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ENTRE TRAMAS, LAÇOS E NÓS: UM OLHAR SOBRE A PRÁTICA DE ORIENTADORAS EDUCACIONAIS Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Psicologia – MAPSI, da Universidade Federal de Rondônia, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Psicologia. Linha de Pesquisa: Psicologia Escolar e Processos Educativos. Orientadora: Prof.ª. Dr.ª: Neusa dos Santos Tezzari. Mestrando: Locimar Massalai. O que nos propomos? • Analisar as concepções e as práticas das Orientadoras Educacionais que trabalham em escolas estaduais de Rondônia frente à demanda escolar. • Historiar a Orientação Educacional em Rondônia e analisar documentos pertinentes ao exercício cotidiano das Orientadoras Educacionais; • Fazer o levantamento das queixas escolares e de como elas são respondidas pelas Orientadoras Educacionais; • Compreender o lugar que ocupam os encaminhamentos no cotidiano das Orientadoras Educacionais; • Identificar os procedimentos utilizados no atendimento aos alunos encaminhados com queixas escolares referentes a não aprendizagem ou com dificuldades de aprendizagem. Com quem e onde fizemos? • Participaram da pesquisa as profissionais da educação que atuam como Orientadoras Educacionais em 29 Escolas Estaduais de Ensino Fundamental e Médio em um município de Rondônia. • Fechamos um total de 25 Orientadoras Educacionais entrevistadas e um Orientador Educacional entrevistado. • Uma das orientadoras entrevistadas trabalha em duas escolas, 20 horas semanais em cada uma, e a visitamos em apenas uma; duas explicitaram o desejo de fazer a entrevista seguindo o roteio orientador, em vez de produzir um texto, mas apenas uma concedeu a entrevista, pois a outra, apesar de ter marcado três vezes o encontro acabou não se disponibilizando. • As demais 23 Orientadoras e um Orientador aceitaram produzir o texto, sendo que duas Orientadoras de uma escola optaram por fazer um texto em dupla. O que e como fizemos? • Analisamos 19 textos escritos e uma entrevista registrada em áudio e transcrita; avaliações feitas por 30 Orientadoras Educacionais e dois Orientadores Educacionais; anotações do diário de campo, fruto de observações feitas em uma reunião de um grupo de orientadores que começou a se reunir para estudar, no dia 05 de abril de 2013 e anotações fruto da participação do pesquisador, também como orientador educacional e membro do grupo de estudos, de um segundo momento formativo para Orientadores Educacionais promovido pela CRE. • Todo este generoso material coletado, foi analisado sob a perspectiva da Análise do Discurso e da Psicologia Histórico-Cultural. Com quais postulados teóricos? • Da Orientação Educacional: Grinspun, Garcia, Leite e Pimenta. • Da Psicologia Histórico-Cultural: aulas no Mapsi e missão na UEM – Vigostski, Leontiev – os clássicos. Antunes, Collares, Barroco, Duarte, Facci, Martins, Moysés, Patto, Saviani, Souza e Tuleski. • Da Análise do Discurso – Orlandi, Guimarães, Possenti, Fernandes e Pêcheux. A que resultados chegamos? • A Psicologia como ciência é o grande suporte que, historicamente sustentou e continua sustentando a formação e o fazer dos Orientadores Educacionais. • A Orientação Educacional presente em Rondônia desde 1979 não pode ser vista fora da constituição desse Estado e de suas políticas educacionais. A formação • A formação de Orientadores Educacionais inicialmente em graduação e com a mudança no curso de Pedagogia, (Art. 64 da 9394/96) pós-graduação latu-sensu, está nas mãos dos IES particulares – iniciativa privada: mercantilização. Essa formação acontece com “ênfase na Psicologia Educacional”. • O Estado, ausente na formação desses profissionais absorve-os através de seus concursos: 1998, 2003, 2007, 2010 e 2013. • Os Editais desses concursos não somente para Orientadores Educacionais, mas também para Supervisores, Psicólogos Escolares e Psicopedagogos seriam um excelente objeto de pesquisa. • A formação continuada (pouca) é dada em esporádicos encontros em nível macro (Seduc – Porto Velho) e micro (CRE – municípios). A prática das Orientadoras • Os documentos e a formação que recebem, reforçam a confusão de papéis dos Técnicos Educacionais. • As Orientadoras Educacionais uma vez na escola sem clareza de suas funções acabam assumindo tudo, o que as leva a uma sobrecarga de trabalho: bombeiras e redentoras/salvadoras. • A intensificação do trabalho do Orientador Educacional, efetiva um círculo vicioso: intensifica-se o trabalho docente e o professor, não dando conta, transfere para as Orientadoras Educacionais as suas atribuições, intensificando, assim, o trabalho do orientador. • O grande número e encaminhamentos (queixas escolares) às Orientadoras Educacionais preenche seu cotidiano. • O objeto de desejo das Orientadoras Educacionais é o psicólogo (modelo clínico), esteja ele onde estiver. Ele é chamado para ajudá-las na ratificação dos diagnósticos. Juntamente com os psicopedagogos é o “presente-ausente”. Punições e judicialização da vida escolar • É preocupante a crescente judicialização de questões ligadas ao cotidiano escolar com a chamada para a escola de todo aparato policialesco e seus correlatos, como Polícia Militar e Polícia Civil, Ministério Público, Juizado da Infância e da Juventude e Conselho Tutelar (cada um com seus discursos) com a também crescente preocupação por parte da SEDUC por baixar portarias, normativas e resoluções em relação às penalidades e punições aos estudantes. • As Orientadoras Educacionais se tornaram as grandes responsáveis pela resolução dos conflitos no cotidiano das escolas estaduais, principalmente no que diz respeito à punição de alunos com advertência ou encaminhamentos para outras instituições, visão esta, referendada pelos documentos oficiais e percebida no discurso das próprias Orientadoras Educacionais. • As Orientadoras Educacionais, que elas trabalham muito e mesmo assim não são reconhecidas. Esta falta de reconhecimento tem um grande peso em suas vidas e no seu próprio trabalho. Concluindo • O discurso das Orientadoras Educacionais nos mostrou um determinado olhar sobre a escola de Rondônia e este, é talvez, uma das grandes contribuições que esta pesquisa pode trazer para a compreensão do momento histórico da educação pública de Rondônia e nelas, o trabalho das Orientadoras Educacionais. • Mormente a confusão de papéis, silenciamentos e interdições a que estão submetidas, as Orientadoras Educacionais fazem um trabalho significativo nas escolas, quase sempre se posicionado a favor dos alunos no sentido de defender seus direitos a permanecer na escola, a permanecer em última instância, em sala de aula. Durante a pesquisa, ficou claro o quanto as Orientadoras Educacionais desejam, anseiam por uma formação mais sólida em seu fazer ou por mais espaços de formação. • É preciso que os postulados teóricos da Psicologia Histórico-Cultural cheguem até as escolas via políticas públicas de formação continuada através de um diálogo mais próximo e, consequentemente, menos alienado, com seus profissionais. Obrigado! • Na tormenta, saber que a bonança Está perto e seguir confiante E por mais que pareça distante Perseguir o lugar que é só meu Caminhar como quem não se cansa Olhos fitos na meta escolhida E apostar nesta meta uma vida! Eis a herança que o Mestre me deu. (Padre Zezinho)
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