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GABARITO AD1 2020.2 Literatura na Formação do Leitor

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1 
 
GABARITO AD1 – 2020.2 
DISCIPLINA: LITERATURA NA FORMAÇÃO DO LEITOR 
Coordenação: Profª Ana Maria de Bulhões Carvalho 
 
 
QUESTÃO 1 (2,0 PONTOS) Sobre Linguagem literária e poesia 
 
Vimos, na Aula 3, que há interesse entre poetas de falar sobre a composição 
da poesia, usando para isso um poema, um metapoema. É o que faz 
Bandeira, nesta “Poética”, publicada no livro Libertinagem, de 1925: 
 
Estou farto do lirismo comedido 
do lirismo bem comportado 
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e 
manifestações de apreço ao Sr. Diretor. 
Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário o 
cunho vernáculo de um vocábulo. 
Abaixo os puristas 
 
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais 
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção 
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis 
 
Estou farto do lirismo namorador 
Político 
Raquítico 
Sifilítico 
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora 
de si mesmo 
De resto não é lirismo 
Será contabilidade tabela de cossenos secretário do amante exemplar com cem 
modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc. 
 
2 
 
Quero antes o lirismo dos loucos 
O lirismo dos bêbados 
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos 
O lirismo dos clowns de Shakespeare 
 
– Não quero mais saber do lirismo que não é libertação. 
 
1.1 Leia o metapoema de Bandeira para – a partir do que ele decide para seu 
modo de criar poesia –, analisar outro poema que publica, no mesmo livro, 
“Poema tirado de uma notícia de jornal”: 
João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da 
Babilônia num barracão sem número 
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro 
Bebeu 
Cantou 
Dançou 
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado. 
 
Para fazer esta análise, separe o poema em duas partes. 
a) Ressalte o uso da linguagem como modo de apenas noticiar, assim 
como no jornal, citando a passagem; 
R: O autor ressalta no poema o uso da linguagem como forma de noticiar, 
apresentando elementos próprios da notícia, tais como quem, onde, quando e o 
quê. Manuel Bandeira descreve os acontecimentos de forma direta, informando 
o leitor e utiliza-se da função referencial da linguagem. Destaca-se a passagem, 
“João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia 
num barracão sem número”; como citação do uso da linguagem voltada a 
informação. 
OU 
A linguagem referencial, impessoal e objetiva, aquela que narra um fato e é utilizada 
no gênero textual notícia, encontra-se presente nas seguintes passagens: “João 
Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão 
sem número”, “Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro” e “Depois se atirou 
na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.” O uso dessa linguagem considerada 
“não lírica” no segundo poema, reforça a mensagem passada no metapoema acerca 
3 
 
do seu anseio por uma liberdade expressiva em que não há padrões estabelecidos 
para enquadrar o que é lirismo e como deve ser feito. Um recurso utilizado por 
Bandeira é a intertextualidade, nesse caso parafraseando parte de um texto não 
literário (notícia) para seu poema e o uso de versos brancos e livres. 
 
 
b) Ressalte os versos em que aparece o trabalho de criação poética, dando 
exemplo. 
Para cada uma dessas duas partes, associe um “comando”, retirado da 
Poética, que poderia estar norteando o procedimento literário do poeta. 
Como exemplo de trabalho de criação poética, Bandeira ressalta no verso 
“Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo 
de um vocábulo”. Destacamos também o seguinte verso, “Todas as palavras 
sobretudo os barbarismos universais” e assim demonstra sua insatisfação ao 
trabalho poético já modelado ou limitado. O comando utilizado que caracteriza 
e repudia o lirismo tradicional interpretado como mecânico seria, “ Estou 
farto...” ou “libertação. ”, retirado do poema. O autor sugere a espontaneidade 
e sinceridade na criação poética. 
OU 
O autor, farto das amarras das normas poéticas, que restringem a expressão à 
concisão, à economia e ao poder de síntese da palavra poética, adota uma linguagem 
impessoal, que difere da linguagem poética para atingir o poético. Emprega o verso 
livre das regras da poética, sentindo-se à vontade para se expressar, de acordo com 
sua conveniência e sentimento. Há uma certa mistura entre tendências estéticas, o 
emprego do ecletismo, suas características e contradições. O texto ou poesia em 
análise traz um tema do cotidiano da vida urbana, no qual relata as ações de “João 
Gostoso” no mundo, seus conflitos e desejos. Assim, percebe-se que há duas partes 
na criação do autor: uma que relata uma notícia como no jornal, através de uma 
linguagem informativa, transmitindo informações, e a outra em que os versos 
mostram o trabalho de criação poética. 
 
1ª parte - uso da linguagem descritiva e narrativa, típicos da prosa, como modo de 
noticiar, assim como no jornal - João Gostoso era carregador de feira livre e morava 
no morro da Babilônia num barracão sem número. 
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro 
 
4 
 
Comando: Todas as palavras, sobretudo os barbarismos universais. 
Todas as construções, sobretudo as sintaxes de exceção. 
Todos os ritmos, sobretudo os inumeráveis. 
 
 
2ª parte - os versos em que aparece o trabalho de criação poética são: 
Bebeu 
Cantou 
Dançou 
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado. 
 
Comando: Quero antes o lirismo dos loucos 
O lirismo dos bêbados 
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos 
O lirismo dos clowns de Shakespeare 
 
 
QUESTÃO 2 (2,0 PONTOS) 
Veja que a poesia contemporânea, na sua liberdade de criar, é herdeira do 
Modernismo, e parece ainda estar seguindo os passos de Manuel Bandeira. 
2.1 Releia, portanto, a “Poética” como um manifesto modernista, e aponte, 
comente e exemplifique, no poema abaixo, os traços que podem indicar essa 
ascendência. 
Da calma e do silêncio, de Conceição Evaristo 
Quando eu morder 
a palavra, 
por favor, 
não me apressem, 
quero mascar, 
rasgar entre os dentes, 
a pele, os ossos, o tutano 
do verbo, 
para assim versejar 
o âmago das coisas. 
5 
 
Quando meu olhar 
se perder no nada, 
por favor, 
não me despertem, 
quero reter, 
no adentro da íris, 
a menor sombra, 
do ínfimo movimento. 
Quando meus pés 
abrandarem na marcha, 
por favor, 
não me forcem. 
Caminhar para quê? 
Deixem-me quedar, 
deixem-me quieta, 
na aparente inércia. 
Nem todo viandante 
anda estradas, 
há mundos submersos, 
que só o silêncio 
da poesia penetra. 
De: http://notaterapia.com.br/2019/11/05/confira-os-10-melhores-poemas-de-
conceicao-evaristo/ 
Conceição Evaristo é nascida em Belo Horizonte, MG em 1946. Romancista, 
contista e poeta, conhecida pelo engajamento em causas sociais e políticas que 
se inicia na década de 1980, por meio do Grupo Quilombhoje. 
R: No poema “Da calma e do silêncio” de Conceição Evaristo, há traços do 
pensamento e ideias transmitidos por Bandeira em “Poética” como destruir 
padrões literários e propor uma nova linguagem poética, utilização de versos 
livres, rupturas sintáticas e formação de ideias originais. Como apontamento 
destacamos um trecho do poema a seguir, “Quando eu morder a palavra, por 
favor, não me apressem, quero mascar, rasgar entre os dentes, a pele, os 
ossos, o tutano do verbo, para assim versejar o âmago das coisas”. Exemplo 
http://notaterapia.com.br/2019/11/05/confira-os-10-melhores-poemas-de-conceicao-evaristo/
http://notaterapia.com.br/2019/11/05/confira-os-10-melhores-poemas-de-conceicao-evaristo/
6 
 
recorrente da poesia contemporânea, herança do Modernismo definida pela 
liberdade da linguagem e a construção de uma nova realidade. 
OU 
O poema de Conceição Evaristo mostra a necessidadede se experimentar e 
saborear o novo (Nem todo viandante anda estradas, há mundos submersos, 
que só o silêncio da poesia penetra); as novas formas de se expressar sem se 
apegar às convenções das normas poéticas ( Quando meus pés abrandarem na 
marcha, por favor, não me forcem); mostra -se contrário à contenção da 
expressão que leva à concisão, à economia e ao poder de síntese da palavra 
poética (Quando eu morder a palavra, por favor, não me apressem, quero 
mascar, rasgar entre os dentes, a pele, os ossos, o tutano do verbo, para assim 
versejar o âmago das coisas); sinaliza o emprego do verso livre das regras da 
poética, sentindo-se à vontade para se expressar, de acordo com sua 
conveniência e sentimento (Quando meu olhar se perder no nada, por favor, 
não me despertem, quero reter, no adentro da íris, a menor sombra, do ínfimo 
movimento) e, finalmente, faz uma reflexão sobre a poética clássica como o 
padrão poético estabelecido e se permite vislumbrar novos caminhos para a 
criação poética (Caminhar para quê? Deixem-me quedar, deixem-me quieta, na 
aparente inércia). 
 
2.2 Seguindo a mesma lógica, escolha, no Acervo de poesia feminina, 
exposto ao final do Módulo 1, na parte central da sala de aula, um poema que 
possa dialogar com o de Conceição Evaristo, quanto a essa filiação ao “credo” 
modernista. Justifique a escolha e dê exemplos. 
O poema escolhido dentre as sugestões da disciplina, que dialoga com o de 
Conceição Evaristo é “Tu tens um medo” de Cecília Meireles. Estes poemas se 
dialogam e introduz ao mesmo tema da vertente Modernista pois há neles uma busca 
pela liberdade, experimentação com a linguagem e um fundo crítico a forma e 
expressão. Os dois poemas conversam entre si pela sua reflexão sobre a linguagem, 
quando o eu-lírico pensa no processo da criação artística. Os traços modernistas se 
destacam na preocupação com o fazer poético e cultiva uma reflexão, uma atitude de 
questionamento e a tentativa de compreender o mundo através dos poemas. 
Tu tens um medo 
 (Cecília Meireles) 
7 
 
Tu tens um medo: 
Acabar. 
Não vês que acabas todo o dia. 
Que morres no amor. 
Na tristeza. 
Na dúvida. 
No desejo. 
Que te renovas todo o dia. 
No amor. 
Na tristeza. 
Na dúvida. 
No desejo. 
Que és sempre outro. 
Que és sempre o mesmo. 
Que morrerás por idades imensas. 
Até não teres medo de morrer. 
 
E então serás eterno. 
QUESTÃO 3 (2,0 PONTOS) 
3.1 Neste mesmo Acervo poesia no feminino, faça uma pesquisa e, dentre as 
leituras que a exposição oferece, escolha dois poemas, de uma mesma poeta 
e ou de poetas diferentes, que permita realizar uma análise comparada: a) 
veja o tema que o poema aborda; b) veja o ponto de vista da poeta; c) veja 
os recursos poéticos que utiliza, em termos de métrica, rima ( ou não), em 
termos de figuras de linguagem, em termos de tom. 
Os dois poemas escolhidos são da poeta Cecília Meireles, uma importante e 
renomada escritora que fazia das palavras e rimas sua identidade. A semelhança no 
tema na composição se trata de um metapoema, isto é, um texto que se volta sobre 
o seu próprio processo de construção. A metalinguagem na poesia é relativamente 
frequente na lírica de Cecília Meireles. São versos que se entrelaçam entre si e faz o 
uso da rima, mas não com o rigor da métrica, são construídos a partir de antíteses, 
ideias opostas, no primeiro poema (alegre e triste; noites e dias; desmorono e 
edifico; permaneço e desfaço; fico e passo), já no segundo (sol e chuva; anel e luva; 
chão e ares) e assim por diante. Podemos destacar também a utilização dos verbos 
no presente do indicativo, nos dois poemas, onde Cecília quer indicar que o fato 
acontecendo agora. Segue abaixo os dois poemas clássicos de Cecília Meireles 
8 
 
Ou isto ou aquilo 
Cecília Meireles 
Ou se tem chuva e não se tem sol, 
ou se tem sol e não se tem chuva! 
Ou se calça a luva e não se põe o anel, 
ou se põe o anel e não se calça a luva! 
Quem sobe nos ares não fica no chão, 
quem fica no chão não sobe nos ares. 
É uma grande pena que não se possa 
estar ao mesmo tempo nos dois lugares! 
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce, 
ou compro o doce e gasto o dinheiro. 
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo... 
e vivo escolhendo o dia inteiro! 
Não sei se brinco, não sei se estudo, 
se saio correndo ou fico tranquilo. 
Mas não consegui entender ainda 
qual é melhor: se é isto ou aquilo. 
Motivo 
Eu canto porque o instante existe 
e a minha vida está completa. 
Não sou alegre nem sou triste: 
sou poeta. 
Irmão das coisas fugidias, 
não sinto gozo nem tormento. 
Atravesso noites e dias 
no vento. 
Se desmorono ou se edifico, 
se permaneço ou me desfaço, 
— não sei, não sei. Não sei se fico 
ou passo. 
9 
 
Sei que canto. E a canção é tudo. 
Tem sangue eterno a asa ritmada. 
E um dia sei que estarei mudo: 
— mais nada. 
OU 
1º poema 
SER MULHER, de Gilka Machado 
Ser mulher, vir à luz trazendo a alma talhada para os gozos 
da vida; a liberdade e o amor; tentar da glória a etérea e 
altívola escalada, na eterna aspiração de um sonho 
superior… 
Ser mulher, desejar outra alma pura e alada para poder, com 
ela, o infinito transpor; 
sentir a vida triste, insípida, isolada, buscar um companheiro 
e encontrar um senhor… 
Ser mulher, calcular todo o infinito curto para a larga 
expansão do desejado surto, no ascenso espiritual aos 
perfeitos ideais… 
Ser mulher, e, oh! atroz, tentálica tristeza! ficar na vida 
qual uma águia inerte, presa nos pesados grilhões dos 
preceitos sociais! 
De acordo com o poema de Gilka Machado, as mulheres eram vítimas de 
preconceito e sofriam grande desigualdade entre os gêneros. No início do poema, é 
possível se observar que ela deixa claro que deseja a liberdade e o amor, porém 
ao buscar um companheiro encontra apenas um senhor, a quem deveria ser submissa 
como se o mesmo fosse seu dono. O século XX ainda marca os sonhos das mulheres 
de sua independência financeira, ou seja, as mesmas eram emparedadas pela cultura 
da época a uma vida inibida pela sociedade. Sendo assim, a mulher era submetida a 
uma situação de inferioridade em que tinha que sacrificar suas escolhas e opiniões. 
10 
 
Esse aspecto remete à dor de nem mesmo poder encontrar um amor e sim um 
senhor. 
O poema utilizou recursos poéticos como versos livres, fazendo o uso de 
métricas variadas. Em questão de rima, podemos encontrar: superior/transpor/senhor 
– ideais/ sociais. O poema usa uma figura de linguagem metafórica, que é o que 
sustenta a construção do poema em si. 
2º poema 
COM LICENÇA POÉTICA, de Adélia Prado. 
Quando nasci um anjo esbelto, 
desses que tocam trombeta, anunciou: 
vai carregar bandeira. 
Cargo muito pesado pra mulher, 
esta espécie ainda envergonhada. 
Aceito os subterfúgios que me cabem, 
sem precisar mentir. 
Não tão feia que não possa casar, 
acho o Rio de Janeiro uma beleza e 
ora sim, ora não, creio em parto sem dor. 
Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a sina. Inauguro linhagens, fundo reinos 
— dor não é amargura. 
Minha tristeza não tem pedigree, 
já a minha vontade de alegria, 
sua raiz vai ao meu mil avô. 
Vai ser coxo na vida, é maldição pra homem. 
Mulher é desdobrável. Eu sou. 
 De acordo com o poema de Adélia Prado, ser mulher significa enfrentar 
diversas dificuldades, principalmente na sociedade em que vivemos. No início do 
poema, é possível observar quando ela diz de forma metafórica a mensagem que o 
anjo esbelto anunciou sobre o grande fardo que a mulher carrega, ou seja, aceitar o 
papel que a sociedade impõe, sobre ser mãe, esposa, dona de casa, entre outros. 
Portanto, ao mesmo tempo em que ela aceita essas condições, o poema traz consigo 
novos pontos de vista, ressignificando-o. A poeta encara essa situação de frente, com 
garra e força, atribuindo ao feminismo visão positiva, no qual transforma o sentido de 
11 
 
carregar a bandeira em uma posse de identidadeem que a mulher reconhece o seu 
valor, espaço, voz e vez, assumindo o seu eu de maneira plena. Assim, ao final do 
poema, quando diz “Mulher é desdobrável. Eu sou”, ela transmite ao leitor que, apesar 
de toda condição limitada da mulher no decorrer dessa trajetória histórica, a luta por 
um mundo mais humano ainda não acabou, pois independente de qualquer 
sofrimento, as mulheres são seres flexíveis, desdobráveis e capazes de transformar 
toda dor em crescimento. 
O poema não utilizou em seus recursos poéticos uma métrica fixa, ou seja, ele 
não obedece a uma métrica padrão; também não possui rima, mas apresenta a 
metáfora como figura de linguagem. Além disso, encontramos nos versos um tom de 
oralidade, marcado pelo anseio de estar próximo ao leitor. 
 
QUESTÃO 4 (2,0 PONTOS) 
Vimos que com as mudanças dos tempos, mudam-se os gostos, os hábitos, os modos 
de pensar; essas transformações – de ordem econômica, social, política– geram 
impacto nas criações artísticas de modo geral. Dizemos que cada época tem um estilo, 
cujos traços são mais ou menos visíveis nas obras dos artistas daquele período, 
mulheres ou homens. 
4.1 Por exemplo, vamos comparar esses dois poemas de forma fixa, duas 
canções. Em termos de estrutura rítmica, aponte: 
 a) Que poema intercala versos decassílabos com versos de seis sílabas 
Não me deixes! 
b) Qual é toda composta em redondilhas maiores (7 sílabas) 
A flor e a fonte 
c) Qual deles tem mais liberdade de rima? 
Não me deixes! 
d) Qual usa rimas alternadas e emparelhadas 
A flor e a fonte 
NÃO ME DEIXES! • Gonçalves Dias, 1857 
 
Debruçada nas águas dum regato 
12 
 
 A flor dizia em vão 
À corrente, onde bela se mirava: 
 "Ai, não me deixes, não! 
 
"Comigo fica ou leva-me contigo 
 Dos mares à amplidão; 
Límpido ou turvo, te amarei constante; 
 Mas não me deixes, não!" 
 
E a corrente passava; novas águas 
 Após as outras vão; 
E a flor sempre a dizer curva na fonte: 
 "Ai, não me deixes, não!" 
 
E das águas que fogem incessantes 
 À eterna sucessão 
Dizia sempre a flor, e sempre embalde: 
 "Ai, não me deixes, não!" 
 
Por fim desfalecida e a cor murchada, 
 Quase a lamber o chão, 
Buscava inda a corrente por dizer-lhe 
 Que a não deixasse, não. 
 
A corrente impiedosa a flor enleia, 
 Leva-a do seu torrão; 
A afundar-se dizia a pobrezinha: 
 "Não me deixaste, não!" 
 De Cantos (1857) 
 
A FLOR E A FONTE • Vicente de Carvalho, 1902 
 
"Deixa-me, fonte!" Dizia 
A flor, tonta de terror. 
E a fonte, sonora e fria 
13 
 
Cantava, levando a flor. 
 
"Deixa-me, deixa-me, fonte!" 
Dizia a flor a chorar: 
"Eu fui nascida no monte... 
"Não me leves para o mar." 
 
E a fonte, rápida e fria, 
Com um sussurro zombador, 
Por sobre a areia corria, 
Corria levando a flor. 
 
"Ai, balanços do meu galho, 
"Balanços do berço meu; 
"Ai, claras gotas de orvalho 
"Caídas do azul do céu!..." 
 
Chorava a flor, e gemia, 
Branca, branca de terror. 
E a fonte, sonora e fria, 
Rolava, levando a flor. 
 
"Adeus, sombra das ramadas, 
"Cantigas do rouxinol; 
"Ai, festa das madrugadas, 
"Doçuras do pôr-do-sol; 
 
"Carícias das brisas leves 
"Que abrem rasgões de luar... 
"Fonte, fonte, não me leves, 
"Não me leves para o mar!" 
 
* 
 
As correntezas da vida 
E os restos do meu amor 
14 
 
Resvalam numa descida 
Como a da fonte e da flor.... 
 
 De Rosa, Rosa de Amor (1902) 
 
4.2 Em que aspectos os dois temas dialogam e no que se divergem? 
Nos dois poemas os escritores retratam personagens como a flor e a fonte, e o início 
dos textos são parecidos, porém temos divergência, pois enquanto a flor de Gonçalves 
Dias pede à fonte que fique ou a leve ao oceano, a de Carvalho insiste no contrário, a 
flor pede que a fonte não a leve para o mar. 
Ou 
Dialogam porque ambos retratam uma flor e divergem em relação à atitude da 
flor: enquanto no poema “Não Me Deixes”, a flor suplica para ser levada pelas 
águas, pois não quer ficar só e quer a companhia das águas, no poema “A Flor 
e a Fonte”, a flor, aterrorizada, pede socorro por estar sendo carregada e 
arrastada pelas águas (fonte) à força. 
 
QUESTÃO 5 (2 PONTOS) Questionário sobre poesia, para responder no local 
específico, na sala de Literatura.

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