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1 Gênero e saúde da mulher → conceito de gênero “qualquer agrupamento de indivíduos, objetos, ideias, que tenham caracteres comuns”. – Dicionário Aurélio, 1986. “uma categoria social imposta sobre um corpo sexuado”. – Gates, citada por Scott, 1995. “gênero é um elemento constitutivo das relações sociais baseado nas diferenças percebidas entre os sexos... o gênero é uma forma primária de dar significado às relações de poder.” – Scott, 1995. “uma forma de entender, visualizar e referir-se à organização social da relação entre os sexos.” – Guedes, 1995. Muitas vezes o termo gênero é erroneamente utilizado em referência ao sexo biológico, por isso, é importante enfatizar que o gênero diz respeito aos aspectos sociais atribuídos ao sexo, ou seja, gênero está vinculado a construções sociais, não às características naturais. O gênero, portanto, se refere a tudo aquilo que foi definido ao longo do tempo, e que a nossa sociedade entende como o papel, função ou comportamento esperado de alguém com base em seu sexo biológico. Gênero é a construção social atribuída ao sexo, vejamos um exemplo que nos permite entender melhor essa distinção: Muitas vezes escutamos frases como: “Cuidar da casa é coisa da mulher”, o que está por trás de frases desse tipo, é justamente a questão de gênero, se o que caracteriza ser mulher são simplesmente características biológicas e anatômicas, não haveria razão para alguém atribuir uma atividade especificamente às mulheres, afinal, a genitália que uma pessoa tem, não faria diferença na hora de limpar a casa. Isso demonstra que há algum sentido a mais atribuída a ser mulher, algo que vai além do sexo biológico, esse algo além é justamente o gênero. O gênero é socialmente definido, podemos observar como essa construção é observada na prática, como alguns exemplos de leis brasileiras que atribuíam funções diferentes a homens e mulheres, definindo muita das vezes a relação de poder entre os dois: “DECRETO Nº 181, DE 24 DE JANEIRO DE 1890 CAPITULO VII DOS EFEITOS DO CASAMENTO § 3º Investir o marido do direito de fixar o domicilio da família, de autorizar a profissão da mulher e dirigir a educação dos filhos. § 4º Conferir á mulher o direito de usar do nome da família do marido e gozar das suas honras e direitos, que pela legislação brasileira se possam comunicar a ela. 2 § 5º Obrigar o marido a sustentar e defender a mulher e os filhos.” LEI Nº 3.071, DE 1º DE JANEIRO DE 1916 CÓDIGO CIVIL DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL CAPÍTULO II Dos Direitos e Deveres do Marido Art. 233. O marido é o chefe da sociedade conjugal. Compete-lhe: I. A representação legal da família, II. A administração dos bens comuns e dos particulares da mulher, que ao marido competir administrar em virtude do regime matrimonial adaptado, ou do pacto antenupcial (arts. 178. § 9º, nº I, c, 274, 289, nº !, e 311). III. Direito de fixar e mudar o domicilio da família (arts. 46 e 233, nº IV). IV. O direito de autorizar a profissão da mulher e a sua residência fora do tecto conjugal (arts.231, nº II, 242, nº VII, 243 a 245, nºIII). V. Promover à manutenção da família, guardada a disposição do art. 277. Com esses dois exemplos, podemos ver como era claro para a sociedade brasileira do final do século XIX e início do século XX, que os homens eram os provedores dos lares e gestores dos bens da família. As mulheres eram sustentadas por esses recursos e caso tivesse interesse em trabalhar fora de casa, precisavam da autorização dos seus maridos. Entendendo os homens como provedores e as mulheres como cuidadoras e dependente deles, naturalmente os espaços sociais públicos se tornaram ocupados na maior parte por homens, enquanto espaços sociais privados domésticos ou relacionados ao cuidar, como áreas da saúde e da educação principalmente, se tornaram ocupados na maior parte por mulheres. Dessa forma, os homens foram definindo estruturas e culturas tipicamente masculinas dentro dos espaços sociais que ocupavam e as mulheres da mesma forma, também foram definindo estruturas e culturas que melhor se adequavam a elas em seus espaços. → Identidade de gênero Como o próprio nome indica, identidade de gênero diz respeito ao gênero com qual uma pessoa se identifica, independente do sexo, ou seja, das características biológicas. Está relacionado à identificação de uma pessoa com gênero masculino ou feminino. Algumas pessoas se identificam com o gênero diferente do que imposto a elas em função do seu sexo biológico, essa identificação é o que se chama identidade de gênero. → A construção do gênero social Como passar do tempo, vários fatores espontâneos ou não, como as guerras, por exemplo, foram tornando nossa sociedade cada vez mais complexa, levando às mulheres a se inserir em mais atividades dos espaços públicos, da mesma forma que também observamos cada vez mais homens se inserindo nos espaços domésticos e de cuidar. A desigualdade de gênero ficou no passado? O que é preciso se pensar sobre essas mudanças é: será 3 que as mulheres conseguem se inserir nos espaços públicos da mesma forma que os homens? Será que o espaço doméstico privado já está completamente descaracterizado como algo tipicamente feminino? → desigualdade de gênero Dois dados nos comprovam que ainda temos desafios a superar. As mulheres ainda ganham em média 68% do que os homens ganham e representam cerca de 15% dos trabalhadores domésticos com e sem carteira assinada, contra 9% dos homens
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