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Avaliação de Literatura Brasileira: Poesia - Análise dos poemas Lésbia de Cruz e Souza, e Teresa de Manuel Bandeira.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO 
 FACULDADE DE LETRAS 
 DISCIPLINA: LIT. BRASILEIRA: POESIA 
 PROFESSORA: MARIA LÚCIA GUIMARÃES DE FARIA 
 ALUNA: MARIA EMILIA XAVIER PESSANHA 
 
 
LITERATURA BRASILEIRA I (Poesia) – 2020.2 
Avaliação final 
 
1ª questão: Os poemas abaixo, de Cruz e Sousa e Manuel Bandeira, têm por foco figuras 
femininas, em quem se inspiram e a quem se endereçam. Ainda que os nomes não se refiram a 
mulheres reais, empíricas, os poemas manifestam atitudes diferentes com relação à mulher e ao 
tratamento poético a ela dispensado. Entram em jogo nesse tratamento, tanto as tendências 
estéticas de acordo com as quais os poetas escreveram suas obras, quanto as inclinações 
pessoais que norteiam seus universos poéticos. Desenvolva estas afirmações, interpretando os 
poemas e reportando-se, não só aos movimentos artísticos do Simbolismo e do Modernismo, 
como também às características próprias de cada poeta. 
 
No 1° quarteto do poema Lésbia, há a presença da sinestesia característica do Simbolismo, 
fazendo com que o poema comece a ganhar cor e forma, quando ele caracteriza as plantas 
Crotón, uma planta que cresce selvagem em florestas e matagais com folhas que variam entre 
verde e avermelhadas, e Tinhorão, uma planta cujo formato se assemelha ao órgão genital 
feminino, com folhas que também apresentam a cor vermelha. Fazendo com que se enxergue a 
cor vermelha, a cor da paixão e do fogo, relevando uma das vozes veladas do universo poético 
de Cruz e Souza, e essa visão é reforçada através dos adjetivos selvagem e lascivo, que remetem 
a uma noção de sensualidade selvagem, na qual você não consegue dominar. Essas imagens 
começam a ficar mais nítidas com a adjetivação encadeada, no 2° verso, dos adjetivos mortal, 
carnívora e sangrenta, tornando a cor vermelha fica mais forte, revelando o desejo carnal pela 
carne, que se concretiza de forma audível no 3° verso, através de uma explosão que a 
musicalidade dos versos proporciona, também característico do Simbolismo, sendo o clímax 
do poema. Mostrando trajeto ascensional do poema, que se inicia pela rota descensional, 
partindo do ponto mais alto, o clímax, para descer até as profundidades do poema. 
 
Esse efeito sonoro explosivo se dá por meio da aliteração do fonema /t/ nos 1°, 2° e 3° versos, 
com as palavras: “Crotón”, “Tinhorão”, “planta”, “mortal”, “tua” e “rebenta”. O fonema por 
ser uma oclusiva, tem um som semelhante a uma explosão, e a intensidade desse som vai 
aumentando gradativamente, numa forma de preparar o leitor para o que está prestes acontecer, 
até a aliteração se encerrar em “rebenta”, que combina o som da oclusiva com a semântica do 
adjetivo, tornando a explosão visível e audível. E também há uma assonância do fonema /a/, 
uma vogal aberta, que se repete cada vez mais, ao se aproximar do clímax do poema, como se 
simulasse o volume de um grito que aumenta gradativamente, até chegar ao seu volume máximo 
no 3° verso, o qual todos os vocábulos tem a presença da vogal /a/, e se apaziguar no 4° verso. 
Logo após o ápice, há calmaria, e enxergamos o som, a cor, e forma, do que explodiu. Vemos 
a forte presença do vermelho, na explosão, no sangue, evidenciando toda a eroticidade do ato, 
revelando o orgasmo feminino. 
 
No 2° quarteto, temos um jogo de imagem, som e palavras, a sibilante /s/ reproduzindo o sibilar 
da cobra, o som da vogal /i/, presente em todos os versos, se assemelhando ao assobio da língua 
da cobra, o mordente, uma nota musical com som penetrante, com suas oclusivas (mordente) 
/d/ e /t/ remetendo ao som da mordida da boca, como se fosse o bote da cobra. Várias palavras 
com sons e imagens ocultos que arrastam o leitor para uma armadilha sem que ele perceba. 
Você entra nesse jogo de sedução, com as imagens que o adjetivo convulsivo confere ao lábio, 
remetendo a uma ideia de pulsação, nós dando a figura do lábio feminino pulsante repleta de 
lascividade. 
 
E essa pulsação sensual fica mais nítida no 2° verso, através da risada, uma reação involuntária 
a determinados estímulos externos ou internos, apesar do riso ter uma conotação de felicidade, 
o poeta atribui um novo significado ao vocábulo ao descrever essa risada como violenta, 
garantindo intensidade a contração do ato de rir. O que sugere a imagem de um lábio que pulsa, 
e contraí involuntariamente aos estímulos, se assemelhando a um orgasmo feminino. No 3° 
verso, nós temos o substantivo Amor, com a inicial em letra maiúscula, numa forma de 
absolutizar e ampliar seu significativo, o amor, presente no poema, é o amor advindo do desejo 
sexual. Mas através de uma justaposição cumulativa, nos dois últimos versos, a gente vê o fogo 
advindo da sexualidade se esfriando, e o poema desacelerando através das pausas das vírgulas, 
trazendo uma imagem de calmaria depois da eclosão no 1° quarteto. Que se une ao som das 
oclusivas /t/, /p/ e /g/, cada palavra se torna uma batida que se aproxima do esfriamento total, 
da morte, numa representação de la petite mort, os versos encenam o pós-orgasmo feminino, 
enquanto o sibilar da cobra fica em segundo plano e o leitor vai se aproximando da armadilha. 
 
No 1° terceto, o fogo que havia se apagado, volta a queimar, através da adjetivação encadeada, 
a “Lésbia nervosa” acende a chama que havia se apagado, com as ideias de lascívia e beleza 
que o nome Lésbia traz consigo, e nervosa que remete a imagens de raiva e ansiedade, como se 
Lésbia estivesse impaciente com alguma coisa, ao ponto de ficar doente e contagiosa. O sibilar 
da cobra persiste nos versos do poema, até se revelar no 2° verso, através da figura da serpente, 
caracterizada como demoníaca, uma entidade religiosa, que na teologia católica é conhecida 
por fazer os humanos caírem em tentação, e também representa a luxúria e perversidade, 
prendendo o leitor na sua armadilha. O 1° terceto se encerra com a forte presença das sibilantes 
/s/, /f/ e /z/, como se o sonido da cobra ficasse mais inquieto, interligando-se com a ideia da 
ansiedade, os sibilos ficam mais acelerados, preparando-se para dar o bote final. 
 
No 2° terceto, há uma completa sinestesia dos 5 sentidos, tato, olfato, paladar, audição e visão. 
O leitor imerge totalmente pela cena descrita nos versos. O poeta descreve a imagem do corpo 
feminino, com os seios, seu sabor ácido e amargo, seu aroma que te deixa embriagado com a 
sexualidade, a ponto de te deixar inconsciente. O som das sibilantes continua persistentemente 
em todos os versos e se mostra cada vez mais frequente, sinalizando que a cobra está cada vez 
mais perto da presa. E contrapondo-se com o 1° quarteto, há uma assonância da vogal /o/, que 
se repete em todos os versos, tocando um som mais fechado que a vogal /a/ no início do poema, 
com a gritaria predominante, mas, agora, a calmaria se apoderou do poema, mas o fogo emitido 
pela lascívia está mais forte do que antes. Por fim, você é sedado pelo ópio, e contaminado pela 
“tuberculose”, que se relaciona com a ideia do terceto anterior, de que a Lésbia é doente, mas 
não de forma pejorativa, mas que ela vai te contaminar com a sua sexualidade e você vai se 
sentir intoxicado com o aroma que ela emite, como ao inalar a fumaça do ópio. Então através 
de uma rica metáfora, e um jogo de som e imagens, o poema te envolve nesse jogo de sedução, 
te atraindo calmamente e quando você percebe, você está numa armadilha, recebeu o ataque da 
cobra e está intoxicado pela sexualidade feminina. 
 
O poema Teresa de Manuel Bandeira é composto por três tercetos, com nove versos livres, sem 
nenhuma pontuação, com exceção do ponto final que delimita o fim do poema, e é escrito numa 
linguagem coloquial, forte característica do Modernismo que busca o abandono pelas 
convenções literárias. No início do poema, as consoantes /p/, /v/, /q/, /t/ conferem um efeito aos 
versos, que se torna impossível não ler de maneira pausada, Manuel semprecisar fazer uso das 
vírgulas, consegue orquestrar o ritmo do poema através dessas aliterações que vão diminuindo 
ao decorrer do poema, então o ritmo do poema de lento passa a ficar mais acelerado, como se 
marcasse a passagem do tempo, marcando o início da infância até a vida adulta, essa 
musicalidade revela uma sobrevivência do Simbolismo no poema de Bandeira. 
 
A marcação do tempo também se dá através dos três encontros do eu-lírico com Teresa, o 
primeiro encontro, soa infantil e até humorístico, não há desejo sexual pela mulher, ele descreve 
a cara e pernas de Tereza como estúpidas, utilizando-se da metáfora e comparação para isso. 
Parecendo uma criança descrevendo outra criança. O segundo encontro, o eu-lírico mostra que 
houve uma passagem de tempo entre o primeiro e o segundo encontro, quando faz uso da 
comparação para mostrar que houve um amadurecimento em Teresa. Os olhos aparentam ser 
mais maduros, revelando uma possível sensualidade, atraindo a atenção do poeta, mas o corpo 
continua infantil, não atraindo o poeta. Então nessa antítese, releva um conflito de ideias no eu-
lírico, que o faz tentar explicar entre parênteses a percepção que ele tem sobre a relação entre o 
corpo e os olhos de Tereza, porém com um toque humorístico. O terceiro encontro, há uma 
quebra da infantilidade e do humor, mostrando um eu-lírico mais maduro, o tempo passou e ele 
não enxerga mais a infantilidade Tereza. E há uma forte alusão a religião, temos o céu se unindo 
com a terra, e o milagre de andar sob as águas, como se essa união de Tereza com o eu-lírico 
fosse um milagre divino, mostrando um amor maduro e adulto. 
 
Diferente do poema Lésbia, no poema Tereza, a figura feminina não é repleta de desejo, ela é 
vista de forma infantilizada, até chegar à visão de um amor maduro, mas não há figuras de 
linguagem, ou uma sinestesia que insinue uma conotação sexual como em Lésbia. Cujo poema, 
a mulher embriaga o eu-lírico com a sua sensualidade.

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