e água, e a energia é convertida em ATP. As fontes anaeróbicas de energia no coração (p. ex., glicólise, creatina fosfato) não são adequados para sustentar a demanda metabólica por mais de alguns minutos. A forte (quase total) dependência do coração às vias aeróbicas para a produção de ATP é evidente em virtude (1) do alto número de mitocôndrias e (2) da presença de altas concentrações de mioglobina da proteína ligadora de oxigênio nas células do músculo cardíaco. A mioglobina pode liberar seu oxigênio para o sistema de oxidase do citocromo mitocondrial quando os níveis de oxigênio intracelular são reduzidos. Nesse aspecto, o músculo cardíaco lembra o músculo esquelético “vermelho”, adaptado para a atividade contrátil sustentada, diferentemente do músculo esquelético “branco”, adaptado para atividade contrátil de alta intensidade e curta duração Gordura Epicárdica A gordura epicárdica (GE) é um depósito de gordura visceral, localizado entre o coração e o pericárdio, que compartilha muitas das propriedades fisiopatológicas dos demais depósitos de gordura visceral, mas com potenciais efeitos locais diretos no processo inflamatório e aterosclerótico coronariano Chamamos de gordura epicárdica o tecido adiposo acumulado entre o pericárdio seroso visceral e o miocárdio, sem uma estrutura ou fáscia que a separe do miocárdio e dos vasos epicárdicos. A gordura epicárdica é distribuída de forma variável, sendo mais proeminente nos sulcos atrioventricular, interventricular e na parede lateral do ventrículo direito, podendo ocorrer infiltração de adipócitos no miocárdio e de triglicerídeos nos miócitos. Dentre os diversos papéis fisiológicos da GE estão: regulação e distribuição local do fluxo vascular por mecanismos vasócrinos; barreira imunológica, protegendo o miocárdio e as artérias coronárias de substâncias inflamatórias e patogênicas; proteção mecânica das artérias coronárias; prover espaço para a expansão da parede arterial nas fases iniciais da aterosclerose; ser fonte local de ácidos graxos para o miocárdio em momentos de alta demanda; e efeitos termogênicos relacionados ao tecido adiposo marrom. O excesso de mediadores pró-inflamatórios circulantes oriundos de gordura epicárdica poderia levar a efeitos sistêmicos como hipertensão e aterosclerose,e através da constrição dos vasos que nutrem os músculos no período pós-prandial, levar a resistência à ação da insulina, hiperglicemia e diabetes. Já os efeitos parácrinos poderiam atuar localmente nas coronárias levando a aterosclerose e remodelamento cardíaco. O depósito de gordura epicárdica tem um papel fisiológico na regulação e distribuição do fluxo sanguíneo através da sinalização vascular regional de fora para dentro – mecanismos vasócrinos. Além disso, pode atuar como um tecido imunológico, protegendo o miocárdio e as artérias coronárias de substâncias inflamatórias e patogênicas. Outras funções atribuídas a este depósito incluem mecanismos de proteção mecânica das artérias coronárias contra torções e tensões provocadas pela contração cardíaca, prover espaço para a expansão da parede arterial nas fases iniciais das placas ateroscleróticas e ser fonte local de ácidos graxos para o músculo cardíaco em momentos de alta demanda, por meio da microcirculação coronariana. BIANCA ABREU-MD3 20 Hipertrofia Cardíaca Constitui-se num mecanismo adaptativo do coração, em resposta a um aumento de sua atividade ou de sobrecarga funcional. De maneira sucinta, podemos dizer que esta adaptação pode se dar em resposta a: a) Aumento de necessidade metabólica que impõe um aumento do débito cardíaco. Esta é a condição observada em resposta ao exercício físico, indução hormonal (Tiroxina, isoproterenol) ou condições de débito alto como as observadas na anemia e fístulas arteriovenosas); b) Aumento de carga pressórica ou de volume, condição observada como resposta adaptativa a condições patológicas como a hipertensão arterial, estenose ou coartação de aorta, etc. (sobrecarga pressórica), ou lesões orovalvulares ou congênitas como a insuficiência aórtica, comunicação interatrial, etc. (sobrecarga de volume); c) Resultante de mecanismos intrínsecos de natureza genética, tais como as hipertrofias idiopáticas que podem ocorrer mesmo na ausência de sobrecargas Tipos de Hipertrofia Existem dois tipos de hipertrofia, a concêntrica e a excêntrica. Nas hipertrofias concêntricas ocorre aumento de massa ventricular decorrente de aumento da espessura da parede e redução dos diâmetros cavitários. Tal condição surge em decorrência de um aumento de resistência à ejeção ou à sobrecarga de pressão. Na hipertrofia concêntrica a redução dos diâmetros cavitários permite ao ventrículo desenvolver maior pressão. Este fato pode ser compreendido considerando-se a Lei de Laplace (P = T/R). Nesse caso, a tensão ativa produzida pela maior massa ventricular é maior e, sendo menor o raio da cavidade, a pressão resultante torna-se maior. Nas hipertrofias excêntricas ocorre um aumento de massa ventricular e da espessura da parede ventricular, mas com aumento dos diâmetros cavitários. Esta condição surge em decorrência de sobrecarga de volume. No caso da hipertrofia excêntrica, o ventrículo deverá adaptar-se a condições para lidar com maior volume de sangue. Neste caso, mantidas as condições de encurtamento da parede ventricular, a existência de um volume cavitário maior permitirá uma fração ejetada maior, embora o aumento de raio tenda a reduzir a capacidade de desenvolvimento de pressão Com relação aos miócitos, o seu crescimento, na hipertrofia, pode se fazer de duas maneiras, pela adição de sarcômeros em série ou em paralelo. Cumpre ressaltar que tal crescimento não é acompanhado de multiplicação de miócitos. A adição de sarcômeros, em série, permite que a célula aumente de comprimento, ocorrência principal nas hipertrofias excêntricas, e a adição em paralelo aumenta a secção transversa das células, ocorrência principal nas hipertrofias concêntricas. A hipertrofia cardíaca também pode ser classificada como fisiológica ou patológica. A hipertrofia patológica apresenta padrão predominantemente concêntrico, com reprogramação de genes fetais, remodelamento da matriz extracelular, fibrose e disfunção cardíaca; podendo evoluir para um coração dilatado, com fibrose externa, morte de cardiomiocitos e IC. Já a hipertrofia BIANCA ABREU-MD3 21 fisiológica, que resulta de estímulos fisiológicos, como o exercício, tem padrão predominantemente excêntrico e se caracteriza por manter a função cardíaca normal ou ate aumentada. É importante ressaltar que se o estimulo for retirado, o coração retorna ao seu estado normal. EXCÊNTRICA CONCÊNTRICA Tem como estimulo inicial uma sobrecarga de volume É causada geralmente por uma sobrecarga de pressão Caracterizada por uma parede cardíaca delgada e dilatação ventricular Leva a um espessamento da parede ventricular, sem mudanças no diâmetro Ocorre a adição dos Sarcômeros em série Deposição de novos Sarcômeros em paralelo Regurgitação valvar, shunts Hipertensão, estenose valvar Hipertrofia cardíaca fisiológica É o mecanismo fisiológico compensatório caracterizado pelo aumento do comprimento e diâmetro dos cardiomiocitos, sendo responsável pela manutenção da tensão na parede ventricular em níveis fisiológicos. Os atletas de alto rendimento desenvolvem hipertrofia do tipo EXCÊNTRICA, devido a sobrecarga de VOLUME, ou seja, aumento da pré-carga devido ao aumento do retorno venoso nas sessões do exercício, gerando um elevado pico de tensão diastólica, induzindo o crescimento dos cardiomiocitos. Ocorre adição dos novos sarcômeros em SÉRIE, e aumento do comprimento da fibra para normalizar o estresse na parede do miocárdio levando a um aumento da cavidade do VE. A cavidade aumentada por sua vez, eleva a tensão sistólica, estimulando o crescimento dos miócitos, pela adição de novos sarcômeros em PARALELO, aumentando também a espessura da parede do VE de forma compensatória. Como consequência, a relação entre a parede ventricular e raio do VE permanece inalterada. Por outro lado, os atletas que realizam treinamento resistido dinâmico ou isométrico desenvolvem hipertrofia CONCÊNTRICA caracterizada por uma cavidade do VE de tamanho normal e por um espessamento da parede do VE e septo. Essa alteração decorre do aumento DC: ñ altera Fração de ejeção: ñ altera Pré-carga: ⬆ Pós-carga: ⬇ BIANCA ABREU-MD3 22 no diâmetro dos miócitos pela adição de novos sarcômeros em PARALELO como resposta a sobrecarga hemodinâmica (de PRESSÃO). Essa hipertrofia é caracterizada pelo aumento da razão entre a espessura da parede e do raio do VE. Hipertrofia por sobrecarga de volume (excêntrica) induzida pelo exercício físico aeróbio regular. Normalmente é acompanhada de aumento da densidade capilar, com redução da frequência cardíaca e da pressão arterial em repouso. • Estruturalmente, o aumento da massa muscular do miocárdio, principalmente do VE, com aumento do VDF, caracteriza hipertrofia excêntrica. • Também ocorre aumento do volume sistólico e a força de contração. • Como há maior enchimento ventricular, mantendo-se a fração de ejeção, o coração ejeta maior volume absoluto de sangue. • Logo, é necessário um menor número de batimentos por minuto para manter o DC. • Há, também, aumento do calibre das artérias coronarianas e aumento do fluxo sanguíneo cardíaco e periférico, para gerar melhor perfusão para os músculos durante o exercício. Por outro lado, exercícios estáticos, como o levantamento de peso, estão associados à hipertrofia de sobrecarga de pressão (concêntrica). Obs.: Também são relatadas adaptações bioquímicas no coração, como aumento do metabolismo oxidativo do miocárdio, a partir do aumento na atividade de enzimas oxidativas e aumento no número e tamanho das mitocôndrias. Como alterações na musculatura periférica que influenciam de forma indireta o desempenho cardíaco, temos redução plasmática de triglicerídeos, diminuição do LDL-colesterol, aumento da sensibilidade a insulina e aumento do consumo máximo de oxigênio. Hipertrofia cardíaca patológicaEstá associada a quadros de sobrecarga de pressão ou de volume imposta ao coração onde o aumento de sobrecarga pode ser decorrente de processos patológicos como a HAS. Geralmente esse tipo de hipertrofia é concêntrica, pois tem diminuição dos diâmetros da câmara ventricular, além do espessamento da parede ventricular. A hipertrofia pode aumentar em muitas vezes os riscos e os eventos cardiovasculares pelo aumento da demanda de oxigênio do tecido miocárdico hipertrofiado. Isso aumentaria a prevalência e a severidade de arritmias ventriculares, levando a alterações na contratilidade miocárdica e prejuízo da função cardíaca. Além disso, pode evoluir para uma IC. Na hipertrofia patológica existe padrões de expressão genica característicos, incluindo a reexpressão de genes do período fetal (como alfa actina esquelética no ventrículo) além de mudanças na composição das proteínas contrateis do ventrículo como aumento da fração de miosina de cadeia pesada de tipo beta (beta-mcp) determinando alterações na capacidade DC: ⬆ Fração de ejeção: ñ altera Pré-carga:⬇ Pós-carga: ⬆ BIANCA ABREU-MD3 23 contrátil do miocárdio, o que gera diminuição da velocidade de encurtamento dos sarcômeros. Também há alteração na expressão de proteínas não contrateis, como fator natriurético atrial (ANP), genes relacionados com o metabolismo energético e da enzima conversora da angiotensina I (ECA). Todas essas alterações não são encontradas em situações de hipertrofia cardíaca fisiológica induzida pelo treinamento físico. Sabe-se que pacientes hipertensos têm aumento da atividade simpática com aumento da concentração plasmática de catecolaminas em repouso, aumento da angiotensina e da rvp. Logo, a hipertrofia ventricular esquerda nesses pacientes parece ser, inicialmente, um mecanismo compensatório ao aumento da pós-carga na tentativa de manter a função cardíaca, mas está associada a alterações estruturais e funcionais do miocárdio: 1. HAS leva a disfunção e hipertrofia do VE que precisa trabalhar mais devido ao aumento da resistência vascular periférica; 2. Assim, há hipertrofia do septo interventricular (pela deposição de colágeno extracelular) invadindo o VD, dificultando o seu enchimento e culminando na diminuição da pré- carga; Obs.: Apesar de haver redução relativa do enchimento do VE na sobrecarga de pressão do VD, a fração de ejeção do VE permanece preservada, enquanto que esta fração de ejeção se encontra deprimida nos pacientes com sobrecarga volumétrica do VD. A sobrecarga de pressão e de volume do VD tem efeitos contrários na fração de ejeção do VE. BIANCA ABREU-MD3 24 Os estímulos neuro-humorais, como a angiotensina II (ang II) e endotelina 1 (ET-1), resultam na ativação da proteína G, através dos receptores Gaq que estão associados a hipertrofia patológica e progressão para IC. Por outro lado, a ativação de fatores de crescimento, como o fator de crescimento insulínico (IGF), que estimulam a ativação da proteína cinase B e fosfoinositol- 3-cinase estão implicados em uma hipertrofia fisiológica. No entanto, ainda existem rotas comuns para os dois mecanismos, como a calcineurina e a ERK ½, que parecem ser ativadas por patologias e por exercícios. Exercício físico e benefícios cardiovasculares O exercício físico produz efeitos benéficos substanciais ao sistema cardiovascular. As alterações específicas que ocorrem dependem do tipo de exercício, da intensidade e duração do período de treinamento, da idade do indivíduo e do seu nível de boa forma. O exercício físico repetido durante um período de várias semanas é associado a um aumento da capacidade de trabalho do indivíduo. As alterações cardiovasculares associadas ao condicionamento podem incluir aumentos no volume de sangue circulante, reduções na frequência cardíaca, aumentos no volume sistólico cardíaco e reduções na pressão arterial em repouso. Durante os exercícios, um indivíduo treinado será capaz de atingir uma determinada carga de trabalho e débito cardíaco com uma frequência cardíaca mais baixa e um volume sistólico mais alto do que o indivíduo não-treinado. Essas mudanças produzem uma redução geral da demanda miocárdica de oxigênio e um aumento na reserva cardíaca (potencial para aumentar o débito cardíaco) que pode ser exigida durante os períodos de estresse. O aumento da câmara ventricular frequentemente acompanha regimes de condicionamento com exercícios dinâmicos (treinamento de resistência) enquanto os aumentos da massa miocárdica e da espessura da parede ventricular são mais pronunciados nos regimes de condicionamento com exercício estático BIANCA ABREU-MD3 25 (treinamento de força). Essas alterações estruturais melhoram a capacidade de bombeamento do miocárdio. Remodelamento Cardíaco Remodelação cardíaca (RC) é uma alteração na expressão gênica em resposta a uma agressão, resultando em mudanças moleculares, celulares e intersticiais miocárdicas, e que se expressa por variações no tamanho, forma e função do coração. É também um mecanismo adaptativo à sobrecarga hemodinâmica, permitindo ao coração manter suas funções em vigência de aumento de carga. É considerado fator de risco para o desenvolvimento de disfunção ventricular e insuficiência cardíaca (IC). Remodelamento pode ser fisiológico e adaptativo, durante o desenvolvimento normal ou em atletas. No entanto, o termo é em geral usado para descrever as alterações patológicas comuns a múltiplas agressões ao coração, como injúria (infarto agudo do miocárdio), sobrecargas crônicas de pressão (hipertensão arterial, estenose aórtica) ou de volume (insuficiência mitral ou aórtica), inflamação (miocardites) ou expressão de um programa genético que levar· a miocardiopatia. Esses eventos permitem que o coração se adapte as novas condições de funcionamento, e ativam importantes mediadores, que incluem estresse parietal, neuro hormônios (sistema simpático, renina- angiotensina, aldosterona e endotelina), citocinas, estresse oxidativo e isquemia. Esses mediadores se potencializam mutuamente, agindo interrelacionados. Em decorrência disso, começam a ocorrer modificações moleculares e celulares, entre elas hipertrofia do miócito, necrose e apoptose, e proliferação e fibrose intersticial, mas também degeneração de colágeno e deslizamento das fibras de colágeno entre si. Como resultado, ocorre hipertrofia do miócito e aumento da massa ventricular, que reduzem o estresse parietal (Lei de Laplace), compensando a demanda aumentada e permitindo estabilização inicial. Porém, quando o remodelamento for insuficiente ou a sobrecarga ultrapassar a capacidade do coração hipertrofiar, ocorre um desbalanço de pós- carga. A hipertrofia passa a ser insuficiente para normalizar o estresse parietal, criando-se um círculo vicioso que leva a dilatação do coração, alterações da geometria (passando para um formato globoide), alterações de contratilidade/relaxamento e aumento do volume sistólico e diastólico final; essas alterações são progressivas, sempre deletérias e associadas a mau prognostico, e fornecem a base para o desenvolvimento da IC O tratamento farmacológico da remodelação cardíaca pode ser dividido em três estágios: estratégias consolidadas, promissoras e potenciais. No grupo de estratégias já consolidadas, os BIANCA ABREU-MD3 26 inibidores da enzima conversora da angiotensina, os betabloqueadores e os antagonistas da aldosterona foram eficazes em atenuar o processo de remodelação. Inibidores da enzima conversora . Efeito de drogas (Enalapril) sobre parâmetros de remodelamento e prognóstico. Em pacientes com disfunção ventricular assintomática e com IC leve a moderada, houve melhora significativa dos volumes ventriculares e da fração de ejeção em relação ao placebo, e estes achados se associaram a importante redução da mortalidade. Grandes estudos clínicos mostrarambenefícios no remodelamento e sobrevida no pós infarto e na fase tardia, já em presença de disfunção ventricular. Os efeitos dos IECA no remodelamento podem ser mediados por diversos mecanismos, que incluem vasodilatação, redução da pressão arterial, redução da sobrecarga hemodinâmica no VE, efeito direto evitando hipertrofia do miócito (por redução da angiotensina II e aumento na bradicinina), efeitos na circulação coronária e sobre atividade fibrinolítica intrínseca. Betabloqueadores. Houve melhora significativa em diversos parâmetros de remodelamento, como volumes ventriculares, fração de ejeção e um Índice de contratilidade segmentar da parede. O estudo clínico completo mostrou importante redução da mortalidade em relação ao controle, de novo comprovando a importância do remodelamento na evolução a longo prazo. Na evolução a longo prazo pós-IAM (12 meses), o tratamento com Carvedilol conseguiu até mesmo reverter os parâmetros de remodelamento que já haviam se instalado (remodelamento reverso). De novo, essa melhora do remodelamento se refletiu em significativa melhora da sobrevida. Os betabloqueadores também têm recebido grande atenção no tratamento da IC crônica. Eles têm demonstrado efeitos benéficos importantes em diversos parâmetros de remodelamento, como os volumes sistólico e diastólico, e a fração de ejeção. Os betabloqueadores não são definidos como terapia de primeira linha pelas diretrizes de tratamento da IC. Esse posto é ocupado pelos IECA, e o uso de betabloqueadores tem sua indicação após os IECA terem atingido sua dose-alvo. Os efeitos anti-remodelamento dos betabloqueadores podem se dever a diversos mecanismos, incluindo bloqueio beta, bloqueio a1 com Carvedilol (importante na resposta ao estiramento), redução da deposição de colágeno e efeito antifibrótico, efeito antioxidante e antiapoptótico, entre outros. Antagonistas de receptores da angiotensina . Como a angiotensina II é um dos participantes mais importantes na gênese do RV, é lógico pensar que os ARA possam ter efeito anti-remodelamento significativo Antagonistas da aldosterona. A espironolactona inibe competitivamente a ligação da aldosterona aos seus receptores, em muitos tecidos, inclusive coração e túbulos renais. Quando usada em pacientes com IC classe III-IV, que j· usavam tratamento habitual incluindo IECA, essa droga reduziu mortalidade em 25%, no estudo RALES54. A eplerenona, um antagonista seletivo dos receptores de aldosterona, tem menos efeitos adversos que a espironolactona; no estudo EPHESUS, ela reduziu a mortalidade em 15% quando administrada a pacientes pós-infarto com disfunção ventricular já em uso de inibidores da ECA e betabloqueadores. Acredita-se que o efeito benéfico dessa classe de drogas seja, em grande parte, devido a seus efeitos antifibrose e antiremodelamento.
Compartilhar