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1 Semiologia dos Sistemas – Letícia Souza 70B FCMMG Conceitos Iniciais Hormônios: substâncias fisiologicamente ativas secretadas no sangue pelas glândulas endócrinas hipófise, tireoide, paratireoides, suprarrenais, ilhotas pancreáticas, ovários e testículos. Alguns órgãos secretam hormônios importantes, mesmo sem ser uma glândula endócrina, como no caso do rim, que secreta a renina; bem como o coração, que secreta o peptídeo natriurético atrial, que é importante na formação de urina. Os adipócitos também são responsáveis pela secreção de hormônios importantes para a atividade metabólica, assim como as células estomacais. Feedback de Alça Curta regulação automática recíproca entre o hipotálamo e a adenohipófise. Feedback de Alça Longa regulagem automática recíproca entre adenohipófise a as glândulas periféricas (mecanismo contrarregulador). O controle do sistema endócrino é exercido pelos núcleos neuronais hipotalâmicos que, por sua vez, estimulam ou inibem a adenohipófise, além de produzir o hormônio antidiurético (ADH) e a ocitocina. Além disso, o sistema imune interage com os sistemas nervoso e endócrino. O hipotálamo e a hipófise apresentam inter-relações anatômicas e fisiológicas estreitas, o chamado eixo hipotálamo- hipofisário. Hipotálamo: hormônios que atuam na adenohipófise PRH, TRH, CRH, GhRH, GnRH Adenohipófise: libera hormônios tróficos reguladores das glândulas periféricas (TSH/tireoide; ACTH/suprarrenais; FSH e LH/gônadas), além do hormônio de crescimento (GH), melanotrófico (MSH), prolactina, lipotrofinas, encefalinas e endorfinas. Os distúrbios glandulares podem se apresentar por hipofunção glandular (diminuição ou ausência de produção hormonal) e hiperfunção glandular (excesso de secreção hormonal): Hipo/hiperfunção primária doença na glândula periférica Hipo/hiperfunção secundária doença na hipófise Hipo/hiperfunção terciária doença no hipotálamo Hormônio Ação Básica Secreção Aumentada Secreção Diminuída TSH Aumenta a vascularização e o tamanho da tireóide; Captação de iodo e síntese de T3 e T4. Hipertireoidismo secundário Hipotireoidismo primário Hipotireoidismo secundário Hipertireoidismo primário 2 Semiologia dos Sistemas – Letícia Souza 70B FCMMG GH Estimula a produção e a atividade dos fatores de crescimento insulina símiles (IGF), com aumento da atividade metabólica das cartilagens epifisárias, promovendo o crescimento. Gigantismo (criança ou adulto jovem) e acromegalia Nanismo hipofisário ACTH Estimula a hiperplasia e a hipertrofia das suprarrenais e esteroidogênese (glicocorticoides, mineralocorticoides, e esteroides sexuais) Hipercoticismo secundário Hipocorticismo secundário PROLACTINA Desenvolvimento do tecido mamário e estimula a lactação – ações semelhantes ao GH. Síndromes de amenorreia e galactorreia Ausência de lactação LH Mulher: ovulação e luteinização do folículo ovariano. Homem: estímulo à secreção de testosterona pelas células de Leydig dos testículos. Adenomas gonadotróficos / climatério Hipogonadismo hipergonadotrófico Hipogonadismo hipogonadotrófico FSH Mulher: estimula o desenvolvimento do folículo ovariano até a ovulação. Homem: estimula as células de Sertoli e o desenvolvimento do epitélio germinativo. Adenomas gonadotróficos / climatério Hipogonadismo hipergonadotrófico Hipogonadismo hipogonadotrófico Distúrbios que envolvem a secreção aumentada do GH. Na criança/adulto jovem com gigantismo, a hiperprodução do GH e da somatomedina-C (IGF-1) promovem crescimento exagerado, porém harmônico. Acromegalia ♦ Distúrbio do GH na fase adulta ♦ Evolução lenta – média de 10 anos entre o aparecimento dos primeiros sintomas e consulta médica. ♦ Crescimento excessivo dos ossos e tecidos moles Manifestações Clínicas ♦ Fácies acromegálica: alongamento a alargamento da face, proeminência das bossas frontais, aumento do nariz, orelhas e dos lábios, rugas e pregas faciais, aumento da região frontal, aumento da mandíbula, separação dos dentes. ♦ Dedos grossos, em salsicha (paciente relata que não consegue mais usar anel ou aliança e de que precisa trocar os sapatos. ♦ Espessamento das cordas vocais voz rouca ♦ Tireoide palpável 3 Semiologia dos Sistemas – Letícia Souza 70B FCMMG ♦ Macroglossia Demais sinais/sintomas: cefaleia, tonturas, alteração do campo visual, distúrbios da motilidade ocular, letargia, sudorese excessiva, fraqueza muscular, artralgias (todos os anteriores em decorrência de um possível distúrbio neoplásico), tórax em barril (aumento dos arcos costais), hepatomegalia (sem alteração de função hepática), amenorreia, redução de libido, hipoespermia. Exames ♦ Hormônio do crescimento é anabólico efeito diabetogênico, balanço positivo de nitrogênio e cálcio. ♦ Alteração no metabolismo glicídico solicitar glicemia em jejum, glicemia pós prandial, hemoglobina glicada, teste de tolerância à glicose oral. ♦ Hiperfosfatemia ♦ Dosagem plasmáticas do GH e IGF-1 elevadas ♦ TC ou RNM da hipófise para diagnóstico da neoplasia: ressecção transesfenoidal (imagem). Etiologias ♦ Maioria adenomas benignos hipofisários, secretores de GH ♦ Minoria (2-5%) tumores de ilhotas pancreáticas e feocromocitomas, com produção ectópica de GH, e tumores de pâncreas, pulmão, mama e ovário, com produção ectópica de GNRH (fator liberador de GH). Secundário à deficiência completa ou parcial de GH. Casos graves: fronte olímpica, maxilares pequenos, face de “boneca” ou de “anjo querubim”, além de mãos e pés pequenos. Diagnóstico diferencial: acondroplasia e hipocondroplasia cabeça relativamente grande, fronte proeminente, ponte nasal achatada, lordose lombar e extremidades curtas. 4 Semiologia dos Sistemas – Letícia Souza 70B FCMMG Secundário à ação direta da prolactina sobre as mamas e à inibição da produção de LH, FSH, progesterona e testosterona. Etiologia ♦ Neoplasia hipofisária produtora de prolactina Quadro clínico nas mulheres ♦ Esterilidade ♦ Amenorreia ♦ Galactorreia ♦ Irregularidade menstrual Decorre da exposição inadequada, excessiva e prolongada ao cortisol ou a corticoides Formas Clínicas 1. Síndrome de Cushing ACTH-dependente: doença de Cushing (adenoma hipofisário produtor de ACTH, que corresponde a 70 a 80% dos casos), Síndrome do CRH Ectópico (produção excessiva do ATCH, em que o tumor não está localizado na hipófise – câncer de pulmão de pequenas células, carcinoides brônquicos), Síndrome do ACTH ectópica (produção dos hormônios estimuladores dos liberadores do ACTH, mas que não são produzidos pelo hipotálamo – tumores carcinoides que produzem CRH) 2. Síndrome de Cushing ACTH- independente: produção excessiva do cortisol pela suprarrenal. Clínica (imagem) Hipofunção hipofisária (lesão da glândula ou do hipotálamo) Etiologias ♦ Neoplasias (adenoma hipofisário, tumor hipotalâmico) ♦ Doenças infiltrativas (hemocromatose, sarcoidose) ♦ Alterações vasculares (síndrome de Sheehan – mulheres em período do parto que evoluem com hemorragia e choque hipovolêmico, que causa isquemia da adenohipófise e necrose hipofisária) 5 Semiologia dos Sistemas – Letícia Souza 70B FCMMG ♦ Radioterapia ♦ Síndrome de sela vazia – radioterapia, isquemia vascular.. ♦ Infecções Manifestações Clínicas Dependem da redução das funções das glândulas tireoide, suprarrenais, ovário e testículo ♦ Deficiência de ACTH manifestações clinicas de insuficiência adrenal: fraqueza muscular, fadiga, perda de peso, perda de apetite, hipoglicemia, hiponatremia, hipotermia, hipotensão, choque♦ Deficiência de TSH manifestações clinicas de hipotireoidismo central – intolerância ao frio, constipação intestinal, ganho de peso (10% do peso corporal), queda de cabelo, pele seca, alterações menstruais ♦ Deficiência de GH redução de força e massa muscular, obesidade visceral, transtorno do sono ♦ Deficiência de ADH diabetes insípido ♦ Deficiência de FSH/LH hipotrofia/atrofia: sem pelos axilares, pubianos; amenorreia; ausência de lactação e transtornos psicológicos. Poliúria: volume urinário superior a 2,5L em 24h, e baixa densidade urinária. Pacientes com hiperglicemia significativa podem apresentar glicosúria, poliúria, desitracao. Pacientes que foram submetidos à ressuscitação volêmica, e quando ele sai do quadro de sepse, o liquido do 3º espaço (interstício) é reabsorvido e o paciente pode evoluir com poliúria. Condições Clínicas que podem levar à poliúria, com diurese com baixa densidade: 1. Diabetes Insípido Central ou Neurogênico Secreção reduzida do hormônio antidiurético (ADH) pela neurohipófise incapacidade renal de concentrar a urina. Etiologias ♦ Idiopática e forma familiar (hipotrofia dos núcleos hipotalâmicos ou atrofia dos tratos supraópticos e paraventricular) ♦ Doenças granulomatosas (sarcoidose, tuberculose) ♦ Doenças inflamatórias ♦ Neoplasias (adenomas, astrocitomas) ♦ Pós trauma ♦ Hipofisectomia O diagnóstico diferencial entre as etiologias depende de presença de lesão neoplasia ao método de imagem, alterações adenohipofisárias, evidencia de doença secundária. Pode ser feito por administração exógena do ADH que pode ser oferecida ao paciente por via nasal ou subcutânea, e acompanha-se a diurese do paciente. Se há resposta, quadro central. Se não, nefrogenica. Sine qua non – poliúria, polidipsia, hipernatremia (acompanhado de aumento da osmolaridade sérica) 6 Semiologia dos Sistemas – Letícia Souza 70B FCMMG Manifestações Clínicas Padrão trifásico ♦ 1ª fase: poliúria e polidipsia intensas, por 5-6 dias ♦ 2ª fase: redução da diurese, por 5-6 dias (descarga do ADH pela área lesada – libera o “resto”) ♦ 3ª fase: instalação do diabetes insípido permanente, que pode ser completo ou parcial Etiologia idiopática: 50% dos casos, acomete os sexos de forma igual, mais comum antes dos 20 anos ♦ Quadro súbito de poliúria e sede, com preferência por água gelada ♦ A ingestão de liquido e a diurese atingem 5L ou mais por dia, com nictúria (diurese noturna) importante ♦ Queixa-se de cansaço e perda de peso Causas secundárias ♦ Poliúria, polidipsia ♦ Manifestações clinicas da doença de base (tuberculose, sarcoidose, sinais neurológicos) 2. Diabetes Insípido Nefrogênico Incapacidade renal de concentrar a urina, apesar dos níveis séricos normais ou amentados do ADH. Etiologias ♦ Congênito ou familiar ♦ Causas secundárias: insuficiência renal crônica, doença policística renal, hipercalcemia, hipocalemia, anemia falciforme, síndrome pós-uropatia obstrutiva, síndrome pós-transplante renal. 3. Diabetes Insípido Gestacional – ocorre durante a gestação pela produção de um hormônio pela placenta, chamado vasopressinase, que inativa o ADH 4. Polidpsia psicogênica – distúrbio emocional de ansiedade importante, que pode evoluir para psicose. Caso Clínico 1 HMA: Paciente masculino, de 65 anos, casado, aposentado, nascido e morador em Belo Horizonte, refere quadro de cefaleia, tonteira, alterações visuais, sensação de fraqueza nos últimos meses. O mesmo informa que a esposa e os filhos acham que ele está com "as feições diferentes". Relata também que os dedos das mãos e dos pés cresceram, impossibilitando-o de usar a sua aliança e de calçar os seus sapatos. HPP: Apendicectomia na adolescência; refere alergia à penicilina; HAS há 20 anos, em uso regular de losartana 50mg, 12/12 horas; colecistectomia há 10 anos, sem intercorrências. HS: tabagista (40 anos/maço). Etilista social. Vacina anualmente contra Influenza. Sedentário. ANAMNESE ESPECIAL: Realiza acompanhamento com o urologista, anualmente, para prevenção de câncer de próstata; hábito alimentar saudável, cerca de quatro refeições por dia, com verduras, legumes, frutas e carne branca. 7 Semiologia dos Sistemas – Letícia Souza 70B FCMMG HF: Pai hipertenso, falecido aos 60 anos de infarto agudo do miocárdio. Mãe falecida de demência de Alzheimer aos 86 anos. Exame físico: corado, hidratado, consciente, boa perfusão capilar, sem edema MMII. ACV: PA:120/80 mmHg, FC 80 bpm, BNRNF 2T. AR: eupneico, MV sem RA, SO2 97% em ar ambiente. Abdome: ligeiramente globoso; RHA presente; fígado palpável a 6 cm do RCD, superfície lisa, indolor, consistência fibroelástica; espaço de Traube timpânico. De acordo com a anamnese e o exame físico, quais são as hipóteses diagnósticas mais prováveis? Acromegalia secundária à adenoma hipofisário produtor de GH Fácies acromegálica típica adenoma benigno da adenohipófise produtor de GH atua nos tecidos moles e nos ossos longos, promovendo crescimento das partes moles: nariz, lábio, orelhas, língua, mandíbula, afastamento dos dentes; aumento das mãos e dos pés (dedos em salsicha e necessidade de novos sapatos). O acometimento do SNC pode se manifestar por comprometimento ocular pela compressão do quiasma óptico. Quais exames bioquímicos e de imagem devem ser solicitados? Hemograma, função renal, perfil lipídico, glicose, cálcio, fósforo, eletrocardiograma, rastreio de diabetes. O acometimento dessa doença é crônico por possuir manifestação silenciosa (+/- 10 anos). Pedir ao paciente que leve fotos ao longo da vida para observar as mudanças faciais. O GH apresenta até acima de 500 Ui séricas. Tomografia de sela túrcica e RM de sela túrcica para verificar o adenoma ressecção cirúrgica via transesfenoidal – pós operatório no CTI (cirurgia grande); não é raro que os pacientes evoluam para diabetes insípidos pós operatório. Caso Clínico 2 HMA: paciente mulher de 25 anos, portadora de anemia falciforme, é internada no hospital com quadro de dor importante em membros inferiores há dois dias. Nega febre, calafrios, tosse ou dispneia. Porém, refere que nas últimas semanas tem sentido muita sede, bebendo muita água e reparou que a urina está muito clara, em grande quantidade, inclusive necessitando por inúmeras vezes ir ao banheiro durante a noite. HPP: portadora de anemia falciforme, usuária de ácido fólico, 5mg/dia, em controle regular no Hemominas. Várias internações durante o ano por crises álgicas. Nega alergia medicamentosa. Submetida à CVL quando criança HS: calendário de vacinação completo. Nega etilismo ou tabagismo. Sedentária. Ao exame físico: fácies de dor, ictérica (1+/4+), hipocorada(2+/4+), desidratada(1+/4+), afebril, consciente, sem edema MMII. ACV: PA 110/60mmHg FC 112bpm BNF taquicárdicas AR: MV sem RA, FR 24 irpm, SO2 97% em ar ambiente Abdome: plano, RHA presente; fígado, indolor, superfície lisa, palpável a 5cm RCD; espaço de Traube timpânico. 8 Semiologia dos Sistemas – Letícia Souza 70B FCMMG De acordo com a anamnese e o exame físico quais são as hipóteses diagnósticas? Diabetes insípidos nefrogênico por perda da capacidade de concentrar a urina (isquemia da medula renal). Pacientes portadores de anemia falciforme apresentam crises de falcização quando em períodos de estresse, desidratação, acidose, infecções, etc. Ocorre ocluso vascular e isquemia dos órgãos, e por isso o paciente cursa com dor e complicações – frequentemente precisam de internação por dor, hidratação venosa vigorosa, analgesia e até mesmo opióides. Ao negar febre, calafrios, tosse, é excluída a possibilidade de infecção. A evolução com retenção de água, muita sede e muita urina, sugere poliúria e polidpsia. Quais exames devem ser solicitados? Hemograma (hemoglobina,leucócitos), sódio (comum hipernatremia), ureia e creatinina (desidratação), íons potássio, glicemia (hiperglicemia é causa de poliúria) e hemoglobina glicada, urina (densidade e osmolaridade baixa). Fazer balanço hídrico quanto recebe de volume por dia (via oral e venosa) X diurese 12/12 horas avaliar se há mesmo o critério de poliúria (>2,5L em 24h). 9 Semiologia dos Sistemas – Letícia Souza 70B FCMMG É uma glândula única, mediana, revestida por uma cápsula, situada na porção anterior do pescoço, entre a 5ª e a 7ª vertebra cervicais. Pesa em média 20-30g, e tem a forma da letra H, sendo formada por lobos direito e esquerdo que são unidos por um istmo. Função regulada pelo eixo hipotálamo-hipófise, e pelo nível de iodo. Além de ser influenciada pelo TSH, a função da tireoide também é influenciada pelo LH, GH, estrógenos, insulina e gonadotrofina coriônica. Secreta T4 (tiroxina), T3 (tri-iodotironina) e pequenas quantidades de precursores hormonais: MIT (monoiodotirosina) e DIT (di-iodotirosina). Secreta 80% T4 e 20% T3, e nos tecidos periféricos T4 é convertido em T3, pois o T3 tem uma atividade biológica maior. 95% dos hormônios tireoidianos são ligados às proteínas transportadoras, e apenas a fração livre dos hormônios possuem a função biológica. Os hormônios tireoidianos atuam no processo de diferenciação, crescimento e metabolismo, bem como no funcionamento de quase todos os tecidos. Anamnese Medicamentos substancias iodadas (xaropes, contraste radiológico), amiodarona, propranolol, carbonato de lítio. HF positiva para doenças tireoidianas, incluindo doenças autoimunes. HMA sinais e sintomas que sugerem hipofunção ou hiperfunção da glândula (puberdade, gravidez, infecções, traumas emocionais e/ou físicos) – às vezes, o paciente ou familiar observa “aumento do pescoço, mesmo sendo assintomático. Dor tireoidite aguda ou subaguda (febre baixa, sintomas gerais de mal estar e sinais de hipotireoidismo). Dor piora com deglutição ou com a palpação, e irradia para a mandíbula ou os ouvidos. Dispneia incomum, secundária à compressão da traqueia pelo bócio Disfonia compressão do N. Laringeo Recorrente Disfagia compressão/invasão neoplásica do esôfago Deve-se sempre se atentar à cronologia desses sintomas. Se o paciente portador de bócio relata dispenia, disfonia e disfagia uma das hipóteses diagnósticas é um câncer anaplásico (sem diferenciação) da tireoide, que teve crescimento rápido. Clínica do Sistema Hipertireoidismo Hipotireoidismo Sistema Cardiovascular Taquicardia (FC entre 100-160bpm), palpitações, dispneia aos esforços, hipertensão arterial sistólica, redução da pressão arterial diastólica (pressão arterial divergente). Miocárdio tem receptores para os hormônios tireodianos – hormônios tireoidianos circulando por muito tempo no organismo lesam as miofibrilas miocárdicas. Bradicardia, tendência à hipertensão diastólica. ECG com bradicardia sinusal, baixa amplitude do QRS e alterações difusas da repolarização. Nos casos graves, os pacientes podem evoluir para derrame pericárdico, mas é raro que evoluam para tamponamento cardíaco. 10 Semiologia dos Sistemas – Letícia Souza 70B FCMMG FA arritmia mais comum Sistema Digestivo Polifagia (alto metabolismo), diarreia (aumento do peristaltismo), perda de peso, polidpsia secundária à DM (hormônio tireoidiano é anabolizante) Constipação intestinal, íleo paralítico, fecaloma, ganho de peso (que não ultrapassa 10% do peso corporal prévio), ascite (GASA<1,1) Sistema Reprodutor Oligomenorreia, amenorreia, polimenorreia, abortos repetitivos, ginecomastia, perda da libido Galactorreia, amenorreia, infertilidade, redução da libido, ginecomastia. Sistema Musculoesquelético Fraqueza muscular, sobretudo na musculatura proximal (cintura escapular e pélvica – dificuldade de levantar da cama, subir na escada, pentear o cabelo) Artralgias, dores musculares, parestesia, síndrome do túnel do carpo (solicitar TSH). Hipercalcemia, osteoporose. Pele e fâneros Mixedema pré-tibial (exclusivo da Doença de Graves). Sinal de Plummer. Pele fina, sedosa, úmida e quente -> mãos quentes e úmidas. Descolamento da unha do leito ungueal -> sinal de Plummer Acropatia -> ocorre na hipertensão pulmonar, cirrose hepática, câncer pulmonar Cabelo liso e fino, e queda de cabelo. Obesidade; pele seca, fria e descamativa; unhas fracas e quebradiças; redução da sudorese; edema de membros inferiores não depressível e edema periorbital, cabelos ressecados e quebradiços. Sistema Nervoso Nervosismo, ansiedade, relata irritabilidade importante, alterações do padrão do sono (insônia), tremores finos de extremidades (mãos), hiperreflexia, principalmente no tendão de aquiles. Apatia, lentidão de movimento, voz arrastada, letargia e coma. Paciente calmo durante a consulta, não interessado, paciente com perda de memória, hiporreflexia no tendão de aquiles. Sintomas Oculares Exoftalmia com exoftalmopatia. Retração da pálpebra superior (olhar de espanto) fácies basedowiana. Paciente queixa fotofobia, lacrimejamento, sensação de areia no solhos, diplopia, dor retro ocular. Outros sintomas Associação com doenças autoimunes. 85% relacionado à Doença de Graves; também relacionado à vitiligo, anemia perniciosa, Doença de Addison Causas de Hipertireoidismo Causas de Hipotireoidismo Principais Doença de Graves (bócio difuso tóxico) 65 a 80% dos casos. Bócio multinodular tóxico Bócio nodular tóxico (doença de Plummer) Tireoidites subaguda ou Hashimoto Tireotoxicose iatrogênica (hormônio tireoidiano) Hipertireoidismo induzido pelo iodo (Jod-Basedow) 1. PRIMÁRIO Congênito Cretinismo Disgenesias tireoidianas Deficiência endêmica de iodo Uso de iodo radioativo na gravidez Adquirido Iatrogênica Bócio endêmico Tireoidite Subaguda Atrofia idiopática 11 Semiologia dos Sistemas – Letícia Souza 70B FCMMG Hipertireoidismo factício Menos Comuns Neoplasia produtora de TSH Secreção inadequada de TSH Secreção ectópica de TSH (mola hidatiforme) Metástase de câncer de tireoide funcionante. 2. SECUNDÁRIO Hipopituitarismo 3. TERCIÁRIO Hipotalâmico Observações sobre Hipertireoidismo Fibrilação Atrial Mixedema pré-tibial Sinal de Plummer RR -> RR irregular com ausência de onda P. Exclusivo da DG (acomete 5-10% dos pacientes), e quase sempre associada à oftalmopatia infiltrativas e à títulos elevados de TRAb. Ocorre espessamento da pele devido ao acúmulo de glicosaminoglicanos. Descolamento da unha do leito ungueal. Bócio Exoftalmia Exoftalmopatia típica da DG aumento de anticorpos que induzem as alterações oftalmológicas. Crise tireotóxica Condição clínica rara, ameaçadora à vida, que pode ser precipitada por evento agudo, caracterizada por quadro clínico grave de hipertireoidismo. Quadro clínico: taquicardia, febre alta, disfunção do SNC, náuseas, vômitos, dor abdominal, oftalmopatia (Deonça de Graves), tremores de extremidades. Podemos identificar um evento desencadeador da crise tireotóxica cirurgia prévia (abdominal ou na tireoide), trauma, infecções, parto.. 12 Semiologia dos Sistemas – Letícia Souza 70B FCMMG Observações sobre Hipotireoidismo Hipotireoidismo subclínico Definido bioquimicamente (laboratorial) como T4 livre normal com TSH sérico elevado, com presença ou não de sintomas de hipotireoidismo (pode ter alteração do sono, tendência depressiva) uma proporção considerável desses pacientes desenvolverá hipotireoidismo após tempo de acompanhamento. Pode estar associado com aumentodo risco de doença cardiovascular (ICO, ICC), sobretudo com TSH superior 10mU/L. nesses casos, sugere-se a reposição com hormônio tireoidiano. Fácies Mixedematosa Principais diferenças entre o HIPER e o HIPO tireoidismo. HIPERtireoidismo HIPOtireoidismo Dificuldade de dormir Depressão Aceleração dos batimentos cardíacos Desaceleração dos batimentos cardíacos Intestino solto Intestino preso Menstruação irregular Menstruação irregular, diminuição da memória Agitação e muita energia, apesar de muito cansaço Cansaço excessivo, sonolência excessiva, dores musculares Calor e suor exagerado Pele seca Queda de cabelo Queda de cabelo, aumento do colesterol sanguíneo, ganho de peso. Exame Físico da Tireoide Objetivo: definir, através da inspeção e da palpação, o tamanho da glândula e se o aumento é global ou localizado. Manobras para palpação 1. Abordagem posterior Paciente sentado, examinador de pé atrás dele Mãos e os dedos rodeiam o pescoço, polegares fixos na nuca, ponta dos indicadores e dedos médios se encontram na linha mediana. Lobo direito palpado por dedos da mão esquerda, enquanto os dedos da outra mão afastam o esternocleidomastóideo. 2. Abordagem anterior Paciente e o examinador sentado ou de pé, com o examinador à sua frente. Com os polegares, examina-se a tireoide, enquanto os outros dedos se apoiam nas regiões supraclaviculares. 13 Semiologia dos Sistemas – Letícia Souza 70B FCMMG 3. Abordagem anterior Realiza-se a palpação com uma das mãos que percorre toda a glândula. Paciente flete o pescoço ou realiza uma rotação lateral discreta do pescoço, para relaxar o esternocleidomastoideo. Ao inspecionar e palpar (sopro ou frêmito), pedir o paciente para deglutir (mobilidade da glândula, definir contorno, limites, consistência, verificar dor) Exame Físico Geral Realizar o exame físico completo no sentido crânio-caudal. Oftalmopatia: geralmente se inicia ao mesmo tempo que as manifestações tireoidianas. No exame, observar: edema palpebral e da conjuntiva, quemose (inchaço da conjuntiva), hiperemia e edema conjuntival, e protrusão ocular (exoftalmia) oftalmopatia tireotóxica (classe I a VI – cegueira por lesão do N. Óptico) Mixedema pré-tibial: ocorre em 5-10% dos pacientes com doença de Graves (exclusiva) – lesões de pele que afetam região anterolateral da pele e pode se estender para outras regiões (placas brilhantes, geralmente indolores, vermelho-acastanhadas e rugosas). Exames Complementares Dosagens Hormonais Diminuição do TSH e Aumento do T4 livre hipertireoidismo primário Aumento do TSH e Aumento do T4 livre hipertireoidismo secundário ou ectópico Diminuição do TSH e Diminuição do T4 livre hipotireoidismo primário Diminuição do TSH e Diminuição do T4 livre hipotireoidismo secundário/terciário Ultrassom de Tireoide: define as características das glândulas e dos nódulos, quando presentes. PAAF (punção aspirativa com agulha fina) indicada na avaliação de nódulos tireoidianos superiores a 0,8cm e/ou suspeita de malignidade. Durante o procedimento, retira-se o material da tireoide por punção, guiada pelo ultrassom, que é colocado em lâminas para estudo citológico. São quatro glândulas acopladas à face posterior da tireoide, na altura dos polos superiores e inferiores de cada lobo. Cada uma possui peso estimado de 15-30mg, e secretam o PTH (paratormônio), cujas principais funções são o controle do metabolismo do cálcio e as unidades metabólicas dos ossos rins e ossos como órgãos alvo. 14 Semiologia dos Sistemas – Letícia Souza 70B FCMMG Fisiologia Produção do PTH (paratireoide) atua ao nível do osso e estimula a liberação do cálcio do osso para o sangue para manter a calcemia aumento da calcemia estimula a tireoide a produzir a calcitonina estimula deposição e cálcio nos ossos diminuição da calcemia induz a produção de PTH pela paratireoide. PTH atua a nível renal estimulando a produção de Vitamina D atua à nível intestinal, aumentando a absorção de cálcio. Hipoparatireoidismo Decorre da secreção ou ação deficiente do PTH, com redução dos níveis séricos do cálcio e aumento dos níveis de fosfato, na presença de função renal normal. As manifestações clínicas da hipocalcemia estão na dependência da magnitude da sua redução, e do período de instalação. Manifestações Agudas Tetania sintoma mais frequente da hipocalcemia aguda podem ser leves ou graves (espasmo carcopodal, convulsões focais ou generalizadas, laringoespasmo). A tetania é incomum, a não ser com cálcio ionizável inferior a 4,3mg/dL. Convulsões geralmente acompanhada de espasmo carpopodal (confundido com epilepsia). ECG prolongamento do intervalo QT, repolarização ventricular precoce, favorecendo aparecimento de arritmias hipotensão, ICC, redução da contração miocárdica Papiledema Reversível com tratamento para reposição de cálcio. Manifestações Crônicas Distúrbios extrapiramidais secundários às calcificações dos núcleos da base e do cerebelo – distúrbios parkisonianos: alterações do movimento – distonia, coreoatetose, demência. Doenças oculares catarata congênita Manifestações esqueléticas hipoplasia e agenesia dentária Manifestações ectodérmicas pele seca, áspera, edemaciada, unhas frágeis e quebradiças, com estrias transversais, cabelos secos com áreas de alopecia Alterações renais hipocalciuria com nefrolitíase Manobras Clássicas ao Exame Físico Para o diagnóstico de HIPOPARATIREOIDISMO com hipocalcemia grave sinais de irritabilidade neuromuscular por tetania latente 15 Semiologia dos Sistemas – Letícia Souza 70B FCMMG Sinal de Trousseau Ou espasmo carpopodal – coloca-se o manguito no braço do paciente e mantem-se a pressão arterial sistólica 20mmHg acima da PA sistólica normal do paciente durante 3 minutos ocorre flexão de punho, extensão das articulações interfalangianas e adução do polegar em pacientes com hipocalcemia por hipoparatireoidismo Sinal de Chvostek Percussão do Nervo Facial, 2cm adiante do pavilhão auditivo contração da musculatura facial e do lábio superior ipsilaterais 10% da população saudável apresenta esse sinal. Hiperparatireoidismo É secundário ao excesso de PTH. Pode ser primário, secundário ou terciário. Hiperparatireoidismo primário Adenoma da paratireoide responsável por 85-95% dos casos, sendo a principal causa de hipercalcemia assintomática à nível ambulatorial. Diagnóstico: PTH elevado ou normal com cálcio elevado Manifestações clínicas: dor óssea, hipercalciúria, nefrolitíase (15-20%), nefrocalcinose, insuficiência renal crônica, fraqueza muscular, letargia; anorexia, vômitos, constipação intestinal, pancreatite, depósito de cálcio na conjuntiva (queratite em banda). Geralmente, não se encontram alterações ao exame físico decorrente do hiperparatireoidismo primário. Hiperparatireoidismo secundário Secundário às situações que levam à hipocalcemia. Etiologias: insuficiência renal crônica (IRC), deficiência de vitamina D. Manifestações clínicas em pacientes com IRC osteodistrofia renal, que pode ser assintomática ou sintomática. Manifestações clínicas em outras etiologias raquitismo na criança e osteomalácia no adulto. Hiperparatireoidismo terciário Secundário à hipersecreção autônoma de PTH, com hipercalcemia plasmática, geralmente devido à evolução do hiperparatireoidismo secundário. Diagnóstico diferencial com hiperparatireoidismo primário. Exames Complementares Laboratoriais dosagem de cálcio total e ionizável, fósforo, PTH, vitamina D. Exame radiológico dos ossos: descalcificação generalizada, cistos ósseos, “tumores marrons”, nefrolitíase e nefrocalcinose. Ultrassom/TC/RNM:para localizar adenomas das paratireoides. 16 Semiologia dos Sistemas – Letícia Souza 70B FCMMG Osteíte fibrocística (A) redução da absorção osteoclástica levando a um aspecto ósseo com deformidades, lesões císticas e áreas de esclerose. Nefrocalcinose (B) hipercalcemia primária com aumento da excreção do cálcio urinário e há deposição do cálcio a nível renal Tumor marrom alteração anatômica facial e inspeção da cavidade oral ou osteoclastomas coleção de osteoclastos entremeados com tecido fibroso e tecido ósseo pouco mineralizado marrom por deposição de hemossiderina. Caso Clínico 1 HMA: paciente masculino, de 35 anos, é internado com quadro arrastado de lombalgia, dores ósseas e articulares, além de fraqueza muscular há alguns meses, evoluindo na última semana com parada de deambulação, poliúria e polidpsia. Refere também hiporexia, náuseas e constipação intestinal. 17 Semiologia dos Sistemas – Letícia Souza 70B FCMMG HPP: internação há 2 anos por cólica renal esquerda, sendo submetido à litotripsia. Nessa ocasião, realizou exames que revelaram cálculos renais bilaterais. Recebeu alta hospitalar, com indicação de acompanhamento ambulatorial, porém o mesmo não retornou. Nega alergia medicamentosa. Desconhece calendário vacinal. HS: nega tabagismo. Etilista social. HF: pais hipertensos. Ao exame físico: corado, desidratado(2+/4+), prostrado, sem edema MMII,afebril. ACV: PA 110/70mmHg FC 120bpm BNF taquicárdicas AR: eupneico, MV sem RA, SO2 97% em ar ambiente Abdome: plano, RHA presentes, sem visceromegalias ou massas . Foram solicitados exames bioquímicos que se encontram a seguir: Hb 13g/dl Htc 40% LT 5.200/mm3 ( S65%/L30%/E5%) Plaquetas 380.000/mm3 Creia 80mg/dl creatinina 2,3mg/dl Na 155mEq/l K 4mEq/l Cálcio 12mg/dl (8,8-10,4 mg/dl) Fósforo 1,8mg/dl (2,5- 4,5mg/dl) Albumina 3,0mg/dl (>3,5 mg/dl) Glicemia 108mg/dl De acordo com a anamnese, o exame físico e os exames laboratoriais, quais são as hipóteses diagnósticas mais prováveis e quais outros exames devem ser solicitados? Sintomas inespecíficos, ele não consegue definir há quanto tempo tem os sintomas, e evolui com piora com parada de deambulação, hiporexia, náuseas e poliuria e polidipsia – na HPP o dado mais pertinente é a histórica de cálculo renal tendo que ser submetido à procedimento cirúrgico. No EF se encontra desidratado e prostrado, e NDN. Nos exames laboratoriais há elevação da ureia e creatinina (insuficiência renal), hipernatremia, hipercalcemia, fosforo reduzido, comprometimento nutricional com redução da albumina sérica hipercalcemia com manifestações sistêmicas. Pedir dosagem de PTH nível sérico do cálcio se correlacionada com a gravidade das manifestações clinicas – à medida que há aumento do cálcio, pode haver eliminação na urina (calciúria), podendo haver também perda de agua e outros eletrólitos – desitracacao e insuficiência renal. Também pode ter um diabetes insípidos nefrogênico – cálcio alto interfere na ação das aquaporinas, havendo resistência na ação do ADH. A albumina reduzida é por comprometimento nutricional. A principal causa de hipercalcemia é o hiperparatireoidismo primário, no qual a produção autônoma de PTH é aumentada, levando à reabsorção do cálcio adenomas de paratireoide produtores de PTH Solicitar ultrassom de paratireoide, tomografia de pescoço para definir qual paratireoide esta aumentada, para definir o tratamento cirúrgico. Solicitar ECG para avaliar alterações decorrentes da hipercalcemia. Hidratação vigorosa para tratamento da hipercalcemia. Caso Clínico 2 HMA: paciente mulher, 54 anos, comparece à consulta ambulatorial, relatando fadiga, desânimo, hipersonia e ganho de peso há um ano, que coincidiu com o falecimento do seu esposo. Relata nos últimos meses 18 Semiologia dos Sistemas – Letícia Souza 70B FCMMG dificuldade de concentração com perda de memória. Há três meses procurou o posto de saúde perto da sua casa, sendo diagnosticada como depressão. O médico a prescreveu fluoxetina de 20mg ao dia, porém a mesma não percebeu melhora do quadro. HPP: diagnóstico de colesterol alto há dois anos, em uso regular de sinvastatina 20mg ao dia. Portadora de hipertensão arterial sistêmica desde os 49 anos, em uso regular de losartana 50mg à noite. HPP: CVL há 8 anos, sem intercorrências. Vacinação em dia. HS: nega tabagismo e etilismo. Caminhada (30minutos, 2 vezes por semana) HF: pai era hipertenso, diabético e obeso, falecido por AVC. Mãe era hipertensa, obesa, tinha o "pescoço gordo". Ao exame físico: hipocorada (1+/4+), hidratada, consciente, edema periorbitário, edema duro, não compressível em MMII. ACV: PA 120/95 mmHg FC 52bpm bulhas hipofonéticas, bradicárdicas AR: FR 12irpm MV sem RA SO2 96% em ar ambiente. Abdome: globoso, RHA presente, ausência de massas ou visceromegalias. De acordo com a anamnese e o exame físico, quais são as hipóteses diagnósticas mais prováveis e quais exames devem ser solicitados? Mulher com quadro arrastado de fadiga, cansaço, alterações cognitivas diagnóstico de depressão. HP com HAS e dislipidemia. EF edema periorbitário e edema de mmii não compressível, pressão diastólica elevada hipotireoidismo primário (tireoidite de Hashimoto?) Hemograma anemia? Função renal, íons (excluir distúrbios metabólicos do cálcio, potássio) Função renal – transaminases TSH e t4 livre para confirmação do diagnóstico do hipotireoidismo primário (t4 livre baixo e TSH alto). Enzima muscular CK total (estatina sofre metabolização hepática) Perda do feedback negativo dos hormônios tireoidianos sobre a hipófise e o hipotálamo. O hipotireoidismo é causa de dislipidemia 19 Semiologia dos Sistemas – Letícia Souza 70B FCMMG Introdução – Conceitos Hormônio substancia de origem proteica produzida por uma glândula endócrina, e que realiza a sua ação ligando-se a um receptor na célula ou no citoplasma. Insulina hormônio produzido pelas células beta das ilhotas de Langerhans com ação hipoglicemiante. Hipoglicemia redução da glicemia à níveis críticos incompatíveis com a vida – glicemia plasmática < 60mg/dL. O excesso de glicose circulante liga-se à hemoglobina, por isso solicita-se a hemoglobina glicada para avaliar se o paciente tem um diagnóstico de DM ou se faz controle glicêmico adequado em casos de já ser diabético avalia a variação glicêmica no período de 3 meses. Diabetes Mellitus tipo I Diabetes Mellitus tipo II Caracteriza-se por uma destruição de mais de 80% das células beta pancreáticas, de etiologia autoimune ou idiopática, provocando deficiência absoluta de insulina hiperglicemia e cetoacidose Relacionada com maior incidência familiar, síndrome metabólica e obesidade. Corresponde à 80% dos casos de diabetes, cursando com complicações cardiovasculares: AVC, IAM e MAP (moléstia arterial periférica). É uma doença crônica, que quando diagnosticada, já apresenta complicações vasculares. Resistência Insulínica Como o principal tecido que fica resistente à insulina é o músculo estriado (50%), o gasto energético do organismo fica baixo e as taxas de glicose se elevam, assim como as de insulina quando o paciente tem resistência periférica à insulina, há menos receptores viáveis, por isso a hiperglicemia resiste e a glicose é armazenada em forma de gordura. Fatores predisponentes ♦ História pregressa de diabetes gestacional ♦ História familiar de diabetes mellitus tipo II ♦ Acantose nigricans ♦ Doença do sistema cardiovascular ♦ IMC ≥ 25 ♦ Sedentarismo ♦ Idade > 40 anos Diabetes Autoimune Latente do Adulto (LADA) Diabetes Gestacional Manifesta-se por volta dos 35 anos, oligossintomático e com anticorpos positivos O indivíduo é magro, sem históricofamiliar positivo para diabetes. Quadro de intolerância à glicose que se inicia na gravidez, sendo que 30 a 60% das pessoas acometidas irão desenvolver DM2 em 8 anos após o parto. 20 Semiologia dos Sistemas – Letícia Souza 70B FCMMG Geralmente o diagnóstico ocorre ao acaso ou por curva de tolerância à glicose. Raramente ocorre cetoacidose diabética Ideal glicemia de jejum durante a gestação inferior a 92mg/dL e hemoglobina glicada inferior a 6%. Complicação comum é a macrossomia fetal (recém-nascidos acima de 4kg) associada à tocotraumatismos. Anamnese e Exame Físico HMA Poliúria, polidipsia, polifagia, perda de peso diabetes Assintomáticos, com diagnóstico de diabetes em exame de rotina Pacientes portadores de DM2 lesões de órgãos alvo Diagnóstico prévio da esteatose hepática não alcóolica Prurido vulvar, impotência sexual. HP Diagnóstico prévio de diabetes sem seguimento clinico Presença de outras comorbidade Cirurgias prévias no pâncreas HS Etilismo, tabagismo Modificações em estilo de vida, atividade física regular Hábitos alimentares HF Diabetes na família – pais, avós, tios, primos e irmãos Morte súbita em parentes jovens Abortamentos Ao exame físico Peso, altura, IMC (>30 – obeso) Níveis pressóricos Avaliar presença de hipotensão postural Avaliar sinais e sintomas de ICC Pulsos periféricos, amplos e simétricos Presença de vasculopatia periférica com sinais de isquemia/grangrena Pé diabético Abcessos Testar sensibilidade nos MMII Solicitar fundo de olho (retinopatia diabética?) 21 Semiologia dos Sistemas – Letícia Souza 70B FCMMG Critérios Diagnósticos do Diabetes Critérios Diagnósticos do Pré-Diabetes Hemoglobina glicada (A1C) ≥ 6,5% Glicemia de jejum ≥ 126mg/dL (2 medidas em dias diferentes) Teste de tolerância à glicose oral ≥ 200mg/dL (glicemia após 2h de ingestão de 75g de dextrose) Glicemia randômica ≥ 200mg/dL Glicemia casual, acompanhada de 1 ou mais dos seguintes sintomas: poliúria, polifagia, polidipsia, perda de peso, fadiga, visão turva, feridas que demoram a cicatrizar Glicemia de jejum: 100 a 125mg/dL, em duas medidas. Teste de tolerância à glicose oral: 140 a 200mg/dL Hemoglobina glicada: 5,7 – 6,4% Exames Laboratoriais Função Renal ureia, creatinina, clearance de creatinina Pesquisa de microalbuminúria, relação proteína/creatinina urinárias Eletrólitos sódio, potássio, cloro, cálcio, fósforo Gasometria venosa com cálculo do ânion gap AG = Na - (Cl+BIC) – inicialmente o paciente pode ter acidose metabólica com anion gap normal que depois evolui para aumentado Individualizar outros exames: RX tórax, ecocardiograma, ultrassom renal Exame de Fundo de Olho pelo menos uma vez por ano Arteriosclerose Produz as complicações do diabetes mal-conduzido: pé diabético, doenças cardiovasculares, retinopatia e neuropatia periférica O diabetes promove comprometimento vascular, causando perfusão tecidual deficiente e por consequência, cianose ou palidez nas extremidades dos artelhos dos pés, provocando ulcerações, infecções, osteomielites e amputações 85% dos pacientes evoluem para amputação Complicações do Diabetes Pé Diabético Placa de necrose no hálux Na segunda imagem, amputação do 5º dedo Situação proveniente de um comprometimento vascular causado por níveis hiperglicêmicos há anos Pode haver gangrena Retinopatia Diabética Caracterizada por lesão da membrana basal endotelial com formação de microaneurismas. Paciente inicia com quadro de hipóxia, hemorragia, edema de macula, evoluindo para amaurose (cegueira). Retinopatia não proliferativa 1. Exsudatos duros 2. Microinfartos (manchas algodonosas) 3. Hemorragia intrarretiniana com edema de mácula 22 Semiologia dos Sistemas – Letícia Souza 70B FCMMG Nefropatia Diabética Manifestação de micro ou macroalbuminúrica 30 a 35% dos pacientes com DM1 Recomendações: Pressão arterial inferior a 130x85mmHg -> preservação da função renal Controle glicêmico (Hb glicada < 7%) Emprego de IECA ou BRA, dose efetiva Perda de peso Dieta, atividade física, cessação do tabagismo Avaliar se nefropatia isquêmica -> o paciente diabético com outros comprometimentos pode ter esse quadro de isquemia por placas ateroscleróticas causando acometimento renal. Hipoglicemia Sintomas Suor excessivo Tremores Fraqueza Palidez Fome Dificuldade de concentração Irritabilidade/agressividade Alteração de consciência Coma Como evitar Fazer as refeições nos horários corretos, conforme os horários das atividades físicas Alimentar-se com carboidratos antes, durante e após a atividade física. Para diabéticos tipo 1 e 2, conforme resultado da glicemia Glicemia antes e após atividade física, tanto para diabéticos tipo 1 quanto tipo 2 Ajustar a dose de medicamento ou de insulina no dia das atividades físicas, tanto para DM1 ou DM2. A regulação glicêmica deve ser realizada pela combinação entre dieta adequada, monitorização, insulinização e atividade física. 23 Semiologia dos Sistemas – Letícia Souza 70B FCMMG Introdução Córtex corresponde a 90% da glândula, constituída por três zonas anatomicamente distintas. Zona Glomerulosa responsável pela produção da aldosterona. Zona Fasciculada sintetiza os glicocorticoides Zona Reticulada responsável pela produção dos esteroides sexuais e pequenas quantidades de glicorticoides. A esteroidogênese suprarrenal é regulada por dois eixos: 1. Glicocorticoides e esteroides sexuais pelo eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal 2. Aldosterona pelo sistema renina-angiotensina-aldosterona Medula ocupa a parte interna da adrenal e libera as catecolaminas (dopamina, noradrenalina e adrenalina) para a corrente sanguínea. Síndrome de Cushing (SC) Sinais e sintomas decorrentes da exposição prolongada aos níveis elevados de glicocorticoides, independente da etiologia. O termo doença de Cushing é reservado para as etiologias hipofisárias adenomas da hipófise produtores de ACTH – estimula a produção de corticoides Síndrome de Cushing iatrogênica usuários crônicos de corticoides (doenças reumatológicas, por exemplo) Complicações metabólicas glicorticoide é um hormônio anabolizante intolerância à glicose, DM, dislipidemia, osteopenia, osteoporose, obesidade. Quadro Clínico Bochechas vermelhas Coxins de gordura Face em forma de lua cheia, pletórica (avermelhada) Distribuição centrípeta da gordura (face, dorso, abdome) Facilidade de contusões, equimoses Estrias violáceas cuja largura excedem 1cm (patogmônico para cushing) Alcalose metabólica com hipocalemia Abdome em pendulo Antebraços e pernas finos Má cicatrização de feridas 24 Semiologia dos Sistemas – Letícia Souza 70B FCMMG Etiologias e Fisiopatogenia Causa mais comum da SC: iatrogênica – por isso, deve-se excluir o seu uso, independente da via A SC endógena é mais rara, levando à perda de inibição do eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenais e do ritmo circadiano de secreção de cortisol: SC ACTH-dependente: 80-85% adenoma hipofisário produtor de ACTH (Doença de Cushing) // hiperplasia suprarrenal bilateral // secreção ectópica de ACTH // secreção ectópica de CRH SC ACTH-independente: 15-20% secundária às neoplasias benignas ou malignas do córtex da suprarrenal // hiperplasias das suprarrenais Diagnóstico Excluir uso de corticoide exógeno verificar se o paciente tem lúpus eritematoso sistêmico, artrite e reumatoide, rinite alérgica, asma sem seguimento adequado e usa muita prednisona nasal. Exames laboratoriais Cortisol livre urinário: coletar urina de 24h e realizar 2-3 dosagens consecutivas. Os níveis do cortisol livre urinário ultrapassam 4x o limite normal. Cortisol salivar noturno: mensura a forma livre do cortisol plasmático Teste de supressão do cortisol com dexametasona: avalia a integridade do mecanismo de feedback (supressão do ACTH, e cortisol pela manhã deve estar baixo < 1,8mcg/dL) Administração de 1mg de dexametasona às 23h medida do cortisol plasmático às 8h do dia seguinte. * Mensuração do ACTH se elevado – RNM hipofisária (estímulo central) // se baixo – RNM suprarrenais Doença de Cushing cortisol sérico alto, ACTH > 100 Síndrome de Cushing (adenoma/carcinoma de suprarrenal) ACTH baixo Insuficiência da Suprarrenal Consiste na redução da produção de glicocorticoide e de mineralocorticoide. De acordo com a fisiopatogenia, existem dois tipos: Insuficiência suprarrenal primária ou Doença de Addison destruição quase completa do córtex da suprarrenal, e o paciente apresenta sintomatologia de deficiência da produção de glicocorticoide e mineralocorticoide Insuficiência suprarrenal secundária problema na hipófise ou hipotálamo na liberação do ACTH e CRH, com deficiência apenas do glicocorticoide Insuficiência da suprarrenal primária Insuficiência da suprarrenal secundária Adrenalite autoimune – principal Infecções: tuberculose, paracoccidioidomicose, criptococose, SIDA com infecção pelo CMV. Neoplasias: metástases, linfoma Hemorragia adrenal bilateral: sepse, uso de anticoagulantes Outras: amiloidose, síndrome anticorpo antifosfolípide Suspensão do uso de corticoide exógeno Tumores hipotalâmicos-hipofisários Síndrome de Sheehan Pós-operatório hipofisectomia Radioterapia SNC (pan-hipopituitarismo) Pós TCE 25 Semiologia dos Sistemas – Letícia Souza 70B FCMMG Doença de Addison Há deficiência de cortisol e da aldosterona Adrenalite autoimune etiologia mais prevalente da insuficiência renal primária, que pode estar associada à outras doenças, como síndromes poliglandulares (tireoidite Hashimoto, hiperparatireoidismo, DM1) – primeira causa que se deve excluir Hiperpigmentação de pele e mucosas exclusivamente na Doença de Addison (aumento dos níveis de ACTH) Insuficiência Adrenal Crônica – Quadro Clínico Astenia, fraqueza, anorexia, perda de peso, náuseas, vômitos Dor abdominal Em mulheres redução da libido, pilificação pubiana e axilar, irregularidades menstruais Hipoglicemia Avaliar presença de hipotensão postural (pode acontecer em pacientes diabéticos ou idosos) Insuficiência Adrenal Aguda – Quadro Clínico Quadro súbito de taquicardia, hipotensão hipotensão refrataria à infusão de volume e amina vasopressora, e pode evoluir rapidamente evoluir para choque refratário e síndrome de disfunção de múltiplos órgãos receptores alfa 1 não responde de forma satisfatória às catecolaminas circulantes pois a baixa de corticoides leva à down regulation dos receptores. Pode ser acompanhada de febre devido à infecção ou ao próprio hipocortisolismo Ocorre em 25% dos pacientes com doença de Addison, sendo observada também quando há suspensão súbita de corticoides, nos usuários crônicos (eixo inibido por muito tempo, e a adrenal não consegue produzir os hormônios de forma abrupta, por isso pode haver essa insuficiência aguda). Exames Laboratoriais O diagnóstico de insuficiência adrenal requer um alto grau de suspeição clínica Exames Gerais Anemia normocítica Linfocitose relativa e eosinofilia Hiponatremia, hipercalemia (apenas da Doença de Addison – deficiência da aldosterona) com acidose metabólica Hipoglicemia A aldosterona atua no túbulo distal, promovendo a reabsorção de sódio e excreção de potássio. Sem aldosterona, há depleção de sódio e retenção de potássio (hiponatremia e hipercalemia) Exames para detecção de hipocortisolismo Cortisol basal (8h) ≤ 3mg/dL + ACTH ≥ 100pg/mL doença de Addison ACTH ≤ 20 pg/mL insuficiência adrenal secundária (causas centrais) Cortisol basal (8h) ≥ 19mg/dL exclui insuficiência adrenal Nos casos de níveis séricos intermediários do cortisol e do ACTH testes de estímulo Cortisol basal baixo – suprarrenal produz pouco glicocorticoide, e a hipófise tenta suprir essa deficiência de cortisol aumentando a produção de ACTH. 26 Semiologia dos Sistemas – Letícia Souza 70B FCMMG Teste de Estímulo do Cortisol (não diferencia formas primária e secundária) quando o cortisol e o ACTH estão intermediários (teste da cortrosina) Verifica se tem ou não reserva da suprarrenal administração por via IV ou EM 250mcg de ACTH sintético. Mede o cortisol antes e depois de 60min a administração. Resultados esperados no esquema acima. Exames de Imagem Na insuficiência de suprarrenal primária anticorpos anticórtex e anti-21-hidroxilase; pesquisar doenças granulomatosas, HIV, câncer metastático (TC/RNM abdome/adrenais). Na insuficiência de suprarrenal secundária RNM hipotálamo e hipófise Hiperaldosteronismo primário (HAP) Produção excessiva e autônoma de aldosterona neoplasia produtora e autônoma de aldosterona Responsável por 10% dos casos de hipertensão arterial sistêmica secundária Quando investigar HAP? HAS estágio 2 ou 3 Hipertensão refratária Hipertensão com hipocalcemia Acidentaloma na suprarrenal (tumor na suprarrenal) em paciente hipertenso ou com história familiar positiva para hipertensão com AVC com idade inferior aos 40 anos. Feocromocitoma e Paraganglioma Neoplasias raras produtoras de catecolaminas, originárias da linhagem neuroendócrina. Responsáveis por 0,1-0,6% dos casos de hipertensão arterial sistêmica de causa secundária – devem ser excluídas pois podem ser malignas. Entretanto, apesar da sua baixa prevalência, representam uma causa curável de hipertensão secundária, podendo ser letais e malignos. Complicações: ICC, arritmias cardíacas, IAM, AVC, retinopatia
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